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CONTRATOS URBANÍSTICOS
CONCERTAÇÃO, CONTRATAÇÃO E NEOCONTRATUALISMO
NO DIREITO DO URBANISMO
AUTOR
JORGE ANDRÉ DE CARVALHO BARREIRA ALVES CORREIA
EDITOR
EDIÇÕES ALMEDINA, SA
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3000-174 Coimbra
Tel.: 239 851 904
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Setembro, 2009
DEPÓSITO LEGAL
299211/09
BauGB – Baugesetzbuch
CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
CE – Código das Expropriações
IGT – Instrumentos de Gestão Territorial
LBPOTU – Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território
e Urbanismo (Lei n.° 48/98, de 11/08, na versão da Lei
n.° 54/2007, de 31/08)
NUTS III – Nomenclaturas das Unidades Territoriais Estatísticas
de nível III
PDM – Plano Director Municipal
PEOT – Plano Especial de Ordenamento do Território
PIMOT – Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território
PNPOT – Programa Nacional de Política e Ordenamento do Ter-
ritório
PMOT – Plano Municipal de Ordenamento do Território
PP – Plano de Pormenor
PRG – Piano Regolatore Generale
PROT – Plano Regional de Ordenamento do Território
PROTAL – Plano Regional de Ordenamento do Território do
Algarve
PS – Plano Sectorial
PU – Plano de Urbanização
RJSEL – Regime Jurídico do Sector Empresarial Local (Lei
n.° 53-F/2006, de 29/12)
10 Contratos Urbanísticos
CAPÍTULO ÚNICO
não é novo”, sendo bem visível ao longo de várias etapas de evolução do Estado.
Historicamente, há que reconhecer que a “colaboração contratual com os parti-
A Contratação Urbanística no Contexto Geral da Contratação Administrativa 17
ainda punida como contra-ordenação, nos termos do artigo 98.°, n.° 1, alínea c),
do RJUE. Todavia, o artigo 98.° do RJUE, na versão decorrente da Lei n.° 67/
/2007, não tipifica, certamente por lapso, como ilícito de mera ordenação social o
referido comportamento omissivo.
34 Contratos Urbanísticos
ponda com exactidão à mesma filosofia que inspira os que são cele-
brados na nossa época”43. Ao longo das últimas décadas do século
XX, um pouco por toda a Europa (infra, P. II, Cap. I, 2.), a expan-
são da contratação urbanística alicerçou-se no desenvolvimento de
esquemas de flexibilização destinados a alargar as possibilidades
de configuração jurídica ao dispor da Administração quando esta
exerce o seu poder, bem como na necessidade de conferir maior efi-
cácia e eficiência à actividade administrativa44.
Se o termo contratação nos remete no Direito do Urbanismo
de imediato para os contratos de execução dos planos45, isto é, para
a utilização do contrato no âmbito do “urbanismo operativo”, o
mesmo não sucede com a expressão neocontratualismo. Esta con-
voca uma relação jurídica contratual nova, pela via do qual a Admi-
nistração se obriga a exercer em certos termos os seus poderes pú-
blicos de planeamento. No fundo, o contrato define o modo ou o
sentido em que os referidos poderes hão-de ser exercidos e, por-
tanto, a figura contratual penetra já no domínio do “urbanismo regu-
lamentar”, ou seja, no campo da definição de regras urbanísticas,
onde se inclui a elaboração, alteração ou revisão de planos urbanís-
ticos. Como veremos, a admissibilidade de tais contratos, desig-
CAPÍTULO ÚNICO
(2006: 35-37) sublinha que este tipo de “acção convencional tem aparência polié-
drica […] é um conceito síntese no qual se subsumem realidades de difícil redu-
ção à unidade”. Cf. também SENDÍN GARCÍA (2008: 11-12), CANO MURCIA (2006:
29), ARREDONDO GUTIÉRREZ (2003: 22), BUSTILLO BOLADO/CUERNO LLATA (2001:
26). Com efeito, o contrato urbanístico não pode ser reconduzido a uma figura
jurídica unitária, sendo antes definido em função do seu objecto ou da matéria
sobre a qual incide – ESTÉVEZ GOYTRE (2006: 453).
50 SENDÍN GARCÍA (2008: 11).
52 Contratos Urbanísticos
a) Acordo de vontades
que quanto à sua natureza jurídica deve ser entendido como um contrato admi-
nistrativo especial, vão aplicar-se as normas jurídicas do Código Civil que tu-
telam a formação da vontade negocial dos contratantes (ex vi artigo 284, n.° 3,
do CCP).
52 A declaração de vontade, além de condição de validade, constitui ainda
não significa necessariamente que a Administração possa exercer pela via pactí-
cia todo o tipo de poder ou competência legalmente prevista. Importará, por isso,
indagar as exactas implicações do princípio da legalidade da actividade adminis-
trativa no plano contratual, o que se, por uma lado, conduz à ideia de que não é
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 57
necessário uma norma autorizativa específica para utilizar a forma contrato admi-
nistrativo (ex vi artigo 278.° do CCP), por outro, ela ter-se-á por afastada sempre
que a lei expressamente a excluir – para mais desenvolvimentos, SÉRVULO COR-
REIA (1987: 659 e 678 ss.) e PAULO OTERO (2003: 836 ss.). FILIPA CALVÃO (2008:
350 ss.) afirma que “a decisão de contratar por via consensual, em vez de unila-
teralmente, tem carácter discricionário, razão por que só será admissível nos casos
em que a lei não fixe vinculadamente uma outra forma de actuação ou aquela não
se revele incompatível com a natureza da relação jurídica. Isso mesmo vem pre-
visto no artigo 278.° do CCP: “salvo se outra coisa resultar da lei ou da natureza
das relações a estabelecer”.
