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Curso de Alinhamento Conceitual do PNLD

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INTRODUÇÃO À COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL

Um Estado nacional, via de regra, somente poderá exercer sua competência judicial e
executiva dentro de seu próprio território. Poderia ser considerada uma ofensa aos
princípios de direito internacional de não-ingerência e autodeterminação dos povos caso
realizasse diretamente um ato ou medida dentro do território de outro Estado, sem que
estivesse autorizado para tanto.

Porém, na sociedade globalizada em que vivemos, como assegurar que a rápida


movimentação de pessoas, bens, serviços e capitais entre as fronteiras e a rapidez de
informações e avanços tecnológicos não se traduzam também em passe-livre para a
injustiça e a morosidade no cumprimento de atos jurisdicionais? São esses os desafios
com os quais os operadores do Direito do século XXI se defrontam.

A cooperação jurídica internacional é o antídoto para essas situações. Por meio de um


pedido de cooperação, o Estado que necessite realizar atos indispensáveis à boa
administração de sua justiça encontrará o veículo adequado para fazê-lo, sem ferir a
soberania nem regras de jurisdição territorial alheias. Solicitar a cooperação seria um
modo formal de “bater à porta” de outro Estado e reclamar sua ajuda, a fim de que se
possa, enfim, afirmar a justiça no caso concreto.

Nesse contexto, a negativa à cooperação pode causar uma frustração do interesse


legítimo das partes, limitando o direito e o dever do Estado requerente de resguardar o
andamento da Justiça em seu território.

Numa época marcada pela organização do crime, não se admite mais que os Estados
simplesmente cerrem suas fronteiras à Justiça. A cooperação jurídica internacional
tornou-se um imperativo no quadro das relações internacionais.

Assim, o dever de cooperar não pode ser compreendido mais como uma mera cortesia
internacional. De acordo com Rodrigo Otavio1, há uma obrigação entre as nações e não
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mera faculdade. Há uma obrigação moral, cujo descumprimento impõe ao Estado perda
de prestígio na comunidade internacional. Segundo ele, este dever entre as nações
traduz-se como uma limitação à soberania do Estado pelo próprio Estado, com o objetivo
de respeitar o direito internacional e garantir a reciprocidade de tratamento ante os
requerimentos de determinado Estado em relação a outro.

2 OTAVIO, Rodrigo, Direito Internacional Privado, Parte Geral, Rio de Janeiro, Ed. Freitas
Bastos,1942, p. 115.

Mais do que a perda de prestígio internacional, o Estado não cooperante pode sofrer toda
sorte de dificuldades e infortúnios impostos pela comunidade internacional, inclusive de
ordem econômica. Com efeito, em 1989, em Paris, durante encontro da cúpula do G7,
grupo que reúne as economias mais industrializadas do mundo, foi criado o Grupo de
Ação Financeira Internacional (GAFI).

O GAFI é um organismo intergovernamental que tem como propostas o desenvolvimento


e a promoção de políticas nacionais e internacionais de combate à lavagem de dinheiro e
ao financiamento ao terrorismo.

O GAFI possui 40 Recomendações (+ 9 Recomendações Especiais) que devem ser


observadas pelos países como standards. Essas recomendações, que estabelecem
padrões mínimos de ação, requerem a aplicação de medidas concretas pelos países.

A não observação dessas recomendações, que, entre outros, procuram fomentar a prática
da cooperação jurídica internacional, pode culminar com a adoção de embargos
financeiros, comerciais e econômicos.

A inclusão de um Estado na denominada lista negra de países não cooperantes do GAFI


passa a exigir um cuidado especial das comunidades internacionais nas relações
comerciais e financeiras, o que tem reflexos diretos na economia desses países.

Hoje, portanto, a inércia e até mesmo a morosidade na prestação da cooperação


jurisdicional, não restam mais impunes. Felizmente, hoje, existem efetivos mecanismos de
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controle da qualidade da prestação jurisdicional internacional. A história sinaliza no


sentido de que a relativização do conceito de soberania em prol da cooperação jurídica
parece ser caminho sem volta.

