Você está na página 1de 20

O ENSINO DA FOTOGRAFIA PARA SURDOS:

ESTADO DA ARTE

Janaina Ramos Marcos - Doutoranda em Design - UDESC


jana.ramosdesign@gmail.com

Milton José Cinelli - Orientador - UDESC


milton.cinelli@udesc.br

Resumo
O presente artigo tem como tema o ensino da fotografia para alunos surdos e como
objetivo principal, apresentar através de uma revisão bibliográfica sistemática o
panorama do ensino desta disciplina para surdos, sobretudo no Brasil. O estudo tem
por questão central, procurar por materiais didáticos ou metodologias de ensino já
utilizadas nesta disciplina. Sabe-se que uma das maiores lacunas de conhecimento
é justamente a produção de materiais didáticos para alunos surdos, uma vez que
existe uma língua e uma linguagem própria (a LIBRAS). Na maioria das vezes, o
aluno surdo é alfabetizado "visu-espacialmente" em LIBRAS, mas para sua escrita
sua alfabetização ou "letramento" se dá com o português. A metodologia utilizada foi
a busca por artigos e publicações científicas nos últimos 5 anos, usando strings de
busca com base nas palavras-chave da pesquisa. Na primeira etapa foram
encontrado 1.984 artigos de acordo com as palavras-chave. Passando pelas três
sequências de filtragem, chegou-se a 17 artigos que por fim, foram reduzidos a 06
artigos que mais se aproximavam à temática da pesquisa, sendo classificados em A
e B conforme aderência e relevância ao tema da pesquisa. Foram selecionados para
serem mostrados neste artigo, apenas os classificados com a letra A, por serem de
maior aderência à temática proposta. O resultado desta revisão demonstrou que o
Brasil ainda é muito deficitário no que concerne à produção de materiais didáticos
adequados, tanto para alunos ouvintes mas principalmente para alunos surdos - e
em especial - disciplinas não propedêuticas. É papel dos meios educacionais
proporcionar cada vez mais a estes alunos suportes adequados de ensino, para que
sejam cada vez mais inseridos no ambiente acadêmico e profissional.

Palavras-chave: Surdos, Fotografia, material didático, metodologia de ensino


Introdução

No sistema educacional brasileiro nos deparamos com paradoxos e


discrepâncias no que diz respeito ao acesso de pessoas com deficiência, sobretudo
a surdez, tanto do ponto de vista estrutural, quanto do ponto de vista metodológico e
de ensino-aprendizagem.

Uma das principais discrepâncias é a necessidade de adequação e


acessibilidade, onde as instituições devem oferecer instrumentais adequados para o
ensino de alunos surdos, como a presença de intérpretes em sala de aula e
disponibilização de recursos educacionais. Mas, na prática, não é a realidade de
muitas delas, onde há deficiências em pontos-chave que a legislação exige que
sejam atendidos.

A legislação brasileira denomina a língua gestual como Língua Brasileira de


Sinais (LBS) ou simplesmente LIBRAS. LIBRAS é considerada a língua natural e
oficial dos surdos, reconhecida pela Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002
(QUADROS, 2005).

De acordo com o censo do IBGE de 2010, no Brasil "quase 46 milhões de


brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter algum grau de dificuldade em
pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir
degraus), ou possuir deficiência mental / intelectual." Dentre esse número, cerca de
1,1% possui deficiência auditiva. (IBGE EDUCA, 2019, sp)

Outra reflexão que se faz, reside no fato de que alunos surdos, por terem sido
primeiramente alfabetizados em Libras e por conta de suas referências visuais,
filosóficas e cotidianas serem diferenciadas, estes alunos necessitam de
metodologias específicas de ensino, sobretudo da fotografia, uma disciplina técnica
que, muitas vezes implica na criação e difusão de sinais específicos e que ainda não
existem na cultura surda.

A fotografia então, por se tratar de uma disciplina técnica, recorrente em


cursos superiores e técnicos de comunicação, tais como design, publicidade, moda,
entre outros, carece de um material didático para o ensino de surdos, justamente
pelo fato do aluno, além de treinar ainda mais o "ver", mais importante para o surdo
do que para o ouvinte em seu processo comunicacional, deve treinar também o seu
"olhar artístico" para produzir composições fotográficas para expressar-se
artisticamente e posicionar-se diante do mundo, difundindo sua cultura.