62 Já em 1987 SÉRVULO CORREIA defendia como válido no nosso ordena-
MOREIRA (1997: 257 ss.); FREITAS DO AMARAL (2006: 581 ss.); PEDRO GONÇAL-
VES (2005: 249 ss.).
58 Contratos Urbanísticos
abrangida pela proibição estatuída no artigo 5.°, n.° 1, na medida em que não está
aqui em causa o “desenvolvimento de actividades de natureza administrativa ou
de intuito exclusivamente mercantil”. Ao invés, o objecto destas empresas muni-
cipais consiste na realização de operações de urbanização de acordo com um
plano já feito e sistemas já delineados (essas é que são tarefas exclusivamente
administrativas), não tendo, além disso, natureza mercantil.
64 Contratos Urbanísticos
administrativo.
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 69
mos mais à frente (infra, Parte III, Capítulo I, 4.6.). Mas diga-se,
desde já, que o contrato de reabilitação urbana é um contrato admi-
nistrativo que surge no domínio dos sistemas de execução dos pla-
nos municipais de ordenamento do território, mais especificamente,
no âmbito do procedimento de reabilitação urbana a cargo da SRU,
e constitui um instrumento contratual ao serviço da realização con-
junta das obras de reabilitação urbana, em que a escolha dos parcei-
ros privados é feita mediante concurso público.
Por outro lado, no que diz respeito à delegação de poderes pú-
blicos em entidades privadas, verificamos que a legislação urbanís-
tica prevê a figura da delegação a empresas concessionárias, as
quais podem ser empresas municipais87 ou, na maior parte das
vezes, entidades “genuinamente” privadas que, agindo com base em
actos ou contratos de concessão, participam no exercício da função
administrativa e ficam investidas de poderes públicos de autoridade.
Com efeito, o artigo 124.° do RJIGT regula a figura da conces-
são de urbanização88 no âmbito do sistema de imposição adminis-
c) Juridicamente vinculativo
mento objectivo à identificação dos contraentes públicos, pois que, no caso das
entidades (de natureza pública ou privada) mencionadas no n.° 2 do artigo 2.°,
estas só constituirão contraentes públicos quando os contratos por si celebrados
sejam, por vontade das partes, qualificados como contratos administrativos ou
submetidos a um regime substantivo de direito público.
108 Aproximamo-nos, neste ponto, da posição de PEDRO GONÇALVES (2007-
-A: 38 ss.).
78 Contratos Urbanísticos
110 SIERRA (1996: 24-25); FERRANDIS (1998: 91); LÓPEZ RAMÓN (2007:
nea h), do CPTA], o que significa que haverá que observar as regras
especiais de legitimidade relativas a contratos previstas no artigo
40.° do CPTA111.
120 Para efeitos de equilíbrio da nossa exposição, optámos por não desen-
volver a parte relativa ao Direito do Urbanismo francês, uma vez que este se apre-
senta como o ordenamento mais restritivo ao fenómeno da contratação urbanís-
tica, especialmente do contrato para planeamento. No Direito do Urbanismo
francês, o procedimento contratual é aceite sem reservas, no âmbito do “urba-
nismo operativo”, isto é, no domínio das acções ou operações urbanísticas
(actions ou opérations d’aménagement), as quais designam o conjunto dos actos
dos entes públicos locais ou dos institutos públicos de cooperação intermunicipal
que visam conduzir e autorizar as acções ou operações definidas no artigo L.300-
-1 do Code de l’Urbanisme e assegurar a sua harmonização. Os objectivos das
acções ou operações urbanísticas enumeradas no referido preceito do Código do
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 85
ção mais circunscrita de execução” – SALVIA (2008: 61). No mesmo sentido, CIVI-
TARESE/URBANI (2000: 113).
136 CIVITARESE/URBANI (2000: 114).
137 SALVIA (2008: 67 ss.); ASSINI/MANTINI (2007: 359 ss.).
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 91
como piano attuativo do PRG, razão pela qual a doutrina afirma que
o “piano di lottizzazione representa o primeiro exemplo histórico de
contratação para planeamento”146.
Para além destas, encontramos, no ordenamento urbanístico ita-
liano, convenzioni per l’edilizia residenziale pubblica [artigo 35.°
da Lei n.° 865/1971], convenzioni per gli insediamenti produttivi
[artigo 27.° da Lei n.° 865/1971], convenzioni per la realizzazione
diretta delle opere di urbanizzazione in luogo del pagamento degli
oneri della concessione edilizia [artigo 14.° da Lei n.° 10/1977],
convenzioni relative ai piani di recupero [art. 30.° da Lei n.° 457/
/1978], convenzioni relative al recupero degli insediamenti abusivi
[artigo 29.° da Lei n.° 47/1985], convenzioni per i parcheggi [artigo
11.° da Lei n.° 122/1989], convenzioni di scambio edificatori
(“oppure di concessione di diritti edificatori in cambio di opere di
urbanizzazione”) [artigo 16.° da Lei n.° 179/1992], convenzioni di
concessione edilizia [artigo 2.° da Lei n.° 662/1996], patti territo-
riali [artigo 8.° da Lei n.° 662/1996]. Igualmente, no âmbito contra-
tual, existem programmi integrati di interventi [artigo 16.° da Lei
n.° 179/1992], que conduzem à conclusão de convenzioni di con-
cessione di diritti edificatori in cambio di opere di urbanizzazione
e programi di recupero urbano [artigo 11.° da Lei n.° 493/1993],
que implicam a celebração de convenzioni urbanistiche di recupero.
