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COMUNICAÇÃO E

EXPRESSÃO

Letícia Sangaletti
Teoria da Comunicação:
funções da linguagem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Escolher o elemento da comunicação a ser enfatizado em seus textos.


 Distinguir as funções da linguagem.
 Estabelecer a função preponderante em um texto, associando-a a
intenção do emissor.

Introdução
Neste texto, você explorará as funções da linguagem como aprofunda-
mento da Teoria da Comunicação. Assim, você deve compreender que,
dependendo da intenção comunicativa, o emissor de uma mensagem
enfatiza um ou outro elemento da comunicação, tendo maiores chances
de obter sucesso em seu objetivo.
Assim, os seis elementos da comunicação se evidenciam para a leitura
e a produção de textos. E você aproveitará a oportunidade para aplicar
esses novos conhecimentos à sua linguagem oral e escrita.

Elementos da comunicação
É impossível falar sobre funções da linguagem sem abordar os elementos da
comunicação. Afinal, cada um deles dá origem a uma função linguística. Es-
ses atos comunicativos podem acontecer de maneira intuitiva ou com alguma
intenção, seja ela explícita ou não. Como você pode ver na Figura 1, Jakobson
(2005) elaborou um esquema para explicar como operam os seis fatores essenciais
para que a comunicação se realize, os chamados elementos da comunicação:
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Figura 1. Modelo de comunicação por Roman Jakobson.


Fonte: Jakobson (2005, p. 123).

De acordo com o modelo, a mensagem precisa de um contexto. Ou seja,


deve se referir a algo externo a ela mesma. Quanto ao contato, ele representa
o canal físico em que a mensagem circula e as ligações psicológicas entre
destinador e destinatário. Isso significa que ambos só percebem a mensagem
porque dominam o mesmo código. Veja cada um dos elementos descritos:

 Emissor: também conhecido como referente, é quem emite a mensagem;


pode ser um indivíduo ou um grupo.
 Mensagem: é o objeto da comunicação e é constituída pelo conteúdo
das informações. Ou seja, é o conteúdo que o emissor quer transmitir.
 Canal: é a via de circulação da mensagem (voz, ondas sonoras, uma
folha de papel, um blog, um livro). É o meio pelo qual a mensagem é
transmitida. Pode ser por ar (ao falar), jornal, televisão, revista, internet,
rádio, etc.
 Código: é o conjunto de regras, de signos e códigos utilizados para
formar a mensagem. Para que a comunicação seja bem-sucedida,
é preciso que o receptor compreenda o código usado pelo emissor.
Como exemplo de código, você pode considerar: letras, idiomas,
código Morse, etc.
 Referente: é constituído pelo contexto, pela situação e pelos objetos
aos quais a mensagem está relacionada.
 Destinatário: é aquele que recebe a mensagem, também chamado de
receptor; pode ser uma pessoa ou grupo de pessoas.

Para Jakobson (2005), cada um desses seis fatores determina uma diferente
função da linguagem, como você verá na próxima seção.
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Funções da linguagem por Roman Jakobson


Lev Jakubinskij, em 1916, propôs, pela primeira vez, uma teoria que di-
ferenciava um sistema de linguagem prática de um sistema de linguagem
poética. Um pouco mais tarde, em 1921, Jakobson afi rmou ser a poesia uma
linguagem que se valia da função estética, num sentido autônomo da pala-
vra sintonia. Entre os anos de 1933 e 1934, o teórico identificou na poesia
a função poética da linguagem, que se caracteriza como palavra e sintaxe
que possui peso e valor próprios. Já em 1935, o formalista russo voltou a
afi rmar que o uso dominante da função poética da linguagem é da natureza
da poesia, num sentido em que a linguagem se apresenta orientada para o
signo enquanto tal. Anos depois, em 1960, Jakobson retomou suas teorias
sobre a função estética da linguagem no estudo “Linguística e poética”, com
quadro teórico baseado na Linguística Geral e na Teoria da Comunicação
(ANDRADE; MEDEIROS, 1997).
Então, partindo dos seis elementos, Jakobson (2005) elaborou estudos sobre
as funções da linguagem, necessárias para a análise e a produção de textos. De
acordo com o autor, as seis funções da linguagem são (JAKOBSON, 2005):
função referencial, função emotiva, função conativa ou apelativa, função
fática, função metalinguística e função poética.
Em todo processo de comunicação, a linguagem é expressa de acordo
com a função que se deseja enfatizar. No momento em que se estabelece uma
comunicação verbal, um dos elementos apresentados prevalece e determina
uma das funções. De acordo com esse modelo, a mensagem é o elo entre
emissor e receptor.
Desse modo, o esquema de comunicação de Jakobson (2005), se preenchido
pelas funções da linguagem no lugar dos elementos, ficaria como na Figura 2.

