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Universidade de São Paulo

Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Bolsa Família, Educação e Cidadania no Brasil Democrático

Resolução de Problemas - Turma 42 - Projeto de Pesquisa

Amanda Lira Brandão


Bianca Mayumi de Sousa
Javiera F. Medina Macaya
Marcela Braga Afonso
Nathália Luz Nunes.
Tutora: Doutora Marta Maria Assumpção Rodrigues

São Paulo 2009

1
“A assistência social, direito do cidadão
e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que
prove os mínimos sociais, realizada
através de um conjunto integrado de
ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o
atendimento às necessidades
básicas”.

LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - LOAS


Lei 8742, de 07.12.1993, CAP. I, Art. 1.

SUMÁRIO

2
Bolsa Família, Educação e Cidadania no Brasil Democrático.........................................................1
Agencia Estado. Secretaria de Educação quer certificação para professor. In: Estadao, [São
Paulo], 2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/geral/not_ger335723,0.htm>.
Acessado em: 13 de Abril de 2009.................................................................................................42
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. IDF – Índicede
Desenvolvimento da Família. In: MDS, [Brasília], [200-?]. Disponível em:
<http://www.mds.gov.br/servicos/fale-conosco/bolsa-familia-1/gestor-tecnico-municipal/idf-
indice-de-desenvolvimento-da-familia/>. Acessado em: 20 de Abril de 2009...............................43
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. MDS em
Números. In: MDS, [Brasília], [200-?]. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/servicos/fale-
conosco/bolsa-familia-1/gestor-tecnico-municipal/idf-indice-de-desenvolvimento-da-familia/>.
Acessado em: 20 de Abril de 2009.................................................................................................43

1. INTRODUÇÃO

A construção dos direitos do homem resulta das relações sociais e conflitos ao


longo da história. Desse modo, em um país como o Brasil, onde a cultura colonialista e
a ditadura militar tiveram enorme impacto sobre a formação dos movimentos sociais, é
possível imaginar que a consolidação da cidadania tenha percorrido caminhos difíceis e
tortuosos. Os laços pessoais e relações baseadas em trocas de favores ainda são
muito fortes no dia-a-dia brasileiro. Essa característica de nossa sociedade cria certa
dificuldade para a consolidação dos direitos e deveres iguais para todos, sem distinção
de pessoas de acordo com seu grupo social e de uma sociedade civil atuante.

Com a finalidade de entender a evolução da cidadania no período democrático


nacional, este trabalho analisará os aspectos econômicos, sociais e culturais, vigentes

3
atualmente no Brasil. Para tal propósito, serão comparadas as regiões nordeste e
sudeste, mais especificamente os estados de São Paulo e Bahia. Estes estados foram
escolhidos através da avaliação de seus índices de desenvolvimento humano (IDH), os
quais apresentam uma grande disparidade, e também em razão do vasto contingente
de informações que se encontra disponível. A comparação de dados tão diferentes tem
como vantagem a visualização mais clara dos extremos encontrados claramente na
observação da situação socioeconômica e educacional de nosso país.

A verificação da iniciativa de transferência de renda do governo federal,


particularmente o Programa Bolsa Família (PBF), procura mostrar ocorre alguma
transformação social em relação à ampliação da cidadania dos beneficiários. Esta,
segundo Marshall (1991 a 1997), refere-se ao exercício dos direitos políticos, sociais e
civis. Complementando esta concepção, Carvalho (2009), professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acrescenta que a cidadania tem como fator limitante
a educação, levando em consideração que as pessoas que têm acesso à instrução e ao
ensino de qualidade são mais conscientes de seus direitos e deveres e têm mais
capacidade de exercê-los.

Através de análises, pesquisas de campo e levantamento de dados


quantitativos em portais como IPEA e Instituto Paulo Montenegro, será estudada a
evolução de indicadores econômicos, sociais e culturais, como linha de pobreza e
indigência, IDH e alfabetismo desde a implantação do Programa Bolsa Família com a
finalidade comprovar ou refutar sua eficácia. Também será verificada a eficiência do
programa em relação a seu objetivo inicial, que inclui a diminuição do índice GINI -
responsável por calcular o nível de desigualdade em um país.

4
5
2. METODOLOGIA

2.1 DADOS PRIMÁRIOS

Os dados primários utilizados nesta pesquisa foram coletados através de


entrevista realizada com 21 pais e responsáveis de alunos matriculados na Escola
Estadual Irmã Annette Marlene Fernandes de Melo, do Jardim Keralux, zona leste da
cidade de São Paulo.

A escolha da amostra deu-se por conveniência, visto que era necessário


selecionar responsáveis por famílias que recebessem o benefício do PBF. Com esse
objetivo e pensando nas condicionalidades educacionais no Programa, definiu-se que o
local mais adequado seria a escola localizada nas proximidades do campus Leste da
Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com os objetivos da pesquisa foram colhidos os seguintes dados:

- Número de entrevistados que recebiam ou não o benefício do Programa Bolsa Família

- Idade dos Filhos enquadrados no Programa.

- Tipos de benefício e quantias em dinheiro recebidas.

- Tipos de produtos ou serviços pagos com o dinheiro do benefício.

- Impressões dos beneficiários sobre melhorias de aspectos sociais relacionadas ao


Programa Bolsa Família.

- Quantificação da satisfação dos beneficiários com o Programa.

- Quantificação do grau de influência do Bolsa Família na renda familiar.

- Percepções sobre mudanças no interesse escolar dos alunos participantes do


Programa.

- Grau de escolaridade dos beneficiados.

− Quantificação da qualidade de ensino da escola E. E. Irmã Annette M. F. M.,

6
percebida pelos entrevistados.

2.2 DADOS SECUNDÁRIOS

A coleta de dados secundários constitui uma parcela importantíssima da


realização desta pesquisa, pois contém informações mais amplas e precisas que serão
utilizadas na comparação com os dados observados na pesquisa de campo. Assim,
através de pesquisas já existentes, procura-se ultrapassar o resultado coletado pelo
grupo, em pequena escala, para apoiar a análise de cada um dos aspectos abordados.

Definir o conceito de cidadania foi o primeiro passo no início desta pesquisa. A


busca por informações incluiu fontes como a Constituição Federal e a obra de Carvalho
(2009), passando pela definição de direitos civis, sociais e políticos e auxiliando na
compreensão da construção da cidadania no Brasil. Estas informações nortearam as
decisões sobre o foco da pesquisa, visto que foi concluído que educação e cidadania
estão fortemente relacionadas.

Para entender a mobilidade social e a situação das classes sociais foram


buscados no site do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), dados
relativos à desigualdade no Brasil, em de artigos de Sônia Rocha 1 e Simon
Schwartzman2. Também foram utilizados dados quantitativos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) sobre a linha de pobreza e de indigência, a fim de definir
melhor o público beneficiado pelo programa Bolsa Família.

Nos sites do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e IBGE foi


verificado se as condicionalidades impostas aos beneficiários do Programa Bolsa
Família estão sendo devidamente fiscalizadas e como os orçamentos desses
beneficiários é afetado em relação aos gastos com cultura e educação, analisando os
dados das Pesquisas de Orçamento Familiar. Mudanças na constituição do orçamento
das famílias beneficiárias são fortes indicadores do poder econômico do Programa,
além de poderem evidenciar que tipo de produtos são mais consumidos, o que é fator
crucial para avaliar os resultados alcançados.

1
Economista. Atualmente desenvolve estudos sobre distribuição de renda, pobreza, mercado de
trabalho, dedicando-se também à formulação e avaliação de programas sociais.
2
Sociólogo pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio de Janeiro

7
Através do site do jornal O Estado de São Paulo (OESP), foram levantados
dados estatísticos sobre a qualidade do ensino publico e desempenho dos alunos em
avaliações, como o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (SARESP), tornando possível o acesso a estudos que mostram a relação entre os
professores e a qualidade do ensino nas instituições públicas e também sobre as taxas
de escolaridade e a qualidade do ensino. Este tipo de informação é essencial para
entender que tipo de fatores tem influência sobre a qualidade da aprendizagem e
avaliar se o Programa Bolsa Família proporciona algum deles.