Com efeito, em resultado da consagração de uma multiplicidade de
figuras contratuais no Direito do Urbanismo italiano, grande parte
da doutrina considera que “o movimento de linha central do sistema
de planificação territorial de uma conformação autoritária para uma
configuração consensual pode considerar-se uma directriz consoli-
dada no quadro da tendência da política italiana de descentralização
administrativa”147.
Em geral, pode afirmar-se que “o contrato tornou-se um instru-
mento e uma regra da planificação urbanística, intervindo não só a
para uma «urbanistica per accordi», a Lei n.° 241/1990 introduziu no ordena-
mento italiano o princípio do recurso aos acordos interadministrativos [artigo
15.°] e aos acordos entre a Administração e os privados [artigo 11.°] ” – URBANI
(2005-C: 2). Os accordi sulle prescrizioni urbanistiche integram-se no artigo 11.°
daquela Lei [l’amministrazione procedente può concludere, senza pregiudizio dei
diritti dei terzi, e in ogni caso nel perseguimento del pubblico interesse, accordi
con gli interessati al fine di determinare il contenuto discrezionale del provvedi-
mento finale ovvero, nei casi previsti dalla legge, in sostituzione di questo – artigo
11.°, n.° 1] e podem ser accordi procedimentali, rectius, acordos em que a Admi-
nistração se compromete a tomar ou a não tomar uma determinada decisão com
um certo conteúdo (assim sucede com os casos em que o município apenas con-
cede a licença de construção em áreas desprovidas de obras de urbanização pri-
mária, depois da celebração de um acordo com o particular para a sua realização)
ou accordi sostitutivi, isto é, acordos que substituem actos administrativos (o caso
do acordo de cedência de bens imóveis substitutivo do acto de expropriação dos
mesmos). Note-se que a Lei n.° 241/1990 foi alterada pela Lei n.° 15/2005, que
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 95
terra, sem nos debruçarmos com pormenor sobre os sistemas em vigor na Escó-
cia, no País de Gales e na Irlanda do Norte.
163 A expressão – hoje corrente na delineação do sistema inglês de planning
law – deve-se a Sir George Young, que a utilizou no âmbito da discussão condu-
cente ao Planning and Compensation Act 1991: “the approach shall leave no
doubt about the importance of the plan-led system”. CULLINGWORTH/NADIN
(2006: 112).
98 Contratos Urbanísticos
durante a II Guerra Mundial, bem como a revisão operada em 1947 (TCPA 1947),
com o objectivo de compilar e actualizar toda a legislação anterior sobre planea-
mento e que constitui o quadro sobre o qual se desenvolveu o actual regime do
planeamento, tendo ocorrido consolidações idênticas em 1962, 1968 e 1971 –
sobre esta matéria, cf. BLACKHALL (2005: 5 ss.); MOORE (2007: 39 ss.); TELLING/
/DUXBURY (2006: 7 ss.).
167 Sobre a relevância do TCPA 1947 como o statutory instrument que fun-
statutory objective for the planning system”, ao abrigo do PCPA 2004. Cf. tam-
bém Planning and Compulsory Purchase Act 2004: 11.
172 Planning for a Sustainable Future (White Paper), The Stationery Office,
London, 2007.
173 Cf. as Explanatory Notes referentes ao Planning Bill (2008).
174 Sobre os projectos englobados nesta noção, vide secções 14 e seguintes
182 De acordo com a Secção 2 (3) e (4) do PCPA 2004, pelos menos 60%
dos membros dos Regional Planning Bodies têm de ser membros dos seguintes
órgãos (authorities) dentro da região: district council; county council; metropoli-
tan district council; National Park authority; Broads authority.
Decorre ainda da Regulation 4 que também 30% dos membros dos Regio-
nal Planning Bodies não podem ser membros dos referidos órgãos – cf. Planning
Police Statement 11: Regional Spatial Strategies, Deputy of the Office Prime
Minister, London, 2004, p. 7.
183 E estamos a considerar apenas o território de Inglaterra, excluindo o País
proferida no caso Fayrewood Fish Farms Ltd. v. Secretary of State for the Envi-
ronment (1984), sendo consideradas como engineering operations as operações
de qualquer tipo habitualmente desenvolvidas por engenheiros, isto é, operações
que pressuponham as capacidades e qualificações (skills) de um engenheiro. Cf.
BLACKHALL (2005: 69).
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 105
189 Conceito que aparece esclarecido na secção 55 (4): For the purposes of
this Act mining operations include (a) the removal of material of any description
(i) from a mineral-working deposit; (ii) from a deposit of pulverised fuel ash or
other furnace ash or clinker; or (iii) from a deposit of iron, steel or other metal-
lic slags; and (b) the extraction of minerals from a disused railway embankment.
190 Sinteticamente, sobre este sistema, SPEER/DADE (2001: 8 ss.); MOORE
119 ss.); para mais desenvolvimentos, Planning Policy Statement 12 (2008: 7 ss.).
196 Sobre estas cf., MOORE (2007: 35 ss.) e TELLING/DUXBURY (2006:
156 ss.).
