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FUNDAMENTOS DE

GEOLOGIA
Prof. Dr. Fabio Olivieri de Nobile
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Conteúdo
CAPITULO 1. O SISTEMA TERRA ....................................................................... 1
1.1. O MÉTODO CIENTÍFICO .........................................................................2
1.2. AS TEORIAS E AS PRÁTICAS MODERNAS DE GEOLOGIA .....................3
1.3.A hipótese da nebulosa .................................................................................7
1.4.A TERRA PRIMITIVA: FORMAÇÃO DE UM PLANETA EM CAMADAS .......9
1.4.1. Aquecimento e fusão da Terra primordial ........................................... 9
1.4.2. Começa a diferenciação ................................................................... 11
1.4.3. A formação dos continentes, dos oceanos e da atmosfera da Terra 13
1.5.O BOMBARDEAMENTO VINDO DO ESPAÇO...........................................15
1.6.A TERRA COMO UM SISTEMA DE COMPONENTES INTERATIVOS ......17
1.6.1. O sistema do clima ........................................................................... 18
1.6.2. O sistema das placas tectônicas ...................................................... 19
1.6.3. A evolução da vida ........................................................................... 21
CAPÍTULO 2. MINERAIS. CONSTITUINTES BÁSICOS DAS ROCHAS............ 26
2.1.A ESTRUTURA ATOMICA DA MATÉRIA ...................................................27
2.1.1. A estrutura de um átomo .................................................................. 28
2.1.2. Número atômico e massa atômica ................................................... 29
2.1.3. Reações químicas ............................................................................ 31
2.1.4. Ligações químicas ............................................................................ 32
2.1.5. Ligações iônicas ............................................................................... 33
2.1.6. Ligações covalentes ......................................................................... 33
2.2.A ESTRUTURA ATÓMICA DOS MINERAIS ...............................................34
2.2.1. Como se formam os minerais? ......................................................... 34
2.3.MINERAIS FORMADORES DE ROCHA .....................................................41
2.3.1. SILICATOS ....................................................................................... 42
2.3.2. CARBONATOS................................................................................. 44
2.3.3. ÓXIDOS ............................................................................................ 44
2.3.4. SULFETOS ....................................................................................... 45
2.3.5. SULFATOS ....................................................................................... 45
2.4.PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS ..............................................46
2.4.1. Dureza .............................................................................................. 47
2.4.2. Clivagem ........................................................................................... 49
2.4.3. Fratura .............................................................................................. 53
2.4.4. Brilho ................................................................................................ 53
2.4.5. Cor .................................................................................................... 54
2.4.6. Gravidade específica e densidade.................................................... 56
2.4.7. Hábito cristalino ................................................................................ 56
CAPÍTULO 3. INTEMPERISMO .......................................................................... 58
3.1. Considerações Gerais ................................................................................58
3.1.1. Trabalho de Goldich (1938) ................................................................. 59
3.1.2. Trabalho de Chesworth (1973) ............................................................ 65
3.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo ...............................................67
3.2.1. Intemperismo Físico ............................................................................ 67
3.2.2. Intemperismo Químico ........................................................................ 70
3.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas ............................................78
CAPÍTULO 4 - ROCHAS MAGMÁTICAS ............................................................ 79
4.1. Introdução ...................................................................................................79
ii

4.2 Origens e tipos fundamentais de magmas ..................................................80


4.3. Composição e classificação das Rochas Magmáticas ...............................84
4.4. Resfriamento do Magma.............................................................................86
4.4.1. Estágios de Resfriamento ................................................................... 86
4.4.1.1. Estágio Pneumatolítico (ou Pegmatítico) ......................................... 86
4.4.1.2. Estágio Hidrotermal .......................................................................... 87
4.4.2.Textura das rochas magmáticas .......................................................... 87
4.5. Seqüência de Cristalização ........................................................................88
4.6. Principais Rochas Magmáticas ...................................................................90
4.6.1. Família Granito - Riólito....................................................................... 90
4.6.2. Família Diorito - Andesito .................................................................... 91
4.6.3. Família Gabro-Basalto ........................................................................ 91
CAPÍTULO 5 - ROCHAS SEDIMENTARES ........................................................ 93
5.1. Introdução ...................................................................................................93
5.2. Ciclo Sedimentar ........................................................................................95
5.3. Composição ..............................................................................................100
5.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares ........................................102
5.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem ................................103
5.5.1. Ambientes Deposicionais .................................................................. 103
5.5.2. Formação da Paisagem .................................................................... 105
5.6. Classificação.............................................................................................106
5.6.1. Rochas Clásticas............................................................................... 107
5.6.2. Rochas sedimentares químicas e orgânicas ..................................... 112
5.6.2.1. Rochas Sedimentares de Origem Química .................................... 112
5.6.2.2. Rochas sedimentares orgânicas .................................................... 113
CAPÍTULO 6- ROCHAS METAMÓRFICAS ...................................................... 115
6.1. Introdução .................................................................................................115
6.2. Tipos de Metamorfismo ............................................................................117
6.2.1. Metamorfismo de Contato ................................................................. 117
6.2.2. Metamorfismo Regional .................................................................... 118
6.3. Foliação ....................................................................................................119
6.4. Classificação das Rochas Metamórficas ..................................................119
6.4.1. Ardósias ............................................................................................ 121
6.4.2. Filitos ................................................................................................. 121
6.4.3. Xistos ................................................................................................ 122
6.4.4. Gnaisses ........................................................................................... 122
6.4.5. Metaconglomerados .......................................................................... 123
6.4.6. Quartzito ............................................................................................ 123
6.4.7. Mármore ............................................................................................ 124
6.4.8 Anfibólios ............................................................................................ 124
6.4.9. Itabiritos............................................................................................. 124
CAPÍTULO 7. O CICLO HIDROLOGICO E AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS..... 127
7.1. Os fluxos e os reservatórios .....................................................................127
7.2. O ciclo hidrológico: um componente do sistema Terra .............................129
7.3. A hidrologia e o clima ...............................................................................131
7.4. Umidade, chuva e paisagem ....................................................................132
7.5. As secas ...................................................................................................133
7.6. A HIDROLOGIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL ...............................134
7.7. A água subterrânea ..................................................................................137
7.7.1. Como a água flui através do solo e da rocha .................................... 137
iii

7.7.2. A superfície freática........................................................................... 139


7.7.3. Os aquíferos ...................................................................................... 141
7.7.4. Balanço de recarga e descarga ........................................................ 145
7.7.5. A velocidade do fluxo da água subterrânea ...................................... 149
7.8. A EROSÃO PELA ÁGUA SUBTERRÂNEA ..............................................151
7.9. A QUALIDADE DA ÁGUA.........................................................................152
7.10. A ÁGUA NAS PROFUNDEZAS DA CROSTA ........................................157
CAPÍTULO 8 – APLICAÇÕES DE ROCHAS E SOLOS E OBRAS DE
ENGENHARIA. .................................................................................................. 162
8.1 DEFINIÇÕES .............................................................................................162
8.2 NA CONSTRUÇÃO CIVIL .........................................................................163
8.3 EM ESTRADAS .........................................................................................163
8.4 EM BARRAGENS DE TERRA ...................................................................164
CAPÍTULO 9. GEOLOGIA DE TÚNEIS ............................................................. 165
9.1 CONCEITUAÇÃO ......................................................................................165
9.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS PARA TÚNEIS ...............................................165
9.3 ELEMENTOS ESTRUTURAIS ..................................................................166
9.4 FATORES GEOLÓGICOS TÍPICOS E SUA INFLUÊNCIA NA
CONSTRUÇÃO DE TÚNEIS ...........................................................................166
9.6 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS ...............................................167
CAPÍTULO 10. GEOLOGIA DE BARRAGENS ................................................. 171
10.1 INTRODUÇÃO.........................................................................................171
10.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS DE UMA BARRAGEM ..................................171
10.3 PROBLEMAS CORRELACIONADOS COM AS CONDIÇÕES
GEOLÓGICAS .................................................................................................176
CAPÍTULO 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .............................................. 178
1

CAPITULO 1. O SISTEMA TERRA


A Terra é um lugar único, a casa de milhões de organismos, incluindo nós
mesmos. Nenhum outro local que já tenhamos descoberto tem o mesmo delicado
equilíbrio de condições para manter a vida. A Geologia é a ciência que estuda a
Terra: como nasceu, como evoluiu, como funciona e como podemos ajudar a
preservar os hábitats que sustentam a vida. Os geólogos buscam respostas a
muitas perguntas básicas. De que material o planeta é composto? Por que
existem continentes e oceanos? Como o Himalaia, os Alpes e as Montanhas
Rochosas chegam a tamanha altura? Por que algumas regiões estão sujeitas a
terremotos e erupções vulcânicas, enquanto outras não estão? Como o ambiente
da superfície terrestre, e a vida contida nele, evoluiu ao longo de bilhões de anos?
Quais são as prováveis mudanças no futuro? Acreditamos que as respostas a
essas perguntas sejam fascinantes. Bem-vindo à ciência da Geologia!
Nesta apsotila, estruturamos os temas da Geologia em torno de três
conceitos básicos, que vão aparecer em quase todos os capítulos, inclusive
neste: (1) a Terra como sistema de componentes interativos; (2) a tectônica de
placas como uma teoria unificadora da Geologia; e (3) as mudanças do sistema
Terra ao longo do tempo geológico.
Veremos que nosso planeta trabalha como um sistema de muitos
componentes interativos sob sua superfície sólida, em sua atmosfera e em seus
oceanos. Entretanto, para obter uma perspectiva completa de como a Terra
funciona, precisamos entender os modos como seus subsistemas interagem entre
si - por exemplo, como os gases de um vulcão podem ocasionar mudanças
climáticas ou como os organismos vivos podem modificar a atmosfera e, por sua
vez, serem afetados por essas mudanças.
Devemos entender, também, como o sistema Terra evoluiu ao longo do
tempo. Você irá perceber que, enquanto lê estas páginas, sua idéia de tempo
começará a mudar. Uma visão geológica do tempo deve acomodar intervalos tão
vastos que nós, às vezes, temos dificuldades de compreendê-Ios. Os geólogos
estimam que a Terra tenha aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Antes de 3
bilhões de anos atrás, células vivas desenvolveram-se sobre a Terra, mas nossa
origem humana ocorreu há apenas poucos milhões de anos - meros centésimos
percentuais de toda a existência da Terra. As escalas que medem as vidas dos
2

indivíduos em décadas e marcam períodos da História humana, escrita em


centenas ou milhares de anos, são inadequadas para estudar a Terra.
Os geólogos devem explicar eventos que evoluíram em dezenas de
milhares, centenas de milhares ou muitos milhões de anos.

1.1. O MÉTODO CIENTÍFICO

O objetivo de toda a Ciência é


explicar como o Universo funciona. O
método científico, que todo cientista
adota, é um pIano geral de pesquisa
baseado em observações
metodológicas e experimentos. Os
cientistas acreditam que os eventos
físicos têm explicações físicas, mesmo
quando estão além da nossa
capacidade atual de entendimento.
Quando os cientistas propõem
uma hipótese - uma tentativa de
explicação baseada em dados
coletados por meio de observação e
experimentação -, eles a submetem à
comunidade científica para que seja
criticada e repetidamente testada
contra novos dados. Uma hipótese
que é confirmada por outros cientistas
obtém credibilidade.
Uma hipótese que sobreviveu a
repetidas mudanças e acumulou um
significativo corpo de suporte
experimental é elevada à condição de
teoria. Embora a força explanatória e
preditiva de uma teoria tenha sido
demonstrada, ela nunca pode ser
considerada definitivamente provada.
A essência da Ciência é que nenhuma
explicação, não importa a quão
acreditada ou atraente, é exatamente
concordante com o problema. Se
evidências novas e convincentes
indicam que uma teoria está errada, os
cientistas podem modificá-Ia ou
descartá-Ia.
3

Um modelo científico é a representação de algum aspecto da natureza com


base em um conjunto de hipóteses (incluindo, geralmente, algumas teorias bem
estabelecidas). A comparação entre as predições do modelo e as observações
feitas é uma maneira eficaz de testar se as hipóteses discutidas pelo modelo são
mutuamente consistentes com ele. Atualmente, os modelos costumam ser
formulados em termos de programas computadorizados, que procuram simular o
comportamento de sistemas naturais por meio de cálculos numéricos. As
simulações computadorizadas são importantes, por permitirem que se entendam
aspectos do comportamento de sistemas de longa duração que nem as
observações de campo nem os experimentos laboratoriais sozinhos poderiam
elucidar.
Para encorajar a discussão de suas ideias, os cientistas as compartilham
com seus colegas, juntamente com os dados em que elas se baseiam. Eles
apresentam suas descobertas em encontros profissionais, publicam-nas em
revistas especializadas e explicam-nas em conversações informais com seus
pares. Os cientistas aprendem com os trabalhos dos outros e, também, com as
descobertas feitas no passado. A maioria dos principais conceitos da Ciência, que
surgem tanto a partir de um lampejo da imaginação como de uma análise
cuidadosa, é fruto de incontáveis interações dessa natureza. Albert Einstein assim
se referiu sobre essa questão: "Na Ciência (...) o trabalho científico do indivíduo
está tão inseparavelmente conectado ao de seus antecessores e
contemporâneos, que parece ser quase um produto impessoal de sua geração".

1.2. AS TEORIAS E AS PRÁTICAS MODERNAS DE GEOLOGIA


Como em muitas outras ciências, a Geologia depende de experimentos em
laboratórios e simulações computacionais para descrever as propriedades físicas
e químicas dos materiais terrestres e modelar os processos naturais que ocorrem
nas superfícies e no interior da Terra. Entretanto, a Geologia tem seu próprio
estilo e visão particular. Ela é uma "ciência de campo" que se baseia nas
observações e experimentos orientados no local do objetivo de estudo e
coletados por dispositivos de sensoriamento, como o de satélites orbitais. O
registro geológico é a informação preservada nas rochas originadas em vários
tempos da longa história da Terra.
4

No século XVIII, o médico e geólogo escocês James Hutton antecipou um


princípio histórico da Geologia que pode ser assim resumido: "o presente é a
chave do passado". O conceito de Hutton tornou-se conhecido como o princípio
do uniformitarismo, o qual considera que os processos geológicos que vemos
atuantes hoje também funcionaram de modo muito semelhante ao longo do tempo
geológico.
O princípio do uniformitarismo não significa que todo fenômeno geológico
ocorre de forma lenta. Alguns dos mais importantes processos ocorrem como
eventos súbitos. Um meteoroide grande que impacta a Terra - um bólido - pode
escavar uma vasta cratera em questão de segundos. Um vulcão pode explodir
seu cume e uma falha pode rachar o solo num terremoto muito rapidamente.
Outros processos ocorrem de maneira mais lenta. Milhões de anos são
necessários para que continentes migrem, montanhas sejam soerguidas e
erodidas, e sistemas fluviais depositem espessas camadas de sedimentos. Os
processos geológicos ocorrem numa extraordinária gama de escalas tanto no
espaço como no tempo (Figura 1).
5

Figura 1. Os fenômenos geológicos podem estender-se durante milhares de séculos ou ocorrer com velocidades
estupendas. (Esquerda) O Grand Canyon, no Arizona (EUA). (Direita) Cratera do Meteorito, Arizona (EUA).
6

Processos não têm sido diretamente


observados nos últimos dois séculos e
meio. No registro histórico, os humanos
nunca presenciaram o impacto de um
grande bólido, mas sabemos que tais
eventos aconteceram muitas vezes no
passado geológico e que certamente
acontecerão de novo. O mesmo pode ser
dito de vastos derrames vulcânicos, que
cobriram com lavas áreas maiores que o
Texas e envenenaram a atmosfera global
com gases. A longa evolução da Terra é
pontuada por muitos eventos extremos,
ainda que infrequentes, envolvendo
mudanças rápidas no sistema Terra.

A ORIGEM DO NOSSO SISTEMA


PLANETÁRIO
A busca da origem do Universo e de nossa
própria e pequena parte contida nele
remonta às mais antigas mitologias
registradas. Atualmente, a explicação
científica mais aceita é a teoria da Grande
Explosão (Big Bang), a qual considera que
nosso Universo começou entre 13 a 14
bilhões de anos atrás a partir de uma
"explosão" cósmica. Antes desse instante,
toda a matéria e energia estavam
concentradas num único ponto de
densidade inconcebível. Embora saibamos
pouco do que ocorreu na primeira fração
de segundo após o início do tempo, os
astrônomos obtiveram um entendimento
geral dos bilhões de anos que e seguiram.
Desde aquele instante, num processo que
ainda continua, o Universo expandiu-se e
diluiu-se para formar galáxias e estrelas.
Os geólogos ainda analisam os últimos 4,5
bilhões de anos dessa vasta expansão, um
tempo durante o qual o no sistema solar -
a estrela que nós chamamos de Sol e os
planetas que nela orbitam - formou-se e
evoluiu. Mais especificamente, os
geólogos examinam a formação do
sistema solar para entender a formação da
Terra.
Figura 2. Evolução do sistema solar
7

1.3. A hipótese da nebulosa


Em 1755, o filósofo alemão Immanuel Kant sugeriu que a origem do
sistema solar poderia ser traçada pela rotação de uma nuvem de gás e poeira
fina. Descobertas feitas há poucas décadas levaram os astrônomos de volta a
essa antiga idéia, agora chamada de hipótese da nebulosa. Equipados com
telescópios modernos, eles descobriram que o espaço exterior além do sistema
solar não está vazio como anteriormente era pensado. Os astrônomos registraram
muitas nuvens do mesmo tipo, tendo denominado as mesmas de nebulosas. Eles
também identificaram os materiais que formam essas nuvens. Os gases são
predominantemente hidrogênio e hélio, os dois elementos que constituem tudo,
exceto uma pequena fração do nosso Sol. As partículas do tamanho do pó são
quimicamente similares aos materiais encontrados na Terra.
Como pode o nosso sistema solar ter ficado com a forma que tem, a partir
de tal nuvem? Essa nuvem difusa em rotação lenta contraiu-se devido à força da
gravidade, a qual resulta da atração entre os corpos por causa de suas massas
(Figura 2). A concentração, por sua vez acelerou a rotação das partículas
(exatamente como os patinadores sobre o gelo, que giram mais rápido quando
contraem os braços) e essa rotação mais rápida achatou a nuvem na forma de
um disco.
A formação do Sol. Sob a atração da gravidade, a matéria começou a
deslocar-se para o centro, acumulando-se como uma proto-estrela, a precurssora
do nosso Sol atual. Comprimido sob seu gigante peso, o material do proto-Sol
tornou-se mais denso e quente. A temperatura interna do proto-Sol elevou-se
para milhões de graus, iniciando-se então uma fusão nuclear. A fusão nuclear do
sol, que continua até hoje, é a mesma reação nuclear que acontece em uma
bomba de hidrogênio. Em ambos os casos, átomos de hidrogênio sob intensa
pressão e em alta temperatura combinam-se (fundem-se) para formar hélio.
Nesse processo, parte da massa é convertida em energia. Essa conversão é
representada pela famosa equação de Albert Einstein, E = mc2, na qual E é a
quantidade de energia emitida pela conversão de massa (m) e c é a velocidade
da luz. Como e é um número muito grande (cerca de 300.000 km/s) e c2 é
imensa, uma pequena quantidade de massa pode gerar uma grande quantidade
de energia. O Sol emite parte dessa energia como luz.
8

A formação dos planetas. Embora a maior parte da matéria da nebulosa


original tenha sido concentrada no proto-Sol, restou um disco de gás e poeira,
chamado de nebulosa solar, envolvendo-o. A nebulosa solar tornou-se quente
quando se achatou na forma de um disco e ficou mais quente na região interna,
onde mais matéria se acumulou, do que nas regiões externas menos densas.
Uma vez formado, o disco começou a esfriar e muitos gases condensaram-se. Ou
seja, eles mudaram para suas formas líquidas ou sólidas, assim como o vapor
d'água condensa em gotas na parte externa de um copo gelado e a água solidifica
em gelo quando esfria até o ponto de congelamento. A atração gravitacional
causou a agregação de poeira e material condensado por meio de colisões
"pegajosas" em pequenos blocos ou planetesimais de 1 km. Por sua vez, esses
planetesimais colidiram e se agregaram, formando corpos maiores, com o
tamanho da Lua. Num estágio final de impactos cataclísmicos, uma pequena
quantidade desses corpos maiores - cuja atração gravitacional é também maior –
arrastou os outros para formar os nossos nove planetas em suas órbitas atuais.
Quando os planetas se formaram, aqueles cujas órbitas estavam mais
próximas do Sol desenvolveram-se de maneira marcadamente diferente daqueles
com órbitas mais afastadas. A composição dos planetas interiores é muito
diferente daquela dos planetas exteriores.
Os planetas interiores Os quatro planetas interiores, em ordem de
proximidade do Sol, são: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte (Figura 3). Eles também
são conhecidos como planetas terrestres ("parecidos com a Terra"). Em contraste
com os planetas exteriores, os quatro planetas interiores são pequenos e
constituídos de rochas e metais. Eles cresceram próximos ao Sol, onde as
condições foram tão quentes que a maioria dos materiais voláteis - aqueles que
se tornaram gases e evaporaram em temperaturas relativamente baixas - não
pôde ser retida. O fluxo de radiação e matéria proveniente do Sol impeliu a maior
parte do hidrogênio, do hélio, da água e de outros gases e líquidos leves que
havia nesses planetas. Metais densos, como o ferro e outras substâncias pesadas
constituintes das rochas que formaram os planetas interiores, foram deixados
para trás. A partir da idade dos meteoritos, que ocasionalmente golpeiam a Terra
e são tidos como remanescentes do período pré-planetário, deduzimos que os
planetas interiores começaram a acrescer há cerca de 4,56 bilhões de anos.
Cálculos teóricos indicam que eles teriam crescido até o tamanho de planeta num
9

intervalo de tempo impressionantemente curto, de menos de 100 milhões de


anos.

Figura 3. O sistema solar. A figura mostra o tamanho relativo dos planetas e o cinturão de asteróides que separa os
planetas interiores dos planetas exteriores.

Os planetas exteriores gigantes A maioria dos materiais voláteis varridos


da região dos planetas interiores foi impelida para a parte mais externa e fria da
nebulosa. Isso possibilitou ao sistema solar formar os planetas exteriores
gigantes, constituídos de gelo e gases - Júpiter, Saturno, Urano e Netuno -, e
seus satélites. Os planetas gigantes, suficientemente grandes e com forte atração
gravitacional, varreram os constituintes mais leves da nebulosa. Assim, embora
tenham núcleos rochosos, eles (como o Sol) são compostos predominantemente
por hidrogênio e hélio, além de outros constituintes leves da nebulosa original.

1.4. A TERRA PRIMITIVA: FORMAÇÃO DE UM PLANETA EM CAMADAS


Como, a partir de uma massa rochosa, a Terra evoluiu até um planeta vivo,
com continentes, oceanos e uma atmosfera? A resposta reside na diferenciação:
a transformação de blocos aleatórios de matéria primordial num corpo cujo interior
é dividido em camadas concêntricas, que diferem umas das outras tanto física
como quimicamente. A diferenciação ocorreu nos primeiros momentos da história
da Terra, quando o planeta adquiriu calor suficiente para se fundir.

1.4.1. Aquecimento e fusão da Terra primordial


Para entender a atual estrutura em camadas da Terra, devemos retornar
ao tempo que ela foi exposta aos violentos impactos dos planetesimais e de
corpos maiores. O movimento de objetos carrega energia cinemática ou de
10

movimento. (Pense no modo como a energia do movimento comprime um carro


numa colisão). Um planetesimal colidindo com a Terra numa velocidade típica de
15 a 20 km/s liberará uma energia equivalente a 100 vezes o seu peso TNT1
Quando planetesimais e corpos grandes colidiram com a Terra primitiva, a maior
parte da energia cinética foi convertida em calor, outra forma de energia. A
energia de um impacto de um corpo, com aproximadamente o tamanho de Marte,
colidindo com a Terra seria equivalente a explodir vários trilhões de bombas
nucleares de 1 megaton = energia de 1milhão de toneladas de TNT. Isso seria
suficiente para ejetar no espaço uma grande quantidade de detritos e gerar calor
suficiente para fundir a maior parte do que restou da Terra.
Muitos cientistas agora pensam que tal cataclismo de fato ocorreu durante
os estágios tardios de acrescimento da Terra. O grande impacto criou uma chuva
de detritos tanto da Terra como do corpo impactante, que se propalou para o
espaço. A Lua agregou-se a partir desses detritos (Figura 4).
1. Durante os estágios intermediários e finais do 2. ...e o impacto gigante ejetou para o
acrescimento da Terra, ha cerca de 4,5 bilhões de anos, espaço uma chuva de detritos tanto do
um corpo do tamanho de marte impactou a Terra... corpo impactante como da terra..

3. O impacto acelerou a rotação 4. A Terra reconstitui-se como


da Terra e inclinou o seu plano um grande corpo fundido... 5. ...e a Lua agregou-se 6. Rochas da Lua com 4,47 bi de anos,
orbital para 23º. a partir dos detritos. trazidas pelos astronautas da Apollo,
confirmaram essa hipótese do impacto.

Figura 4. Ilustração de uma simulação computadorizada da origem da Lua por meio do impacto de um corpo do
tamanho de Marte. (Solid Earth Sciences and Society, National Research Council, 1993.)

A Terra teria se reconstituído como um corpo em grande parte fundido.


Esse monumental impacto acelerou a velocidade de rotação da Terra e mudou
seu eixo rotacional, golpeando-o da posição vertical em relação ao plano orbital
1
TNT é a sigla de trinitrotolueno, C7H506N3
11

da Terra para sua atual inclinação de 23º. Tudo isso há cerca de 4,5 bilhões de
anos, entre o período de inicio de acrescimento da Terra (4,56 bilhões de anos) e
a idade das rochas mais antigas da Lua (4,47 bilhões de anos) trazidas pelos
astronautas da Apollo.
Além do impacto colossal, uma outra força de calor teria causado a fusão
nos primórdios da história da Terra. Vários elementos (uranio, por exemplo) são
radioativos, o que significa que se desintegram espontaneamente com a emissão
de partículas subatômicas. Como essas partículas são absorvidas pela matéria do
entorno, sua energia de movimento é transformada em calor. O calor radioativo
teria contribuído para aquecer e fundir materiais da então jovem Terra. Elementos
radioativos, embora apenas presentes em pequenas quantidades, tiveram um
efeito considerável na evolução da Terra e continuam a manter o calor interior.

1.4.2. Começa a diferenciação


Embora a Terra provavelmente tenha iniciado como uma mistura não-
segregada de planetesimais e outros remanescentes da nebulosa, ela não
manteve essa forma durante muito tempo. Uma fusão de grande proporção
ocorreu como resultado de um gigantesco impacto. Alguns trabalhos sobre esse
tema especulam que cerca de 30 a 65% da Terra fundiram-se, formando uma
camada externa de centenas de quilômetros de espessura, a qual chamaram de
"oceano de lava" (rocha derretida). Da mesma forma, o interior aqueceu-se até
um estado "leve" (menos denso), no qual seus componentes podiam mover-se de
um lado para outro. O material pesado mergulhou para o interior para tornar-se o
núcleo e o material mais leve flutuou para a superfície e formou a crosta. A
emersão do material mais leve carregou consigo calor interno para a superfície,
de onde ele poderia irradiar-se para o espaço. Dessa forma, a Terra resfriou-se e
grande parte dela solidificou-se e foi transformada em um planeta diferenciado ou
zoneado em três camadas principais: um núcleo central e uma crosta externa
separados por um manto (Figura 5). Um resumo dos períodos de tempo que
descrevem a origem da Terra e sua evolução num planeta diferenciado é
mostrado na Figura 11.
Núcleo da Terra O ferro, que é mais denso que a maioria dos outros
elementos, correspondia a cerca de um terço do material do planeta primitivo. O
ferro e outros elementos pesados, como o níquel, mergulharam para formar o
12

núcleo central. Os cientistas consideram que o núcleo, o qual começa numa


profundidade de cerca de 2.900 km, é líquido na parte externa, mas sólido numa
região chamada de núcleo central, que se estende desde uma profundidade de
cerca de 5.200 krn até o centro da Terra, a cerca de 6.400 krn. O núcleo interno é
sólido porque a pressão no centro é muito alta para o ferro fundir-se (a
temperatura em que qualquer material se funde eleva-se com o aumento da
pressão).
Crosta da Terra Outros materiais líquidos e menos densos separaram-se
das substâncias geradoras flutuando em direção à superfície do oceano de
magma. Aí resfriaram-se para formar a crosta sólida da Terra, uma fina camada
externa com cerca de 40 km de espessura. A crosta contém materiais
relativamente leves com temperaturas de fusão baixas. A maioria desses
materiais, que facilmente se fundem, é composta de elementos de silício,
alumínio, ferro, cálcio, magnésio, sódio e potássio combinados com oxigênio.
Todos eles, com exceção do ferro, estão entre os elementos sólidos mais leves.

Figura
Figura 5.
5. A diferenciação da Terra primitiva resultou num planeta zoneado com um denso núcleo de ferro, uma
crosta de rochas leves e um manto residual entre ambos.

Manto da Terra Entre o núcleo e a crosta encontra-se o manto, uma região


que forma a maior parte da Terra sólida. O manto é o material deixado na zona
intermediária depois que grande quantidade da matéria pesada afundou e a
13

matéria mais leve emergiu. O manto abrange profundidades que vão desde 40 até
2.900 km. Ele consiste em rochas com densidade intermediária, em sua maioria
compostos de oxigênio com magnésio, ferro e silício.
Existem mais de cem elementos, mas as análises químicas das rochas
indicam que apenas oito constituem 99% da massa da Terra (Figura 6). De fato,
cerca de 90% da Terra consistem em apenas quatro elementos: ferro, oxigênio,
silício e magnésio. Quando comparamos a abundância relativa dos elementos
constituintes da crosta com sua abundância em relação a toda a Terra, podemos
constatar que o ferro soma 35% da massa desta. Devido à diferenciação,
entretanto, há pouco ferro na crosta, onde os elementos leves predominam. Como
se pode ver na Figura 1.7, as rochas crustais sobre as quais estamos são
constituídas por quase 50% de oxigênio.

Figura 6. A abundância relativa dos elementos da Terra inteira comparada com a dos elementos da crosta é dada em
percentuais de peso. A diferenciação criou uma crosta leve, empobrecida de ferro e rica em oxigênio, silício,
alumínio, cálcio, potássio e sódio.

1.4.3. A formação dos continentes, dos oceanos e da atmosfera da Terra


A fusão primitiva promoveu a formação da crosta da Terra e, fortuitamente,
dos continentes. Ela fez com que os materiais mais leves se concentrassem nas
camadas externas e permitiu que pelo menos os gases mais leves escapassem
do interior. Esses gases formaram grande parte da atmosfera e dos oceanos. Até
hoje, remanescentes retidos da nebulosa solar original continuam a ser emitidos
como gases primitivos em erupções vulcânicas.
Continentes A feição mais visível da crosta da Terra são os continentes. O
crescimento dos continentes começou logo após a diferenciação e continuou ao
longo do tempo geológico. Tem-se, quando muito, apenas uma noção geral do
que levou à sua formação. Imaginamos que o magma partiu do interior derretido
14

da Terra e ascendeu à superfície, onde esfriou e se solidificou para formar a


crosta rochosa. Essa crosta primitiva fundiu-se e solidificou-se repetidamente,
fazendo com que os materiais mais leves se separassem dos mais pesados e
ascendessem ao topo, para formar os núcleos primitivos dos continentes. A água
da chuva e outros constituintes da atmosfera erodiram as rochas, levando-as a
decomporem-se e desintegrarem-se. Água, vento e gelo desprenderam, então, os
detritos rochosos se moveram-nos para lugares de deposição mais baixos. Aí se
acumularam em camadas espessas, formando praias, deltas e os assoalhos dos
mares adjacentes. A repetição desse processo durante muitos ciclos estruturou os
continentes.
Oceanos e a atmosfera Alguns geólogos pensam que a maior parte do ar
e da água da Terra atual vieram de fora do sistema solar por meio de materiais
ricos em voláteis que impactaram o planeta depois que ele foi formado. Por
exemplo, os cometas que vemos são compostos predominantemente de gelo
mais dióxido de carbono e outros gases congelados. Incontáveis cometas podem
ter bombardeado a Terra nos primórdios de sua história, fornecendo água e gases
que, subsequentemente, deram origem aos oceanos e à atmosfera primitivos.
Muitos outros geólogos acreditam que os oceanos e a atmosfera podem ter
sua origem rastreada no "nascimento úmido" da própria Terra. De acordo com
essa hipótese, os planetesimais que se agregaram para formar nosso planeta
tinham gelo, água e outros voláteis. Originalmente, a água estava aprisionada
(quimicamente ligada como oxigênio e hidrogênio) em certos minerais trazidos
pela agregação dos planetesimais. De forma similar, nitrogênio e carbono também
estavam quimicamente ligados nos minerais. Quando a Terra se aqueceu e seus
materiais fundiram-se parcialmente, o vapor d'água e outros gases foram
liberados e levados para a superfície pelos magmas, sendo lançados na
atmosfera pela atividade vulcânica.
Os gases emitidos pelos vulcões há cerca de 4 bilhões de anos consistiam,
provavelmente, nas mesmas substâncias que são expelidas dos vulcões atuais
(embora não necessariamente na mesma quantidade relativa): fundamentalmente
hidrogênio, dióxido de carbono, nitrogênio, vapor d'água e alguns outros gases
(Figura 7). Quase todo o hidrogênio escapou para o espaço exterior, enquanto os
gases pesados envolveram o planeta. Essa atmosfera primitiva era destituída de
15

oxigênio, elemento que constitui 21% da atmosfera atual. O oxigênio não fazia
parte da atmosfera até que organismos fotos sintéticos evoluíssem.

Figura 7. A atividade vulcânica primitiva contribuiu com o lançamento, para a atmosfera e os oceanos, de grandes
quantidades de vapor d'água, dióxido de carbono e outros gases e, para os continentes, de materiais sólidos. A
fotossíntese dos microrganismos remove o dióxido de carbono e adicionou oxigênio à atmosfera primordial. O
hidrogênio, devido à sua leveza, escapou para o espaço exterior.

