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Mercês era o nome da mãe de Maggie, e isso Felipe descobriu alguns dias depois.
Ignorava o genro, quase como se ele fosse invisível - a não ser quando criticava para
Margarete suas idas ao parque, bem como sua profissão… “isso não é trabalho”. Mas era
ainda mais implicante com Maggie, a quem só chamava de Margar-ete - como se, no
momento de dizer o nome da filha houvesse um “afrancesamento”. Para Felipe, esse jeito
de pronunciar passou a soar cada vez mais como uma espécie de “código de produto”.
Estranhamente, quando se referia a mãe para Felipe, Maggie também a tratava pelo nome
com esse mesmo “sotaque” “Mer-cês”. É verdade, Mercês não gostava dos hábitos de
Margarete, especialmente que ficasse lendo até tarde - e para falar a verdade ela parecia
detestar computadores e dispositivos de tela, em geral, nem que saísse para o Pilates ou
para a Yoga, “muito exposta, ainda mais indo só, não fica bem”. Maggie às vezes não
aguentava, e devolvia com violência: eu posso criar o meu destino, “ma-mãe”, você devia
ter criado o seu, mas sua geração é atrasada demais para isso”.
Pela proximidade com o nascimento, contudo, Felipe foi compelido a não ir mais
para o parque adulto. O problema é que, sem suas caminhadas, a entrega para Ivan
começou a ficar comprometida, e patrulhado quase 24H por revezamento entre Maggie e
Mercês, precisava se comunicar com o amigo e com a segunda IA, urgentemente. Sentia-se
como que preso no alto de uma torre medieval. A pressão era tamanha, que já começava a
se esquecer da sabedoria transformadora, e a querer voltar a ser o escritor sem nome,
querendo seu sossego solitário e de poucas obrigações com pessoas ou com o mundo. De
fato, tornou-se de novo caladão e a olhar para a janela durante a tarde.
- Então o Ivan existe mesmo! Vou tomar um banho e falo com ele. Quero mesmo
conhece-lo!
O escritor nervoso com o que Ivan poderia dizer ou revelar logo na entrada. Dava
voltas em torno de si e ia novamente ao hall dos elevadores observar onde estava o amigo.
Mercês foi passar café para o visitante, como pretexto para permanecer no ambiente e
estudar o que estava acontecendo. Definiu o escritor a estratégia de falar muito alto no hall,
onde não podiam ser vistos diretamente, enquanto faria sinais com as mãos.