8
3. DESENVOLVIMENTO

3.1 HISTÓRICO DO BOLSA FAMÍLIA

O Brasil, um país com cerca de 190 milhões de habitantes, considerado uma


nação emergente, apresenta riqueza de recursos naturais e um grande potencial de
desenvolvimento, assim sendo integrante do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), um
grupo de países cujas expectativas segundo o grupo Goldman Sachs são de atingirem
um PIB que ultrapasse o do G6, tornando-se assim a maior força na economia mundial
até 2050.

Entretanto, ainda sofre com problemas de países subdesenvolvidos como a


desigualdade social, a pobreza e a indigência. Analisando a porcentagem de pobres
existentes em 2007, chega-se a conclusão que representam aproximadamente 9,5% da
população, que correspondem a quase 17 milhões de pessoas.

Desde os anos 80 há, no Brasil, uma discussão sobre oferecer ajuda a famílias
pobres e indigentes do país. Até então, essa ajuda era feita de forma indireta,
oferecendo cestas básicas, por exemplo. Porém havia denúncias de corrupção devido à
centralização das compras em Brasília, além de desvio de mercadoria por causa da
falta de controle logístico.

Assim, pensou-se em uma forma mais direta de auxílio. O idealizador do projeto


de ajuda direta foi Herbert José de Sousa, sociólogo e ativista dos direitos humanos
brasileiro. Foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso que essa ajuda
começou e os programas de distribuição de renda foram implantados no país. Todos
esses programas estavam agrupados na chamada Rede de Proteção Social, de
abrangência nacional.

O Bolsa Família surgiu a partir do “Bolsa Escola”, que foi criado em Campinas
em 1994, no Distrito Federal em 1995 e implantado pelo governo federal em 2001. Em
2002 havia muitos programas sociais que já beneficiavam milhões de famílias
brasileiras, por exemplo: “Bolsa Escola”, do Ministério da Educação, “Auxílio Gás”, do

9
Ministério de Minas e Energia e “Cartão Alimentação”, do Ministério da Saúde.

Para administrar esses programas de transferência de renda de forma mais


centralizada, em 2003 o Governo Federal uniu os programas Bolsa Escola, Auxílio Gás
e Cartão Alimentação criando o Bolsa Família. Desde então, acredita-se que esta
iniciativa vem reduzindo o número da população pobre e indigente do país, aumentando
seu poder aquisitivo, e criando a possibilidade de um investimento no comércio local
além de promover a ampliação de direitos sociais básicos como acesso à educação e
saúde. Para atingir tais objetivos, o governo propôs uma série de condições, entre elas,
o acompanhamento escolar obrigatório para alunos de até 17 anos, diminuindo a
evasão escolar no país – o que pode não significar uma melhoria na qualidade do
ensino público e no número de alfabetizados.

O programa Bolsa Família é hoje administrado pelo Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e disponibiliza auxílio financeiro às
famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, com renda mensal de até
R$137,00 por pessoa, devidamente cadastradas no Cadastro Único para Programas
Sociais (CadÚnico).

O benefício, porém, não é garantido a todas as famílias que se encaixem nos


critérios exigidos. Segundo o material informativo no site do MDS3, o cadastramento
não implica na entrada imediata das famílias no Programa ou recebimento do benefício,
já que serão priorizadas famílias com menor renda per capita.

É importante lembrar que o Programa tem tido uma ótima taxa de aprovação
nas classes sociais mais baixas, sendo que das pessoas entrevistadas na E. E. Irmã
Annette, recebendo entre 20 e 120 reais, 71% dos beneficiários acreditam que o
Programa Bolsa Família deveria receber nota 10, ou seja, encontram-se satisfeitos com
o modelo adotado e os benefícios recebidos.

Dentre os entrevistados que não recebiam o benefício, muitos afirmaram terem


se cadastrado, porém não receberam o benefício e não tem informações que
justificassem este fato. Outras observações foram de que alguns benefícios foram
cortados sem aviso prévio, apenas com a justificativa de que não havia frequência
escolar dos alunos, mesmo quando os responsáveis afirmavam que havia. Há também

3
http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/o_programa_bolsa_familia/criterios-de-selecao

10
pessoas que anteriormente recebiam o Bolsa Escola, mas que com a mudança no
Governo do Estado de São Paulo, foram chamados a se recadastrarem e perderam
seus benefícios. Esses fatos podem ser justificáveis quando não se cumpre de fato as
condicionalidades ou não a família não se encaixa no perfil do Programa, mas pode
também sinalizar falhas estruturais que acabam por ocasionar o não atendimento de
diversas famílias necessitadas.

11
3.2 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

“Após a implantação de programas de transferência de renda,


como o Bolsa Família, houve uma diminuição do número de
pessoas nas linhas de pobreza e indigência”

3.2.1 Índice de Gini

O índice de Gini, que tem o intuito de medir a distribuição de renda de um país,


tem uma escala que vai de 0 (zero) a 1 (um). Portanto, quanto mais desigual a
distribuição de renda for, o resultado tenderá a 1; e, quanto mais igualitária for a
distribuição, o resultado tenderá a 0.

Em entrevista a Manfredo Araújo de Oliveira4 no ano de 2008, Ivo Lesbaupin5


apresentou que, no período de 2003 a 2008 o Brasil teve uma diminuição do índice de
Gini: de 0,563 passou para 0,541.

3.2.2 Linha de Indigência

A linha de indigência é caracterizada pelas pessoas que não possuem o valor


mínimo necessário para adquirir uma cesta alimentar nutricionalmente adequada, em
determinado momento e lugar, e o valor mínimo para satisfazer as necessidades
básicas. O valor da cesta alimentar é redefinido a cada ano, acompanhando a variação
de preços, baseando-se no Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor, do
IBGE.

No período entre 2004 e 2007 houve a diminuição do número de indigentes


brasileiros, que, em 2003 era 5.065.399 e foi para 2.839.117 em 2007, como diz
pesquisa feita pelo IBGE.

4
Doutor em Filosofia, é professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC).
5
Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

12
BRASIL – NÚMERO DE
INDIGENTES – 2004 A 2007
Ano Número de Indigentes
2004 14223623
2005 12215785
2006 10363032
2007 10754453
Fonte: IBGE

No mesmo período, a região que mais se destacou pela queda desta taxa é a
nordeste, apesar de que ainda concentra a maior proporção de indigentes no país,
cerca de 2 milhões de pessoas conseguiram sair da linha de indigência. O estado com
maior redução de indigentes foi a Bahia, onde 300 mil pessoas deixaram de ser
incluídas nessa linha.

REGIÃO NORDESTE –
NÚMERO DE INDIGENTES –
2004 A 2007
Ano Número de Indigentes
2004 7392584
2005 6534815
2006 958361
2007 5809736
Fonte: IBGE

Houve, também, uma relevante queda de número de indigentes na região


sudeste, que foi de 4.048.353 de pessoas em 2004 para 2.598.977 em 2007. Uma
diminuição de aproximadamente 2 milhões de pessoas. O estado onde mais houve
redução foi São Paulo, que apesar de ainda concentrar a maior parte de indigentes
desta região, teve uma subtração de quase 800 mil pessoas dentro da linha de
indigência.

13
REGIÃO SUDESTE –
NÚMERO DE INDIGENTES –
2004 A 2007
Ano Número de Indigentes
2004 4048353
2005 3326069
2006 2761507
2007 2598977
Fonte: IBGE

As grandes diminuições nas linhas de indigência e pobreza das regiões


nordeste e sudeste têm razões bem distintas. Enquanto a região nordeste teve essa
brusca queda causada pelos programas de distribuição de renda do governo, como o
Bolsa Família, já que este tem mais da metade de seus recursos aplicados nesta
região, no sudeste as causas são relacionadas com a recuperação da economia. Mais
especificamente para a grande São Paulo, segundo o portal do IETS, reduziu-se a
porcentagem de pobres de 41,6% para 35,5% em 2007, por causa da recuperação do
mercado de trabalho e do aumento do salário mínimo. Além disso, baseando em
pesquisas feitas por Sônia Rocha, há alguns anos vem crescendo o número de
pessoas ocupadas no estado e também os rendimentos do trabalho. Os programas de
distribuição de renda, como o Bolsa Família, são também de relevante importância à
cidade, entretanto, em São Paulo esse auxílio acaba sendo marginalizado, pois esta
possui um custo de vida muito alto e, assim torna-se irrelevante a quantia financeira
dada.