1.5. O BOMBARDEAMENTO VINDO DO ESPAÇO


As superfícies salpicadas por crateras da Lua, Marte, Mercúrio e outros
corpos são evidências de um importante intervalo da história primordial do
sistema solar: o período de Bombardeamento Pesado (ver Figura 2). Durante
esse período, que deve ter durado desde a formação dos planetas até 600
milhões de anos depois, os planetas varreram e colidiram com a matéria residual
deixada para trás na época em que foram agregados. A atividade geológica na
Terra obliterou os efeitos desse bombardeamento.
O espaço está cheio de asteróides, meteoróides, cometas e outros detritos
abandonados desde o início do nosso sistema solar. Pequenos blocos de detritos
aqueceram-se e vaporizaram-se na atmosfera da Terra antes de alcançar a sua
superfície, enquanto blocos maiores atravessaram-na por completo. Atualmente,
16

cerca de 40 mil toneladas de material extraterrestre caem na Terra a cada ano,


sobretudo como poeira e pequenos objetos não observados. Embora a atual taxa
de impacto seja, em várias ordens de magnitude, menor que aquela do período
de Bombardeamento Pesado, um grande bloco, de 1 a 2 km de diâmetro, ainda
pode colidir com a Terra em intervalos aproximados de poucos milhões de anos.
Embora tais colisões tenham se tomado raras, telescópios estão sendo
programados para localizar os maiores corpos no espaço e, assim, possibilitar
que sejamos antecipadamente advertidos da potencialidade de alguns deles
virem a se chocar com a Terra. Recentemente, os astrônomos da NASA previram,
"com uma probabilidade nada negligenciável" (uma chance em 300), que um
asteróide de 1km de diâmetro colidirá com a Terra março de 2880. Um evento
como esse constituiria uma ameaça à civilização.

Tabela 1. Impactos de bólitos e seus efeitos na Terra

Tamanho Última ocorrência


Exemplo Efeitos planetários Efeitos na vida
(R = raio) (em anos)
Supercolossal Evento de 9 Fusão do planeta Extinção da vida
4,45 x 10
R> 2.000 km formação da Lua
Colossal 9 Fusão da crosta Extinção da vida
Plutão 4,3 x 10
R> 700 km
Vaporização dos A vida pode
Imenso 9
Um asteroide grande 4,0 x 10 oceanos sobreviver na
R> 200 km
superfície
Vaporização do topo Cozimento sob
Extragrande Chiron (maior cometa 9 dos oceanos ate pressão, pode
3,8 x 10
R> 70 km em movimento) 100m cessar a
fotossíntese
Aquecimento da Cauterização dos
Grande 9
Cometa Hale-Bopp 2,0x 10 atmosfera e da continentes
R> 30 km
superfície até 727ºC
Incêndios, poeira, Extinção de
escuridão, metade da
mudanças químicas espécie, o evento
Médio O maior asteroide 6
65 x 10 nos oceanos e levou a extinção
R> 10 km próximo a Terra
atmosfera, grande dos dinossauros
oscilação de
temperatura
Interrupção da
fotossíntese,
Suspensão de indivíduos
Tamanho de 500
Pequeno poeira em toda a morrem, mas
asteroides próximos 300.000
R> 1 km atmosfera durante poucas espécies
da Terra
meses são extintas,
ameaça a
civilização
Derrubou arvores Manchetes de
Mito pequeno Evento de Tunguska
1908 num rastro de jornais
R> 100 m (Sibéria)
dezenas de km
17

1.6. A TERRA COMO UM SISTEMA DE COMPONENTES INTERATIVOS


Embora a Terra tenha se esfriado desde seu início ardente, ela continua
um planeta inquieto, mudando continuamente por meio de atividades geológicas,
tais como terremotos, vulcões e glaciações. Essas atividades são governadas por
dois mecanismos térmicos: um interno e o outro externo. Mecanismos de tal tipo
como, por exemplo, o motor a gasolina de um automóvel- transformam calor em
movimento mecânico ou trabalho. O mecanismo interno da Terra é governado
pela energia térmica aprisionada durante a origem cataclísmica do planeta e
gerada pela radioatividade em seus níveis mais profundos. O calor interior
controla os movimentos no manto e no núcleo, suprindo energia para fundir
rochas, mover continentes e soerguer montanhas. O mecanismo externo da Terra
é controlado pela energia solar - calor da superfície terrestre proveniente do Sol.
O calor do Sol energiza a atmosfera e os oceanos e é responsável pelo nosso
clima e tempo. Chuva, vento e gelo erodem montanhas e modelam a paisagem e,
por sua vez, a forma da superfície muda o clima.
Todas as partes do nosso planeta e todas suas interações, tomadas juntas,
constituem o sistema Terra. Embora os cientistas da Terra pensem já há algum
tempo em termos de sistemas naturais, foi apenas nas últimas décadas do século
XX que eles dispuseram de equipamentos adequados para investigar como o
sistema Terra realmente funciona. Dentre os principais avanços, estão as redes
de instrumentos e satélites orbitantes de coleta de informações do Sistema Terra
numa escala global e o uso de computadores eletrônicos com potência suficiente
para calcular a massa e a energia transferidas dentro do sistema.
A Terra é um sistema aberto, no sentido de que troca massa e energia com
o restante do cosmos. A energia radiante do Sol energiza o intemperismo e a
erosão da superfície terrestre, bem como o crescimento das plantas, as quais
servem de alimento a muitos outros seres vivos. Nosso clima é controlado pelo
balanço entre a energia solar que chega até o sistema Terra e a energia que o
planeta irradia de volta para o espaço. As transferências de massa entre a Terra e
o espaço decresceram marcadamente depois do período de Bombardeamento
Pesado, mas ainda desempenham um papel ativo no sistema Terra – é só
perguntar aos dinossauros.
18
2 3
4
1

5 6

Figura 8. Principais componentes e subsistemas do sistema Terra. As interações entre os componentes são
governadas pela energia do Sol e do interior do planeta e organizadas em três geossistemas globais: o sistema do
clima, o sistema das placas tectônicas e o sistema geodínamo

1.6.1. O sistema do clima


Tempo é o termo que usamos para descrever a temperatura, a
precipitação, a nebulosidade e os ventos observados num ponto da superfície
terrestre. Todos sabem o quanto o tempo pode ser variável - quente e chuvoso
num dia, frio e seco no outro -, dependendo dos movimentos de sistemas de
tempestades, frentes frias e quentes e outras mudanças rápidas dos distúrbios
atmosféricos. Como a atmosfera é muito complexa, mesmo os melhores
meteorologistas têm dificuldades em prever o tempo com antecedência de mais
19

de quatro ou cinco dias. Entretanto, podemos inferir como ele será, em termos
gerais, num futuro bem mais distante, pois o tempo predominante é governado
principalmente pelas variações do influxo de energia solar nos ciclos sazonais e
diários: verões são quentes e invernos, frios; dias são quentes e noite, mais
frescas. O clima é a descrição desses ciclos de tempo em termos das médias de
temperatura e outras variáveis obtidas durante muitos anos de observação. Além
dos valores médios, uma descrição completa do clima também inclui medidas de
quanto tem sido a variação do tempo meteorológico, tais como as temperaturas
mais altas ou mais baixas já registradas num certo dia.
O sistema do clima inclui todas as propriedades e interações dos
componentes dentro do sistema Terra necessárias para determinar o clima numa
escala global e descobrir como ele muda com o tempo. O problema é
incrivelmente complicado porque o clima não é apenas o comportamento da
atmosfera sozinha. Ele é sensível a muitos outros processos envolvendo a
hidrosfera, a biosfera e a Terra sólida (ver Figura panorâmica 8). Para entender
essas interações, os cientistas elaboram modelos numéricos - sistemas climáticos
virtuais - em supercomputadores e comparam os resultados de suas simulações
com os dados observados. (Em março de 2002, o Japão anunciou o maior e mais
rápido computador do mundo, o Simulador da Terra - Earth Simulator -, dedicado
à modelagem do clima terrestre e outros geossistemas).

1.6.2. O sistema das placas tectônicas


Alguns dos mais dramáticos eventos geológicos do planeta erupções
vulcânicas e tenemotos, por exemplo - também resultam de interações dentro do
sistema Terra. Esses fenômenos são controlados pelo calor interno do globo, que
escapa por meio da circulação de material no manto sólido, em um processo
conhecido como convecção.
Vimos que a Terra é quimicamente zoneada: sua crosta, manto e núcleo
são camadas quimicamente distintas que se segregaram durante a diferenciação
primordial. A Terra é também zoneada pela reologia, ou seja, pelos diferentes
comportamentos materiais que apresenta ao resistir à deformação. Por sua vez, a
deformação do material depende da composição química (tijolos são frágeis;
barras de sabão, dúcteis) e da temperatura (cera fria é frágil; cera quente, dúctil).
De certa forma, a parte externa da Terra sólida comporta-se como uma bola de
20

cera quente. O resfriamento da superfície torna frágil a casca mais externa ou


litosfera (do grego lithos, "pedra"), a qual envolve uma quente e dúctil
astenosfera (do grego asthenes, "fraqueza"). A litosfera inclui a crosta e o topo
do manto até uma profundidade média de cerca de 100 km. Quando submetida a
uma força, a litosfera tende a se comportar como uma casca rígida e frágil,
enquanto a astenosfera sotoposta flui como um sólido moldável ou dúctil.
De acordo com a notável teoria da tectônica de placas, a litosfera não é
uma casca contínua; ela é quebrada em 12 grandes "placas" que se movem
sobre a superfície terrestre com taxas de alguns centímetros por ano. Cada placa
atua como uma unidade rígida distinta que se move sobre a astenosfera, a qual
também está em movimento. Ao formar uma placa, a litosfera pode ter uma
espessura de apenas alguns quilômetros nas áreas com atividade vulcânica e,
talvez, de até 200 km ou mais nas regiões mais antigas e frias dos continentes.
As descobertas das placas tectônicas na década de 1960 forneceu aos cientistas
a primeira teoria unificada para explicar a distribuição mundial dos terremotos e
dos vulcões, a deriva dos continentes, o soerguimento de montanhas e muitos
outros fenômenos geológicos.
Por que as placas se movem na superfície terrestre ao invés de se fixarem
completamente numa casca rígida? As forças que empurram e arrastam as
placas ao redor da superfície originam-se do motor térmico do manto sólido da
Terra, o qual causa convecção. Em termos gerais, a convecção é um mecanismo
de transferência de energia e de massa no qual o material aquecido ascende e o
resfriado afunda.
A convecção pode ocorrer em qualquer material que flui, seja um fluido ou
um sólido dúctil, quando é aquecido na base e resfriado no topo. A matéria quente
da base sobe sob a força do empuxo, pois se tornou menos densa que a matéria
que está sobre ela no topo. Quando alcança a superfície, ela perde calor e esfria
a partir do que se move lateralmente e se torna mais densa. No momento em que
adquire mais densidade que o material subjacente, ela afunda pela atração da
gravidade, como ilustrado na Figura 9. A circulação continuará durante o tempo
necessário para que o calor existente no interior seja transferido para a superfície
fria.
O movimento das placas é a manifestação superficial da convecção do
manto e nos referimos a todo esse sistema como o sistema das placas
21

tectônicas. Controlado pelo calor interno da Terra, o material quente do manto


sobe onde as placas se separam, e então começa a endurecer a litosfera. À
medida que se move para longe desse limite divergente, a litosfera esfria e torna-
se mais rígida. Porém, ela pode eventualmente afundar na astenosfera e arrastar
material de volta para o manto, nos bordos onde as placas convergem (Figura 9).
Assim como no sistema do clima (que envolve uma ampla variedade de
processos convectivos na atmosfera e nos oceanos), os cientistas estudam as
placas tectônicas usando simulações computadorizadas para representar o que
pensam ser os mais importantes componentes e interações. Eles revisam os
modelos cujas implicações estão em desacordo com os dados reais.

Figura 9. A água fervendo é um exemplo familiar da convecção. (b) Uma visão simplificada das correntes de
convecção no interior da Terra.

1.6.3. A evolução da vida


Todos os o organismos vivos e a matéria orgânica que produzem,
considerados como uma coisa só constituem a biosfera (do grego bios, "vida") da
Terra. A evolução da vida envolveu interações complexas entre biosfera,
atmosfera, hidrosfera e litosfera.
O inicio da vida, há pouco mais de 4 bilhões de anos, a atmosfera e a
hidrosfera primitivas da Terra já tinham se formado. Gases leves, como o
hidrogênio, escaparam para o espaço, deixando para trás gases mais pesados,
como vapor d' água, dióxido de carbono e dióxido de enxofre. Essa atmosfera
primitiva permitiu que quase todos os componentes da luz solar alcançassem a
superfície terrestre - incluindo os raios ultravioleta (UV), dos quais são danosos
para a vida. Na mesma época, havia dióxido de carbono e vapor d'água suficiente
para aprisionar o calor que se irradiava da superfície, mantendo a Terra quente.
22

Esse fenômeno é conhecido como efeito estufa, pois guarda analogia com o
aquecimento de uma estufa, onde o vidro deixa a luz passar, enquanto pouco
calor consegue sair.
De algum modo, a vida iniciou no efeito estufa da Terra, apesar da intensa
radiação UV e da atmosfera hostil, pobre em oxigênio. Evidências diretas, embora
atualmente questionadas, residem na preservação dos primeiros fósseis (traços
de organismos da época geológicas passadas preservados na crosta). Fosseis de
bactérias primitivas foram encontrados em rochas datadas de 3,5 bilhões de anos.
Uma linha de evidências mais efetiva, embora indireta, é fornecida pela
composição da matéria orgânica preservada nas rochas dessa idade. Esses
remanescentes químicos dos organismos antigos estão rapidamente
ultrapassando a evidência fóssil como sendo a principal base para o
entendimento da evolução primitiva da vida na Terra.
Há uma forte probabilidade, entretanto, de que a vida tenha originado-se
em época anterior, talvez há 4 bilhões de anos ou mesmo antes. O primeiro
degrau até a evolução da bactéria primitiva é pensado como sendo a reunião de
grandes moléculas de gases, como o metano e a amônia. A energia para essas
transformações foi suprida pela forte radiação UV. Esse degrau tem sido
explorado em muitos experimentos químicos que mostram como esses diversos
tijolos fundamentais da vida poderiam ter se formado. De alguma maneira, essas
moléculas orgânicas agregaram-se e formaram sistemas capazes de crescer e
metabolizar. Esses sistemas não eram propriamente a vida, pois não se
reproduziam, de sorte que são chamados de protovida. Alguns cientistas
argumentam que a protovida foi concentrada em nascentes quentes alimentadas
por vulcões no assoalho do oceano.
O próximo degrau critico foi o desenvolvimento da primeira molécula
verdadeiramente auto-replicável: o ácido ribonucleico (RNA). Essa molécula com
uma única cadeia de nucleotídeos - assim como seu primo com duas cadeias, o
ácido desoxirribonucleico (DNA) - é envolvida intimamente no processo de auto-
replicação. O “mundo do RNA" foi transitório e logo evoluiu para o "mundo do
DNA", mais complexo, o qual caracterizou a biosfera pelo resto da história
geológica.
Nem todos os cientistas aprovam essas hipóteses. Poucos deles acreditam
que o impacto de cometas trouxe para a Terra não apenas os gases da atmosfera
23

e os oceanos, mas também a própria vida. De acordo com essa visão, a vida na
Terra iniciou quando cometas caíram - bolas de gelo e gases congelados – e
"colonizaram" o planeta. Um cientista propôs que o constante bombardeamento
da Terra nesses tempos iniciais pode muito bem ter destruído a vida logo depois
que ela fora sintetizada. Se isso de fato ocorreu, a vida teria reiniciado diversas
vezes.
Esses estágios primitivos da origem da vida, provavelmente, não afetaram
de modo importante a atmosfera, a qual permaneceu composta dominantemente
por nitrogênio e dióxido de carbono.
O oxigênio torna-se o principal gás da atmosfera. Os organismos
primitivos devem ter fornecido quantidades relativamente pequenas de matéria
orgânica produzida por processos químicos inorgânicos ou reciclada de outros
organismos. A principal mudança ocorreu quando a vida evoluiu para fazer seu
próprio alimento por meio da fotossíntese. Esse é o processo pelo qual as plantas
e outros organismos verdes utilizam a clorofila (que os colore de verde) e a
energia da luz solar para produzir carboidratos a partir do dióxido de carbono e da
água.
A evolução da fotossíntese no início da história geológica da Terra teve
imensas consequências. Um produto derivado da fotossíntese é o oxigênio (O2).
À medida que a matéria orgânica da vida fotossintética era soterrada, o carbono
era removido da atmosfera e o oxigênio, acumulado. A partir das evidências
fósseis, parece que processos semelhantes ocorreram há 2,5 bilhões de anos. Os
geólogos encontraram rochas de ferro bandeado muito antigas, com idade de 2,5
bilhões de anos, que foram oxidadas ("enferrujadas") durante sua formação,
indicando que havia mais oxigênio na atmosfera naquele tempo. O aumento para
os atuais níveis de oxigênio atmosférico é agora pensado como o resultado de
uma série de etapas crescentes ocorridas num período de tempo de pelo menos 2
bilhões de anos .
Quando as moléculas de oxigênio atmosférico difundiram-se para a
estratosfera (atmosfera superior), foram transformadas pela radiação solar em
ozônio (O3) criando uma camada estratosférica de ozônio. A camada de ozônio
absorve certas porções de radiação UV antes que atinjam a superfície, onde
poderiam prejudicar e causar mutações nas células de animais e plantas. Sem
esse escudo protetor, a vida não teria florescido na Terra.
24

O "Big Bang" biológico. Comparada com a vida atual, a vida no início da


Terra era uma coisa primitiva, consistindo basicamente em pequenos organismos
unicelulares que flutuavam próximo à superfície dos oceanos ou viviam no fundo
dos mares. Entre 1 e 2 bilhões de anos atrás, a vida tomou-se multicelular,
quando algas e algas marinhas foram originadas. Então, por razões não muito
bem entendidas, os primeiros animais entraram em cena há cerca de 600 milhões
de anos, evoluindo numa sequência de ondas. A primeira onda produziu formas
simples, semelhantes a águas-vivas e a samambaias com corpos leves, bem
como seres de corpo duro com formas lembrando taças de vinho com buracos
(Figura 10). Muito rapidamente foram extintas, embora poucas possam ter servido
como protótipos para uma segunda onda, a qual constituiu a maior diversificação
de novas formas de vida na história da Terra.

Figura 10. Os fósseis que registram a explosão do Cambriano incluem fósseis calcificados do Pré-Cambriano
(esquerda), que foram os primeiros organismos a utilizar caleita na produção da concha. Eles foram extintos no limite
Pré-Cambriano-Cambriano, junto com outros organismos, e abriram caminho para outro estranho grupo de novos
organismos, incluindo o Hallucigenia (centro) e os mais familiares trilobitas (direita). Esses dois últimos formaram
carapaças frágeis de material orgânico similar às unhas

Num breve período iniciado há 543 milhões de anos e, provavelmente, com


uma duração menor que 10 milhões de anos, oito ramos (filas) inteiramente novos
do reino animal foram estabelecidos, incluindo os ancestrais de quase todos os
animais que conhecemos hoje. Formas mais familiares incluem vermes terrestres
25

e seus correlativos marinhos, estrelas-do-mar e bolachas-da-praia,12 moluscos,


insetos, crustáceos e os cordados que, finalmente, evoluíram para os animais
superiores (inclusive nós). Outros tipos de animais, agora extintos, tais como os
trilobitas, com sua aparência primitiva (ver Figura 10), também passaram a existir.
Foi durante essa explosão evolutiva, às vezes refelida como "Big Bang" ("grande
explosão") da biologia, que animais cujo corpo continha partes duras e ricas em
cálcio deixaram pela primeira vez carcaças fósseis no registro geológico.
Extinções em massa por eventos extremos. Embora a evolução
biológica seja comumente vista como um processo muito lento, as tendências
evolutivas mais amplas foram frequentemente pontuadas por breves períodos de
mudança rápida. Um primeiro exemplo notável é o da explosão evolutiva que
acabamos de descrever. Igualmente espetaculares foram as extinções em massa
durante as quais muitos tipos de animais e plantas desapareceram subitamente
do registro geológico. Cinco dessas imensas reviravoltas estão indicadas na
Figura 9. A última, já discutida neste capítulo, foi causada pelo impacto de um
grande bólido há 65 milhões de anos. Esse evento extremo encerrou a Idade dos
Dinossauros.
As causas das outras extinções ainda estão sendo debatidas. Além do
impacto de bólidos, os cientistas têm proposto outros tipos de eventos extremos,
como variações climáticas rápidas ocasionadas por glaciações e enormes
erupções de material vulcânico. As evidências são frequentemente ambíguas ou
inconsistentes. Por exemplo, o maior evento de extinção de todos os tempos
ocorreu há cerca de 250 milhões de anos, varrendo 95% de todas as espécies.
Um impacto de um bólido tem sido proposto por alguns investigadores, mas o
registro geológico mostra que as capas de gelo se expandiram nessa época e que
houve mudança da composição química da água do mar, o que seria consistente
com uma grande crise climática. Simultaneamente, uma enorme erupção
vulcânica cobriu uma área na Sibéria com quase a metade do tamanho dos
Estados Unidos, com 2 ou 3 milhões de quilômetros cúbicos de lava. Essa
extinção em massa foi batizada de "Assassino do Expresso Oriente", pois existem
suspeitos!
26

CAPÍTULO 2. MINERAIS. CONSTITUINTES BÁSICOS DAS


ROCHAS
Os minerais são os constituintes básicos das rochas: na maioria dos
casos, com ferramentas apropriadas, pode-se separar cada um dos minerais que
as constituem.
Poucos tipos de rochas, como os calcários, contêm apenas um mineral
(nesse caso, a calcita). Outros tipos, como o granito, são constituídos de vários
minerais diferentes. Para identificar e classificar os diversos tipos de rochas que
compõem a Terra e entender como se formaram, devemos conhecer os minerais.
Os geólogos definem um mineral como uma substância de ocorrência
natural, sólida, cristalina, geralmente inorgânica, com uma composição química
específica. Os minerais são homogêneos: não podem ser divididos, por meios
mecânicos, em componentes menores. Vamos examinar detalhadamente a seguir
cada parte da nossa definição de mineral.
De ocorrência natural... Para ser qualificada como um mineral, uma
substância deve ser encontrada na natureza. Os diamantes que são retirados das
minas da África do Sul são minerais. Os exemplares sintéticos, produzidos em
laboratórios industriais, não são considerados minerais, nem os milhares de
produtos inventados pelos químicos.
Substância sólida cristalina ... Os minerais são substâncias sólidas -
não são líquidos nem gases. Quando dizemos que um mineral é cristalino,
queremos nos referir ao fato de que as minúsculas partículas de matéria, ou
átomos, que o compõem estão dispostas em um arranjo tridimensional ordenado
e repetitivo. Os materiais sólidos que não têm um arranjo ordenado desse tipo são
considerados vítreos ou amorfos (sem forma) e por convenção não são
considerados minerais. O vidro de janela é amorfo, como também alguns vidros
naturais formados durante as erupções vulcânicas.
Geralmente inorgânico... Os minerais são definidos como substâncias
inorgânicas, excluindo assim os materiais orgânicos que formam os corpos das
plantas e dos animais. A matéria orgânica é composta de carbono orgânico, que é
a forma de carbono encontrada em todos os organismos vivos ou mortos. A
vegetação em decomposição em um pântano pode ser transformada, por
processos geológicos, em carvão, que também é feito de carbono orgânico, mas,
27

embora forme depósitos naturais, o carvão não é tradicionalmente considerado


um mineral. Muitos minerais são, entretanto, secretados por organismos. Um
desses minerais, a calcita (Figura 11), forma as conchas de ostras e de muitos
outros organismos e contém carbono inorgânico. A calcita dessas conchas, que
constitui a parte principal de muitos calcários, satisfaz a definição de mineral, por
ser inorgânica e cristalina.

Figura 11. O mineral calcita é encontrado nas conchas de muitos organismos, como os foraminíferos.

...Com uma composição química específica A chave para entendermos


a composição dos materiais que formam a Terra reside em conhecer como os
elementos químicos estão organizados nos minerais. O que torna cada mineral
único é a sua composição química e a forma como estão dispostos os átomos na
sua estrutura interna. A composição química de um mineral, dentro de limites
definidos, tanto pode ser fixa como variável. O quartzo, por exemplo, tem uma
proporção fixa de quatro átomos de oxigênio para um de silício. Essa proporção
nunca muda, embora o quartzo possa ser encontrado em muitos tipos de rochas.
Os componentes da olivina - ferro, magnésio e silício sempre ocorrem em uma
proporção fixa. Embora a razão entre o número de átomos de ferro e magnésio
possa variar, a proporção entre a soma dos mesmos e o total de átomos de silício
sempre permanece constante.

2.1. A ESTRUTURA ATOMICA DA MATÉRIA


Os dicionários modernos listam muitos significados para a palavra átomo
e seus derivativos. Uma das primeiras definições encontradas é "...algo
considerado como a menor parte possível de qualquer material". Para os gregos
antigos, átomo significava "indivisível". John Dalton (1766-1844), um químico
28

inglês, considerado o pai da teoria atômica moderna, propôs que os átomos


fossem partículas de matéria de vários tipos, tão pequenas que não poderiam ser
vistas com qualquer microscópio e tão universais que comporiam todas as
substâncias. Em 1805, Dalton formulou a hipótese de que cada elemento químico
consiste em diferentes tipos de átomos, todos os átomos de um dado elemento
químico são idênticos e os compostos químicos são formados por várias
combinações de átomos de diferentes elementos em proporções definidas.
No início do século XX, os físicos, químicos e mineralogistas, trabalhando
a partir das idéias de Dalton, conseguiram entender a estrutura da matéria de
uma forma muito próxima daquela aceita atualmente. Sabemos hoje que um
átomo é a menor parte de um elemento que conserva as propriedades físicas e
químicas deste. Também sabemos que os átomos são as menores unidades de
matéria que se combinam nas reações químicas e que os próprios átomos são
divisíveis em unidades ainda menores.

2.1.1. A estrutura de um átomo


O conhecimento da estrutura dos átomos permite-nos predizer como os
elementos químicos irão reagir uns com os outros, formando novas estruturas
cristalinas.
29

O núcleo: prótons e
nêutrons No centro de cada átomo
há um núcleo denso, no qual está
contida virtualmente toda a massa
do átomo, e que é composto de dois
tipos de partículas: prótons e
nêutrons (Figura 12). O próton tem
uma carga elétrica positiva +1. O
nêutron é eletricamente neutro - isto
é, sem carga. Os átomos de um
mesmo elemento químico podem ter
diferentes números de nêutrons,
mas o número de prótons não varia.
Por exemplo, todos os átomos de
carbono têm seis prótons.
Figura 12. Estrutura eletrônica do átomo de carbono (carbono-12). Os elétrons, cada um com carga -1, são
representados como uma nuvem carregada negativamente, que circunda o núcleo; este contém seis prótons, cada
qual com carga +1, e seis nêutrons, cada qual com carga +1, e seis nêutrons, cada qual com carga zero. No desenho, o
tamanho do núcleo está representado numa escala muito exagerada em relação ao da nuvem eletrônica, sendo, na
realidade, muito menor.

Elétrons Circundando o núcleo há uma nuvem de partículas em


movimento, os elétrons, cada qual com uma massa tão pequena que, por
convenção, é considerada de valor zero. Cada elétron tem uma carga elétrica -1.
O número de prótons de qualquer átomo é balanceado pelo mesmo número de
elétrons da nuvem que circunda o núcleo; portanto, um átomo é eletricamente
neutro. Assim, o núcleo de um átomo de carbono é circundado por seis elétrons
(ver Figura 12).

2.1.2. Número atômico e massa atômica


O número de prótons do núcleo de um átomo é chamado número
atômico. Como todos os átomos de um mesmo elemento tem igual número de
prótons, então, eles também têm o mesmo número atômico. Todos os átomos
com seis prótons, por exemplo, são átomos de carbono (número atômico 6). De
fato, o número atômico de um elemento pode nos dizer tantas coisas sobre o seu
30

comportamento, que a tabela periódica foi organizada de acordo com esse


número (Figura 13). Por exemplo, os elementos de uma mesma coluna, tais como
carbono e silício, tendem a reagir de forma similar.

Figura 13. A tabela periódica organiza os elementos em ordem crescente de número atômico (nas linhas, da esquerda
para a direita), Os elementos de particular importância geológica estão realçados.

A massa atômica de um elemento é a soma das massas de seus prótons


e nêutrons. (Os elétrons, por terem uma massa muito pequena, não são incluídos
nessa soma.) Embora o número de prótons seja constante, os átomos de um
mesmo elemento químico podem ter diferentes números de nêutrons e, portanto,
diferentes massas atômicas. Esses vários tipos de átomos são chamados de
isótopos. Todos os isótopos do elemento carbono, por exemplo, têm seis prótons,
podendo ter 6, 7 e 8 nêutrons, cujas massas atômicas serão, portanto, 12, 13 e
14, respectivamente.
Na natureza, os elementos químicos existem como misturas de isótopos
e, assim, suas massas atômicas nunca são números inteiros. A massa atômica do
carbono, por exemplo, é 12,011. É próxima a 12, porque o isótopo carbono-12 é,
de longe, muito mais abundante. A abundância relativa entre os diferentes
isótopos de um elemento na Terra é determinada por processos específicos que
causam o aumento da quantidade de alguns isótopos em relação aos outros. A
31

maior abundância do carbono 12, por exemplo, é favorecida por algumas reações,
tais como a fotossíntese, nas quais os compostos de carbono orgânico são
produzidos a partir de compostos de carbono inorgânico.

2.1.3. Reações químicas


A estrutura de um átomo determina suas reações químicas com os
demais. As reações químicas são interações entre átomos de dois ou mais
elementos químicos em certas proporções fixas, produzindo novas substâncias
químicas - os compostos químicos. Por exemplo, quando dois átomos de
hidrogênio combinam-se com um de oxigênio, formam um novo composto
químico que chamamos de água (H2O). As propriedades de um composto químico
formado no decorrer de uma reação podem ser inteiramente diferentes daquelas
dos seus elementos constituintes. Por exemplo, quando um átomo de sódio, um
metal, combina-se com um átomo de cloro, um gás nocivo, forma-se o composto
químico cloreto de sódio, mais conhecido como sal de cozinha. Representa-se
esse composto pela fórmula química NaCl, na qual o símbolo Na refere-se ao
elemento sódio e o Cl, ao cloro (a cada elemento químico foi atribuído um símbolo
próprio, que se usa à maneira de uma notação taquigráfica, para escrever
fórmulas e equações químicas).
Os compostos químicos, tais como os minerais, são formados por
transferências de elétrons entre os átomos reagentes ou por
compartilhamento de elétrons entre eles. Na reação entre os átomos de sódio
(Na) e de cloro (CI), para formar cloreto de sódio (NaCI), o átomo de sódio perde
um elétron, que é transferido para o cloro (Figura 14), Como o átomo de cloro
recebeu um elétron com carga negativa, ficou agora carregado negativamente (Cl-
), Da mesma forma, a perda de um elétron dá ao sódio uma carga positiva (Na+).
O composto NaCI permanece eletricamente neutro, pois a carga positiva do Na + é
exatamente balanceada pela carga negativa do Cl-. Um íon carregado
positivamente é denominado de cátion, e um íon carregado negativamente é
chamado de ânion.
32

Figura 14. O sal de cozinha, NaCI, é formado pela reação entre átomos de cloro e de sódio

Os átomos que não reagem por meio de perdas ou ganhos de elétrons


combinam-se quimicamente por compartilhamento de elétrons. O carbono e o
silício, dois dos mais abundantes elementos da crosta terrestre, tendem a formar
compostos por meio de compartilhamento de elétrons. O diamante é um
composto formado inteiramente por átomos de carbono que compartilham
elétrons entre si (Figura 15).

2.1.4. Ligações químicas


Os íons ou átomos de elementos que formam os compostos são mantidos
juntos por forças de atração entre elétrons e prótons, que chamamos de ligações
químicas. As atrações químicas entre elétrons compartilhados ou elétrons cedidos
ou ganhos podem ser fortes ou fracas e as ligações criadas por essas atrações
podem ser consequentemente fortes ou fracas. As ligações fortes impedem que a
substância decomponha-se quimicamente nos seus elementos constituintes ou
em outros compostos. Elas também tornam os minerais duros e impedem que
eles se quebrem ou se dividam em partes. Existem dois principais tipos de
ligações nos minerais que formam as rochas: as ligações iônicas e as covalentes.
33

Figura 15. O compartilhamento de elétrons no diamante. O mineral diamante é composto por um único elemento, o
carbono. Cada átomo de carbono compartilha seus quatro elétrons com quatro átomos de carbono adjacentes.

2.1.5. Ligações iônicas


A forma mais simples de ligação química é a ligação iônica. As ligações
desse tipo formam-se pela atração elétrica entre íons de cargas opostas, como o
Na+ e o Cl- no cloreto de sódio (ver Figura 14). Essa atração é exatamente do
mesmo tipo da eletricidade estática que faz com que as roupas de náilon ou de
seda fiquem grudadas ao nosso corpo. A força de uma ligação iônica diminui
muito à medida que a distância entre os íons aumenta e é mais forte se as cargas
elétricas destes forem maiores. As ligações iônicas são predominantes nas
estruturas cristalinas: cerca de 90% de todos os minerais são compostos
essencialmente iônicos.

2.1.6. Ligações covalentes


Os elementos que não ganham nem perdem elétrons facilmente para
formar íons e que, ao invés disso, formam compostos por compartilhamento
eletrônico ligam-se uns aos outros por meio de ligações covalentes, que são, em
geral, mais fortes que as ligações iônicas. Um exemplo de mineral com estrutura
cristalina ligada por meio de covalência é o diamante, que se compõe unicamente
do elemento carbono. Os átomos de carbono têm quatro elétrons na camada de
valência e adquirem mais quatro por compartilhamento. No diamante, cada átomo
34

de carbono (nesse caso, não se trata de íon) é circundado por quatro outros
átomos, dispostos segundo um tetraedro regular, ou seja, uma forma piramidal de
quatro faces triangulares (ver Figura 15). Nessa configuração, cada átomo de
carbono compartilha um elétron com cada um de seus átomos vizinhos, o que
resulta em uma configuração muito estável. A Figura 5 mostra um retículo
formado por tetraedros de carbono ligados entre si.
Os átomos de elementos metálicos, que têm forte tendência de perder
elétrons, são empacotados como se fossem cátions e os elétrons, que
permanecem livres para mover-se, são compartilhados e ficam dispersos entre os
íons. Esse compartilhamento de elétrons livres resulta em um tipo de ligação
covalente chamada de ligação metálica, que ocorre em poucos minerais, entre
eles, o cobre metálico e alguns sulfetos.
As ligações químicas de alguns minerais têm caráter intermediário entre
ligações puramente iônicas e puramente covalentes, pois alguns elétrons são
trocados, enquanto outros são compartilhados.