CENÁRIO INTERNACIONAL

A privação da liberdade de criminosos é medida importante, porém insuficiente na luta


contra a lavagem de dinheiro e a criminalidade organizada. A lógica de funcionamento
das organizações criminosas em muito se aproxima à racionalidade econômica do
empresário: auferir lucros e aportar recursos para manter suas atividades. Não por outra
razão, o corte do fluxo financeiro dessas organizações constitui o foco das modernas
políticas na área de segurança pública, de forma a reduzir a extraordinária lucratividade
do delito e impossibilitar a expansão das atividades desses grupos. Assim, a apreensão, o
bloqueio, o confisco e a repatriação dos ativos ilícitos efetivam a máxima de que o crime,
enfim, não deve compensar.

A transnacionalização dos fluxos faz com que não só bens, capitais e pessoas favoreçam
da flexibilização das fronteiras, mas também as organizações criminosas, que as utilizam
para ocultar e dissimular a origem dos produtos do crime e, por fim, reintegrar os ativos
“lavados” à economia formal. Se a globalização favoreceu, de um lado, os meios para a
prática de crimes, fez surgir, de outro, uma ação articulada mundialmente para enfrentá-
los. Os Estados-nação revisam velhos paradigmas e percebem que clássicos esquemas
de soberania, que restringiam a investigação e a persecução criminal aos limites dos
territórios nacionais, não mais atendem às necessidades de combate à criminalidade
organizada. Considerando-se que esses grupos delitivos buscam agir impunemente entre
os diversos sistemas jurídicos soberanos, surge a necessidade de fortalecimento da
cooperação jurídica internacional entre os países.
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O PAPEL DA SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA NA


COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL E NA
RECUPERAÇÃO DE ATIVOS

A Secretaria Nacional de Justiça – SNJ desenvolve papel de relevo, no Brasil, em temas


relacionados à cooperação jurídica internacional e à recuperação de ativos. Ao
desempenhar a função de Autoridade Central, à SNJ incumbe tramitar:

(i) por meio do Departamento de Estrangeiros (DEEST), pedidos de extradição,


de expulsão e de transferência de apenados;
(ii) por meio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional (DRCI), homologações de sentença estrangeira, cartas rogatórias
e, em especial, solicitações de auxílio direto.

A recuperação de ativos, objetivo primordial do corte do fluxo financeiro de organizações


criminosas, será alcançada por meio da cooperação jurídica internacional. Para tanto, a
Autoridade Central brasileira conta com corpo técnico especializado para instruir, opinar e
coordenar a execução de pedidos de cooperação, inclusive em casos em que há a
possibilidade de repatriação dos ativos ilícitos. Essa especialização permite aprofundar o
conhecimento de regras e procedimentos afetos à cooperação com as mais distintas
jurisdições mundiais.

CONCEITO
A cooperação jurídica internacional é o instrumento por meio do qual a autoridade de uma
jurisdição solicita à outra a execução de um ato.

Nesse ponto é preciso abrir um breve parênteses para explicar um detalhe importante.
Cooperação judiciária e cooperação jurídica não são expressões sinônimas. A
cooperação jurídica é mais ampla que a cooperação judiciária. Esta última se limita à
cooperação no momento em que já há processo judicial, excluindo, portanto, o momento
pré-processual. A acepção mais ampla da cooperação estaria traduzida na expressão
“cooperação jurídica”.
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A cooperação jurídica internacional se instrumentaliza por meio dos institutos jurídicos da


extradição, homologação de sentenças estrangeiras, auxílio direto e cartas rogatórias. A
cooperação penal, ademais, apresenta mecanismos específicos, como extradição,
transferência de pessoas condenadas e transferência de processos penais.

Diversas medidas podem ser solicitadas por intermédio de um pedido de cooperação


jurídica por motivo penal. Entre as mais comuns, destaca-se a comunicação de atos
processuais, como a citação e a intimação, e, entre as mais simples, a troca de
informações sobre a legislação dos países.