14
3.3 ASPECTOS ECONÔMICOS

“Sistemas de redistribuição de renda no formato do Programa


Bolsa Família contribuem para a melhora do bem estar social“.

O Programa Bolsa Família, que tem como objetivo redistribuir renda para as
famílias pobres, está causando mudanças em diversos índices do Brasil, como por
exemplo, no de Gini e de IDH.

O primeiro se vê modificado através da principal ação do Programa, já que,


repassando dinheiro para as famílias mais carentes, estas têm um aumento da renda
familiar. Apesar de ainda existir grande discrepância entre a renda das classes mais
ricas (A e B) e as classes mais pobres (C, D e E), o Programa Bolsa Família muda,
pouco a pouco, o cenário nacional de desigualdade: enquanto em 2004, os 10% mais
ricos da população detinham 44,6% da renda brasileira, em 2007, esse percentual foi
reduzido para 43% (PovcalNet).

O segundo, que inclui escolaridade, PIB per capita e longevidade, avalia e


mede o bem-estar de uma população. Este, por sua vez, é modificado pela condição de
freqüência igual ou maior que 85% da criança na escola e, assim como o de Gini, pela
redistribuição de renda.

Outras mudanças causadas pela redistribuição são o aumento da classe média


brasileira, a diminuição da taxa de pobreza, inclusão bancária. É importante ressaltar
que, apesar de que o Programa ajudou na melhora dos indicadores sociais e
econômicos, os resultados obtidos são conseqüência das condições em determinado
momento. Ou seja, junto com o Programa Bolsa Família, houve o “crescimento do
emprego com carteira assinada, grande oferta de crédito e crescimento da renda dos
trabalhadores.”6 e a elevação real do salário mínimo.

3.3.1 Aumento da Classe Média

A classificação utilizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV- RJ) para separar
a sociedade em “classes” é a partir da renda familiar:
6
Silvia Maria Schor: Economista, professora da FEA-USP, pesquisadora da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE). Especialista em distribuição de renda, desigualdade e pobreza.

15
Classe Faixa de Dinheiro (R$)
Ae B A partir de 4.591,00
(Elite)
C Entre 1.064,00 e
(Média) 4.591,00
D Entre 768,00 e 1.064,00
(Remedi
ado)
E Até 768,00
Fonte: Fundação Getúlio Vargas

Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Target, publicada no jornal O Globo,


cerca de 7 milhões de pessoas conseguiram ascender na pirâmide de consumo em
2006, chegando à classe média. Conforme o diretor do instituto, Marcos Pazzini, os
domicílios de classe D (...) subiram na pirâmide. Compraram mais bens duráveis e (...),
[assim], houve o avanço para a classe média.

Em entrevista para a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE),


Silvia Maria Schor apresenta: “Recente pesquisa do Centro de Políticas Sociais da
Fundação Getúlio Vargas do Rio nos diz que, entre abril de 2004 e abril de 2008, (...) a
classe média brasileira passou de 43% para 51% da nossa população. Foi um
crescimento admirável”.

3.3.2 Diminuição da taxa de pobreza

A taxa de pobreza, medida por uma renda per capita equivalente a meio salário
mínimo local (cerca de US$ 6,5 por dia), caiu de 39,4% da população em 2003 para
30,3% em 2007. Isto se deve a fatores já citados, como o crescimento econômico, a
existência de programas de redistribuição de renda, a aumentos na renda do trabalho,
principalmente do salário mínimo e ao declínio do desemprego.

3.3.3 Inclusão Bancária

16
A condição de pobreza representa uma dificuldade de subsistência causada
pelos baixos níveis de renda da família. (...) Essa condição normalmente vem
acompanhada de uma relativa dificuldade das pessoas para acessar bens e
serviços. A dificuldade de acesso aos serviços bancários básicos, como a
abertura e manutenção de conta corrente, revela uma dimensão da
desigualdade brasileira. Até 2007, havia apenas 7,6 milhões de contas especiais
de depósito à vista abertas no Sistema Financeiro Nacional.7

A participação bancária da população é responsável por estimular o setor


produtivo, gerar empregos, renda e movimentar a economia. De acordo com pesquisa
feita pelo IBGE, há no Brasil cerca de 25 milhões de famílias sem acesso a bancos. O
governo, junto com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, propôs um projeto
de inclusão, sem discriminar pela renda. A política de inclusão bancária permitiu a
abertura de 1 milhão e 270 mil contas simplificadas, até 27 de fevereiro de 2004,
somente na Caixa Econômica Federal. Desse total, 460 mil clientes já contam com
crédito pré-aprovado no valor de R$ 200,00, com juros de 2% ao mês.

No começo de 2008 foi implantado o projeto-piloto, em Belo Horizonte (MG), de


inclusão bancária para os beneficiários do Programa Bolsa Família. A conta bancária
usada, conta CAIXA FÁCIL, é uma modalidade de conta simplificada de depósito à vista
que possui isenção de várias tarifas.

Muitas são as razões para que tal projeto seja implementado junto ao Programa
Bolsa Família. Primeiramente, o cartão do PBF só permite o saque integral do
benefício, sem possibilitar que as famílias beneficiárias tenham acesso a outros
serviços bancários. Mesmo sendo pobres, as famílias do PBF poupam e
necessitam de crédito, empréstimo e outros serviços financeiros. Como não têm
fácil acesso a instituições financeiras formais, as famílias buscam esses
serviços com pessoas conhecidas ou em instituições informais e, por isso,
arcam com custos financeiros mais altos.8

A inclusão bancária é, principalmente, uma ferramenta de inserção social e,


segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, uma forma de melhorar a cidadania
da população excluída socialmente.

O benefício seria, então, recebido direto no cartão da Caixa. Cabe ressaltar que
abrir a conta não é uma obrigação, nem interfere nas condicionalidades. Por não ser
obrigatória, abrir a conta traz alguns benefícios, tais como: realização gratuita de até
quatro saques por mês; consulta ao saldo da conta; emissão gratuita de até quatro
extratos por mês; depósito de valores; pagamento por meio de débito nos terminais de
7
Guia de Inclusão Bancária do Bolsa Família para Gestores Municipais, 1ª Edição. Junho de 2008
8
Inclusão Bancária dos Beneficiários do Bolsa Família – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome

17
auto-atendimento das agências; transferência de valores entre contas da Caixa ou para
outros bancos; pagamento de faturas com débito automático; compras no comércio
local com débito direto na conta; acesso a crédito e a seguros, dependendo de
avaliação do gerente da Caixa.

Este último benefício, junto com o Programa, gera maiores possibilidades de


que as famílias beneficiárias avancem na construção de redes locais de sociabilidade e
na melhora na própria auto-estima dos núcleos familiares. Estes são importantes para
sair da situação de pobreza extrema.

TRATAMENTO DA FAMÍLIA NO
LOCAL ONDE MORA APÓS O
BOLSA FAMÍLIA (%)
Freqüência %
Mudou 1222 41,6
para
Melhor
Não 1701 58
Mudou
Nada
Mudou 12 0,4
para
Pior
Total 2935 100
Fonte: DataUFF/mar.2006

CRÉDITO COM OS
COMERCIANTES DO BAIRRO
APÓS O PROGRAMA BOLSA
FAMÍLIA (%)
Freqüência %
Sim 967 33,1
Não 901 30,1
Não 1052 36,6
Compra a
Crédito
Total 2920 100
Fonte: DataUFF/mar.2006

3.3.4 Índice de Desenvolvimento da Família

18
O Índice de Desenvolvimento da Família (IDF) é um indicador que mede o grau
de desenvolvimento das famílias, apurando o grau de vulnerabilidade de cada família
do Cadastro Único (CadÚnico), bem como analisar um grupo de famílias ou mesmo o
total de famílias do município. O IDF varia entre 0 (zero) e 1 (um) e, quanto melhores as
condições da família, mais próximo de 1 (um) será o seu indicador.