2.2. A ESTRUTURA ATÓMICA DOS MINERAIS


Os minerais podem ser estudados segundo dois pontos de vista
complementares: como cristais (ou grãos) que podem ser vistos a olho nu, ou
como agrupamentos de átomos submicroscópicos organizados segundo um
arranjo tridimensional ordenado. De agora em diante, vamos estudar em detalhe
as formas ordenadas que caracterizam a estrutura dos minerais e as condições
em que são formados.
2.2.1. Como se formam os minerais?
Os minerais formam-se pelo processo de cristalização, que é o
crescimento de um sólido a partir de um gás ou líquido cujos átomos constituintes
agrupam-se segundo proporções químicas e arranjos cristalinos adequados
(lembre-se de que os átomos dos minerais são organizados segundo um arranjo
tridimensional ordenado). Um exemplo de cristalização e estrutura cristalina são
as ligações de átomos de carbono do diamante, que é um mineral constituído por
ligações covalentes. Os átomos de carbono juntam-se em tetraedros, cada qual
ligado a outros, constituindo uma estrutura tridimensional regular a partir de um
grande número de átomos. À medida que o cristal de diamante cresce, estende
sua estrutura tetraédrica em todas as direções, sempre adicionando novos
35

átomos e seguindo um arranjo geométrico próprio. Os diamantes podem ser


sintetizados em altas temperaturas e pressões, que reproduzem as condições do
manto terrestre.
Os íons sódio e cloreto, que constituem o cloreto de sódio, minerais cujas
ligações são iônicas, também cristalizam segundo um arranjo tridimensional
ordenado. Na Figura 16a, podemos ver como é a geometria desse agrupamento,
onde cada íon de um elemento é circundado por seis íons do outro, formando
uma série de estruturas cúbicas que se estendem em três direções. Podemos
assim considerar os íons como se fossem esferas rígidas, empacotadas em
conjunto e formando unidades estruturais que se ajustam precisamente. A Figura
16b mostra as dimensões relativas dos íons no NaCl, cuja unidade estrutural
básica contém seis íons vizinhos uns dos outros, sendo que os tamanhos
relativos dos íons sódio e cloreto permitem que eles se encaixem em um arranjo
precisamente ajustado.

Figura 16. Estrutura do cloreto de sódio. (a) As linhas tracejadas entre os íons mostram a geometria cúbica desse
mineral; elas não estão representando ligações. Note que cada íon sódio é circundado por seis íons cloreto. (Os íons
não foram desenhados em escala). (b) Os tamanhos relativos entre os íons sódio e cloreto permitem que eles se
empacote conjuntamente, em uma estrutura cúbica. A ilustração mantém a proporcionalidade entre os tamanhos
dos íons.
36

Nos minerais mais comuns, a maioria


dos cátions é pequena a dos ânions é
grande (Figura 7), como é o caso do
ânion mais comum na Terra, o
oxigênio. Como os ânions tendem a
serem maiores que os cátions, é
evidente que a maior parte do espaço
de um cristal é ocupada por ânions e
que os cátions ocupam os espaços
entre estes. Como consequência, as
estruturas cristalinas são em grande
parte determinadas pela forma como
os ânions estão dispostos e pela
maneira como os cátions se colocam
entre eles.
Os cátions com tamanhos e cargas
semelhantes tendem a substituir-se
mutuamente e formar compostos de
mesma estrutura cristalina, mas com
composições químicas diferentes. A
substituição catiônica é comum em
minerais contendo o íon silicato (SiO44-
) e esse processo pode ser ilustrado
Figura 17. Os tamanhos dos íons, na forma em que são
pela olivina, um mineral do tipo silicato comumente encontrados em minerais formadores de
-8
rocha. Os raios iônicos são dados em 10 cm.
que é abundante em muitas rochas
vulcânicas.
Os íons ferro (Fe2+) e magnésio (Mg2+) têm tamanhos semelhantes e duas
cargas positivas, podendo então substituir-se mutuamente com muita facilidade
na estrutura da olivina. A composição da olivina puramente magnesiana é
Mg2SiO4, e a da olivina puramente ferrífera é Fe2SiO4. A composição da olivina
contendo ferro e magnésio é dada pela fórmula (Mg, Fe)2SiO4 o que significa
simplesmente que o número de cátions de ferro e de magnésio pode variar, mas
seu total combinado (expresso pelo número 2 na fórmula da olivina) não muda em
37

relação a cada Íon SiO44-. A proporção entre ferro e magnésio é determinada pela
abundância relativa dos dois elementos no material fundido a partir do qual a
olivina cristalizou-se. Em muitos minerais silicáticos, o alumínio (Al) substitui o
silício (Si). Os íons alumínio e silício são tão similares em tamanho que o primeiro
pode tomar o lugar do segundo em muitas estruturas cristalinas. A diferença de
carga entre o alumínio (3+) e o silício (4+) é então compensada pelo aumento do
número de outros cátions, como o sódio (1 +).
A cristalização começa com a formação de cristais microscópicos
individuais, que são arranjos tridimensionais ordenados de átomos, nos quais o
arranjo básico repete-se em todas as direções. Os limites dos cristais são
superfícies planas chamadas de faces cristalinas. As faces cristalinas de um
mineral são a expressão externa da estrutura atômica interior. Na Figura 18 são
mostrados desenhos de cristais perfeitos (que raramente ocorrem na natureza)
junto com fotografias de dois minerais.

Figura 18. Cristais perfeitos. Os cristais perfeitos são raros, mas, independentemente do grau de irregularidade das
faces, os ângulos são exatamente os mesmos.

Os cubos dos cristais de halita, com suas formas geométricas simples,


correspondem ao arranjo cúbico de seus íons. A forma sextavada (hexagonal) do
cristal de quartzo corresponde a sua estrutura atômica interna hexagonal.
38

Os grandes cristais com faces bem definidas formam-se quando o


crescimento é lento e estável e quando há espaço adequado para permitir o
crescimento sem interferência de outros cristais próximos. Por essa razão, a
maioria dos grandes cristais forma-se em espaços abertos (Figura 19).

Entretanto, comumente ou os
espaços entre os cristais em
crescimento encontram-se
preechidos ou, então, a cristalização
ocorre com muita rapidez. Dessa
forma, os cristais acabam crescendo
uns sobre os outros e coalescem
para se tornar uma massa sólida de
partículas cristalinas, chamadas de
grãos. Nesse caso, poucos grãos ou
nenhum terão faces cristalinas (ver
Figura 19). Cristais suficientemente
grandes para serem vistos a olho nu
são raros, mas muitos dos minerais
microscópicos nas rochas têm faces
cristalinas.

Figura 19. Amostra de ametista, com cristais e bem formados

Diferentemente dos minerais cristalinos, os materiais vítreos - que, por se


solidificarem tão rapidamente a partir de líquidos, não têm qualquer ordem
atômica interna - não formam cristais com faces planas. Ao invés disso, eles são
encontrados como massas com superfícies curvas, irregulares. O mais comum
dos vidros é o vidro vulcânico.
Quando se formam os minerais?
Uma maneira de se começar um processo de cristalização é diminuir a
temperatura de um líquido abaixo de seu ponto de congelamento. Para a água,
por exemplo, 0°C é a temperatura abaixo da qual os cristais de gelo, que é um
39

mineral, começam a se formar. Da mesma forma, um magma - que é uma rocha


líquida derretida quente - cristaliza minerais sólidos à medida que se resfria.
Quando a temperatura de um magma cai abaixo do seu ponto de fusão, que pode
ser mais alto que 1.000°C, os cristais de silicatos como a olivina ou o feldspato
começam a se formar. (Os geólogos normalmente utilizam ponto de fusão de
magmas em vez de ponto de congelamento, pois esta palavra, em geral, implica
temperaturas baixas).

Outro conjunto de condições capaz


de produzir cristalização é aquele
que ocorre quando os líquidos de
uma solução evaporam. Uma solução
forma-se quando uma substância
química é dissolvida em outra, como
o sal na água. À medida que a água
evapora de uma solução salina, a
concentração de sal torna-se tão alta
que a solução é dita saturada - não
pode mais conter sal. Se a
evaporação continuar, o sal começa
a precipitar, isto é, abandona a
solução sob a forma de cristais.
Depósitos de halita, que é o sal de
cozinha, formam-se exatamente
nessas condições, ou seja, quando a
água do mar evapora até o ponto de Figura 20. Um depósito de halita do Sultanato de Omã.
Esse depósito, que tem mais de 500 milhões de anos, foi
saturação, em baías ou braços de amostrado por uma sondagem profunda. A banda negra é
matéria orgânica concentrada, derivada de
mares de climas quentes e áridos microrganismos que viveram em ambientes
extremamente hipersalinos, formados quando um antigo
(Figura 20). oceano secou.

O diamante e a grafita (que é usada na fabricação de lápis) exemplificam


os efeitos dramáticos que a temperatura e a pressão podem exercer na
cristalização de minerais. Esses dois minerais são polimorfos, ou seja, estruturas
alternativas de um único composto químico (Figura panorâmica 21). Ambos são
40

formados por carbono têm diferentes estruturas cristalinas e sua aparência é,


também, bastante diversa (Figura 21a e 21b). A partir de experimentos e da
observação geológica, sabemos que o diamante forma-se e mantém-se estavel
nas altas pressões e temperaturas do manto terrestre.

Figura 21. Os polimorfos de carbono e as estruturas dos silicatos.


41

A alta pressão do manto força os átomos do diamante a ficarem


fortemente empacotados e, portanto, o diamante tem uma densidade (massa por
unidade de volume) de 3,5 g/cm3, maior que a da grafita, que tem um
empacotamento menos fechado e uma densidade de apenas 2,1 g/cm3. A grafita
forma-se e permanece estável em pressões e temperaturas moderadas, tais
como as da crosta terrestre.
As baixas temperaturas também podem produzir empacotamentos
densos. O quartzo e a cristobalita são polimorfos de sílica (SiO2). O quartzo
forma-se em baixas temperaturas e é relativamente denso (2,7 g/cm3). A
cristobalita, que se forma em temperaturas mais altas, tem uma estrutura mais
aberta e, portanto, é menos densa.

2.3. MINERAIS FORMADORES DE ROCHA


Os minerais são classificados em oito grupos de acordo com sua
composição química, alguns minerais, como o cobre, ocorrem naturalmente como
elementos puros não-ionizados e são classificados como elementos nativos. A
maioria dos demais minerais é classificada de acordo com seus ânions. A olivina,
por exemplo, é classificada como silicato por causa de seu ânion, que tem a
fórmula SiO44-. A halita (NaCl) e sua parente próxima, a silvita, que é o cloreto de
potássio (KCl), são ambas classificadas como haletos por causa de seu ânion, o
Cl-.
Embora se conheçam milhares de minerais, os geólogos comumente se
deparam com pouco mais de 30 minerais diferentes, sendo esses os principais
constituintes da maioria das rochas crustais e, por esse motivo, denominados de
minerais formadores de rochas. O pequeno número de minerais formadores de
rochas existentes é conseqüência do reduzido número de elementos encontrados
dentre os mais abundantes da crosta terrestre. Como aprendemos no Capítulo 1,
99% da crosta são constituídos por somente nove elementos.
Nas páginas seguintes, vamos estudar os minerais formadores de rochas
mais comuns, quais sejam:
• Silicatos, os minerais mais abundantes da crosta terrestre, são
formados pela combinação de oxigênio (O) e silício (Si) – os dois elementos de
maior ocorrência na crosta - com cátions de outros elementos.
42

• Carbonatos são minerais constituídos de carbono e oxigênio, na forma


de ânion carbonato (CO32-) combinado com cálcio e magnésio. A calcita (CaCO3)
é um desses minerais.
• Óxidos são compostos de ânion oxigênio (O2-) e cátions metálicos; um
exemplo é o mineral hematita (Fe2O3).
• Sulfetos são compostos de ânion sulfeto (S2-) e cátions metálicos.
Nesse grupo está incluso o mineral pirita (FeS2).
• Sulfatos são compostos de ânion sulfato (SO42-) e cátions metálicos; o
grupo inclui o mineral anidrita (CaSO4).

2.3.1. SILICATOS
O constituinte básico de todas as estruturas dos minerais silicáticos é o
íon silicato. É um tetraedro - uma estrutura em pirâmide com quatro faces -
composto de um íon central de silício (Si4+) circundado por quatro íons oxigênio
(O2-), que configuram a fórmula SiO44- (Figura panorâmica 21c). Como o íon
silicato tem uma carga negativa, freqüentemente se liga a cátions para formar
minerais eletricamente neutros. O íon silicato liga-se tipicamente a cátions como
sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), e ferro (Fe2+).
Alternativamente, ele pode compartilhar íons oxigênio com outros tetraedros de
silício-oxigênio. Os tetraedros podem estar isolados (ligados somente a cátions),
como também podem ligar-se a outros tetraedros de sílica, formando anéis,
cadeias simples, cadeias duplas, folhas ou redes, alguns dos quais mostrados na
Figura panorâmica 21.

Tetraedros isolados Os tetraedros isolados são conectados por meio de


uma ligação a um cátion (Figura panorâmica 21d). Os cátions, por sua vez, ligam-
se aos íons oxigênio de outros tetraedros. Os tetraedros são, assim, isolados uns
dos outros por meio de cátions, que os separam por todos os lados. A olivina é
um dos minerais formadores de rochas que apresenta essa estrutura.
Arranjos em cadeias simples As cadeias simples formam-se também
por compartilhamento de íons oxigênio. Dois íons de oxigênio de cada tetraedro
ligam-se a tetraedros adjacentes em umna cadeia de extremidade aberta (Figura
panorâmica 21e). as cadeias individuais ligam-se a outras cadeias por meio de
cátions. Os minerais do grupo dos piroxênios são silicatos de cadeias simples. A
43

enstatita, um piroxênio, é composta de íons de ferro ou magnésio, ou ambos, e


sua estrutura é limitada a uma cadeia única de tetraedros, na qual os dois cátions
podem substituir-se mutuamente, como na olivina. A fórmula (Mg, Fe)SiO3
representa essa estrutura.
Arranjos em cadeias duplas Duas cadeias simples podem combinar-se
para formar cadeias duplas ligadas umas às outras por íons oxigênio
compartilhados (Figura panorâmica 21f). Os minerais do grupo dos anfibólios têm
estruturas formadas por cadeias duplas adjacentes, ligadas por cátions. A
hornblenda, membro desse grupo, é um mineral extremamente comum nas
rochas ígneas e metamórficas. Sua composição é complexa, incluindo cálcio
(Ca2+), sódio (Na+), magnésio (Mg2+), ferro (Fe2+) e alumínio (Al3+).
Estruturas em folha Em estruturas do tipo folha, cada tetraedro
compartilha três dos seus íons oxigênio com outros tetraedros para formar
empilhamentos de folhas de tetraedros (Figura panorâmica 21g), sendo que, entre
as folhas de tetraedros, podem estar interacamados os cátions. Os silicatos mais
abundantes com estrutura em folha são as micas e os minerais de argila. A
moscovita, uma mica cuja fórmula é KAI3Si3O(OH)2, é um dos silicatos com
estrutura em folha mais comuns, podendo ser encontrada em muitos tipos de
rochas. A moscovita pode ser separada em folhas transparentes extremamente
finas. A caulinita (AI2Si2O5(OH)4) que tem a mesma estrutura em folhas, é um
argilomineral comum, encontrado em sedimentos, e constitui a matéria-prima
essencial para a fabricação de cerâmica.
Estruturas tridimensionais As redes tridimensionais formam-se à
medida que cada tetraedro compartilha todos os seus íons oxigênio com outros
tetraedros. Os feldspatos, que são os minerais mais abundantes da crosta
terrestre, bem como o quartzo (SiO2), outro mineral também muito comum, são
silicatos com redes tridimensionais de tetraedros (Figura panorâmica 21h).
Composição dos silicatos O silicato de composição química mais
simples é o dióxido de silício, também chamado sílica (SiO2), que é encontrado
mais frequentemente na forma do mineral quartzo. Quando os tetraedros de
silicato do quartzo se ligam, compartilhando dois íons oxigênio para cada íon
silício, a fórmula toma a configuração SiO2.
Em outros silicatos, as unidades básicas - anéis, cadeias, folhas e
estruturas tridimensionais - são ligadas a cátions tais como sódio (Na+), cálcio
44

(Ca2+), potássio (K+), magnésio (Mg2+) e ferro (Fe2+). Como já foi mencionado na
discussão sobre substituição de cátions, o alumínio (AI3+) substitui o silício em
muitos silicatos.

2.3.2. CARBONATOS
A calcita (carbonato de cálcio, CaCO3) é um dos minerais não-silicáticos
mais abundantes da crosta terrestre, sendo o constituinte principal de um grupo
de rochas, os calcários (Figura 22). O constituinte básico da calcita, o íon
carbonato (CO32-), consiste em um íon carbono circundado por três íons de
oxigênio, em um triângulo, como visto na Figura 22b. O átomo de carbono
compartilha elétrons com os átomos de oxigênio. Os grupos de íons carbonato
são dispostos em folhas, sendo, de certa forma, similares à estrutura dos silicatos
com estrutura foliácea, e são ligados por camadas de cátions (Figura 22c). As
folhas de íons carbonato na calcita são separadas por camadas de íons cálcio. O
mineral dolomita, cuja fórmula é CaMg(CO3)2 que é também um dos principais
minerais das rochas crustais, é constituído pelas mesmas folhas de carbonato,
separadas por camadas alternadas de íons cálcio e magnésio.

Figura 22. Os carbonatos como a calcita (carbonato de cálcio, CaCO3), têm uma estrutura em camadas. (a) Calcário.
(b) Vista de topo do constituinte básico do carbonato, que é constituído por um íon carbono circundado, em um
triângulo, por três íons oxigênio, com uma carga total de -2. (c) Vista das camadas alternadas de íons cálcio e
carbonato.

2.3.3. ÓXIDOS
Os minerais do grupo dos óxidos são compostos nos quais o oxigênio é
ligado a átomos ou cátions de outros elementos, normalmente íons metálicos
como o ferro (Fe2+ ou Fe3+). A maioria dos óxidos tem ligações iônicas e suas
estruturas são variáveis de acordo com o tamanho dos cátions metálicos. Esse
45

grupo de minerais tem grande importância econômica, pois inclui os minérios da


maioria dos metais, tais como cromo e titânio, usados na indústria e nas
aplicações tecnológicas de materiais e aparelhos metálicos. A hematita (Fe2O3),
mostrada na Figura 23, é o principal minério de ferro.
Outro abundante mineral desse grupo, o espinélio, é um óxido de dois
metais, magnésio e alumínio (MgAI2O4). O espinélio (Figura 23) tem uma
estrutura cúbica fortemente empacotada e alta densidade (3,6 g/cm 3), refletindo
as condições de alta pressão e temperatura em que se forma.

Figura 23. Minerais que não fazem parte do grupo dos silicatos: hematita (esquerda); espinélio (direita).

2.3.4. SULFETOS
Os principais minérios de muitas substâncias importantes – tais como
cobre, zinco e níquel - são membros do grupo dos sulfetos. Esse grupo é formado
pelos compostos do Íon sulfeto (S2-) com cátions metálicos. No Íon sulfeto, um
átomo de enxofre recebeu dois elétrons em sua camada mais externa. Muitos dos
sulfetos parecem metais e quase todos são opacos. O sulfeto mais comum é a
pirita (FeS2), também chamada de "ouro de tolo", devido à sua semelhança com o
ouro (Figura 24).

2.3.5. SULFATOS
A unidade básica de todos os sulfatos é o íon sulfato (SO 42-). Trata-se de
um tetraedro composto por um átomo central de enxofre circundado por quatro
íons de oxigênio (O2-). Um dos minerais mais abundantes desse grupo é a gipsita,
o componente primário do gesso (Figura 25). A gipsita forma-se quando a água
do mar evapora. Durante a evaporação, o Ca2+ e o SO42-, dois Íons abundantes
46

na água do mar, combinam-se e precipitam como camadas de sedimento,


formando sulfato de cálcio (CaSO4 • 2H2O)
Outro sulfato de cálcio, a anidrita (CaSO4), difere da gipsita por não conter
água. Seu nome é derivado da palavra anidro, que significa "sem água". A gipsita
é estável nas baixas temperaturas e pressões na superfície terrestre, enquanto a
anidrita é estável em temperaturas e pressões mais elevadas, típicas das rochas
sedimentares que sofreram soterramento.

Figura 24. Uma amostra de pirita, também conhecida Figura 245. A gipsita é um sulfato formado pela
como "ouro de tolo". evaporação da água do mar.

2.4. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS


Os geólogos usam seus conhecimentos sobre a composição e a estrutura
dos minerais para entender as·origens das rochas. Para Tanto, em primeiro lugar,
é necessário identificar os minerais que compõem a rocha, o que é feito por meio
de propriedades físicas e químicas, as quais podem ser observadas de modo
relativamente fácil. No século XIX e início do XX, os geólogos andavam com
estojos de campo para fazer testes químicos preliminares que ajudavam na
identificação dos minerais. Um desses testes deu origem à expressão "teste da
efervescência", que consiste em pingar uma gota de ácido clorídrico diluído (HCI)
no mineral para ver se de efervesce (Figura 26). A efervescência indica que o
dióxido de carbono (CO2) está escapando, o que significa que o mineral em
questão é provavelmente a calcita, um carbonato.
47

Figura 25. Teste com ácido clorídrico. Um método


fácil e eficaz para identificar certos minerais é pingar
ácido clorídrico diluído (HCI) na substância. Se ela
efervescer, indicando escape de dióxido de carbono,
o mineral provavelmente é a calcita.

A parte seguinte deste capítulo será dedicada a rever as propriedades


físicas dos minerais, muitas das quais lhes conferem valor de uso prático ou
decorativo.

2.4.1. Dureza
A dureza é a facilidade com que a superfície de um mineral pode ser
riscada. Da mesma forma que o diamante, o mineral mais duro da natureza, risca
o vidro, também o quartzo, que é mais duro que o feldspato, pode riscar este
último mineral. Em 1822, Friedrich Mohs, um mineralogista austríaco, construiu
uma escala (conhecida como escala de dureza de Mohs), baseada na facilidade
com que um mineral risca o outro. Num extremo da escala, está o mineral mais
mole (talco), e, no outro, o mais duro (diamante) (Tabela 3). A escala de Mohs é
ainda uma das melhores ferramentas para identificar um mineral desconhecido, e,
com uma faca de aço e amostras de alguns dos minerais que fazem parte da
escala de dureza, pode-se, no campo, determinar a posição que um mineral
desconhecido ocupa na escala. Por exemplo, se o mineral desconhecido puder
ser riscado por um pedaço de quartzo, mas não pela faca, a dureza, na escala,
estará entre 5 e 7.
48

Tabela 2. Escala de dureza de Mohs

Lembre-se de que as ligações covalentes são geralmente mais fortes que


as iônicas. A dureza de um mineral depende da força de suas ligações químicas:
quanto mais fortes as ligações, mais duro ele será. Também a estrutura cristalina
varia entre os minerais do grupo dos silicatos, o que se traduz em variações de
dureza. Por exemplo, a dureza varia desde 1, no talco (um silicato com estrutura
em folhas), até 8, no topázio (um silicato formado por tetraedros isolados). A
dureza da maioria dos silicatos varia entre 5 e 7, na escala de Mohs, e somente
aqueles com estrutura em folhas são relativamente moles, com dureza variável de
1 a 3.
Dentro de grupos específicos de minerais com estruturas cristalinas
similares, o aumento da dureza está relacionado a outros fatores, que também
aumentam a força das ligações, tais como:
• Tamanho: Quanto menores os átomos ou íons, menor a distância entre
eles, mais forte a atração elétrica e, portanto, mais forte a ligação.
• Carga: Quanto maior a carga dos íons, maior a atração entre eles e.
portanto, mais forte a ligação.
49

• Empacotamento dos átomos ou íons: Quanto mais fechado o


empacotamento de átomos ou íons, menor a distância entre eles e, portanto, mais
forte a ligação.

O tamanho é um fator de especial importância para a dureza da maioria


dos óxidos metálicos e sulfetos de metais com grande número atômico - tais
como ouro, prata, cobre e chumbo. Os minerais desses grupos são moles, com
dureza menor que 3, porque os cátions metálicos que os compõem são muito
grandes. Os carbonatos e sulfatos, grupos em que as estruturas têm
empacotamento menos denso, também são moles, com dureza menor que 5. Em
todos esses grupos, a dureza reflete a força das ligações químicas.

2.4.2. Clivagem
Clivagem é a tendência que um cristal apresenta de partir-se segundo
superfícies planares. A perfeição dessas superfícies varia inversamente com a
força das ligações: fortes ligações produziriam clivagens imperfeitas; ligações
fracas produziriam clivagens perfeitas ou boas. Como consequência de sua força,
as ligações covalentes geralmente produzem clivagens imperfeitas ou mesmo
nenhuma clivagem. As ligações iônicas são geralmente fracas e, assim,
produzem excelentes clivagens.
Se as ligações entre alguns dos planos de átomos de um cristal forem
fracas, pode-se forçar o mineral a separar-se ao longo desses mesmos planos. A
moscovita, que é um silicato da família das micas com estrutura em folhas,
quebra-se ao longo de superfícies planares, paralelas e lustrosas, formando
folhas transparentes com menos de 1 mm de espessura. A excelente clivagem
das micas é resultante da fraqueza das ligações entre as camadas de cátions
alternadas com folhas de tetraedros de sílica, formando "sanduíches" (Figura 27).
50

Figura 27. A clivagem da mica. O diagrama mostra os planos de clivagem na estrutura do mineral, orientados
perpendicularmente ao plano da página. As linhas horizontais marcam as interfaces entre as folhas de tetraedros de
sílica-oxigênio e as folhas de hidróxido de alumínio. Estas últimas ligam as duas camadas tetraédricas como se
fossem um "sanduíche". Os planos de clivagem localizam-se entre esses "sanduíches" compostos de tetraedros de
sílica e de hidróxido de alumínio. A fotografia mostra as finas folhas que se separam ao longo de planos de clivagem.

As clivagens são classificadas de acordo com dois grupos de


características: (1) número de planos e padrão de clivagem; (2) qualidade dos
planos de clivagem e facilidade com que o cristal se separa ao longo desses
planos.
Número de planos; padrão de clivagem O número de planos e os
padrões de clivagem são características diagnósticas para a identificação de
muitos minerais formadores de rochas. A moscovita, por exemplo, tem somente
um plano de clivagem, enquanto a calcita e a dolomita têm três excelentes
direções de clivagem, o que dá a elas uma aparência romboidal (Figura 28).
A estrutura de cada cristal determina a natureza dos seus planos de
clivagem e de suas faces cristalinas. Em um dado cristal, o número de planos de
clivagem será sempre menor que o de possíveis faces cristalinas, pois faces
podem formar-se ao longo de qualquer um dos muitos planos formados por
alinhamentos de átomos ou íons, enquanto a clivagem ocorrerá entre os planos
que tem ligações fracas entre si. Enquanto todos os cristais de um mesmo mineral
exibem a sua clivagem característica, somente alguns mostram suas faces
distintivas.
51

A galena (sulfeto de chumbo, PbS) e


a halita (cloreto de Sódio, NaCl)
clivam-se ao longo de três planos,
formando cubos perfeitos. A
existência de clivagens em ângulos
distintivos ajuda a identificar outro
importante grupo de silicatos, os
piroxênios e anfibólios, que, se não
fosse pelas clivagens, seriam muito
parecidos entre si. Os piroxênios são
silicatos de cadeias simples, ligadas
umas às outras com uma disposição
que provoca o surgimento de planos
de clivagem que formam ângulos
quase retos (cerca de 90°) entre si.
Em secções basais, o padrão de
clivagem do piroxênio aparece quase
como um quadrado. Em contraste, os
anfibólios, formados por cadeias
duplas, são ligados de maneira a Figura 28. Exemplo de clivagem romboidal na calcita. A
calcita pode ser clivada por uma leve martelada dada em
mostrar dois planos de clivagem, um formão orientado em direção paralela a um de seus
planos de clivagem
formando ângulos próximos a 60 e
120° entre si e produzindo uma
secção em forma de losango.

Qualidade da clivagem e facilidade de separação dos planos A


clivagem de um mineral pode ser avaliada como perfeita, boa ou regular,
dependendo da qualidade da superfície produzida e da facilidade com que o
mineral se separa nos planos de clivagem. A moscovita pode ser facilmente
clivada, produzindo superfícies muito lisas, de extrema qualidade; diz-se que sua
clivagem é perfeita. Os silicatos de cadeias simples e duplas (piroxênios e
anfibólios, respectivamente) têm clivagens boas. Embora esses minerais
quebrem-se facilmente ao longo dos seus planos de clivagem, podem quebrar-se
também em outras direções, produzindo superfícies de clivagem não tão lisas
52

quanto as das micas. A clivagem regular ocorre no berilo, um silicato com


estrutura em anéis. A clivagem do berilo é menos regular que a das micas, e o
mineral quebra-se de forma relativamente fácil ao longo de direções diferentes
daquelas dos planos de clivagem.

Figura 29. Comparação entre as direções de clivagem e as faces típicas de piroxênios e anfibólios. Esses dois minerais
são muito parecidos entre si, mas seus ângulos de clivagem são diferentes. Esses ângulos frequentemente são usados
para sua identificação e classificação.

Muitos minerais formam-se por ligações tão fortes que não apresentam
nem mesmo clivagens regulares. O quartzo, que é um silicato com estrutura em
redes tridimensionais, tem ligações tão fortes em todas as direções que se quebra
ao longo de superfícies irregulares. A granada, um silicato com estrutura formada
por tetraedros isolados, também tem ligações muito fortes em todas as direções
e, assim, não tem clivagem. A falta de uma tendência a clivar é encontrada em
muitos silicatos formados por redes tridimensionais de tetraedros e em silicatos
formados por tetraedros isolados.
53

2.4.3. Fratura
Fratura é a tendência que os cristais têm de quebrar-se ao longo de
superfícies irregulares ao invés de utilizarem planos de clivagem. Todos os
minerais mostram fraturas; elas podem cortar os planos de clivagem ou
desenvolver-se em qualquer direção em minerais que não têm clivagem, como o
quartzo. As fraturas estão relacionadas ao modo como as forças de ligação
distribuem-se em direções transversais aos planos cristalinos. A quebra dessas
ligações resulta em fraturas irregulares. As fraturas conchoidais têm superfícies
lisas, encurvadas, como as que se formam pela quebra de peças espessas de
vidro. As fraturas comumente têm a aparência de madeira rachada e, nesse caso,
são chamadas de fraturas fibrosas. A forma e a aparência dos muitos tipos de
fraturas irregulares dependem da estrutura particular de cada mineral.

2.4.4. Brilho
O modo como a superfície de cada mineral reflete a luz confere-lhe uma
propriedade característica, que é o brilho. O brilho dos minerais pode ser descrito
pelos termos listados na Tabela 3. O brilho é controlado pelos tipos de átomos
presentes e pelas suas ligações, sendo que esses dois fatores afetam a maneira
como a luz passa através do mineral ou é refletida por ele. Os cristais com
ligações iônicas tendem a ser vítreos, mas os cristais com ligações covalentes
são mais variáveis, sendo muitos deles caracterizados pelo brilho adamantino,
como o do diamante. O brilho metálico ocorre nos metais puros, como o ouro, e
em muitos sulfetos, como a galena (sulfeto de chumbo, PbS). O brilho nacarado
resulta das múltiplas reflexões da luz formadas a partir de planos localizados
abaixo da superfície de minerais translúcidos. Esse tipo de brilho aparece na
parte interna, com aspecto de madrepérola, das conchas de muitos mariscos, que
são constituídas do mineral aragonita. Embora o brilho seja um importante critério
para a classificação de minerais em campo, ele depende muito da percepção
visual da luz que é refletida e, portanto, as descrições dos livros-texto podem
estar muito distantes das condições existentes para avaliar o mineral que por
ventura chegar às suas mãos.
54

Tabela 3. Brilho dos minerais

Brilho Características
Metálico Reflexões fortes produzidas por substâncias opacas
Vítreo Brilhante como o do vidro
Resinoso Característico das resinas, como o âmbar
Graxo Como se estivesse recoberto por uma substância oleosa
É a iridescência esbranquiçada de alguns materiais como
Nacarado
a pérola
Sedoso O lustro dos materiais fibrosos, como a seda
Adamantinado O brilho intenso do diamante e de minerais parecidos

2.4.5. Cor
A cor de um mineral é conferida pela luz refletida ou transmitida seja
através dos cristais e das massas irregulares, seja através do traço. O traço de
um mineral refere-se à cor do fino depósito de pó que é deixado quando ele é
raspado sobre uma superfície abrasiva, tal como uma placa de porcelana não-
vitrificada. Tais materiais são chamados de placas de porcelana (Figura 30).
Essas placas são boas ferramentas para diagnóstico, pois os pequenos grãos
uniformes do mineral que estão presentes no pó retido pela placa de cerâmica
permitem analisar melhor a cor do mineral do que uma massa de grãos do
mesmo. Uma massa formada por hematita (Fe2O3), por exemplo, pode ser preta,
vermelha ou marrom, mas esse mineral sempre deixará um traço de pó castanho-
avermelhado quando riscado numa placa de porcelana.
55

Figura 30. A hematita pode ser preta, vermelha ou marrom,

A cor dos minerais é uma propriedade complexa e ainda não totalmente


compreendida. E determinada tanto pelos tipos de átomos encontrados no
mineral puro quanto pelos traços de impurezas presentes.
Os Íons e as cores dos minerais A cor das substâncias puras depende
da presença de certos íons, como ferro ou cromo, que absorvem fortemente
determinadas porções do espectro luminoso. A olivina que contém ferro, por
exemplo, absorve todas as cores, exceto o verde, enquanto a olivina puramente
magnesiana será percebida pela nossa visão como um material branco
(transparente e incolor).
Os traços de impurezas e a cor dos minerais Todos os minerais
contêm impurezas, e hoje em dia há instrumentos capazes de medir quantidades
muito pequenas de alguns elementos até mesmo alguns bilionésimos de grama,
em alguns casos. Os elementos que perfazem menos de 0,1% de um
determinado mineral são chamados de "traços", e muitos deles são chamados de
elementos-traço.
A cor de um mineral pode ser distintiva, mas não é o critério mais
confiável para sua identificação. Alguns minerais sempre mostram a mesma cor,
enquanto outros podem apresentar-se sob várias cores. Existem minerais que
mostram uma cor característica somente em superfícies recém-quebradas,
enquanto outros só mostram cores características em superfícies alteradas. Há
minerais (a opala preciosa, por exemplo) que mostram um deslumbrante arranjo
de cores nas superfícies onde a luz é refletida. Existem, ainda, minerais cuja cor
56

varia levemente se houver uma mudança no ângulo da luz que brilha em sua
superfície.