É possível, ainda, a tomada de depoimentos ou declarações de pessoas, inclusive por


meio de teleconferência ou videoconferência; a entrega de documentos, registros e
elementos de prova, inclusive os de natureza administrativa, bancária, financeira,
comercial e societária. Podem ser obtidos inclusive documentos sujeitos a sigilo e
confidencialidade, sendo seguidos, nesse caso, os procedimentos exigidos no Estado
requerido para tal fim. Ademais, pode-se obter a localização ou identificação de pessoas
ou objetos; a realização de perícia; a transferência de pessoas sob custódia e a execução
de pedidos de busca e apreensão.

Sem querer ter a pretensão de esgotar o rol de medidas contempláveis, pode-se elencar,
por fim, a identificação, o rastreamento, a indisponibilidade, o seqüestro, o confisco e a
disposição de produtos do crime e assistência em processos relacionados, assim como a
devolução de ativos.

CLASSIFICAÇÃO
Sob a ótica do Brasil, quando o Estado brasileiro requer a cooperação de um país
estrangeiro, diz-se que é a cooperação ativa. Ao contrário, quando um país estrangeiro
reclama a cooperação do Estado brasileiro, diz-se que é a cooperação passiva. O país
que demanda a cooperação é dito Estado requerente, enquanto o país que é demandado
é dito Estado requerido.

Os pedidos de cooperação jurídica por motivo penal podem ser elaborados não só por
autoridades do Poder Judiciário, mas também por autoridades do Ministério Público e até
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mesmo por autoridades Policiais. Regra nesse sentido é expressa em Tratados de


Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Penal vigentes no Brasil.

Nesse sentido, cabe mencionar que é necessário respeitar a diversidade de cada sistema
jurídico e reconhecer a amplitude da expressão autoridade judiciária. É possível que
determinada medida que, no Brasil, somente seria processada por autoridade do Poder
Judiciário seja, na origem, atribuição de outra autoridade, como um membro do Ministério
Público. No sistema suíço, por exemplo, o Ministério Público é considerado uma
autoridade judiciária e, em razão disso, está legitimado a pedir cooperação em matéria
penal às autoridades brasileiras. É preciso, pois, observar se a autoridade do Estado
requerente é competente para determinar a medida cuja eficácia pretende seja estendida
ao território nacional. Trata-se, neste caso, do critério da competência na origem.

Dentre os tratados assinados e ratificados pelo Brasil, cabe destacar o Protocolo de


Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais do MERCOSUL (Decreto n° 3.468/2000)
- o qual prevê, em seu Artigo 4º, que “as solicitações transmitidas por uma Autoridade
Central com amparo no presente Protocolo se basearão em pedidos de assistência de
autoridades judiciais ou do Ministério Público do Estado requerente encarregadas do
julgamento ou investigação de delitos”.

Da mesma forma, em diversos acordos bilaterais ratificados pelo Brasil, a legitimidade


ativa para elaborar pedidos de cooperação não está limitada a uma autoridade judiciária,
referindo-se nestes textos legais que “os pedidos transmitidos por uma Autoridade Central
de acordo com o presente Acordo basear-se-ão em pedidos de assistência de
autoridades competentes da Parte Requerente encarregadas do julgamento ou da
investigação dos delitos” (Artigo 4º do Acordo de Cooperação Judiciária e Assistência
Mútua em Matéria Penal entre Brasil e Colômbia – Decreto n° 3.895/2001).

Por fim, vale mencionar que a tendência verificada nos mais recentes acordos ratificados
pelo País define a autoridade competente como “autoridade que conduz a investigação, o
inquérito, a ação penal, ou outro procedimento relacionado com a solicitação” (Artigo 4º
do Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre
Assistência Judiciária Mútua em Matéria Penal – Decreto n° 6.282/2008), o que denota
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uma ampliação da concepção de autoridade competente para elaboração de pedidos de


cooperação.

A cooperação pode ser classificada, ainda, como informal ou como formal. Elas se
destinam a fins e fases distintas, devendo ser usadas em coordenação e em
complementaridade.

A cooperação informal ocorre quando a medida solicitada pode ser prestada diretamente
à autoridade requerente, sem necessidade de que:

(i) O pedido de cooperação e sua resposta tramitem pelas vias diplomáticas ou


pelas Autoridades Centrais;
(ii) A medida solicitada, para ser cumprida, necessite de autorização ou qualquer
intervenção judicial no Estado requerido, que asseguraria a validade de uma
eventual prova a ser produzida ou de um ato a ser executado.