Figura 2. As funções da linguagem no esquema de Jakobson.


Fonte: Jakobson (2005).
16 Teoria da Comunicação: funções da linguagem

Ou seja, cada elemento comunicativo possui intrinsecamente uma função.


Observe a Tabela 1:

Tabela 1. Elementos comunicativos e suas funções.

Elemento de destaque Função

Emissor Emotiva

Receptor Conativa

Referente Referencial

Código Metalinguística

Canal Fática

Mensagem Poética

A seguir, você pode conhecer melhor cada uma das funções da linguagem.

 Função referencial: está relacionada ao referente, que é o objeto ou a situ-


ação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente
o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre
este. A função referencial, voltada ao contexto, predomina nos textos de
caráter científico, em textos dissertativos, técnicos e instrucionais. Além
disso, é privilegiada nos textos jornalísticos, como notícias, reportagens.

Exemplo (G1 RS, 2017):

Começa campanha de arrecadação para projeto de Memorial às Vítimas


da Kiss
Publicada em 21/08/2017 às 07h01m
G1/RS
A construção do Memorial às Vítimas da Kiss, para lembrar dos 242 mortos
no incêndio da boate em Santa Maria em 2013, terá financiamento coletivo.
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A arrecadação começa nesta segunda-feira (21), com o lançamento de


uma campanha para levantar os fundos.
Um evento na Praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, marcou o
início da campanha pela manhã. A captação de recursos deve ocorrer
até outubro. A iniciativa é da Associação dos Familiares de Vítimas e
Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

 Função emotiva: com foco no emissor, é conhecida também como


função expressiva. Imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal,
de sua subjetividade, como emoções, avaliações, opiniões. Ao ler o
texto, o leitor sente a presença do emissor. É geralmente escrita em
primeira pessoa e usa pontuações como as reticências e a exclama-
ção. Como exemplos, você pode considerar: músicas, depoimentos,
relatos, poesias.

Exemplo (SEIXAS, 1976):

Eu nasci há dez mil anos atrás


(Raul Seixas)
Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:
Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais

 Função conativa ou apelativa: procura organizar o texto de forma que


o emissor se imponha sobre o receptor da mensagem, com o intuito
de persuadi-lo, seduzi-lo, influenciá-lo, convencê-lo, manipulá-lo. Nas
mensagens em que predomina essa função, se busca envolver o leitor
com o conteúdo transmitido, o levando a adotar este ou aquele com-
portamento. Alguns tipos de textos que possuem a função conativa
ou apelativa são as campanhas publicitárias e as campanhas políticas.
Observe um exemplo na Figura 3.
18 Teoria da Comunicação: funções da linguagem

Figura 3. A função apelativa tem relação


estreita com a publicidade.
Fonte: Caires (2010).

 Função fática: está ligada ao canal de comunicação. Essa função


acontece quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação
ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Normalmente,
é usada quando o emissor testa o canal, com o objetivo de manter a
comunicação. Exemplo: “Alô”, “Oi?”, “Entendeu?”, “Hum”.

Exemplo (MENDEZ, 2010):


Trecho de “Fofinhos”, de Luís Fernando Veríssimo
— Alô, boneca.
Silêncio
— Eu topo
Mais silêncio.
— Como é, vamos?
— O senhor quer fazer o favor de me deixar em paz?
— Ah, quer dizer que o decalco aí atrás é falso?
— Por favor...
— O tal “Siga-me, estou indo para o motel” é papo furado, hein?
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 Função metalinguística: nessa função, o emissor explica um código


usando o próprio código. É a mensagem sobre a mensagem. A linguagem
se volta sobre si mesma, se transformando em seu próprio referente. Quando
isso acontece, ocorre a função metalinguística. Como exemplo, você pode
considerar: textos sobre escrita, filmes sobre a indústria cinematográfica.

Exemplo (DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS ONLINE, 2017):

Verbete de dicionário
Língua: s.f. Sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística.

 Função poética: essa função é capaz de despertar no leitor prazer


estético e surpresa. Ela se expressa na estrutura da mensagem. Assim,
se utiliza da criação de ritmos, rimas, trocadilhos, tonalidade, etc. A ma-
nifestação da função poética da linguagem ocorre quando a mensagem
é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações
sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Como exemplo, você
pode considerar poesias e campanhas publicitárias, como a da Figura 4.

Figura 4. Campanha publicitária Margs


com poesia.
Fonte: Angelo (2013).
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Mesmo que cada função esteja ligada a um elemento comunicativo, elas não são
exploradas isoladamente. De modo geral, ocorre a superposição de várias delas. O
que acontece é que uma se sobressai, o que permite a identificação da finalidade
principal do texto.