108 Contratos Urbanísticos
197 Cf. Planning Policy Statement 12 (2008: 25), que seguimos de perto.
198 TELLING (2006: 80).
199 Nos termos da secção 57 (1) do TCPA 1990, “planning permission is
introduzida pela secção 12 do Planning and Compensation Act 1991, que aditou
ao TCPA também as secções 106A e 106B, referentes à matéria de que nos ocu-
pamos. Por sua vez, o Planning Act 2008 acrescentou ainda a secção 106C. Sobre
o impacto do PCPA 2004 nesta matéria, TELLING (2006: 288, 303 ss.).
O regime das planning obligations não se encontra todo plasmado na lei (em
Acts of Parliament), verificando-se inúmeras remissões para regulations, dirigi-
das a complementar a disciplina estatuída no TCPA 1990 – cf., v.g., secções 106
(12) e 106A (9).
204 As planning obligations podem não ser assumidas por contrato, mas
Space and Environment, Transport and Travel Schemes, Community Work and
Employment, Education e outros), Valuing Planning Obligations in England
(2006: 8).
207 Ob. cit.: 5.
208 Ob. cit.: 6. Cf. também TELLING (2006: 301 ss.) e BLACKHALL (2006:
209 De acordo com a secção 106 (4) do TCPA 1990, pode ficar consignado
que a planning obligation só goza de eficácia enquanto o promotor mantiver o seu
interesse no solo, sujeitando-a, por isso, a uma condição resolutiva.
210 Cf. também as Explanatory Notes ao Planning Bill, cit., p. 46.
112 Contratos Urbanísticos
dido de 1976. Secundo, pela Ley de 25/07/1990, à qual se seguiu o Texto Refun-
dido de 1992. Tertio, através da aprovação da Ley 6/1998, de 13/04, sobre Régi-
men del Suelo e Valoraciones (com as modificações introduzidas pelo Real
Decreto-Ley 4/2000, de 23-6, de Medidas Urgentes de Liberalización en el Sec-
tor Inmobiliario y Transportes), que definiu as condições básicas para o exercício
do direito de propriedade do solo. Quarto, por via da Ley 8/2007, de 28-5, de
116 Contratos Urbanísticos
Suelo, que revogou e substituiu a Ley 6/1998, sendo, actualmente, a que se encon-
tra em vigor, nos termos do Texto Refundido de 2008.
223 PAREJO ALFONSO (1997: 13-22); MEILÁN GIL (2008-A: 11).
224 GONZÁLEZ PÉREZ (2008: 86); PAREJO ALFONSO (2008: 75 ss.).
225 RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 57).
226 MEILÁN GIL (2008-A: 34).
227 RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 57).
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 117
235 Por todos, SANTOS DIEZ/JALVO MÍNGUEZ (2001: 125 ss.), ESTÉVEZ GOY-
TRE (2006: 165 ss.), RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 56 ss.) Prima facie, os instrumen-
tos supramunicipais são configurados como instrumentos de ordenación del ter-
ritorio, ao passo que a ordenación urbanística propriamente dita é realizada
através dos instrumentos municipais. Esta qualificação, meramente tendencial,
não deixa de considerar que o urbanismo e o ordenamento do território são duas
realidades complementares ou, nas palavras de MENÉNDEZ REXACH (2001: 48), “el
120 Contratos Urbanísticos
240 LOPEZ RAMÓN (2007: 100). No entanto, é admissível que o Plan Gene-
nizável não é, na sua globalidade, definido ex ante pelo Plan General, mas ex post
pelos Planes de Sectorización. Portanto, é pela via da aprovação destes planos que
os terrenos do suelo urbanizable no sectorizado adquirem carácter de suelo urba-
nizable sectorizado. Neste sentido, LOPEZ RÁMON afirma que estes planos são
“autênticos planes de ordenación de actuaciones urbanísticas” – ob. cit.: 101.
247 Por todos, RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 67 ss.) e ESTÉVEZ GOYTRE (2006:
248 Neste sistema, a execução do plano é levada a cabo por um agente urba-
nizador, seleccionado mediante concurso público, de acordo com as condições
definidas nas bases do concurso e os termos fixados num convénio celebrado com
o município. A ele compete concertar livremente com os proprietários dos terrenos
a forma como estes participam na gestão urbanística (através da cedência de solo
e de dinheiro ou apenas de solo). Além disso, é beneficiário da expropriação de ter-
renos, no caso de haver proprietários que renunciem a participar nas operações de
execução do plano. A singularidade deste sistema, que apareceu, pela primeira vez
regulado na legislação da Comunidade Autónoma de Valência, radica no facto de
esse agente não necessitar de ser proprietário dos terrenos: é simplesmente um
empresário, que se compromete a realizar as obras de urbanização previstas no
programa de execução integrada do plano, suportando os custos correspondentes,
que serão compensados ou através de parcelas ou lotes edificáveis ou em dinheiro
pelos proprietários dos terrenos edificáveis do âmbito ou sector correspondente que
cooperem voluntariamente na execução do plano – para mais desenvolvimentos,
CRIADO SÁNCHEZ (2005: 105 ss.); SANTIAGO IBAÑEZ (2008: 8 ss.).