Dois exemplos clássicos de cooperação informal em matéria penal são a cooperação de


inteligência financeira (aquela empreendida pelas Unidades de Inteligência Financeira –
UIFs) e a cooperação policial (aquela empreendida pela INTERPOL, pela adidância
policial ou pelas demais autoridades policiais diretamente). Nessas formas de
cooperação, as informações são trocadas diretamente entre as autoridades de
inteligência e policiais, respectivamente, sem passagem pelas vias diplomáticas ou pelas
Autoridades Centrais.

As informações recolhidas na cooperação informal, contudo, não podem, em rigor, ser


utilizadas em Juízo, porque produzidas sem o crivo do contraditório. No entanto, as
informações obtidas por essas vias informais são da mais alta valia para dar rumo às
investigações e, com um nível de indícios e provas mais elevado, poder subsidiar a
confecção de futuros pedidos de cooperação formais.

Por outro lado, a cooperação formal ocorre no caso em que, para a realização da medida
solicitada, é necessária a institucionalização da via escolhida, e, a depender do caso,
também a autorização ou qualquer outra intervenção judicial exigidas no Estado requerido
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para o cumprimento da medida. Somente com o adequado preenchimento dos requisitos


é que se poderá assegurar a validade de uma prova e garantir a validade de um ato a ser
executado. Os pedidos de cooperação tramitados pelas Autoridades Centrais com base
em acordos de cooperação jurídica em matéria penal são um bom exemplo desse tipo de
cooperação formal.

Na cooperação em matéria criminal, costuma-se dizer que a cooperação informal destina-


se a fins investigativos. Quando não é possível apresentar à autoridade estrangeira um
nexo de causalidade factual para o cumprimento da medida solicitada por um pedido de
cooperação formal, pela ausência de indícios e elementos suficientes, recomenda-se
fazer uso da cooperação informal para obter tais subsídios. Com uma investigação mais
avançada e que permita afaste a caracterização de um eventual fishing expedition (ou
seja, transmissão do ônus da investigação para o Estado requerido), sugere-se, então,
fazer uso da cooperação formal.

PRINCIPAIS TRATADOS
Uma solicitação de cooperação jurídica internacional em matéria penal poderá ser feita
com base em:

(i) Acordos multilaterais;


(ii) Acordos regionais ou bilaterais;
(iii) Promessa de reciprocidade para casos análogos.

A Convenção de Viena, de 1969, define tratado internacional como "um acordo


internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer
conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer
que seja sua denominação específica" (Art.2, a).

Desde 1994, a crescente preocupação com o avanço do crime organizado transnacional


levou a ONU a emitir a Declaração Política de Nápoles e o Plano de Ação Transnacional
Organizado.
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Por meio desse evento, os chefes de Estados e Ministros responsáveis pelos sistemas de
justiça penal comprometeram-se a criar mecanismos para fortalecer a cooperação
internacional e a implementar um plano de ações para combater o crime transnacional
organizado, destacando-se aí o narcotráfico, o terrorismo, o tráfico de armas e a
imigração ilegal.

Outra importante preocupação desses governos era minar o poderio econômico dessas
organizações criminosas mediante um coordenado e efetivo processo de combate à
lavagem de dinheiro.

Neste sentido, o Ministério da Justiça, por meio de seu órgão com competência para
exercer a função de Autoridade Central para os acordos de cooperação jurídica
internacional –Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional (DRCI) – tem envidado esforços para estabelecer novos acordos, reforçar os
laços por meio da aproximação com os países em que já existem, e promover junto ao
Poder Judiciário e Ministério Público a divulgação da existência desses textos, bem como
o esclarecimento quanto ao modo de utilização.