2.4.6. Gravidade específica e densidade


Pode-se facilmente sentir a diferença de peso entre um pedaço de
minério de ferro hematítico e um pedaço de enxofre do mesmo tamanho ao
erguermos os dois. Entretanto, a densidade massa por unidade de volume
(geralmente expressa como gramas por centímetro cúbico, g/cm3) - da maioria
dos minerais de rocha comuns é muito parecida, não sendo perceptível por meio
de um teste simples como esse. Assim os cientistas precisam de outro método
simples para medir essa propriedade dos minerais. Uma medida-padrão da
densidade é a gravidade específica, que é o peso do mineral no ar, dividido pelo
peso de um volume igual de água pura a 4°C.
A densidade depende da massa atômica dos íons que compõem um
mineral e da proximidade com a qual eles estão empacotados em sua estrutura
cristalina. Considere a magnetita, um óxido de ferro, cuja densidade é 5,2 g/cm 3.
Essa alta densidade resulta, em parte, da alta massa atômica do ferro e, em
parte, da estrutura fortemente empacotada que a magnetita tem e que é comum
aos outros minerais do grupo dos espinélio. A densidade da olivina, um silicato de
ferro, é 4,4 g/cm3, menor, portanto, que a densidade da magnetita, por duas
razões. Primeiramente, a massa atômica do silício, um dos elementos que forma
a olivina, é mais baixa que a do ferro. Em segundo lugar, a olivina tem uma
estrutura com um empacotamento mais aberto que aquele dos minerais do grupo
dos espinélios.

2.4.7. Hábito cristalino


O hábito cristalino de um mineral é a forma como seus cristais
individuais ou agregados de cristais crescem. Os hábitos cristalinos têm nomes
frequentemente relacionados a formas geométricas, tais como lâminas, placas e
agulhas. Alguns minerais têm hábitos cristalinos tão distintivos que são facilmente
reconhecíveis. Um exemplo é o quartzo, que é formado por uma coluna de seis
lados que culmina num conjunto de faces em forma de pirâmide.
Essas formas indicam não só os planos de átomos ou íons, como também
a velocidade e a direção de crescimento típicas do cristal. Assim, um cristal
57

acicular cresce muito rápido em uma direção e muito lentamente em todas as


outras. Em contraste, um cristal em forma de placa (muitas vezes denominado de
placóide) cresce muito rápido em todas as direções que forem perpendiculares à
única direção onde o crescimento é lento. Os cristais fibrosos tomam a forma de
múltiplas fibras, longas e estreitas, que constituem essencialmente agregados de
longas agulhas. O nome genérico asbesto aplica-se a um grupo de silicatos com
hábito mais ou menos fibroso, o qual faz com que os cristais permaneçam
entranhados nos pulmões após terem sido inalados. A Tabela 4 resume as
propriedades físicas dos minerais, discutidas nesta seção
Tabela 4. Propriedades físicas dos minerais

Propriedade Relação com a composição e com a estrutura cristalina

Fortes ligações químicas resultam em alta dureza. Minerais com


ligações covalentes são geralmente mais duros que minerais com
Dureza
ligações iônicas

A clivagem é pobre se as ligações na estrutura cristalina forem


fortes, e boa se as ligações forem fracas. Ligações covalentes
geralmente resultam em clivagens pobres ou em ausência de
Clivagem
clivagem. Ligações iônicas são fracas e, portanto, originam
excelentes clivagens

O tipo de fratura é produto da distribuição das forças de ligação ao


longo de superfícies irregulares não-correspondentes a planos de
Fratura
clivagem

Tende a ser vítreo nos cristais com ligações iônicas e mais


Brilho variável nos cristais com ligações covalentes

Determinada pelos tipos de átomos e por traços de impurezas.


Muitos cristais com ligações iônicas são incolores. A presença de
Cor
ferro tende a produzir forte coloração

A cor do pó é mais característica que a do mineral maciço, pois o


Traço pó é formado por grãos de pequeno tamanho

Depende do peso atômico dos átomos ou Íons e da proximidade


do seu empacotamento na estrutura cristalina. Minerais de ferro e
de metais têm alta densidade; minerais com ligações covalentes
Densidade
têm empacotamento mais aberto e, portanto, densidade mais
baixa

Depende dos planos de átomos ou Íons presentes na estrutura


Hábito cristalina do mineral e da velocidade e direção de crescimento
específicas de cada cristal
58

CAPÍTULO 3. INTEMPERISMO

3.1. Considerações Gerais


Intemperismo é o processo geológico mais importante e próximo da vida do
homem. Todos os dias o homem necessita comer para viver, se o alimento que
ele ingere se cria ou no solo agrícola, ou nas águas de superfície da terra, ambos
dos quais, obtém seu conteúdo de nutrientes inorgânicos por meio do processo
de intemperismo. Por isto, a vida do homem e sua energia biológica são
possíveis, somente por causa do intemperismo das rochas e minerais.
Mas a energia biológica que o homem obtém do alimento criado sobre os
produtos do intemperismo é excessivamente pequena quando comparada a
outras energias, que ele também usa, e que devem sua origem ao intemperismo
como um estágio intermediário. Assim é o caso da produção de carvão, petróleo,
gás natural, minerais radioativos, etc.
Neste capítulo abordaremos um dos aspectos mais importantes
relacionados a mineralogia e formação dos solos.
Por intemperismo entende-se, segundo BESOAIN (1985), a alteração,
tanto em composição como em tamanho dos minerais e rochas da superfície
terrestre que se encontram em contato com agentes da atmosfera, hidrosfera e
biosfera.
MILOVSKI e KANONOV (1985) definem intemperismo acrescentando o
conceito de estabilidade: "O intemperismo é a soma de todos os processos, que
atuam na destruição mecânica e decomposição química de rochas e minerais,
que não são estáveis em condições superficiais."
Sempre que falamos em estabilidade ou instabilidade estamos nos
referindo, na realidade, com condições de equilíbrio ou não equilíbrio.
Tomando essas duas definições como ponto de partida e lançando mão da
idéia de equilíbrio poderíamos entender intemperismo da seguinte maneira:

- O intemperismo é resultante da interação de rochas, minerais, biosfera,


hidrosfera, etc. Cada um desses componentes será designado de fase: fase água,
fase mineral, fase ar, etc. O conjunto de todas as fases recebe o nome de
sistema.
59

- Quando existe desequilíbrio entre as fases do sistema, estas se


modificam através de reações que ocorrem entre elas. As reações ocorrem
seguindo certos procedimentos ou processos.
- O meio ambiente típico do intemperismo se localiza próximo à superfície,
apresenta temperatura e pressão baixa (próximo a 25° C e 1 atm). Conta com
presença de soluções aquosas e gases atmosféricos e, invariavelmente, está
associada à menor ou maior atividade biótica.
- As reações de intemperismo são termodinamicamente espontâneas
(catalisadas ou não), se processam num sistema aberto e necessariamente
envolvem perda de energia livre.
O estudo do intemperismo é sempre muito complexo, pois envolve grande
número de fases do sistema e exige um determinado tempo cronológico.
Para se avaliar resultados de pesquisas sobre intemperismo, deve-se
antes de tudo, considerar a metodologia utilizada e depois fazer afirmações
acerca deste. A análise à esmo e a não observância de procedência e limite de
validade levam à generalizações indevidas, errôneas e, perigosas, que são muito
comuns quando se fala em intemperismo.
A seguir serão apresentados dois trabalhos realizados em diferentes
épocas por diferentes autores sobre o intemperismo. O primeiro é o clássico
trabalho de Goldich, publicado em 1938.

3.1.1. Trabalho de Goldich (1938)


O autor define seu trabalho como uma tentativa de analisar as
modificações químicas e mineralógicas que ocorrem durante o intemperismo de
certas rochas de alguns locais diferentes que foram selecionados devido à
facilidade de acesso pelo autor ou pela disponibilidade de amostras.
GOLDICH analisou amostra de algumas rochas (granito-gnaisse, diabásio
e anfibólio) química e mineralogicamente e seus respectivos produtos de
alteração. Para a época, as análises foram muito completas e detalhadas e
lançando mão das mais avançadas técnicas. Através de artifícios matemáticos
simples e considerando o teor de AI2O3 constante durante o intemperismo,
GOLDICH determinou as mudanças químicas que ocorrem durante o
intemperismo (Figura 26 e Figura 27).
60

Figura 26 – Ganhos e perdas de um granito/gnaisse durante o intemperismo (compoição


mineralógica inicial: ortoclásio, microlina, quartzo, biotita e hornblenda). (Goldich, 1938)

Figura 27. Ganhos e perdas de um diabásio durante o intemperismo (composição


mineralógica inicial: plagioclásio, augita, magnetita, biotita, apatita e homblenda). (Goldich,
1938).
61

Pelos gráficos percebe-s que durante o intemperismo há perda de certos


elementos e o ganho de outros. E geral, o número e a quantidade de elementos
perdidos, isto é, elementos que saíram das estruturas cristalinas dos minerais e
foram removidos do sistema é bastante elevada. As bases Ca, Mg, K, Na e Mn
são removidas em grande quantidade. Outros como o S e o P também
diminuíram no granito-gnaisse. Para o aumento acentuado de P 205 (Figura 28)
não houve explicações. O Fe das rochas magmáticas se encontra principalmente
na forma Fe+2. Durante o intemperismo essa forma se oxida a Fe+3, explicando-
se dessa maneira o aumento de Fe2O3. A quantidade de água e CO2 também
aumentou durante o intemperismo de forma bastante acentuada. As perdas em
ordem decrescente para o granito-gnaisse foram: Na > Ca > Mg > K > P > Si > S >
Fe2+ > Mn.
No caso do diabásio, as perdas em ordem decrescente foram: Fe2+ > K >
Mn > Mg > Ca > Si > Na.
Observa-se que a ordem não é a mesma, mas que há tendências em
comum entre as duas rochas.
Fato semelhante observou-se em relação ao anfibolito.

Figura 28. Ganhos e perdas durante o intemperismo de algumas rocha básicas de GOLDICH (1938)

Além da composição química, Goldich estudou e quantificou


mineralogicamente as rochas e seus produtos de alteração (Tabela 10).
62

Tabela 5. Composição mineralógica do granito-gnaisse e seu produto de alteração. Adaptada da Tabela 6


de GOLDICH (1938).

Rocha Fresca Rocha Intemperizada Variação*


Espécie
(%) (%) (%)
Quartzo 30 34 0
Feldspato - K 19 12 -34
Plagioclásio 40 1 -98
Biotita 7,0 0,9 -88
Hornblenda 1,0 0,02 -98
Óxidos de Fe 1,5 4,3 +155
Apatita 0,2 0,0 -100
Caulinita 0,0 44 -
* Variação % normalizada pelo quartzo

Considerando o teor de quartzo constante, percebe-se que todos os


minerais primários encontrados na rocha - feldspato-K, plagioclásio, biotita,
hornblenda e apatita - apresentaram apreciável diminuição, formando-se em seu
lugar minerais secundários, de tamanho muito pequeno (fração argila) como a
caulinita, que não existia no material original, e os óxidos de Fe.
Outra maneira de representar esses dados é através de diagramas de
variação (Figura 29).
63

Figura 29. Diagrama de variação da alteração do granito-gnaisse (Goldich, 1938).

Baseado nesses dados, na literatura existente na época e em observações


e experiências profissionais, GOLDICH sugeriu uma série de estabilidade dos
minerais mais comuns formadores de rochas magmáticas (Figura 30).

Figura 30. Série de estabilidade dos minerais em relação ao intemperismo (Goldich, 1938)
64

O autor tece os seguintes comentários com relação á série de estabilidade:


“ O arranjamento dos minerais nessa série de estabilidade é o mesmo da série de
cristalização magmática apresentada por BOWEN2. Essa série, no entanto, não
deve ser interpretada como uma série de reações. Não deve ser inferido que a
olivina se intemperiza a piroxênio, mas que, numa rocha magmática normal
contendo olivina e piroxênio, a taxa de decomposição da olivina deve ser maior
do que a do piroxênio. Analogicamente, permanecendo todas as condições
iguais, a e decomposição do gabro é maior do que a do granito.
A Série de Bowen* reflete a estabilidade dos minerais sob condições de
equilíbrio (composição, pressão e temperatura) de seu ambiente de formação.
Estas condições são drasticamente diferentes das condições da superfície, onde
ocorrem as reações de intemperismo. É por essa razão que os minerais se
intemperizam. Talvez a diferença entre as condições de equilíbrio na hora da
formação dos minerais e as existentes na superfície governe a seqüência de
estabilidade.
O princípio da série de estabilidade apresentada é uma generalização de
informações acumuladas.
A Série de Goldich é claramente empírica, no sentido de ter sido elaborada
a partir de dados experimentais, não existindo base o explicação científica acerca
dos princípios envolvidos.
Não é possível, a partir da série de Goldich, compreender porque o quartzo
é mais estável do que o plagioclásio - Ca ou a olivina, sabe-se apenas que tal
comportamento é esperado nas condições normais de intemperismo.
Ambos os autores referem-se à Série de Goldich como a série de
estabilidade dos minerais da fração areia e silte, talvez pelo fato desses minerais
serem normalmente encontrados na fração areia ou silte.

2
BOWEN (1922) apresentou uma série de cristalização ou solidificação das rochas magmáticas, a
partir do magma no estado fluído, em ordem decrescente de temperatura. Essa série é a mesma
encontrada por Goldich. Na Série de Bowen a olivina se solidifica nas temperaturas mais elevadas e o
quartzo nas temperaturas mais baixas
65

3.1.2. Trabalho de Chesworth (1973)


CHESWORTH (1973) utilizou como dados básicos para seu trabalho a
composição média do granito de uma certa região e a composição das águas
subterrâneas onde predomina esse granito.
Foi assumido que as águas subterrâneas continham os componentes
provenientes do intemperismo das rochas e dos solos dessa região. Essa água
atuaria com um meio de mobilização ou remoção desses componentes do
sistema.

Tabela 6. Média de análise parcial de granito e águas subterrâneas de regiões graníticas (% peso)

GRANITO ÁGUA MÉDIA SUBTERRÂNEAS


NORMALIZADO*
SiO2 70,2 27,6 65,7
Al2O3 14,5 0,4 1,0
Fe(total) Fe2O3 2,6 0,6 1,4
MgO 1,1 9,2 21,0
CaO 1,1 24,3 65,1
Na2O 3,3 13,0 31,0
K2O 4,0 4,8 11,4
* Normalizado com relação ao Al2O3. os valores expressos são relativos a uma taxa de lixiviação do
Al2O3 = 1,0

Um simples diagrama de subtração pode ser calculado, utilizando-se os


valores normalizados como indicadores do coeficiente angular das retas, para
demonstrar que vão permanecer após um período prolongado de
intemperismoIlixiviação são SiO2, Al2O3 e Fe2O3 (Figura 31).
66

Figura 31. Perda de componentes de um granito em função do tempo.

O SiO2, apesar de apresentar uma taxa de perda muito elevada aparece


como produto final do intemperismo, devido a grande quantidade encontrada no
material de origem (granito).
Se a tendência do intemperismo é a perda total das bases (Ca, Mg, Na e
K) resultando um sistema composto unicamente por Si, AI e Fe - chamado pelo
autor de sistema residual de intemperismo - os minerais encontrados nesse
sistema vão poder apresentar apenas Si, AI e Fe como cátions. Os minerais mais
comuns que apresentam tal composição química seriam:
- quartzo (SiO2) e as variações opala e calcedônea;
- gibsita (AI(OH)3); - boemita (AI(OH));
- goethita (FeO(OH)); - hematita (Fe2O3)
- caulinita (Al4/Si4O10/(OH)) - haloisita (Al4Si4 (OH)8O10.8H2O) e mais alguns outros
de menor ocorrência.
Anteriormente à perda de todas as bases, minerais diferentes dos que se
enquadram no sistema residual podem ser formados apesar de terem existência
apenas transitória (esse termo refere-se ao tempo geológico e não cronológico!).
O esquema que o autor apresenta é bem geral não podendo ser utilizado para
explicar casos específicos, mas a abordagem é interessante e possibilita um bom
entendimento do processo geral de intemperismo.
67

3.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo


O intemperismo é dividido normalmente em intemperismo físico e químico.
No intemperismo físico a rocha original desintegra-se em material de
granulometria menor, sem que ocorram, contudo mudanças químicas ou
mineralógicas significativas. No intemperismo químico há, além das alterações
granulométricas, alterações químicas ou mineralógicas. Alguns consideram ainda
o intemperismo biológico, o qual atua pela ação de organismos vivos e de
produtor orgânicos sobre rochas e minerais. Como estas ações se dão através de
processos físicos e de reações químicas, muitos autores o incluem nos 2
primeiros.
Na natureza, o intemperismo físico e químico ocorrem associados e é
quase sempre difícil isolar o efeito de um ou de outro.

3.2.1. Intemperismo Físico


O mecanismo comum a todos os processos de intemperismo físico é o
surgimento de tensões internas nas rochas suficientemente fortes para fraturá-las.
Tais mecanismos visam reduzir o tamanho dos minerais, não interferindo na
composição química.
Os processos mais comuns do intemperismo físico são:

a) Alívio de pressão devido à erosão


Com a erosão do material depositado acima da rocha há um alívio de
pressão fazendo com que a rocha possa se expandir (Figura 32).
Esse tipo de expansão causa normalmente fraturamento em ângulos retos
e relação ao sentido do alívio de pressão, desenvolvendo em fendilhamento -
paralelo à superfície.

Figura 32. Alívio de pressão e fraturamento de uma rocha


68

b) Expansão de água ou sais


A água ao se converter em gelo tem seu efeito expansivo ao redor de 10
%. O máximo de pressão em que a água não consegue mais se congelar é de
2.130 atm a -22°C e 678 atm a -10°C.
Quando a pressão for acima desses valores, há transformação da água em
gelo e conseqüentemente ocorre à expansão de 10 % (Figura 33).
Para que haja ruptura de fraturamento de rochas devido à esse
mecanismo, as temperaturas mais eficazes variam entre -15 e -22°C.
A eficiência do efeito do congelamento vai depender do ambiente, onde a
temperatura ambiente flutue nos 0°C.
O mesmo efeito ocorre quando há cristalização de sais a partir de soluções
supersaturadas em fendas ou outros espaços vazios da rocha.
Os sais normalmente apresentam um coeficiente de expansão térmico
maior do que o das rochas comuns. O fraturamento devido a maior expansão dos
sais é um processo importante de desintegração física em deserto, onde a
oscilação térmica é acentuada.

Figura 33. Fendilhamento provocado pelo gelo

c) Variações Térmicas
Cada mineral possui um coeficiente de dilatação térmica diferente. Tome-
mos como exemplo o quartzo e o feldspato que sob mesma temperatura tem
diferença no aumento de volume. Em grandes amplitudes térmicas muito
repetitivas, pode ocorrer devido às dilatações diferenciadas, um enfraquecimento
69

dos pontos de união na periferia dos cristais isolados. Com isso, haverá o
desprendimento desses cristais.
Tal mecanismo atua na parte mais externa das rochas, principalmente em
partes angulosas, levando a um arredondamento das mesmas.
Um exemplo desse tipo de ação do intemperismo seriam os matacões de
esfoliações da era Pré-Cambriana no Estado de São Paulo, que são grandes
rochas graníticas arredondadas de ocorrência comum (Figura 34).
Em locais, onde a queima de vegetação é constante, a ação do fogo pode
acelerar sobremaneira a esfoliação das rochas.

Figura 34. Formação de um matacão de esfoliação.

d) Ação mecânica das raízes e outros organismos vivos


As ações de expansão radicular dentro de fendas ou poros da rocha
podem levá-las a um acentuado fraturamento. Em muitos solos rasos é notável o
desenvolvimento de raízes em camadas mais profundas onde praticamente só
encontramos rochas. A ação presente de formigas térmitas (cupins) e outros
seres vivos maiores pode, em alguns casos, também exercer certa ação
mecânica sobre as rochas.
Como vimos, os processos físicos de intemperismo tendem a diminuir o
tamanho das partículas. Diminuindo-se o tamanho, aumenta-se a superfície
específica das partículas, acelerando e facilitando dessa maneira as reações
químicas do intemperismo (quanto menor o tamanho, maior é a reatividade de
uma substancia sólida).
70

3.2.2. Intemperismo Químico


O intemperismo químico consiste na modificação da composição química e
mineralógica do material. Os produtos são novos minerais ou acumulações
residuais de alguns minerais primários pouco solúveis.
O intemperismo químico ocorre porque rochas e minerais raramente estão
em equilíbrio (físico químico) com a composição da água, temperatura e pressão
da superfície da terra. Os produtos que se formam a partir desse intemperismo
são mais estáveis no meio ambiente da superfície. Se o meio ambiente do solo
sofre novas ou contínuas alterações, assim também o farão os produtos iniciais
do intemperismo. Existem vários processos pelos quais as rochas minerais
comuns se intemperizam quimicamente.

3.2.2.1. Processos de Intemperismo Químico


a) Hidrólise
A hidrólise é o processo de intemperismo mais importante para a maioria
dos silicatos.
No caso de minerais, a hidrólise se refere especificamente à reação entre
íons H+ e OH- da água e elementos ou íons do mineral de rocha. A água, ou
melhor, a solução do solo, contém sempre além do H+ e OH- da dissociação da
água, grande quantidade de outros íons que podem também, participar das
reações. A hidrólise ocorre pela substituição dos íons da superfície dos minerais
por íons H+ ou OH-. Com isso, há a liberação desses íons para a fase líquida e um
aumento do pH da solução. Para os feldspatos, pode-se representar
esquematicamente a seguinte reação:

KAI Si O4 + 4 H2O → AI SiO4 (OH)4 + KOH

Feldspato + água Feldspato + hidróxido de potássio

Para um aluminosilicato a equação geral seria:

Aluminosilicato + H2O + H2CO3 → mineral + cátions + OH- + HCO-3 + H4SiO4


de argila
71

O ácido mostrado aqui é o H2CO3, mas outros ácidos, tais como os ácidos
originados da decomposição da matéria orgânica, são também importantes fontes
de H.
Equações mais detalhadas sobre hidrólise são apresentadas a seguir:
2 KAlSi3O8 + 2H+ + 9H2O → H4Al2SiO4 + 4H4Si04 + 2K+
(ortoclásio) (caulinita)

2 KAlSi3O8 + 2H+ + 12H2O → KAl3Si3O10(OH)2 + 6H4SiO4 + 2K+


(ortoclásio) (ilita)

2NaAlSi3O + 2H+ + 9H2O → H4Al2SiO4 + 4H4SiO4 + 2Na +


(albita) (caulinita)

2NaAlSi3O + 6H+ + 28H2O → 3Na0,66Al2,66Si3,33O10(OH)2+ 14H4SiO4 + 6Na+


(albita) (montmorilonita)

Os cátions podem permanecer no solo como integrante da grade cristalina


do mineral de argila ou como íon adsorvido na superfície dos colóides do solo.
Alguns cátions podem ser absorvidos pelo vegetal e retornar ao solo por um
processo cíclico. Por outro lado alguns cátions podem ser removidos do sistema
solo-planta juntamente com o HCO-3 através da água de percolação (Figura 35).
72

Figura 35. Destinos dos cátions liberados pelo intemperismo

Fato interessante a ser observado é o seguinte: os íons OH- juntamente


com os com os cátions metálicos se concentram no oceano, que tem reação
alcalina. Os íons H+ por sua vez, se combinam com silicato, dando origem entre
outros aos minerais de argila, os quais são pouco solúveis e somente se
dissociam ligeiramente em ácidos fracos. Na terra, portanto fica a reação ácida
enquanto que no mar a reação alcalina.

FATORES QUE INFLUEM NA HIDRÓLlSE


Para se ter uma razoável noção da intensidade da formação dos solos é
interessante saber algo a respeito dos fatores que favorecem ou não a reação de
hidrólise.

a) Natureza da água
Experimentos afirmam que uma rocha em presença de água tende a se
intemperizar. Se a água saturada com sais não for removida e substituída por a
73

com concentração de sais menor, a hidrólise tende a paralisar. Nestas condições


o solo não se desenvolve. (Figura 36).

Figura 36. Esquema ilustrando a influência da remoção da água de hidrólise no


desenvolvimento do solo. (A) Devido à remoção de água + produtos de hidrólise, o
intemperismo é maior, conseqüentemente o solo é mais profundo. A remoção da água no
solo é devido a sua boa drenagem; (B) Nesta posição do relevo a drenagem do solo é
impedida, conseqüentemente vai haver concentração dos produtos da hidrólise e o
desenvolvimento do solo é bem menor.

A remoção dos sais pode ser feita por precipitação intensa com uma
grande lixiviação. Nestas condições o intemperismo tende a aumentar
consideravelmente.

b) Efeito do pH sobre as solubilidades do Al2O3, SiO2 e Fe2O3

Quando da hidrólise de minerais silicatados, o pH de suas suspensões é


geralmente 7 ou maior que 7. O quartzo pulverizado, em água hidroliza-se para
um pH de 6 e 7, mas os feldspatos hidrolizam-se para produzir pH 8 e 10, os
piroxênios 8 a 11 e os anfibólios e feldspatos 10 e 11. Esta variação de pH é
muitíssimo importante, devido aos seus efeitos sobre a solubilidade relativa do
SiO2 e Al2O3, os quais são também produtos de reação de hidrólise.
74

O efeito do pH sobre a solubilidade do Al2O3, SiO2 e Fe2O3 é apresentado


na Figura 37.

Figura 37. Solubilidade da sílica, alumina e óxido de ferro em função do pH. A um pH 5 vai haver no
sistema presença de SiOz e Al2O3 (este em maior quantidade). Dependente do tipo de cátion existente no
+
meio (H neste caso) haverá formação de caulinita.

Quando o pH é 10 - Tanto o Al2O3 como o SiO2, são relativamente solúveis


e portanto, as pequenas quantidades deles que são liberados durante a hidrólise
são arrastados em soluções, podendo formar depósitos de bauxita e calcedônea.

Em pH 8 - A solubilidade do AI2O3 é reduzida praticamente a zero, mas a


do SiO2 é reduzida apenas para ¼ daquela que era a pH 10. Espera-se portanto,
que em pH 8 o AI2O3 hidratado irá precipitar-se, provavelmente, na forma de
gibsita, enquanto que a maior parte do SiO2 será removida.

Grave bem ! - Suponha que uma rocha que está sofrendo hidrólise seja
banhada em água com pH 5 a 6 (valor comum de pH para água subterrânea). A
solubilidade, tanto do AI2O3 como o SiO2, derivados da rocha, será então
relativamente baixa, uma condição que pode conduzir a combinação deles para a
formação da caulinita.
75

Geralmente a sílica é relativamente solúvel na faixa normal de pH de solos


e está quase sempre presente no material de origem em elevado teor, suficiente
ara tomar parte na maioria dos minerais de argila. Parte da sílica é removida em
solução. O alumínio não é muito solúvel nesta mesma faixa de pH, portanto
permanece próximo a área de intemperismo, tomando parte na formação de
minerais de argila ou gibsita. O ferro também permanece próximo à área de
intemperismo para a maioria dos solos dando a estes ou ao material
intemperizado a cor característica.
A um pH 8 e aliado a uma precipitação escassa e a uma evaporação anual
- excede a precipitação, os íons de SiO2, AI2O3 e M (alcali e alcalinos terrosos)
permanecem em solução os quais se combinam para formarem minerais de
grande atividade, por exemplo, montmorilonita.

c) Ação das plantas


As plantas vivas fornecem íons H+ para a argila em contato com suas
raízes, e tendem, portanto, a criar condições de argila ácida, a qual, por sua vez,
intemperizam as rochas e minerais presentes.
Diversos autores demonstraram que as radicelas das plantas conduzem
cargas negativas sobre sua superfície e são rodeadas, no solo, por uma
atmosfera iônica a qual é composta principalmente de íons H+. O pH das raízes
das plantas, tais como milho, algodão, amendoim varia de 2,0 a 3,85 e a CTC
dessas raízes está em torno de 14 emg/100 g (Figura 38).

+
Figura 38. Esquema ilustrando a ação das raízes na hidrólise. A raiz no caso fornece íons H ao mineral de
argila (troca com o I< ou outro íon) e este H+ entra na hidrólise atacando um mineral rico em I<
(feldspato) ou outro mineral qualquer.
76

d) Oxidação e Redução
A oxidação é o processo pelo qual o elemento perde elétrons. Essa perda
resulta num aumento da valência positiva. O ferro é o elemento que mais sofre
esse tipo de processo nos ambientes de intemperismo.
Nos minerais formadores de rochas o ferro se encontra
predominantemente na forma reduzida Fe2-. Quando esse ferro se oxida o Fe3+
dentro da estrutura cristalina dos minerais há distúrbios na neutralidade
eletrostática do mineral. Esse distúrbio leva normalmente à saída de outros
cátions da estrutura a fim de compensar o aumento de carga positiva. Surgem
dessa maneira falhas na rede cristalina que podem levar a um colapso total da
estrutura anterior ou deixar o mineral mais susceptível a outros processos
químicos como a hidrólise. A alteração de biotita para vermiculita é um exemplo
desse conjunto de processos.
Sempre que uma substância se oxida (perde elétrons) outra reduz (recebe
os elétrons perdidos). O receptor de elétrons no solo normalmente é o O2 gasoso.
A reação pode ser simplificada conforme equação abaixo:

2FeO + H2O2 → FeO3

Fe++ → Fe+++ + e

A direção e a intensidade dessa reação dependem do potencial de oxi-


redução do meio.
Para que a reação ocorra da esquerda para a direita, isto é, oxidação do
ferro e conseqüente redução do O2, é necessário uma boa aeração do solo. Solos
bem drenados e porosos facilitam as reações de oxidação, ocorrendo redução
apenas as em solos freqüentemente encharcados.
As micas, biotita e muscovita, apresentam estrutura cristalina muito
semelhante, porém diferem no comportamento ante o intemperismo. A biotita
apresenta Fe2+, que tende a oxidar e desestabilizar a estrutura desta, o que não
ocorre com a muscovita, que por não possuir Fe2+ é mais resistente ao
intemperismo.
77

Outros elementos que também sofrem mudanças de valência são Cr, Ti,
Cu, Mo, Mn e outros. Esses elementos ocorrem em menor quantidade nos
minerais formadores de rochas, portanto, de menor importância.
Qualquer mudança de valência de um elemento que faz parte da estrutura
cristalina de um mineral vai desequilibrá-Ia e conseqüentemente destruí-Ia ou
torná-la mais suscetível a outros processos de alteração química.

e) Hidratação e Desidratação
Hidratação e desidratação são os processos pelos quais moléculas de
água são adicionadas ou removidas do mineral. O resultado é a formação de um
novo mineral de estrutura bastante semelhante ao anterior. Esses processos não
são muito importantes no intemperismo químico uma vez que apenas alguns
poucos minerais são afetados por esses processos.
A reação mais comum é a que envolve óxido e hidróxido de ferro.

Fe2O3 + H2O ↔ 2 FeOH


Hematita Goethita

Essa reação pode se processar nas duas direções, mas em solos, bem
drenados a tendência é a estabilização da hematita. Em muitos casos a
hidratação precede as reações de hidrólise.

f) Quelação
Estudos têm demonstrado que agentes quelantes são responsáveis por
uma considerável quantidade de material intemperizado, e que algumas situações
pode exceder a própria hidrólise. Agentes quelantes são formados por processos
biológicos normalmente excretados por líquens que crescem nas superfícies das
rochas. A estrutura do agente quelante é variada e complexa. O EDTA (Ácido
Cetilenordiaminotetracetico) é um dos agentes quelantes mais conhecidos e sua
estrutura pode ser esquematizada da seguinte forma:
78

Figura 39. Molécula de EDTA (Ácido Cetilenordiaminotetracetico)

A maioria dos íons metálicos pode ligar-se ao EDTA formando compostos


bastante estáveis, ficando o íon metálico aprisionado na estrutura cíclica.
A flora microbiana do solo bem como as raízes das plantas é capaz de
produzir e exudar substâncias quelantes. O húmus do solo é composto de grande
quantidade desses agentes. Há fortes evidências que alguns quelantes podem ter
expressiva ação sobre o quartzo, que é muito resistente a outros processos de
intemperismo químico. Quelatos estáveis, também são formados a partir de
outros cátions polivalentes como o AI, Fe e Ti. A perda de ferro devido a
quelatização já foi observada para o epídoto, goethita, hematita, magnetita, augita
e biotita.

3.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas


O material liberado pelo intemperismo ou é removido do sistema por
percolação profunda ou permanece no sistema formando através de diferentes
reações uma série de produtos cristalinos ou amorfos.
Os minerais de argila, considerados por muitos como produtos finais do
intemperismo, na realidade apenas fazem parte de um sistema em equilíbrio
dinâmico. As argilas também se degradam originando resíduos óxidos e
hidróxidos que pedologicamente são considerados mais estáveis.
79

CAPÍTULO 4 - ROCHAS MAGMÁTICAS

4.1. Introdução
As rochas magmáticas ou ígneas são aquelas formadas a partir do
resfriamento do magma e conseqüente consolidação do magma, no interior ou na
superfície da crosta terrestre. O magma é um fluido natural muito quente
predominantemente constituído por uma fusão de silicatos e mostrando
proporções variadas de água, elementos voláteis ou de cristais em processo de
crescimento. A composição do magma pode ser obtida pelo estudo das lavas, ou
seja, magma que extravasa pelos vulcões, embora se considere que uma grande
perda de elementos voláteis ocorra neste caso, pois no seu caminho até o local
de resfriamento, funde ou dissolve materiais pelo qual vai passando incorporando-
os à sua composição original e chegando ao seu destino com composição
distinta.
Do ponto de vista físico-químico, os componentes essenciais do magma
são:
a) fase líquida: mantida em fusão pela temperatura elevada, constituída
essencialmente por uma solução mútua e altamente complexa de um grande
número de componentes, a maior parte dos quais de natureza silicática;
b) fase gasosa: mantida em solução por pressão, constituída
predominantemente por H2O e quantidades menores de CO2, HCI, HF, SO2, etc.;
c) fase sólida: formada por cristais de decomposição essencialmente silicática,
em fase de crescimento ou de natureza residual, assim como de fragmentos de
rochas.
A composição química essencial dos magmas é, em termos de óxidos,
algo situado dentro das proporções da tabela a seguir:
SiO2....................................................... 30-80
Al2O3...................................................... 3-25
FeO-Fe2O3............................................ 0-13
MgO...................................................... 0-25
CaO....................................................... 0-16
Na2O...................................................... 0-11
K2O........................................................ 0-10
80

4.2 Origens e tipos fundamentais de magmas


De modo geral, considera-se que existem apenas dois tipos fundamentais
de magmas primários, ou seja, de magmas a partir dos quais se podem formar
outros tipos, por diferenciação:

(a) os magmas graníticos;


(b) os magmas basálticos.