Os aspectos que são analisados para calcular o IDF abrangem todas as


grandezas da pobreza e avalia como eles afetam o desenvolvimento dos indivíduos
dentro de um núcleo familiar. Esses aspectos levam em consideração os fatores que
influenciarão nas necessidades básicas da família. São estes:

·Vulnerabilidade;

·Acesso ao conhecimento;

·Acesso ao trabalho;

·Disponibilidade de recursos;

·Desenvolvimento infantil e

·Condições habitacionais.

É através do CadÚnico que os gestores municipais têm acesso às informações


de cada família e, obtendo dados totais daquele município, criam programas paralelos
ao PBF, para melhorar uma ou mais dimensões da pobreza presentes. Contudo, o IDF
não pode ser usado para comparação entre municípios, microrregiões, regiões,
estados, pois

Os valores do IDF municipal são baseados exclusivamente nos


cadastrados, levando em consideração as diferenças na forma de
coleta dos dados, a abrangência do cadastramento e a freqüência de
atualização das informações. O aplicativo do IDF foi disponibilizado
pela SENARC - Secretaria Nacional de Renda de Cidadania e
desenvolvido por pesquisadores do IPEA - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada.

19
3.4 CONDICIONALIDADES

A maior frequência escolar de alunos, cujas famílias


são beneficiárias do Bolsa Família, é decorrente das
condicionalidades do Programa

Para que o programa atinja seu objetivo principal de diminuir a desigualdade no


Brasil o governo impôs uma série de condições para que a população beneficiada seja
aquela que realmente precisa do auxílio. Além de terem uma renda per capita de
acordo com o seu respectivo auxílio – até 60 reais para o Benefício Básico, direcionado
para famílias em situação de pobreza extrema, e 137 para o Variável, voltado para
famílias em situação de pobreza – os beneficiários devem estar de acordo com as
seguintes regras9:

Educação: frequência escolar mínima de 85% para crianças e adolescentes


entre 6 e 15 anos e mínima de 75% para adolescentes entre 16 e 17 anos.

Saúde: acompanhamento do calendário vacinal e do crescimento e


desenvolvimento para crianças menores de 7 anos; e pré-natal das gestantes e
acompanhamento das nutrizes na faixa etária de 14 a 44 anos.

Assistência Social: frequência mínima de 85% da carga horária relativa aos


serviços socioeducativos para crianças e adolescentes de até 15 anos em risco
ou retiradas do trabalho infantil.

O acompanhamento das condicionalidades é feito em conjunto pelos


Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), da Saúde e da
Educação e possui além de sistemas de registro das condicionalidades, um calendário
de acompanhamento que deve ser cumprido pelos municípios. Porém, um dos
problemas encontrados ao longo da história do programa se deve ao cumprimento das
citadas regras: Como, atualmente, 11 milhões de famílias estão recebendo o benefício,
a fiscalização por parte do governo não abrange toda a população que recebe o auxílio.

As famílias que não cumprirem as condicionalidades exigidas, estão sujeitas a


consequências de acordo com as situações a seguir, retiradas do site do Programa

9
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - Condicionalidades

20
Bolsa Família10:

• No primeiro descumprimento a família receberá apenas uma


advertência, que não afeta ou altera o recebimento do benefício;
• No segundo descumprimento a família terá uma sanção e o
benefício será bloqueado por 30 dias, mas recebe acumulado no mês
seguinte;
• No terceiro descumprimento, o benefício da família será suspenso
por 60 dias;
• No quarto registro, o benefício da família será suspenso por 60
dias. Nesses dois períodos, as parcelas não serão geradas e a família
fica sem receber o benefício;
• No quinto registro de descumprimento a família poderá ter o
benefício cancelado.

As sanções para as famílias com adolescentes de 16 e 17 anos, beneficiárias


do Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ) são:

• No primeiro descumprimento, advertência;


• No segundo registro de descumprimento, o benefício será
suspenso por 60 dias; e
• No terceiro registro de descumprimento, o benefício referente ao
jovem é cancelado

10
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – Condicionalidades – Advertências e
Sanções

21
3.4.1 Fiscalização

3.4.1.1 Saúde

1º Semestre 1º Semestre Evolução


Famílias 2005 2008 (%)

Famílias Beneficiárias (A) 5.539.716 10.460.963 88,8

Famílias Acompanhadas (B) 362.410 6.025.288 1562,5

Famílias que Cumpriram as Condicionalidades (C) 312.821 6.002.680 1818,9

Percentual de Acompanhamento por Famílias Beneficiárias (B / A) 6,5 57,6 786,1

Percentual de Cumprimento por Famílias Beneficiárias (C / A) 5,6 57,4 925,0

Percentual de Cumprimento por Famílias Acompanhadas (C / B) 86,3 99,6 15,4

1º Semestre 1º Semestre Evolução


Crianças 2005 2008 (%)

Crianças Beneficiárias (A) 4.083.054 5.609.414 37,4

Crianças Acompanhadas (B) 298.932 3.517.407 1076,7

Crianças que Cumpriram as Condicionalidades (C) 275.246 3.492.192 1168,8

Percentual de Acompanhamento por Crianças Beneficiárias (B / A) 7,3 62,7 758,9

Percentual de Cumprimento por Crianças Beneficiárias (C / A) 6,7 62,2 828,4

Percentual de Cumprimento por Crianças Acompanhadas (C / B) 92,1 99,3 7,8

1º Semestre
1º Semestre Evolução
Gestantes 2005 2008 (%)

Gestantes Acompanhadas (A) 39.923 86.517 116,7

Gestantes que Cumpriram as Condicionalidades (B) 11.895 85.070 615,2

Percentual de Cumprimento por Gestantes Acompanhadas (B / A) 29,8 98,3 229,9

22
Segundo os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde, é possível notar a
dificuldade por parte do governo em relação ao acompanhamento das
condicionalidades, principalmente durante o ano em que o programa foi implantado.
Levando em consideração o número de famílias e crianças acompanhadas pelo
governo, conclui-se que de 99% dos beneficiários fiscalizados cumprem realmente as
condições, mas esta porcentagem se refere a apenas cerca de 60% do total de
beneficiários.

23
3.4.1.2 – Educação

Região UF Percentual de alunos informados


Centro - Oeste DF 60,6
Centro - Oeste GO 73,8
Centro - Oeste MS 84,2
Centro - Oeste MT 73,5
Nordeste AL 71,9
Nordeste BA 70,6
Nordeste CE 81,7
Nordeste MA 82,2
Nordeste PB 80,2
Nordeste PE 77,8
Nordeste PI 77,7
Nordeste RN 81,1
Nordeste SE 83
Norte AC 80,8
Norte AM 72,9
Norte AP 78,4
Norte PA 75,8
Norte RO 79
Norte RR 74,3
Norte TO 79,4
Sudeste ES 81,7
Sudeste MG 82,7
Sudeste RJ 84,4
Sudeste SP 81,8
Sul PR 80,9
Sul RS 79,9
Sul SC 84,9
Total 78,9

A tabela baseada nas informações obtidas do site FomeZero ilustra a


fiscalização educacional no 2º semestre de 2007. Apesar de mais antiga, ela apresenta
uma taxa maior em relação acompanhamento da área da saúde do ano de 2008.

3.4.2 Falhas

Segundo o site O Globo, a Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU)


aprovada dia 6 de maio de 2009 constatou indícios de fraude no pagamento do
programa Bolsa Família. O levantamento aponta o pagamento de 110.697 benefícios a
mortos, políticos, donos de carros, caminhões, tratores ou motos importadas.

Os mortos e donos de carros podem estar recebendo o dinheiro por duas


razões: como há atualizações cadastrais entre longos períodos, é possível que alguns

24
beneficiários continuem recebendo a ajuda mesmo depois de falecidos ou depois de
terem saído da faixa de pobreza. A outra possibilidade é a presença de fraudes. Entre
as famílias dentro do programa que possuíam automóveis, 19 mil possuíam carros
avaliados em mais de 10 mil reais. Uma delas declarou que possuía uma renda mensal
de 35 reais per capita, mesmo possuindo sete caminhões avaliados em 756,4 mil reais.

O MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) já tomou as


devidas providências: 10% dos proprietários de automóveis já tiveram seu benefício
cancelado e 172 famílias de políticos também já não recebem o auxílio, o que não é o
suficiente para que o programa atinja apenas o público alvo.

