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DISCIPLINA PROF.

Serie TURMA
DATA
Sociologia Pedro 2ª

ALUNO Nº

Queridos e queridas,
Tudo bem? Espero que sim.
Por conta da situação atípica que estamos vivendo, nossos encontros tomarão outra dimensão. Embora
não possamos nos ver semanalmente como de hábito (o que lamento muito), nossa produção intelectual
não deve parar! Portanto, mãos à obra!
E muito importante: cuidem-se e cuidem daqueles que estão à sua volta! Afinal, como já dizia Ernest
Hemingway, escritor estadunidense:
“- Quem estarás nas trincheiras ao teu lado?
- E isso importa?
- Mais do que a própria guerra.”

Abraços de cotovelo,
Pedro

 Após as discussões realizadas por nós, em sala de aula, sobre as principais características da cultura e
dos conceitos de “relativismo cultural” e “etnocentrismo”, continuaremos nosso estudo sobre o fenômeno
cultural atentando para a primeira “escola” antropológica: a evolucionista.
Leia o texto a seguir que fornece importantes informações sobre o contexto no qual floresceu e se
desenvolveu tal perspectiva antropológica.

“ Eles me cheiravam para ver se eu era real”, lembra homem exposto em zoo.

“Passamos por toda a Europa com circos, e eu estava sempre viajando – de Paris a Riga, de Berna a
Bucareste via Varsóvia”, lembra Theodor Wonja Michael, filho mais novo de um camaronês que deixou a
ex-colônia alemã na virada do século.

“Nós dançávamos e nos apresentávamos junto com os engolidores de fogo e faquires. Eu comecei a odiar
participar destes zoológicos humanos muito cedo”, conta ele, hoje com 92 anos.
Por vários anos, Theodor Wonja evitou falar sobre esse período da sua vida. Então, em 2013, resolveu
escrever sobre a sua história e de sua família no livro “Deutsch sein und schwarz dazu” (Ser alemão e
negro, em tradução livre).
O pai de Theodor Wonja se mudou com a família do Camarões para a Europa no final do século 19. Em
Berlim, rapidamente percebeu que não lhe seria permitido desempenhar trabalhos corriqueiros. A única
forma de ganhar a vida era por meio de exposições etnológicas, também chamadas de zoológicos
humanos.

Na época, artistas de um zoológico humano percorreriam a Europa como as bandas de rock da atualidade.
Eles faziam várias apresentações por dia, enquanto os visitantes os observavam com assombro.

“Em alguns casos, os artistas tinham contratos, mas não sabiam o que significava ser parte de uma
exposição etnológica na Europa”, diz a historiadora Anne Dreesbach.

A maioria deles sentia falta de casa, outros acabavam morrendo porque não eram vacinados. Esse foi o
fim, por exemplo, de uma família inuit que participava de uma exposição e morreu de varíola após
apresentações em Hamburgo e Berlim em 1880. Outro grupo, de índios sioux, morreu de sarampo e
pneumonia.
Centenas de exposições
Até a década de 1930, havia cerca de 400 “zoológicos humanos” na Alemanha. A primeira grande
exposição etnológica foi organizada em 1874 por um comerciante de animais selvagens de Hamburgo
chamado Carl Hagenbeck.

“Ele teve a ideia de abrir jardins zoológicos que não contivessem apenas animais, mas também de
pessoas. As pessoas estavam animadas para descobrir mais sobre seres humanos do exterior: antes da
disseminação da televisão e da fotografia colorida, essa era a única maneira de vê-los”, explica
Dreesbach, que publicou um livro sobre a história dos zoológicos humanos na Alemanha.

O conceito já existia no início da era moderna, quando os exploradores europeus trouxeram de volta as
pessoas dos novos territórios para onde haviam viajado. Carl Hagenbeck foi além, e promoveu
encenações nas exposições para torná-las mais atraentes: os lapões apareciam acompanhados de renas,
os egípcios montavam camelos em um cenário com pirâmides de papelão, os fueguinos (habitantes da
Terra do Fogo) viviam em cabanas e usavam ossos como acessórios nos cabelos.

“Carl Hagenbeck vendeu aos visitantes uma ilusão de viagens ao mundo com seus zoológicos humanos”,
diz o historiador Hilke Thode-Arora, do Museu Etnológico de Munique.
Theodor Wonja Michael conta que essas exposições etnológicas expressaram a percepção europeia
“dosafricanos nas décadas de 20 e 30 como selvagens sem educação  que usavam saias de ráfia”. Ele
ainda se lembra de como estranhos acariciavam seu cabelo encaracolado:
“Eles tentavam me cheirar para verificar se eu era real e falavam comigo em um alemão básico ou se
comunicavam por meio de sinais”, conta. [...]

