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TRIBUNAL DE CONTAS DO DISTRITO FEDERAL

GABINETE DO CONSELHEIRO MÁRCIO MICHEL

Processo nº: 00600-00001116/2022-10-e.


Órgão/Entidade: Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE/DF)
Assunto: Representação.
Ementa: - Representação oferecida pelo MP de Contas em razão de
possível não disponibilização de Educadores Sociais Voluntários
para alunos com necessidades especiais, deficiência ou
Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados no Ensino
Médio, nos Centros de Línguas e em Escolas Técnicas, além da
possível insuficiência de profissionais para a educação em Tempo
Integral, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental;
- Corpo Técnico: ante o preenchimento dos pressupostos de
admissibilidade, sugere conhecer da Representação e determinar
a oitiva da jurisdicionada para que apresente esclarecimentos
acerca dos fatos representados. Adicionalmente, propõe que se
delibere acerca da medida cautelar inaudita altera pars requerida
pelo MP de Contas;
- Despacho Singular nº 74/2022 – GCMM: conhecimento da
Representação, fixando-se prazo para manifestação da SEE/DF.
Concessão da medida cautelar, sem oitiva prévia, com fulcro no
art. 277 do Regimento Interno do TCDF, tendo em vista a
existência dos elementos necessários para sua adoção;
- Nesta fase: submissão do feito ao e. Plenário para ratificação
da decisão monocrática em voga.

RELATÓRIO

Trata-se da Representação nº 2/2022 – G4P (peça 1) oferecida pelo


MP de Contas em razão de possível não disponibilização de Educadores Sociais
Voluntários para alunos com necessidades especiais, deficiência ou Transtorno do
Espectro Autista (TEA) matriculados no Ensino Médio, nos Centros de Línguas e em
Escolas Técnicas, além da possível insuficiência de profissionais para a educação em
Tempo Integral, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental.
Os presentes autos deram entrada neste Gabinete às 18:58 horas do
dia 18/2/2022 (sexta-feira), após a emissão da certidão de distribuição (peça 6).
Tendo em vista a natureza da matéria abarcada na exordial e havendo
a necessidade de tempestiva deliberação acerca do pedido de medida cautelar
formulado pelo Órgão Ministerial, julguei adequado, ainda no dia 21/2/2022 (segunda-
feira), promover imediata análise do feito, tendo proferido o Despacho Singular nº
74/2022 – GCMM (peça 10), do qual transcrevo o excerto abaixo:
[...]

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A fim sustentar suas afirmações, o Órgão Ministerial anota que, para o ano
letivo de 2022, o Programa Educador Social Voluntário (ESV) encontra-se
regulamentado pela Portaria nº 63/2022, editada pela SEE/DF em substituição
à Portaria nº 326/2021. Ainda de acordo com o Parquet especial, o normativo
vigente teria promovido relevantes modificações no aludido programa
governamental, entre elas uma indevida limitação do seu escopo de
atendimento.
Nesse prumo, confira-se o seguinte excerto da exordial:
[...]
De fato, a Portaria nº 63, de 27/1/20223, que estabelece o Programa Educador
Social Voluntário (ESV), no âmbito da SEE/DF, para o ano letivo de 2022, estipula as
seguintes finalidades da ação governamental:
“Art. 4º O Programa Educador Social Voluntário terá por finalidades:
I - auxiliar as atividades de Educação em Tempo Integral na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental nas Unidades Escolares da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal;
II - auxiliar os estudantes com necessidades educacionais especiais e/ou deficiência e
Transtorno do Espectro Autista (TEA) no exercício das atividades diárias no que tange à alimentação,
locomoção e higienização nas Unidades Escolares da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal.”
(Grifos acrescidos).
Quanto à compreensão do dispositivo, impende assinalar que, de acordo com
informações disponibilizadas pela SEE/DF, os selecionados no Programa ESV 2022 “vão
contribuir com a educação especial e com as escolas de educação em tempo integral
que atendem a educação infantil e o ensino fundamental.4”
Na esteira do intento externado pela Pasta, o art. 6º da Portaria nº 63/2022, ao
tratar das atribuições do ESV, faz referência tão somente à educação em tempo
integral, na educação infantil e no ensino fundamental. A dicção do dispositivo reforça
a percepção lançada no sentido de que o importante apoio dos educadores voluntários
não será ofertado aos estudantes da etapa final da educação básica, mesmo que os
alunos comprovadamente demandem a atenção a ser dispensada para locomoção,
higienização e alimentação no âmbito escolar.
[...]
(grifos no original)
Na sequência, após lançar extenso arrazoado sobre a importância
socioeducativa do mencionado programa para os alunos que demandam o
referido auxílio e de ter consignado o enquadramento jurídico que considera
necessário para o exame da matéria pelo TCDF, o MP de Contas requereu a
concessão de medida cautelar a fim de garantir “o atendimento por
educadores sociais voluntários, ou por servidores públicos competentes,
para todos os alunos que demonstrem demandar auxílio dos aludidos
agentes, inclusive no ensino médio, nos Centros de Línguas e escolas
técnicas” (grifos no original).
Ao final, endereçou os seguintes pedidos ao Plenário:
I – conheça da presente Representação;
II – adote medida cautelar, inaudita altera pars, para que a SEE/DF, até ulterior
deliberação plenária, garanta o auxílio previsto no art. 7º da Portaria nº 63/2022, a ser
executado por educador social voluntário, ou servidor público competente, para
todos os alunos que comprovadamente demandem as atividades prestadas pelos
aludidos agentes, inclusive no ensino médio (compreendendo as escolas técnicas)
e nos Centros de Línguas;
III – com fulcro no art. 230, § 7º, do RI/TCDF, conceda prazo à SEE/DF para, querendo,
apresentar os esclarecimentos que entender pertinentes quanto aos fatos narrados;
IV – encaminhe os autos ao Corpo Técnico para instrução, a fim de apurar as
irregularidades destacadas nesta Peça.
(grifos no original)
A Unidade Técnica, na Informação nº 16/2022 – DIASP2 (peça 4),
posicionou-se pelo preenchimento dos pressupostos de admissibilidade, tendo
sugerido a oitiva da jurisdicionada para apresentar esclarecimentos em face
dos fatos reportados na Representação. Pontuou, ainda, a necessidade de se
deliberar acerca da concessão da medida cautelar requerida pelo Parquet
especial.