Esse número de beneficiários ilegais pode parecer pouco perto dos 11 milhões
de famílias que recebem a ajuda, mas se cada um deles receber cerca de 100 reais,
estaríamos pagando a eles, todos os meses, cerca de 11 milhões de reais por mês, por
estarem mortos, por terem carros ou por terem sido eleitos.

3.4.3 Soluções com relação à fiscalização educacional

3.4.3.1 Acompanhamento dos pais

Segundo o site G1, há um projeto de lei no senado visando o maior controle do


acompanhamento dos pais sobre as atividades de seus filhos na rede pública.

Para que o beneficiário tenha o direito de receber o auxílio, “os pais ou


responsáveis de alunos beneficiados deverão participar de reuniões de pais e
professores, promovidas pelas escolas onde seus filhos estudam.”

A fim de facilitar a presença dos pais nas reuniões, poderão ser fornecidos a
condução e horários flexíveis para que eles não encontrem nenhum empecilho em
relação ao acompanhamento de seus filhos.

25
3.5 O CONSUMO DAS FAMÍLIAS BENEFICIÁRIAS

O aumento da renda das famílias beneficiárias do


Programa Bolsa Família influencia nos gastos com
cultura e educação

O aumento da renda de uma família tem impacto direto sobre a composição de


seu orçamento, por isso o Programa Bolsa Família tem alterado profundamente o
retrato dos gastos das famílias beneficiadas. Ao vincular educação, cidadania e o Bolsa
Família, é natural que esta pesquisa procure encontrar alguma influência do benefício
sobre os gastos com cultura, lazer e educação.

Portanto, de acordo com as hipóteses levantadas, neste item o foco estará na


análise dos gastos com educação, lazer e cultura. Assim, é necessário especificar quais
são os tipos de gastos com os quais estamos lidando:

3.5.1 Classificações

Segundo o IBGE, as despesas com educação são constituídas por:

Despesas efetuadas com mensalidades e outras despesas escolares com


cursos regulares (pré-escola, fundamental e médio) curso superior de
graduação, outros cursos (curso supletivo, informática, cursos de idioma e
outros), livros didáticos e revistas técnicas, artigos escolares (mochila escolar,
merendeira, etc.), uniforme escolar, matrícula e outras despesas de educação.
(IPEA, 2007 p.78)

Já os gastos com cultura e lazer, podem incluir itens como:

Leitura (livros didáticos e não-didáticos, revistas, jornais etc., mídia escrita);


Fonografia (CD’s, discos de vinil, aparelhos ou equipamentos); Espetáculo vivo
e artes (circo, artes, teatro, balé, shows, música etc.); Audiovisual (cinema,
práticas amadoras, TV a cabo, equipamentos e conteúdos); Microinformática
(equipamentos e internet); e Outras saídas (boate, danceteria, zoológico etc.).
(IPEA, 2007 p.109)

26
3.5.2 Influência na Composição do Orçamento Familiar

Com a pesquisa realizada na escola Irmã Annette M. F. M., foi constatado que o
benefício do PBF é usado principalmente na compra de material escolar (26,5%) e
alimentos (23,2%). Esses itens são seguidos por saúde (15%), moradia e vestuário
(8,3%), transporte, lazer e cultura (6,6%), eletrodomésticos (3,3%) e finalmente cursos
e investimentos e negócios próprios (1,6%).

3 0
2 6 , 2
A lim e n t o s
2 5 2 3 S a ú d e
M a t e r ia l E s c o la r
2 0 T r a n s p o r t e
1 5 M o r a d ia
1 5
E le t r o d o m é s t ic o s
L a z e r e C u lt u r a
1 0 8 , 2 8 , 2
6 , 5 6 , 5 C u r s o s
N e g ó c io P r ó p r io
5 3 , 2
1 , 61 , 6 V e s t u á r io

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas


(Ibase), os beneficiários do PBF declaram que utilizam a renda extra especialmente
para consumir mais alimentos, dos quais se destacam os açúcares, sorvetes, gelatinas,
bombons ou refrigerantes, sendo citados por 78% dos entrevistados. O auxílio tem
ajudado as famílias a adquirir uma maior variedade de produtos alimentícios, mas que
isso não significa uma melhora na qualidade da alimentação. Na verdade, o que
acontece é que muitas vezes os titulares, em sua maioria mulheres, optam por produtos
que propiciem saciedade ao invés de uma alimentação saudável, e também procuram
satisfazer os desejos de seus filhos.

27
Também na pesquisa de campo da E.E Irmã Annette, não diferentemente do
esperado, os gastos com alimentação foram apontados como consumidores de grande
parte do benefício. Isso porque o programa assiste famílias de baixíssima renda que
ainda necessitam de uma grande complementação alimentar. Portanto, se o foco for
direcionado a aumentar os gastos com materiais escolares, outros gastos educacionais
e gastos com cultura e educação, talvez seja necessário associar essas famílias a
programas públicos de assistência alimentar.

A pesquisa também mostra que os materiais escolares estão em segundo lugar,


entre os itens mais comprados com o dinheiro do PBF. Esse é um dado extremamente
positivo, e significa que mais dinheiro está sendo gasto com itens essenciais como lápis
e cadernos, mas também com livros didáticos, o que aponta o reconhecimento da
importância da educação. Estes dados, embora animadores, não são suficientes para
admitir que o auxílio financeiro tenha impacto significativo sobre o acesso à cultura,
lazer e educação, já que os gastos com cursos, lazer e cultura, observados nas
entrevistas realizadas especialmente para esta pesquisa não representaram
quantidades significativas do benefício recebido (1,6%e 6,5% respectivamente).

Se de fato, o objetivo almejado for a ampliação da cidadania, é preciso entender


que a produção cultural tem um grande papel no desenvolvimento e integração social e
que são estes que vão criar as situações favoráveis a compreensão e prática da
cidadania. Desse modo, o consumo cultural viabiliza uma sociedade mais cívica e
atuante, pois também dá acesso à informação de todos os tipos, veiculada nos diversos
tipos de mídias.

Com base nos dados apresentados pelas Pesquisas de Orçamento Familiar


(POF's) do IPEA, é possível estabelecer uma série de características das famílias que
apresentam maior consumo cultural, assim como o perfil desse consumo.

Dentre estas características, é possível notar que famílias cujo chefe tem mais
de 12 anos de estudo respondem por 40% dos gastos culturais de todas as famílias,
entretanto o número de famílias com este tipo de característica é 89% menor do que o
resto das famílias. Isso significa que a escolaridade dos chefes de uma família
influencia de forma muito forte no orçamento destinado à cultura.

Quanto à renda, os números observados indicam que os 40% mais pobres

28
respondem por apenas 10% do dispêndio cultural, enquanto os 10% mais ricos gastam
o correspondente a 40% dos gastos totais com cultura.

Além das diferenças relacionadas às quantias voltadas para despesas culturais,


o perfil desses gastos também sofre influência do poder aquisitivo ou classe social. As
famílias das classes D e E, atendidas pelo Programa Bolsa Família, costumam
apresentar dispêndios culturais mais concentrados em equipamentos relacionados ao
audiovisual, como TV's. O que significa que essas famílias têm acesso a meios de
comunicação e conteúdos padronizados e aponta para a dificuldade dos produtos e
serviços diferenciados atingirem estas famílias. A televisão é um meio de acesso à
cultura que é valorizada por todas as classes, porém nas classes D e E, os gastos com
espetáculos ao vivo e artes é extremamente baixo, sendo superado de longe por gastos
com a indústria fonográfica.

A frequência do acesso a itens educacionais ou relacionados à cultura também é


um importante fator de comparação. Ainda nas POF's, 92% das famílias de classes D e
E afirmam que nunca vão ao teatro. Nas classes A e B 56% das famílias fizeram essa
afirmação. Os números são preocupantes em ambos os casos, demonstrando que o
acesso a esse tipo de apresentação é difícil ou negligenciado pela maioria da
população. Porém, a situação das classes mais baixas é ainda mais preocupante,
principalmente quando se leva em consideração a importância do teatro. Do mesmo
modo, nas classes D e E, 83% das famílias nunca vão ao cinema, 73% nunca lêem ou
consultam livros, enquanto 75% nunca lêem ou consultam jornais e revistas.