Atualmente, estão em vigor no Brasil vários acordos multilaterais que disciplinam a


cooperação jurídica internacional em matéria penal, dentre os quais merecem destaque:

Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias


Psicotrópicas (Convenção de Viena 1988)
Promulgado pelo Decreto nº 154, de 26 de julho de 1991

Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de


Palermo ou UNTOC)
Promulgado pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004

Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado


Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em
Especial Mulheres e Crianças
Promulgado pelo Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004
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Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado


Transnacional, relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por via terrestre, marítima e
aérea
Promulgado pelo Decreto nº 5.016, de 12 de março de 2004

Protocolo contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças e


Componentes e Munições, complementando a Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional
Promulgado pelo Decreto nº 5.941, de 26 de outubro de 2006

Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida ou UNCAC)


Promulgado pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006

Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em


Transações Comerciais Internacionais, da OCDE
Promulgado pelo Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000

No plano regional, o País promulgou outros tantos instrumentos que preveem a


cooperação jurídica internacional em matéria penal. Seguem alguns destaques:

Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria Penal (Convenção de


Nassau)
Promulgada pelo Decreto nº 6.340, de 3 de janeiro de 2008

Convenção Interamericana contra a Corrupção (com reserva ao parágrafo 1º, inciso C, do


artigo XI)
Promulgado pelo Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002

Protocolo de Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais - MERCOSUL (Protocolo de


San Luis)
Promulgado pelo Decreto nº 3.468, de 17 de maio de 2000
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Por fim, cumpre registrar que atualmente o Brasil também mantém 15 (quinze) acordos
bilaterais de auxílio mútuo em matéria penal, a saber:

Acordo de Cooperação Judicial em Matéria Penal entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo da República de Cuba
Promulgado pelo Decreto nº 6.462, de 21 de maio de 2008

Acordo de Cooperação e Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria Penal entre a República


Federativa do Brasil e o Reino da Espanha
Promulgado pelo Decreto nº 6.681, de 08 de dezembro de 2008

Acordo de Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo da República Popular da China
Promulgado pelo Decreto nº 6.282, de 3 de dezembro de 2007

Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América
Promulgado pelo Decreto nº 3.810, de 2 de maio de 2001

Acordo de Cooperação Judiciária e Assistência Mútua em Matéria Penal entre o Governo


da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Colômbia
Promulgado pelo Decreto nº 3.895, de 23 de agosto de 2001

Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo da República Francesa
Promulgado pelo Decreto nº 3.324, de 30 de dezembro de 1999

Tratado sobre Cooperação Judiciária em Matéria Penal, entre a República Federativa do


Brasil e a República Italiana
Promulgado pelo Decreto nº 862, de 9 de julho de 1993
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Acordo de Assistência Jurídica em Matéria Penal entre o Governo da República


Federativa do Brasil e o Governo da República do Peru
Promulgado pelo Decreto nº 3.988, de 29 de outubro de 2001

Tratado de Auxílio Mútuo em Matéria Penal entre o Governo da República Portuguesa e o


Governo da República Federativa do Brasil
Promulgado pelo Decreto nº 1.320, de 30 de novembro de 1994

Tratado entre a República Federativa do Brasil e a República da Coréia sobre Assistência


Jurídica Mútua em Matéria Penal
Promulgado pelo Decreto nº 5.721, de 13 de março de 2006

Tratado de Assistência Mútua em Matéria Penal entre o Governo da República Federativa


do Brasil e o Governo do Canadá
Promulgado pelo Decreto Nº 6.747, de 22 de janeiro de 2009

Acordo de Cooperação e Auxílio Jurídico Mútuo em Matéria Penal entre a República


Federativa do Brasil e o Reino da Espanha
Promulgado pelo Decreto Nº 6.681, de 8 de dezembro de 2008

Tratado de Cooperação Jurídica em Matéria Penal entre a República Federativa do Brasil


e a Confederação Suíça
Promulgado pelo Decreto Nº 6.974, de 7 de outubro de 2009

Tratado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do


Suriname sobre Assistência Jurídica Mútua em Matéria Penal
Promulgado pelo Decreto Nº 6.832, de 29 de abril de 2009

Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre a República Federativa do Brasil


e a Ucrânia
Promulgado pelo Decreto Nº 5.984 de 12 de dezembro de 2006
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Como únicas exceções, é a Procuradoria-Geral da República, e não o Ministério da


Justiça, a Autoridade Central designada por meio do Tratado Bilateral de Auxílio Mútuo
em Matéria Penal firmado com Portugal e para o Tratado de Assistência Mútua em
Matéria Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do
Canadá.