Os primeiros formam 95% das rochas intrusivas, plutônicas, e os segundos


constituem 98% das rochas vulcânicas, efusivas. A origem destes magmas e das
rochas correspondentes constitui ponto de controvérsia.

Figura 40. O granito observado ao microscópio. Os minerais claros são quartzos, os pretos
representam a biotita, e os intermediários são feldspatos (Extraído de Popp, 1998).

Pode-se dizer, entretanto, que o magma granítico está sempre relacionado


com áreas em que houve formação de extensas cadeias de montanhas, como por
exemplo os Andes e os Alpes, zonas em que a crosta sofreu fenômenos de
compressão, dobramento e afundamento, com evidências de que esse magma é
produzido por fusão parcial de rochas preexistentes (anatéxis) a profundidades da
ordem de 7 a 75 km.
Nessas regiões, as rochas originadas ocorrem sob a forma de corpos
intrusivos muito grandes, intimamente relacionados com as cadeias de
montanhas, e, em muitos casos, a sua formação parece não ter exigido a refusão
total, associando-se a fenômenos complexos.
Já o magma basáltico parece originar-se em profundidades maiores-90 a
100 km, ou seja, na porção superior do manto - tal como evidenciado pelos
81

sismos associados a derrames basálticos cujas origens geralmente estão 45 a 60


km abaixo da superfície, onde o magma basáltico seria originado pela fusão de
rochas básicas preexistentes, através de quedas bruscas de pressão, em regiões
onde a crosta parece afetada por movimentos de afastamento e onde o manto
parece foco de correntes convectivas ascendentes.
Os magmas graníticos caracterizam-se, entre outros fatores, por uma
composição mais rica em SiO2 (da ordem de 70%), e os basálticos, por uma
proporção menor de SiO2 inferior a 50%.
Viscosidade: Os magmas graníticos são mais viscosos do que os
basálticos, já que a viscosidade parece aumentar com e teor de SiO2. Isto se
reflete caracteristicamente na maneira pela qual ocorrem os fenômenos de
vulcanismo associados a essas rochas.
Além disso, a viscosidade depende da temperatura e da pressão,
diminuindo com o aumento destes fatores.
O magma pode se resfriar em profundidade, isto é, nas profundezas da
crosta, abaixo de grande quantidade de rochas. Ele se solidifica vagarosamente
porque a perda de calor é lenta. Além disso, esse resfriamento se dá sob a
presença de substâncias voláteis aprisionadas, o que leva a uma cristalização
mais perfeita dos minerais. Tem-se dessa forma, o aparecimento de cristais
maiores, formando-se dessa maneira as rochas holocristalinas de estrutura
granular. Quando o magma se resfria na superfície da crosta através do
extravazamento, a temperatura e a pressão caem rapidamente, não são
aprisionados voláteis e não existem então condições favoráveis à cristalização
total dos minerais e formação de cristais grandes. Assim, originam-se as rochas
de granulação muito pequena.
De acordo com o local em que se dá a consolidação há dois tipos básicos
de atividade ígnea:
a) Plutonismo: a consolidação ocorre no interior da crosta, originando as
rochas plutônicas ou intrusivas.
b) Vulcanismo: o magma irrompe e derrama-se à superfície para formar
rochas vulcânicas ou extrusivas.
82

Figura 41. Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas (derrame, sill,
dique, batólito, stock, neck vulcânico, diques radiais e lacólito). (Teixeira et aI., 2000)

Formas concordantes. Neste caso, a intrusão magmática intromete-se


entre os planos de estratificação da rocha encaixante em concordância com eles.
Entre as formas concordantes temos:
(a) Sil. São corpos extensos, pouco espessos e de forma tabular quando
vistos em corte. O magma deve ser pouco viscoso para poder intrometer-se entre
os planos de estratificação da rocha encaixante (Figura 41). Na bacia do
Maranhão há grande ocorrência de sils de diabásio.
(b) Lacólito. O magma, neste caso, é mais viscoso, formando massas
intrusivas de forma lenticular, plano-convexas. A rocha situada acima do corpo
intrusivo (capa) é dobrada, e as rochas situadas na parte inferior (lapa) não são
afetadas. Um lacólito (Figura 41) pode ter 300 m de espessura e 5 km de
comprimento.
Formas discordantes. Esses corpos intrusivos independem da
estratificação da rocha encaixaste, pois a cortam discordantemente. São mais
freqüentes perto da superfície da Terra, onde as pressões a serem vencidas são
menores.
Entre as formas discordantes temos:
(a) Dique. É uma massa magmática que preenche uma fenda em rocha
preexistente (Figura 42). Os diques podem ser classificados em radiais, em anel
(ring dikes) ou circulares, conforme se apresente em conjunto na superfície após
83

a erosão. Muitas vezes os diques se formam a partir de um corpo intrusivo maior.


Nas bacias do Maranhão e do Paraná há grande incidência de diques de
diabásico.

(A) (B)
Figura 42. Diques. (A) Massa magmática que preenche fendas ou falhas cortando
discordantemente os estratos. (8) Pequenos diques de diabásio cortando migmatitos.

(b) Veios. São massas produzidas pela injeção de magma em fraturas


menores e menos regulares do que diques.
(c) Neck. São corpos discordantes, cilíndricos, verticais, que cortam as
rochas preexistentes. Pelo estudo da litologia formadora dos necks, vê-se que
eles são condutos de antigos vulcões cuja parte superior foi erodida.
(d) Batólitos e stocks. Os batólitos são massas enormes de material
magmático (granítico) que afloram numa extensão de, pelo menos, 100 km 2 na
superfície terrestre. Se o afloramento tiver menos de 100 km 2, temos o stock. Os
batólitos não têm, aparentemente, delimitação em profundidade, passando
gradualmente à zona das rochas fundidas. Os batólitos formam grande parte dos
escudos ditos Escudo Nordestino e Escudo Brasileiro, entre outros.
Eles são, normalmente, de composição granítica, e sua origem é ainda
bastante discutível.
Deve-se notar, com respeito aos corpos acima referidos, sejam eles
concordantes ou discordantes, o seguinte:
(1) a classificação adotada diz respeito somente à forma geométrica do corpo, e
não à litologia formadora;
(2) normalmente, os corpos intrusivos são mais resistentes à erosão do que a
rocha encaixante, donde o fato de estes corpos sobressaírem-se na topografia
com respeito à rocha encaixante.
84

4.3. Composição e classificação das Rochas Magmáticas


Aproximadamente 99% da massa das rochas magmáticas são formadas
por oito elementos: oxigênio, silício, alumínio, ferro, cálcio, sódio, potássio e
magnésio. Sendo a maioria, parte da estrutura cristalina dos silicatos formadores
das rochas corno feldspatos, olivinas, piroxênios, anfibólios, quartzo e micas.
Estes seis minerais constituem 95 % do volume de todas as rochas magmáticas
comuns.
Magmas, chamados de máficos, são ricos em ferro, magnésio e cálcio e
produzem grande quantidade de olivina, piroxênio, anfibólio e plagioclásio cálcico.
Possuem coloração escura.
Magmas, chamados de siálicos ou félsicos, são ricos em silício e
alumínio e produzem grande quantidade quartzo, feldspatos, potássico e
plagioclásio sódico. Possuem coloração clara.
Algumas características macroscópicas para identificação das rochas
ígneas:
1. São em geral duras
2. Os cristais se dispões por justa posição
3. Não apresentam estruturas segundo faixas ou camadas.
4. São maciças, quebram-se de forma irregular.
5. Apresentam uma textura cristalina, vítrea ou vesicular.
6. Não apresentam fósseis.
7. Apresentam alto teor em feldspatos.

Os principais critérios de classificação são os seguintes:


A) Modo de ocorrência
B) Texturas
C) Estruturas
D) Composição Mineralógica e Química

A – O modo de ocorrência é um critério de campo, ou seja, uma vez


formado, o magma pode apresentar grande mobilidade, tendendo a ascender ao
85

longo de fissuras da crosta, deslocando ou englobando rochas vizinhas, podendo,


eventualmente, extravasar à superfície ou então se solidificar no interior da crosta.
B – A textura refere-se a fenômenos de escala extremamente
pequena e, em geral, seu estudo é feito com auxilio de lupa e microscópio (ver
item 6.3).
C – As estruturas são aspectos megascópicos que podem ser observados em
amostras grandes ou no campo. As mais comuns são as que seguem:
a) Estruturas vesiculares e amigdalóides - apresentam pequenas
cavidades esféricas. Pode se apresentar vazias (vesículas) ou preenchidas por
minerais secundários (amígdalas) (Figura 43).

Figura 43. Basalto com estrutura amigdalóide caracterizado pelo preenchimento de minerais.

b) Estruturas em bioco (biock lava) e brechas de fluxo (floro breccias) -


apresenta-se com a forma de biocos envoltos por lava ou por materiais
secundário (arenito, calcita, etc.). Rochas com tais estruturas geralmente são
chamadas brechas basálticas. Lavas muito fluidas se solidificam formando
superfícies e crostas mais lisas, ou então com rugas e sinais de fluxo iguais aos
que se pode observar em pixe derretido derramado chamados estrutura cordadas
(Figura 58).
c) Estruturas fluidas - são estruturas bandeadas, originadas de diversas
maneiras em lavas viscosas.
86

d) Estruturas de fraturação primária - fraturas que se originam quando da


solidificação de rochas ígneas.

D - O principal parâmetro químico é o relacionado com a quantidade total


de sílica da rocha. Podem ser de acordo com a Tabela 7:

Tabela 7. Acidez de uma rocha magmática

Teor de SiO2 Exemplo Exemplo Teor médio


(%) Intrusiva Extrusiva em SiO2 (%)
Ácida > 65 Granito Riolito 70
Intermediária 65 – 52 Diorito Tinguaito 60
Básica 52 – 45 Gabro Basalto 50
Ultrabásica < 45 Peridotito Picrito 40

Na composição mineralógica, os minerais mais importantes para este fim


são o quartzo, os feldspatos (alcalinos e plagioclásios); minerais claros (félsicos)
e os minerais ferro-magnesianos anfibólios, piroxênios e a biotita; minerais
escuros (máficos).

4.4. Resfriamento do Magma


A cristalização de minerais, a partir do magma, ocorre entre 1200 e 600°C.
No resfriamento do magma distinguem-se dois estágios sucessivos.

4.4.1. Estágios de Resfriamento


Cristalizam-se os minerais que formam a massa rochosa propriamente dita.
Cristalizam-se a maior parte dos silicatos, obedecendo ao grau crescente de
polimerização (primeiro os nesossilicatos e por último os tectossilicatos).
Nesta fase, os constituintes voláteis praticamente não interferem a não ser
para manter a fluidez do magma.

4.4.1.1. Estágio Pneumatolítico (ou Pegmatítico)


Nesta fase, os gases aumentam em proporção e devido às altas
temperaturas e pressões em que se encontram, têm sua ação dissolvente
aumentada, provocando percolação através das rochas, acarretando a formação
87

de novos minerais como a turmalina e o topázio, além de modificações estruturais


nas rochas já formadas.

4.4.1.2. Estágio Hidrotermal


Com resfriamento já avançado, restam no magma soluções residuais
contendo água, sílica e grandes números de elementos metálicos, que vão se
depositando ou reagindo com as rochas presentes, dando origem às jazidas
minerais de cobre, ouro, zinco, chumbo e outros elementos metálicos.

4.4.2.Textura das rochas magmáticas


A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjamento dos minerais dentro
das rochas. A textura das rochas magmáticas relaciona-se principalmente com a
composição e velocidade de resfriamento do magma.

A textura e definida por, pelo menos, três parâmetros principais:

a) Grau de cristalinidade
a) rochas holocristalinas ou cristalinas: constituídas exclusivamente por
material cristalino. Ex: granitos, diabásio;
b) rochas holovítreas ou vítreas: exclusivamente por material vítreo. Ex:
Obsidiana;
c) rochas hipocristalinas ou hipovitreas: mesma rocha encontra-se material
cristalino e vítreo. Ex. basalto

b) Grau de visibilidade
a) fanerítica, quando os minerais constituintes podem ser percebidos a olho
nu;
b) afanítica, quando os minerais formam partículas tão pequenas que não
podem ser percebidos a olho nu. Neste caso, a rocha apresenta um aspecto
maciço.

c) Forma dos cristais


a) minerais euhedrais - minerais delimitados por faces externas cristalinas.
88

Ex. olivinas, piroxênios, feldspatos.


b) minerais subhedrais - parcialmente delimitados por faces cristalinas.
Ex: anfibólios, micas, plagioclásios.
c) minerais anhedrais - desprovidos de faces cristalinas.
Ex. quartzo, feldspatos K, fesldpatóides.

d) Distribuição da dimensão dos cristais


a) Granular - grânulos de minerais bem evidentes de dimensões aproximadas.
Ex: Granito
b) Compacta - constituintes muito pequenos não permitindo sua determinação
macroscópica. Ex: basalto
c) Porfirítica - caracterizado pela presença de cristais maiores em relação aos
outros. Ex: Dacito

e) Índice de Coloração
É a porcentagem conjunta em volume de minerais fêmicos, opacos e acessórios
presentes em uma rocha magmática.
a) Leucocrática - (5 a 35 %) coloração claros com predominância de minerais
incolores e claros (predomina quartzo, feldspatos e muscovita). Ex: Granito,
Riolito
b) Mesocrática - (35 a 65 %) coloração intermediária. Ex: Andesito, Diorito
c) Melanocrática - (65 a 90 %) rochas escuras onde predominam os minerais
ferromagnesianos (predomina piroxênio, hornblenda e biotita). Ex: Basalto, Gabro

4.5. Seqüência de Cristalização


A série de cristalização de BOWEN é bastante genérica, não sendo
possível através dela prever ou analisar todos os casos, existindo várias exceções
a ela. Entretanto a composição das rochas mais comuns pode ser entendida ou
inferida através dela. A série de BOWEN é válida para a fase ortomagmática de
resfriamento, e pode ser ilustrada por meio de um diagrama.
Os minerais máficos (olivinas, piroxênio, hornblenda e biotita), formam na
terminologia de BOWEN uma série de reações descontínuas, isto significa que
cada substância mineral reage com o fundente formando um mineral subseqüente
89

e a relação se dá à temperatura determinada ou num intervalo estreito de


temperaturas. Tem-se, portanto, a formação da olivina que, conforme a
temperatura abaixa, com o magma ainda fundido, reagiria formando um piroxênio.
Este por sua vez, passaria da mesma forma em hornblenda, e a hornblenda em
biotita.

Em contraste, os feldspatos plagioclásicos da série contínua de reações,


reagem continuamente com o líquido até a completa solidificação. A cristalização
de ambas as séries ocorre simultaneamente e pode se iniciar numa série ou na
outra, mas ocorrendo formação simultânea de dois tipos de cristais.
Os minerais ortoclásio, muscovita e quartzo, não se relacionam como os
demais. Forma-se preferencialmente do fundente residual, o chamado líquido
residual do magma. Outra maneira de apresentar essa seqüência de cristalização
aparece na Figura 44.
90

Figura 44. Seqüência de cristalização e as principais rochas magmáticas

4.6. Principais Rochas Magmáticas

As rochas magmáticas são classificadas normalmente tomando-se como


critério distintivo à composição mineralógica e a textura.

4.6.1. Família Granito - Riólito


A família granito - riólito é caracterizada pela seguinte composição mineralógica:
Quartzo 10 – 40 %
Feldspato K 30 – 60 %
Plagioclásio 0 – 30 %
Biotita e Anfibólio 10 – 30 %

A cor clara dos granitos e dos riólitos deve-se a sua composição, ou seja,
são formados a partir de magmas ricos em potássio, silício e sódio e pobres em
ferro, magnésio e cálcio.
Riólito – formado na ou próximo à superfície, possui coloração típica
branca cinza ou rósea e normalmente apresenta alguns fenocristais de quartzo ou
91

e feldspatos. Os magmas dos quais os riólitos se originam são mais viscosos e de


movimentação bastante lento. Textura afanítica.
Granito - mais comum dentre as rochas magmáticas, apresenta textura
fanerítica e possuem coloração cinza, mas quando predomina o feldspato K e
podem ter cores róseas ou avermelhadas .

4.6.2. Família Diorito - Andesito


A família diorito - andesito tem composição intermediária entre a família
granito - riólito e gabro - basalto. Pode ser caracterizada pela seguinte composi-
ção:

Plagioclásio 55-70%
Anfibólio e Biotita 25-40%
O plagioclásio é normalmente, 50% cálcio e 50% sódio e possui em
pequenas quantidades feldspato potássico e quartzo.
Andesito - a variedade mais comum é o andesito pórfiro (fenocristais
formam mais de 10 % do volume da rocha) e, em geral, possuem coloração cinza,
esverdeada ou avermelhada. Os fenocristais são compostos de plagioclásio,
anfibólio ou biotita, inseridos numa matriz afanítica de plagioclásios e algum vidro.
Diorito - de textura igual ao granito, diferem apenas na composição, ou
seja, o diorito é composto por plagioclásio Ca-Na e minerais ferro-magnesianos.
Muitas vezes, o diorito aparece associado a granitos.

4.6.3. Família Gabro-Basalto


A composição dessa família é a seguinte:
Plaglioclásio (maioria Ca) 45-70%
Minerais ferro-magnesianos (olivina, piroxênios e anfibólio) 25-60%
Com coloração preta ou verde escura, essas rochas cristalizam-se a partir
de magmas ricos em ferro, magnésio e cálcio e pobres em sílica.
Basalto - é a variedade extrusiva do diabásio e recobre extensas áreas da
Região Sul do Brasil, onde representa a rocha ígnea mais importante. Apresenta
cristalização fina a afanítica e cores escuras que podem variar do vermelho-
escuro ao preto, os cristais individuais só podem ser vistos através do
92

microscópio. Apresentam vesículas, e amígdalas preenchidas, onde, os que


apresentam grande quantidade destas ultimas chama-se basalto amigdaloidal. As
variedades de basalto pórfiro são comuns, sendo os fenocristais formados por
piroxênios e olivinas, normalmente.
Muitas ilhas marítimas e regiões costeiras são formadas por basaltos, bem
como extensas áreas continentais.
Gabro – equivalentes intrusivos do basalto, os gabros possuem granulação
de média a grosseira. Não possui quartzo. Sendo formada predominantemente
por plagioclásio Ca e piroxênio. O diabásio é uma rocha intermediária entre o
basalto e o gabro.
A chave para a classificação das principais rochas magmáticas estão na
Figura 64.

TONALIDADE ESCURECE

Ca, Fe, Mg

K, Na, Si
Figura 45. Classificação das rochas magmáticas ou ígneas
93

CAPÍTULO 5 - ROCHAS SEDIMENTARES

5.1. Introdução
As rochas sedimentares são originadas a partir dos detritos de outras
rochas e acumulam-se na superfície da terra em condições normais de
temperatura e pressão. Sua formação tem origem no momento em que
fragmentos dessas rochas primitivas são desalojados por algum processo de
desagregação, passando pelas seguintes fases: intemperismo - erosão -
transporte - deposição – diagênese (consolidação). Estas fases formam um
processo denominado ciclo sedimentar e a sucessão de eventos é contínua e
interdependente.

Figura 46. A formação de rochas sedimentares (Popp, 1988).

O intemperismo consiste da transformação das rochas em materias mais


estáveis em condições físico-químicas diferentes daquelas em que se originara.
Esta transformação ou alteração pode ser física (desgaste e/ou desagregação da
rocha) ou química (decomposição química da rocha). Durante o intemperismo, os
minerais sofrem transformações químicas importantes: (a) parte de seus
94

constituintes é dissolvida e carregada pelas águas de infiltração (Ca, Mg, K, Na e


Fe, principalmente), de modo que esses minerais só vão reprecipitar-se sob a
forma de sedimentos químicos; (b) parte dos minerais, como os feldspatos,
anfibólios, micas etc. é transformada em argilo-minerais, ou seja, minerais moles,
terrosos, formados por cristais ínfimos; (c) o quartzo e uns poucos minerais, colilo
a ilmenita, granada e monazita, não se alteram e permanecem nos solos sob a
forma de grânulos duros e areia; (d) quando o intemperismo é incompleto, restam
ainda no solo fragmentos mais resistentes de rocha. Assim, o intemperismo
transforma as rochas em solos residuais formados por uma mistura de argila,
areia e fragmentos de rocha. Ao longo dos processos de transportes e deposição
há uma expressiva seleção física e química de materiais. Sendo que, materiais de
tamanho semelhante acumulam-se em ambientes de deposição específicos e os
materiais mais solúveis tendem a se perder na solução.
Os materiais transportados pelas chuvas, rios, ventos etc., são
redepositados formando depósitos denominados sedimentos clásticos ou
detriticos.
Durante o transporte esses materiais são separados uns dos outros pelos
agentes de transporte em função do tamanho e da dureza das partículas, onde os
sedimentos formados são constituídos (mais ou menos separadamente) por
argila, areia ou cascalho.
Dessa forma, os dois tipos principais de sedimentos que resultam do ciclo
exógeno são os sedimentos químicos e os sedimentos clásticos.
Uma terceira categoria de sedimentos pode ser adicionada às duas
primeiras: os sedimentos orgânicos, os quais, em princípio, também são
sedimentos químicos ou clásticos, mas apresentam a particularidade de terem
sido originados da intervenção ou da acumulação de restos de esqueletos e
carcaças de seres vivos.
O fato das rochas sedimentares serem formadas por agentes da superfície
da terra (água, vento, gelo) e em condições de temperatura e pressões baixas,
confere-lhes um estado de equilíbrio físico-químico-mineralógico maior em
relação ao meio ambiente da superfície da terra quando comparadas às rochas
magmáticas ou metamórficas que, em seu processo de formação, sofrem a
influência de elevadas pressões e temperaturas. Uma distinção deve ser feita
entre rocha sedimentar e sedimento. Sedimento é considerado um depósito de
95

material sólido na superfície da terra, formado por algum meio natural (água,
vento, geleira), sob condições normais de temperatura e pressão. Rocha
sedimentar é por sua vez, o sedimento consolidado, endurecido por processos
físicos (compactação) e/ou químicos (cimentação).
Segundo POPP (1998) os principais processos de litificação ou diagênese
são os seguintes:
Compactação: Redução volumétrica causada principalmente pelo peso das
camadas superpostas e relacionada com a diminuição dos vazios, expulsão de
líquidos e aumento da densidade da rocha. É o fenômeno típico dos sedimentos
finos, argilosos.
Cimentação. Deposição de minerais nos interstícios do sedimento,
produzindo a colagem das partículas constituintes. É o processo de agregação
mais comum nos sedimentos grosseiros e arenosos.
Recristalização. Mudanças na textura por interferência de fenômenos de
crescimento dos cristais menores ou fragmentos de minerais até a formação de
um agregado de cristais maiores. E um fenômeno mais comum nos sedimentos
químicos.
Os sedimentos argilosos, por exemplo, litificam-se por compactação, ou
seja, as partículas de argila que no início da sedimentação se dispõem segundo
uma estrutura cheia de vazios, sob a ação do peso das camadas superiores, são
compactadas umas contra as outras, de modo a formarem uma rocha dura como
o tijolo prensado. Já a areia de praia endurece principalmente pela introdução de
substâncias cimentantes: carbonato de cálcio, óxidos de ferro, sílica etc.
Os sedimentos químicos, por sua vez, ao precipitarem, sofrem fenômenos
de cristalização que dão origem a rochas muito duras.

5.2. Ciclo Sedimentar


O processo de formação das rochas sedimentares, ciclo sedimentar, pode
ser esquematizado conforme a Figura 47.
96

Figura 47. Esquema simplificado do ciclo sedimentar

O intemperismo resulta de um conjunto de processos que, agindo sobre


minerais de rochas da superfície terrestre, ocasionam sua degradação graças à
ação de agentes atmosféricos e biológicos. É, pois, o fenômeno pelo qual a rocha
se desagrega sob a ação de agentes físicos, químicos e biológicos, fornecendo
material para o sedimento. Em resumo, o intemperismo causa a troca de um
estado maciço por um estado elástico, com a conseqüente formação do
sedimento.
É importante observar que a desintegração física e a decomposição
química não são processos isolados, ao contrário, ocorre sempre conjuntamente,
um complementando a ação do outro.
A erosão refere-se à remoção de detritos que serão transportados do local
e posteriormente depositados numa bacia sedimentar. É causada por quatro
agentes principais: gravidade, ação glacial, água corrente e vento.
A gravidade envolve tanto o lento e gradual rastejo de partículas
sedimentares e fragmentos de rochas pelas encostas montanhosas, como as
avalanches. A erosão glacial ocorre onde geleiras causam abrasão na superfície
terrestre. A água corrente é um poderoso agente de erosão em várias situações
geomorfológicas (geomorfologia é a ciência que se ocupa com o estudo das
formas do relevo e paisagem). A ação erosiva do vento é muito pequena, mas
97

quando o vento carrega partículas como acontece em regiões desérticas, torna-se


um poderoso agente erosivo.
Os produtos do intemperismo removido pela erosão são constituídos de
solutos e resíduos sólidos. Os solutos são a fração solúvel em água e por este
meio são carregados. O resíduo insolúvel tem dimensões que vão desde
matacões (Ø 250 mm) a partículas coloidais (< 0,002 mm). Serão transportados e
segregados pelos diferentes meios de transporte de acordo com a competência
ou seletividade desses meios.
A competência se refere ao tamanho de partículas que um determinado
meio de transporte consegue transportar, isto é, um meio de transporte qualquer
pode ser capaz de transportar apenas partículas muito pequenas, outro já pode
ser competente para transportar desde partículas muito grandes até muito
pequenas.
A seletividade indica a maneira com que é feito o transporte. Por exemplo,
um meio de transporte competente pode transportar partículas grandes e
pequenas, fazendo de maneira seletiva, transportando, ou só as pequenas ou só
as grandes.
A gravidade e o gelo são meios de transporte muito competentes, podem
transportar desde partículas da fração argila (< 0,002 mm) até seixos e matacões
de vários metros de diâmetro. Sua seletividade é pequena e o depósito por eles
formados tem partículas de composição e tamanho bastante variados.
A competência da água corrente é bem menor em relação aos dos
anteriores, porém transporta desde partículas em suspensão ou solução até
partículas e alguns centímetros de diâmetro. A seletividade é bastante elevada.
Os depósitos formados teriam granulometria variável de pequenos seixos até
partículas coloidais, mas de grande uniformidade de tamanho.
O vento é o mais seletivo e menos competente meio de transporte e sua
ação marcante sempre está associada a climas mais áridos.
Tanto a água corrente como o vento, levam as partículas maiores a um
crescente arredondamento durante o transporte.
98

Figura 48. Grau crescente de arredondamento durante o transporte

Com o aumento da esfericidade há também, em ambos os casos, um


polimento maior das superfícies.
O material intemperizado, transportado ou não por qualquer dos meios
mencionados é depositado em algum local, que recebe o nome genérico de bacia
de sedimentação, dos quais o oceano é a principal, recebendo cerca de 90% do
material. Estes depósitos são marcados pelos meios de transporte e apresentam
características próprias de cada um, objetos de estudo da geomorfologia.
A diagênese ou litificação refere-se ás mudanças que ocorrem no material
após ter sido depositado. Normalmente a diagênese implica numa maior
organização dos materiais levando-os a uma maior estabilidade no novo meio.
Os depósitos sedimentares recentes são constituídos de minerais e
fragmentos de rochas que, sob ação continua de agentes geológicos, tendem a
sofrer consolidação, transformando-se em rochas sedimentares, como por
exemplo, a consolidação das areias formando arenitos, de argilas formando
folhelhos.
O endurecimento e a aglutinação desses minerais e fragmentos podem ser
devidos a vários fatores, tendo maior destaque a ação de agentes cimentantes,
depositados durante ou posteriormente a formação do sedimento. Estes agentes
adquirem particular importância nos sedimentos detríticos, sendo freqüentemente
de natureza diversa do material intemperizado. Nos sedimentos resultantes de
precipitação química ou orgânica o cimento é geralmente de mesma natureza dos
minerais formados, como por exemplo, nos calcários, onde os minerais (calcita,
dolomita, etc.) são cimentados pelo próprio carbonato.
Algumas características das rochas sedimentares, como dureza, cor, são
consequências do cimento presente, que pode ser de diversos tipos. Os mais
freqüentes são:
99

a) Sílica - confere cor branca e alta dureza à rocha; geralmente é colorido


por óxidos de ferro.
b) Carbonato - calcítico ou dolomítico, de cor branca, é facilmente
reconhecido pela reação com ácidos, provocando efervescência.
c) Óxidos de ferro - freqüentemente atuam como cimento, conferindo cor
vermelha ou amarela à rocha, conforme seu grau de hidratação.
d) Matéria orgânica - de cor escura (cinza a preto), é facilmente destruída
por água oxigenada.
Além destes mais comuns, outros também são freqüentes, como cimento
cloritoso, micaceo, piritoso, feldspático, etc.
É importante observar que a diagênese é um processo superficial de
endurecimento dos sedimentos, realizado em condições normais de temperatura
e pressão.

Figura 49. Ciclo das Rochas ou ciclo petrogênico

O levantamento que pode ou não fazer parte do ciclo, é a exposição à


superfície do material litificado ficando assim novamente sujeito ao intemperismo,
erosão, transporte, fechando assim o ciclo sedimentar. O levantamento é
100

suprimido caso a rocha sedimentar esteja se formando diretamente sobre a


superfície.
Deve-se lembrar que o ciclo sedimentar é um processo ativo e contínuo,
estando suas diferentes fases interligadas e podendo estar ocorrendo
concomitantemente.

5.3. Composição
Sendo as rochas sedimentares são derivadas de um material preexistente,
poderíamos esperar que sua composição fosse extremamente variável e
complexa. Isso de fato ocorre quando o sedimento é depositado próximo à área
de origem, mas quando o intemperismo e a erosão são prolongados. A
diferenciação sedimentar vai concentrar materiais semelhantes em tamanho,
forma e composição em depósitos distintos (Figura 50).

Figura 50. Seleção de material durante o transporte

A maioria das rochas sedimentares é composta de materiais que são


abundantes em outras rochas ou seus respectivos produtos de intemperismo, e
que são estáveis sob condições de pressão de temperatura da superfície. A
grande parte das rochas sedimentares é na sua maior parte composta de apenas
de apenas quatro constituintes: quartzo, calcita, argila e fragmentos de rochas.
101

Quartzo (SiO2) - o quartzo é o mineral clástico3 mais abundante em rochas


sedimentares. A razão para isso é a grande abundância do quartzo na maioria na
maioria das rochas e sua elevada dureza, resistência ao intemperismo e
estabilidade química nos mais diversos ambientes. Os processos do ciclo
sedimentar tendem a desintegrar, e decompor, os minerais menos estáveis
concentrando o quartzo nos depósitos de areia. A sílica amorfa em solução ou do
tamanho coloidal também é um produto de intemperismo de várias rochas
magmáticas e pode se precipitar em depósitos de granulação mais grosseira.
Calcita (CaCO3) - a calcita é constituinte principal das rochas calcárias e é
o agente cimentante mais freqüente de depósitos arenosos ou argilosos. O cálcio
é originado a partir do intemperismo de rochas magmáticas que contêm minerais
como os plagioclásios cálcicos. O carbonato é derivado da água e do ar
atmosférico. O cálcio é precipitado diretamente na forma de CaCO3 (calcita) ou
extraído da água do mar por organismos e concentrado em conchas. Quando
esses organismos morrem, as conchas e seus fragmentos acumulam-se como
material clástico, formando assim a maioria das rochas calcárias.
Argilas - os minerais de argila se originam do intemperismo dos silicatos,
principalmente dos feldspatos. A granulometria desses minerais é muito pequena
e eles se concentram em argilitos e folhelhos. A abundância dos feldspatos na
crosta terrestre, associado ao fato de que eles se decompõem com facilidade sob
condições atmosféricas, explicam a ocorrência generalizada desses minerais nos
sedimentos.
Fragmentos de Rocha - fragmentos de rocha, nos quais os constituintes
minerais não estão decompostos ou desagregados são de ocorrência comum nas
rochas clásticas de granulação mais grosseira. Os fragmentos de rocha também
podem ser parte predominante de rochas arenosas.

OUTROS MINERAIS
Depósitos de quartzo, calcita e argila isolados ou em várias combinações
representam o maior volume de rochas sedimentares, outros minerais, no
entanto, muitas vezes aparece em quantidade suficiente para formar estratos
isolados. A dolomita, CaMg (CO3)2 pode substituir a calcita nos calcários. O
3
O material clástico é aquele herdado de uma rocha pré-existente sem que tenha sofrido significativa alteração.
Um sedimento clástico é formado por fragmento ou detritos de uma rocha pré existente.
102

feldspa o e a mica podem aparecer em grande quantidade em rochas arenosas


se o intemperismo químico for pouco intenso. A halita e o gipso precipitaram-se
por evaporação de águas marinhas e podem acumular grossas camadas em
certos ambientes. Os óxidos de ferro podem se precipitar de soluções formando
depósitos ou cimentando materiais elásticos mais grosseiros. A matéria orgânica
geralmente de pequena ocorrência em rochas sedimentares, mas seu acúmulo,
na forma de material vegetal, pode em alguns casos originar grandes depósitos.