Estes dados permitem afirmar que o consumo cultural e educacional apresenta


grande heterogeneidade no Brasil. Do mesmo modo, é observável que a renda tem
grande influência sobre a amplitude desse tipo de consumo, tornando-se indispensável
o apoio a políticas de transferência de renda. Porém, como é possível notar, os auxílios
financeiros e até mesmo as condicionalidades do Programa não são suficientes para
ampliar o acesso a cultura e por fim aos direitos civis, sociais e políticos. É preciso
levar em conta outro fator ligado ao acesso à cultura, que nos é apontado pelos hábitos
de consumo cultural das famílias mais escolarizadas.

29
3.6 EDUCAÇÃO

O Programa Bolsa Família não melhora a qualidade


do ensino.

3.6.1 Alfabetização

A educação é um dos mais importantes fatores para a formação do cidadão. Ela


cria um espaço de convívio entre as pessoas, diminuindo possíveis desigualdades
regionais, financeiras, sociais. A educação proporciona conhecimento ao indivíduo, e
por conseqüência, ele adquire mais cultura também, e assim promove a inserção social
deste. Ao ganhar conhecimento, cultura, a pessoa tem mais consciência de seus
direitos e de seus deveres e consegue se relacionar melhor com a sociedade em que
vive, exercendo seu devido papel nela. E isso é ser cidadão: saber ocupar seu lugar e
desempenhar corretamente sua função. Além de preparar o indivíduo para ingressar no
mercado de trabalho, capacitando-o profissionalmente.

Porém, para que tudo isso ocorra, é necessário que a educação chegue a todos
de forma equilibrada, e o ensino seja de boa qualidade. Os programas de redistribuição
de renda acabam por terem a função de promover essa igualdade, ao exigir como
condição a presença das crianças na escola. Entretanto, só ir à escola não funciona. É
preciso se interessar e querer aprender também. Esse interesse deve partir,
primeiramente, de dentro de casa, das famílias, que devem incentivar à criança, porém
essas famílias não tiveram a mesma oportunidade, então não dão o devido valor. E
deve partir também da própria escola, que tem que conseguir manter a criança atenta lá
dentro. Mas, mais uma vez, para isso é necessário que o ensino seja bom.

O programa Bolsa Família realmente fortaleceu o acesso à educação, ajudou na


presença das crianças na escola, a escolaridade da população aumentou. Só que essa
educação ainda é de baixa qualidade. Em setembro de 2007, uma pesquisa feita pelo
Ministério do Desenvolvimento Social revelou que o incentivo financeiro do Bolsa
Família não melhorou o aproveitamento escolar das crianças das famílias beneficiárias.
As faltas às aulas foram reduzidas em 37%, mas não refletiu em nada no desempenho
dos alunos. Muitos professores afirmam que a maioria dos alunos só está na escola por
causa da ajuda do programa. Mas alguns analistas acreditam que isso se deve não a
um fracasso do Bolsa Família, mas sim à péssima qualidade do ensino. Além de os
30
custos e a competição por um bom futuro profissional serem cada vez mais altos.

Essa péssima qualidade do ensino pode ser notada nos índices de alfabetismo
funcional da população. Analfabeto funcional é o indivíduo que sabe ler e escrever, mas
não possui as habilidades de leitura e escrita necessárias para viabilizar seu
desenvolvimento pessoal e profissional.

O Instituto de Alfabetismo Funcional (INAF) vem sendo apurado anualmente


desde 2001, através de estudo realizado pelo IBOPE Opinião com base na metodologia
desenvolvida em parceria entre o Instituto Paulo Montenegro (IPM) com a ONG Ação
Educativa. Esse estudo é feito através de questionários, auto-avaliação, testes,
avaliação da escolaridade, etc. Assim, analisa-se a taxa de alfabetismo funcional no
país. Para essa apuração são considerados quatro níveis de alfabetismo funcional, da
população entre 15 e 64 anos de idade. Esses níveis são determinados de acordo com
as habilidades de leitura/escrita (letramento) e matemática (numeramento) e são eles:
analfabetismo (indivíduos que não conseguem realizar tarefas simples, como
decodificar palavras, e tarefas elementares com números, como ler o preço de um
produto); alfabetismo rudimentar (capacidade de localizar informações explícitas em
textos curtos e de ler números em contextos específicos, como horário); alfabetismo
básico (capacidade de localizar informações em textos um pouco extensos e fazer
inferências, e de ler números, resolver problemas simples); e alfabetismo pleno
(capacidade de ler textos longos, separando por subtítulos, relacionando, comparando,
e de controlar uma estratégia na resolução de problemas mais complexos, ler mapas e
gráficos).

Para a diretora executiva do IPM, Ana Lúcia Lima, o analfabetismo vem


diminuindo, porém o alfabetismo funcional não acompanha o mesmo ritmo, só cresce.

Para o presidente da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad, o alfabetismo


funcional é um fato novo e seu crescimento é consequência da baixa qualidade do
ensino público.

Com o Bolsa Família e, consequentemente, o aumento da frequência escolar,


percebe-se que o Brasil optou pela quantidade e não pela qualidade. Não adianta
aumentar os anos de estudo, mas sim melhorar a qualidade de ensino durante esses
anos. Não é colocando as crianças na escola sem incentivá-las à leitura, a atividades

31
que estimulem a inteligência, o raciocínio lógico, que o problema será resolvido. E o
resultado disso é a grande quantidade de analfabetos funcionais com diploma. E muitos
desses “formados” serão professores e a qualidade continuará ruim. Pois se não houver
uma boa formação, não haverá ótimos profissionais no mercado de trabalho, não só
professores.

O que se verifica é que incentivos financeiros não faltam. O que está faltando é
incentivo educacional. Tudo isso reflete nos dados encontrados de alfabetismo
funcional, coletados por pesquisas no IPM. Como dito anteriormente, a escolaridade da
população brasileira vem aumentando significativamente: a parcela de pessoas com no
máximo quatro anos de estudo caiu de 37,9% para 33,6%, e a parcela com ensino
médio ou superior subiu de 35,5% para 40,8%, ambos no período de 2002 a 2005.
Porém, esse aumento da escolaridade não significa um resultado positivo em termos de
alfabetismo funcional. Este até está diminuindo, mas de uma forma lenta, que ainda
deve ser melhorada, como pode ser visto nos seguintes dados, analisando por faixa de
escolaridade:

• Entre 1ª e 4ª série (30,6 milhões de pessoas): mais de 68% atinge, no máximo, o


nível rudimentar de alfabetismo funcional; quase 13% são considerados
analfabetos em letramento, e 4% não conseguem realizar tarefas com números;

• Entre 5ª e 8ª série (31,1 milhões de pessoas): 24% são considerados alfabetos


plenos em letramento e 16% em numeramento; 51% são considerados alfabetos
básicos em letramento e 58% em numeramento; e 24% são alfabetos
rudimentares em letramento e 25% em numeramento, mesmo tendo cursado o
ensino fundamental;

• Ensino médio ou superior (50 milhões de pessoas): 56% são considerados


alfabetos plenos em letramento e 49% em numeramento.

Os dados também mostram que os jovens entre 15 e 24 anos têm um melhor


desempenho na parte de leitura, enquanto os adultos entre 40 e 64 anos se saem
melhor na parte matemática, analisando níveis de escolaridade semelhantes. E para
todas as faixas de escolaridade, é o grupo de 25 a 39 anos que se sai melhor nas
habilidades matemáticas. Isso se deve ao fato de esse último grupo ter mais
solicitações profissionais e familiares.

32
O estudo também mostra que o nível de escolaridade das mulheres é superior ao
dos homens. Nota-se isso principalmente nos níveis de escolaridade mais baixos. Elas
têm mais habilidade em letramento, enquanto eles em numeramento. Isso se deve à
maior prática que os homens possuem no mercado de trabalho. Em 2005, das pessoas
que estavam trabalhando, 77% era homem e 51% era mulher.

