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Trabalho 3 OSSS – Gabriel Alcantarilla Nogueira

GRR: 20193408

O sistema de saúde brasileiro começou a ser delineado em um período


extremamente conturbado da história do nosso país, o período de redemocratização. A
década de 1980 foi marcada pela intensa agitação social em amplos setores da sociedade
civil, que estava em busca de direitos, com a crescente influência de sindicatos, da
classe média e da ação ilegal de alguns partidos políticos de esquerda. Um pouco antes,
no fim da década de 70, os professores e pesquisadores da área da saúde se envolveram
no movimento e fundaram o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) e a
Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) em 1976 e
1979, respectivamente. O papel desses atores sociais foi fundamental para em 1980
surgir o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), o qual representou um
avanço da luta social pela saúde, uma vez que uniu a sociedade com a ala parlamentar
progressista e gestores de saúde. O resultado dessa luta social, que foi ano a ano
envolvendo mais atores sociais, foi a implementação do SUS em 1988, pela
Constituição Cidadã. Inicialmente, na década de 90, o SUS começou a ser delineado por
reformas e projetos que visavam especificar a organização do serviço de saúde no país.
A Lei Orgânica da Saúde (1990), o Programa de Saúde da Família, a reforma de Estado
com o Plano Real em 1994 e a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) foram alguns pontos que marcaram avanços e obstáculos no
desenvolvimento inicial do SUS, uma vez que havia tentativas de desenvolvimento do
sistema, mas as forças políticas e econômicas estavam criando barreiras a esse avanço, o
que iniciou o processo de descentralização do sistema de saúde.
Com a dinâmica política que se seguiu no país, com diversos planos
macroeconômicos diferentes, desde Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, houve intensa mudança na configuração federal,
estadual e municipal, com maior autonomia dos estados e municípios. Esse fato levou a
intensa descentralização do SUS, que necessitou de novas medidas para sua
administração, como o Piso da Atenção Básica e o Pacto pela Saúde. Assim, surgiram
os conselhos de saúde e comitês de nível estadual e federal para estabelecer o consenso
sobre as decisões da saúde. A estrutura do SUS está dividida em atenção ou serviços
primários, secundários e terciários. A atenção básica, a partir de programas como o
Programa de Agentes Comunitários e o Programa de Saúde da Família (PSF), tornou-se
fundamental no atendimento primário, porém também representa o avanço da
descentralização do SUS, uma vez que não está integrada aos serviços tradicionais da
atenção básica anteriores ao PSF, além da dificuldade na continuidade com serviços
especializados devido ao distanciamento da atenção primária e dos serviços estaduais.
Em relação à atenção secundária e terciária, o SUS enfrenta um desafio ainda maior,
haja vista que depende fortemente de serviços prestados por instituições privadas para
serviços hospitalares, terapêuticos e de diagnóstico, os quais são direcionados com
maior prioridade aos planos de saúde, gerando morosidade e precariedade na atenção do
sistema público.
Dessa forma, a partir desse vislumbre da complexidade e quantidade de atores
envolvidos no sistema e saúde e as mudanças sociais e políticas pelas quais o país
passou, podemos entender as dificuldades enfrentadas pelo SUS atualmente. Com o
desenvolvimento político-econômico do país, o financiamento do SUS é feito hoje por
impostos diretos e contribuições sociais de programas sociais. Nos últimos anos, a
contribuição social no financiamento tem sido maior que o financiamento dos governos
federal, estadual e municipal, o que em parte pode ser explicado pelo direcionamento
dos recursos previamente reservados à saúde para outros setores da economia,
principalmente o pagamento de juros da dívida pública. Portanto, apesar do avanço
desde a década de 70, o sistema de saúde enfrenta dificuldades para a melhoria do
acesso à saúde dos cidadãos, principalmente por sua descentralização, falta de
investimentos públicos e dependência do setor privado, levando ao sucateamento e
precarização do SUS.
Similar ao processo brasileiro, a maioria dos países latinos obteve aumento
significativo do acesso à saúde pública, mas com igual avanço dos serviços privados. A
partir da década de 70, houve maior mobilização para demandas sociais, uma vez que a
redemocratização dos países latinos estava em voga. Chile e Colômbia desenvolveram
um setor de saúde privado forte, com sistemas públicos precários, com longas filas de
espera, em vista de uma organização ineficiente. O Chile possui um sistema dual de
atendimento, estabelecido pelo Plan AUGE. Há uma lista de serviços atendidos, que
atualmente inclui 80 patologias. O paciente pega vouchers no serviço público para
consultas no serviço privado, o que gera longas filas e morosidade no atendimento. A
Colômbia possui forte influência dos serviços privados subsidiados pelo governo, com
grande desigualdade de acesso aos serviços entre os cidadãos, além de um cunho de
medicina mais curativa do que preventiva, o que distância do objetivo de assistência e
promoção integral à saúde.

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