5.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares


Existem estruturas que são típicas das rochas sedimentares e são feições
importantes na sua identificação.
A mais importante é a estratificação, que é o desenvolvimento de camadas
que ocorre nas rochas sedimentares produzido por mudanças físico-químicas
durante o transporte e deposição do ciclo sedimentar que os origina. A espessura
dessas camadas varia de alguns milímetros a vários metros, por ter desenvolvido
horizontalmente ou inclinado e é um forte indicativo do tipo de ambiente de
sedimentação e da direção do transporte.
A textura das rochas sedimentares relaciona-se de maneira muito estreita
com a distância e o tipo de transporte das partículas e com o ambiente de
deposição.
Temos basicamente dois grandes grupos de sedimentos: os detríticos
(fragmentos) e os químicos (compostos químicos solúveis), que originam dois
tipos básicos de textura: textura c1ástica constituída de fragmentos e detritos de
rochas e a textura cristalina composta de cristais que cresceram a partir de
soluções. A textura clástica origina as rochas sedimentares elásticas
(fragmentárias ou detríticas) enquanto que a textura cristalina origina rochas
sedimentares químicas e orgânicas.
Textura clástica - o critério básico para classificar texturas clásticas é o
tamanho das partículas. As duas escalas mais seguidas estão representadas na
Tabela 8.
As classes de tamanho podem posteriormente ser subdivididas de acordo
com arredondamento e esfericidade (Figura 50) e tipo de cimentação. As
partículas transportadas menos arredondadas do que as transportadas por água
103

corrente ou vento.
O grau de seleção do material é também um critério importante. Materiais
bem selecionados tem pouca variação granulométrica e homogeneidade
mineralógica.

Tabela 8. Escalas de tamanho de partículas.

WENTWORTH ATTERBERG
DIÂMETRO (mm)
Argila < 1/256 < 0,002
Silte 1/256 – 1/16 0,002 – 0,02
Areia fina 1/16 – 1/14 0,02 – 0,2
Areia grossa 1/14 – 2 0,2 – 2
Cascalho fino 2 – 64 2 – 20
Cascalho grosso 64 – 256 20 – 200
Matacão > 256 > 200

Textura cristalina - Os minerais precipitados a partir de águas marinhas


ou lagos desenvolvem uma textura semelhante a uma rede emaranhada de
cristais. Essa textura é semelhante à de algumas rochas magmáticas, mas
geralmente é composto por um único mineral dominante. Os cristais individuais
têm aproximadamente o mesmo tamanho e formam um denso empacotamento.

5.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem


Em regiões tropicais, o melhor ambiente de deposição de sedimentos é o
fluvial. Os ambientes desértico, lacustre e glacial também são ou foram
importantes em nossas condições.

5.5.1. Ambientes Deposicionais


I. Ambiente Fluvial
Em áreas continentais, os rios são os principais meios de transporte de
sedimentos formados pelo intemperismo. Os materiais sólidos transportados
pelos rios podem ser divididos em 2 grupos: carga do fundo, que é o material que
104

se move ao longo do leito por processos de saltação e rolamentos, e a carga de


suspensão.
Além disso, os rios carregam grande quantidade de materiais inorgânicos e
orgânicos dissolvidos.

Figura 51. Depósitos formados pela ação fluvial

Os depósitos de canal constituem o maior volume depositado pelos rios.


Os depósitos marginais são originados nas margens dos canais durante as
enchentes e compreendem os depósitos de diques marginais ou diques naturais e
de rompimento de diques. Os depósitos de planície de inundação são constituídos
essencialmente por sedimentos finos depositados durante grandes enchentes,
quando as águas ultrapassam os diques naturais e inundam as planícies. Muitas
vezes esses depósitos são responsáveis pela alta fertilidade de algumas várzeas.
O depósito residual de canal, formado por seixos grandes que o rio teve
pouca competência para carregar, constitui forte evidência do tipo de transporte
sofrido pelos sedimentos.
Os depósitos formados por ação fluvial geralmente são bem relacionados e
boa estratificação.

II Ambiente Desértico
Deserto é uma área onde a taxa de evaporação potencial excede a taxa de
precipitação pluviométrica e o vento é o agente geológico mais importante nos
105

processos de erosão e sedimentação. Nos ambientes desérticos predominam o


intemperismo físico das rochas envolvendo processos de fraturamento e
esfoliação.
Os arenitos da Formação Botucatu na Bacia do Paraná foram originados
de um ambiente com depósitos grosseiros de areia ou arenitos com estratificação
cruzada bem desenvolvida e fortes ângulos de mergulho apresentando
localmente camadas horizontais. Isso há 135 milhões de anos aproximadamente.

III. Ambiente Lacustre


Refere-se à deposição em lagos, que são corpos de água parada, em geral
água doce. Seus sedimentos têm normalmente um aumento de granulometria
rumo ao topo, sendo os sedimentos mais profundos argilosos.
São também características do ambiente as estratificações perfeitamente
paralelas e de espessura muito pequena.

IV. Ambiente Glacial


Estão praticamente limitado ao pólo norte e sul e às altas montanhas. As
geleiras são os agentes principais nos processos geológicos que atuam nesse
ambiente. Os depósitos não estratificados ou tilitos, originados pela atividade das
geleiras, possuem materiais de granulometria bastante variável, contendo siltes,
argilas, seixos e matacões de diversos materiais encontrados no caminho
percorrido pela geleira. No Brasil, o Grupo Tubarão contém fortes evidências de
períodos glaciais.

5.5.2. Formação da Paisagem


A ciência que se ocupa da formação de paisagens é a geomorfologia. A
formação da paisagem está fortemente relacionada com o material geológico
superficial e com os agentes erosivos e transporte que atuam em determinada
região. Portanto, feições de paisagem onde predomina uma intensa atividade
glacial serão totalmente diferentes daquela devido à ação fluvial. Os mesmos
agentes formarão paisagens diferentes dependendo das rochas ou material
geológico encontrado.
As formas e formação da paisagem tem por isso estreita ligação com a
geologia e com os processos dinâmicos que atuam num local, consequentemente
106

tem excelente correlação com o tipo de solo formado nas diferentes feições ou
posições da paisagem.
A paisagem é o retrato ou reflexo de todas as características e processos
dinâmicos que atuam durante o tempo numa área e deve sempre ser estudada ou
analisada quando interferências ou observações da geologia de superfície ou
referentes aos solos (pedológicas) forem feitos.
Na Figura 52 vemos a evolução da paisagem considerando agentes e
materiais geológicos distintos.

Figura 52. Evolução da paisagem

5.6. Classificação
As rochas sedimentares clásticas resultam de processos completamente
diferentes daquelas formadas por precipitação química ou sedimentação de
compostos orgânicos. Por isso, as rochas sedimentares são divididas em 2
grupos: rochas clásticas e de origem químico-orgânica. A subdivisão de cada um
107

dos grupos é feita com base na textura, composição ou outra característica


relevante. Cerca de 90 % das rochas sedimentares podem ser classificadas como
variedade de argilito, siltito ou arenito.
As rochas clásticas são classificadas de acordo com o tamanho das
partículas com posterior subdivisão por composição.
As rochas de origem química são primeiramente subdivididas de acordo
com sua composição.

Tabela 9.. Classificação das rochas clásticas, químicas e orgânicas

Residuais Psefitos
Psamitos
CLÁSTICAS Epiclasticas Pelitos

Piroglasticas Brecha Vulcânica


Tufo Vulcânico

Evaporitos de atividade
QUÍMICAS
bioquímica

Caustobiolitos

ORGÂNICAS Carbonatadas
Acaustobiólitos Silicosas
Fosfatadas

5.6.1. Rochas Clásticas


As rochas clásticas são compostas principalmente de fragmentos ou
detritos de outros materiais rochosos. Tais depósitos são denominados de
cascalhos, areias ou argilas, quando não estão consolidados e conglomerados,
arenitos ou argilitos quando consolidados e endurecidos. A maior parte do
material é selecionado, estratificado e mostra sinais de abrasão. A classificação
das rochas clásticas é baseada na textura e composição (Tabela 10).
108

Tabela 10. Classificação das rochas elásticas (Popp,1998).

Nomes dos sedimentos ou rochas sedi-


Granulometria
Grupos Principais (Wentworth) mentares Outras características
(mm) Sedimentos não Rochas sedimentares
consolidados correspondentes
256 MATACÕES São geralmente forma-
Blocos ou CAS- dos por fragmentos de
64-256 CALHO GROS- rocha ou matriz
SEDIMENTOS SO arenosa ou síltica. As
DE GRANULA- varieda-des com
CONGLOMERADOS
ÇÃO GROSSEI- Seixos ou CAS- partículas
4-64 E BRECHA
RA OU PSEFI- CALHO FINO arredondadas são os
TOS CONGLOMERADOS.
Quando as partículas
2-4 GRÂNULOS são irregulares, tem-se
a brecha.

As areias são predomi-


AREIA GROS- ARENITOS GROS-
nantemente formadas
SEDIMENTOS 1/4-2 SA SEIROS por quartzo. Por cimen-
DE GRANULA- tação, formam os areni-
ÇÃOMÉDIAOU tos. Arenitos com 25%
PSAMITOS ou mais de feldspato
ARENITOS FINOS denominam-se
1/16-1/4 AREIA FINA
arcósios.

Os siltes são formados


por minerais finalmente
SIL TITOS E FOLHE-
1/256-1/16 SILTE moídos (pode de rocha)
LHOS
e a compactação forma
os siltitos.
SEDIMENTOS
DE GRANULA- As argilas são predomi-
ÇÃOFINAOU nantemente composta
PELITOS por argilo minerais e
ARGILITOS E FO- são plásticas. Os argili-
1/256 ARGILA
LHELHOS tos são mais maciços e
os folhelhos
apresentam
foliação

I. Conglomerado
Consistem de fragmentos de rochas grandes (> 2 mm), os chamados
clastos. Quando os clastos são angulosos, a rocha denomina-se brecha, podendo
indicar pouco ou nenhum transporte. Quando os c1astos sofrem arredondamento,
em geral estão associados a uma matriz arenosa, e o depósito constitui um
ortoconglomerado.
Os fragmentos que formam o conglomerado são unidos por matriz
arenosa, argilosa e agentes cimentantes (sílica, óxidos de ferro, carbonatos). Os
seixos individuais são bem selecionados e arredondados. Os seixos do
conglomerado podem ser de qualquer mineral ou rocha, sendo mais comum
serem constituídos de materiais resistentes como o quartzo ou fragmentos de
109

quartzito. Fragmentos de calcários ou granitos podem predominar em alguns


casos.
Águas correntes muito fortes, gelo ou a gravidade são os únicos agentes
competentes para o transporte de seixos grandes. Os ambientes comuns de
ocorrência de conglomerados são terraços aluvionares, canais de rios ou praias.

FOTO – CONGLOEMRADO EM MATRIZ DE ARENITO GROSSO

II. Brecha
Brechas são rochas elásticas de granulação grosseira nas quais os
fragmentos são angulares e apresentam poucas evidências de abrasão. O
material normalmente é pouco selecionado e apresenta matriz fina. As brechas
mais comuns se originam da atividade glacial ou outros fenômenos de movimento
de massas.

FOTO – BRECHA
110

III. Arcósio

São rochas clásticas que contém no mínimo 25 % de feldspatos. O quartzo


é o outro constituinte principal. A rocha tem geralmente coloração rósea e lembra
muito o granito. Normalmente tem granulação grosseira, pouco arredondamento e
seleção- moderada .

IV. Arenitos

Sedimentos clásticos nos quais a maioria das partículas tem diâmetro entre
1/6 a 2 mm. Os grãos individuais são geralmente arredondados e mostram
claramente os efeitos da abrasão. O quartzo normalmente é o mineral dominante,
mas, feldspatos, granadas, micas e outros minerais podem estar presentes em
quantidades variáveis.
Arenitos pouco selecionados e com grande quantidade de argila associada
(mais que 20%) são chamados de grauvacas.
Os agentes cimentantes comuns são carbonatos, sílica e óxidos de ferro.
111

Os arenitos normalmente são estratificados e de coloração variável dependendo


do cimentante. A sua distribuição é generalizada, sendo encontrados nos mais
diversos ambientes.

V. Siltitos

Os siltitos são rochas clásticas de granulação fina com mais da metade de


suas partículas com diâmetro entre 1/16 a 1/256 mm. A estratificação é bem
evidente e sua composição mineralógica comum é o quartzo associado em menor
quantidade com micas e minerais de argila.
Aparecem nos deltas ou planícies de inundação dos rios. Dificilmente
formam depósitos espessos, ocorrendo normalmente estratos intercalando
argilitos ou arenitos.

VI. Argilitos

FOTO – Amostra de Argilito,


aspecto untuoso e coloração
escura
112

Rochas clásticas de granulação fina cujas partículas são menores que


1/256 mm. Apresentam estratificação muito fina recebendo a denominação de
folhelho.
Os minerais de argila, micas e algumas vezes o quartzo constituem a
maioria d as rochas. A calcita pode estar presente atuando como cimentante.

5.6.2. Rochas sedimentares químicas e orgânicas


As rochas sedimentares são formadas a partir de minerais percipitados,
como a calcita e dolomita, a sílica, a halita e silvita, já as rocgas sedimentares
orgânicas são originadas pela precipitação e/ou acúmulo de materiais orgânicos
animais e vegetais, como esqueleto (diatomito), conchas, carapaças (recifes de
corais), restos vegetais (carvão).

5.6.2.1. Rochas Sedimentares de Origem Química


I. Calcários

São rochas sedimentares que contém mais de 50 % de carbonato de


cálcio. Podem aparecer algumas impurezas tais como argilas, quartzo, óxidos de
ferro e fragmentos de rocha. A calcita e o CaCO3 podem ter origem de
precipitação química, orgânica ou ser formados por detritos. São classificadas
com base em sua textura ou outra propriedade relevante. Todos os calcários são
113

semelhantes em composição e apresentam efervescência em HCI a frio. A calcita


pode aparecer associadas à dolomita CaMg(CO3)2 .

II. Laterita
A laterita é formada pelo acúmulo secundário de óxidos de ferro como a
hematita e a goetita. Apresenta coloração vermelha ou bruna intensa, dureza
elevada e alta densidade. Forma-se normalmente na região de oscilação do
lençol freático próximo à superfície. A fase pouco endurecida da laterita é
chamada de plintita, que ora secando, ora umedecendo, sofre endurecimento
irreversível e transforma-se em laterita.

III. Evaporitos
São depósitos de cloreto de sódio, potássio, sulfatos, carbonatos, boratos e
outros sais comumente relacionados com a evaporação exagerada do solvente.
Formam-se em braços de mar, mares interiores, lagos salgados etc. É exemplo o
sal em Cotiguiba, Sergipe e Nova Olinda, Amazonas.

5.6.2.2. Rochas sedimentares orgânicas


De acordo com POPP (1998), são sedimentos formados pela acumulação
bioquímica de carbonatos, sílica e outras substâncias, ou então pela deposição e
transformação da própria matéria orgânica. O acúmulo de carbonato ou
sedimentos acaustobiolitos, ou seja, não-combustíveis, merecem destaque os
calcários formados pela acumulação de conchas, corais etc. ou originados pela
intervenção de certas algas, assim como sedimentos formados pela acumulação
de estruturas silicosas de foraminíferos e diatomáceos (diatomitos). A sílica e
outras substâncias são denominadas caustobiolitos, ou seja, biolitos
combustíveis, e se formam pela acumulação de maior ou menor quantidade de
matéria orgânica juntamente com uma certa porção dos sedimentos argilosos ou
calcários.
O tipo de material acumulado é predominantemente formado por restos
orgânicos com um dado teor de carbono. Esses sedimentos (acumulo de restos
vegetais, por exemplo) se formam em um ambiente redutor (anaeróbico) com
maior ou menor teor de argila. O sedimento assim formado chama-se turfa. Com
a evolução diagenética (incrementação de carbono), a turfa passa a outras formas
114

cada vez mais ricas em carbono chamadas linhito, hulha e antracito.


Quando a matéria orgânica que se acumula é predominantemente
constituída por seres aquáticos como algas, plâncton, e a deposição ocorre em
lagunas costeiras ou mares rasos semifechados como o Mar Negro, por exemplo,
os sedimentos que se formam são denomina sapropélicos, e de sua diagênese e
evolução se formam os folhelhos betuminosos, os folhelhos orgânicos e o
petróleo.
I. Fosforitos
São rochas de origem orgânica resultante do acúmulo de detritos de
peixes, répteis e mamíferos. Também são conhecidos por fosfatos de rocha. Sua
constituição principal é fosfato e carbonato de cálcio. O aspecto e textura dessas
rochas são muito variáveis.
115

CAPÍTULO 6- ROCHAS METAMÓRFICAS

6.1. Introdução
As rochas sedimentares são formadas, de modo geral, pela desintegração
e/ou decomposição de rochas pré-existentes, com posterior transporte dos
detritos ou fragmentos, culminando o processo com a deposição ou sedimentação
dos produtos da erosão, perto ou longe da área fonte que forneceu o material.
Desse modo, as condições de pressão e temperatura em que se formam
as rochas sedimentares conseqüentemente aproximam-se ou são idênticas às da
superfície terrestre.
Por outro lado, as rochas ígneas derivam-se da solidificação de um magma
e se cristalizam a temperaturas no geral desde 1100º C até 600º C, sob condições
de pressão variando desde atmosféricas (caso das lavas) até alguns milhares de
bárias (condições de profundidades de até 20 km; caso das rochas plutônicas).

Figura 53. Metamorfismo regional em área da crosta instável sujeita a fortes compressões. A intensidade
do metamorfismo decresce nas rochas no sentido de (C) para (A); (Extraído de Popp, 1998).

As rochas sedimentares bem como as magmáticas, quando soterradas a


profundidades de 3 a 20 km em determinados ambientes geológicos onde atuam
116

altas pressões (dos tipos hidrostáticos e cisalhantes) e temperaturas (que oscilam


desde 100 até 600º C), tornam-se instáveis, transformando-se e constituindo
assim uma rocha metamórfica. Tais transformações são mineralógicas e/ou
texturais, de modo que a rocha passa a ter uma nova composição mineralógica e
novas texturas e estruturas.
A classificação das rochas metamórficas não obedece a critérios
determinados como nos casos anteriores, dada a sua grande variabilidade. Os
mais diversos tipos de rochas são passíveis de se metamorfizarem, de modo que
não existem parâmetros distintivos de aplicação ampla.
As rochas metamórficas são aquelas que sofreram fundamentais
modificações devido à ação do calor, pressão e ação química de fluídos e gases.
Essas novas rochas, consequentemente, chamadas de metamórficas formaram-
se a partir do fenômeno metamorfismo, ou seja, transformação.
As fontes de calor durante os processos metamórficos são corpos
magmáticos em resfriamento, desintegração radioativa de elementos e devido ao
gradiente geotérmico. Os fluídos e gases podem vir da porção volátil do magma
ou da atmosfera e hidrosfera superficiais.
Os principais efeitos do metamorfismo são:
1- recombinação química e crescimento de novos minerais com ou sem a adição
de elementos de fluídos ou gases percolantes;
2- deformação e rotação dos grãos minerais constituintes;
3- recristalização de minerais em grãos maiores.
O resultado final é uma rocha de maior cristalinidade e dureza, adquirindo
novas feições estruturais como dobras ou outras expressões de deformação
(Tabela 16).

Tabela 11. Exemplos de rochas metamórficas de acordo com as classes químicas

MATERIAL DE ORIGEM CLASSES QUÍMICAS


Granitos, Arenitos, quartizitos etc Rochas Quartzo-feldspáticas
Argilitos, Folhelhos Rochas Aluminosas
Calcários e Dolomitos Rochas Carbonatadas
Rochas de Magma Gábrico, Dioritos Rochas Básicas
Peridotios e Serpentinitos Rochas Magnesianas
Sedimentos Ferruginosos Rochas Ferruginosas
117

Cada uma destas classes químicas mencionadas anteriormente possui


exemplos característicos como:

CLASSES QUÍMICAS EXEMPLOS


Rochas Quartzo-feldspáticas Gnaisses e Quartzito
Rochas Aluminosas Ardósia, Filito e Micaxisto
Rochas Carbonatadas Mármore e Escarmito
Rochas Básicas Anfibolitos e Metabasitos
Rochas Magnesianas Talcoxisto e Talcito
Rochas Ferruginosas Itabiritos

6.2. Tipos de Metamorfismo

6.2.1. Metamorfismo de Contato


Desenvolve-se ao redor de corpos ígneos intrusivos (como batólitos), que
cedem parte de sua energia térmica às rochas vizinhas encaixantes (Figura 54 e
55). Em conseqüência, as rochas assim metamorfisadas apresentam-se em
auréolas envolvendo o corpo ígneo. Essas auréolas possuem no máximo algumas
centenas de metros de espessura. O fator dominante na sua formação é a
temperatura e as soluções gasosas que emanam do corpo ígneo, enquanto a
pressão tem um papel secundário.

Figura 54. Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito. As rochas sofrem diferentes
graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C), médio em (B) e baixo em (A).
118

Figura 55. Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito. As rochas sofrem
diferentes graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C), médio em (B) e baixo em (A).

6.2.2. Metamorfismo Regional


Desenvolve-se em regiões que sofrem tectonismo intensivo, isto é,
compressões e dobramentos de extensas áreas da crosta com atuação de
pressões orientadas e temperaturas muito elevadas (Figura 56). Em geral, as
rochas que sofrem este tipo de metamorfismo ocorrem em áreas onde existem ou
existiram grandes cadeias montanhosas, fazendo parte dos chamados escudos
cristalinos.

Figura 56. Metamorfismo regional em área da costa instável, sujeita a fortes compressões.
119

6.3. Foliação
Foliação - habilidade da rocha de se separar ao longo de superfícies
aproximadamente paralelas, devido à distribuição paralela das camadas ou linhas
de uma ou vários minerais na rocha. Pode ser expressa por: fratura paralela de
pequena espessura (ardósias), arranjamento paralelo de minerais alongados
(xistosidade) ou por camadas alternadas de composição mineralógica distinta
(gnaisse).
A foliação desenvolve-se durante o metamorfismo por stress orientado e,
característica fundamental das rochas metamórficas, serve como critério de
classificação.
Rochas metamórficas que não apresentam foliação são, aparentemente,
desprovidas de estrutura e constituídas de apenas um mineral.

6.4. Classificação das Rochas Metamórficas


A identificação das rochas metamórficas é muito complexa e é difícil
formular um sistema de classificação satisfatório na sua composição mineralógica
ou modo de origem. O modo mais conveniente de classificar as rochas
metamórficas é agrupa-Ias de acordo com suas feições estruturais com posterior
subdivisão, de acordo com sua composição. Dessa forma, dividem-se as rochas
naquelas que apresentarem foliação e naquelas que não apresentam foliação. As
que apresentam foliação são posteriormente agrupadas de acordo com o tipo de
foliação. Os tipos mais importantes são os da relação que segue na Tabela 12.
120

Tabela 12. Classificação das rochas metamórficas


121

6.4.1. Ardósias

São rochas de granulação muito fina de minerais praticamente


imperceptíveis a olho nu e apresentam foliação na forma de fraturas paralelas de
pequena espessura e excelente xistosidade. As ardósias são densas, de
coloração escura, cinza, vermelha, verde ou preta. Rochas de baixo grau
metamórfico (incipiente, derivadas de rochas do tio argilito/siltito.

6.4.2. Filitos
São rochas xistosas, de granulação fina, apresentam um brilho sedoso
típico devido à presença de pequenos cristais de serecita. As cores são variadas,
sendo comuns os tons castanhos claro, esverdeado, cinza, esbranquiçado, etc.
são rochas com boa xistosidade e os planos de xistosidade metamórficos (fraco)
originados de argilito/siltito.
122

6.4.3. Xistos
São rochas de xistosidade bastante acentuada onde os cristais
constituintes são bem visíveis e apresenta-se em folhas ou placas delgadas. A
composição predominante é de biotita, moscovita, clorita, quartzo, etc.

6.4.4. Gnaisses
Os gnaisses apresentam granulação mais grosseira e foliação resultando
camadas de constituição mineralógica distinta (minerais agrupam formando as ou
faixas alternadas em tons claros e escuros).

Essa rocha origina-se do metamorfismo intenso de rochas da família dos


granitos - riólitos ou a partir de rochas sedimentares arenosas ou metamórficas de
pequena intensidade. São rochas constituídas por micas, anfibólios, quartzo e
feldspato.
123

6.4.5. Metaconglomerados
O metaconglomerado é um conglomerado que foi alterado pelo calor e
pressão de uma forma que os seixos estão deformados, quebrados e fundidos
uns aos outros. Os seixos podem apresentar certa orientação dentro da rocha.
São rochas normalmente muito endurecidas. A matriz areno-siltosa também
apresenta deformações estruturais.

6.4.6. Quartzito
Os quartzitos puros são originados de arenitos quartzíferos, os menos
puros normalmente apresentam micas associadas, compostas por mais de 80 %
de quartzo. Possuem em geral coloração clara, dureza muito elevada e aspecto
maciço. Não apresentam foliação.
124

6.4.7. Mármore
Rocha metamórfica sem foliação, o mármore é constituído principalmente
de calcita e dolomita. As cores variam do branco, róseo ao cinza, marrom e preto.
Apresentam dureza baixa, alta compacidade e efervescência com ácido clorídrico
a frio.

6.4.8 Anfibólios
Rochas compostas de anfibólios e feldspatos (plagioglásios). Apresentam
orientação de minerais e provem de rochas ígneas básicas.

6.4.9. Itabiritos
É um tipo essencial de quartizito, provavelmente de rocha sedimentar
química, que se caracteriza por uma alternância de bandas de quartzo e bandas
de hematita (geralemente especularita).
125
126

Tabela 13. Identificação das rochas metamórficas


127

CAPÍTULO 7. O CICLO HIDROLOGICO E AS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS
A água é essencial para muitos processos geológicos. Os rios e o gelo
glacial são os principais agentes de erosão, ajudando a esculpir a paisagem dos
continentes. A água é essencial, também, ao intemperismo, como solvente dos
minerais das rochas e do solo ou como um agente de transporte que carrega para
longe materiais dissolvidos e alterados. A água que se infiltra nos materiais
superficiais forma imensos reservatórios subterrâneos; ela também tem o papel
de lubrificar os materiais envolvidos em escorregamentos e outros movimentos de
massa. Além disso, a água quente que circula em corpos ígneos ou nas dorsais
mesoceânicas produz depósitos de minério hidrotermal.
A água é vital para toda a vida do planeta. Os humanos não podem
sobreviver mais do que poucos dias sem ela e, mesmo nos desertos mais secos,
as plantas e os animais precisam de um pouco desse líquido. Imensas
quantidades de água são utilizadas na indústria, na agricultura e em sistemas de
abastecimento das cidades. Nos Estados Unidos, um dos maiores usuários de
água no mundo, tem havido um aumento constante do consumo desse bem
desde o século XIX. Num intervalo de apenas 35 anos, entre 1950 e 1985, o uso
da água aproximadamente triplicou, indo de 129 bilhões para cerca de 341
bilhões de litros por dia. Os países desenvolvidos começaram a enfatizar a
necessidade de um uso mais eficiente deste recurso finito que é a água.
A hidrogeologia está se tornando importante para todos nós à medida que
há um aumento da demanda de um estoque de água limitado. Para proteger es
es estoques e, ao mesmo tempo, atendermos nossas necessidades, devemos
saber não só onde encontrar mais água, mas também como seus estoques se
renovam. Com esse conhecimento poderemos usar e dispor da água de modo a
não comprometer o abastecimento futuro

7.1. Os fluxos e os reservatórios


Podemos ver a água fluindo nos rios superficiais, e também observá- Ia
em lagos e oceanos. Mas é mais difícil observar as imensas quantidades de água
armazenadas na atmosfera e no subsolo e os mecanismos pelos quais ela flui
para esses locais de armazenamento e depois sai deles. Quando a água evapora,
128

ela desaparece na atmosfera como vapor. Quando a água da chuva infiltra-se no


subsolo, toma-se subterrânea - a massa de água armazenada sob a superfície
terrestre.
Cada lugar onde a água é armazenada constitui um reservatório. Os
principais reservatórios naturais da Terra são os oceanos, as geleiras e o gelo
polar, os aqüíferos, os lagos e os rios, a atmosfera e a biosfera. A Figura 57
mostra a distribuição da água nesses reservatórios. Os oceanos são, de longe, os
maiores repositórios de água do planeta. Embora a quantidade total de água nos
rios e lagos sejam relativamente pequena, esses reservatórios são importantes
para a população humana porque contêm água doce. A quantidade de água no
subsolo é cem vezes maior que aquela dos rios e lagos, mas a maior parte dela
não é utilizável porque contém grandes quantidades de material dissolvido.

Figura 57. A distribuição de água na Terra.

Os reservatórios ganham água pelos influxos, como o pluvial e o fluvial, e


a perdem pelos defluxos, como a evaporação e o defluxo fluvial. Se o influxo é
igual ao defluxo, o tamanho do reservatório permanece constante, mesmo quando
a água está continuamente entrando e saindo. Esses fluxos implicam a
permanência, no reservatório, de uma dada quantidade de água durante um certo
tempo médio, chamado de tempo de residência.
Qual a quantidade de água existente na Terra?
A quantidade total de água disponível no mundo é imensa cerca de 1,46
bilhão de quilômetros cúbicos distribuídos entre os vários reservatórios. Se
129

cobrirmos com esse volume o território dos Estados Unidos, todos os 50 estados
ficariam submersos numa lâmina de água com cerca de 145 quilômetros de
profundidade. Esse volume é constante, embora o fluxo de um reservatório para o
outro possa variar diariamente, ano a ano até, em períodos de séculos. Durante
esses intervalos de tempo geologicamente curtos, não há nenhum ganho ou
perda de água para fora ou para o interior da Terra, nem qualquer perda de água
da atmosfera para o espaço exterior.

7.2. O ciclo hidrológico: um componente do sistema Terra


A água na superfície terrestre e abaixo dela circula entre os diversos
reservatórios: dos oceanos, da atmosfera e dos continentes. O movimento cíclico
da água - do oceano para a atmosfera pela evaporação, de volta para a superfície
por meio da chuva e, então, para os rios e aqüíferos por meio do escoamento
superficial, retomando aos oceanos - é o ciclo hidrológico. A Figura 58 é uma
ilustração simplificada da incessante circulação da água e das quantidades
movimentadas. O ciclo hidrológico é um componente do sistema Terra e, assim,
interage com os componentes da atmosfera, do oceano e da paisagem.

Figura 58. O ciclo hidrológico. A água vai para a atmosfera pela evaporação dos oceanos e continentes e deixa-a pela
precipitação como chuva e neve. A água perdida pela evaporação dos oceanos é contrabalançada pela água ganha do
escoamento superficial dos continentes e pela chuva sobre os próprios oceanos. As quantidades do fluxo da água são
da ordem de milhares de quilômetros cúbicos por ano.
130

Dentro dos limites de temperatura encontrados na superfície terrestre, a


água muda entre os três estados da matéria: líquido (água), gasoso (vapor
d'água) e sólido (gelo). Essas transformações impulsionam parte dos principais
fluxos de um reservatório para outro no ciclo hidrológico. O mecanismo de calor
externo da Terra, movido pelo Sol, controla o ciclo hidrogeológico, principalmente
pela evaporação da água dos oceanos e transportando-a como vapor d'água na
atmosfera. Sob certas condições de temperatura e umidade, o vapor d' água
condessa-se em minúsculas gotas que formam as nuvens e, então, precipita-se
como chuva ou neve sobre os oceanos e continentes. Parte da água que se
precipita nos continentes encharca o solo pela infiltração, o processo pelo qual a
água penetra na rocha ou no solo pelos espaços das juntas ou dos pequenos
poros entre as partículas. Parte dessa água do subsolo evapora através do solo
superficial. Outra parte é absorvida pelas raízes das plantas, transportada para as
folhas e retornada à atmosfera por meio da transpiração - a liberação de vapor
d'água pelas plantas. Outra parte da água subterrânea pode, ainda, retomar à
superfície pelas nascentes que jorram para os rios e lagos.
A água da chuva que não se infiltra no solo escoa superficialmente, sendo
gradualmente coletada pelos rios e lagos. A quantidade total de água da chuva
que flui sobre a superfície, incluindo a fração que pode temporariamente infiltrar-
se nas formações próximas à superfície e em seguida retomar para ela, é
chamada de escoamento superficial. Parte do escoamento superficial pode,
posteriormente, infiltrar-se no solo ou evaporar dos rios e lagos, mas a maior
quantidade move-se para os oceanos.
A neve pode ser convertida em gelo nas geleiras, o qual retorna aos
oceanos como água pelo degelo e pelo escoamento superficial e para a
atmosfera pela sublimação, a transformação de um sólido (gelo) diretamente em
gás (vapor d'água). A maior parte da água que evapora dos oceanos retorna para
eles como chuva e neve, comumente referidas juntas como precipitação. O
restante precipita-se sobre os continentes e, então, ou evapora ou retorna para os
oceanos.
A Figura 58 mostra o balanço do fluxo total entre os reservatórios no ciclo
hidrológico. A superfície continental, por exemplo, ganha água pela precipitação e
perde a mesma quantidade pela evaporação e pelo escoamento superficial. O
oceano ganha água pelo escoamento superficial e pela precipitação e perda a
131

mesma quantidade pela evaporação. Como você pode observar na Figura 58, a
quantidade de água que evapora dos oceanos é superior à que se precipita neles
como chuva. Essa perda é compensada pela água que retorna como escoamento
superficial dos continentes. Assim, o tamanho de cada reservatório permanece
constante.

Quanta água está disponível para o uso?


À medida que a ameaça da escassez de água se avulta, o uso da mesma
entra para a arena do debate das políticas públicas. O ciclo hidrológico global é o
que definitivamente controla a oferta de água. Quase toda a água que utilizamos
é doce. A dessalinização (remoção do sal) da água do mar produz um pequeno
mas constante aumento da quantidade de água doce em áreas como o árido
Oriente Médio. No mundo natural, entretanto, a água doce é fornecida somente
pela chuva, pelos rios e lagos e, em parte, pelas águas subterrâneas e pelo
degelo das neves ou geleiras continentais. Todas essas águas provêm
originariamente da precipitação. Portanto, a quantidade máxima de água doce
natural que podemos pensar em usar é aquela constantemente fornecida aos
continentes pela precipitação.

