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JURIS EM DIA

REVISÃO DE
JURISPRUDÊNCIA

FGV
Bloco II - Direito Constitucional, Direito Eleitoral,
Direito Penal e Processo Penal

*Este infoproduto foi criado e desenvolvido por


Mariana David Ferreira Machado
JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Olá, querido(a) aluno(a)!

Sou a Mariana Machado, advogada e responsável pelo projeto @jurisemdia, e elaborei esse material
especialmente para você que fará os concursos para Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná e do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, ambos da banca FGV (Fundação
Getúlio Vargas), cujas provas serão realizadas, respectivamente, nos dias 03/12/2023 e 17/12/2023.

Nas páginas a seguir, você vai encontrar uma seleção com julgados importantes referentes às
disciplinas do Bloco II dos mencionados concursos, são elas: a) Direito Constitucional; b) Direito
Eleitoral; c) Direito Penal; e d) Direito Processual Penal.

Vou te lembrar que este é o segundo e-book de três, cada qual referente a um bloco da sua prova.
O próximo e-book será disponibilizado no dia 16/10/2023 e contará com julgados importantes sobre
as seguintes disciplinas: a) Direito Empresarial; b) Direito Tributário; c) Direito Ambiental; d) Direito
Previdenciário; e e) Direito Administrativo.

Se tiver alguma dúvida, entre em contato pelo nosso perfil do Instagram (@jurisemdia) ou pelo e-
mail: jurisemdia@gmail.com

Vá fundo em sua preparação e bons estudos!

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Jurisprudência Bloco II
ATENÇÃO! NÃO DEIXE DE LER:

• Você vai receber um material separado com os julgados em destaque do ano de 2023.

• Neste material você encontrará, além de julgados importantes, um destaque para os temas
que vêm sendo cobrados pela banca FGV. Fique de olho nessas sinalizações, pois as bancas
tendem a ser repetitivas na elaboração de suas questões – você perceberá, por exemplo, que
há julgados que foram cobrados recentemente nas provas para o TJ/MS e para o TJ/ES, ambas
aplicadas neste ano de 2023.

• Além dos materiais de revisão, será liberado para você um Cronograma de Leitura, para te
guiar e auxiliar na conclusão da sua revisão antes da data da primeira prova (TJ/PR –
03/12/2023).

• Atenção, agora, ao cronograma de liberação dos materiais incluídos nesta revisão:

DATA DE LIBERAÇÃO MATERIAL


07/09/2023 Material de Jurisprudência – Bloco I
14/09/2023 Rodada 1 – Questões de fixação – Bloco I
21/09/2023 Rodada 2 – Questões de fixação – Bloco I
25/09/2023 Material de Jurisprudência – Bloco II
02/10/2023 Rodada 3 – Questões de fixação – Bloco II
09/10/2023 Rodada 4 – Questões de fixação – Bloco II
16/10/2023 Material de Jurisprudência – Bloco III
23/10/2023 Rodada 5 – Questões de fixação – Bloco III
30/10/2023 Rodada 6 – Questões de fixação – Bloco III
06/11/2023 Material de Jurisprudência 2023
13/11/2023 Rodada 7 – Questões de fixação – todas as disciplinas
20/11/2023 Rodada 8 – Questões de fixação – todas as disciplinas
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Jurisprudência Bloco II
Sumário

DIREITO CONSTITUCIONAL ......................................................................................................... 4

DIREITO ELEITORAL ................................................................................................................... 54

DIREITO PENAL.......................................................................................................................... 68

PROCESSO PENAL ................................................................................................................... 105

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DIREITO CONSTITUCIONAL

O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em caso
de relevância e urgência. A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas
provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório abuso,
o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP.

STF, Plenário, ADI 4627/DF e ADI 4350/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 23/10/2014 – Informativo 764
STF, Plenário, ARE 704520/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 23/10/2014 – Informativo 764

É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Poderes Executivo e
Judiciário, desde que cumpram dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original;
b) não acarretem em aumento de despesas.

STF, Plenário, ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 27/08/2014, Info. 756
STF, Plenário, ADI 1333/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 29/10/2014, Info. 765
STF, Plenário, ADI 3942/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 05/02/2015, Info. 773

No mesmo sentido:
Embora possível a apresentação de emendas parlamentares a projetos de iniciativa privativa do chefe do
Poder Executivo, são inconstitucionais os atos normativos resultantes de alterações que promovem
aumento de despesa (art. 63, I, CF/88), bem como que não guardem estrita pertinência com o objeto da
proposta original, ainda que digam respeito à mesma matéria.

STF, Plenário, ADI 6091/RR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/05/2023, Info 1096

#FGVAMA
O tema acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJES, aplicada em agosto deste ano de
2023.

Durante a tramitação de medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares poderão apresentar


emendas, desde que tenham pertinência temática com a MP que está sendo apreciada.

É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência temática com a
medida provisória em apreciação pela Casa Legislativa.

STF, Plenário, ADI 5127, Rel. Min. Rosa Weber, Rel. Acd. Min. Edson Fachin, j. 15/10/2015 – Informativo 803
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Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a competência da União
para legislar sobre telecomunicações.

STF, Plenário, ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio, ADI 5253/BA,
Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/08/2016
– Informativo 833

Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo
exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local,
sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo.

STF, Plenário, RE 729.744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/08/2016 (repercussão geral) – Info. 834

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJMS, aplicada este ano de 2023, e também
na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022, também banca FGV.

Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando
como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados.

STF, Plenário, RE 650.898/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 01/02/2017 –
Informativo 852

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJPR, aplicada em 2021.

Caso Aécio Neves

O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime
inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em
circunstâncias de excepcional gravidade.

No caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do STF (art.
102, I, “b”, da CF/88). Mas tenha muito cuidado aqui, pois se a medida cautelar imposta pelo STF
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então,
neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou
ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não
ser mantida.

Em suma, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no
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art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou
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Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a

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medida cautelar que havia sido determinada pelo Judiciário. Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art.
53 da CF/88 também para as medidas cautelares diversas da prisão.

STF, Plenário, ADI 5.526/DF, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 11/10/2017 – Info
881

Teses fixadas pelo STF:


(I) As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares
inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade
econômica.
(II) A aferição da capacidade econômica, para este fim, deve refletir não somente a receita, mas igualmente
os graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado.
(III) A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do teto das requisições de
pequeno valor impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela
legislação local.

STF, Plenário, ADI 4332/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 07/02/2018 – Informativo 890

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJMS, aplicada neste ano de 2023.

É cabível reclamação contra decisão judicial que determina a retirada de matéria jornalística de site.

No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu a censura de publicações jornalísticas, bem como tornou
excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de notícias e de opiniões. Isso porque a
liberdade de expressão possui posição preferencial no Estado democrático brasileiro, por ser uma pré-
condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e liberdades. Por isso, a retirada de matéria de
circulação configura censura em qualquer hipótese, admitindo-se apenas em situações extremadas.

Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade deve ser resolvida pela
retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil. Diante disso, se uma decisão judicial determina
que se retire do site de uma revista determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação firmada
pelo Supremo, cabendo, portanto, reclamação.

STF, 1ª T., Rcl 22.328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 06/03/2018 – Informativo 893

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida
pelo empregador ele não soubesse da sua gravidez.

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do ADCT, somente exige a anterioridade da gravidez à
dispensa sem justa causa. Ou seja, o único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a
comprovação de que a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer
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outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.


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STF, Plenário, RE 629.053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 10/10/2018 –
Informativo 919

Muito importante!

A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível com a Constituição Federal, com
fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III, e no art. 49, VI, da CF/88. Embora a Constituição
Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas ao próprio texto, nada impede que as
Constituições Estaduais prevejam possibilidade nesse sentido, ampliando a competência constante da Carta
Federal.

STF, Plenário, ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/2018 – Informativo 921

Importante!

Em processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade não se aplica a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública.

STF, Plenário, ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830.727 AgR/SC, Rel. Acd. Min.
Cármen Lúcia, j. 06/02/2019 – Informativo 929

É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias cobrem “taxa” de religação no
caso de corte de fornecimento de energia por atraso no pagamento.

Essa lei estadual invade a competência privativa da União para dispor sobre energia, violando o art. 22, IV, da
CF/88. Além disso, interfere na prestação de um serviço público federal, considerando que o serviço de energia
elétrica é de competência da União (CF/88, art. 21, XII, “b”).

STF, Plenário, ADI 5610/BA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 08/08/2019 – Informativo 946

É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações
de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,
destinadas à prestação de serviços de saúde.

STF, Plenário, ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 03/11/2020 – Informativo 997

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.

Muito importante!

É inconstitucional norma de constituição estadual que disponha sobre o processamento e julgamento de


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governador e vice-governador nos casos de crime de responsabilidade.

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A tipificação dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento de normas relativas ao processamento e
julgamento desses delitos são de competência privativa da União. Nesse sentido, a Súmula Vinculante 46
dispõe: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo
e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

STF, Plenário, ADI 4811/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/12/2021 – Informativo 1041

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV). Aproveitando o tema, se liga na
redação da Súmula Vinculante 46: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o foro por prerrogativa de função a
autoridades não contempladas pela Constituição Federal de forma expressa ou por simetria.

STF, Plenário, ADI 6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM e ADI 6516/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, j.
20/08/2021 – Informativo 1026/2021

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

É inconstitucional lei estadual que legitime ocupações em solo urbano de área de preservação permanente
(APP) fora das situações previstas em normas gerais editadas pela União.

STF, Plenário, ADI 5675/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 18/12/2021 – Informativo 1042

Comentários:
Em matéria de competência legislativa concorrente, vale a regra da predominância do interesse,
respeitando-se a legislação estadual sempre — e apenas — que ela promover um aumento no padrão
normativo de proteção aos bens jurídicos tutelados.
Nesse sentido, se a lei estadual amplia os casos de ocupação antrópica em áreas de preservação
permanente previstos na norma federal vigente à época (no caso, a Lei 11.977/2009, revogada pela Lei
13.465/2017), ela, além de estar em descompasso com o conjunto normativo elaborado pela União, flexibiliza
a proteção ao meio ambiente local, tornando-o mais propenso a sofrer danos, sendo, por isso,
inconstitucional.

Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no art. 2º da Constituição Federal, quando não
caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é defeso ao Poder
Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance de normas
meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar de matéria ‘interna corporis’.

STF, Plenário, RE 1.297.884/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/06/2021 (Tema 1120 RG) – Informativo 1021
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Jurisprudência Bloco II
É inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de usuário
inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

STF, Plenário, ADI 6668/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/02/2022 – Informativo 1043

Comentários:
Não compete aos estados legislar sobre normas gerais de proteção ao consumidor ou concessão de
serviço público (CF/88, art. 175, parágrafo único, II). A competência para elaborar a lei de delegação do serviço
público que tratará dos direitos dos usuários pertence ao ente federado dele titular. No entanto, essa lei
cobrirá apenas os aspectos específicos da delegação, pois cabe à lei nacional fixar as normas gerais de
concessão e permissão de serviços públicos (CF/88, art. 22, XXVII, e art. 175, caput).
Ademais, as normas gerais sobre consumo, editadas pela União, não preveem qualquer restrição
quanto aos tipos de débitos que possam ser inscritos nos bancos de dados e cadastros de consumidores (CDC,
arts. 43 e 44). Assim, não é razoável conceber que uma lei estadual possa estabelecer restrições quanto aos
débitos que não podem ser inscritos em banco de dados ou cadastro de consumidores, criando situações não
isonômicas em determinada região.
O poder suplementar dos demais entes da federação apenas pormenorizam a questão,
complementando-a, mas jamais alterando-a em sua essência ou mesmo estabelecendo regras incompatíveis
com a norma.

Importante!

A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível com a Constituição
Federal.

STF, Plenário, ADI 6985/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/02/2022 – Informativo 1045

Comentários:
A CF/88 atribuiu à União a competência material para autorizar e fiscalizar o armamento produzido e
comercializado no País (art. 21, VI). Também outorgou ao legislador federal a competência legislativa
correspondente para ditar normas sobre material bélico (art. 22, XXI).
Além disso, a competência atribuída aos estados em matéria de segurança pública não pode se
sobrepor ao interesse mais amplo da União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito
nacional, cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de regras uniformes, em todo o país, para
a fabricação, comercialização, circulação e utilização de armas de fogo. Há, portanto, preponderância do
interesse da União nessa matéria, quando confrontado o eventual interesse do estado-membro em
regulamentar e expedir autorização para o porte de arma de fogo.
Assim, não existe espaço de conformação para que o legislador subnacional outorgue o porte de armas
de fogo a categorias funcionais não contempladas pela legislação federal.
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É válida lei estadual que obrigue empresas prestadoras de serviços de televisão por assinatura e
estabelecimentos comerciais de vendas no varejo e no atacado – que já possuam Serviço de Atendimento ao
Consumidor (SAC) –, a fornecerem atendimento telefônico gratuito a seus clientes.

STF, Plenário, ADI 4118/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 25/02/2022 – Informativo 1045

A adoção, por lei estadual, de sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta registrada
com aviso de recebimento configura desrespeito à Constituição Federal. Além disso, é inconstitucional a
previsão, por lei estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o nome do consumidor inadimplente seja
imediatamente inscrito em cadastro ou banco de dados.

STF, Plenário, ADI 5224/SP, 5252/SP, 5273/SP, 5978/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 08/03/2022 – Informativo
1046

É inconstitucional lei estadual que concede benefício fiscal sem a prévia estimativa de impacto orçamentário
e financeiro exigida pelo art. 113 do ADCT.

O art. 113 do ADCT é aplicável a todos os entes da Federação e a opção do constituinte de disciplinar a temática
nesse sentido explicita a prudência na gestão fiscal, sobretudo na concessão de benefícios tributários que
ensejam renúncia de receita.

STF, Plenário, ADI 6303/RR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/03/2022 – Informativo 1046

É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de crianças
desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro.

STF, Plenário, ADI 5292/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 25/03/2022 – Informativo 1048/2022

Comentários:
Na hipótese, a lei estadual invade a competência legislativa da União para dispor privativamente sobre
radiodifusão de sons e imagens, em afronta ao previsto no art. 22, IV, da CF/88. Além disso, cria obrigação à
margem dos contratos de concessão dessas pessoas jurídicas com a União (poder concedente), em
contrariedade ao art. 21, XII, da CF/88.
A lei estadual incide também em inconstitucionalidade material. Em primeiro lugar porque estabelece
indevida interferência na liberdade de agentes econômicos privados ao obrigar a veiculação de conteúdo nos
jornais sediados no estado-membro, violando o princípio da livre iniciativa. Em segundo, porque ofende a
liberdade de informação jornalística dos veículos de comunicação social, os quais, por disposição expressa do
art. 220 da CF/88 não podem sofrer restrições pelo Poder Público.
Não obstante, as leis nacionais que disciplinam a busca de pessoas desaparecidas, em especial crianças
e adolescentes (Lei n. 12.127/2009), estabelecem instrumentos próprios de cooperação entre os entes
federativos, facultada a importante contribuição de emissoras de rádio e televisão, mas sempre mediante
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convênio. Não há, portanto, que se cogitar – como realizado pela lei estadual em análise pelo STF – a
imposição de divulgação de conteúdo por essas entidades em total desapego às regras de repartição de
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competência e de respeito à legislação nacional sobre a matéria.

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Não há vício de iniciativa de lei na edição de norma de origem parlamentar que proíba a substituição de
trabalhador privado em greve por servidor público.

STF, Plenário, ADI 1164/DF, Rel. Min. Nunes Marques, j. 01/04/2022 – Informativo 1049

Comentários:
De acordo com o Plenário do STF, a lei distrital impugnada na referida ADI, de iniciativa parlamentar,
muito embora estivesse voltada ao funcionamento da Administração Pública, não se sobrepõe ao campo de
discricionariedade política que a própria CF/88 reservou, com exclusividade, ao governador, no que toca a
dispor sobre a organização administrativa.
Além disso, concluiu-se que referida norma revela-se harmônica com a CF/88, notadamente com os
princípios do caput do art. 37, na medida em que permite a substituição nos estritos limites dos parâmetros
federais aplicáveis (CF/88, art. 9º, § 1º, e Lei n. 8.112/90, art. 117, XVII).

Importante!

Compete aos estados-membros a definição do prazo de validade de bilhetes de transporte rodoviário


intermunicipal de passageiros.

STF, Plenário, ADI 4289/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 08/04/2022 – Informativo 1050

Comentários:
Incumbe aos estados, como titulares da exploração do transporte rodoviário intermunicipal, a
definição da respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-la, como o prazo de
validade do bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição. Por ser o estado-membro aquele que arca com os
custos decorrentes de eventual prazo de validade mais elastecido, não cabe à União interferir no poder de
autoadministração do ente estadual quanto às concessões e permissões dos contratos de transporte
rodoviário de passageiros intermunicipal, sob pena de afronta ao pacto federativo.

Importante!

É constitucional lei estadual que concede aos professores das redes públicas estadual e municipais de ensino
o benefício da meia-entrada nos estabelecimentos de lazer e entretenimento.

STF, Plenário, ADI 3753/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 08/04/2022 – Informativo 1050

Comentários:
A competência para legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-
membros, o Distrito Federal e os municípios (CF/88, art. 24, I, e art. 30, I). Assim, como a legislação federal
atualmente vigente que trata do benefício em comento (Lei 12.933/2013) não contempla a específica
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categoria profissional abrangida pela norma estadual impugnada, o ente federado pode utilizar-se
legitimamente de sua competência normativa supletiva para tanto (CF/88, art. 24, §§ 2º e 3º).
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Sob o aspecto material, também não há inconstitucionalidade, uma vez que a medida não viola, sob
qualquer aspecto, o princípio da isonomia. O tratamento desigual criado pela lei (concessão da meia-entrada
apenas à parcela da categoria) está plenamente justificado — constitui estratégia de política pública que se
coaduna com a priorização absoluta da educação básica. Além disso, revela-se como salutar intervenção
parcimoniosa do Estado na ordem econômica, que visa à realização de relevantes valores constitucionais, e
como condição para a concretização da justiça social.

É inconstitucional lei federal, de iniciativa parlamentar, que veda medida privativa e restritiva de liberdade a
policiais e bombeiros militares dos estados, dos territórios e do Distrito Federal.

STF, Plenário, ADI 6595/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/05/2022 – Informativo 1055

Comentários:
Na linha da jurisprudência do STF, compete ao chefe do Poder Executivo local a iniciativa de lei que
disponha sobre o regime jurídico de servidores militares estaduais e distritais, por força do princípio da
simetria (CF/88, art. 61, § 1º, II, “f”). No caso, a norma impugnada resultou da aprovação do Projeto de Lei
7.645/2014, de autoria parlamentar. Dessa forma, ainda que se entendesse que ela dispõe sobre normas
gerais, de competência da União, há um incontornável vício de inconstitucionalidade formal.
De acordo com o STF, a lei combatida também padece de inconstitucionalidade material. Isso porque,
não obstante as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos entes federados subordinem-se aos
governadores, constituem forças auxiliares e reserva do Exército, sendo responsáveis, em conjunto com as
polícias de natureza civil, e portando armas letais, pela preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio. Nesse contexto, os servidores militares estaduais e distritais submetem-se a um
regime jurídico diferenciado, motivo pelo qual a própria Constituição, expressamente, autoriza a prisão por
determinação de seus superiores hierárquicos no caso de transgressão das regras e não lhes assegura sequer
o habeas corpus em relação às punições disciplinares (CF/88, art. 142, § 2º).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação direta para
declarar a inconstitucionalidade formal e material da Lei federal 13.967/2019.