Segundo Barthes (1981) a fotografia e sua apreciação tem dois caminhos: o


primeiro remete ao olhar do espectador, à sua familiaridade com a cena retratada na
imagem e sua bagagem cultural. Já o segundo caminho é traçado pelo fotógrafo
segundo sua arte ou sua oportunidade de estar no lugar e na hora certa para fazer a
"imagem perfeita", aquela que é capaz de produzir o que o autor (1971, p. 46)
chama de efeito punctum, ou seja, "é esse acaso que nela me punge (mas também
me mortifica, me fere)."

Em uma das aulas de fotografia ministradas em 2017, sobre composição, um


dos alunos captou uma imagem com o tema elementos rítmicos que foi capaz de
provocar no espectador este efeito punctum citado em Barthes (1981). A figura
abaixo mostra esta fotografia, produzida por um aluno da turma de surdos do ensino
técnico médio integrado do Instituto Federal de Santa Catarina, câmpus Palhoça.

Figura 1 - Exemplo de trabalho fotográfico de um aluno


sobre elementos rítmicos intitulado "COPO"
Fonte: Acervo do Autor (2017)

Na figura acima podemos considerar que o "artista/aluno" teve a sensibilidade


de enxergar em um copo o "acaso", o punctum buscado por Barthes (1981) que
impacta e "mortifica" pela sua simplicidade.

Campello (2007) defende uso intenso de recursos visuais na educação dos


surdos, devido às suas especificidades no entendimento do mundo ao seu redor,
onde muitas vezes seu processo de alfabetização tanto em libras, quanto em
português é precário. Sendo assim, o autor caracteriza tais recursos como parte da
chamada “pedagogia visual”, ou seja aquela que faz uso da língua de sinais e
elementos da cultura surda como:

[...] contação de história ou estória, jogos educativos, envolvimento da cultura


artística, cultura visual, desenvolvimento da criatividade plástica, [...] e das
artes visuais, utilização da linguagem de Signwriting (escrita de sinais) na
informática, recursos visuais, sua pedagogia crítica e suas ferramentas e
práticas, concepção do mundo através da subjetividade e objetividade com
as “experiências visuais (CAMPELLO, 2007, p. 129).

Um grande problema experienciado pelos professores é a ausência de


materiais didáticos específicos para alunos surdos, ou minimamente adequados à
eles, uma vez que a apreensão de conhecimento por parte deles, se dá somente em
sala de aula, com o uso do intérprete e com material didático não adequado,
prejudicando em parte, seu processo de aprendizagem.

Chartier (2002 apud Galasso et al., 2018, p. 60) salienta que o "conceito de
material didático desenvolve-se a partir do tipo de suporte que irá promover o
acesso a um conteúdo específico, pois o texto ou vídeo não existem fora dos
suportes materiais que permitem sua leitura e/ou visão."

A figura 1 ilustra um slide produzido em powerpoint em uma aula de fotografia


para alunos surdos do Instituto Federal de Santa Catarina, câmpus Palhoça Bilingüe,
no ano de 2017.

Figura 2 - Exemplo de slide para aula de fotografia tanto para surdos


quanto para alunos ouvintes

Fonte: Do Autor (2017)

Na figura acima, um dos exemplos de inadequação é o excesso de texto em


português e nenhuma imagem ilustrativa, o que neste caso, leva o intérprete a uma
carga maior de trabalho e principalmente o aluno perde a concentração, uma vez
que tenta ler o que está escrito e prestar atenção na explicação através do
intérprete.
Kelman (2011) reflete nos processos de ensino/aprendizagem para alunos
surdos são utilizadas além da linguagem oral e da língua de sinais, lançar mão de
recursos visuais variados pode auxiliar de modo significativo para a aprendizagem
alunos surdos, reforçando a importância de que esses recursos sejam pensando
utilizando estratégias diferenciadas para os alunos.