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É o relato necessário.
O MP de Contas é legitimado para provocar a atuação desta Corte
(RI/TCDF, art. 230, III e IV). O quadro fático foi adequadamente enunciado (art.
230, § 2º, I e II) e a irregularidade foi suscitada com amparo em elementos de
cognição suficientes para sua apreciação (art. 230, § 2º, III). Ademais, a matéria
é alcançada pela competência fiscalizatória do TCDF, na medida em que
envolve suposta falha em política pública gerida por órgão do Distrito Federal
(art. 230, § 2º, IV).
Presentes, portanto, os pressupostos de admissibilidade.
No tocante ao provimento cautelar vindicado pelo Órgão Ministerial, avalio,
em cognição sumária e não-exauriente, que o fumus boni iuris decorrente dos
indícios apresentados mostra-se suficiente para habilitar a compreensão de
que o Programa Educador Social Voluntário (ESV), na versão normatizada pela
Portaria nº 63/2022, sofreu sensível redução do seu escopo material, o que
pode ensejar injustificada omissão de auxílio a alunos que dele necessitam,
com efetivo prejuízo à qualidade do ensino lhes dispensado pelo Poder Público
do Distrito Federal.
Relativamente ao periculum in mora, faz-se necessário destacar que o ano
letivo da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal teve seu início na data de
14/02/2022, conforme calendário escolar divulgado pela SEE/DF. Por conta
disso, salta à evidência o risco de ineficácia da decisão de mérito que vier a ser
proferida por este TCDF, mormente considerando o relevante fim público
tratado nestes autos.
Sendo assim, por estarem presentes os requisitos liminares, bem assim
ausente, neste momento, o periculum in mora reverso, defiro a medida cautelar
inaudita altera pars requerida pelo MP de Contas.
Ante o exposto, ad referendum do e. Plenário, DECIDO liminarmente:
I - conhecer da Representação nº 2/2022 – G4P (peça 1), ante o
preenchimento dos requisitos de admissibilidade prescritos no art. 230
do Regimento Interno do TCDF;
II - deferir o pedido de concessão de medida cautelar, sem oitiva
prévia, com fulcro no art. 277 do Regimento Interno do TCDF, tendo em
vista a existência dos elementos necessários para sua adoção, a fim de
determinar à Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(SEE/DF) que, até ulterior deliberação plenária, garanta o auxílio
previsto no art. 7º da Portaria nº 63/2022, a ser executado por educador
social voluntário, ou servidor público competente, para todos os alunos
que comprovadamente demandem as atividades prestadas pelos
aludidos agentes, inclusive no ensino médio (compreendendo as escolas
técnicas) e nos Centros de Línguas;
III - determinar à SEE/DF, com esteio no art. 123, § 3º, c/c o art. 230, §
7º, do Regimento Interno do TCDF, que apresente os esclarecimentos
que entender pertinentes acerca da questão tratada na aludida
Representação, no prazo de 5 (cinco) dias;
IV - autorizar;
a) a disponibilização de cópia da Representação nº 2/2022 – G4P
e dessa decisão monocrática à SEE/DF;
b) o retorno dos autos ao Gabinete deste Relator para fins de
ratificação da presente decisão monocrática pelo e. Plenário.

A SEE/DF foi comunicada do teor do Despacho Singular nº 74/2022 –


GCMM por intermédio do Ofício nº 735/2020 – GP (peça 11), encaminhado à

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jurisdicionada mediante Barramento de Serviços do PEN (Processo nº 00600-


00001335/2022-91), conforme recibo de entrega (e-DOC E54D8C91).
É o relatório.

VOTO

Diante do acima exposto, VOTO no sentido de que o egrégio Plenário,


com fundamento no § 1º do art. 277 do Regimento Interno do TCDF, referende o
Despacho Singular nº 74/2022 – GCMM, autorizando o retorno dos autos à SEASP
para a adoção das providências devidas.

Sala das Sessões, 23 de fevereiro de 2022.

MÁRCIO MICHEL
Conselheiro-Relator

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