É inconstitucional, por violação à competência legislativa privativa da União, lei municipal que versa sobre a
instalação de estação rádio base (ERB) e dá ensejo à atividade fiscalizatória do município, quanto ao uso e à
ocupação do solo urbano em seu território.

Tese fixada: É inconstitucional a Lei n. 13.759/2004 do município de São Paulo, por configurar invasão à
competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações e radiodifusão (CF/88, art. 22, IV).

STF, Plenário, ARE 1.370.232/SP (Tema 1235 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 08/09/2022 – Informativo 1067
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Importante!

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários e fiscais considerados
imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito determinado, desde que
em processo regularmente instaurado mediante decisão fundamentada e baseada em indícios concretos da
prática do ato.

STF, Plenário, ADI 4709/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/05/2022 – Informativo 1056

Importante!

A Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes,
certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e
demais providências necessárias à sua atuação.

STF, Plenário, ADI 6852, 6862, Rel. Min. Edson Fachin, ADI 6865, 6867, 6870, 6871, 6872, 6873, Rel. Min. Gilmar
Mendes, e ADI 6875, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/02/2022 – Informativo 1045

No mesmo sentido: É constitucional lei complementar estadual que, desde que observados os parâmetros da
razoabilidade e proporcionalidade, confere à Defensoria Pública a prerrogativa de requisitar, de quaisquer
autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias, diligências, processos,
documentos, informações, esclarecimentos e demais providências necessárias ao exercício de suas
atribuições.

STF, Plenário, ADI 6860/MT, 6861/PI e 6863/PE, Rel. Min. Nunes Marques, j. 13/09/2022 – Informativo 1067

É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciário local, cargos de Advogado
da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a defesa gratuita de praças da Polícia Militar.

Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em 1988, o
qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é própria da
Defensoria Pública (CF, art. 134 e LC 80/1994).

STF, Plenário, ADI 3152/CE, Rel. Min. Rosa Weber, j. 26/04/2022 – Informativo 1052

Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações financeiras com a finalidade de
obtenção de crédito para pagamento de pessoal ativo, inativo e pensionista, dos estados, do Distrito Federal
e dos municípios.

STF, Plenário, ADI 5683/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 20/04/2022 – Informativo 1051
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
É inconstitucional, por violação à cláusula constitucional da não afetação da receita oriunda de impostos e à
autonomia municipal, norma estadual que determina a forma de aplicação dos recursos destinados ao
município em razão da repartição constitucional de receitas.

STF, Plenário, ADI 2355/PR, Rel. Min. Nunes Marques, j. 16/09/2022 – Informativo 1068

No caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, devem ser
observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) a diligência, no caso
específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante o dia, vedando-se, assim,
o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base
denúncia anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto
circunstanciado, que deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente
por ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior;
e (iv) a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

Por fim, o Estado do Rio de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos de GPS e
sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o
posterior armazenamento digital dos respectivos arquivos.

STF, Plenário, ADPF 635 MC-ED/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j. 03/02/2022 – Informativo 1042

É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao FUNDEB para ações de
combate à pandemia do novo coronavírus (COVID-19).

A jurisprudência do STF é firme no sentido da impossibilidade de uso dos recursos do FUNDEB para gastos não
relacionados à educação, pois possuem destinação vinculada a finalidades específicas, todas voltadas
exclusivamente à área educacional. Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da COVID-19 e os seus
impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente
vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para fins diversos da que ela se destina.

STF, Plenário, ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 18/02/2022 – Informativo 1044

A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até mesmo
errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado Democrático de
Direito e a democracia.

Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição do
Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes constituídos e de
suas instituições.

STF, Plenário, AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 20/04/2022 – Informativo 1051
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Jurisprudência Bloco II
A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito manifestamente difamatório,
de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma ou de críticas aviltantes. A garantia da
imunidade parlamentar não alcança os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o discurso
e o desempenho das funções parlamentares.

STF, 2ª Turma, Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259 AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet
8366 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Rel. Acd. Min. Gilmar Mendes, j. 03/05/2022 – Informativo 1053

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a segurança pública, segurança
nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao
interesse público, observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias fundamentais.

Desse modo, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o compartilhamento
de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente
público.

STF, Plenário, ADPF 722/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/05/2022 – Informativo 1054

Muito importante!

Não viola a Constituição Federal a previsão legal de imposição de sanções administrativas ao condutor de
veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias, voltados a aferir a
influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e 3º, todos do Código de
Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016).

São constitucionais as normas que estabelecem a proibição da venda de bebidas alcóolicas em rodovias
federais (Lei 11.705/2008, art. 2º).

STF, Plenário, RE 1.224.374/RS, ADI 4017/DF e ADI 4103/DF (Tema 1079 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/05/2022
– Informativo 1035

É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de dados pessoais entre órgãos e
entidades da Administração Pública federal, sem qualquer prejuízo da irrestrita observância dos princípios
gerais e mecanismos de proteção elencados na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei n. 13.709/2018)
e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção de dados.

STF, Plenário, ADI 6649/DF e ADPEF 695/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/09/2022 – Informativo 1068

É inconstitucional ato normativo que, ao disciplinar a licença maternidade no âmbito das Forças Armadas,
estabelece prazos distintos de afastamento com fundamento na diferenciação entre a maternidade biológica
e a adotiva, bem como em função da idade da criança adotada.
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STF, Plenário, ADI 6603/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 13/09/2022 – Informativo 1067

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Jurisprudência Bloco II
Importante!

É constitucional lei estadual que prevê a reserva de assentos especiais a serem utilizados por pessoas obesas,
correspondente a 3% dos lugares em salas de projeções, teatros e espaços culturais localizados em seu
território e a, no mínimo, 2 lugares em cada veículo de transporte coletivo municipal e intermunicipal.

STF, Plenário, ADI 2477/PR e ADI 2572/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/10/2022 – Informativo 1073

É constitucional — por não ofender o direito de propriedade e os princípios da ordem econômica e do


equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos — lei federal que determina a reserva, por
veículo, de duas vagas gratuitas e, após estas esgotarem, de duas vagas com tarifa reduzida em, no mínimo,
50%, para serem utilizadas por jovens de baixa renda no sistema de transporte coletivo interestadual de
passageiros.

STF, Plenário, ADI 5457/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/11/2022 – Informativo 1076

O Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder Executivo adote medidas
necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.623.873/SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 26/04/2022, DJe 28/04/2022 – Informativo 734

Comentários:
Segundo a jurisprudência do STJ, quando configurada hipótese de injustificável inércia estatal e não
houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira do ente público, o Poder Judiciário pode
determinar que o Poder Executivo adote medidas necessárias ao cumprimento dos direitos e garantias
fundamentais, nos termos previstos no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.

A comunidade indígena cuja posse fundiária é questionada em ação de nulidade de demarcação tem o direito
subjetivo de ser ouvida no processo, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.

STJ, 2ª Turma, AgInt na Pet no REsp 1.586.943/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 17/05/2022 – Informativo
737

Comentários:
De pronto, deve-se afastar qualquer interpretação da lei que transfira às entidades públicas os
poderes do titular do direito, emasculando-o. Mesmo quando atua por meio da substituição processual, o
MPF não usurpa nem anula a titularidade dos índios sobre seus direitos.
Tal conclusão decorre do art. 232 da CF, "os índios, suas comunidades e organizações, são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em
todos os atos do processo."
A norma é taxativa: os índios e suas comunidades são os legitimados para as causas, pelo motivo mais
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elementar de também serem os titulares dos direitos nelas discutidas. É evidentemente a lógica que informa
todo o sistema jurídico brasileiro.
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Jurisprudência Bloco II
Como proteção adicional dos direitos dos indígenas, a Constituição exige a presença do MPF, nas
causas em que se debaterem seus direitos. A imposição constitucional atende ao imperativo de que os índios
nem sempre estão em condições sociológicas de aquilatar as implicações de processos em seus direitos, e
nisso não diferem tanto dos demais leigos em direito, malgrado disponham das condições intelectuais, morais
e psicológicas para se inteirar do assunto, se devidamente esclarecidos a respeito.
O problema está em que todo o processo judicial se desenvolve no universo de sentido europeu, que
muitas vezes é estranho ou apenas superficialmente conhecido pelas comunidades indígenas. Caso as relações
fossem inversas, isto é, se nossa sociedade ainda se pautasse pelo código de sentido indígena, seríamos nós,
os especialistas no direito nos demais ramos do conhecimento europeu, que necessitaríamos de explicações
antropológicas e sociológicas para a compreensão do País.
Outro problema parece facilmente identificável na tese contrária e consiste numa leitura, data venia,
apressada das normas legais de regência do caso. Assim, do fato de o MPF ser o titular de função
teleologicamente preordenada à defesa dos direitos dos índios, rigorosamente nada se segue acerca da
legitimidade deles para a defesa de seus próprios direitos. Do fato de "A" ter o direito ao aforamento de certa
ação não se pode afirmar nada a respeito da prerrogativa de "B" fazê-lo.
O contrário só encontraria base caso a norma atribuísse competência "exclusiva" ao MPF, com o
consequente alijamento dos índios. Mas, como visto, o art. 232 da CF adotou a solução inversa, ao fazer
coincidir a titularidade do direito material com a legitimação e a capacidade processuais dos índios.
Portanto, o fato de o MPF participar de demanda nada diz sobre o pressuposto básico de validade de
qualquer processo: citar-se o titular do direito cuja existência se quer negar.

O caráter extraordinário dos valores de complementação do FUNDEB pagos pela União aos estados e aos
municípios, por força de condenação judicial, justifica o afastamento da subvinculação prevista nos arts. 60,
XII, do ADCT e 22 da Lei n. 11.494/2007.

É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos destinados ao FUNDEB,


o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente vinculadas à educação.

STF, Plenário, ADPF 528/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/03/2022 – Informativo 1047

O que é o FUNDEB?
O FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação) – que substituiu o FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério) – é um fundo especial, de natureza contábil em âmbito estadual,
formado quase integralmente por recursos provenientes dos impostos e transferências dos Estados, DF e
Municípios, sendo destinatários aqueles entes que oferecem atendimento na educação básica. A Lei n.
14.113/2020 regulamenta atualmente o FUNDEB (antes, era regulado pela Lei n. 11.494/2007) e prevê, assim
como a lei antiga, que a União tem o dever de complementar os recursos do fundo.

É constitucional norma federal que prevê a transferência de recursos pela União aos estados e ao Distrito
Federal para garantir o acesso à internet, com fins educacionais, por alunos e professores da educação básica
em virtude da calamidade pública decorrente da Covid-19.
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STF, Plenário, ADI 6926/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 01/07/2022 – Informativo 1061

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Jurisprudência Bloco II

1. A educação básica em todas as suas fases – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – constitui
direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e
aplicabilidade direta e imediata.

2. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo
Poder Público pode ser exigida individualmente, como no caso examinado neste processo.

3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à
educação básica.

O Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 548 da repercussão geral, negou provimento ao recurso
extraordinário, confirmando o acórdão recorrido, para assentar o dever de a municipalidade efetuar a
matrícula de uma criança em estabelecimento de educação infantil próximo de sua residência.

STF, Plenário, RE 1.008.166/SC (Tema 548 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 22/09/2022 – Informativo 1069

Importante!

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no mesmo
estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina
medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar
possível.

STF, Plenário, ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 23/09/2022 – Informativo 1069

Muito importante!

A flexibilização, via decreto presidencial, dos critérios e requisitos para a aquisição de armas de fogo prejudica
a fiscalização do Poder Público, além de violar a competência legislativa em sentido estrito para a
normatização das hipóteses legais quanto à sua efetiva necessidade.

STF, Plenário, ADI 6119/DF, ADI 6139/DF e ADI 6466/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 20/09/2022 – Informativo
1069

Comentários:
Do exame do ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, já consideradas as incorporações
provenientes do direito internacional sobre direitos humanos, é possível concluir que: (a) o direito à vida e à
segurança geram o dever positivo do Estado ser o agente primário na construção de uma política pública de
segurança e controle da violência armada; (b) não existe direito fundamental de possuir armas de fogo no
Brasil; (c) ainda que a Constituição Federal não proíba universalmente a aquisição e o porte de armas de fogo,
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ela exige que sempre ocorram em caráter excepcional, devidamente justificado por uma particular
necessidade; (d) o dever de diligência estatal o obriga a conceber e implementar mecanismos institucionais e
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regulatórios apropriados para o controle do acesso a armas de fogo, como procedimentos fiscalizatórios de

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Jurisprudência Bloco II
licenciamento, de registro, de monitoramento periódico e de exigência de treinamentos compulsórios; e (e)
qualquer política pública que envolva acesso a armas de fogo deve observar os requisitos da necessidade, da
adequação e da proporcionalidade.
Nesse contexto, concluiu o Plenário do STF que não cabe ao Poder Executivo, no exercício de sua
atividade regulamentar, criar presunções de efetiva necessidade para a aquisição de uma arma de fogo
distintas das hipóteses já disciplinadas em lei, visto se tratar de requisito cuja demonstração fática é
indispensável, mostrando-se impertinente estabelecer a inversão do ônus probatório quanto à veracidade das
informações constantes na declaração de seu preenchimento.

A excepcionalidade e a gravidade que circundam a intervenção federal, bem como a complexidade que emana
do cumprimento da ordem de desocupação, sobrepõem-se ao interesse particular dos proprietários do
imóvel.

STJ, Corte Especial, IF 113/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 06/04/2022 – Informativo 732

Comentários:
O caso concreto envolvia um sítio que foi invadido por membros do Movimento Sem Terra (MST), o
que levou o proprietário do bem à propositura de ação de reintegração de posse, na qual foi concedida medida
liminar para desocupação da área, com o uso de força policial. Por várias vezes os agentes públicos estaduais
responsáveis foram intimados para encaminhar força policial ao local. Apesar disso, a desocupação não foi
cumprida por falta de força policial. Diante da inexecução desta ordem judicial por vários anos, o proprietário
do bem apresentou ao Presidente do Tribunal de Justiça local pedido de intervenção federal, na forma do
inciso IV do art. 35 da CF/88.
A Corte Especial do STJ não acolheu o pedido de intervenção. Isso porque a intervenção federal é
medida de natureza excepcional, por limitar a autonomia do ente federado, com vistas a restabelecer o
equilíbrio federativo, cujas hipóteses de cabimento encontram-se previstas taxativamente no art. 34 da
Constituição Federal. A finalidade da intervenção consiste em resguardar a estrutura estabelecida na
Constituição Federal, sobretudo quando se estiver diante de atos atentatórios praticados pelos entes
federados.
No caso concreto, os documentos acostados ao pedido evidenciaram que o não cumprimento da
ordem de desocupação não tem o condão de autorizar intervenção, medida excepcional, porque as
circunstâncias dos fatos e justificativas apresentadas pelo ente estatal, no sentido de que viabilizar a
desocupação mediante atuação estratégica de vários órgãos, aliada à necessidade de reassentamento das
famílias em outro local, devem ser sopesadas com o direito dos requerentes.
A excepcionalidade e a gravidade que circundam a intervenção federal, bem como a complexidade
que emana do cumprimento da ordem de desocupação, sobrepõem-se ao interesse particular dos
proprietários do imóvel.
Não há como reconhecer tenha o ente estatal se mantido inerte, em afronta à decisão judicial, não
havendo que se falar em recusa ilícita, a ponto de justificar a intervenção, porquanto a situação fática
comprovada nos autos revela questão de cunho social e coletivo, desbordando da esfera individual dos
requisitantes.
A análise do pedido de intervenção federal perpassa inevitavelmente pela aplicação das normas
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constitucionais, encontrando solução imediata no princípio da proporcionalidade, e, em seguida, na tomada


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de novas medidas administrativas e, se for o caso, judiciais frente à realidade atual da área.

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Jurisprudência Bloco II
Tal conclusão afigura-se ainda mais consentânea à hipótese, ao constatar-se que remanesce aos
requerentes o direito à reparação, que pode ser exercido por meio de ação de indenização.

É vedada a utilização das emendas do relator-geral do orçamento com a finalidade de criar novas despesas
ou de ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, uma vez que elas se
destinam, exclusivamente, a corrigir erros e omissões (art. 166, § 3º, III, alínea “a”, da CF/88).

O STF declarou incompatíveis com a ordem constitucional brasileira as práticas orçamentárias viabilizadoras
do chamado “esquema do orçamento secreto”, consistentes no uso indevido das emendas do Relator-Geral
do orçamento para efeito de inclusão de novas despesas públicas ou programações no projeto de lei
orçamentária anual da União. Segundo o ministro Ricardo Lewandowski: “as emendas do relator, da maneira
como são utilizadas, subvertem a lógica do sistema de repartição dos recursos orçamentários. Elas retiram do
chefe do Executivo federal a discricionariedade na alocação das verbas, em prejuízo da governabilidade e em
afronta ao mecanismo de freios e contrapesos garantido pela separação dos Poderes. Entre os princípios
violados pela sistemática da distribuição das verbas orçamentárias estão os da isonomia, da legalidade, da
moralidade, da publicidade, da impessoalidade e, sobretudo, da eficiência, que regem a administração pública

STF, Plenário, ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 19/12/2022
– Informativo 1080

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJMS, aplicada neste ano de 2023.

MUITO IMPORTANTE!

É inconstitucional norma constitucional estadual pela qual se prevê hipótese de intervenção estadual em
municípios não contemplada no art. 35 da Constituição Federal.

STF, Plenário, ADI 6616/AC, rel. min. Cármen Lúcia, j. 26/04/2021 – Informativo 1014/2021

No mesmo sentido:
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são
previstas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88
são taxativas.

STF, Plenário, ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 27/03/2020

É inconstitucional norma do provimento do Conselho da Magistratura estadual que proíbe o juiz de converter
os autos de prisão em flagrante em diligência. A possibilidade de ordenar diligências prévias consiste em
prerrogativa inafastável do magistrado.
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STF, Plenário, ADI 4662/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/08/2022 – Informativo 1063
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Jurisprudência Bloco II
É inconstitucional, por disciplinar matéria concernente ao Estatuto da Magistratura, norma estadual que prevê
a adoção do maior tempo de serviço público como critério de desempate para a promoção de magistrados.

STF, Plenário, ADI 6772/AL, Rel. Min. Edson Fachin, j. 23/09/2022 – Informativo 1069

A atribuição de iniciativa privativa ao Governador do Estado para leis que disponham sobre a organização do
Ministério Público estadual contraria o modelo delineado pela Constituição Federal nos arts. 61, § 1º, II, d, e
128, § 5º.

STF, Plenário, ADI 400/ES, Rel. Min. Nunes Marques, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 20/06/2022 –
Informativo 1059

Comentários:
Nos estados, os Ministérios Públicos poderão estabelecer regras sobre sua organização, atribuições
de seus membros e seu estatuto por meio de lei complementar de iniciativa do respectivo Procurador-Geral
de Justiça (CF/88, art. 128, § 5º).
Assim, na esfera estadual, coexistem dois regimes de organização: (i) a Lei Orgânica Nacional (Lei
8.625/1993); e (ii) a Lei Orgânica do estado-membro, que delimita as regras acima referidas e que, como visto,
se dá através de lei complementar de iniciativa do Procurador-Geral de Justiça.