Dessa forma, houveram experimentações para criação de objetos de


aprendizagem mais adequados a estes alunos, com menor carga textual e mais
recursos visuais como demonstra a figura a seguir.

Figura 3 - Exemplo de slide para aula de fotografia tanto para surdos


quanto para alunos ouvintes minimamente adaptado

Fonte: Do Autor (2017)

Para a produção do conteúdo demonstrado na figura acima não houve


nenhuma pesquisa de metodologias específicas ou mais adequadas aos alunos
surdos. A experimentação foi feita com base na vivência em sala de aula e nas
orientações passada em alguns momentos, pelos próprios intérpretes. Percebe-se
aqui uma grande problemática em torno do processo de ensino/aprendizagem de
alunos surdos, que passa somente pela preparação de um objeto de aprendizagem,
do professor e de uma adequada interpretação, sem o respaldo de um material para
estudos posteriores.

Sendo assim, surge a questão desta pesquisa: existe material didático


específico para surdos e para o ensino da disciplina de fotografia, e qual a
metodologia mais adequada para o desenvolvimento deste material?

Procedimentos metodológicos

Com base no tema da pesquisa - Material didático de fotografia para surdos -


os procedimentos metodológicos para condução da revisão sistemática foram
definidos de acordo com os seguintes parâmetros:

● Objetivo: buscar por projetos similares, métodos de ensino da fotografia para


surdos, metodologias de ensino para surdos e materiais didáticos para
surdos;
● Idiomas: Português, Inglês;
● Tipos de referências: artigos de periódicos e congressos últimos 10 anos e
capítulos de livros.

A pesquisa deverá atender ainda aos seguintes critérios de inclusão e


exclusão:
● Critérios de inclusão
○ (escopo)
■ procurar por materiais didáticos para surdos que ensinam
fotografia
○ (acesso)
■ google acadêmico;
■ scopus;
■ web of science;
■ Capes;
■ Research gate;

● Critérios de exclusão
○ não descreve o método utilizado para produção do material;
○ não tem figuras do modelo produzido de material didático;
○ artigos pagos;
○ pesquisar até a página de busca que muda de assunto, quando
as palavras encontrarem muitos resultados

A partir do fechamento de todos os critérios e requisitos para a pesquisa,


segue-se para a etapa de definição das strings de busca, ou seja, as principais
palavras-chave que irão nortear todo o trabalho. O quadro 1 abaixo traz a primeira
parte da pesquisa onde foram aplicados os primeiros filtros nos artigos, por título,
resumo e figuras. Alguns artigos foram excluídos pelo critério de artigos pagos e fora
do período de pesquisa.

Quadro 1 - Primeira busca revisão sistemática


Filtro 2
Filtro 1
título, Filtro 3
Base de Qtd Título
Strings Busca resumo Figuras e
Dados TOTAL palavra
artigo métodos
chave
pago

"Surdos" AND google 727 38 21 8


"Fotografia" AND schoolar
"material didático"
AND scopus 0 0 0 0
"metodologia de
ensino" Research 1 1 1 -
gate

"Surdos" AND CAPES 14 2 2 2


"Fotografia"

"Surdos" OR google 450 10 3 1


"deficiente auditivo" acadêmico
AND "fotografia"
AND "metodologia Capes 218 7 4 2
de ensino"
Research 0 0 0 0
gate
"DEAF" OR auditiv* google 276 9 3 1
disabilit* AND acadêmico
photo* AND
courseware science 06 1 1 1
direct

Capes 16 2 2 1

"DEAF" OR "auditiv* google 276 9 3 1


disabilit*" AND acadêmico
"photo*" AND
"learning methods"

TOTAL 1.984 79 40 17
Fonte: Do Autor (2019)