Muitos zoológicos humanos pararam de funcionar após o fim da Primeira Guerra Mundial. Hagenbeck
organizou seu último show de “pessoas exóticas” em 1931 – mas isso não acabou com a discriminação.

Fonte: https://www.cartacapital.com.br/mundo/eles-me-cheiravam-para-ver-se-eu-era-real-lembra-homem-exposto-em-zoo/

Após a leitura do texto, observe as fontes históricas abaixo que retratam o período no qual a Antropologia
surgiu enquanto uma ciência.

Guillermo Antonio Farini posa com pigmeus no Royal Aquarium de Londres, em 1888.
Mulher da etnia Ashanti, de Gana, é exibida no jardim zoológico da Acclimation de Paris junto com o filho,
em 1903.

Fotografia das jaulas da exposição no Champ de Mars, Paris, 1895, com mais de 300 nativos capturados
no Senegal e no Sudão

O material lido exemplifica o contexto da formação da Antropologia. Nessa etapa, o “Evolucionismo” foi a
principal corrente teórica para explicar as diferentes “culturas” percebidas a partir do contato do europeu
ocidental com outros povos. Essa escola antropológica desenvolveu-se muito notadamente na Inglaterra e,
a despeito de seus limites, foi a primeira a realizar uma teoria social da cultura. Seu principal postulado era
o de que as sociedades têm início em um estado primitivo e se tornam civilizadas com o passar do tempo.

O fragmento abaixo do antropólogo Edward Tylor (1832-1917) ilustra bem essa corrente:

“Ao longo da última parte do período de selvageria e por todo o período da barbárie, a humanidade

estava organizada, em geral, em gentes, fratrias e tribos. Essas organizações prevaleceram, em

todos os continentes, por todo o mundo antigo, e constituíram os meios através dos quais a
sociedade antiga era organizada e mantida coesa. Sua estrutura e suas relações como membros

de uma série orgânica, bem como os direitos, privilégios e obrigações dos membros das gentes,

das fatrias e das tribos, ilustram o crescimento da ideia de governo na mente humana. As principais

instituições da humanidade tiveram origem na selvageria, foram desenvolvidas na barbárie e estão

amadurecendo na civilização.”

MORGAN, Lewis Henry. In: Evolucionismo Cultural/ textos de Morgan, Tylor e Frazer; textos selecionados, apresentação e revisão,

Celso Castro; tradução, Maria Lúcia de Oliveira- Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed 2005.

Celso Castro, importante antropólogo brasileira, também nos ajuda a compreender melhor as principais

características do Evolucionismo Cultural. Vejamos:

“As ideias evolucionistas levavam à disposição de todas as sociedades conhecidas segundo uma única

escala evolutiva ascendente, através de vários estágios. Essa se tornaria a ideia fundamental do período

clássico do evolucionismo na antropologia.

O postulado básico do evolucionismo era, portanto, que, em todas as partes do mundo, a sociedade

humana teria se desenvolvido em estágios sucessivos e obrigatórios, numa trajetória basicamente

unilinear e ascendente. Toda a humanidade deveria passar pelos mesmos estágios, seguindo uma direção

que ia do mais simples ao mais complexo, do mais indiferenciado ao mais diferenciado.

O caminho da evolução seria, nas palavras de Lewis Morgan ( outro importante antropólogo da escola

evolucionista) natural e necessário: ‘Como a humanidade foi uma só na origem, sua trajetória tem sido

essencialmente uma, seguindo por canais diferentes, mas uniformes, em todos os continentes, e muito

semelhantes em todas as tribos e nações da humanidade que se encontram no mesmo status de

desenvolvimento.’ (MORGAN) “

CASTRO, Celso. In: Evolucionismo Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

Proposta de Atividade:

A partir do material lido e das imagens observadas, escreva um texto, com o mínimo de 10 linhas,
analisando criticamente a perspectiva evolucionista de interpretar as culturas.
Suas reflexões devem conter os seguintes pontos:
 Sintetização das principais ideias da escola evolucionista.
 Articular essas propostas com o contexto do neocolonialismo.
 Refletir sobre se ainda hoje em dia temos contato com argumentos evolucionistas.
 Quais os riscos de interpretamos as culturas pela perspectiva evolucionista?

OBS: O material deverá ser entregue em nossa primeira aula depois dessa paralisação.

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