É inconstitucional lei estadual que prevê movimentação funcional entre membros do Ministério Público,
mediante procedimentos e critérios diversos dos estabelecidos pelo modelo federal.

STF, Plenário, ADI 6328/GO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 15/08/2022 – Informativo 1063

É inconstitucional a limitação de despesas da folha complementar do Ministério Público Estadual do Estado


do Ceará em percentual da despesa anual da folha normal de pagamento, sem a devida participação efetiva
do órgão financeiramente autônomo no ato de estipulação em conjunto dessa limitação na Lei de Diretrizes
Orçamentárias.

STF, Plenário, ADI 7073/DF, Rel. Min. André Mendonça, j. 23/09/2022 – Informativo 1069

Comentários:
É indispensável a efetiva participação do Ministério Público — órgão constitucionalmente
autônomo — no ciclo orçamentário, sob pena da respectiva norma incidir em inconstitucionalidade por
afronta à sistemática orçamentária e financeira prevista na Constituição Federal (art. 127, §§ 3º a 6º, e art.
168, caput). Inclusive, o STF já firmou entendimento no sentido de que a garantia atribuída ao Poder Judiciário,
de ser consultado no momento da elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias, aplica-se extensivamente
ao Ministério Público.
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Jurisprudência Bloco II
A prerrogativa atribuída aos membros do Ministério Público de situar-se no mesmo plano e imediatamente à
direita dos magistrados nas audiências e sessões de julgamento (Lei Complementar 75/1993, art. 18, I, “a”; e
Lei 8.625/1993, art. 41, XI) não fere os princípios da isonomia, do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório (CF/1988, art. 5º, I, LIV e LV) nem compromete a necessária paridade de armas que deve existir
entre a defesa e a acusação.

STF, Plenário, ADI 4768/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 23/11/2022 – Informativo 1077

Importante!

Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-maternidade
e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido — o que ocorrer por último —,
prorrogando-se ambos os benefícios por igual período ao da internação, visto que não podem ser reduzidos
de modo irrazoável e conflitante com o direito social de proteção à maternidade e à infância.

STF, Plenário, ADI 6327/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 21/10/2022 – Informativo 1073

Sobre o tema: O termo inicial da licença-maternidade e do respectivo salário-maternidade começa a partir da


alta hospitalar do recém-nascido e/ou de sua mãe, o que ocorrer por último, quando o período de internação
exceder as duas semanas previstas no art. 392, §2º, da CLT, e no art. 93, §3º, do Decreto n.º 3.048/99 –
princípio da proibição da proteção deficiente.
(STF, Plenário, ADI 6327 MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin, j. 03/04/2020 – Informativo 982)

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJ/PR, realizada em 2021.

É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos de só um dos entes
públicos integrantes de região metropolitana. Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a
percepção dos frutos da empreitada metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual
concessão à iniciativa privada, aproveitem a apenas um dos entes federados.

STF, Plenário, ADI 6573/AL, ADI 6911/AL e ADPF 863/AL, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/05/2022 – Informativo
1035

Importante!

É inconstitucional — por violação aos princípios da simetria e da autonomia dos entes federados — norma de
Constituição estadual que prevê hipótese de intervenção do estado no município fora das que são
taxativamente elencadas no artigo 35 da Constituição Federal.
22

A Constituição Federal esgota por completo o assunto, não deixando qualquer margem para que as
Constituições estaduais disciplinem a matéria, dada a característica taxativa do rol constitucional.
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
STF, Plenário, ADI 6619/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/10/2022 – Informativo 1073

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV).

Importante!

É inconstitucional norma de Constituição estadual que preveja quórum diverso de 3/5 dos membros do Poder
Legislativo (CF/88, art. 60, § 5º) para aprovação de emendas constitucionais.

As regras e parâmetros do processo legislativo federal, como é o caso do processo de reforma constitucional,
na forma disposta pela Constituição Federal, é de reprodução obrigatória nas Constituições estaduais, em
estrita observância ao princípio da simetria, ao qual a autonomia dos estados-membros se submete, a teor do
que prevê os arts. 25 da CF/88 e 11 do ADCT.

STF, Plenário, ADI 6453/RO, Rel. Min. Rosa Weber, j. 11/02/2022 – Informativo 1043

É inconstitucional, por violação ao princípio democrático, norma de Constituição estadual que, a pretexto de
disciplinar a dupla vacância no último biênio do mandato do chefe do Poder Executivo, suprime a realização
de eleições.

Muito embora o art. 81, § 1º, da CF/1988 não consubstancie norma de reprodução obrigatória, a autonomia
organizacional outorgada às unidades da Federação (art. 25, caput, da CF/1988 c/c o art. 11 do ADCT) não
afasta a indispensabilidade da realização de eleições, sejam diretas (regra), sejam indiretas (exceção), pois, no
Brasil, os mandatos políticos são exercidos por pessoas escolhidas pelo povo mediante votação.

STF, Plenário, ADI 7137/SP e ADI 7142/AC, Rel. Min. Rosa Weber, j. 19/08/2022 – Informativo 1064

É inconstitucional norma estadual que institui sanções processuais diversas da legislação federal para
litigantes que abusem do seu direito à prestação jurisdicional e um procedimento mais restritivo para requerer
o benefício da gratuidade de justiça. Isso porque compete à União legislar sobre direito processual (CF/88, art.
22, I) e já existe, no Código de Processo Civil, expressão legislativa exaustiva sobre a matéria. Além disso, as
custas e os emolumentos classificam-se como tributo da espécie taxa, cuja aplicação é direcionada ao sistema
de justiça e, por essa razão, não podem ter como fato gerador principal um ato ilícito.

É constitucional norma estadual que fixa custas processuais mais elevadas para causas consideradas de alto
valor ou alta complexidade.

STF, Plenário, ADI 7063/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j. 03/06/2022 – Informativo 1057
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
É constitucional — por não violar o princípio da legalidade — lei estadual que prevê que o Órgão Especial do
Tribunal de Justiça pode transformar, instalar juizado em substituição a adjunto e fixar a competência dos
juizados especiais.

STF, Plenário, ADI 4235/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j. 12/12/2022 – Informativo 1079

Norma estadual ou municipal não pode conferir a parlamentar, individualmente, o poder de requisitar
informações ao Poder Executivo.

STF, Plenário, ADI 4700/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/12/2021 – Informativo 1041

Não é possível a quebra de sigilo de dados informáticos estáticos (registros de geolocalização) nos casos em
que haja a possibilidade de violação da intimidade e vida privada de pessoas não diretamente relacionadas à
investigação criminal.

STJ, 5ª Turma, RMS 68.119/RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j. 15/03/2022, DJe 28/03/2022

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino e de telefonia celular
a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes.

STF, Plenário, ADI 5399/SP e ADI 6191/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, e ADI 6333 ED/PE, Rel. Min. Gilmar
Mendes, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 09/06/2022 – Informativo 1058

É inconstitucional norma de Constituição estadual que impõe condições locais para a construção de
instalações nucleares e de energia elétrica.

STF, Plenário, ADI 7076/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 24/06/2022 – Informativo 1060

No mesmo sentido: É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades
nucleares de qualquer natureza.

STF, Plenário, ADI 6858/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 01/07/2022 – Informativo 1061

É inconstitucional, por violação à competência privativa da União para legislar sobre direito civil (CF/88, art.
22, I), norma estadual que impede as instituições particulares de ensino superior de recusarem a matrícula de
estudantes inadimplentes e de cobrar juros, multas, correção monetária ou quaisquer outros encargos
durante o período de calamidade pública causado pela pandemia da COVID-19.
24

STF, Plenário, ADI 7104/RJ e ADI 7179/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, j. 05/08/2022 – Informativo 1062
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
É inconstitucional, por invadir a competência municipal para legislar sobre assuntos de interesse local (CF/88,
art. 30, I e V), lei estadual que concede, por período determinado, isenção das tarifas de água e esgoto e de
energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais.

Não cabe às leis estaduais a interferência em contratos de concessão de serviços federal e municipal,
alterando condições que impactam na equação econômico-financeira.

STF, Plenário, ADI 6912/MG, Min. Alexandre de Moraes, j. 15/08/2022 – Informativo 1063

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria e à competência privativa da União para legislar sobre
o tema (CF/88, art. 22, I), norma de Constituição estadual que amplia o rol de autoridades sujeitas à
fiscalização direta pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade.

STF, Plenário, ADI 6640/PE e ADI 6645/AM, Rel. Min. Edson Fachin, j. 19/08/2022 – Informativo 1064

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

É constitucional norma federal que prevê compensação financeira de caráter indenizatório a ser paga pela
União por incapacidade permanente para o trabalho ou morte de profissionais de saúde decorrentes do
atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19.

STF, Plenário, ADI 6970/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/08/2022 – Informativo 1065

É constitucional norma estadual que, a pretexto de proteger a saúde pública, obriga as prestadoras de serviços
de telefonia celular e de internet a inserirem, nas faturas de consumo, mensagem incentivadora à doação de
sangue.

STF, Plenário, ADI 6088/AM, Rel. Min. Edson Fachin, j. 26/08/2022 – Informativo 1065

É inconstitucional, por violar competência da União para legislar sobre materiais bélicos, norma estadual que
reconhece o risco da atividade e a efetiva necessidade do porte de arma de fogo ao atirador desportivo
integrante de entidades de desporto legalmente constituídas e ao vigilante de empresa de segurança privada.

STF, Plenário, ADI 7188/AC e ADI 7189/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 23/09/2022 – Informativo 1069

É inconstitucional, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações, lei
estadual que veda a aplicação de multa por quebrar de fidelidade nos serviços de TV por assinatura, telefonia,
internet e serviços assemelhados, enquanto perdurar a pandemia da Covid-19.

STF, Plenário, ADI 7211/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 30/09/2022 – Informativo 1070
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Jurisprudência Bloco II
É inconstitucional, por ofensa à competência privativa da União para legislar sobre direito civil e política de
seguros (CF/1988, art. 22, I e VII), lei estadual que veda, no âmbito de seu território, operadoras de plano de
saúde de limitarem consultas e sessões para o tratamento de pessoas com deficiência.

STF, Plenário, ADI 7172/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 17/10/2022 – Informativo 1072

Importante!

É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que obriga à substituição de sacos e sacolas plásticos
por sacos e sacolas biodegradáveis.

STF, Plenário, RE 732.686/SP (Tema 970 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/10/2022 – Informativo 1073

Comentários:
Os municípios — no limite de seu interesse local e desde que em harmonia com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados — possuem competência para legislar sobre meio ambiente, e,
caso sua regulamentação seja mais protetiva, pode ter prevalência sobre a legislação federal ou estadual.
A proteção ao meio ambiente é, concomitantemente, competência administrativa comum a todos os
entes federativos (CF/1988, art. 23, VI) e competência legislativa concorrente da União, dos estados e do
Distrito Federal (CF/1988, art. 24, VI). Além disso, quando o assunto é de interesse predominantemente local
e demanda ação urgente, o ente municipal pode legislar suplementarmente (CF/1988, art. 30, I e II),
estabelecendo normas específicas e, em sendo o caso, também normas gerais, sempre que necessário ao
exercício de competências materiais, comuns ou privativas.
Nesse contexto, a restrição da circulação de sacolas plásticas se amolda aos requisitos para a
competência supletiva dos municípios, dada a gravidade dos impactos ambientais e a maior facilidade em
reunir os agentes da cadeia produtiva do plástico.
Ademais, o órgão legislador municipal privilegiou o princípio da proteção ao meio ambiente
equilibrado (CF/1988, art. 225), em regulamentação da máxima fruição da liberdade jurídica dos particulares
e da livre exploração de atividades econômicas (CF/1988, art. 1º, IV, art. 5º, I, e art. 170). Portanto, a
característica restritiva da legislação impugnada se revela necessária, adequada e proporcional, de modo a
viabilizar o mesmo desenvolvimento da atividade econômica empresarial de uma forma mais protetiva ao
meio ambiente. Trata-se, também, de normatização que fortalece, no plano local, as diretrizes da Política
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010).

É inconstitucional norma de Constituição estadual, oriunda de iniciativa parlamentar, que atribui às funções
de polícia judiciária e à apuração de infrações penais exercidas pelo Delegado de Polícia natureza jurídica e
caráter essencial ao Estado.

STF, Plenário, ADI 5528/TO, Rel. Min. Nunes Marques, j. 21/11/2022 – Informativo 1076
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Jurisprudência Bloco II
Comentários:
Sob o aspecto formal, compete exclusivamente ao chefe do Poder Executivo (CF/1988, art. 61, § 1º, II,
b e c) a iniciativa de normas sobre a organização administrativa e os servidores públicos, seu regime jurídico e
provimento de cargos.
Já sob o aspecto material, o art. 144, § 6º, da Constituição Federal estabelece vínculo de subordinação
hierárquica da Polícia Civil ao governador de estado. Sendo assim, o desenho institucional inserido
constitucionalmente não legitima a governança independente da polícia judiciária, uma vez que cabem ao
chefe do Poder Executivo, dirigente máximo da Administração Pública, a prerrogativa e a responsabilidade
pela estruturação e pelo planejamento operacional dos órgãos locais de segurança pública, bem como a
definição de programas e ações governamentais prioritários a partir do quadro orçamentário do ente
federado.

É incompatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que estabelece a natureza jurídica
da Polícia Civil como função essencial à atividade jurisdicional do Estado e à defesa da ordem jurídica, bem
como atribui aos Delegados de Polícia a garantia de independência funcional.

STF, Plenário, ADI 5517/ES, Rel. Min. Nunes Marques, j. 21/11/2022 – Informativo 1076

É inconstitucional — por violar o princípio da separação dos Poderes (CF/1988, art. 2º), em decorrência da
usurpação da iniciativa exclusiva do Poder Executivo para legislar sobre a organização e a administração dos
órgãos da Administração Pública (CF/1988, art. 61, § 1º, II, “e”, e art. 84, VI, “a”) — lei de iniciativa parlamentar
que institui regra de reserva de vagas de estacionamento aos órgãos públicos estaduais.

STF, Plenário, ADI 6937/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 21/11/2022 – Informativo 1076

É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte
(CF/1988, art. 22, XI) e conferir tratamento diverso do previsto no Código de Trânsito Brasileiro (arts. 130, 270
e 271) — lei estadual que proíbe a apreensão e a remoção de motocicletas, motonetas e ciclomotores de até
150 cilindradas, por autoridade de trânsito, em razão da falta de pagamento do IPVA.

STF, Plenário, ADI 6997/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 25/11/2022 – Informativo 1077

Importante!

É inconstitucional — por tratar de matéria que diz respeito a norma de direito econômico e contrariar a
disciplina conferida a benefício já previsto no art. 23 da Lei federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) — lei
municipal que institui o acesso gratuito de idosos às salas de cinema da cidade, de segunda a sexta-feira.

STF, 2ª Turma, ARE 1.307.028 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/2022 – Informativo 1077

Comentários:
27

O STF, nas oportunidades em que analisou a constitucionalidade de leis estaduais que concediam o
direito à meia-entrada em estabelecimentos de diversão, esporte, cultura e lazer, assentou que
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a competência para legislar sobre direito econômico é concorrente entre a União, os estados-membros e o

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Jurisprudência Bloco II
Distrito Federal, e que, inexistindo legislação federal a dispor sobre o tema, o ente federado pode se utilizar
de sua competência plena (CF/88, art. 24, I; precedentes: ADI 1950, ADI 3512 e ADI 2163).
Por sua vez, o poder legislativo municipal possui competência para suplementar a legislação federal e
estadual no que couber (CF/1988, art. 30, II). Contudo, é necessário que haja algum elemento de localidade
afeto à disciplina legislativa, o que não se vê no caso analisado.
Nesse contexto, vislumbra-se que o legislador municipal, ao editar a Lei 2.068/2019, dispôs sobre
matéria já prevista na Lei federal 10.741/2003, em seu art. 23, não de forma a complementá-la, mas de
substituí-la.
Com base nesse entendimento, a 2ª Turma do STF, por maioria, deu provimento ao agravo regimental
para determinar a reforma da decisão agravada e a manutenção do acórdão proferido pelo TJ/SP, objeto do
recurso extraordinário, que havia declarado a inconstitucionalidade da Lei 2.068/2019 do Município de
Cotia/SP.

É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a comemoração do Dia da Consciência
Negra, a ser celebrado em 20 de novembro, em especial porque a data representa um símbolo de resistência
cultural e configura ação afirmativa contra o preconceito racial.

STF, Plenário, ADPF 634/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 30/11/2022- Informativo 1078

Não viola o texto constitucional a imposição legal de restrições à publicidade de produtos fumígenos e de
inserção de advertências sanitárias em suas embalagens quando se revelarem adequadas, necessárias e
proporcionais para alcançar a finalidade de reduzir o fumo e o consumo do tabaco, hábitos que constituem
perigo à saúde pública.

STF, Plenário, ADI 3311/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 13/09/2022 – Informativo 1068

A demora da Administração para apreciar o pedido de autorização para funcionamento de rádio comunitária
não legitima o Poder Judiciário a conceder, ainda que em caráter precário, o direito de continuidade das
atividades.

STJ, 1ª Seção, EDv nos EREsp 1.797.663/CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 10/08/2022 – Informativo 748

Comentários:
O art. 223 da CF/88, expressamente define como competência do Poder Executivo, com posterior
referendo do Poder Legislativo, outorgar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão
sonora e de imagens. Não há espaço, portanto, para o Judiciário interferir em tal questão, sob pena de ofensa
ao princípio da separação dos Poderes.
Nessa perspectiva, não se revela adequada a adoção do entendimento segundo o qual poderia o Poder
Judiciário, no caso sob exame, suprir a omissão imputada aos demais Poderes, mormente considerando-se
que a hipótese não versa acerca de uma eventual inércia daqueles em intervir e agir em prol da concretização
de algum direito fundamental.
28

De fato, a espécie vertente aproxima-se mais de uma intervenção do Poder Judiciário em matéria
relacionada, em última análise, a um juízo de valor a ser proferido pelo Poder Executivo (embora sujeito a
Página

referendo pelo Congresso Nacional) sobre a oportunidade e conveniência na outorga da permissão pleiteada.

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Jurisprudência Bloco II
Nessa linha de ideias, concluiu a 1ª Seção do STJ que a demora da Administração para apreciar o
pedido de autorização para funcionamento de rádio comunitária não legitima ao Poder Judiciário conceder o
direito de continuidade das atividades. Permite-se apenas a fixação de um prazo para a conclusão do
procedimento, caso haja pedido expresso nesse sentido na inicial.

São inconstitucionais — por violarem os princípios da separação de Poderes, da legalidade orçamentária, da


eficiência administrativa e da continuidade dos serviços públicos — decisões judiciais que determinam a
penhora ou o bloqueio de receitas públicas destinadas à execução de contratos de gestão para o pagamento
de despesas estranhas aos seus objetos.

STF, Plenário, ADPF 1012/PA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 12/12/2022 – Informativo 1079

Comentários:
No caso em questão, verificou-se que as verbas atribuídas ao cumprimento de contratos de gestão
eram receitas públicas da saúde com destinação orçamentária definida pelos entes responsáveis, sendo,
entretanto, vedado ao Poder Judiciário alterar a sua aplicação (CF/88, art. 167, VI e X, e art. 175, parágrafo
único), conforme se observa da jurisprudência consolidada do próprio Supremo (ADPF 275, ADPF 556, ADPF
620 e ADPF 664).