A pesquisa por resultados com as strings de busca concentrou-se nas


primeiras 15 páginas no caso do Google Schoolar, uma vez que após estes
resultados distanciam-se muito das palavras-chave, mostrando apenas uma palavra
ou assuntos diferenciados. Nas outras bases de pesquisas, onde os resultados
encontrados foram mais baixos, optou-se por filtrar todos os artigos.
Os resultados passaram por filtragens conforme o título, os resumos, as
figuras; os modelos pedagógicos e a metodologia adotada. Nesta primeira análise
pode-se notar que para o tema desta pesquisa, há uma hipótese a ser estudada e
uma grande lacuna de conhecimento a ser preenchida.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Após todas as filtragens, foram selecionados 30 trabalhos, entre teses,


monografias, dissertações e artigos - tanto de periódicos quanto de congressos -
que mais se aproximavam do tema: material didático de fotografia para surdos ou
metodologia para o ensino de alunos surdos. Foram lidos em sua totalidade, alguns
foram descartados em uma nova triagem, onde não foram descritos os métodos nem
apareceram figuras do material didático. Foram atribuídos códigos para os artigos
selecionados, sendo A para os artigos com maior relevância e aproximação com a
pesquisa e B, com menor aproximação mas ainda assim com conteúdo teórico
relevante.
Quadro 2 - Triagem final dos artigos escolhidos

Cód. Título do Trabalho Autor(es) Ano Métodos e Objetivos

A1 Infografia e ARI, Sérgio 2015 mapeamento bibliográfico


Educação de Henrique iniciou-se o processo de
Surdos: uma Prado Scolari design do infográfico. O tema
Aproximação KRUSSER, escolhido foi “diafragma”, um
Renata da mecanismo da câmera
Silva fotográfica, um conteúdo que
faz parte da unidade curricular
de fotografia, ministrada no
segundo módulo do Curso
Técnico Integrado em
Comunicação Visual do IFSC
Campus Palhoça-Bilíngue.
Para o desenvolvimento
seguiram-se as fases
propostas por Lobach (2001):
Preparação, Geração,
Avaliação, Realização.

A2 Livro digital C.W. Silva, 2014 análise descritiva de dois


bilíngue para D.J. Teixeira, eBooks para surdos, mostrar
crianças surdas: V.J. Batista critérios e princípios de
uma análise na B.S Gonçalves design visual de interface,
perspectiva do R. Triska especificamente o design de
design visual de tela, que poderão contribuir
interface em tela para a produção de livros
digitais com mais qualidade.

A3 Processo de Bruno José 2018 apresentar as diversas etapas


Produção de Betti de produção de materiais
Materiais GALASSO didáticos bilíngues do Instituto
Didáticos Monica Raquel Nacional de Educação de
Bilíngues do de Souza Surdos (INES), analisadas em
Instituto Nacional LOPEZ seus aspectos teóricos e
de Educação de Rafael da técnicos (pré-produção,
Surdos Mata tradução e pós-produção)
SEVERINO
Roberto
Gomes de
LIMA
Dirceu Esdras
TEIXEIRA

A4 DESIGN E Laíse Miolo de 2014 o objetivo deste trabalho foi


EDUCAÇÃO DE MORAES desenvolver um projeto de
SURDOS: projeto Livro Digital, a partir da
de livro traduzido tradução de um livro técnico
do Português para da área do Design, de
LIBRAS português para LIBRAS. Foi
escolhido um tópico do
livro “Novo Fundamentos do
Design”, com liberação prévia
da editora, para a uma
tradução piloto e um layout
do projeto gráfico . A
metodologia utilizada
relaciona a demanda de
tradução/interpretação com
o Design, nas seguintes
fases: Análise do
Problema, Conceituação,
Geração de Alternativas,
Produção e Avaliação.

B1 Infográficos Rafael de 2016 objetivo propor


Acessíveis para Oliveira recomendações para o
Surdos: ANDRADE desenvolvimento de
Recomendações objetos de aprendizagem na
forma de infográficos
acessíveis para surdos. [...]
desenvolvimento de um
infográfico aplicado
a um objeto de aprendizagem,
que, por fim, foi utilizado com
estudantes surdos em
uma avaliação da
compreensão.