7.3. A hidrologia e o clima


Em muitos aspectos práticos, a hidrologia local (que é a quantidade de
água existente numa região e a forma como ela flui de um reservatório para outro)
é mais importante que a hidrologia global. O fator que exerce a mais forte
influência na hidrologia local é o clima, que inclui a temperatura e a precipitação.
Em regiões quentes, onde as chuvas são frequentes durante todo o ano, o
estoque de água superficial e subterrânea é abundante. Em regiões áridas ou
semi-áridas quentes, raramente chove, e a água é um recurso inestimável. As
pessoas que vivem em climas frios contam com a água do degelo da neve e das
geleiras. Em algumas partes do mundo, estações de chuvas intensas, chamadas
monções, alternam-se com longas estações secas, nas quais a oferta de água
cai, os solos secam e a vegetação murcha.
Onde quer que se viva, o clima e a geologia da região influenciam
fortemente a quantidade de água que circula de um reservatório para outro. Os
132

geólogos estão especialmente interessados em saber como as mudanças na


precipitação e na evaporação afetam o abastecimento de água devido à alteração
da quantidade infiltrada e escoada superficialmente, o que, por sua vez,
determina os níveis da água subterrânea. Se o nível do mar subir como resultado
de um aquecimento global, a água subterrânea nas terras baixas das regiões
costeiras poderá tornar-se salgada, à medida que a água do mar for invadindo os
aquíferos que eram inicialmente de água doce.

7.4. Umidade, chuva e paisagem


Muitas diferenças no clima estão relacionadas com a temperatura do ar e
com a quantidade de vapor d'água que ele contém.
A umidade relativa é a quantidade de vapor d'água no ar, expressa como
uma percentagem da quantidade total de água que o ar poderia suportar numa
dada temperatura, se estivesse saturado. Quando a umidade relativa do ar é de
50% e a temperatura é 15°C, por exemplo, a quantidade de umidade no ar é a
metade da quantidade máxima que o ar poderia carregar a 15°C.
O ar quente pode carregar muito mais vapor d' água do que o ar frio.
Quando o ar quente não-saturado, com uma determinada umidade relativa esfria
o suficiente, ele se torna supersaturada e parte do vapor se condensa como gotas
d'água. As gotas de água condensada formam as nuvens. Podemos observar as
nuvens porque elas são constituídas de gotas de água visíveis, enquanto o vapor
d'água é invisível. Quando se condensa suficiente umidade nas nuvens, as gotas
aumentam e podem ficar pesadas demais. Então, caem como chuva, por não
conseguirem permanecer suspensas nas correntes de ar.
A maioria das chuvas precipita-se em regiões úmidas e quentes próximas
ao Equador, onde o ar e as águas superficiais dos oceanos são quentes. Sob
essas condições, uma grande porção da água do oceano evapora, resultando
numa umidade alta. Quando a água carregada pelos ventos a partir dessas
regiões oceânicas ascende próxima aos continentes, o ar esfria e torna-se
supersaturado. O resultado é uma chuva pesada sobre o continente, mesmo a
grandes distâncias da costa.
A paisagem pode alterar os padrões de precipitação. Por exemplo, as
cordilheiras de montanhas formam uma zona de sombra pluvial, que consiste
133

em uma área de baixa precipitação nas encostas de sotavento (declive no sentido


do vento). O ar carregado de umidade que ascende nas altas montanhas resfria-
se e a chuva precipita-se na encosta frontal ao vento. Com isso, o ar perde
grande parte da sua umidade antes de alcançar a encosta de sotavento (Figura
59). O ar aquece-se novamente quando desce até as elevações inferiores do
outro lado da cordilheira das montanhas. A umidade relativa declina porque o ar
quente pode suportar mais umidade antes de ficar saturado. Isso, por sua vez,
diminui a umidade do ar disponível para a chuva.

Figura 59. Zonas de sombra pluvial são áreas de baixa precipitação nas encostas de sotavento (declive no sentido
vento) de uma cordilheira de montanhas

Diferentemente dos climas tropicais, os climas polares tendem a ser muito


secos. Os oceanos polares e o ar sobre eles são frios, de modo que a evaporação
da superfície marinha é minimizada e o ar pode carregar pouca umidade. Entre os
extremos tropical e polar estão os climas temperados, onde as chuvas e as
temperaturas são moderadas.

7.5. As secas
As secas - períodos de meses ou anos em que a precipitação é muito
mais baixa que o normal - podem ocorrer em todos os climas. As regiões áridas
são especialmente vulneráveis pela diminuição do seu estoque de água durante
as secas prolongadas. Como a reposição da água a partir da precipitação não
ocorre, os rios podem diminuir e secar, os reservatórios podem evaporar e o solo
pode ressecar e fender-se enquanto a vegetação morre. À medida que a
população cresce, a demanda por reservatórios também aumenta, e a ocorrência
de seca pode reduzir o já precário abastecimento de água.
134

Há poucas décadas, secas extremamente severas afetaram regiões


próximas ao bordo sul do deserto do Saara, onde dezenas de milhares de vidas
foram perdidas pelo flagelo da fome. Essa longa seca fez com que o deserto se
expandisse e efetivamente destruiu fazendas e pastagens da região.

7.6. A HIDROLOGIA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL


Um exemplo impressionante de como a precipitação afeta o escoamento
dos rios pode ser observado quando as previsões climáticas anunciam
inundações rápidas depois de chuvas torrenciais. Quando os níveis de
precipitação e escoamento superficial são medidos numa vasta área (tal como
toda a região drenada por um grande rio) e durante um longo período de tempo
(um ano, digamos), a conexão é menos evidente, mas ainda acentuada. Os
mapas de precipitação e escoamento superficial, mostrados na Figura 60, ilustram
essa relação. Quando comparados, observamos que em áreas de baixa
precipitação, somente uma pequena fração da água da chuva acaba como
escoamento superficial. Em regiões secas, boa parte da precipitação é perdida
pela evaporação e infiltração. Em áreas úmidas, uma proporção muito maior da
precipitação escoa superficialmente para os rios. Um grande rio pode carregar
uma enorme quantidade de água de uma área chuvosa para uma com pouca
precipitação.
Os principais rios transportam grande parte do escoamento superficial do
mundo. Os milhões de pequenos e médios rios transportam cerca de metade do
escoamento total do planeta, e cerca de 70 grandes rios carregam a outra
metade. Desta última parte (ou seja, quase um quarto do total), o rio Amazonas,
na America do Sul, carrega quase a metade. O Amazonas transporta cerca de 10
vezes mais água que o Mississipi, que é o rio da América do Norte (Tabela 14).

Tabela 14. Vazão de alguns dos maiores rios

Rio Vazão (m3/s)


Amazonas, América do Sul 175.000
La Plata, América do Sul 79.300
Congo, África 39.600
Yangtze, Ásia 21.800
Brahmaputra, Ásia 18.700
Mississipi, América do Norte 17.500
135

Figura 60. (a) Precipitação média anual no Brasil Estados Unidos. (b) Escoamento superficial no Brasil.
136

O escoamento superficial é coletado e armazenado em lagos naturais e


em reservatórios artificiais criados pelo represamento dos rios. As terras úmidas,
como pântanos e banhados, também atuam como depósitos de armazenagem do
escoamento superficial (Figura 61). Se esses reservatórios são suficientemente
grandes, eles podem absorver influxos de curta duração das principais chuvas,
retendo parte da água que, de outro modo, extravasaria das margens dos rios.
Durante as estações menos úmidas ou secas prolongadas, os reservatórios
lançam água para os rios ou para os sistemas de água construídos para o uso
humano. Esses reservatórios suavizam os efeitos das variações sazonais ou
anuais do escoamento superficial e regularizam a vazão da água rio abaixo,
ajudando a controlar as inundações. Por essa razão, alguns geólogos lutam para
deter a drenagem artificial das terras úmidas causada pela ocupação imobiliária.
A destruição das terras úmidas também ameaça a diversidade biológica, pois
nesses lugares ocorre a procriação de muitas espécies de pássaros e
invertebrados.

Figura 61. Como num lago natural ou num reservatório artificial de uma barragem, uma terra úmida (como um
pântano ou banhado) armazena água durante o período de rápido escoamento para lançá-Ia lentamente durante os
períodos de escoamento baixo.
137

7.7. A água subterrânea


A água subtenânea forma-se quando as gotas de chuva se infiltram no
solo e em outros materiais superficiais não-consolidados, penetrando até mesmo
em rachaduras e fendas do substrato rochoso. Ela é extraída pela perfuração de
poços e bombeamento para a superfície. Os perfuradores de poços de regiões
com clima temperado sabem que é mais provável encontrar um bom estoque de
água se furarem as camadas de areia ou arenito não muito profundas em relação
à superfície. As camadas que armazenam e transmitem a água subterrânea em
quantidade suficiente para o abastecimento são chamadas de aqüíferos.
Os imensos reservatórios de água subterrânea armazenam cerca de
25,9% de toda a água doce, sendo o restante acumulado em lagos e rios,
geleiras, gelo polar e atmosfera. Por milhares de anos, as pessoas têm extraído
esse recurso, seja pela escavação de poços rasos ou pelo armazenamento da
água que flui para a superfície em olhos d' água. Estes últimos são a evidência
direta do movimento da água sob a superfície.

7.7.1. Como a água flui através do solo e da rocha


Quando a água se move para e através do solo, o que determina onde e
em que taxas ela flui? Com exceção das cavernas, não existem grandes espaços
abertos para piscinas ou rios de água subtenânea. O único espaço disponível
para a água é aquele dos poros entre os grãos de areia e outras partículas, que
constituem o solo e o substrato rochoso, e aquele das fraturas. Todo tipo de rocha
e solo tem poros, mesmo que sejam pequenos e poucos. Porém, grandes
quantidades de espaços poroso são mais frequentes em arenitos e calcários.
Podemos lembrar, que a quantidade de espaço poroso nas rochas, nos solos ou
em sedimentos é a porosidade - a percentagem do volume total que é ocupada
pelos poros. A porosidade depende do tamanho e da forma dos grãos e de como
eles estão empacotados. Quanto mais aberto o empacotamento das partículas,
maior o espaço dos poros entre os grãos. Em muitos arenitos, a porosidade é tão
alta que chega a 30% (Figura 62). Os minerais que cimentam os grãos reduzem a
porosidade. Quanto menores as partículas e mais variadas as suas forma,
firmemente elas se ajustam. A porosidade é mais alta em sedimentos e rochas
sedimentares (10-40%) do que rochas ígneas e metamórficas (até 1-2%). O
138

espaço poroso em calcários varia, dependendo de quantos poros foram criados


por dissolução pela água subterrânea ou durante o intemperismo. Na maioria dos
folhelhos fraturados, a porosidade é bem menor 10%. As rochas fraturadas
podem conter apreciável espaço poroso (na ordem de 10% do volume) em suas
diversas fissuras. A maior porosidade (mais de 40% do volume) é encontrada em
solos e camadas de areia e cascalho soltos.

Figura 62. Os poros das rochas são, em geral, parcial ou inteiramente preenchidos com água. (Os poros de arenitos e
calcários portadores de petróleo ou gás são preenchidos com esses fluidos.)

Embora a porosidade nos diga quanta água uma rocha pode reter se
todos os seus poros estiverem preenchidos, ela não nos fornece nenhuma
informação sobre a rapidez com que a água pode fluir através desses poros. A
139

água desloca-se no material poroso com uma trajetória sinuosa entre os grãos e
através das fissuras. Quanto menores os espaços porosos e mais tortuosos o
caminho, mais lentamente a água o percorre. A permeabilidade é a capacidade
que um sólido tem de deixar que um fluido atravesse seus poros. Geralmente, a
permeabilidade aumenta com o aumento da porosidade. A permeabilidade
também depende da forma dos poros, do quão bem conectados estão e do quão
tortuoso é o caminho que a água deve percorrer para passar através do material.
Tanto a porosidade como a permeabilidade são fatores importantes
quando se está procurando um reservatório de água subterrânea. Em geral, um
bom reservatório de água subterrânea é um corpo de rocha, sedimento ou solo
com alta porosidade (de modo que possa reter grande quantidade de água) e alta
permeabilidade (de sorte que a água possa ser bombeada dele mais facilmente).
Uma rocha com alta porosidade, mas baixa permeabilidade pode conter uma boa
quantidade de água, mas como esta flui muito lentamente, toma-se difícil
bombeá-la da rocha. A Tabela 15 resume a porosidade e a permeabilidade de
vários tipos de rocha.

Tabela 15. Porosidade e permeabilidade de tipos de aquifero

Permeabilidade
Porosidade
(propriedade que
Tipo de rocha (espaço poroso que
permite que um fluido
pode reter fluido)
atravesse o meio)
Cascalho Muito alta Muito alta
Areia grossa a media Alta Alta
Areia fina e silte Moderada Moderada a baixa
Arenito, moderadamente Moderada a baixa Baixa
cimentado
Folhelho fraturado ou Baixa Muito baixa
rocha metamórfica
Folhelho não fraturado Muito baixa Muito baixa

7.7.2. A superfície freática


Quanto maior a profundidade alcançada pelos poços perfurados no solo e
na rocha, mais úmidas as amostras trazidas para a superfície. Em profundidades
pequenas, o material não é saturado - parte dos poros contém ar e não é
completamente preenchida com água. Esse intervalo é chamado de zona não-
140

saturada. Abaixo dela está a zona saturada, o intervalo no qual os poros do solo
ou da rocha estão completamente preenchidos com água. As zonas saturada e
não-saturada podem estar em material inconsolidado ou no substrato rochoso
(Figura 63). O limite entre essas duas zonas é a superfície freática, geralmente
chamada apenas de "nível d'água" (abreviação NA). Quando um buraco é
perfurado abaixo da superfície freática, a água da zona saturada flui para ele e o
preenche até atingir o mesmo nível.

Figura 63. A superfície freática é o limite entre a zona não-saturada e a zona saturada. Essas zonas podem estar tanto
em materiais inconsolidados como no substrato rochoso.

A água subterrânea move-se sob a força da gravidade e, desse modo,


parte da água da zona não-saturada pode se mover para níveis inferiores, até
atingir a superfície freática. Urna fração da água, entretanto, permanecerá na
zona não-saturada, retida nos pequenos espaços porosos pela tensão superficial
a atração entre as moléculas de água e a superfície das partículas. A tensão
superficial mantém úmida a areia da praia, mesmo que haja espaços mais abaixo
para os quais a água poderia se deslocar pela gravidade. A evaporação da água
141

nos espaços porosos da zona não-saturada é retardada tanto pelo efeito da


tensão superficial corno pela umidade relativa do ar nesses poros, a qual pode
estar próxima a 100%.
Se perfurarmos poços em vários lugares e medirmos a profundidade da
água de cada um deles, poderemos construir um mapa da superfície freática,
corno representado pelo bloco-diagrama da Figura 64. A superfície freática
acompanha a forma geral da superfície do relevo, mas sua declividade é mais
suave, e chega até a superfície nos leitos dos rios e lagos e em nascentes. Sob a
influência da gravidade, a água subterrânea move-se declive abaixo desde uma
área onde a elevação da superfície freática é grande - sob um morro, por
exemplo, até lugares de elevações menores, como em nascentes, onde a água
sai para a superfície.
A água entra e sai da zona saturada por meio de recarga e descarga. A
recarga é a infiltração da água em qualquer formação subsuperficial,
frequentemente pela água da chuva ou do degelo da neve. A recarga também
pode ocorrer no leito de um rio onde o canal está mais elevado do que a
superfície freática (ver Figura 64). Os rios que recarregam as águas subterrâneas
dessa forma são chamados de rios influentes, sendo mais característicos em
regiões áridas, onde a superfície freática é profunda. A descarga é à saída da
água subterrânea para a superfície, sendo o oposto da recarga. Quando o canal
de um rio intercepta a superfície freática, há aí a descarga de água subterrânea.
Tal rio efluente é típico de áreas úmidas e continua a fluir por muito tempo após
o término do escoamento superficial, pois é alimentado pela água subterrânea.
Assim, o reservatório de água subterrânea pode ser aumentado pelos rios
influentes reduzido pelos efluentes.

7.7.3. Os aquíferos
A água subterrânea pode fluir em aquíferos não-confinado ou confinados.
Em aquíferos não-confinados, a água percola através de camadas de
permeabilidade mais ou menos uniforme, que se estendem até a superfície, tanto
em áreas de descarga corno de recarga. O nível do reservatório num aquífero
não-confinado corresponde à altura da superfície freática.
142

Figura 64 Dinâmica da superfície freática numa formação permeável rasa, em clima temperado. A profundidade
da superfície freática flutua em resposta ao equilíbrio entre a água adicionada pela precipitação
(recarga) e a água perdida pela evaporação e por poços, nascentes e rios (descarga).
143

Muitos aquíferos permeáveis, tipicamente de arenitos, são conectados


acima e abaixo por camadas de baixa permeabilidade, como folhelhos. Essas
camadas relativamente impermeáveis são aquicludes4 e a água subterrânea não
pode percola-los ou o faz muito lentamente. Quando os aquicludes situam-se
tanto sobrepostos corno sotopostos a um aquífero, forma-se aquífero confinado.
As camadas impermeáveis sobrepostas a um aquífero confinado evitam
que a água da chuva infiltre-se diretamente até o mesmo e, assim, os aquíferos
confinados são recarregados pela precipitação sobre a área de recarga,
frequentemente caracterizada por rochas aflorantes em regiões de maior altitude
e morfologicamente elevadas. Nesses locais, a água da chuva pode infiltrar-se no
solo porque não há um aquiclude impedindo a percolação. A água, então, desce
para o aquífero subterrâneo (Figura 65). A água num aquífero confinado
conhecido como aquífero artesiano - está sob pressão. Em qualquer ponto do
aquífero, a pressão é equivalente ao peso de toda a água do aquífero que está
acima dele.

Figura 65. Um aqüífero passa a ser confinado quando está situado entre dois aqüicludes (camadas de baixa
permeabilidade).

4
Reserva-se o termo "aquiclude" para as unidades que têm baixa capacidade de transmitir água, embora
possam estar saturadas: "aqüifugo", para as unidades que não têm conectividade entre os poros e não
absorvem nem transmitem água; e "aqüitarde" para designar unidades que, num dado contexto, têm baixa
produção de água relativamente a outras, chamadas de "aqüíferas".
144

Se a elevação da superfície do solo, onde perfuramos um poço num


aquífero confinado, for menor que o nível freático da área de recarga, então a
água fluirá espontaneamente acima da boca do poço. Esse tipo de poço,
chamado de artesiano, é extremamente desejável, pois não necessita de energia
para bombear a água até a superfície. A água é levada para cima pela própria
pressão.
Em ambientes geológicos mais complexos, a posição do nível freático
pode ser menos evidente. Por exemplo, se há uma camada de argila
relativamente impermeável - um aquiclude – intercalada numa formação arenosa
permeável, o aquiclude pode situar-se abaixo do nível freático de um aquífero
raso e ao mesmo tempo, acima do nível freático de um aquífero profundo (Figura
66). O nível freático do aquífero raso é chamado de nível freático suspenso,
pois se situa acima do nível freático principal do aquífero inferior. Muitos lençóis
freáticos suspensos são pequenos, com somente alguns metros de espessura e
numa área restrita, mas alguns estendem-se por centenas de quilômetros
quadrados.

Figura 66. Um nível freático suspenso forma-se em situações geologicamente complexas - no caso aqui ilustrado, ele
ocorre no aquiclude de folhelho situado acima da superfície freática principal do aquífero de arenito. A dinâmica de
145

recarga e descarga do nível freático suspenso pode ser diferente daquela do nível principal. Neste exemplo, o nível
freático principal pode ser recarregado somente em sua região aflorante na encosta inferior

7.7.4. Balanço de recarga e descarga


Quando a recarga e a descarga estão equilibradas, o reservatório de
água subterrânea e a superfície freática permanecem constantes, mesmo quando
a água está continuamente percolando através do aquífero. Para que a recarga
se equilibre com a descarga, a chuva deve ser frequente o suficiente para igualar-
se à soma do escoamento para os rios e para as nascentes e poços.
Mas a recarga e a descarga nem sempre serão iguais, pois a chuva varia
de estação para estação. Tipicamente, a superfície freática desce em estações
secas e sobe durante períodos úmidos. Uma diminuição na recarga, tal como em
secas prolongadas, será seguida por um intervalo longo de desequilíbrio e um
nível freático baixo.
Um aumento na descarga, geralmente a partir do aumento do
bombeamento no poço, pode produzir o mesmo desequilíbrio. Poços rasos
podem terminar secando, tornando-se uma zona não-saturada. Quando o
bombeamento de água de um poço é mais rápido que a sua recarga, o nível
d'água do aquífero é rebaixado sob a forma de um cone que se localiza numa
área no entorno do poço, chamada de cone de depressão (Figura 67).
146

Figura 67. O excesso de bombeamento intensivo em relação á recarga causa rebaixamento da superfície freática, que
assume a forma de um cone de depressâo ao redor do poço. O nível d'água no poço desce até a posição deprimida da
superfície freática.

O nível d'água no poço é rebaixado até a posição deprimida da superfície


freática. Se o cone de depressão rebaixar para além do fundo do poço, então o
poço ficará seco. Contudo se o fundo do poço estiver acima da base do aquífero,
pode-se perfurar mais e aumentar a sua profundidade dentro do aquífero, o que
poderá permitir que mais água seja extraída, mesmo com uma taxa de
bombeamento alta e contínua. Entretanto, se a taxa de bombeamento é mantida e
a profundidade do poço é aumentada até atingir toda a espessura do aquífero, o
cone de depressão poderá alcançar a base do aquífero e exauri-lo. O aquífero
recuperar-se-á somente se a taxa de bombeamento for reduzida o suficiente para
que haja tempo de recarga.
A extração excessiva de água não apenas reduz o aquífero, também
pode causar outros efeitos ambientais indesejáveis. Quando a pressão da água
no espaço poroso cai, a superfície do solo sobre o aquífero pode afundar, criando
depressões semelhantes a crateras de abatimento ou dolinas (Figura 68).
147

Figura 68. No Vale Antelope, Califórnia


(EUA), o bombeamento intensivo da água
subterrânea ocasionou fissuras e
depressões de abatimento (semelhantes a
dolinas) no leito do Lago Rogers, na Base
da Força Aérea de Edwards. Esta fissura,
formada em janeiro de 1991, tinha cerca
de 625 m de comprimento.

As pessoas que vivem próximas à orla oceânica podem enfrentar


problemas diferentes quando as taxas de bombeamento são altas em relação à
recarga: a incursão de água salgada para o poço. Próximo à linha de costa ou um
pouco mais deslocado em direção ao mar, um limite subterrâneo separa a água
salgada sob o leito do mar da água doce sob a superfície da costa. A partir da
linha de costa, esse limite inclina-se e estende-se em direção ao continente, de
modo que a água salgada passa a ficar embaixo da água doce do aquífero
costeiro (Figura 69). Sob muitas ilhas oceânicas, uma lente de água doce
subterrânea (com a forma semelhante a uma lente biconvexa simples) flutua
sobre o nível de água salgada. A água doce flutua porque é menos densa que a
salgada (1,00 g/cm3 versus 1,02 g/cm3, uma diferença pequena, mas
significativa). Normalmente, a pressão da água doce mantém a margem com a
água salgada um pouco afastada da linha de costa.
148

Figura 69. O balanço entre a recarga e a descarga mantém na mesma posição o limite entre a água salgada e a água
doce.

O balanço entre a recarga e a descarga em aquíferos de água doce


mantém estável esse limite entre a água doce e a salgada. Enquanto a recarga
pela água da chuva é, pelo menos, igual à descarga por bombeamento, o poço
fornece água doce. Entretanto, se a extração de água é mais rápida que a
recarga, um cone de depressão desenvolve-se no topo do aquífero. Na base do
reservatório de água doce, forma-se então um outro cone, simetricamente
invertido, que eleva o limite inferior entre a água doce e a água salgada. O cone
de depressão na parte superior do aquífero dificulta o bombeamento de água
doce, e o cone invertido inferior causa entrada de água salgada no fundo do poço
(ver Figura 69). As pessoas que vivem próximas à praia são as primeiras a serem
afetadas. Em muitas outras áreas costeiras têm denunciado que sua água potável
contém mais sal do que é considerado saudável pelos órgãos ambientais. Não há
outra solução imediata para esse problema a não ser diminuir o bombeamento ou,
em alguns locais, recarregar o aquífero artificialmente por meio de injeção do
escoamento superficial para o solo.
Você pode concluir que a subida do nível do mar, que tem sido prevista
como resultado do aquecimento global alteraria significativamente a linha de
costa. Quando o nível do mar sobe, a margem também sobe. A água do mar pode
invadir os aquíferos costeiros e deixar a água doce salgada.
149

7.7.5. A velocidade do fluxo da água subterrânea


A velocidade na qual a água se move no solo, afeta intensamente o
balanço entre descarga e recarga. A maior parte da água subterrânea move-se
lentamente, um processo natural que forma nossos depósitos de água
subterrânea. Se a água subterrânea se movesse tão rápido como os rios, os
aquíferos rapidamente secariam após um período de tempo sem chuva, da
mesma forma como geralmente ocorre em muitos cursos d’água pequenos. O
lento movimento do fluxo da água subterrâneo também torna impossível uma
recarga rápida se os níveis d'água forem rebaixados pelo bombeamento
excessivo.
Embora todo o fluxo de água subterrânea através dos aquíferos seja
lento, alguns são mais demorados que outros. Na metade do século XIX, Remi
Darcy, engenheiro civil de Dijon na França, propôs uma explicação para a
diferença das taxas de diferentes fluxos. Enquanto estudava o abastecimento de
água da cidade, Darcy mediu as profundidades do nível d'água em vários poços e
mapeou as diversas elevações da superfície freática da região. Calculou então as
distâncias que a água percorre de um poço para outro e mediu a permeabilidade
dos aquíferos. Estes foram os resultados de suas descobertas:
• Para um aquífero específico e para uma determinada distância
percorrida, a taxa na qual a água flui de um ponto para outro é diretamente
proporcional ao desnível da superfície freática entre os dois pontos. Quando o
desnível aumenta, a taxa do fluxo também aumenta.
• A taxa do fluxo de um aquífero específico, que tem um certo desnível, é
inversamente proporcional à distância percorrida pelo fluxo da água. Isto é, com o
aumento da distância, a taxa diminui. O quociente entre o desnível e a distância
percorrida pelo fluxo é chamado de gradiente hidráulico. Da mesma forma que
uma bola desce com maior velocidade um declive mais inclinado, também a água
subterrânea flui mais rapidamente num gradiente hidráulico maior. Em geral, ao
se movimentar, a água subterrânea não acompanha a mesma declividade do
lençol freático: ela segue o gradiente hidráulico do fluxo, que pode percorrer
várias trajetórias abaixo da superfície freática.
• Darcy deduziu que a relação entre o fluxo e o gradiente hidráulico da
água em um aquífero de arenito poroso deveria ser idêntica àquela da água que
corre em um cano aberto. Você poderia supor que a água se move mais
150

rapidamente num cano que do através dos caminhos irregulares dos poros de um
aquífero. Darcy reconheceu essa possibilidade e incluiu uma medida de
permeabilidade em sua equação final. Desse modo, como as outras variáveis
permanecem idênticas, ele concluiu que quanto maior a permeabilidade, maior a
facilidade de movimento e, portanto, mais rápido o fluxo.
A lei de Darcy, a qual resume essas relações, pode ser expressa numa
simples equação (Figura 70): o volume de água fluindo num certo tempo (Q) é
proporcional à distância vertical (h) dividida pela distância percorrida (l). Os dois
símbolos restantes são A, que é a área da secção transversal do fluxo da água, e
K, a condutividade hidráulica (uma medida da permeabilidade), (K também
depende das propriedades do fluido, especialmente densidade e viscosidade, as
quais são importantes ao lidar-se com outros fluidos que não a água.)

𝑄 = 𝐴 (𝐾 × )
𝑙
As velocidades calculadas pela lei de Darcy foram confirmadas
experimentalmente ao medir-se quanto tempo um pigmento não-prejudicial
introduzido num poço levou para alcançar um outro. Na maioria dos aquíferos, a
água subterrânea move-se numa taxa de poucos centímetros por dia. Em
camadas de cascalho muito permeáveis próximas à superfície, a água
subterrânea pode percorrer até 15 cm/dia. (Essa velocidade ainda é muito baixa
quando comparada com a dos rios, cujo fluxo tem uma velocidade típica de 20 a
50 cm/s.)
151

Elevação A:
Superfície
Freática = 440 m
acima do nível do
mar

Figura 70. A lei de Darcy descreve a taxa do fluxo da água subterrânea entre um ponto com elevação A e outro com
elevação B. O volume de água fluindo num certo tempo (Q) é proporcional à altura vertical (h) entre o ponto mais
alto e o ponto mais baixo do declive (que é aqui representado como um desnível da superfície freática entre os dois
pontos), dividida pela distância percorrida pelo fluxo (o gradiente hidráulico, l) e por K, uma constante proporcional à
permeabilidade do aqüífero. O símbolo A representa a área da secção transversal onde se dá o fluxo da água.

7.8. A EROSÃO PELA ÁGUA SUBTERRÂNEA


Todos os anos, milhares de pessoas visitam cavernas, seja em escursões
que visam a atrações populares, seja em explorações de aventura de cavernas
pouco conhecidas. Esses grandes espaços subterrâneos são produzidos pela
dissolução de calcário, ou, raramente, de outras rochas solúveis, como os
evaporitos, pela água subterrânea. Imensas quantidades de calcário foram
dissolvidas para formar algumas cavernas. As formações de calcário são comuns
na porção superior da crosta, mas as cavernas formam-se somente onde essas
rochas relativamente solúveis estão na superfície ou próximas a ela, em locais
onde quantidades suficientes de águas ricas em dióxido de carbono ou de enxofre
infiltram-se para dissolver extensas áreas de calcário.
152

O dióxido de carbono atmosférico contido na água da chuva acentua a


dissolução do calcárioo. A água que se infiltra no solo pode captar ainda mais o
dióxido de carbono produzido por raízes de vegetais, bactérias e outros
organismos que vivem no solo. Quando essa água rica em dióxido de carbono
infiltra-se no nível freático, da zona não-saturada para a saturada, origina espaços
à medida que dissolve os minerais carbonáticos. Esses espaços aumentam
devido à dissolução do calcário ao longo das juntas e fraturas, formando uma
rede de salões e passagens. Tais redes formam-se intensivamente na zona
saturada, onde, pelo fato de as cavernas estarem preenchidas com água, a
dissolução ocorre em todas as superfícies, incluindo os assoalhos, as paredes e
os tetos.
Podemos explorar as cavernas que uma vez estiveram abaixo da
superfície freática mas que, hoje, encontram-se na zona não-saturada devido ao
rebaixamento do nível da água subterrânea. Nessas cavernas, agora preenchidas
pelo ar, a água saturada com carbonato de cálcio pode gotejar no teto. Quando
cada gota de água pinga do teto, parte de seu dióxido de carbono dissolvido
evapora, escapando para a atmosfera da caverna. A evaporação torna o
carbonato de cálcio em solução na água subterrânea menos solúvel e cada gota
de água que cai deixa precipitada uma pequena quantidade de carbonato de
cálcio no teto. Esses depósitos acumulam-se, exatamente como cresce um
pingente de gelo, num espigão estreito e alongado, suspenso no teto, chamado
de estalactite. Quando parte da água cai no chão da caverna, mais dióxido de
carbono escapa e outra pequena quantidade de carbonato de cálcio fica ali
precipitada, bem embaixo da estalactite. Esses depósitos também se acumulam,
formando uma estalagmite. Eventualmente, uma estalactite e uma estalagmite
podem crescer juntas e formar uma coluna (Figura 72).
Em alguns lugares, a dissolução pode adelgaçar de tal modo o teto de
uma caverna de calcário que ele colapsa repentinamente, produzindo uma dolina
- uma depressão pequena e íngreme na superfície, acima de formações calcárias
cavernosas (Figura 71).

7.9. A QUALIDADE DA ÁGUA


A maioria dos habitantes do Brasil supõe que a água doce de seu sistema
de abastecimento seja pura. Uma parte crescente da população, entretanto, tem
153

receio da existência de contaminantes na água e está comprando água


engarrafada de fontes ou instalando sistemas de purificação em suas casas.

Figura 72. Teatro Chinês, na Caverna Carlsbad, no Novo


México (EUA). As estalactites do teto e as estalagmites do
Figura 71. Teatro Chinês, na Caverna Carlsbad, no
assoalho uniram-se para formar uma coluna.
Novo México (EUA). As estalactites do teto e as
estalagmites do assoalho uniram-se para formar uma
coluna.

Quase todo o sistema de abastecimento de água na América do Sul tem


que estar isento da contaminação por bactérias e a maior parte dele livre o
suficiente de contaminantes químicos para que a água seja consumida com
segurança. Um problema muito comum é a poluição dos rios e aquíferos por
resíduos tóxicos resultantes de depósitos de lixo na superfície.

A contaminação da água potável


Poluição com chumbo O chumbo é um poluente bem conhecido
produzido pelos processos industriais que lançam contaminantes na atmosfera.
Quando o vapor d'água se condensa na atmosfera, o chumbo é incorporado nas
gotas da chuva, as quais transportam-no para a superfície terrestre. O chumbo é
rotineiramente eliminado da água do sistema de abastecimento público por meio
de tratamento químico, antes que ela seja distribuída pela rede de água. Em
casas mais antigas com canos de chumbo, a água pode lixiviar esse elemento.
Mesmo nas construções mais novas, as soldas de chumbo utilizadas para
conectar canos de cobre e metais usados nas torneiras são fontes de
contaminação. A substituição dos velhos canos de chumbo por canos de plástico
duráveis pode reduzir a contaminação. Até mesmo o ato de deixar a água correr
por poucos minutos, para limpar os canos, pode ajudar.
154

Resíduos radioativos Não há uma solução fácil para o problema da


contaminação com resíduos radioativos. Quando o resíduo radioativo é enterrado
no subsolo, ele pode ser lixiviado pela água subterrânea e encontrar um modo de
alcançar aquíferos que fornecem água. Os tanques e os depósitos subterrâneos
de fábricas de armas nucleares em Oak Ridge, no Tennessee (EUA), e em
Hanford, Washington (EUA), já tiveram vazamento de resíduos radioativos em
águas subterrâneas rasas.
Microrganismos na água subterrânea Aprendemos nas últimas
décadas que, ao contrário de todas as expectativas, as bactérias podem e vivem
em enormes profundidades (até vários milhares de metros) nas águas
subterrâneas, constituindo uma imensa biomassa. A maioria dessas bactérias é
sustentada por nutrientes de matéria orgânica soterrada com o sedimento original,
recentemente, foi descoberto uma bactéria que retira energia do hidrogênio das
rochas. O hidrogênio é gerado pelas reações químicas entre a água subterrânea
e as rochas, como o basalto. Essas reações, além de servirem como fonte de
energia para as bactérias, continuam o processo de intemperismo no subsolo.
As fossas sépticas, amplamente utilizadas em algumas áreas desprovidas
de redes de coleta de esgoto, são tanques subterrâneos instalados em
profundidades rasas, nos quais os resíduos sólidos do esgoto doméstico são
decompostos por bactérias. Para prevenir a contaminação da água potável, os
tanques sépticos devem ser instalados a uma distância adequada dos poços de
água de aquíferos rasos.
Outros contaminantes químicos Como estamos vendo, as atividades
humanas podem contaminar a água subterrânea (Figura 73). A disposição de
solventes clorados - como o tricloroetileno (TCE), muito utilizado como solvente
em processos industriais - traz um terrível problema. Esses solventes persistem
no meio ambiente porque são difíceis de ser removidos das águas contaminadas.
Os tanques subterrâneos de armazenagem de gasolina podem vazar. O sal
espalhado nas estradas e ruas inevitavelmente infiltra-se no solo até alcançar, por
fim, um aqüífero. A água da chuva pode lavar do solo os pesticidas, herbicidas e
fertilizantes agrícolas. A partir do solo, eles percolam até os aquíferos. Em
algumas áreas agrícolas onde os fertilizantes de nitrato são intensamente
utilizados, a água subterrânea pode conter altas quantidades de se contaminante.
Um estudo recente mostrou que 21% das amostras de poços rasos, que
155

forneciam água potável, excediam a quantidade máxima de nitrato (10 ppm)


permitida no Brasil. Esse nível elevado de nitrato traz o perigo da síndrome do
"bebê azul" (a inabilidade de manter níveis saudáveis de oxigênio), que atinge
crianças com até sei meses de idade).