É constitucional norma estadual decorrente de emenda parlamentar a projeto de lei de iniciativa do Tribunal
de Contas estadual que veicule regras sobre prescrição e decadência a ele aplicáveis.

Não obstante a ausência de disciplina expressa no ordenamento jurídico sobre prescrição e decadência no
âmbito do TCU, a criação desses institutos pelos Tribunais de Contas nas diversas unidades federativas alinha-
se com a interpretação mais consentânea com a CF/1988, notadamente o caráter excepcional das regras de
imprescritibilidade.

STF, Plenário, ADI 5384/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/05/2022 – Informativo 1056

Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU) fiscalizar a aplicação, por parte dos demais entes da Federação,
de verbas federais, transferidas pela União, para complementar o Fundo de Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF)/Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

STF, Plenário, ADI 5791/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandwski, j. 02/09/2022 – Informativo 1066

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que amplia as competências de Assembleia Legislativa para
julgamento de contas de gestores públicos, sem observar a simetria com a Constituição Federal, por violação
aos arts. 71, II, e 75 da CF/1988.

STF, Plenário, ADI 6981/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 12/12/2022 – Informativo 1079
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Jurisprudência Bloco II
Comentários:
É inconstitucional — por contrariar o princípio da simetria e o que disposto no art. 71, II, da CF/1988
— norma de Constituição estadual que atribui à Assembleia Legislativa competência exclusiva para tomar e
julgar as contas prestadas pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
O art. 75 da CF/1988 determina expressamente que o modelo federal de controle orçamentário e
financeiro se aplica aos Tribunais de Contas dos estados, vinculando, assim, o constituinte estadual.
Em âmbito federal, apenas as contas da Presidência da República são julgadas pelo Congresso Nacional
(CF/88, art. 49, IX). Nas demais hipóteses, inclusive quanto aos Poderes Legislativo e Judiciário, a competência
é do Tribunal de Contas da União.
Desse modo, em atenção ao postulado da simetria, compete à Assembleia Legislativa estadual, tão
somente, o julgamento das contas do governador e a apreciação dos relatórios sobre a execução dos planos
de governo. Caso contrário, haveria restrição indevida da competência do Tribunal de Contas local.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente a ação para declarar
a inconstitucionalidade das expressões “pela Mesa da Assembleia Legislativa” e “e pelo Presidente do Tribunal
de Justiça, respectivamente, do Poder Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário”, constantes do
art. 20, VI, da Constituição do Estado de São Paulo.

Importante!

O poder de veto previsto no art. 66, § 1º, da Constituição não pode ser exercido após o decurso do prazo
constitucional de 15 (quinze) dias.

STF, Plenário, ADPF 893/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 20/06/2022 –
Informativo 1059

Comentários:
No caso, apenas no dia imediatamente seguinte à expiração do prazo, a Presidência da República
providenciou a publicação de edição extra do Diário Oficial da União para a divulgação de novo texto legal
com a aposição adicional de veto a dispositivo que havia sido sancionado anteriormente.
Esse tipo de procedimento não se coaduna com a Constituição Federal, de modo que, ultrapassado o
período do art. 66, § 1º, da CF/88, o texto do projeto de lei é, necessariamente, sancionado (art. 66, § 3º) e o
poder de veto não pode mais ser exercido. Portanto, a manutenção de veto extemporâneo na forma do art.
66, § 4º, da CF/1988 não retira a sua inconstitucionalidade, pois o ato apreciado pelo Congresso Nacional
sequer poderia ter sido praticado. Nessa hipótese, caso o Legislativo deseje encerrar a vigência de dispositivo
legal por ele aprovado, deve retirá-lo da ordem jurídica por meio da sua revogação.

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia
funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação
de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição
Federal.
30

A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do
Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo
Página

único) não pode ser estendida aos procuradores de estado.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


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Jurisprudência Bloco II
Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não
podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado –
sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos
membros daquelas outras instituições.

STF, Plenário, ADI 5029, Rel. Luiz Fux, j. 15/04/2020

A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da


advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (art. 132 da CF/88). A parcialidade
é inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da
Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da
CF/88).

STF, Plenário, ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, j. 11/04/2019

A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa à determinação
constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88).

STF, Plenário, ADI 6053, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 22/06/2020 –
Informativo 985/2020

Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade
administrativa), não é necessária autorização do Governador do Estado. No entanto, é indispensável a
anuência do Procurador-Geral do Estado.

STF, 1ª Turma, ARE 1165456 AgR/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 01/09/2020 –
Informativo 989/2020

Muito importante!

A instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito depende unicamente do preenchimento dos requisitos


previstos no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, ou seja: (a) o requerimento de um terço dos membros das
casas legislativas; (b) a indicação de fato determinado a ser apurado; e (c) a definição de prazo certo para sua
duração.

STF, Plenário, MS 37.760/DF, rel. min. Roberto Barroso, j. 14/04/2021 – Informativo 1013/2021

Comentários:
A instalação de uma CPI não se submete a um juízo discricionário seja do presidente da casa legislativa,
seja do plenário da própria casa legislativa. Não pode o órgão diretivo ou a maioria parlamentar se opor a tal
requerimento por questões de conveniência ou de oportunidade políticas. Dessa forma, atendidas as
31

exigências constitucionais, impõe-se a criação da CPI.


Página

Nesses termos, a criação de comissões parlamentares de inquérito configura prerrogativa político-


jurídica das minorias parlamentares, a quem a Constituição assegura os instrumentos necessários ao exercício

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do direito de oposição e à fiscalização dos poderes constituídos, como decorrência da cláusula do Estado
Democrático de Direito.
Dessa forma, a instauração do inquérito parlamentar depende, unicamente, do preenchimento dos
três requisitos previstos no art. 58, § 3º da CF/88, são eles: (i) o requerimento de 1/3 dos membros das casas
legislativas, (ii) a indicação de fato determinado a ser apurado, e (iii) a definição de prazo certo para sua
duração. Logo, atendidas as exigências constitucionais, impõe-se a criação da CPI, cuja instalação não pode
ser obstada pela vontade da maioria parlamentar ou dos órgãos diretivos das casas legislativas.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF, por maioria, ratificou decisão que deferiu medida
liminar em mandado de segurança, determinando ao Presidente do Senado Federal a adoção de providências
necessárias à criação e instalação de comissão parlamentar de inquérito. Entendeu, ainda, que o
procedimento a ser seguido pela CPI deverá ser definido pelo próprio Senado, de acordo com as regras que
vem adotando para funcionamento dos trabalhos durante a pandemia, não cabendo ao Senado definir “se”
vai instalar a CPI ou “quando” a comissão vai funcionar, mas sim “como” irá proceder, por exemplo, se por
videoconferência, de modo presencial, semipresencial ou fazendo uma combinação de todas essas
possibilidades.

Importante!

Em juízo de delibação, não é possível a convocação de governadores de estados-membros da Federação por


Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pelo Senado Federal.

STF, Plenário, ADPF 848 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 25/06/2021 – Informativo 1023/2021

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV) e na prova para Juiz do TJPE,
aplicada em 2022, também banca FGV.
O julgado é super importante e vem caindo em diversas provas, como, por exemplo, na última prova
para Juiz do TJ/MA (a banca era a CESPE, mas perceba, com isso, a importância do tema).

Comentários:
A prerrogativa das CPIs de ouvir testemunhas não confere aos órgãos de investigação parlamentar o
poder de convocar quaisquer pessoas a depor, sob quaisquer circunstâncias, pois existem limitações à
obrigação de testemunhar. Entre elas, encontra-se a isenção constitucional do Presidente da República à
obrigatoriedade de testemunhar perante comissões parlamentares, extensível aos governadores por
aplicação do princípio da simetria.
É injustificável a situação de submissão institucional. Ante a ausência de norma constitucional
autorizadora, o Congresso Nacional ou suas comissões parlamentares não podem impor aos chefes do Poder
Executivo estadual o dever de prestar esclarecimentos e oferecer explicações, mediante convocação de
natureza compulsória, com possível transgressão à autonomia assegurada constitucionalmente aos entes
políticos estaduais e desrespeito ao equilíbrio e harmonia que devem reger as relações federativas.
Com base nesse raciocínio, o Plenário do Supremo referendou decisão que havia deferido pedido de
medida cautelar na ADPF sob julgamento, suspendendo as convocações de governadores realizadas pela CPI
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da Pandemia, sem prejuízo da possibilidade de o órgão parlamentar convidar essas autoridades estatais para
Página

comparecerem, voluntariamente, a reunião da comissão a ser agendada de comum acordo.

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É incompatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que disponha sobre nova hipótese
de foro por prerrogativa de função, em especial relativo a ações destinadas a processar e julgar atos de
improbidade administrativa.

STF, Plenário, ADI 4870, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 14/12/2020 - Informativo 1002/2020

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com crime eleitoral, ainda que
haja o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do delito eleitoral.

STF, 2ª Turma, RHC 177.243/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 29/06/2021 – Informativo 1024/2021

No mesmo sentido:

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem
conexos.

STJ, 5ª Turma, HC 612.636/RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas,
j. 05/10/2021 – Informativo 713/2021

Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, não relacionados com o cargo,
em tese praticados por Promotores de Justiça.

STJ, 3ª Seção, CC 177.100/CE, Rel. Min. Joel Ilan Parcionik, j. 08/09/2021, DJe 10/09/2021 – Informativo
708/2021

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES e também caiu na prova para Juiz do TJMG,
aplicada em 2022.

É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos
estádios.

STF, Plenário, ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/03/2020

É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de revalidação de diploma obtido em instituições de
ensino superior de outros países para a concessão de benefícios e progressões a servidores públicos. Essa lei
invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22,
XXIV, CF/88).

STF, Plenário, ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, j. 27/03/2020


33

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que os serviços públicos de saneamento e
Página

de abastecimento de água serão prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por sociedade de
economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público Estadual ou Municipal. Compete

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aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico. Assim, a eles cabe escolher a
forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por delegação à iniciativa privada mediante prévia
licitação. Isso é garantido pelo art. 30, I e IV, da CF/88. Além disso, essa previsão da Constituição Estadual
também viola o art. 175 da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação de
serviços públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão mediante prévia licitação.

STF, Plenário, ADI 4454, Rel. Cármen Lúcia, j. 05/08/2020 – Informativo 988

Muito importante!

Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, da CF),
de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material com
referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais.

STF, Plenário ADPF 457, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/04/2020 – Informativo 980/2020

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJPR, aplicada em 2021.

Muito importante!

A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração.

STF, Plenário, ADPF 492/RJ e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 30/09/2020 – Informativo 993/2020

Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador e a consequente pensão
em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988.

STF, Plenário, RE 638.307/MS (RG Tema 672), Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/12/2019 – Informativo 964/2020

É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa
disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados na
modalidade de planos “pré-pagos”. Trata-se de norma sobre direito do consumidor que admite
regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição Federal.

STF, Plenário, ADI 5724/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/11/2020 –
Informativo 1000/2020

É formalmente inconstitucional lei estadual que concede descontos aos idosos para aquisição de
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medicamentos em farmácias localizadas no respectivo estado.


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STF, Plenário, ADI 2435, rel. Min. Carmen Lúcia, rel. p/ acd. Min. Gilmar Mendes, j. 18/12/2020 – Informativo
1003/2021

São constitucionais as normas estaduais, editadas em razão da pandemia causada pelo novo coronavírus,
pelas quais veiculados a proibição de suspensão do fornecimento do serviço de energia elétrica, o modo de
cobrança, a forma de pagamentos dos débitos e a exigibilidade de multa e juros moratórios.

STF, Plenário, ADI 6432/RR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 07/04/2021 – Informativo 1012/2021

É constitucional a proibição – por lei estadual – de que instituições financeiras, correspondentes bancários e
sociedades de arrendamento mercantil façam telemarketing, oferta comercial, proposta, publicidade ou
qualquer tipo de atividade tendente a convencer aposentados e pensionistas a celebrarem contratos de
empréstimo.

STF, Plenário, ADI 6727/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 11/05/2021 – Informativo 1016/2021

Comentários:
Referida lei estadual é constitucional porque versa sobre proteção do consumidor e do idoso, matéria
de competência legislativa concorrente, portanto não invade a competência privativa da União para legislar
sobre direito civil, política de crédito ou propaganda comercial. Além disso, as disposições da lei estadual em
análise observam o princípio da proporcionalidade, pois não interferem na liberdade econômica das partes,
nem subtrai do consumidor a possibilidade de solicitar a contratação.

Não invade a competência da União para o estabelecimento de normas gerais sobre consumo e desporto a
autorização e regulamentação, por estado-membro, da venda e do consumo de bebidas alcoólicas em eventos
esportivos.

STF, Plenário, ADI 5112/BA, Rel. Min. Edson Fachin. j. 16/08/2021 – Informativo 1025/2021

É inconstitucional norma de constituição estadual que disponha sobre o depósito de lixo atômico e a
instalação de usinas nucleares, tendo em vista que a Constituição Federal, ao sistematizar a repartição de
competências estatais, atribuiu à União, em caráter privativo, a prerrogativa para legislar sobre atividades
nucleares de qualquer natureza (art. 22, XXVI).

STF, Plenário, ADI 6895/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 14/09/2021 – Informativo 1029/2021

É inconstitucional lei estadual que verse sobre a responsabilidade de terceiros por infrações de forma diversa
das regras gerais estabelecidas pelo Código Tributário Nacional.

STF, Plenário, ADI 6284/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 14/09/2021 – Informativo 1029/2021
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Comentário:
Página

É formalmente inconstitucional norma estadual que atribui ao contabilista a responsabilidade


solidária, quanto ao pagamento de impostos e de penalidades pecuniárias, no caso de suas ações ou omissões

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concorrerem para a prática de infração à legislação tributária. Isso porque lei estadual, que amplie as hipóteses
de responsabilidade de terceiros por infrações, invade a competência do legislador complementar federal
para estabelecer normas gerais em matéria tributária, conforme disposto no art. 146, III, “b”, da CF/88.
É inconstitucional a legislação estadual que, flexibilizando exigência legal para o desenvolvimento de atividade
potencialmente poluidora, cria modalidade mais simplificada de licenciamento ambiental.

STF, Plenário, ADI 6672/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/09/2021 – Informativo 1029/2021

Importante!

Municípios podem instituir a prestação de assistência jurídica à população de baixa renda.

STF, Plenário, ADPF 279/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 03/11/2021 – Informativo 1036/2021

Comentários:
Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, o que é decorrência
do poder de autogoverno e da autoadministração. Assim, cabe à administração municipal estar atenta às
necessidades da população, organizando e prestando serviços públicos de interesse local (CF/88, art. 30, I, II
e V).
Com efeito, a prestação desse serviço público em questão, para auxílio à população economicamente
vulnerável, não visa substituir a atividade prestada pela Defensoria Pública, mas apenas atua de forma
simultânea. Trata-se, pois, de mais um espaço para garantia de acesso à jurisdição.
Além disso, a competência material para o combate às causas e ao controle das condições dos
vulneráveis em razão da pobreza e para a assistência aos desfavorecidos é comum a todos os entes federados,
conforme art. 23, X, da CF/88.

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde
que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B, § 4º, V,
da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o
procedimento.

STF, 2ª Turma, MS 30.364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 17/03/2020 – Informativo 970/2020

Muito importante!

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar,
originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício
de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.

STF, Plenário, Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/11/2020 – Informativo 1000/2020
STF, Plenário, Rcl 33459 AgR/PE, Rel. Acd. Min. Gilmar Mendes, j. 18/11/2020 – Informativo 1000
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STF, Plenário, ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/11/2020 – Informativo 1000/2020
Página

#FGVAMA

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Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJMS, mas vem despencando nas demais
provas de concurso, independente da banca. Caiu, também, por exemplo, na prova para Juiz do TJMA, banca
CESPE, aplicada em 2022.

Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a interposição
de recursos em ação direta de inconstitucionalidade.

STF, 2ª Turma, RE 1.126.828 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Cármen Lúcia, j. 04/02/2020 –
Informativo 965/2020

O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para
pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem
legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar.

STF, Plenário, ADPF 347 TPI-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/3/2020
– Informativo 970/2020

Exige-se quórum de maioria absoluta dos membros do STF para modular os efeitos de decisão proferida em
julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral, no caso em que não tenha havido
declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.

Atenção!
- Se o STF houver declarado inconstitucionalidade, o quórum para modulação dos efeitos da decisão será de
2/3 dos membros.
- Se o STF não houver reconhecido inconstitucionalidade, o quórum para modulação dos efeitos da decisão
será de maioria absoluta.

STF, Plenário, ADI 638.115/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/12/2019 – Informativo 964/2020

O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos
dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação: (a) dispense a
requisição de novas informações e manifestações; e (b) não prejudique o cerne da ação.

STF, Plenário, ADI 1926, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 20/04/2020 – Informativo 980/2020

Comentários:
Por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de
novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso
exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como
novas manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os
princípios da economia e da celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto
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da ação direta, na medida em que ampliaria o seu escopo.


Página

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Jurisprudência Bloco II
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em ação
direta.

STF, Plenário, ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 6/8/2020 - Informativo 985/2020

Apenas as entidades de classe com associados ou membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação
dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação de controle abstrato de constitucionalidade.

STF, Plenário, ADI 3287, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Ricardo Lewandowski, j. 05/08/2020 -
Informativo 988/2020

Comentários:
De acordo com o Plenário do STF, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato constitutivo
que possui caráter nacional, sendo necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9 (nove)
Estados da Federação – o que representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo
construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da
Lei n. 9.096/95).

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado, exceto
se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação.

STF, Plenário, ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 02/09/2020 – Informativo 989/2020

A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa para
ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade.

STF, Plenário, ADI 6465, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 19/10/2020 – Informativo 995/2020

Comentários:
O art. 103 da CF/88 estabelece o rol de legitimados para propositura de ações de controle concentrado
de constitucionalidade, dentre os quais estão as confederações sindicais e entidades de classe, conforme
inciso IX do dispositivo. Com efeito, o STF consolidou entendimento de que a legitimidade para as ações de
controle concentrado de constitucionalidade por parte de confederações sindicais e entidades de classe
pressupõe: (a) a caracterização como entidade de classe ou sindical, decorrente da representação de categoria
empresarial ou profissional; (b) a abrangência ampla desse vínculo de representação, exigindo-se que a
entidade represente toda a respectiva categoria, e não apenas fração dela; (c) o caráter nacional da
representatividade, aferida pela demonstração da presença da entidade em pelo menos 9 estados brasileiros;
e (d) a pertinência temática entre as finalidades institucionais da entidade e o objeto da impugnação.

Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador


quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte
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derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a
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democracia representativa.

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STF, Plenário, ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10/11/2020 – Informativo
998/2020

É inconstitucional a legislação estadual que estabelece a redução obrigatória das mensalidades da rede
privada de ensino durante a vigência das medidas restritivas para o enfrentamento da emergência de saúde
pública decorrente do novo Coronavírus.

STF, Plenário, ADI 6575, rel. Min. Edson Fachin, rel. p/ acd. Min. Alexandre de Morais, j. 18/12/2020 –
Informativo 1003/2021

Governador de estado afastado cautelarmente de suas funções – por força do recebimento de denúncia por
crime comum – não tem legitimidade ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade.

STF, Plenário, ADI 6728/DF, rel. min. Edson Fachin, j. 30/04/2021 – Informativo 1015/2021

MUITO IMPORTANTE!