B2 Fotografia como Paula Rigo 2016 estudo teórico-prático


Ferramenta de Cuéllar utilizou-se da pesquisa
Construção do TRAMUJAS bibliográfica e objetiva, onde
Olhar para os Denize Simões promover a fotografia na
Alunos da 1º ANTENOW escola é uma das
Série do Ensino possibilidades de ampliar o
Médio conhecimento de Arte
Visual.
O principal objetivo do projeto
foi apresentar possibilidades
de trabalhar com fotografia na
escola como parte dos
conteúdos de artes visuais,
ampliando assim o código
visual dos alunos da 1º série
do ensino médio.
B3 As PEREIRA, Rita 2014 O objetivo desta pesquisa é
representações de Cassia de investigar se o trabalho com
gráficas como Sena Pardo. estratégias de ensino, com
recurso ênfase nas representações
metodológico em gráficas, tais como desenho,
situações de sala sinais em LIBRAS, fotografias,
de aula com ilustrações, pode contribuir
alunos surdos para facilitar a comunicação e
a aprendizagem da Língua
Portuguesa escrita, pelos
alunos surdos.
Fonte: Do Autor (2019)

Como se pôde verificar no quadro acima, foram encontrados 3 artigos com


bastante aproximação com o tema da pesquisa e outros 3 trabalhos com relevância
aproximada.
A próxima etapa da revisão sistemática foi classificar os artigos encontrados
conforme os resultados encontrados. O quadro abaixo apresenta os resultados
encontrados:
Quadro 2 - Resultados encontrados pelos artigos selecionados

Cód. Título do Trabalho Autor(es) Ano Resultados encontrados

A1 Infografia e ARI, Sérgio 2015 A pesquisa está incompleta não


Educação de Henrique foram testados os modelos com
Surdos: uma Prado Scolari os sujeitos
Aproximação KRUSSER,
Renata da
Silva

A2 DESIGN E Laíse Miolo 2014 é uma possibilidade de modelo


EDUCAÇÃO DE de MORAES para a tradução de materiais
SURDOS: projeto didáticos impressos em língua
de livro traduzido escrita para o meio digital em
do Português para língua gestual. Onde se
LIBRAS delineou o método de
trabalho entre designer e
tradução/interpretação para
traduções futuras em
equipes multidisciplinares,
contando com designers,
tradutores, intérpretes,
professores e usuários
surdos, ilustradores e
programadores.
A3 Processo de Bruno José 2018 conclui-se que as referências da
Produção de Betti aprendizagem multimídia
Materiais GALASSO aliadas aos princípios
Didáticos Monica norteadores da educação de
Bilíngues do Raquel de surdos cria uma linha de
Instituto Nacional Souza desenvolvimento de materiais
de Educação de LOPEZ didáticos possível, com
Surdos Rafael da inovação e métodos
Mata interdisciplinares, a um
SEVERINO aprofundamento de
Roberto conhecimentos capaz de
Gomes de contribuir com a expansão
LIMA qualitativa na
Dirceu produção de materiais didáticos
Esdras bilíngues em LIBRAS/Língua
TEIXEIRA Portuguesa

A4 Livro digital C.W. Silva, 2014 A análise constatou que os


bilíngue para D.J. Teixeira, critérios e princípios de
crianças surdas: V.J. Batista design visual de interface,
uma análise na B.S especificamente o design de
perspectiva do Gonçalves tela, contribuem para uma
design visual de R. Triska produção de livros digitais
interface em tela mais efetivos, em relação a
apresentação de conteúdos
de forma multimodal.

B1 Infográficos Rafael de 2016 explorar a interação do surdo


Acessíveis para Oliveira com a infografia e sua
Surdos: ANDRADE produção.
Recomendações

B2 Fotografia como Paula Rigo 2016 a utilização de materiais


Ferramenta de Cuéllar didáticos desatualizados e
Construção do TRAMUJAS descontextualizados com a
Olhar para os Denize realidade do grupo pode ser
Alunos da 1º Série Simões superada através de práticas
do Ensino Médio ANTENOW dialéticas que estimulem a
criação semiótica da
subjetividade, como na
produção fotográfica.