Importante lembrar que, via de regra, os acordos bilaterais e regionais excluem a


exigência da dupla incriminação para cumprimento dos pedidos de cooperação,
aplicando-se assim para uma ampla gama de crimes.

Já os acordos multilaterais, apesar de atingir uma ampla gama de países, restringem sua
aplicação aos tipos penais a respeito dos quais suas convenções disciplinam.

Por fim, é relevante enfatizar que, em tema de recuperação de ativos, a Convenção de


Mérida ou UNCAC possui disciplina inovadora. Com base no art. 57 da UNCAC, a
recuperação de ativos ao Estado vítima da corrupção será dada em condições mais
favoráveis: deduzidos os gastos havidos pelo Estado requerido para a repatriação, dar-se-
á prioridade à restituição ao Estado Parte requerente e à indenização das vítimas do
delito de corrupção, via de regra, pelas Autoridades Centrais.

A reciprocidade é a pedra de toque da cooperação jurídica internacional. Um Estado A


cumpre um pedido de cooperação do Estado B não somente com base em previsão de
sua legislação interna, incluindo os acordos internacionais ratificados, mas também com
respaldo na convicção de que o Estado B, em situações análogas, cumpriria pedidos de
cooperação formulados do Estado A.

A reciprocidade é um princípio clássico da cooperação internacional, remontando suas


origens à primeira espécie de cooperação surgida, a extradição. Sempre quando o pedido
é cumprido, explicita ou implicitamente, uma promessa de reciprocidade está imbricada. A
dinâmica da cooperação jurídica internacional, assim, poderia ser comparada a um jogo
de soma positiva, que leva a uma situação “ganha-ganha”. No cenário global, quanto mais
cooperação é prestada, mais cooperação é recebida.
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MECANISMOS DE COOPERAÇÃO
Os mecanismos de cooperação jurídica internacional são definidos de acordo com a lei
processual interna de cada país. Por isso, nem sempre coincidem os instrumentos de
cooperação e seus procedimentos, quando se compara o direito brasileiro às leis de outro
Estado.

Os mecanismos de cooperação jurídica internacional adotados no Brasil são a extradição,


a transferência de apenados, a ação de homologação de sentença estrangeira, a carta
rogatória e o auxílio direto. O DRCI é a Autoridade incumbida de tramitar homologações
de sentença estrangeira, cartas rogatórias e, em especial, pedidos de auxílio direto.

Independentemente da nomenclatura do pedido enviado pelo Estado requerente, será o


Estado requerido que definirá, conforme sua legislação interna, incluindo os acordos
internacionais ratificados, por qual dos mecanismos o pedido de cooperação jurídica
internacional deverá ser executado.

Ação de homologação de sentença estrangeira


A ação de homologação de sentença estrangeira traz em si um ato jurisdicional não
sujeito a recurso, que encerra definitivamente o litígio. Toda e qualquer sentença
estrangeira em matéria civil pode ser executada no Brasil, salvo se em desacordo com as
regras de competência internacional exclusiva da autoridade judiciária brasileira, previstas
no artigo 89 do Código de Processo Civil. Sentenças criminais estrangeiras, por sua vez,
só podem ser executadas no Brasil para obrigar o condenado a reparar o dano, a
restituições e outros efeitos civis, assim como para permitir o cumprimento de medida de
segurança, nos termos do artigo 9º do Código Penal.

A ação de homologação de sentença estrangeira é, como o nome já anuncia, uma ação,


com rito processual completo. Trata-se de mecanismo de cooperação jurídica
internacional que já se inicia no Brasil. Infere-se, desse modo, que a ação de
homologação é sempre um pedido de cooperação patrocinado pelo interessado, sem
qualquer participação direta de autoridades administrativas dos Estados envolvidos na
sua execução.
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A competência para homologar sentenças estrangeiras no Brasil é do Superior Tribunal


de Justiça, nos termos do artigo 105, I, i, da Constituição Federal. Concedida a
homologação, inicia-se na ação de homologação de sentença estrangeira a segunda fase
de seu procedimento. Passa-se à execução do ato jurisdicional estrangeiro por meio do
juízo federal do local da execução.