Não cabe ao Tribunal de Contas, que não tem função jurisdicional, exercer o controle de constitucionalidade
de leis ou atos normativos nos processos sob sua análise. O Tribunal de Contas é órgão técnico de fiscalização
contábil, financeira e orçamentária, que tem suas competências delimitadas pelo art. 71 da CF/88. Compete
ao Tribunal de Contas exercer na plenitude todas as suas competências administrativas, sem obviamente
poder usurpar o exercício da função de outros órgãos, inclusive a função jurisdicional de controle de
constitucionalidade. Esse mesmo raciocínio se aplica para outros órgãos administrativos, como o Banco
Central, o CADE, as Agências Reguladoras, o CNJ, o CNMP, o CARF. Todos eles também estão impedidos de
realizar controle de constitucionalidade.

Com esse entendimento, fica superada a Súmula 347 do STF.

STF, Plenário, MS 35.410, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 12/04/2021

Não se admite controle concentrado de constitucionalidade de leis ou atos normativos municipais em face da
lei orgânica respectiva.

STF, Plenário, ADI 5548/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 16/08/2021 – Informativo 1025/2021

Comentários:
O § 2º do art. 125 da CF/88 dispõe que “Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual,
vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão”. Com efeito, para o STF, não é possível extrair,
da referida norma, o cabimento de controle concentrado de constitucionalidade de leis ou atos normativos
municipais contra a lei orgânica respectiva.
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Outrossim, não compete ao Poder Legislativo, de qualquer das esferas federativas, suspender a
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eficácia de lei ou ato normativo declarado inconstitucional em controle concentrado de constitucionalidade,


já que as decisões tomadas em controle concentrado já são dotadas de eficácia erga omnes. Desse modo, a

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atuação do Poder Legislativo apenas se justifica no âmbito do controle difuso – de modo a expandir a todos
os efeitos de decisão dotada originalmente de eficácia entre as partes.

É constitucional o dispositivo de constituição estadual que confere ao tribunal de justiça local a prerrogativa
de processar e julgar ação direta de constitucionalidade contra leis e atos normativos municipais tendo como
parâmetro a Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados.

STF, Plenário, ADI 5647/AP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 03/11/2021 – Informativo 1036/2021

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJPR, aplicada em 2021, e também na
prova para Juiz do TJES, que acabou de acontecer, no final de agosto deste ano de 2023.

É inconstitucional a exigência de inscrição do Defensor Público nos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil.

STF, Plenário RE 1.240.999/SP (Tema 1074 RG), Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 03/11/2021 – Informativo
1036/2021

Muito importante!

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância
sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória
determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com
base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e
de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.

STF, Plenário, ARE 1.267.879, rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/12/2020 (tema 1103 – repercussão geral) –
Informativo 1003/2021

A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras,
a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em
lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii)
venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicação dos imunizantes,
(iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas, (iv) atendam aos critérios de
razoabilidade e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente. Tais medidas,
com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos estados, Distrito
Federal e municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência.

STF, Plenário, ADI 6586 e 6587, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 17/12/2020 – Informativo 1003/2021
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MUITO IMPORTANTE!

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Jurisprudência Bloco II
Cabe ao Estado fornecer, em termos excepcionais, medicamento que, embora não possua registro na ANVISA,
tem a sua importação autorizada pela agência de vigilância sanitária, desde que comprovada a incapacidade
econômica do paciente, a imprescindibilidade clínica do tratamento, e a impossibilidade de substituição por
outro similar constante das listas oficiais de dispensação de medicamentos e os protocolos de intervenção
terapêutica do SUS.

STF, Plenário, RE 1.165.959/SP (Tema 1161), Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ acd. Min. Alexandre de Moraes,
j. 18/06/2021 – Informativo 1022/2021

ATENÇÃO!
O STF, ao julgar o Tema 500, fixou alguns critérios para que seja possível o fornecimento, pelo Poder
Judiciário, de medicamentos não registrados pela ANVISA:
1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral,
o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos:
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior;
e
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
STF, Plenário, RE 657.718/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 22/05/2019
(repercussão geral) (Info 941).

Portanto, em regra, é proibido o fornecimento de medicamento não registrado pela ANVISA. Neste
Tema 1161, contudo, o STF fixou mais uma exceção a essa regra.

O Estado, observado o binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) / Consagração da Liberdade Religiosa (art. 5º,
VI) e o princípio da igualdade (art. 5º, caput), deverá atuar na regulamentação do cumprimento do preceito
constitucional previsto no art. 210, § 1º, da CF/88, autorizando na rede pública, em igualdade de condições, o
oferecimento de ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos formais e objetivos
previamente fixados pelo Ministério da Educação.

Dessa maneira, será permitido aos alunos que voluntariamente se matricularem o pleno exercício de seu
direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, ministrada de acordo com os princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma,
devidamente credenciados e, preferencialmente, sem qualquer ônus para o Poder Público.
41

STF, Plenário, ADI 4439/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/09/2017 –
Página

Informativo 879

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II

É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor, gerente
ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos
discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do
devido processo legal.

STF, Plenário, ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, j. 22/06/2020 – Informativo 987/2020

É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a
exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88).

STF, Plenário, RE 659424/RS (RG Tema 457), Rel. Min. Celso de Mello, j. 9/10/2020 - Informativo 994/2020

A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas
que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de proporcionar a
identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado.

STJ, 3ª Seção, RMS 61.302/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 26/08/2020 – Informativo 678/2020

É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do
Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.

STF, Plenário, ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 27/03/2020

Comentários:
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e
o art. 19, III, da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que
a inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas,
mas sim em razão de a lei ter restringido as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos
estudantes de outros Estados da Federação.

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque seu
conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma
sociedade democrática e pluralista como a brasileira.

STF, 2ª Turma, Rcl 38.782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/11/2020 – Informativo 998/2020

A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos


estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia.
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A determinação de que o Estado forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da pessoa
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humana, naquilo que concerne à integridade física e mental a todos garantida. O Estado tem a obrigação
inafastável e imprescritível de tratar prisioneiros como pessoas, e não como animais. O encarceramento

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
configura pena de restrição do direito de liberdade, e não salvo-conduto para a aplicação de sanções
extralegais e extrajudiciais, diretas ou indiretas. Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-
se os deveres estatais de proteção da saúde pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do
ambiente, em razão do risco agravado de enfermidades, consequência da natureza fechada dos
estabelecimentos, propícia à disseminação de patologias.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.537.530/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 27/04/2017 – Informativo 666/2020

É impenhorável a pequena propriedade rural familiar constituída de mais de 1 terreno, desde que contínuos
e com área total inferior a 4 módulos fiscais do município da localização.

STF, Plenário, ARE 1.038.507, rel. Min. Edson Fachin, j. 18/12/2020 (tema 961 – repercussão geral) –
Informativo 1003/2021

É possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em caso de nova
legislatura.

STF, Plenário, ADI 6524, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2020 – Informativo 1003

Importante!

É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder
de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e
publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício
da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros
constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da
personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.

STF, Plenário, RE 1.010.606/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/02/2021 – Informativo 1005 (Tema 786 RG)

Importante!

O patamar mínimo diferenciado de remuneração aos presos previsto no art. 29, caput, da Lei n. 7.210/1984
(Lei de Execução Penal – LEP) não representa violação aos princípios da dignidade humana e da isonomia,
sendo inaplicável à hipótese a garantia de salário-mínimo prevista no art. 7º, IV da Constituição Federal.

STF, Plenário, ADPF 336, rel. min. Luiz Fux, j. 27/02/2021 – Informativo 1007/2021

É inadmissível a expulsão de estrangeiro que possua filho brasileiro, dependente socioafetivo ou econômico,
mesmo que o crime ensejador da expulsão tenha ocorrido em momento anterior ao reconhecimento ou
adoção do filho.
43
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STF, 1ª Turma, RHC 123.891, rel. min. Rosa Weber, j. 23/02/2021 – Informativo 1007/2021

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Jurisprudência Bloco II
A imposição legal de manutenção de exemplares de Bíblias em escolas e bibliotecas públicas estaduais
configura contrariedade à laicidade estatal e à liberdade religiosa consagrada pela Constituição da República
de 1988.

STF, Plenário, ADI 5258/AM, rel. min, Cármen Lúcia, j. 12/04/2021 – Informativo 1012

É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro que demonstre sua
condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência. Não se mostra condizente com a
Constituição Federal a exigência de taxas em face de sujeito passivo evidentemente hipossuficiente.

STF, Plenário, RE 1.018.911/RR (Tema 988 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/11/2021 – Informativo 1037/2021

Atentar contra a democracia e o Estado de Direito não configura exercício da função parlamentar a invocar a
imunidade constitucional prevista no art. 53, caput, da Constituição Federal.

STF, Plenário, Inq 4781, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 17/02/2021 – Informativo 1006/2021

O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em que proferiu as declarações não afasta a
possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, porque ele depois divulgou essas ofensas na Internet.

STF, 1ª Turma, Pet 7174/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio, j. 10/03/2020 –
Informativo 969/2020

Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a
competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos
arts. 34 e 36 da CF/88.

STF, Plenário, ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 27/03/2020

A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que
não frustre outra reunião no mesmo local.

STF, Plenário, RE 806.339, rel. Min. Marco Aurélio, rel. p/ acd. Min. Edson Fachin. J. 14/12/2020 (tema 855 –
repercussão geral) – Informativo 1003/2021

São inconstitucionais normas regimentais de tribunal local que, no processo de progressão na carreira da
magistratura, complementam a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN) com critérios de desempate
estranhos à função jurisdicional.
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STF, Plenário, ADI 6766/RO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 20/08/2021 – Informativo 1026/2021
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Jurisprudência Bloco II
Muito importante!

Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça a
competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ.

STF, Plenário, ADI 5505, Rel. Min. Luiz Fux, j. 15/04/2020

Comentários:
De acordo com o Plenário do STF, não há inconstitucionalidade formal na referida previsão. Isso
porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não pormenoriza a
atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por expressa
dicção do caput de seu art. 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de
forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais atribuições.
Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional dos membros do
Parquet, uma vez que: (i) se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual,
veiculada por meio de lei; e (ii) não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de
Justiça, que conservam plena autonomia no exercício de seus misteres legais.

É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam
advocacia.

STF, Plenário, ADI 5454, Rel. Alexandre de Moraes, j. 15/04/2020 – Informativo 978/2020

A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca de
concurso público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição
compatível com as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir
a participação do Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado.

STF, Plenário, ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, j. 16/06/2020 – Informativo 985/2020

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais.

STF, Plenário, ACO 843/SP, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 05/06/2020
STF, Plenário, Pet 4891, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 16/06/2020 –
Informativo 985/2020

Importante!

É constitucional a previsão contida na Resolução nº 40/2009, do CNMP, no sentido de que os cursos de pós-
graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de atividade jurídica
45

para fins de concurso público no âmbito do Ministério Público. Se o bacharel em Direito concluir uma
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especialização, mestrado ou doutorado, ele terá adquirido um conhecimento que extrapola os limites
curriculares da graduação em Direito. Em sua atividade regulamentadora, o Conselho Nacional do Ministério

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Público está, portanto, autorizado a densificar o comando constitucional de exigência de “atividade jurídica”
com cursos de pós-graduação.

STF, Plenário, ADI 4219, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. Acd. Min. Edson Fachin, j. 05/08/2020 – Informativo
993/2020

É constitucional dispositivo de lei estadual que prevê a autonomia financeira do Ministério Público.

É inconstitucional dispositivo de lei estadual que institui gratificação aos membros do MP pela prestação de
serviço à Justiça Eleitoral a ser paga pelo Poder Judiciário.

STF, Plenário, ADI 2381/RJ, rel. min. Marco Aurélio, rel. p/ acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 30/04/2021 –
Informativo 1015

É inconstitucional a cobrança de tarifa bancária pela disponibilização de limite para “cheque especial”.

STF, Plenário, ADI 6407/DF, rel. min. Gilmar Mendes, j. 30/04/2021 – Informativo 1015/2021

Importante!

São constitucionais a cota de tela, consistente na obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais nos cinemas
brasileiros, e as sanções administrativas decorrentes de sua inobservância.

STF, Plenário, RE 627.432/RS, rel. min. Dias Toffoli, j. 18/03/2021 (Tema 704 RG) – Informativo 1010/2021

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJ/PR, realizada em 2021.

Comentários:
A denominada “cota de tela” promove intervenção voltada a viabilizar a efetivação do direito à cultura,
sem, por outro lado, atingir o núcleo dos direitos à livre iniciativa, à livre concorrência e à propriedade privada,
apenas adequando as liberdades econômicas à sua função social.
A CF/88 determina que o Estado tenha forte atuação positiva no intuito de difundir a cultura nacional
e que o fará, inclusive, em cooperação com os agentes privados atuantes na área cultural. É muito vasta a
proteção à cultura nacional, pois, mais do que apenas resguardar as manifestações culturais nacionais, o
constituinte verdadeiramente preocupou-se em promovê-las e difundi-las, tendo disposto que o Estado
garantiria a todos o acesso às fontes da cultura nacional e que a lei estabeleceria incentivos para a produção
e o conhecimento de bens e valores culturais.
Tamanha é a relevância da cultura nacional que seu quadro protetivo foi reforçado pela EC 71/2012,
que instituiu verdadeira política de valorização e difusão das manifestações culturais, com reforço, inclusive,
da atuação estatal por meio do Sistema Nacional de Cultura, em um processo de gestão e promoção conjunta
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de políticas públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre os entes da Federação e a


sociedade.
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Jurisprudência Bloco II
Por outro lado, a obrigatoriedade de exibição de obras cinematográficas brasileiras de longa-
metragem é encargo que não atinge de modo desarrazoado as empresas proprietárias, locatárias ou
arrendatárias de salas, espaços ou locais de exibição pública comercial, como demonstram dados coletados
pelos órgãos oficiais.
Diante disso, por meio da técnica de ponderação de valores, se justifica a intervenção na esfera jurídica
das citadas empresas para que outros preceitos de estatura constitucional sejam observados: o acesso dos
indivíduos às fontes da cultura nacional e a defesa da valorização do patrimônio cultural brasileiro.

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de reingresso
no cargo. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo, mesmo que
essa possibilidade esteja prevista em lei estadual.

STJ, 2ª Turma, RMS 61.880/MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 03/03/2020 – Informativo 666/2020

A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção.

STF, Plenário, RE 1037926 (RG Tema 964), Rel. Marco Aurélio, j. 16/09/2020 – Informativo 994/2020

O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos órgãos
de cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia
administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN (LC
35/79) não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a
regra segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos
tribunais. Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser
remetida à disciplina regimental de cada tribunal.

STF, Plenário, ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 25/06/2020 – Informativo 983/2020

A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura viola
o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal.

STF, Plenário, ADI 5329, Rel. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/12/2020 – Informativo 1002/2020

É inconstitucional norma estadual que estabelece limites etários para ingresso na magistratura.

STF, Plenário, ADI 6794/CE, ADI 6795/MS, ADI 6996/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 24/09/2021 – Informativo
1031/2021

Compete ao Supremo Tribunal Federal a inciativa para propor projeto de lei que disponha sobre critério de
desempate para promoção na carreira da magistratura. É inconstitucional norma que adote tempo de serviço
em qualquer cargo público como critério de desempate para promoção na magistratura.
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STF, Plenário, ADI 6779/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/08/2021 – Informativo 1027/2021

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Jurisprudência Bloco II
Comentários:
De acordo com o art. 93 da CF/88, a União tem competência exclusiva para legislar sobre a
organização da magistratura nacional, mediante lei complementar de iniciativa reservada ao STF. Dessa
forma, a jurisprudência tem reconhecido a inconstitucionalidade formal de leis que destoam da Lei Orgânica
da Magistratura Nacional (LOMAN), que foi recepcionada pela CF/88 e admitida como regramento aplicável
ao estatuto da magistratura enquanto não sobrevier a lei complementar em questão.
Relativamente aos parâmetros de provimento na carreira da magistratura, não são cabíveis, como
medida de desempate entre os concorrentes à promoção por antiguidade, condições estranhas à função
jurisdicional.

Compete ao Tribunal Regional Federal processar ação rescisória proposta pela União com o objetivo de
desconstituir sentença transitada em julgado proferida por juiz estadual, quando afeta interesses de órgão
federal.

Compete à Justiça Federal processar e julgar ações rescisórias movidas por ente federal contra acórdão ou
sentença da Justiça estadual.

STF, Plenário, RE 598.650/MS (Tema 775 RG), Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j.
08/10/2021 – Informativo 1033/2021

É inconstitucional norma de constituição estadual que, ao dispor a respeito da remoção de magistrados, cria
distinção indevida entre juízes titulares e substitutos.

STF, Plenário, ADI 3358/PE, Rel. Min. Rosa Weber, j. 22/10/2021 – Informativo 1035/2021

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a possibilidade de a Assembleia Legislativa


convocar o Presidente do Tribunal de Justiça ou o Procurador-Geral de Justiça para prestar informações na
Casa, afirmando que a sua ausência configura crime de responsabilidade.

STF, Plenário, ADI 5416, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/04/2020 – Informativo 977/2020

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV).

1. O art. 57, § 4º, da CF/88, não é norma de reprodução obrigatória por parte dos Estados-membros.

2. É inconstitucional a reeleição em número ilimitado, para mandatos consecutivos, dos membros das Mesas
Diretoras das Assembleias Legislativas Estaduais para os mesmos cargos que ocupam, sendo-lhes permitida
uma única recondução.

Constituições estaduais podem prever a reeleição de membros das mesas diretoras das assembleias
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legislativas para mandatos consecutivos, mas essa recondução é limitada a uma única vez.
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
STF, Plenário, ADI 6720/AL, ADI 6721/RJ, ADI 6722/RO, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 24/09/2021 – Informativo
1031/2021

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.

Para a obtenção da preferência no pagamento de precatório, faz-se necessária a conjugação dos requisitos
constantes do art. 100, § 2º, da Constituição Federal, ou seja, dívida de natureza alimentar e titular idoso ou
portador de doença grave.

STJ, 2ª Turma, RMS 65.747/SP, rel. min. Assussete Magalhães, j. 16/03/2021 – Informativo 689/2021

São inconstitucionais os pronunciamentos judiciais que determinam bloqueios e outros atos de constrição
sobre bens e valores da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) para o pagamento
de verbas trabalhistas, tendo em vista que a satisfação dos débitos desta entidade se submete ao regime
constitucional dos precatórios, por se tratar de sociedade de economia mista que presta serviço público
essencial, em regime não concorrencial e sem intuito primário de lucro.

STF, Plenário, ADPF 980 MC-Ref/DF, Rel. Min. Dias Toffli, j. 26/11/2021 – Informativo 1039/2021

Não se admite “novo veto” em lei já promulgada e publicada. Manifestada a aquiescência do Poder Executivo
com projeto de lei, pela aposição de sanção, evidencia-se a ocorrência de preclusão entre as etapas do
processo legislativo, sendo incabível eventual retratação.

STF, Plenário, ADPF 714/DF, 715/DF e 716/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/02/2021 – Informativo
1005/2021

Não caracteriza afronta à vedação imposta pelo art. 62, ª 1º, IV, da Constituição Federal, a edição de Medida
Provisória no mesmo dia em que o Presidente da República sanciona ou veta projeto de lei com conteúdo
semelhante, pois este já não mais se encontra “pendente de sanção”.