Saiba mais sobre as funções da linguagem em Do texto ao texto: curso prático de leitura
e redação (INFANTE, 1998).

Intenções do emissor
Considerando o arcabouço teórico de Roman Jakobson (2005), você certamente
já compreendeu que todo evento comunicativo se constitui por um emissor,
que tem o intuito de transmitir determinada mensagem a um receptor, dentro
de um determinado contexto. Para tanto, o emissor utiliza um código e envia
sua mensagem por um canal. Para o estudioso, dependendo da intenção de
quem fala ou escreve, ou seja, do emissor, um desses elementos comunicativos
será enfatizado nesse circuito.
Nessa esteira, para compreender a mensagem e aprimorar o processo de
leitura e produção de textos, é imprescindível entender as intencionalidades
do emissor. Tais intenções podem ser inúmeras, como emocionar, esclarecer,
persuadir, informar, manter contato, encantar, manipular, entre outras. Por
exemplo, se o emissor pretende emocionar o receptor, a ênfase será no uso
de verbos em primeira pessoa. Além disso, ele falará dos seus sentimentos,
emoções e posicionamentos.
Ainda que o foco da ação comunicativa seja um só, no caso do exemplo,
de emocionar, a mensagem pode servir para várias outras funções. Assim,
você dificilmente encontrará uma única função da linguagem; o que terá
é apenas a prevalência de uma sobre as outras. Sobre isso, Chalhub (1990,
p. 8) diz que:
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Numa mesma mensagem [...] várias funções podem ocorrer, uma vez que,
atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se
diferentes níveis de linguagem. A emissão, que organiza os sinais físicos
em forma de mensagem, colocará ênfase em uma das funções – e as demais
dialogarão em subsídio.

Nesse sentido, a ênfase dada a um dos elementos na construção da men-


sagem não descarta o uso dos outros. O que ocorre é que a utilização de mais
de um elemento colabora para o resultado final proposto pelo emissor.

A partir da intencionalidade, o emissor fará escolhas linguísticas para chegar ao seu


objetivo. Assim, ao enfatizar algum recurso, ele necessita ativar sua capacidade criativa
e levar em consideração se o receptor terá capacidade de responder a ela.
22 Teoria da Comunicação: funções da linguagem

ANDRADE, M. M.; MEDEIROS, J. B. Curso de língua portuguesa para a área de humanas.


São Paulo: Atlas, 1997.
ANGELO, R. C. A função poética da linguagem e os textos publicitários. Brasília, DF: Portal
do Professor, 2013. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecni-
caAula.html?aula=50632>. Acesso em: 27 set. 2017.
CAIRES, A. Figuras de linguagem. [S.l.]: SlideShare, 2010. Disponível em: <https://
pt.slideshare.net/90566088/figuras-de-linguagemlamadre>. Acesso em: 27 set. 2017.
CHALHUB, S. Funções da linguagem. 3. ed. São Paulo: Ática, 1990. (Série Princípios).
DICIONÁRIO AURÉLIO DE PORTUGUÊS ONLINE. Significado de língua. [S.l.]: Dicionário
do Aurélio, 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/lingua>. Acesso
em: 27 set. 2017.
FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.
Teoria da Comunicação: funções da linguagem 23

G1 RS. Começa campanha de arrecadação para projeto de Memorial às Vítimas


da Kiss. G1, Rio de Janeiro, 21 ago. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/
rio-grande-do-sul/noticia/comeca-campanha-de-arrecadacao-para-projeto-de-
-memorial-as-vitimas-da-kiss.ghtml>. Acesso em: 27 set. 2017.
INFANTE, U. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. 5. ed. São Paulo:
Scipione, 1998.
JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2005.
MENDEZ, A. F. A teoria da comunicação. Porto Alegre: Cultura de Travesseiro, 2010.
Disponível em: <http://culturadetravesseiro.blogspot.com.br/2010/12/teoria-da-
-comunicacao.html>. Acesso em: 27 set. 2017.
OLIVEIRA, E. C. Lei contra a palmada: governo coloca os pais no banco dos réus. São
Paulo: IPCO, 2010. Disponível em: <https://ipco.org.br/lei-contra-a-palmada-governo-
-coloca-os-pais-no-banco-dos-reus/#.Wct1iGhSzIU>. Acesso em: 27 set. 2017.
SEIXAS, R. Eu nasci há dez mil anos atrás. In: SEIXAS, R. Há 10 mil anos atrás. Amsterdam:
Philips Records, 1976. 1 disco sonoro.

Leitura recomendada
SILVA, M. C. As funções da linguagem. São Paulo: Brasil Escola, c2017. Disponível em:
<http://brasilescola.uol.com.br/redacao/as-funcoes-linguagem.htm>. Acesso em:
22 ago. 2017.

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