Carta rogatória
A carta rogatória carrega em seu bojo atos não-decisórios e atos decisórios não
definitivos. Por meio da carta rogatória, a autoridade jurisdicional, a depender do critério
da legitimidade ou da “competência na origem”, solicita ao Estado requerido que execute
ato jurisdicional já proferido, de modo que não cabe àquele outro Estado exercer qualquer
cognição de mérito sobre a questão processual.

São exemplos mais comuns de uso da carta rogatória os pedidos de comunicação de atos
processuais (citações, intimações e notificações) e de obtenção de provas no exterior sem
a necessidade de intervenção judicial, ou seja, a chamada cooperação de primeiro nível.
Em certas hipóteses, a busca e apreensão, a obtenção de provas no exterior com a
necessidade de intervenção judicial, a obtenção de medidas cautelares no estrangeiro e o
cumprimento de decisões de tutela antecipada, denominada cooperação de segundo
nível, também poderá ser cumprida. Pode o legislador, ademais, permitir que a carta
rogatória sirva de veículo também para executar sentenças estrangeiras. É o que já
ocorre, por exemplo, na cooperação levada a cabo dentre os Estados membros do
Mercosul em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa.

A competência para proferir exequatur às cartas rogatórias no Brasil é do Superior


Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 105, I, i, da Constituição Federal.
Exequatur pode ser definido como a decisão proferida por tribunal de um país que permite
a execução de uma decisão judicial de outro país. Nesse sentido, exequatur e Carta
Rogatória estão diretamente relacionados, pois a finalidade de uma Carta Rogatória é
requisitar à autoridade estrangeira que cumpra determinado ato processual.

O Código de Processo Civil Brasileiro define que “a concessão de exeqüibilidade às


cartas rogatórias das justiças estrangeiras obedecerá ao disposto no Regimento Interno
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do Supremo Tribunal Federal”. A Emenda Constitucional nº 45/2004, contudo, transferiu


essa competência para o Superior Tribunal de Justiça, nos termos do que dispõe o artigo
105 da Constituição Federal. O artigo 109, X, da Constituição Federal ainda determina
que compete ao juiz federal a execução de carta rogatória, após o exequatur.

Para conceder o exequatur, o Superior Tribunal de Justiça deve analisar se, de alguma
forma, a soberania nacional ou a ordem pública estão sendo violadas, pois “as leis, atos e
sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia
no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes”.
Na carta rogatória, a análise restringe-se, pois, a aspectos formais, não havendo revisão
das razões de mérito.

Concedido o exequatur, inicia-se na carta rogatória a segunda fase de seu procedimento.


Passa-se à execução do ato jurisdicional estrangeiro por meio do juízo federal do local da
execução.

Nem sempre será exigido o exequatur às cartas rogatórias, o que é o caso da execução
direta das cartas rogatórias em zona de fronteira, as quais têm como base o Decreto nº
2.022, de 7 de outubro de 1996, e o Decreto nº 2.626, de 15 de junho de 1998 (Protocolo
de Ouro Preto de medidas cautelares).

Auxílio direto
Revelada a ineficiência dos tradicionais instrumentos de cooperação internacional (carta
rogatória, homologação de sentença estrangeira e extradição) para o combate à
criminalidade transnacional, foram desenvolvidos no Brasil novos mecanismos, mais
aptos e adequados ao combate desse novo tipo de criminalidade. Nesse contexto é que
surgiu o modelo da assistência legal direta, pela qual o pedido de cooperação tramita
diretamente da autoridade competente para formulá-lo para a autoridade correspondente
no país requerido, por meio de canais menos burocratizados e mais ágeis que não
envolvem, necessária e primeiramente, como ocorre na cooperação tradicional,
autoridades judiciais e diplomáticas.
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REGULAÇÃO
De se esclarecer que, no Brasil, há dois tribunais superiores, que se encontram na cúpula
do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça
(STJ). Ao primeiro compete a guarda da Constituição e ao segundo, fundamentalmente,
garantir o cumprimento da legislação infraconstitucional de maneira uniforme, em todo o
país.