249 CANO MURCIA (2006: 29).
250 Com efeito, já em 1990, a jurisprudência espanhola tinha tomado posi-
espanhol determinou que o pacto pelo qual o particular se obriga a ceder a certo
Ayuntamento um terreno e este a garantir que se torne possível uma determinada
edificabilidade é um contrato, que tem, no entanto, a sua eficácia dependente de
a entidade administrativa acolher no plano o conteúdo do mesmo. Por outro lado,
afirmou-se na Sentença de 20.12.1991 do mesmo Tribunal que tais convénios não
podem limitar os poderes de planeamento e, mais recentemente, na Sentença de
15.03.97, que os convénios urbanísticos constituem uma forma de actuação fre-
quente na prática das administrações públicas, os quais são admissíveis na medida
em que não incidam sobre competências das quais a Administração não possa dis-
por por via contratual. Cf. MARTÍN HERNÁNDEZ (1995: 75-76); LÓPEZ PELLICER
(1996: 98-99).
A doutrina espanhola sustenta que os convenios urbanísticos constituíram o
primeiro marco histórico do chamado urbanismo concertado. É unânime a acei-
tação de que este paradigma nasce com a aprovação do III Plan de Desarrollo
Económico y Social (Ley 22/1972, de 10/05) que instituiu, em via geral, um
modelo público-privado de gestão urbanística, em que “a iniciativa privada com-
plementa ou substitui a gestão pública” – RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 93) – e se
“atribui aos agentes privados um peso específico na tomada de decisões primárias
sobre o modelo urbanístico ao permitir a sua participação activa nas decisões de
planificação” – OCHOA GOMÉZ (2006: 77). Daí que FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ (1974:
98) fale, neste contexto, de um modelo fundador de “verdadeiras cidades de ini-
ciativa e promoção privada”.
251 SENDÍN GARCÍA (2008: 30), ARREDONDO GUTIÉRREZ (2003: 28); CANO
257 KRAUTZBERGER (2006: 1); KRAUTZBERGER (2007: 407); BICK (2001: 154).
258 Para uma consideração pormenorizada dos vários tipos contratuais pre-
sentes nas citadas disposições, BÖNKER (2004: 410-419); LÖHR (2007: 270-278).
259 Aliás, o próprio BauGB admite, noutros preceitos, a existência de con-
tratos urbanísticos diversos dos elencados no § 11: assim acontece, v.g., com o
contrato através do qual o Gemeinde delega num privado a preparação e reali-
zação de diligências procedimentais (§ 4b – cf. infra, em texto), com o contrato
de urbanização (§124) ou com o contrato de reabilitação urbana (§171 c). Cf.
KRAUTZBERGER (2006: 2).
260 KRAUTZBERGER (2007-A: 408).
261 Infra, parte III, capítulo II, 1.
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 129
(2001: 160).
273 BÖNKER (2004: 429).
274 Trata-se de uma disposição em tudo idêntica à do § 57 da VwVfG, que,
timação dos planos e para uma ponderação mais eficaz dos interes-
ses coenvolvidos na planificação urbanística276.
Atente-se, porém, que a interferência privada no planeamento
não se circunscreve à celebração de contratos para planeamento,
conhecendo o direito alemão a figura do “Verwaltungshelfer” (“aju-
dante da Administração Pública”). Sob a epígrafe “intervenção de
terceiro” (Einschaltung eines Dritten), o § 4b do BauGB prevê
que o município possa delegar num privado a tarefa de preparação e
execução de diligências procedimentais, com o propósito de acele-
rar o procedimento de planeamento. Além de propiciar uma coope-
ração especialmente intensa entre particulares e Administração no
planeamento, este expediente viabiliza a atribuição àqueles da tarefa
de execução de determinadas disposições procedimentais. Deste
modo, a figura em causa constitui uma expressão do fenómeno da
privatização funcional ou formal da Administração, mas já não de
privatização material, dado que a responsabilidade pela prossecução
da tarefa continua a pertencer ao município que, nas relações exter-
nas – com os cidadãos ou com outras entidades públicas –, por ela
terá de responder, não se encontrando o terceiro na posição de um
beliehener Unternehmer, antes constituindo um “ajudante da Admi-
nistração Pública”277.
276 BATTIS (2007: §1, 17 e 31 e 32, e §11, 265-280); HOPPE (2004: 406-437).
277 Assim, KRAUTZBERGER (2007: 413 s.).
134 Contratos Urbanísticos
a autora, “nada obsta a que sejam celebrados contratos procedimentais entre enti-
dades públicas, designadamente quando esteja em causa a emissão de uma norma
ou a prática de um acto administrativo que, apesar da competência de um das enti-
dades, implica a participação de outras entidades no procedimento administrativo
tendente à sua adopção” – Ob. cit: 17-18.
O Contrato Urbanístico: Desenho de um Instituto 137
304 Claro que se contrato urbanístico atípico for utilizado como forma de
contornar uma proibição legal, aí já estaremos provavelmente em face de uma ile-
galidade. Mas já não será assim se o conteúdo e as concretas cláusulas do contrato
não violarem a lei. Neste sentido, SENDÍN GARCÍA (2008: 29).