B3 As representações PEREIRA, 2014 Observou-se que, ao final do


gráficas como Rita de processo, os alunos surdos
recurso Cassia de estavam mais socializados e
metodológico em Sena Pardo. motivados para o trabalho em
situações de sala sala de aula, sendo assim,
de aula com alunos houve um melhor
surdos aproveitamento tanto em termos
de aprendizagem como de
comunicação dos alunos surdos
entre si, com os colegas e com
a professora. Pode-se verificar
que o trabalho docente com
alunos surdos só é possível a
partir do compromisso dos
envolvidos no processo
educacional.
Fonte: Do Autor (2019)

Em uma análise parcial verificou-se que entre os três artigos maior relevância
apresentam como metodologia em comum a utilização de recursos visuais como
infográficos e imagens.
Para efeitos de revisão sistemática, vamos nos concentrar no artigo A1, o
objeto de pesquisa foi justamente o ensino da fotografia usando infográfico, mas o
trabalho deixou lacunas importantes, uma vez que não foi concluída a pesquisa e
nem publicado o trabalho. Ele foi considerado de relevância por se tratar de um
trabalho vinculado ao IFSC Palhoça Bilíngue, onde serão efetuados os estudos
futuros da pesquisa. Neste trabalho focou-se em apenas em alguns conteúdos da
fotografia para construção de um infográfico bilíngue. As figuras a seguir mostram o
esquema construtivo e um protótipo final.

Figura 4 - Esquema construtivo do Infográfico para ensino


de fotografia para surdos (Artigo A 1)
Fonte: (ARI; KRUSSER, 2015, p.8)

Neste esquema, pode-se notar três alternativas diferentes de layout para o


infográfico, sendo que "a alternativa final buscou convergir as seguintes
características: a estrutura gráfica da alternativa 01; a interação com o produto da
alternativa 02, e a relação forma-conteúdo apresentada no vídeo da alternativa 03"
(ARI; KRUSSER, 2015, p.8). A figura 05 apresenta o modelo do produto final.

Figura 4 - modelo do produto final do Infográfico para


ensino de fotografia para surdos (Artigo A 1)
Fonte: (ARI; KRUSSER, 2015, p.8)

Como este infográfico ainda está somente esquematizado, não se pode


afirmar os níveis de eficácia, eficiência e satisfação do usuário, sendo neste caso
uma possível lacuna de conhecimento a ser explorada.
O artigo A3 apresenta uma proposta de layout de tradução de um livro com a
temática do design, sendo neste caso, traduzido do português para LIBRAS. As
recomendações para criação de interface aproxima-se bastante da proposta de tema
da pesquisa, tendo como resultado o que pode ser observado na figura 5 a seguir.

Figura 5 - modelo do layout do livro de design adaptado


do português para LIBRAS (Artigo A 2)
Fonte: (MORAES, 2014, p.7)

Este artigo fez um estudo de um material já existente e propôs um layout


novo, mais minimalista e visual, incluindo recomendações para criação de interfaces
bilíngues.
O artigo classificado como A3 de Galasso et al. (2018, p. 61) descreve como é
o processo de produção de materiais didáticos bilíngues do INES (Instituto Nacional
de Educação de Surdos), órgão de administração direta, específico e ligado à
estrutura do Ministério da Educação. No INES foi criado o Núcleo de Educação
Online (NEO) com o objetivo de "promover e acompanhar o aprimoramento contínuo
dos materiais didáticos multimídia".

"por atender principalmente a estudantes surdos e considerar os aspectos


visuoespaciais da língua de sinais, a produção de materiais didáticos
realizada no NEO é toda digital, voltada ao desenvolvimento de objetos
digitais de aprendizagem executados por equipe multidisciplinar (professores,
desenhistas educacionais, designer gráficos, roteiristas,
tradutores-intérpretes e equipe de estúdio). Assim, estrutura-se um fluxo de
trabalho coletivo dividido em três grandes fases (Pré-produção; Tradução;
Pós-produção)" (GALASSO et al., 2018, p. 61)

A figura 6 a seguir demonstra utilizando o infográfico como recurso visual todo


o processo produtivo dos materiais didáticos do INES.
Figura 6 - Principais etapas do fluxo de trabalho para produção de materiais didáticos
bilíngues (Libras/Língua Portuguesa - A3)

Fonte: (GALASSO et al., 2018, p.61)

Os artigos que receberam a classificação B foram selecionados por


apresentarem recomendações no uso de infográficos em objetos de aprendizagem,
outro artigo tratava de como usar a fotografia como apoio para outras disciplinas e
por fim o último artigo selecionado tratava de uma metodologia centrada na
utilização de recursos visuais para o ensino de alunos surdos.