Comparando dois estados, São Paulo e Bahia, que apresentam disparidades em


relação à economia, sociedade, educação, vemos que o primeiro, mais desenvolvido,
apresenta uma taxa de alfabetismo funcional de 14%, enquanto o segundo apresenta
taxa de 34%, em 2007. Isso mostra que a educação também depende da situação
econômica de uma região, estado, qualquer parcela que seja. Nota-se que em uma
parte mais desenvolvida, a educação tem uma qualidade melhor.

Generalizando, e para perceber um pouco melhor, mais notável, essa baixa


redução e o patamar elevado em que o percentual de analfabetos funcionais se
encontra, é concluído, através de estudos, que cerca de 29,9 milhões de pessoas com
mais de 15 anos (cerca de 21,6% da população nessa faixa etária) é considerado
analfabeto funcional. E essa limitação de alfabetização, de aprendizado, impede que a
pessoa aprenda e crie um espaço de ação na sociedade.

Diante de tudo isso, desse fato concreto, surge diversas questões: o brasileiro
sabe ler e escrever? Sabe matemática? O que os déficits educacionais da população
representam em termos de exclusão social? A escola está conseguindo cumprir a
função de garantir a todos os conhecimentos básicos necessários à inserção no
mercado de trabalho? A escola é a única responsável pela situação? Que outras
condições são necessárias para que as pessoas realmente desenvolvam a aproveitem
ao longo da vida as habilidades que adquirem na escola? Até que ponto os brasileiros
tidos como alfabetizados conseguem entender o conteúdo daquilo que lhes é passado
pela imprensa, pela mídia, pelas próprias pessoas mais “cultas”? Será que os
programas de distribuição de renda, o Bolsa Família, estão mesmo ajudando a
melhorar o nível de aprendizado e diminuir o analfabetismo funcional? Será que com a
formação que o ensino público está dando, as pessoas adquirem cultura, consciência
para poder exercer sua cidadania?

As respostas para essas e outras tantas questões nos permitem compreender


melhor como problemas relacionados ao alfabetismo se relacionam com outros

33
problemas sociais, como má distribuição de renda, déficits de escolarização, falta de
recursos materiais e humanos, má formação de profissionais, falta de bibliotecas, de
acesso à informática, Internet, etc. Ou seja, diante de todo esse quadro, percebe-se
que o Bolsa Família não tem um efeito direto em tudo que conduz o indivíduo à sua
formação profissional e pessoal e, consequentemente, ao exercício de seus direitos e
deveres como cidadão brasileiro.

Como conclui a diretora do IPM, Ana Lúcia Lima, “O retrato educacional da


população brasileira adulta, fornecido pelo INAF, explicita a importância da articulação
de ações conduzidas pelos diversos setores da sociedade – poder público,
comunidade, empresas, entidades e associações da sociedade civil – visando garantir
um ambiente propício para o desenvolvimento pessoal e profissional dos brasileiros”.

3.6.2 Qualidade do ensino público

As escolas públicas brasileiras sofrem de uma falta de comprometimento do


governo, dos alunos e dos próprios funcionários. Isso acaba afetando a qualidade de
ensino e também a infra-estrutura da escola.

O ensino sofre da ausência da qualidade dos professores, e para melhorar essa


situação, o governo quer realizar provas para selecionar os professores e certificar-se
do bom desempenho deles na sala de aula. Dados mostram que em escolas em que o
docente falta mais, o desempenho do aluno é pior. A diferença no rendimento entre os
alunos que tem professores os quais não faltam muito com aqueles que faltam demais
pode chegar a 86%.

Além disso, a própria lei não favorece a qualidade do ensino, já que ela exige
apenas que o professor tenha o segundo grau completo, isso para a educação infantil e
para o ensino fundamental de 1ª a 4ª série. E em todo o país, mais de 600 mil
estudantes tem aulas com professores que só concluíram o ensino fundamental.

A partir do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que


avalia o desempenho de alunos de escolas publicas, o Ministério da Educação - MEC e
as Secretarias Estaduais e Municipais podem definir ações voltadas para a correção
das distorções e debilidades identificadas e dirigir seu apoio técnico e financeiro para o
desenvolvimento e a redução das desigualdades ainda existentes no sistema

34
educacional brasileiro. Essa prova é aplicada em todos os estados da federação, e
então, é possível analisá-la de modo comparativo.

Para verificar o resultado é utilizada uma escala que descreve as competências e


as habilidades que os alunos são capazes de demonstrar. A escala é numérica e varia
de 0 a 500. Como os números indicam apenas uma posição, é feita uma interpretação
pedagógica dos resultados por meio da descrição, em cada nível, do grupo de
habilidades que os alunos demonstraram ter desenvolvido, ao responderem às provas.

Em 2005 o SAEB, na categoria de escolas urbanas estaduais com alunos da 4ª


série do Ensino Médio, mostrou que a média de proficiência em Língua Portuguesa no
estado da Bahia atingiu 161,6 na escala de desempenho e o estado de São Paulo
atingiu 177,9, sendo que o estado com melhor resultado foi o Distrito Federal com uma
pontuação de 193,6. Na mesma categoria, mas em relação à média de proficiência em
Matemática, a Bahia teve uma média de 168,5 e São Paulo obteve a nota 182,9, e o
estado com melhor desempenho foi o Paraná com uma média de 208,3. De acordo com
essa escala, os alunos da Bahia estão uma apenas um grau abaixo dos alunos de São
Paulo em ambas as matérias.

35
MédiasdeProficiênciaemLínguaPortuguesa- 4ªsérieE.F. - EscolasUrbanasEstaduais
Brasil, RegiõeseEstados
1995- 2005
Brasil, Regiões e
Dif
Unidades da 1995 1997 1999 2001 2003(I) 2005(II)
(I) e (II)
Federação
Brasil 187,9 183,9 167,5 163,3 170,7 173 2,3
Norte 172,3 169,4 159 156,2 159,3 162,6 3,3
Rondônia 170,7 170,1 159,9 158,5 156,9 166,7 9,7
Acre 163,4 160,7 153 - 156,2 179 13,8
Amazonas 175,4 170,5 164,7 162,2 159,2 161 1,8
Roraima 181,7 160,6 161,9 - - 163,2
Pará 170,8 169,9 159,7 157,6 159,1 162,4 3,3
Amapá 163,6 166,2 161,4 - 154,9 156,9 2
Tocatins 177,6 172,1 149,7 145,4 - 161,2
Nordeste 176,3 172,9 154,5 148,2 155,7 157,4 1,7
Maranhão 160,1 169,7 153 151,4 160,5 163,2 2,6
Piauí 169,4 181,5 151,6 153 153,6 148,4 -5,2
Cerá 176,6 172,1 146,2 151,4 - 162,3
Rio Grande do Norte 172,8 166,9 149,4 138,9 144,5 142,7 -1,8
Paraíba 165,5 177,2 166 153,9 156,4 156,7 0,3
Pernambuco 166,8 165,9 154,8 142,3 154 152 -2
Alagoas 180,7 171 156,4 154 156,8 155,4 -1,4
Sergipe 175,9 172,5 152,5 148,9 157 163,7 6,7
Bahia 185,8 176,7 158,2 148,2 156,8 161,6 4,8
Sudeste 192,7 190,8 174,1 169,9 176,3 181,4 5,2
MinasGerais 202,4 217,7 180,2 177,6 178,9 189,4 10,5
Espirito Santo 179,9 169,3 167,9 166,2 168,8 181,4 12,6
Rio de Janeiro 182,9 166,7 168 168 168,3 175 6,6
São Paulo 190,6 182,3 172,9 166.9 176,8 177,9 1,1
Sul 195,3 191,6 177,5 176,4 184,3 182,4 -1,5
Paraná 203,7 213,8 183,8 180,1 190,6 193,8 3,1
SantaCatarina 189,7 191,8 175,6 172,6 179,6 179,5 -0,1
Rio Grande do Sul 194,8 181,9 176,8 177,6 185,9 183,2 -2,7