146 Contratos Urbanísticos
CAPÍTULO I
obras de conservação [art. 6.°, n.° 1, alínea a), do RJUE]; as obras de alteração no
interior de edifícios ou suas fracções, à excepção dos imóveis classificados ou em
vias de classificação, que não impliquem modificações na estrutura de estabili-
dade das cérceas, da forma das fachadas e da forma dos telhados [art. 6.°, n.° 1,
alínea b)]; as obras de escassa relevância urbanística, definidas no art. 6.°-A,
n.° 1, para além de outras obras, como tal qualificadas em regulamento munici-
pal, desde que tais obras não sejam realizadas em imóveis classificados de inte-
resse nacional ou interesse público e nas respectivas zonas de protecção [artigos
6.°, n.° 1, alínea j), e 6.°-A, n.os 1, alíneas a) a g), e 2]; os actos que tenham por
efeito o destaque de uma única parcela de prédio com descrição predial que se
situe em perímetro urbano, desde que as duas parcelas resultantes do destaque
confrontem com arruamentos públicos [artigo 6.°, n.° 1, alínea j) e n.° 4]; e os
actos que tenham por efeito o destaque de uma única parcela de prédio com des-
crição predial em áreas situadas fora dos perímetros urbanos se forem, cumulati-
vamente, cumpridas as seguintes condições: na parcela destacada, só vier a ser
construído um edifício que se destine exclusivamente a fins habitacionais e que
não tenha mais de dois fogos; e na parcela resultante se respeite a área mínima
fixada no projecto de intervenção em espaço rural em vigor ou, quando aquele não
exista, a área de unidade de cultura fixada nos termos da lei geral para a região
respectiva [artigo 6.°, n.° 1, alínea j), e n.° 5, alíneas a) e b)].
318 Nos termos do art. 93.°, n.° 1, do RJUE, “a realização de quaisquer ope-
319 RAMÓN FERNÁNDEZ (2008: 155 ss.); GÓMEZ MANRESA (2006: 61 ss.);
cução dos planos pela via contratual no artigo 6.°-A, n.° 1, do RJIGT, preceito
normativo que articula os contratos para planeamento e os contratos de execução.
160 Contratos Urbanísticos
333 Mesmo em face da assunção pelo requerente dos custos das infra-estru-
346 O “índice médio de utilização aponta, assim, para uma distinção entre a
edificabilidade potencial de um terreno, correspondente a um direito abstracto de
construir de que gozam todos os proprietários dos terrenos situados no âmbito do
plano de pormenor ou da unidade de execução, e a edificabilidade efectiva de um
terreno, que é aquela que resultar do acto de licenciamento da operação urbanís-
tica” – ALVES CORREIA (2008: 751).
182 Contratos Urbanísticos
347 SANTIAGO IBÁÑEZ (1998: 180 ss.); DEMOUVEAUX (2002: 125); ARROYO
JIMÉNEZ (2006: 50 ss.); FRANCESCO (2006: 21 ss.).
348 O Regime Excepcional de Reabilitação Urbana para as zonas críticas
351 Para uma caracterização destas figuras, SALVIA (2008: 130-131), CIVI-
TARESE/URBANI (2000: 349-352).
Contratos Urbanísticos na Execução dos Planos 189
que lhe incumbem por força da Directiva n.° 93/37, relativa à coordenação dos
processos de adjudicação de empreitadas de obras públicas, um Estado-Membro
que autoriza a adjudicação directa de trabalhos e obras ao titular de uma licença
de construção ou de um plano de urbanização aprovado, quando uma obra se
encontrar dividida em vários lotes, unicamente no caso de o montante estimado
de cada um desses lotes, considerado individualmente, exceder o limiar de apli-
cação da mesma directiva. A circunstância de uma disposição de direito nacional
que prevê a realização directa, pelo titular de uma licença de construção ou de um
plano de urbanização aprovado, de uma obra de urbanização, com dedução total
ou parcial da contribuição devida a título de concessão da licença, fazer parte de
um conjunto de regras em matéria de urbanismo com características próprias
e prosseguindo uma finalidade específica, distinta da Directiva n.° 93/37, não é
suficiente para excluir a realização directa do âmbito de aplicação da directiva
quando os elementos necessários para que ela se aplique estiverem reunidos,
mesmo quando é o promotor do loteamento a realizar as referidas obras de urba-
nização.
CAPÍTULO II
ser obtido pelo adjudicatário com a execução de todas as prestações que constituem
o seu objecto”; “assim, nos contratos a que nos temos estado a referir, não obstante
a entidade pública adjudicante não pague um preço pela proposta de plano que lhe
é apresentada pelo particular, a verdade é que este, caso a sua proposta de plano
venha a ser aprovada, ainda que com modificações, não deixa de obter uma ime-
diata vantagem económica, que não tinha antes de celebrar o contrato […] concre-
tizada na aprovação do plano nos termos em que o propõe” – ob. cit.: 60; 67-70.
Em nosso entender, não está aqui em causa qualquer contrato de elaboração
e de aquisição de planos (artigo 20.° do CCP). Como vimos, este constitui um con-
trato de aquisição de serviços. Nos termos do artigo 450.° do CCP, “entende-se por
aquisição de serviços o contrato pelo qual um contraente público adquire a pres-
tação de um ou vários tipos de serviços mediante o pagamento de um preço” (it.
nosso). Ora, nos contratos caracterizados pela citada Autora, a Administração não
paga um preço pela aquisição do plano, sendo imputado à entidade que presta o ser-
viço os encargos financeiros resultantes da sua elaboração, ao contrário do que
pressupõe a própria fattispecie contratual de aquisição de serviços. Ainda que fosse
possível aplicar o disposto no artigo 17.° do CCP às aquisições de serviços, a lógica
do valor do contrato não faz qualquer sentido no que concerne aos contratos para
planeamento, na medida em que o benefício económico atribuído ao particular con-
cretizado na aprovação de um plano com um determinado conteúdo por ele pro-
posto constitui uma prestação típica de um contrato sobre o exercício de poderes
públicos (mais concretamente, do contrato para planeamento regulado no artigo
6.°-A, n.° 1, do RJIGT) e não de um contrato de solicitação de produtos e de ser-
viços ao mercado. Sobre as prestações típicas do mesmo, infra, P. III, Cap. II, 5.1.