CONCLUSÃO
Existe no campo do design e da educação bilíngue uma grande e sensível
lacuna de conhecimento, onde o aluno surdo chega em desvantagem à universidade
e muitas vezes ao mercado de trabalho por não dispor de materiais de estudo
adequados às suas necessidades de aprendizagem, que são diferentes dos alunos
ouvintes, e que por si só, entre surdos e ouvintes, ainda existem diferentes níveis de
cognição e aprendizagem. No caso do infográfico mostrado no A1 como ainda está
somente esquematizado, seu layout carece de ajustes e não se pode afirmar os
níveis de eficácia, eficiência e satisfação do usuário, sendo neste caso uma possível
lacuna de conhecimento a ser explorada. Até o momento, não foram encontrados
materiais e pesquisas completas que tratam especificamente do tema em questão,
demonstrando assim, seu caráter inédito, uma das premissas de um projeto de
pesquisa de doutorado. Dessa forma, o grande desafio desta pesquisa será propor
um material de estudo condizente com suas especificidades, para que ele possa
dispor e consultar fora dos limites escolares, sem a necessidade do professor ou do
intérprete, podendo assim, inserir-se como um cidadão com autonomia e referencial
cultural, podendo mostrar à sociedade sua identidade surda através da fotografia,
uma forma hoje tão democrática de expressão artística.
REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. A câmara clara. Lisboa: Ed. 70, 1981.

CAMPELLO Ana Regina e Souza. Pedagogia Visual: sinal na educação dos


surdos. In: QUADROS, Ronice Müller de; PERLIN, Gladis (orgs). Estudos Surdos II.
Petrópolis: Arara Azul, 2007, p. 100-131.

IBGE EDUCA, 2019. Conheça o Brasil - População: Pessoas com Deficiência.


Disponível em
<https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-d
eficiencia.html >. Acesso em 11.nov.2019.

GALASSO, Bruno José Betti et al . Processo de Produção de Materiais Didáticos


Bilíngues do Instituto Nacional de Educação de Surdos. Rev. bras. educ. espec.,
Bauru , v. 24, n. 1, p. 59-72, mar. 2018 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382018000100059
&lng=pt&tlng=pt >. Acesso em 11.nov.2019.

MORAES, Laíse Miolo de. DESIGN E EDUCAÇÃO DE SURDOS: projeto de livro


traduzido do Português para Libras. P&D Congresso Brasileiro de Pesquisa e
desenvolvimento em design, Gramado, 2014. Disponível em: <
http://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/design-e-educao-de-surdos-pro
jeto-de-livro-traduzido-do-portugus-para-libras-12760 >. Acesso em: 11 nov. 2019.

PEREIRA, Rita de Cassia de Sena Pardo. As representações gráficas como


recurso metodológico em situações de sala de aula com alunos surdos. 2014.
148 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Desenho Cultura e Interatividade) -
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2014. Disponível em:
< http://tede2.uefs.br:8080/handle/tede/78 > Acesso em: 11.nov.2019

QUADROS, R. M. O ‘bi’ do bilingüismo na educação de surdos. In: Surdez e


bilinguismo. 1 ed., v. 1, p.26-36. Porto Alegre: Mediação, 2005.

SCOLARI, Sérgio Henrique Prado Scolari; KRUSSER, Renata da Silva.


INFOGRAFIA E EDUCAÇÃO DE SURDOS: UMA APROXIMAÇÃO. In: XV
Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de Interfaces
Humano-tecnologia - Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade de
Interfaces Humano-computador. 2015. Disponível em: <
http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/15ergode
sign/205-U001.pdf > Acesso em: 11.nov.2019

KELMAN, C. A. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In MARTÍNEZ, A.


M. & TACCA, M. C. V. R. (Orgs.) Possibilidades de aprendizagem: ações
pedagógicas para alunos com dificuldade e deficiência. Campinas, SP: 2011.

Você também pode gostar