STF, Plenário, ADI 2601/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/08/2021 – Informativo 1026/2021

O Poder Legislativo pode emendar projeto de lei de conversão de medida provisória quando a emenda estiver
associada ao tema e à finalidade original da medida provisória.

STF, Plenário, ADI 6928/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22/11/2021 – Informativo 1038/2021

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol
é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Por isso, os Estados-membros
não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles previstos na
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Constituição Federal. Do mesmo modo, não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança
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pública diverso daqueles que estão previstos no art. 144 da CF/88.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
STF, Plenário, ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 24/06/2020 – Informativo 983/2020
STF, Plenário, ADI 3996, Rel. Min. Luiz Fux, j. 15/04/2020 – Informativo 987/2020

Se a Constituição Federal prevê o número de nove conselheiros para a composição do TCU e sete para a
composição dos tribunais de contas dos estados, é razoável que Constituição estadual estabeleça número
inferior de conselheiros. Referida norma não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria.

STF, Plenário, ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 03/06/2020 – Informativo 980/2020

É inconstitucional lei estadual, iniciativa parlamentar, que discipline a organização e o funcionamento do


Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa
(competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua
organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88).

STF, Plenário, ADI 4191, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 22/05/2020 – Informativo 986/2020

O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais
repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal. Vale
ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos
recursos federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da
aplicação desses mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos
serviços de saúde no seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da
Lei Orgânica do Distrito Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a
aplicação de recursos federais repassados ao Distrito Federal.

STJ, 1ª Turma, RMS 61.997/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 16/06/2020 – Informativo 674/2020

Muito importante!

A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é instrumento eficaz de controle da


inconstitucionalidade por omissão. A ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou
parciais, normativas ou não normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra os atos em
geral do poder público, desde que essas omissões se afigurem lesivas a preceito fundamental, a ponto de
obstar a efetividade de norma constitucional que o consagra.

STF, Plenário, ADPF 272/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 25/03/2021 – Informativo 1011

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022. Sobre o tema, também
era necessário que o candidato tivesse conhecimento dos seguintes julgados do Supremo:
50

É possível a utilização de ADPF para questionar leis ou atos normativos já revogados,


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desde que haja controvérsia relevante quanto aos efeitos jurídicos residuais (STF,
ADPF 33, DJ 27/10/2006).

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II

A ADPF não é a via adequada para se obter a interpretação, a revisão ou o


cancelamento de súmula vinculante, pois há procedimento próprio para tanto,
estabelecido na Lei n. 11.417/2006 (STF, ADPF 147-AgR, j. 24/03/2011).

Não é cabível o manejo de ADPF para impugnar lei municipal que viola norma de
reprodução obrigatória existente em Constituição Estadual, hipótese em que cabível
ADI, a ser julgada pelo Tribunal local, ausente, portanto, o requisito da
subsidiariedade para propositura de ADPF (STF, ADPF 723 AgR, DJe 16/04/2021).

É possível que o Juiz de primeiro grau, fundamentadamente, imponha a parlamentares municipais as medidas
cautelares de afastamento de suas funções legislativas sem necessidade de remessa à Casa respectiva para
deliberação.

STJ, 5ª Turma, RHC 88.804/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 07/11/2017 – Informativo 617

É vedado às unidades federativas instituírem normas que condicionem a instauração de ação penal contra o
governador por crime comum à prévia autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ) dispor fundamentadamente sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive o afastamento do
cargo.

STF, Plenário, ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso,
j. 09/08/2017 – Informativo 871

É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, a submissão prévia ao Poder Legislativo
estadual, para aprovação, dos instrumentos de cooperação firmados pelos órgãos componentes do Sistema
Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA

STF, Plenário, ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/2018

CPI: intimação de indígena para prestar depoimento na condição de testemunha, fora do seu habitat: violação
às normas constitucionais que conferem proteção específica aos povos indígenas (CF, arts. 215, 216 e 231).

STF, Plenário, HC 80.240/RR, Rel. Sepúlveda Pertence, j. 20.06.2001

É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da Universidade Estadual deverá
manter plantão criminal nos finais de semana e feriados para atender pessoas hipossuficientes que sejam
presas em flagrante. Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material). Além disso, contém vício de iniciativa
(inconstitucionalidade formal), na medida em que foi usurpada a iniciativa privativa do Governador.
51

STF, Plenário, ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 – Informativo 840
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
É constitucional lei estadual que determine que as empresas concessionárias de transporte coletivo
intermunicipal devam fazer adaptações em seus veículos a fim de facilitar o acesso e a permanência de pessoas
com deficiência física ou com dificuldade de locomoção.

A competência para legislar sobre trânsito e transporte é da União (art. 22, XI da CF). No entanto, a lei
questionada trata também sobre o direito à acessibilidade física das pessoas com deficiência, que é de
competência concorrente entre União, os Estados e o Distrito Federal (art. 24, XIV).

STF, Plenário, ADI 903/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 22/5/2013 - Informativo 707

A competência privativa da União para a edição de normas gerais sobre inatividades e pensões das polícias
militares e dos corpos de bombeiros militares (artigo 22, XXI, da Constituição, na redação da Emenda
Constitucional 103/2019) não exclui a competência legislativa dos Estados para a fixação das alíquotas da
contribuição previdenciária incidente sobre os proventos de seus próprios militares inativos e pensionistas,
tendo a Lei Federal 13.954/2019, no ponto, incorrido em inconstitucionalidade.

STF, Plenário, RE 1.338.750/SC, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/10/2021 (Tema 1177 RG)

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.

É inconstitucional lei estadual que preveja que o subsídio dos Deputados Estaduais será um determinado
percentual do subsídio dos Deputados Federais

É inconstitucional lei estadual que vincula a remuneração dos Deputados Estaduais à dos Deputados Federais.

Essa vinculação é inconstitucional porque representa modalidade de reajustamento automático e, desse


modo, viola o princípio da reserva legal (art. 27, § 2º, CF/88), o pacto federativo e a vedação à equiparação
entre espécies remuneratórias (art. 37, XIII, CF/88).

STF, Plenário, ADI 6545/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/04/2023
– Informativo 1090

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV). Note, aqui, que a FGV não está
para brincadeiras! O STF julgou a ADI em abril e a FGV já fez questão em agosto sobre o caso.

É inconstitucional norma municipal que autoriza a celebração de contrato de parcerias público-privadas (PPP)
para a execução de obra pública desvinculada de qualquer serviço público ou social. Trata-se de previsão
inconstitucional porque invade a competência privativa da União para legislar sobre normas gerais de licitação
e contrato (art. 22, XXVII, CF/88).
52

STF, Plenário, ADPF 282/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/05/2023 – Informativo 1094
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV). Mais uma vez eu te digo: a FGV
não está para brincadeiras! O STF julgou a ADPF em maio e a FGV já fez questão em agosto sobre o caso.

São inconstitucionais normas que atribuem a emissão de pareceres opinativos aos auditores de Tribunal de
Contas estadual, por incompatibilidade com a função de judicatura de contas estabelecida pelos arts. 73, §
4º, e 75, caput, da Constituição.

Os entes federados possuem autonomia para fixar, em lei, as atribuições para o cargo de auditor (ministros
ou conselheiros substitutos) do respectivo Tribunal de Contas, e podem, inclusive, inovar em relação às fixadas
na Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União (Lei nº 8.443/92).

Contudo, elas devem sempre obedecer ao perfil judicante do cargo expressamente instituído pela
Constituição Federal de 1988 (arts. 73, § 4º; e 75), indispensável para que as atividades desempenhadas pelas
Cortes de Contas sejam exercidas com qualidade, autonomia e isenção.

STF, Plenário, ADI 5530/MS, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 22/05/2023 – Informativo 1096

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES (banca FGV). Outra vez: a FGV não está para
brincadeiras! O STF julgou a ADI em maio e a FGV já fez questão em agosto sobre o caso.

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
DIREITO ELEITORAL

NÃO SE ADMITE A FIGURA DO “PREFEITO ITINERANTE”

A pessoa que já exerceu dois mandatos consecutivos de Prefeito, ou seja, foi eleito e reeleito, fica inelegível
para um terceiro mandato, ainda que seja em município diferente.

O art. 14, § 5º, da CF deve ser interpretado no sentido de que a proibição da segunda reeleição é absoluta e
torna inelegível para determinado cargo de Chefe do Poder Executivo o cidadão que já cumpriu 2 mandatos
consecutivos (reeleito uma única vez) em cargo da mesma natureza, ainda que em ente da federação diverso.

STF, Plenário, RE 637.485/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, 01/08/2012 – Informativo 673

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS, aplicada neste ano de 2023, e também na prova para
Juiz do TJMG, aplicada em 2022. É bom lembrar que todas as bancas amam esse tema. Toda hora isso cai em
prova, então fique de olho nas pegadinhas com o famoso prefeito itinerante.

A inelegibilidade do art. 14, § 7º, da Constituição, não alcança o cônjuge supérstite quando o falecimento tiver
ocorrido no primeiro mandato, com regular sucessão do vice-prefeito, e tendo em conta a construção de novo
núcleo familiar. A Súmula Vinculante 18 do STF, portanto, não se aplica aos casos de extinção do vínculo
conjugal pela morte de um dos cônjuges.

STF, Plenário, RE 758.461/PB, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 22/05/2014 – Informativo 747

Súmula Vinculante 18. A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a
inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022, banca FGV.

As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF/88, inclusive quanto ao prazo de seis meses,
são aplicáveis às eleições suplementares.

STF, Plenário, RE 843.455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 07/10/2015 – Informativo 802

A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na
hipótese em que um dos mandatos tenha sido para suceder o eleito que foi cassado.

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88, chega-se à conclusão de que a
intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo núcleo familiar ocupem três mandatos
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consecutivos para o mesmo cargo no Poder executivo. A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos
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de prefeito pelo mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação do
segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.

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Jurisprudência Bloco II

STF, 2ª Turma, RE 1.128.439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/2018 – Informativo 921

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022, banca FGV.

É aplicável a alínia “a” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, com a redação dada pela LC 135/2010, a fatos
anteriores a sua publicação.

A condenação por abuso do poder econômico ou político em ação de investigação judicial eleitoral, transitada
em julgado, ex vi do art. 22, XIV da LC 64/90, em sua redação primitiva, é apta a atrair a incidência da
inelegibilidade do art. 1º, I, d”, na redação dada pela LC 135/2010, aplicando-se a todos os processos de
registros de candidatura em trâmite.

STF, Plenário, RE 929.670/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandiwski, Rel. Acd. Min. Luiz Fux, j. 01/03/2018 –
Informativo 892

É válido o cancelamento do título do eleitor que, convocado por edital, não comparecer ao processo de revisão
eleitoral, em virtude do que dispõe o art. 14, caput, e § 1º da CF/88. São válidos o art. 3º, § 4º, da Lei nº
7.444/85 e as Resoluções do TSE que preveem o cancelamento do título dos eleitores que não comparecerem
à revisão eleitoral.
STF, Plenário, ADPF 541 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 26/09/2018 – Informativo 917

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES.

Importante!

A fixação do prazo de 15 (quinze) dias para o ajuizamento da representação prevista no art. 30-A da Lei
9.504/1997, com a redação dada pela Lei 12.034/2009, não compromete os valores da isonomia entre os
candidatos nem afronta o sistema de proteção à lisura e à legitimidade das eleições (CF/1988, art. 14, § 9º).

STF, Plenário, ADI 4532/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/11/2022 – Informativo 1077

Comentários:
Primeiramente, veja o que dizem os dispositivos mencionados no julgado:

CF/88, Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...)
§ 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de
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sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para


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exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e

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Jurisprudência Bloco II
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.”

Lei 9.504/1997, Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar
à Justiça Eleitoral, no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação, relatando fatos e
indicando provas, e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas
em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.
(Redação dada pela Lei 12.034/2009)

De acordo com entendimento do Plenário do STF, o estabelecimento do referido prazo decadencial


de 15 (quinze) dias se harmoniza com os princípios que regem o exercício da jurisdição eleitoral, em especial
o da segurança jurídica, da celeridade e da duração razoável do processo (CF/1988, art. 5º, LXXVIII; e Lei
9.504/1997, art. 97-A), tendo como objetivo proporcionar a estabilização do resultado das urnas, de modo a
refletir a vontade soberana do eleitor. Os meios de impugnação e os recursos específicos da Justiça Eleitoral
são taxativos e submetidos a exíguos prazos preclusivos, adequando-se a cada fase do processo eleitoral,
circunstâncias justificáveis pela necessidade de estabilização das relações jurídicas, pelos resultados das
eleições e pela temporalidade dos mandatos políticos.
Ademais, o intuito da norma foi suprir lacuna procedimental decorrente da ausência de sanção
imediata no âmbito das prestações de contas, uma vez que a desaprovação jamais repercutiu diretamente
nos diplomas ou mandatos dos candidatos eleitos e no direito à obtenção de quitação eleitoral.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente a ação para
declarar a constitucionalidade da expressão “no prazo de 15 (quinze) dias da diplomação”, constante do art.
30-A da Lei 9.504/1997, com a redação que lhe foi conferida pela Lei 12.034/2009.

Não cabe ao Supremo Tribunal Federal adentrar o mérito da opção legislativa para redesenhar a forma de
cálculo do valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) (Lei n. 14.194/2021, art. 12, XXVII).

STF, Plenário, ADI 7058 MC/DF, Rel. Min. André Mendonça, Rel. Acd. Min. Nunes Marques, j. 03/03/2022 –
Informativo 1045

É constitucional a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) por meio de norma
infraconstitucional, dada a inexistência de obrigação ou proibição sobre o tema na CF/1988.

STF, Plenário, ADI 5795/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 19/08/2022 – Informativo 1065

Comentários:
O Congresso Nacional entendeu que o método de financiamento de campanha até então em vigor,
após a declaração de inconstitucionalidade das doações por pessoas jurídicas de direito privado (ADI 4650),
não se revelava suficiente para atender às demandas. Por essa razão, instituiu o FEFC, constituído apenas em
anos eleitorais com destinação de parcela do orçamento da União e com objetivo exclusivo de financiar as
campanhas eleitorais com recursos públicos (Lei n. 9.504/97, art. 16-C).
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A Constituição não contempla qualquer previsão que estabeleça a exclusividade do Fundo Partidário
e impeça a criação de novos fundos destinados ao financiamento de partidos políticos e de campanhas
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Jurisprudência Bloco II
eleitorais. Também não há dispositivo que imponha à temática sua veiculação somente por meio de Emenda
à Constituição.
Nesse contexto, o exercício do controle de constitucionalidade de leis e atos normativos impõe ao
Poder Judiciário, por autocontenção, respeito ao espaço privativo de deliberação atribuído
constitucionalmente aos demais Poderes da República, assim como às escolhas políticas legitimamente
adotadas pelos parlamentares. Dessa forma, entende-se pela constitucionalidade de norma
infraconstitucional que cria o FEFC.

A fim de participarem das eleições, as federações partidárias devem estar constituídas como pessoa jurídica e
obter o registro de seu estatuto perante o TSE no mesmo prazo aplicável aos partidos políticos.

Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica estendido
até 31 de maio do mesmo ano.

STF, Plenário, ADI 7021/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 09/02/2022 – Informativo 1043

Comentários:
A própria lei de regência prevê que a federação atuará como se fosse uma única agremiação partidária
(art. 11-A, caput, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021) e que se aplicam às federações
“todas as normas que regem as atividades dos partidos políticos no que diz respeito às eleições” (art. 11-A, §
8º, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei 14.208/2021).
Entretanto, a mesma lei permite que as federações possam ser constituídas até a data final do período
de realização das convenções partidárias (art. 11-A, § 3º, III, da Lei 9.096/1995, com redação dada pela Lei
14.208/2021), ao passo que, para os partidos políticos, impõe-se a constituição e o registro até seis meses
antes das eleições (art. 4º da Lei 9.504/1997).
Diante dessas previsões legais, aparenta haver desequiparação irrazoável na medida em que se
permite que agremiações concorrentes ao mesmo pleito sigam regras e cronogramas diversos, situação que
não deve ser sustentada pelo Direito.
Excepcionalmente, nas eleições de 2022, o prazo para constituição de federações partidárias fica
estendido até 31 de maio do mesmo ano.
Mediante ponderação entre os princípios da isonomia (entre partidos políticos e federações), da
segurança jurídica e da maior efetividade da norma que criou o instituto das federações partidárias, entende-
se que o prazo fixado é um meio-termo. Ele confere maior prazo para negociações, mas, ao mesmo tempo,
evita uma extensão excessiva, o que tornaria o instituto das federações perigosamente aproximado das
coligações e poderia trazer-lhe uma lógica “de ocasião”, que é o que se quer evitar. Além disso, esse prazo
minimiza eventuais efeitos competitivos adversos que uma constituição tardia das federações poderia
produzir na competição com partidos políticos.

#JURISDICA
Aproveitando o tema federação, vamos ver as principais características, pois as bancas estão
AMANDO elaborar questões sobre isso.
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• Constituída para atuar, no mínimo, por 4 (quatro) anos, como se fosse uma única
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agremiação partidária;
• Sua atuação ocorre no período eleitoral e durante o exercício do mandato;

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Jurisprudência Bloco II
• Necessariamente terá abrangência nacional;
• Pode existir tanto nas eleições proporcionais como majoritárias (diferente das
coligações, que não podem ser celebradas para disputa de eleições proporcionais);
• Devem ser registradas no TSE;
• É assegurada identidade e autonomia dos partidos que integram a federação;
• O partido que se retirar da federação antes do prazo mínimo ficará sujeito a
sanções;
• A federação presta contas das campanhas de forma conjunta.

A regra geral que determina a reunião de ações eleitorais que versem sobre os mesmos fatos para julgamento
conjunto pode ser afastada sempre que o magistrado aferir a pertinência da separação dos feitos, à luz das
circunstâncias do caso concreto e das exigências inerentes aos postulados do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa.

STF, Plenário, ADI 5507/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 02/09/2022 – Informativo 1066

(1) Os partidos políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional, estabelecer a duração dos
mandatos de seus dirigentes, desde que compatível com o princípio republicano da alternância do poder
concretizado por meio da realização de eleições periódicas em prazo razoável.

(2) É inconstitucional a previsão do prazo de “até oito anos” para a vigência dos órgãos provisórios dos
partidos (Lei n. 9.096/95, art. 3º, § 3º), para evitar distorções ao claro significado de “provisoriedade”,
notadamente porque, nesse período, podem ser realizadas distintas eleições em todos os níveis federativos.

(3) É constitucional a previsão de concessão de anistia às cobranças, devoluções ou transferências ao Tesouro


Nacional que tenham como causa as doações ou contribuições feitas em anos anteriores por servidores
públicos que exerçam função ou cargo público de livre nomeação e exoneração, desde que filiados a partido
político.