Em síntese, não existe qualquer diferença entre o “contrato para planea-
mento como contrato sobre o exercício de poderes públicos” e o “contrato para
planeamento como atribuição aos privados da tarefa de elaboração do plano” que
a mencionada Autora propõe (ob. cit.: 17-54; 55-72). Com efeito, não só a inte-
gração destas duas fattispecies contratuais se afigura como jurídica e dogmatica-
mente incorrecta, como também, sob ponto de vista material, nos parece pouco
razoável a diferente aplicação do princípio da concorrência ao mesmo tipo de con-
trato, tendo o argumento do urbanismo como uma tarefa ou função pública ser-
vido um duplo escopo: por um lado, para negar a sujeição do contrato para pla-
neamento previsto no artigo 6.°-A, n.°1, do RJIGT à lógica da concorrência e, por
outro, para afirmar a submissão do contrato de elaboração e de aquisição de pla-
nos às regras da contratação pública (ob. cit.: 41-42; 68).
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 205
373AXER (2000: 56 ss.), com um enfoque especial, não tanto nos contratos
celebrados no âmbito do direito do urbanismo, mas nos contratos celebrados nos
diversos horizontes do direito da segurança social.
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 209
2. Objecto
382 Esta é também a posição da ALVES CORREIA (2008: 479), que subscre-
vemos na íntegra.
383 Ora, é precisamente nesta ordem de ideias que, percorrendo o sistema
metodológico o caso concreto configura-se como o prius, não pode aceitar-se que
a referida extensão seja proposta como critério abstracto no sentido de permitir
assimilar todo um conjunto indiferenciado de casos, re-escrevendo-se aproblema-
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 221
3. Sujeitos
394 URBANI (2005-C: 3). Neste sentido também BORELLA (1998: 424 ss.);
4. Limites
397 Como observa ESTÉVEZ GOYTRE (2006: 457), “os limites contratuais
foram estabelecidos pela doutrina e pela jurisprudência espanholas com o fim de
garantir a legalidade e a transparência, assim como para evitar o abuso desta
figura negocial que na prática vinha sucedendo”. FERRANDIS (1998: 106 ss.), BUS-
TILLO BOLADO/CUERNO LLATA (2001: 102 ss.), OCHOA GÓMEZ (2006: 162 ss.),
GUTTIÉREZ (2003: 59 ss.).
398 Para além do bloco normativo autonómico que regula com exaustão os
limites dos contratos urbanísticos (v.g., o artigo 82.3 da Ley 5/1999, de 25/03,
Urbanística, de Aragón, artigo 243.3 da Ley 9/2001, de 17/07, del Suelo, de
Madrid, artigo 158.2 da Ley 1/2005, de 10/07, del Suelo, de Murcia), existe ainda
uma cláusula geral, constante do artigo 4.° do TRLCAP – Texto Refundido de la
Ley de Contratos de las Administraciones Públicas, aprovado pelo Real Decreto
Legislativo 2/2000, de 16/06 –, que consagra limites genéricos inultrapassáveis
232 Contratos Urbanísticos
MARQUES (2004: 269 ss.). É esta também a linha adoptada pelo CCP, de acordo
com a qual “sendo vários os operadores económicos que podem efectuar essas
prestações (de natureza fungível e valor económico – it. nosso), as entidades adju-
dicantes são obrigadas a recorrer ao mercado, nos termos regulados na Parte II do
Código” – TAVARES/DENTE (2008: 23); Cf. também JORGE ANDRADE SILVA (2009:
68 ss.) e VIEIRA DE ALMEIDA E ASSOCIADOS (2008: 76 ss.).
407 MARIA JOÃO ESTORNINHO (2007: 342 ss.).
408 Os casos supra citados – Parte III, Capítulo I, 5..
238 Contratos Urbanísticos
isto não tem sentido afirmar que a Administração nunca vai ao mer-
cado, adquirir “fora de portas”414 soluções alternativas para uma
determinada área territorial carecida de planeamento urbanístico.
E isto porque, nesses casos, estamos perante um apelo ao mercado,
ou melhor, uma proposta publicamente revelada ao mercado que
concretiza, por parte do município, a manifestação pública de uma
vontade negocial.
Por outro lado, também não podemos admitir a argumentatio
(3) segundo a qual o planeamento é uma tarefa pública415 e, como
tal, o contrato sobre ela incidente está subtraído à concorrência. Tal
raciocínio levar-nos-ia, em última análise, à negação da figura do
contrato sobre o exercício de poderes públicos, em especial, e do
contrato administrativo, em geral, como uma forma da acção admi-
nistrativa adequada à prossecução de tarefas públicas. Ao vedar ao
contrato para planeamento um espaço próprio no mercado concor-
rencial porque em causa está um contrato administrativo com um
objecto público, acaba por recolocar ou reacender o debate sobre se
este deve ou não ser configurado como um instrumento através do
qual a Administração pode acordar com a generalidade dos actores
privados os termos ou o modo como os seus poderes vão ser exer-
cidos. O facto de o planeamento ser uma tarefa pública nada tem que
ver com a submissão ou não do contrato para planeamento à con-
corrência, porque nem a Administração sujeita os seus poderes pú-
blicos à lógica concorrencial (“o poder público é inegociável”),
nem, por força do contrato, aliena ou transmite os seus poderes de
planeamento (que são indisponíveis – artigo 6.°-A, n.° 2).