36
MédiasdeProficiênciaemMatemática- 4ªsérieE.F. - EscolasUrbanasEstaduais
Brasil, RegiõeseEstados
1995- 2005
Brasil, Regiões e
Dif
Unidades da 1995 1997 1999 2001 2003(I) 2005(II)
(I) e (II)
Federação
Brasil 189,3 187,5 178,1 175,2 178,3 181,8 3,5
Norte 173,2 172,6 170,2 163,3 165,2 167,4 2,2
Rondônia 174,7 177,2 170 166,7 165,8 172,1 6,3
Acre 167,6 164,1 161,2 - 156 171,6 15,6
Amazonas 177,1 170,4 170,1 166,7 165,2 173,6 8,5
Roraima 181,6 165,7 167,3 - - 173,5 -
Pará 169,6 172,6 174,3 163,3 164,5 162,7 -1,8
Amapá 168,3 170,3 166,7 - 161,6 163 1,4
Tocatins 176,7 177,4 167,3 159,9 - 169,7 -
Nordeste 175,1 175,9 164,3 159,7 162,8 163 0,2
Maranhão 167,5 172,3 162,3 161,7 164 164,8 0,8
Piauí 170,6 175,8 165,3 160,3 155,3 159,3 3,9
Cerá 178,5 175,2 162 162,4 - 158,9 -
Rio Grande do Norte 175,3 177,5 162 155,4 153,4 154,3 0,9
Paraíba 166,3 179,8 172,7 164,4 169,4 165,9 -3,5
Pernambuco 168 164,8 159,8 155,5 159,7 162,4 2,7
Alagoas 178 175,7 169,4 162,4 159,3 164,9 5,6
Sergipe 179,9 176,7 168,4 159,4 163,7 170,1 6,4
Bahia 179 181,5 165,8 160 167,4 168,5 1,1
Sudeste 196,3 194,6 184,2 183,3 184,6 191,2 6,6
Minas Gerais 210 220,5 188 192,7 194,3 109,9 15,6
Espirito Santo 179,8 173,1 179,2 185,4 176,7 186 9,3
Rio de Janeiro 179 169 173,5 172,2 174,4 179 4,6
São Paulo 193,6 186,8 184,6 180,5 181,9 182,9 1
Sul 195,3 195,8 189,2 188 192 194,9 2,9
Paraná 193,5 215,5 190,4 194,8 201 208,3 7,4
SantaCatarina 198,2 197,8 190,1 185,6 185,7 188 2,3
Rio Grande do Sul 194,4 186,1 188,4 188,8 194 196,7 2,7
CentroOeste 191,5 184,9 178,8 172,2 178,9 184,6 6,7
Mato Grosso do Sul 192,2 190,7 180,2 165,3 171,2 179,8 8,6
Mato Grosso 175,3 178,7 173 163,3 170,7 176,1 5,4
Goiás 199,5 188,3 182 170,7 178,1 178,3 0,3

Assim, podemos perceber que, apesar do estado de São Paulo ser conhecido
como uma grande metrópole, representante da maior parte do PIB brasileiro e também
como um estado que atinge algumas características de cidades de países
desenvolvidos, o nível da escolaridade das crianças não é muito diferente dos estados
que apresentam um índice grande índice de pobreza e de subdesenvolvimento.

Em uma entrevista com a diretora (...) da escola estadual Irmã Annette Marlene
Fernandes de Mello no dia 13 de maio, nos foi relatado que a escola não tem nenhum
relacionamento a mais com os alunos. Segundo ela, sua função seria passar a

37
frequência dos alunos para o sistema do Bolsa Família sem preocupação nenhuma
com o desempenho de cada um. Isso demonstra que falta comprometimento da escola
com o ensino e a aprendizagem de seus alunos e também sinaliza que o Bolsa Família,
que teoricamente tinha como objetivo aumentar o grau de escolaridade dos alunos,
estimulando-os a ir à escola, porém nada adianta esse estímulo se os alunos não
aprendem direito.

38
4. CONCLUSÃO

Com base na análise dos dados secundários coletados, foram relacionados


aspectos sociais, econômicos, culturais e a própria estrutura do Programa Bolsa
Família, com o objetivo de verificar se os programas de redistribuição de renda têm
influência sobre a formação do cidadão.

Foi possível observar a ascensão social de alguns beneficiários do Programa


Bolsa Família, antes pertencentes às classes D e E, que com o auxílio oferecido pelo
governo, aumentaram a sua renda. Consequentemente, saíram das linhas de pobreza e
indigência, pois devido a um maior poder aquisitivo puderam adquirir os bens de
consumo básico, como uma cesta alimentar, vestuário, higiene e acesso à saúde e
lazer. Essa ascensão social também foi impulsionada por ações paralelas, como a
inclusão bancária.

Do ponto de vista da frequência escolar, esta teve um aumento significativo


entre o os alunos cujas famílias são beneficiárias. Segundo a pesquisa feita na escola
Irmã Annette, após a implementação do programa, os estudantes apresentaram um
maior interesse no aprendizado. Porém, isto não quer dizer que suas consciências
tenham aprendido a tratar a educação como um dos fatores limitantes da cidadania,
uma vez que a proposta do Bolsa Família tem cunho sócio-econômico, e não
educacional.

A partir de pesquisas realizadas na área de educação, nota-se que apesar do


aumento da frequência escolar dos filhos das famílias beneficiárias do programa, o
nível de aprendizado não acompanhou o mesmo crescimento. Pode-se perceber isso
nas taxas de alfabetismo funcional da população, que ainda se encontram em um
patamar elevado. Isso se deve a baixa qualidade do ensino público causado
principalmente pela má formação dos professores e também a falta de incentivo à
educação, tanto do governo como da escola e da própria família, que às vezes não se
interessam suficientemente pela educação dos seus filhos. Este último é um
comportamento observado em alguns casos de extrema pobreza, onde os chefes de
família não têm conhecimento da importância da formação educacional tanto para o
crescimento individual como para o avanço da sociedade.

39
O Programa Bolsa Família, portanto, vêm alcançando seu objetivo de
diminuição da desigualdade social, aumento da mobilidade entre classes e inclusão das
famílias no que diz respeito aos direitos políticos. Porém, para a ampliação do exercício
da cidadania outros objetivos têm que ser alcançados que não por meio da
transferência de renda. A formação de uma sociedade atuante deve acontecer através
da inclusão cultural que cria condições para a formação de opiniões, participação em
processos políticos e exercício da cidadania.

É preciso, também, elaborar e implementar políticas educacionais de grande


impacto e abrangência, que incentive a formação de profissionais educacionais de
qualidade. Isso porque quando o formato escolar é suficientemente forte, os alunos se
sentem motivados e interessados pelo processo de aprendizado, diferentemente do que
se nota nas escolas de hoje, onde os profissionais não são qualificados ou preparados
para lidar com alunos com as mais diversas realidades socioeconômicas e acabam se
limitando a passar o conteúdo de forma ineficiente e ineficaz, sem criar relação alguma
com a realidade e sua utilização.

Dito tudo isso, acreditamos que o Programa Bolsa Família contribui para a
maior abrangência da disponibilidade de direitos sociais, como educação e saúde, mas
seu papel na disseminação da cidadania como um todo ainda é pouco significativo. Isso
porque o programa com foco na transferência de renda, mesmo condicionado com a
educação, não como foco esse tipo de mudança social. A diminuição da concentração
de renda é um desafio a ser conquistado e nisso o Programa tem sido eficaz.

Pode-se, então, dizer que há a necessidade de um acompanhamento melhor


desta política, para rever os erros e as mudanças que devem ser feitas. Tendo este
objetivo em vista, podemos sugerir que o cumprimento das condicionalidades seja
fiscalizado com maior rigor, para evitar fraudes no sistema. Aponta-se, também, que a
disseminação de informações sobre como se cadastrar ou receber os benefícios ainda
é fraca entre famílias que poderiam estar inclusas no Programa e por isso deve ser
ampliada. Ainda propondo mudanças, e esta já sendo pensada pelo presidente da
república, é importante que se criem cursos profissionalizantes para os adultos
beneficiários do Programa, visto que este só tem uma porta de entrada e os cursos
seriam a porta de saída definitiva.

Finalmente, é preciso reforçar que para complementar as conquistas

40
alcançadas pelo Programa Bolsa Família e garantir a população acesso a outros tipos
de direitos, como os civis e políticos, é preciso que a mesma esteja ciente deles e
entenda sua utilidade e poder. Por isso, o Brasil necessita urgentemente de políticas de
inclusão cultural e melhora na qualidade do ensino para se tornar um país cidadão.

41
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