Figura 73. As atividades humanas podem contaminar a água subterrânea. Os contaminantes de fontes superficiais,
tais como aterros sanitários, e subsuperficiais, como tanques sépticos, entram no aquífero através do fluxo normal
da água subterrânea. Os contaminantes podem ser introduzidos no abastecimento de água durante o bombeamento
de poços. Os poços para disposição de resíduos sâo destinados a bombear contaminantes em aquíferos salinos
profundos, mas podem ter vazamentos acidentais nos aquíferos de água doce mais superficial.

Revertendo a contaminação Podemos reverter a contaminação da água


potável? A resposta é, enfaticamente, sim, mas o processo apresenta custos
elevadíssimos e é muito lento. Quanto mais rápida for a recarga de um aquífero,
mais fácil será o processo de descontaminação. Se a recarga é rápida, uma vez
que cessam as fontes de contaminação, a água doce move-se para o aquífero e,
num curto período de tempo, a qualidade da água é restaurada. Mesmo uma
rápida recuperação, entretanto, pode levar alguns anos.
A contaminação de reservatórios com recarga lenta é mais difícil de ser
revertida. A taxa de fluxo da água subterrânea pode ser tão lenta que a
contaminação a partir de uma fonte distante pode levar muito tempo para ser
identificada. Quando ocorre a identificação, já é muito tarde para uma
recuperação rápida. Mesmo com recargas para limpeza, certos reservatórios
contaminados, que são profundos e distam centenas de quilômetros da área de
recarga, podem não responder por muitas décadas.
156

Quando as fontes de água do abastecimento público estão poluídas,


podemos bombear a água e, então, tratá-Ia quimicamente para torná-Ia potável,
mas esse é um procedimento de custo elevado. Alternativamente, podemos tentar
tratar a água enquanto ela ainda está no subsolo. Num procedimento
experimental de sucesso moderado, a água contaminada foi escoada para um
grande tanque cheio de raspas de ferro que descontaminaram a água pelas
reações com os contaminantes. Essas reações produziram um novo composto,
atóxico, que se fixou por si mesmo nas raspas de ferro.

Pode-se beber a água subterrânea?


A água que tem um sabor agradável e não causa danos à saúde é
chamada de água potável. As quantidades de substâncias dissolvidas na água
potável são muito pequenas, geralmente medidas como pesos em partes por
milhão (ppm). As águas subterrâneas potáveis e de boa qualidade contêm
tipicamente algo em torno de 150 ppm de sólidos totais dissolvidos. Mesmo a
mais pura água natural contém alguma substância dissolvida derivada do
intemperismo. Somente a água destilada contém menos de 1 ppm de substâncias
dissolvidas.
A grande quantidade de casos de contaminação da água subterrânea
levou ao estabelecimento de padrões de qualidade da água, a partir de estudos
médicos. Esses estudos concentraram-se nos efeitos da ingestão de quantidades
médias de água contendo várias quantidades de elementos e compostos
contaminantes. Por exemplo, a CETESB (Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental) estabeleceu que a concentração máxima permitida de
arsênico, um veneno cuja natureza é bem conhecida, é de 0,01 mg/L ppm.
A água subterrânea é quase sempre isenta de partículas sólidas quando
verte para um poço a partir de aquíferos em arenitos. Os tortuosos corredores dos
poros da rocha ou de arenito atuam como um filtro fino, removendo pequenas
partículas de argila e de outros sólidos e, mesmo, removendo bactérias e vírus de
grande tamanho. Os aquíferos em calcários podem ter poros grandes e, assim,
não podem filtrar eficientemente a água. Qualquer contaminação bacteriana
encontrada no fundo de um poço é, quase sempre, introduzida a partir da
superfície, seja pelo equipamento de bombeamento, seja pela proximidade da
157

disposição subterrânea de esgotos, frequentemente, quando os tanques sépticos


estão nas adjacências da extração da água.
Certas águas subterrâneas, embora saudáveis para beber têm um sabor
desagradável. Algumas têm um sabor ruim de “ferro” ou são levemente azedas. A
água subterrânea, quando passa através do calcário, dissolve os minerais
carbonáticos e carrega Íons de cálcio, magnésio e bicarbonato, tornando a água
"dura". A água dura pode ter um bom sabor, mas não espuma facilmente quando
usada com sabão. A água que passa através de florestas alagadas ou solos
pantanosos pode conter compostos orgânicos dissolvidos e sulfeto de hidrogênio.
Como essas diferenças no sabor e na qualidade resultam numa água
potável saudável? Algumas fontes de água com a melhor qualidade e sabor para
o abastecimento público provêm de lagos e reservatórios artificiais de superfície,
muitos dos quais são simplesmente locais de coleta da água da chuva. Algumas
águas subterrâneas têm um sabor no limite da agradabilidade e frequentemente
são águas que passaram através de rochas pouco alteradas. Já os arenitos, por
exemplo, são constituídos predominantemente por quartzo, que contribui pouco
com substanciais dissolvidas, e, assim, as águas que passam por eles têm um
sabor agradável.
Como vimos, a contaminação das águas subterrâneas em aquíferos
relativamente rasos é um problema e a recuperação é difícil. Mas, existem águas
subterrâneas mais profundas, que poderiam ser utilizadas?

7.10. A ÁGUA NAS PROFUNDEZAS DA CROSTA


Todas rochas abaixo da superfície freática são saturadas com água.
Mesmo nos poços de extração de petróleo mais profundos, perfurados até
atingirem 8 ou 9 km, sempre encontramos água em formações permeáveis.
Nessas profundidades, a água se move tão devagar - provavelmente, menos de
um centímetro por ano - que dispõe de bastante tempo para dissolver até mesmo
os minerais muito insolúveis das rochas pelas quais percola. Assim, essas águas
enriquecem-se em materiais dissolvidos mais que a dos aquíferos superficiais,
tornando-se impróprias para o consumo. Por exemplo, as águas subterrâneas que
percoIam camadas de sal, as quais se dissolvem rapidamente, tendem a conter
grandes concentrações de cloreto de sódio.
158

Em profundidades maiores que 12 a 15 km, nas zonas profundas do


embasamento de rochas ígneas e metamórficas, que está sotoposto às
formações sedimentares situadas na parte superior da crosta, a porosidade e a
permeabilidade são muito baixas. Os únicos espaços porosos dessas rochas do
embasamento estão distribuídos ao longo de pequenas fissuras e bordas entre os
cristais. Embora sejam saturados, eles contêm muito pouca água, porque sua
porosidade é bem baixa (Figura 74). Em algumas das regiões mais profundas da
crosta, como ao longo das zonas de subducção, as águas quentes contendo
dióxido de carbono dissolvido desempenham um papel importante nas reações
químicas do metamorfismo. Essas águas ajudam a dissolver alguns minerais e a
precipitar outros. Presume-se que mesmo certas rochas do manto contenham
água, embora em quantidades muito diminutas.

Figura 74. Distribuição da água numa secção típica da crosta continental. A maior parte da água encontra-se na
superfície ou rochas sedimentares soterradas em profundidades rasas. A porosidade e a quantidade de água
geralmente diminuem com o aumento da profundidade e com a deformação estrutural mais intensa.

Fontes quentes naturais são encontradas no Parque Nacional de


Yellowstone; em Rot Springs, no Arkansas (EUA); em Banff Sulfur Springs, em
Alberta (Canadá); em Reykjavík, na Islândia; na Nova Zelândia e em muitos
159

outros lugares. As fontes quentes existem onde as águas hidrotermais - águas


quentes das zonas profundas da crosta - migram rapidamente para cima, sem
perder muito calor, e emergem na superfície, às vezes em temperatura de
ebulição.
As águas hidrotermais estão carregadas de substâncias químicas
dissolvidas das rochas em altas temperaturas. Enquanto a água permanece
quente, o mineral dissolvido fica em solução. Entretanto, quando as águas
hidrotermais alcançam a superfície e esfriam rapidamente, podem precipitar
vários minerais, como a opala (uma forma de sílica) e a calcita ou a aragonita
(formas de carbonato de cálcio). As crostas produzidas pelo carbonato de cálcio,
em algumas fontes quentes, estruturam-se para formar travertino, uma rocha
apreciada por sua beleza quando polida.
Surpreendentemente, microrganismos que podem resistir a temperaturas
acima do ponto de ebulição da água foram descobertos nesses ambientes, onde
podem contribuir para a formação de crostas de carbonato de cálcio.
A maioria das águas hidrotermais dos continentes originou-se das águas
superficiais que percolaram até regiões mais profundas da crosta (Figura 75).
Essas águas superficiais originam-se, inicialmente, de águas meteóricas - chuva,
neve ou outras formas de água derivadas da atmosfera (do grego metéoron,
"fenômeno no céu", que também origina a palavra meteorologia). As águas
meteóricas podem ser bem antigas. Já: foi determinado, por exemplo, que a água
de Rot Springs, no Arkansas (EUA), derivou das águas da chuva e da neve que
caíram há mais de 4 mil anos e lentamente se infiltraram no solo. As águas do
aquífero Ogallala podem ser mais antigas ainda e foram infiltradas há cerca de 10
mil anos, durante o último episódio de glaciação continental, quando o clima era
mais úmido nas Grandes Planícies.
A água que escapa do magma também pode juntar- se as águas
hidrotermais. Em áreas de atividade ígnea, as águas meteóricas que se infiltram
são aquecidas quando encontram massas de rochas quentes. As águas
meteóricas quentes misturam-se, então, com a água proveniente do magma. As
águas hidrotermais retornam para a superfície como fontes quentes ou gêiseres.
As fontes quentes fluem constantemente; os gêiseres lançam água quente e
vapor intermitentemente.
160

A teoria que explica as erupções intermitentes dos gêiseres é um exemplo


de dedução geológica. Não se pode observar diretamente o processo, pois a
dinâmica do sistema de água quente do subsolo é inacessível para a visão por
ocorrer a centenas de metros de profundidade. Os gêiseres são, provavelmente,
conectados à superfície por um sistema de fratura tortuosas e muito irregulares,
receptáculos e passagens – em contraste com as fraturas mais regulares e
diretamente conectadas das fontes quentes. A conexão irregular do gêiser
sequestra parte da água em receptáculos, de modo que isso ajuda a impedir que
as águas do fundo se misturem com as que estão mais no topo e então esfriem.
As águas do fundo são aquecidas pelo contato com a rocha quente. Quando elas
alcançam o ponto de fusão, o vapor inicia a ascensão e aquece as águas mais
rasas, aumentando a pressão e disparando uma erupção. Depois que a pressão é
aliviada, o gêiser toma-se inativo, enquanto as fraturas lenta e irregularmente são
preenchidas com água.
Em 1997, geólogos noticiaram os resultados de uma nova técnica para
entender os gêiseres. Eles introduziram uma miniatura de câmara de vídeo a
cerca de 7 m abaixo da superfície de um gêiser e descobriram que o duto deste
era estreitado naquele ponto. Mais abaixo, o duto abria-se para uma enorme
câmara contendo uma turbulenta mistura em ebulição de vapor, água e de algo
que pareciam ser bolhas de dióxido de carbono. Essas observações diretas
confirmaram, de forma impressionante, a teoria previamente formulada de como
os gêiseres funcionam.
Os geólogos têm se voltado para as águas hidrotermais em busca de
fontes de energia limpa. O norte da Califórnia, a Islândia, a Itália e a Nova
Zelândia já vêm utilizando o vapor produzido pela atividade hidrotermal em fontes
quentes e gêiseres para movimentar turbinas geradoras de eletricidade. As águas
hidrotermais poderão, em breve, ser extensivamente utilizadas para produzir
energia.
Embora as águas hidrotermais sejam importantes para a geração de
energia e depósitos de minérios, elas não contribuem para o abastecimento de
água superficial, principalmente por conterem material dissolvido em demasia.
161

Figura 75. A circulação de água na proximidade de um corpo magmático produz gêiseres ou fontes quentes.
162

CAPÍTULO 8 – APLICAÇÕES DE ROCHAS E SOLOS E


OBRAS DE ENGENHARIA.
8.1 DEFINIÇÕES
PEDREIRA: é o local de exploração das rochas para aplicação em obras
de engenharia.
⇒ Características para exploração de pedreira:
• Rocha sã
• Apresentar pequena cobertura de solo
• Possuir faces íngremes
• Não possuir NF a pequena profundidade
⇒ Qualidade das rochas para engenharia:
• Resistência mecânica
• Durabilidade
• Estética
⇒ Depende da propriedades:
• Físicas: absorção, dureza, forma, peso específico, etc.
• Químicas: adesividade, reação alcali – agregado, etc
• Mecânicas: Resistência à compressão, à tração diametral ou na flexão, à
abrasão, ao choque, etc.
• Geológicas: composição mineralógica, textura, estrutura, fratura, gênese,
etc.
• Geotécnicas: graus de alteração, de consistência, de fraturamento, etc.
JAZIDA DE SOLO: é composta pelas diversas frações do solo, que se
depositam ao longo dos rios ou em vales de inundação (várzeas) e são
exploradas para utilização em obras de engenharia.
⇒ Classificações geotécnicas dos solos, utilizadas em obras de
engenharia:
• SUCS – Sistema Unificado de Classificação de Solos (Casagrande)
(1948)
• TRB (Ex- HRB) – Classificação da AASHTO (1945)
• MCT – Classificação de Solos Tropicais (Nogami e Villibor) (1981)
⇒ OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
163

Os parâmetros (sem exclusão) que definem a viabilidade da exploração de


uma pedreira ou de uma jazida de solo são:
• Volume
• Características geotécnicas adequadas
• Distância de transporte viável
• Condições Geoambientais para exploração

8.2 NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Vai desde as fundações até a coberta
ROCHAS:
• ÍGNEAS (granitos, fonólitos, diabásios, etc.)
• SEDIMENTARES (calcários e arenitos)
• METAMÓRFICAS (gnaisses, migmatitos, quartzitos, mármores)
Aplicações das Rochas:
Pedra para alicerce (casa), agregado graúdo do concreto, revestimentos,
pisos, bancada, etc.
SOLOS:
• PEDREGULHOS (cascalhos)
• AREIAS
• ARGILAS

8.3 EM ESTRADAS
Basicamente são compostas de solos e/ou rochas como camadas
granulares do corpo estradal e nos revestimentos.
ROCHAS:
♦ ÍGNEAS (granitos, fonolitos, diabásios, etc.)
♦ SEDIMENTARES ( calcários e arenitos )
♦ METAMÓRFICAS (gnaisses, migmatitos, quartzitos, etc.)
Aplicações das Rochas:
Revestimentos flexíveis: como agregado no CBUQ, Tratamentos
Superficiais (TSS e TSD), PMQ.
Revestimentos rígidos: concreto de cimento portland, paralelepípedo
rejuntado com cimento.
Camada de base: solo – brita, macadame hidráulico, brita graduada
simples, etc.
164

SOLOS:
Para utilização como camadas do corpo estradal o ideal é uma mistura
com percentagens de materiais grossos (pedregulhos e areias) e finos (siltes e
argilas). A maior ou menor percentagens desses materiais é que vão qualificá-los
para as camadas do pavimento.
Misturas (usinas ou pista) para melhorar as qualidades geotécnicas dos
solos:
Solo – solo Solo – cal
Solo – brita Solo - cimento
Solo – estabilizantes químicos.
♦ PEDREGULHOS (seixo rolado em TSD)
♦ AREIAS (AAUQ, agregado miúdo do CBUQ)
♦ ARGILAS ( aplicação limitada).

8.4 EM BARRAGENS DE TERRA


Basicamente o corpo da barragem é composto de solo mais argiloso em
seu núcleo e as rochas como material de proteção contra erosão e filtrante.
ROCHAS
♦ ÍGNEAS OU METAMÓRFICAS – a principal condição é que a rocha deve
ser sã.
Aplicações das Rochas:
Rip – rap: pedras, com dimensões calculadas em projeto, jogadas no
talude de montante para proteção contra erosão das vagas.
Rock – fill: filtro para drenagem e proteção do talude de juzante.
SOLOS
♦ ARGILAS – por possuírem propriedades impermeabilizantes é o principal
material do corpo de uma barragem.
♦ PEDREGULHOS (cascalhos) e AREIAS – por possuírem alta
permeabilidade são utilizados como materiais drenantes nos filtros (Rock – fill).
165

CAPÍTULO 9. GEOLOGIA DE TÚNEIS


9.1 CONCEITUAÇÃO
TÚNEL
É uma estrutura subterrânea construída sem atingir a superfície ou
escavações feitas a partir da superfície e que sejam posteriormente reaterradas,
com o objetivo de transpor obstáculos.
Obstáculos: elevações, rios, áreas povoadas, etc.
Obras de Engenharia: estradas, metrôs, adutoras, etc.

9.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS PARA TÚNEIS


IMPORTÂNCIA:
→ traz economia
→ maior segurança nas escavações
Lineamento de um túnel deve ser o mais RETILÍNEO possível devido a um:
→ menor custo de construção
→ menor percurso
→ melhor visibilidade
Alinhamento Básico: interesse de tráfego/transporte
Traçado Final depende das:
→ condições geológicas
→ condições hidrológicas da área.
ESTUDOS GEOLÓGICOS PRELIMINARES
→ mapeamento geológico de superfície
→ sondagens espaçadas de acordo com a geologia do terreno
→ abertura de poços exploratórios para exame da rocha “in situ”.
OBJETIVOS DOS ESTUDOS GEOLÓGICOS
Determinar:
→ os tipos de rochas e de seus elementos estruturais (dobras, falhas,
fraturas)
→ as propriedades físicas, químicas e mecânicas das rochas
→ a classificação e espessuras das camadas de solo
→ as condições hidrológicas, de gases e de temperatura.
166

9.3 ELEMENTOS ESTRUTURAIS


♦ DOBRAS
♦ FALHAS
♦ FRATURAS
56
a) DOBRAS: são ondulações existentes nas camadas rochosas originadas
de movimentos tectônicos (movimento da crosta) ou atectônicos (acomodação de
camada, deslizamentos de rocha).
Classificam-se segundo o aspecto geométrico em:
→ Anticlinal (concavidade para baixo)
→ Sinclinal (concavidade para cima)
b) FALHAS: são ruturas nas camadas rochosas, seguidas de
deslocamento ao longo de um plano.
Os tipos mais comuns são: → Normal
→ Inversa
c) FRATURAS: são ruturas que ocorrem nas rochas, segundo um plano,
sem que haja deslocamento relativo.
São classificadas em: → Diáclases (esforços tectônicos)
→ Juntas (contração de blocos rochosos)

9.4 FATORES GEOLÓGICOS TÍPICOS E SUA INFLUÊNCIA NA


CONSTRUÇÃO DE TÚNEIS
Posicionamento das camadas rochosas a serem atravessadas por um
túnel:
→ Rochas maciças
→ Camadas inclinadas
→ Camadas verticais
→ Camadas dobradas
12.5 OUTROS FATORES CORRELACIONADOS COM O GEOLÓGICO
→ Condições Hidrogeológicas:
Quando as escavações atingem o NF dificulta a construção, necessita
serviço de impermeabilização.
→ Gases:
167

Surgem quando as escavações atingem depósitos orgânicos, carvão ou


depósitos vulcânicos é normal aparecerem gases (CO2, CH4, H2S, etc) alguns
deles são inflamáveis podendo provocar acidentes.
→ Temperatura:
A temperatura no interior da terra, aumenta com o avanço das escavações
(Grau Geotérmico – é o nº de metros necessário para a Temperatura elevar de 1º
C).

9.6 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS


a) EM ROCHAS
→ ATRAVÉS DE EXPLOSIVOS
As operações normalmente realizadas na abertura de túneis em rochas
são as seguintes:
• perfuração da frente de escavação com marteletes ou jumbo
• carregamento dos furos c/ explosivos e detonação
• ventilação e remoção da poeira
• remoção de água de infiltração, se houver
• colocar escoramento e revestimento, quando necessário.
→ Os equipamentos de perfuração mecânica foram criados para rochas de
pequena e média dureza, mas apresentaram resultados satisfatórios em rochas
duras (basaltos e gnaisses).
Vantagens que o método oferece sobre o anterior:
• maior segurança devido a forma arredondada
• menor irregularidade (economia de concreto)
• menor nº de operários
• avanço rápido, etc.
Desvantagens do método mecânico:
• alto custo do investimento
• um sistema de ventilação mais complexo
• maior precisão no “grade”, pois no caso de desvio a operação de
correção é muito difícil.
b) EM SOLOS
As escavações em solos podem ocorrer de duas maneiras distintas:
À CÉU ABERTO (“Cut - And- Cover”)
168

Nesses casos o túnel possui seção retangular e após a conclusão dos


trabalhos este é reaterrado.
Existem vários métodos de escavação:
• com taludes inclinados
• devido ao tipo de escoramento
Método de Berlim
Método de Hamburgo
• paredes diafragma
Método construtivo utilizado no METROFOR
A seguir uma seqüência dos serviços realizados na parte subterrânea do
Metrô de Fortaleza (Fonte: Site internet METROFOR):
As obras de construção do túnel por onde passarão os trens do
METROFOR começa com a remoção das interferências (1) – tubulações de água
e gás, galerias de drenagem, esgoto, postes, árvores, entre outras.

Em paralelo à remoção, são executadas as paredes-guias (2) – cuja


finalidade é garantir a verticalidade e o alinhamento da parede diafragma. Em
seguida, é feita a escavação das valas para o lançamento das placas pré-
moldadas (3).
169

Após a execução das paredes, feitas com módulos pré-moldados, o solo é


escavado até a profundidade prevista para receber a laje de teto do túnel. Em
seguida, é feita a concretagem "in situ" da referida laje (4).

A quinta etapa do método corresponde ao reaterro, pavimentação e


reurbanização da área (5). Uma vez reurbanizado o trecho e liberado o tráfego, é
realizada a etapa de escavação invertida (6). Ao final da escavação do túnel, a
laje de fundo é concretada (7). O túnel está pronto e a última fase é a de
execução das passarelas de emergência e da via permanente (8).


SUBTERRÂNEO
São utilizados os métodos das COURAÇAS :
• manual
• semi-mecanizada
170

• mecânica
Estes métodos podem ser aplicados:
• em solos moles ou resistentes
• acima ou abaixo do N.F.
• adapta-se de modo geral a qualquer circunstância.
OBSERVAÇÃO:
Obras em cidades, o método das couraças é mais eficiente do que o
método à céu aberto, devido a:
• apresentar o mínimo de recalque de superfície
• causar menos transtorno ao tráfego.
12.6 OBRAS COMPLEMENTARES NOS TÚNEIS
São obras realizadas durante as escavações para dar condições de
trabalho aos operários e outras para evitar que ocorram problemas posteriores a
conclusão dos serviços.
A seguir, veremos alguns deles:
→ VENTILAÇÃO
→ DRENAGEM
→ IMPERMEABILIZAÇÃO
→ REVESTIMENTOS
171

CAPÍTULO 10. GEOLOGIA DE BARRAGENS

10.1 INTRODUÇÃO

BARRAGEM:
É um elemento estrutural construído perpendicular a direção de um curso d’água,
objetivando a formação de um reservatório artificial de água.
► TEM POR FINALIDADE:
- abastecimento d’água de cidades
- hidrelétricas
- controle de inundação
- irrigação, etc.
TIPOS DE BARRAGENS:
► CONCRETO
- Gravidade
- Contrafortes
- Arco, etc.

► TERRA
- Homogêneas
- Zoneadas

► ENROCAMENTO

10.2 ESTUDOS GEOLÓGICOS DE UMA BARRAGEM


► TEM POR FINALIDADE:
Evitar insucesso nas obras de barragens, por falta de estudos geológicos
nas fundações e na bacia de acumulação.

ESTUDOS GEOLÓGICOS

Desenvolvem-se segundo três itens principais:


► MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA ÁREA
172

↦ 1º Fase de Escritório
Estudo de publicações, mapas topográficos e de fotografias aéreas da área.

↦ 2º Fase de Campo
Comprovar no campo a LITOLOGIA (tipo de rocha), ESTRUTURAS (falhas,
fraturas e dobras), ESTRATIGRAFIA (posicionamento das camadas).

↦ 3º Fase de Laboratório
As amostras coletadas no campo são analisadas e identificadas macro e
microscopicamente.

↦ 4º Elaboração do Relatório Final


Apresentação do Relatório Final com mapa geológico na escala pré-determinada.

► ESTUDO DA GEOLOGIA DE FUNDAÇÕES


Trata-se de um trabalho de detalhe, com investigação de superfície e sub-
superfície, através de sondagens, para determinação em:

↦ Solos - espessura e permeabilidade

↦ Rochas – grau de alteração e fraturamento


É importante a identificação prévia dos materiais em que estará assente a
fundação da barragem, para que seja prevista em projeto os procedimentos para
correção, quando necessário.
São três os tipos de materiais que podem surgir nas fundações, a
saber:

↦ Solos Permeáveis
Material: solos granulares (arenosos), Problema: alta permeabilidade (rutura por
“piping”) , Correção:
˃ valas corta águas ou “cut-offs”
˃ banquetas impermeáveis de montante
˃ paredes diafragmas
˃ injeções impermeabilizantes
173

˃ etc.

↦ Solos Impermeáveis

Material: Solos finos (siltosos e/ou argilosos), Problema: perda da estabilidade


quando saturados (rutura por cisalhamento) e recalques excessivos,
Correções: remoção da camada de solo fino, acelerar os recalques
(estacas de areia), redução da inclinação dos taludes com bermas de
equilíbrio, injeções de consolidação etc.

↦ Rochas
Material: pétreo, Problema: grau de alteração, faturamento, Correção: remoção
do material alterado e aplicação de “gunnite”, injeções de materiais
impermeabilizantes, Finalidade: dar maior consolidação ao maciço,
impermeabilizar as fundações

TRATAMENTO DE FUNDAÇÕES EM ROCHA

► ETAPAS DE TRABALHO:

1) SONDAGEM
Utiliza-se sonda rotativa para retirada de amostra da rocha, para
determinação do grau de alteração e de fraturamento.
Quando não se quer amostragem da rocha e precisa de agilidade nas
operações de perfuração, devido a um grande volume de serviços, a sonda mais
utilizada é a rotopercussão.
- profundidade dos furos
Devem alcançar as feições permeáveis a serem tratadas, ou no máximo, a altura
da coluna d’água, ou ainda, 2/3 da altura da barragem considerando-se alguma
perda de carga.
- número de furos
Dependem da natureza da rocha e do porte da obra, sendo distribuídos em
linhas simples ou múltiplas, geralmente com a geometria mostrada a seguir:
174

2) ENSAIO DE PERDA D’ÁGUA SOB PRESSÃO


Regulamentado em 1933, pelo engº francês Maurice Lugeon, que consiste em:
2
Injetar-se água com pressão crescente variando de zero até 10 kg/cm e
retornando gradativamente até zero. Mede-se a pressão P no manômetro e a
vazão V em um hidrômetro, quando existe uma vazão exagerada de água faz-se
a opção pelas injeções.

3) INJEÇÕES DE CALDAS CIMENTANTES


São realizadas com a finalidade de consolidar e impermeabilizar o maciço
rochoso das fundações.
- características das caldas
Compostas normalmente por água/cimento cuja proporção vai depender da
abertura das fraturas. As caldas mais utilizadas são:
CALDA DE INJEÇÃO
(água/sólidos)*
1:1
0,7:1
0,5:1
1:1:1
* em peso
** água : cimento : areia (em peso)

Obs:
1) Consolidação:
175

p/ acelerar → CaCl2 (2 a 3% do cimento)


p/ retardar � (calcário, gesso, etc.)
2) Impermeabilização: argila, asfalto quente, etc.

- tipos de injeções

- pressões de injeção
Dependem da:
• densidade da calda
• posição do lençol freático
• perdas de carga da tubulação

Critérios mais utilizados:


176

- Paralisação da injeção:
• REJEIÇÃO – quando a pressão de injeção é mantida no mínimo por 10
minutos, sem absorção de calda.

Obs: Cuidado com pressões elevadas pois podem provocar danos no maciço,
caso superem seus limites de resistência e de deformação plástica.

► ESTUDO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO


Os materiais devem ser estudados o mais próximo possível da obra,
devido aos custos com a distância de transporte.
Os solos argilosos pelas sua propriedades impermeabilizantes são os que
apresentam melhores características para aplicação nos maciços das barragens
de terra.
Areias e cascalhos são por suas propriedades drenantes são utilizados
principalmente nos filtros. Estão também presentes no concreto das obras
complementares como agregado miúdo..
Rochas britadas são utilizadas no rip-rap, filtros, agregado graúdo do
concreto.
A finalidade do geólogo nestas obras são:
• encontrar, estudar e cubar as jazidas de solo
• estudar os afloramentos de rochas
• calcular e acompanhar o desmonte destas.
• etc.

10.3 PROBLEMAS CORRELACIONADOS COM AS CONDIÇÕES


GEOLÓGICAS
Esses problemas estão relacionados à área do reservatório, que se
constitui no elemento essencial da obra.

A seguir, comenta-se sobre alguns aspectos que possuem significação


geológica mais crítica para a viabilidade técnica do projeto, a saber:

► ASSOREAMENTO
É a diminuição da capacidade de reservação de uma barragem pela
deposição de materiais transportados pelos riachos.
Ex. Barragem de Quixeramobim.
177

► ESTANQUEIDADE
Intensas percolações d’água através do maciço rochoso, podem
ocasionar perdas excessivas de água podendo interferir no enchimento do
reservatório ou mesmo impedir a acumulação no volume previsto.
Ex. Falha geológica ou rochas muitos fraturadas na área da bacia de
acumulação.

► ESTABILIDADE DE TALUDES NATURAIS


Está relacionado com a segurança da barragem e de suas obras
complementares, pois grandes deslizamentos de massas podem trazer
problemas. Os deslocamentos de massas de menor porte podem provocar danos
as plantações, estradas e benfeitorias próximas às margens do reservatório.

► SISMICIDADE
Sabe-se que o enchimento dos reservatórios podem provocar abalos
sísmicos de pequena e media magnitude.
São os sismos induzidos, cuja origem é atribuída a diversas causas,
onde a mais aceita é a que os relacionam com a alterações das pressões neutras
ao longo de falhas, devido ao peso da água. Muitas delas por já estarem sujeitas
aos esforços tectônicos, com esse aumento adicional da tensão desencadeia o
fenômeno.
Existem países cujos sismos chegaram a magnitudes de 6,5 na escala
Richter, embora não seja comum. No Brasil não ultrapassaram de 4,0 causando
mais problemas de natureza emocional a população do que danos materiais
178

CAPÍTULO 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BESOAIN, A. Mineralogia de Arcillas de Suelos. IICA; San José, Costa Rica,


1985. p.737-922.

BUENO, C. R. P. .Geologia e Mineralogia FUNEP, Jaboticabal, 2005, 185 p.


(Apostila)

CHERSWORTH, W. The resídua system of chemical weathering: a model for the


chemicaJ breakdown of silicate rocks at the surface of earth. J. Soil Sci. 24(1):68-
81,1973.

FONTES, M. P. F. Introdução ao estudo de minerais e rochas. Impresso


Universitária. Viçosa, 1984, 23 p. (Apostila)

FÚLFARO, V. J.; BJORNEBERG, A. J. S. Geologia do Estado de São Paulo. In:


SOLOS do Interior de São Paulo. São Carlos: ABMS. Escola de Engenharia,
1993. p.1-42.

GOLDICH. S. S. A study of Roch weathering. J. Cool. Ed. 46°. 1938. p.17-58.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO


(IPT). Mapa geológico do Estado de São Paulo. São Paulo: IPTIDMGA, 1981a.
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INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO


(IPT). Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT/DMGA,
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JACKSON, M. L. Clay transformations in soil genesis during the quarternary.


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PASCHOAL, A. D. A instabilidade dos ecossistemas agrícolas. Ciência Hoje,


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POPP, J. H. Geologia Geral. Livros Técnicos e Científicos Editora. Rio de


Janeiro.
1995. 376p.

RESENDE, M. Caracterização dos solos tropicais brasileiros. In: CURSO DE


ESPECIALlZAÇÂO POR TUTORIA À DISTÂNCIA, AGRICULTURA TROPICAL.
Modulo 2: Os solos Tropicais, Brasilia, 1989 182p.(* 1988 a não 1989)

RESENDE, M.; CURI, N.; RESENDE, S. B.; CORREA, G. F. Pedologia: base


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TEIXEIRA, W.; TOLEDO. M. C. M.; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLO, F. Decifrando a


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TUREKIAN, K. K. & WEDEPOHL, K. L. Distribuion of the elements in some major


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Sites:
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http://www.ut.ee/BGGMminer
http://www.dct.uminho.pt/rpmic/mt4_maohtml
http://www.domingos.home.sapo.pt/temp_geol_1.html
180

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