sufragada por F. PAULA OLIVEIRA – cf. premissa (1). Parece-nos que não atender
à projecção do fenómeno concorrencial e à presença no mercado de vários opera-
dores económicos interessados na apresentação de propostas alternativas à enti-
dade pública configura uma visão unilateral, redutora e minimalista do contrato
para planeamento, contrária à essência do mesmo. Além disso, como referimos,
o Direito Comunitário da contratação pública impõe que os primeiros actores a
respeitarem e a protegerem a concorrência sejam os poderes públicos. Daí que a
questão concorrencial não possa ser vista somente de dentro para fora, mas tam-
bém de fora para dentro.
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 245
417 De resto, a nossa posição está em plena sintonia com as actuais exigên-
pelo PROT do Algarve (PROTAL), na sua versão revista, aprovada pela Resolu-
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 247
420 Como sublinha HUERGO LORA (1998-A: 150-153), “nestes casos não
teria sentido a abertura de um procedimento concursal […], pois só o proprietário
dos terrenos afectados pela modificação do plano pode ceder uma parte dos mes-
mos à Administração […] e, portanto, só com esse sujeito se produz a «coinci-
dência de interesses» que faz com o que o contrato tenha sentido e seja cele-
brado”; no mesmo sentido, OCHOA GÓMEZ (2006: 261-263).
421 Sobre estes contratos, cf. nota 368.
250 Contratos Urbanísticos
424 Sobre este procedimento, ANA RAQUEL MONIZ, (2008-B: 41 ss.) e (2008-
425 Como refere PEDRO GONÇALVES (2003: 97), a Administração está habi-
litada a “usar o contrato administrativo no âmbito das relações jurídicas adminis-
trativas também conformáveis por acto administrativo quando for titular de um
poder discricionário”. Assim sucede com os contratos para planeamento: a elabo-
ração de planos de urbanização e planos de pormenor não reveste carácter obri-
gatório (apenas a elaboração do plano director municipal assume carácter obriga-
tório – artigo 84.°, n.° 4, do RJIGT), sendo o município detentor, em regra, de um
poder discricionário quanto ao an e ao quando da mesma. Esta discricionariedade
está, porém, sujeita a limitações: uma resultante do princípio do desenvolvimento
urbanístico em conformidade com o plano – ALVES CORREIA (2008: 652) – e outra
da obrigação da elaboração de planos de urbanização ou planos de pormenor para
as unidades operativas de planeamento e gestão, definidas no plano director muni-
cipal, para efeitos de programação da execução deste [artigo 85.°, n.° 1, alínea l),
do RJIGT].
426 Na fundamentação da deliberação de celebração do contrato prevista no
artigo 6.°-A, n.° 4 está implícita a existência de razões de interesse público que
justificam ou fundamentam a necessidade de elaboração, alteração ou revisão do
plano, caso contrário não há qualquer razão para desencadear o procedimento de
celebração de um contrato. Quer dizer, na fundamentação da deliberação de cele-
bração do contrato vai implicada também a fundamentação da necessidade de ela-
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 257
428 O CCP prevê soluções inovatórias quanto às hipóteses em que, por facto
imputável à Administração, esta não outorga o contrato, correspondente à adju-
dicação. Nestes casos, o artigo 105.°, n.os 4 e 5 confere ao adjudicatário dois di-
reitos, a exercer em alternativa, quando a entidade adjudicante não outorgar o
contrato no prazo previsto no n.° 1 do mesmo preceito: por um lado, pode o adju-
dicatário desvincular-se da proposta, acompanhado da liberação da caução que
haja prestado e de indemnização por todas as despesas e demais encargos em que
comprovadamente incorreu com a elaboração da proposta e com a prestação da
caução; por outro lado, o adjudicatário pode, nos termos do artigo 37.°, n.° 2, alí-
nea h), do CPTA exigir judicialmente a celebração do contrato, através da propo-
situra de uma acção administrativa comum, dirigida a solicitar ao Tribunal Admi-
nistrativo a condenação da Administração à celebração do contrato (acção esta
que, pela sua natureza condenatória, pode ser associada a uma sanção pecuniária
compulsória – artigo 44.° do CPTA). Sem prejuízo das dificuldades suscitadas por
estas disposições (sobretudo, pela última), entendemos que a ratio que lhe está
subjacente se aplica igualmente aos contratos para planeamento e, poderemos
mesmo afirmá-lo, até por maioria de razão: com efeito, numa espécie contratual
em que aparece mais fragilizada a posição do particular (sempre sujeita à indis-
ponibilidade do poder de planeamento), faz todo o sentido o acréscimo de garan-
tias conferido por esta norma.
Sobre as mencionadas soluções e para mais desenvolvimentos, CALDEIRA
(2008: 697 ss.).
Regime Jurídico do Contrato para Planeamento: a Fisionomia do Contrato 259
ABREVIATURAS..................................................................................................... 9
PARTE I
Introdução
PARTE II
Contratos Urbanísticos: Do Contrato Urbanístico em Geral
PARTE III
Contratos Urbanísticos:
Do Contrato Urbanístico em Especial
3. Sujeitos.................................................................................................................. 222
4. Limites................................................................................................................... 231
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 265