STF, Plenário, ADI 6230/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 05/08/2022 – Informativo 1062

Comentários:
(1) O ideal democrático firma-se na temporalidade dos mandatos, o que viabiliza sua renovação e
alternância de poder, motivo pelo qual os princípios democrático e republicano não autorizam que a
autonomia assegurada às agremiações partidárias seja interpretada contrariamente à Constituição,
autorizando a perpetuação dos mandatos das lideranças partidárias.
(2) O poder não deve ser exercido por tempo indeterminado ou excessivo, sendo imprescindível a
apuração democrática da vontade dos filiados. Ocorre que as comissões provisórias normalmente são
compostas por pessoas não eleitas por seus pares, mas indicadas pela direção do partido e com
sucessivas reconduções. Essa circunstância é capaz de minar a democracia interna, pois apta a
acarretar a falta de autenticidade dos partidos políticos, culminando em sérios reflexos na
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legitimidade do sistema político. Ademais, o Supremo Tribunal Federal não pode, sob pena de atuar
como legislador positivo, estabelecer um único prazo, aplicável indistintamente a todas as
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agremiações e em todos os cenários. Cabe à Justiça Eleitoral analisar, na apreciação do registro dos

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Jurisprudência Bloco II
estatutos ou quando trazida a questão em casos concretos, a constitucionalidade e legalidade do
prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos. Nesse contexto, o Tribunal,
especificamente quanto a essa parte na qual reconhece a inconstitucionalidade da norma, modulou
os seus efeitos exclusivamente a partir de janeiro de 2023, prazo posterior ao encerramento do
presente ciclo eleitoral, após o qual o TSE poderá analisar a compatibilidade dos estatutos com o que
ora decidido.
(3) A pecúnia a ser anistiada (Lei 9.096/1995, art. 55-D) é de cunho eleitoral e não ostenta caráter de
tributo, razão pela qual não compõe o orçamento público, afastando-se do campo de abrangência do
art. 113 do ADCT — cujo objeto de proteção é a receita de caráter fiscal. Assim, é desnecessária a
prévia estimativa acerca de impacto financeiro e orçamentário por parte das proposições legislativas
que prevejam a renúncia de seus recursos financeiros.

São constitucionais, visto não ofenderem a autonomia partidária, os dispositivos de Resolução editada pelo
TSE que vedam o repasse de recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha
(FEFC) por partidos políticos não pertencentes à mesma coligação e/ou não coligados.

STF, Plenário, ADI 7214/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 30/09/2022 – Informativo 1070

A ampliação dos limites para gasto com publicidade institucional às vésperas das eleições pode afetar
significativamente as condições da disputa eleitoral, sendo necessário postergar, em obediência ao princípio
da anterioridade eleitoral (CF/88, art. 16), a eficácia de alterações normativas nesse sentido.

STF, Plenário, ADI 7178/DF e ADI 7182/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j.
01/07/2022 – Informativo 1062

Comentários:
Essa medida, cujo conteúdo interage com normas proibitivas que tutelam a idoneidade e
competitividade do processo eleitoral, pode configurar desvio de finalidade no exercício de poder político,
com reais possibilidades de influência no pleito eleitoral e perigoso ferimento à liberdade do voto (CF/1988,
art. 60, IV, b), ao pluralismo político (CF/1988, art. 1º, V e parágrafo único), ao princípio da igualdade (CF/1988,
art. 5º, caput) e à moralidade pública (CF/1988, art. 37, caput).
Ademais, a ampla publicidade de “atos e campanhas dos órgãos públicos” com financiamento do
orçamento público — ainda que com o intuito de divulgar ações governamentais atinentes ao enfrentamento
da calamidade pública provocada pela pandemia da Covid-19 — pode, em tese, implicar favorecimento dos
agentes públicos que estiveram à frente dessas ações, com comprometimento da normalidade e legitimidade
das eleições que serão realizadas neste ano.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF, por maioria, em julgamento conjunto, concedeu
parcialmente a medida cautelar para conferir interpretação conforme a Constituição à Lei 14.356/2022,
estabelecendo que, por força do princípio da anterioridade eleitoral, a norma não produz efeitos antes do
pleito eleitoral de outubro de 2022.
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Jurisprudência Bloco II
São constitucionais as restrições, previstas na Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97, arts. 43, caput, e 57-C, caput e
§ 1º), à veiculação de propaganda eleitoral em meios de comunicação impressos e na internet.

STF, Plenário, ADI 6281/DF, Rel. Min. Luiz Fux, Rel. Acd. Min. Nunes Marques, j. 17/02/2022 – Informativo
1044

Comentários:
Veja o conteúdo dos dispositivos em questão:

Lei 9.504/1997, Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação
paga, na imprensa escrita, e a reprodução na internet do jornal impresso, de até 10
(dez) anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas, para cada
candidato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal
padrão e de 1/4 (um quarto) de página de revista ou tabloide. (Redação dada pela
Lei 12.034/2009)

Art. 57-C. É vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na


internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de
forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações e
candidatos e seus representantes. (Redação dada pela Lei 13.488/2017)

§ 1º. É vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na


internet, em sítios: I – de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos; (Incluído pela
Lei 12.034/2009)

De acordo com o definido pelo STF, referidos dispositivos são constitucionais. Isso porque,
atualmente, o pagamento das propagandas eleitorais no Brasil se dá com recursos públicos, na ampla maioria
dos casos, então a regulamentação da propaganda eleitoral está mais direcionada para a forma do gasto do
Fundo Eleitoral do que propriamente para disciplinar a liberdade de expressão. Trata-se de uma opção política
do legislador sobre onde e como devam ser gastos recursos públicos. Além disso, as diretrizes relativas à
propaganda eleitoral voltam-se à realização de princípios próprios, tais como a paridade de armas entre os
candidatos e a preservação das eleições, pondo-os a salvo do abuso do poder econômico, sempre disposto a
influir no resultado das urnas.

(i) a eleição dos membros das Mesas das Assembleias Legislativas estaduais deve observar o limite de uma
única reeleição ou recondução, limite cuja observância independe de os mandatos consecutivos referirem-se
à mesma legislatura;

(ii) a vedação à reeleição ou recondução aplica-se somente para o mesmo cargo da mesa diretora, não
impedindo que membro da mesa anterior se mantenha no órgão de direção, desde que em cargo distinto;
60

(iii) o limite de uma única reeleição ou recondução, acima veiculado, deve orientar a formação da Mesa da
Assembleia Legislativa no período posterior à data de publicação da ata de julgamento da ADI 6.524, de modo
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que não serão consideradas, para fins de inelegibilidade, as composições eleitas antes de 7.1.2021, salvo se

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
configurada a antecipação fraudulenta das eleições como burla ao entendimento do Supremo Tribunal
Federal.

STF, Plenário, ADI 6688/PR, ADI 6698/MS, ADI 6714/PR e ADI 7016/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, ADI 6683/AP,
ADI 6686/PE, ADI 6687/PI e ADI 6711/PI, Rel. Min. Nunes Marques, j. 07/12/2022 – Informativo 1079

A sanção abstratamente prevista para o crime de divulgação de ato objeto de denunciação caluniosa eleitoral
(art. 326-A, § 3º, do Código Eleitoral) está em consonância com os princípios da proporcionalidade e da
individualização da pena.

STF, Plenário, ADI 6225/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 20/08/2021 – Informativo 1026/2021

A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao exercício do sufrágio.

STF, Plenário, ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 19/10/2020 – Informativo 995/2020

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022, banca FGV.

O instituto da candidatura nata é incompatível com a Constituição Federal de 1988, tanto por violar a
isonomia entre os postulantes a cargos eletivos como, sobretudo, por atingir a autonomia partidária (CF, arts.
5º, caput, e 17).

STF, Plenário, ADI 2530/DF, Rel. Min. Nunes Marques, j. 18/08/2021 – Informativo 1026/2021

Comentários:
A denominada “candidatura nata” – entendida como um direito potestativo de detentor de mandato
eletivo à indicação pelo partido para as próximas eleições, independentemente de aprovação em convenção
partidária – é absolutamente incompatível com a atual atmosfera de liberdade de ação partidária.
A imunização pura e simples do detentor de mandato eletivo contra a vontade colegiada do partido
acaba sendo um privilégio completamente injustificado, que contribui tão somente para a perpetuação de
ocupantes de cargos eletivos, em detrimento de outros pré-candidatos, sem qualquer justificativa plausível
para o funcionamento do sistema democrático, e sem que haja meios para que o partido possa fazer imperar
os objetivos fundamentais inscritos no seu estatuto.
Num contexto em que a fidelidade partidária é um princípio fundamental da dinâmica dos partidos
políticos, especialmente no que diz respeito aos titulares de cargos eletivos obtidos pelo sistema proporcional,
cabe ao candidato submeter-se à vontade coletiva do partido, e não o contrário. A “candidatura nata”
contrasta profundamente com esse postulado e, por esse aspecto, esvazia toda a ideia de fidelidade partidária
em favor de um suposto “direito adquirido” à candidatura dos detentores de mandato eletivo pelo sistema
proporcional.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art. 8º
61

da Lei n. 9.504/97.
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Importante!

É vedada a fusão ou incorporação de partidos políticos que tenham obtido o registro definitivo do Tribunal
Superior Eleitoral há menos de 5 anos.

STF, Plenário, ADI 6044, rel. min. Cármen Lúcia, j. 06/03/2021 – Informativo 1008/2021

Comentários:
Foi declarado constitucional o § 9º do art. 29 da Lei 9.096/2005, introduzido pela Lei n. 13.107/2015.

Lei 9.096/95, Art. 29. Por decisão de seus órgãos nacionais de deliberação, dois ou
mais partidos poderão fundir-se num só ou incorporar-se um ao outro. (...) § 9º.
Somente será admitida a fusão ou incorporação de partidos políticos que hajam
obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 (cinco)
anos.

Não há responsabilidade solidária entre os diretórios partidários municipais, estaduais e nacionais pelo
inadimplemento de suas respectivas obrigações ou por dano causado, violação de direito ou qualquer ato
ilícito.

STF, Plenário, ADC 31/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2021 – Informativo 1031/2021

Comentários:
Mesmo estando inseridos na estrutura organizacional da mesma pessoa jurídica, os diretórios
partidários dispõem de considerável autonomia administrativa, financeira, operacional e funcional e, por
conseguinte, possuem liberdade e capacidade jurídica para praticar atos civis.
Dessa forma, é compatível com a CF/88 a previsão legal da responsabilidade exclusiva desses órgãos
partidários pelos atos que individualmente praticarem. Portanto, cada esfera deve responder apenas pelas
obrigações que individualmente assumirem, ou pelos danos que causarem, sem que isso resvale na esfera
jurídica de outro diretório, de nível superior, ou mesmo no partido político enquanto unidade central dotada
de personalidade.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF declarou a validade constitucional do art. 15-A,
caput, da Lei n. 9.096/95, com redação dada pela Lei n. 12.034/2009.

É vedada a realização, remunerada ou não, de “showmícios”, conforme o disposto no art. 39, § 7º, da Lei n.
9.504/97. A apresentação artística em eventos de arrecadação para campanha eleitoral não está inserida na
proibição à realização de “showmícios”.

STF, Plenário, ADI 5970/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 07/10/2021 – Informativo 1033/2021

#FGVAMA
62

Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES e também caiu na prova para Juiz do TJMG,
aplicada em 2022.
Página

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Comentários:
A norma do art. 39, § 7º, da Lei n. 9.504/97 visa evitar o abuso de poder econômico no âmbito das
eleições e resguardar a paridade de armas entre os candidatos, justificando-se pelo fato de que a promoção
de uma candidatura por meio do patrocínio de um show disponibilizado ao público em geral pode ser
considerada como o oferecimento de uma vantagem ao eleitor.
Referida norma objetiva evitar que a opinião ou o sentimento que um eleitor venha a nutrir por um
ou outro candidato seja impulsionado pela reputação ou fama de um artista por meio da confusão entre o
palco, do qual se busca deleite e lazer, e o palanque político, do qual devem emanar informações acerca da
candidatura.
Ao contrário dos “showmícios”, disponibilizados ao público em geral, os eventos de arrecadação são
frequentados por pessoas que já guardam simpatia pela campanha que pretendem financiar, não se
caracterizando, dessa forma, qualquer interferência à livre consciência do eleitor. Os eventos de arrecadação
materializam o exercício do direito de contribuir com o projeto político desejado pelo eleitor.
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF julgou parcialmente procedente a ADI 5970, para
conferir interpretação conforme a Constituição ao art. 23, § 4º, V, da Lei n. 9.504/97, para incluir em seu
escopo a possibilidade de realização de apresentações artísticas ou shows musicais em eventos de
arrecadação de recursos para campanhas eleitorais.

Em regra, nas eleições proporcionais, devem ser computados como válidos para os partidos políticos os votos
dados aos candidatos “sub judice” cujos registros de candidatura estejam deferidos ou sem análise pela Justiça
eleitoral na data da realização do sufrágio e que, após a votação, sejam indeferidos por decisão judicial.

Esse entendimento não se aplica aos ilícitos eleitorais graves e outras burlas ao processo eleitoral. Nessas
situações, os votos são inválidos e anulados para todos os efeitos, inclusive para o partido político, como
preceituam os arts. 222 e 237, do Código Eleitoral.

STF, Plenário, ADI 4513/DF, ADI 4542/DF e ADPF 223/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 13/04/2023 –
Informativo 1090

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES. Veja que o julgamento ocorreu em abril de
2023 e a prova aplicada em agosto do mesmo ano, ou seja, a FGV não está para amadores.

ENTENDIMENTOS IMPORTANTES DO TSE:

“A veiculação de mensagem com menção a possível candidatura, acompanhada da divulgação do número com
o qual o pré-candidato pretende concorrer, desde que inexistente o pedido expresso de voto, não configura
propaganda eleitoral antecipada.” (Ac. de 01/08/2019 no AgR-REspe n. 60765340, Rel. Min. Tarcisio Vieira de
Carvalho Neto).
63

“A realização de audiências públicas por deputado federal para a discussão de questões de interesse da
população não configura propaganda eleitoral antecipada, caso não haja pedido de votos ou referência à
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eleição.” (Ac. de 24/04/2014 no REspe n. 1034, Rel. Min. Dias Toffoli).

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II

“Da exegese do § 6º do art. 39 da Lei das Eleições, com redação dada pela Lei n. 11.300/2006, deve-se entender
que a proibição ao meio pelo qual a propaganda eleitoral é veiculada está adstrita à sua finalidade. 3. Se os
meios utilizados para sua veiculação apenas proporcionam algum tipo de utilidade ao eleitor, esses passam a
divergir das características da propaganda eleitoral. [...] Mantida a finalidade precípua da propaganda
eleitoral, é lícito veicula-la por meio de fixação de faixas, estandartes, inscrição a tinta e assemelhados em
bens privados, com fundamento no § 2º do art. 37 da Lei n. 9.504/97” (Res. N. 22233 na Cta n. 1272 de
08/06/2006, Rel. Min. Jose Delgado).

“[...] assim, por exemplo, desde que não haja pedido explícito de voto, não configura propaganda antecipada
a divulgação de posicionamento pessoal sobre questão política, nos termos do inciso V do art. 36-A da Lei das
Eleições. Todavia, se, para a divulgação desse posicionamento pessoal, o pré-candidato contrata espaço
publicitário na televisão, certamente haverá propaganda não só antecipada como vedada.” (Ac. De
02/08/2018 no AgR-REspe n. 825, Rel. Min. Rosa Weber).

“No pedido de registro individual, examina-se, tão somente, a aptidão do candidato, consistente na verificação
do atendimento às condições de elegibilidade e eventual ocorrência de causa de inelegibilidade. 3. Não cabe
à Justiça Eleitoral examinar os critérios internos pelos quais os partidos e coligações escolhem os candidatos
que irão disputar as eleições.” (Ac. de 02/04/2013 no AgR-REspe 82196, Rel. Min. Henrique Neves da Silva).

“Segundo jurisprudência há muito consolidada no Tribunal Superior Eleitoral, não se admite candidatura
avulsa, assim entendida como aquela sem filiação partidária ou sem escolha em convenção, porquanto não
foram atendidos os comandos do art. 14, arts. 14, § 3º, V e 9ª e 11, § 14, da Lei 9.504/97.” (Ac. de 23/11/2020
no AgR-TutAntAntec n. 060162868, Rel. Min. Sérgio Banhos).

“[...] 4. Em se tratando de corrupção eleitoral, irrelevante é o período em que se deu a conduta típica, pois a
condição de candidato não é fundamental para a consumação do crime, que pode ocorrer em qualquer tempo.
Para a configuração deste tipo penal, basta que a vantagem oferecida esteja vinculada à obtenção de votos.”
(Ac. de 16/04/2020 no AgR-AI 383, Rel. Min. Luis Roberto Barroso).

“[...] a doação eleitoral por meio de caixa dois e a omissão de recursos na prestação de contas de campanha
eleitoral podem configurar o crime previsto no art. 350 do CE, não sendo exigido que a conduta ilícita tenha
sido cometida necessariamente durante o período eleitoral, porquanto a caracterização da finalidade eleitoral
está relacionada ao potencial dano às atividades-fins desta Justiça especializada.” (Ac. de 02/06/2020 no CC
060073781, Rel. Min. Og Fernandes).

“1. A atual ordem constitucional, ao ampliar o direito à participação política dos cidadãos, restringindo o
alistamento somente aos estrangeiros e aos conscritos, enquanto no serviço militar obrigatório, e o exercício
do voto àqueles que tenham suspensos seus direitos políticos, assegurou-os, em caráter facultativo, a todos
os indígenas, independentemente da categorização estabelecida na legislação especial infraconstitucional
64

anterior, observadas as exigências de natureza constitucional e eleitoral pertinentes à matéria, como a


nacionalidade brasileira e a idade mínima. 2. Os índios que venham a se alfabetizar, devem se inscrever como
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eleitores, não estando sujeitos ao pagamento de multa pelo alistamento extemporâneo, de acordo com a

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Jurisprudência Bloco II
orientação prevista no art. 16, parágrafo único, da Res.-TSE 21.530, de 2003.” (Ac. de 06/12/2011 no PA
180681, Rel. Min. Nancy Andrighi).

“[...] 7. Além disso, deve–se admitir a comprovação dessa capacidade por qualquer meio hábil. O teste de
alfabetização, contudo, somente pode ser aplicado: (i) sem qualquer constrangimento; e (ii) de forma a
beneficiar o candidato, suprindo a falta de documento comprobatório, vedada a sua utilização para
desconstituir as provas de alfabetização apresentadas. 8. No caso, o candidato, com deficiência visual
adquirida, comprovou sua alfabetização por meio de declaração de escolaridade de próprio punho, firmada
na presença de servidor da Justiça Eleitoral. Ficou demonstrado, portanto, que possui capacidade mínima de
leitura e escrita. 9. Não há que se exigir alfabetização em braille de candidato deficiente visual para fins de
participação no pleito. Para promover o acesso das pessoas com deficiência aos cargos eletivos, deve–se
aceitar e facilitar todos os meios, formas e formatos acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas com
deficiência.” (Recurso Ordinário nº 060247518, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, Publicação: PSESS – Publicado
em Sessão, Data 18/09/2018).

Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, ‘[a] litispendência entre feitos eleitorais pode ser
reconhecida quando há identidade entre a relação jurídica–base das demandas, o que deve ser apurado a
partir do contexto fático–jurídico do caso concreto’.
(Ac. de 15.4.2021 no AgR-REspEl nº 060053336, rel. Min. Luis Felipe Salomão)

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022, banca FGV.

“[...] Ação de impugnação de mandato eletivo (AIME). Art. 14, § 10, da Constituição Federal. Fraude à cota de
gênero. Art. 10, § 3°, da Lei nº 9.504/97. [...] 1. À luz do julgamento do AgR–REspe nº 0600651–94/BA, redator
para o acórdão o Min. Alexandre de Moraes, em sessão de 10.5.2022, a obtenção de votação zerada ou pífia
das candidatas, a prestação de contas com idêntica movimentação financeira e a ausência de atos efetivos
de campanha são suficientes para evidenciar o propósito de burlar o cumprimento da norma que estabelece
a cota de gênero, quando ausentes elementos que indiquem se tratar de desistência tácita da competição.
[...] Evidenciadas a obtenção de votação zerada pelas candidatas, a prestação de contas sem movimentação
financeira, a ausência de atos efetivos de campanha e a prática de campanha eleitoral, por uma delas, em
benefício de outro candidato do mesmo partido, circunstâncias corroboradas pela prova oral produzida, é
seguro concluir–se pela comprovação da fraude à cota de gênero, nos termos do art. 14, § 10, da CF. [...]”
(Ac. de 17.6.2022 no AREspE nº 060054992, rel. Min. Carlos Horbach.