O exercício de suas competências ocorre por meio da atuação em diversos tipos de


ações e processos, que estão discriminados nos artigos 102 (STF) e 105 (STJ), da
Constituição da República. Até 2004, quando houve uma reforma do Poder Judiciário,
veiculada por meio da Emenda Constitucional nº 45, o Supremo Tribunal Federal (STF)
era o tribunal competente para processar e julgar, originariamente, as extradições
solicitadas por Estado estrangeiro (art. 102, g), bem como a homologação das sentenças
estrangeiras e a concessão do "exequatur" às cartas rogatórias (art.102, h). A partir da
reforma, estas duas últimas competências passaram para o Superior Tribunal de Justiça
(STJ) (art. 105, I, i).

Considerando os compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil, o STJ editou a


Resolução nº 9, no ano de 2005, regulamentando a atuação daquela Corte Superior
quanto aos processos que envolvem cooperação internacional. Nessa Resolução, prevê-
se, expressamente, a possibilidade de cumprimento de diligências por “auxílio direto”, via
Ministério da Justiça (que é a autoridade central para a maioria absoluta dos tratados e
convenções, no Brasil) sem a intervenção do Tribunal.

A resolução nº. 9, do Superior Tribunal de Justiça, estabelece no parágrafo único do seu


art. 7º que:

"Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos que não
ensejem pedido de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda que denominados
como carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça para as
providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto”.
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Dessa forma, torna-se possível constatar que nestes casos não cabe ao Superior Tribunal
de Justiça, diferentemente do que ocorre no caso das cartas rogatórias, conceder o
exequatur, visto que caberá ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação
Jurídica Internacional (DRCI) tomar as providências necessária para o cumprimento do
auxílio direto.

O STJ, ao editar a Resolução nº 9/2005, objetivou aplicar maior celeridade aos


procedimentos internacionais, desobstruindo as casuais implicações processuais, no que
tange à morosidade aparente nas homologações estrangeiras.

Fato é que o auxílio direto diferencia-se dos demais mecanismos porque nele não há
exercício de juízo de delibação pelo Estado requerido. Por meio do auxílio direto em
matéria civil, o Estado requerente abre mão do poder de dizer o direito sobre determinado
objeto de cognição para transferir às autoridades do outro Estado essa tarefa. Por meio
do auxílio direto em matéria penal, o Estado requerente oferece uma notitia criminis,
possibilitando que o Estado requerido instaure procedimento administrativo ou judicial
pertinente, conforme a lex diligentiae, para a execução da medida solicitada.

Podem ser objeto de auxílio direto a comunicação de atos processuais (citações,


intimações e notificações), a busca e apreensão, a obtenção de provas, inclusive com a
obtenção de autorização judicial para a quebra de sigilos de informações e dados; bem
como a obtenção de medidas cautelares e de decisões de tutela antecipada,
especialmente as que envolvem arresto, sequestro e bloqueio de bens.

Ao contrário do que ocorre nos mecanismos tradicionais de cooperação, onde o pedido de


cooperação enseja apenas um procedimento, o auxílio direto origina, via de regra, dois
procedimentos. O primeiro deles nasce com o pedido de cooperação lavrado pela
autoridade requerente e, após análise e seguimento pelas autoridades competentes,
chega às autoridades do país requerido. Em busca do atendimento do pedido pelo Estado
requerido, devem as suas autoridades buscar o início do procedimento administrativo ou
judicial pertinente. Assim, inaugura-se novo procedimento inteiramente nacional no
Estado requerido.
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O procedimento nacional, por sua vez, pode ser um processo administrativo, um incidente
processual judicial específico, como os pedidos do Ministério Público Federal para a
obtenção de quebras de sigilo bancário no Brasil ou uma ação judicial, a exemplo do que
ocorre com as ações de busca, apreensão e retorno movidas pela União nos termos da
Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.

Quando necessária a instauração de processo judicial, o julgamento do auxílio direto


judicial no Brasil será entregue aos juízes federais de 1ª instância, nos termos do artigo
109 da CF, seja porque figuram como parte o Ministério Público Federal ou a União, seja
porque a medida busca cumprir tratado do qual o Brasil é parte.

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