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022, banca FGV.
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Jurisprudência Bloco II
SÚMULAS IMPORTANTES DO TSE:
Nas provas de concurso sempre cai questão de súmula do TSE, então não custa dar uma lida nas mais
relevantes:

• Súmula 11. No processo de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem
legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer de decisão que defere o registro de candidatura,
ainda que não haja apresentado impugnação, sendo-lhe inaplicável a presente súmula (Ac.-STF, de
18.12.2013, no ARE 728.188, e Res. TSE 23405/2014).

• Súmula 18. Conquanto investido de poder de polícia, não tem legitimidade o juiz eleitoral para, de
ofício, instaurar procedimento com a finalidade de impor multa pela veiculação de propaganda
eleitoral em desacordo com a Lei nº 9.504/1997.

• Súmula 19. O prazo de inelegibilidade decorrente da condenação por abuso do poder econômico ou
político tem início no dia da eleição em que este se verificou e finda no dia de igual número no oitavo
ano seguinte (art. 22, XIV, da LC nº 64/1990).

• Súmula 37. Compete originariamente ao Tribunal Superior Eleitoral processar e julgar recurso contra
expedição de diploma envolvendo eleições federais ou estaduais.

• Súmula 38. Nas ações que visem à cassação de registro, diploma ou mandato, há litisconsórcio passivo
necessário entre o titular e o respectivo vice da chapa majoritária.

• Súmula 39. Não há formação de litisconsórcio necessário em processos de registro de candidatura.

• Súmula 40. O partido político não é litisconsorte passivo necessário em ações que visem à cassação
de diploma.

• Súmula 45. Nos processos de registro de candidatura, o juiz eleitoral pode conhecer de ofício da
existência de causas de inelegibilidade ou da ausência de condição de elegibilidade, desde que
resguardados o contraditório e a ampla defesa.

• Súmula 51. O processo de registro de candidatura não é o meio adequado para se afastarem os
eventuais vícios apurados no processo de prestação de contas de campanha ou partidárias.

• Súmula 52. Em registro de candidatura, não cabe examinar o acerto ou desacerto da decisão que
examinou, em processo específico, a filiação partidária do eleitor.

• Súmula 55. A Carteira Nacional de Habilitação gera a presunção da escolaridade necessária ao


deferimento do registro de candidatura.
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
• Súmula 58. Não compete à Justiça Eleitoral, em processo de registro de candidatura, verificar a
prescrição da pretensão punitiva ou executória do candidato e declarar a extinção da pena imposta
pela Justiça Comum.

• Súmula 61. O prazo concernente à hipótese de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, e, da LC nº 64/1990
projeta-se por oito anos após o cumprimento da pena, seja ela privativa de liberdade, restritiva de
direito ou multa.

• Súmula 64. Contra acórdão que discute, simultaneamente, condições de elegibilidade e de


inelegibilidade, é cabível o recurso ordinário.

• Súmula 67. A perda do mandato em razão da desfiliação partidária não se aplica aos candidatos eleitos
pelo sistema majoritário.

• Súmula 68. A União é parte legítima para requerer a execução de astreintes, fixada por
descumprimento de ordem judicial no âmbito da Justiça Eleitoral.

• Súmula 72. É inadmissível o recurso especial eleitoral quando a questão suscitada não foi debatida na
decisão recorrida e não foi objeto de embargos de declaração.

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Jurisprudência Bloco II
DIREITO PENAL

A conduta de violar o automóvel, mediante a destruição do vidro para que seja subtraído bem que se encontre
em seu interior — no caso, um aparelho de som automotivo — configura o tipo penal de furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo à subtração da coisa, previsto no art. 155, § 4º, inciso I, do CP.

STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1.364.606/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 22/10/2013 - Informativo 532
STJ, 3ª Seção, EREsp 1079847/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 22/05/2013

Por outro lado, “Esta Corte já firmou posicionamento no sentido de que o rompimento de obstáculo inerente
ao objeto do furto não caracteriza a circunstância qualificadora” (REsp 743.615/RS)

#JURISEXPLICA
Ou seja, quebrar o vidro do carro para furtar o rádio do veículo, é hipótese que qualifica o furto; no
entanto, quebrar o vidro do carro para furtar o veículo em si, é hipótese de furto simples.

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES.

Na dosimetria da pena, as condenações por fatos posteriores ao crime em julgamento não podem ser
utilizadas como fundamento para valorar negativamente a culpabilidade, a personalidade e a conduta social
do réu.

STJ, 6ª Turma, HC 189.385/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 20/02/2014 – Informativo 535

A participação do menor pode ser considerada para configurar o crime de associação para o tráfico (art. 35)
e, ao mesmo tempo, para agravar a pena como causa de aumento do art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006.

STJ, 6ª Turma, HC 250.455/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 17/12/2015 – Informativo 576

O fato de o autor de homicídio culposo na direção de veículo automotor estar com a CNH vencida não justifica
a aplicação da causa especial de aumento de pena descrita no inciso I do § 1º do art. 302 do CTB.

O inciso I do § 1º do art. 302 pune o condutor que "não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de
Habilitação". O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se amolda a essa previsão não se podendo
aplicá-lo por analogia in malam partem.

STJ, 6ª Turma, HC 226.128/TO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 07/04/2016 – Informativo 581
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Atenção!

Configura o delito de extorsão (CP, art. 158) a conduta do agente que submete vítima à grave ameaça
espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o pagamento de vantagem econômica
indevida.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.299.021/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 14/02/2017 – Informativo 598

A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado ou função pública exercida no momento do delito,
à exceção da hipótese em que o magistrado, motivadamente, entender que o novo cargo ou função guarda
correlação com as atribuições anteriores.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.452.935/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 14/03/2017 – Informativo 599

Em caso de concurso formal de crimes, o perdão judicial concedido para um deles não necessariamente deverá
abranger o outro. O fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza a extensão dos
efeitos do perdão judicial concedido para um dos crimes, se não restou comprovada, quanto ao outro, a
existência do liame subjetivo entre o infrator e a outra vítima fatal.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.444.699/RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 01/06/2017 – Informativo 606

Não é típica a conduta de inserir em currículo lattes, dado que não condiz com a realidade, não se configurando
crime de falsidade ideológica (CP, art. 299).

STJ, 6ª Turma, RHC 81.451/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22/08/2017 – Informativo 610

Importante!

A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão. Assim, é possível, a depender do caso
concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo (Lei n. 7.716/89, art. 20, § 2º), poir ter
proferido discursos de ódio público contra outras denominações religiosas e seus seguidores.

STF, 2ª Turma, RHC 146.303/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Dias Toffoli, j. 06/03/2018 – Informativo
893

A alteração do sistema de medição, mediante fraude, para que aponte resultado menor do que o real consumo
de energia elétrica configura estelionato.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.418.119/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 07/05/2019 – Informativo 648
69

#JURISDICA
Página

Se o agente desvia a energia elétrica, por meio de ligação clandestina (o famoso “gato”), há crime de
furto, pois há subtração do bem “energia elétrica” e inversão da posse.

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Jurisprudência Bloco II

O pagamento do débito oriundo de furto de energia elétrica antes do recebimento da denúncia não é causa
de extinção da punibilidade.

STJ, 3ª Seção, RHC 101.299/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 13/03/2019 –
Informativo 645

Comentários:
O furto de energia elétrica não pode receber o mesmo tratamento dado ao inadimplemento tributário,
de modo que o pagamento do débito antes do recebimento da denúncia não configura causa extintiva de
punibilidade, mas causa de redução de pena relativa ao arrependimento posterior (art. 16 do CP). Isso porque
nos crimes contra a ordem tributária, o legislador (Leis nº 9.249/1995 e nº 10.684/2003), ao consagrar a
possibilidade da extinção da punibilidade pelo pagamento do débito, adota política que visa a garantir a
higidez do patrimônio público, somente. A sanção penal é invocada pela norma tributária como forma de
fortalecer a ideia de cumprimento da obrigação fiscal.
Já nos crimes patrimoniais, como o furto de energia elétrica, existe previsão legal específica de causa
de diminuição da pena para os casos de pagamento da “dívida” antes do recebimento da denúncia. Em tais
hipóteses, o Código Penal, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada afeta
a pretensão punitiva, apenas constitui causa de diminuição da pena.
Outrossim, a jurisprudência se consolidou no sentido de que a natureza jurídica da remuneração pela
prestação de serviço público, no caso de fornecimento de energia elétrica, prestado por concessionária, é de
tarifa ou preço público, não possuindo caráter tributário. Não há como se atribuir o efeito pretendido aos
diversos institutos legais, considerando que o disposto no art. 34 da Lei nº 9.249/1995 e no art. 9º da Lei nº
10.684/2003 fazem referência expressa e, por isso, taxativa, aos tributos e contribuições sociais, não dizendo
respeito às tarifas ou preços públicos.

Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime
de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. Isso porque o
feminicídio é qualificadora de ordem objetiva – incide sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita – enquanto a torpeza é de cunha subjetivo, ou seja, continuará adstrita
aos motivos que levaram o agente à prática do delito.

STJ, 6ª Turma, HC 433.898/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 24/08/2019 – Informativo 625

Muito importante!

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas
e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se,
por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na
70

Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o
qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
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Jurisprudência Bloco II
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade
religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes,
pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre
outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer
outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros
e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo
buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço,
público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem
discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a
violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;

3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de
índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle
ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade
daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém
posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à
condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de
perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.

STF, Plenário, ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em
13/6/2019 – Informativo 944

Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a
reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais,
não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente.

STJ, 3ª Seção, EAREsp 1.311.636/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10/04/2019 – Informativo 647

Na aplicação do art. 97 do Código Penal não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade
aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que
melhor se adapte ao inimputável.

STJ, 3ª Seção, EREsp 998.128/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 27/11/2019 – Informativo 662

Comentários:
Em outras palavras, pacificou-se no âmbito do STJ o entendimento de que, mesmo que o inimputável
tenha praticado fato previsto como crime punível com pena de reclusão, ainda assim será possível submetê-
lo a tratamento ambulatorial (não precisando ser internação), desde que fique demonstrado que essa é a
medida de segurança que melhor se ajusta ao caso concreto.
71
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Jurisprudência Bloco II
O art. 28 da Lei n. 11.343/2006, que prevê o crime de porte de drogas para consumo pessoal, traz, em seu §
4º, a previsão de que “em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo
serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses”. De acordo com o entendimento do STJ, a reincidência
estabelecida no § 4º do art. 28 é a reincidência específica.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.771.304/ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 10/12/2019 – Informativo 662

Segundo a jurisprudência desta Corte, não há bis in idem na condenação pelo crime de associação criminosa
armada e pelo de roubo qualificado pelo concurso de agentes, pois os delitos são autônomos, aperfeiçoando-
se o primeiro independentemente do cometimento de qualquer crime subsequente. Ademais, os bens
jurídicos protegidos pelas normas incriminadoras são distintos - no caso do art. 288, parágrafo único, do CP, a
paz pública e do roubo qualificado, o patrimônio, a integridade física e a liberdade do indivíduo.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 1.425.424/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 06/08/2019

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor ao motorista
profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O direito ao exercício de atividades profissionais
(art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo legislador se mostra razoável.

STF, Plenário, RE 607.107/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 12/02/2020 (Tema 486 RG) – Informativo 966

A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver conduzindo o seu veículo
pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a vítima, como
quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua desatenção,
acabar por atingir e matar o pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em
que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do carro,
subindo na calçada e atropelando a vítima.

STJ, 5ª Turma, AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 05/03/2020 – Informativo 668

Nos termos do inciso IV do art. 117 do CP, o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive
quando meramente confirmatório da sentença de primeiro grau.

Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório
inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Assim, não há, sistematicamente, uma justificativa
para tratamento dispares.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 1.668.298/SP, Rel. Min. Felix Fischer, j. 12/05/2020 – Informativo 672
72

STF, Plenário, HC 176.473, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 27/04/2020


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Jurisprudência Bloco II
Havendo pluralidade de causas de aumento de pena e sendo apenas uma delas empregada na terceira fase,
as demais podem ser utilizadas nas demais etapas da dosimetria da pena.

O deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosimetria, além de não contrariar o sistema
trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da individualização da pena.

STJ, 3ª Seção, GC 463.434/MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/11/2020 – Informativo 684

Importante!

O réu fará jus à atenuante do art. 65, III, “d”, do Código Penal (confissão espontânea), quando houver admitido
a autoria do crime perante a autoridade, independentemente de a confissão ser utilizada pelo juiz como um
dos fundamentos da sentença condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada, extrajudicial ou
retratada.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.972.098/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 14/06/2022, DJe 20/06/2022 – Informativo 741

A mera afirmação de que o denunciado ocupa o cargo de desembargador é insuficiente para a incidência da
causa de aumento de pena prevista no art. 327, § 2º, do Código Penal.

STJ, Corte Especial, AgRg na APn 970/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 04/05/2022 – Informativo 736

Comentários:
Nos termos do art. 327, § 2º, do CP, "[a] pena será aumentada da terça parte quando os autores dos
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou
fundação instituída pelo poder público."
Por outro lado, a mera afirmação de que o denunciado ocupava o cargo de desembargador, assim
como o cargo de parlamentar federal, é insuficiente para a incidência da aludida causa de aumento de pena.
Nesse sentido, […] essa causa de aumento, consoante remansosa jurisprudência [no STF] é inaplicável pelo
mero exercício do mandato popular: a circunstância de imposição hierárquica deve estar descrita e não é
presumível apenas pelo exercício destes cargos. Esse entendimento prevaleceu em recentes julgados [do]
Supremo Tribunal Federal em casos análogos (Inq 3.983 Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe de
12/05/2016; e Inq 3.997 Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe de 26/09/2016). A jurisprudência [do STF]
(Inq 2.606, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 02/12/2014), exige, especificamente, para sua incidência,
uma imposição hierárquica (Inq 2.191, Rel. Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, DJe de 08/05/2009), que não se
acha narrada nos autos, o que inviabiliza (reitera-se: em juízo de subsunção teórica: de aptidão de os fatos
descritos - se comprovados - virem a se subsumir nos tipos imputados) seu acatamento imputativo. (STF, Inq
3980, Rel. Min. Edson Fachin, Segunda Turma, julgado em 06/03/2018, DJe-113 08/06/2018).
Em suma, "[é] incabível a causa de aumento do art. 327, § 2º, do Código Penal pelo mero exercício do
mandato parlamentar, sem prejuízo da causa de aumento contemplada no art. 317, § 1º. A jurisprudência [do
73

STF], conquanto revolvida nos últimos anos (Inq 2606, Relator(a): Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em
11/11/2014, DJe-236 [...] 02-12-2014), exige uma imposição hierárquica ou de direção (Inq 2191, Relator(a):
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Min. Carlos Britto, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2008, [...] DJe-084 [...] 08-05-2009) que não se acha nem

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Jurisprudência Bloco II
demonstrada nem descrita nos presentes autos." (STF, Inq 3983, Rel. Min. Teori Zavascki, Tribunal Pleno,
julgado em 03/03/2016,DJe-095 12/05/2016).

O roubo em transporte coletivo vazio é circunstância concreta que não justifica a elevação da pena-base.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 693.887/ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 15/02/2022, DJe 21/02/2022 – Informativo
727

São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra covid-19 em local diverso do agendado e/ou com
aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à vacinação sem a realização de
agendamento.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 160.947/CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 27/09/2022, DJe 30/09/2022 –
Informativo 752

É atípica a conduta de colecionador, com registro para a prática desportiva e guia de tráfego, que se dirigia ao
clube de tiros sem portar consigo a guia de trânsito da arma de fogo.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AgRg no RHC 148.516/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 09/08/2022, DJe 15/08/2022
– Informativo 753

Comentários:
Inicialmente, a acusação imputou o crime previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), em virtude do agente estar transportando uma arma de fogo de uso permitido sem portar a
necessária guia de tráfego no momento da abordagem. Veja a redação do dispositivo:

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido


Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Todavia, de acordo com o entendimento da 5ª Turma do STJ, não é possível a imputação de uma
conduta como típica sem analisar a proporcionalidade entre o fato e a respectiva sanção penal.
O acusado possui o certificado de registro para a prática de tiro desportivo, bem como a guia de
tráfego para transportar a arma até o clube de tiros, e o Ministério Público ofereceu a denúncia apenas por
ter o agente se olvidado de carregar consigo a referida guia quando se deslocava da sua residência para o
clube. Dessa forma, conclui-se que a tipificação dessa conduta como crime ofende o princípio da
proporcionalidade e deve ser repelida, por não encontrar abrigo no moderno Direito Penal.
A simples ausência de cumprimento de uma formalidade não pode fazer com que o agente possa ser
74

considerado criminoso, até porque ele é colecionador de armas e não praticou nenhum ato que pudesse
colocar em risco a incolumidade de terceiros, razão pela qual a sua conduta não pode ser considerada como
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ilícito penal.

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Jurisprudência Bloco II

O reconhecimento da continuidade delitiva não importa na obrigatoriedade de redução da pena definitiva


fixada em cúmulo material, porquanto há possibilidade de aumento do delito mais gravoso em até o triplo,
nos termos do art. 71, parágrafo único, in fine, do Código Penal.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 301.882/RJ, Rel. Min. Antonio Saldanha Pinheiro, j. 19/04/2022, DJe 26/04/2022 –
Informativo 734

É proporcional a aplicação da fração máxima de 2/3 na hipótese de a conduta criminosa corresponder a 7 ou


mais infrações em continuidade delitiva.

STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.945.790/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 13/09/2022 – Informativo 749

Comentários:
A jurisprudência do STJ entende que "a fração a ser aplicada a título de continuidade delitiva deve ser
proporcional ao número de infrações cometidas, sendo aplicada a fração máxima de 2/3 no caso de 7 ou mais
infrações." (AgRg no AREsp 2.067.269/SP, 6ª Turma, DJe 05/08/2022).
No caso, a defesa do acusado sustentou pedido de redução da fração decorrente do reconhecimento
da continuidade delitiva. Contudo, as condutas criminosas foram praticadas por 15 vezes, demonstrando
fundamento suficiente para aplicar o aumento do crime continuado no patamar adotado de 2/3.

A revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade - art. 65 do Decreto-Lei n. 3.688/1941 - pela


Lei n. 14.132/2021, não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam
enquadrados na referida infração penal.

STJ, 6ª Turma, AgRg nos EDcl no REsp 1.863.977/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/12/2021, DJe 17/12/2021 –
Informativo 722

Comentários:
A Lei n. 14.132, de 31 de março de 2021, acrescentou ao Código Penal o art. 147-A, para prever o
crime de perseguição, conhecido como stalking, punindo, assim, a conduta de “perseguir alguém,
reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade”, com pena de reclusão de 6 meses a 2 anos e multa.
A par de criar um novo tipo penal, referida lei revogou expressamente o art. 65 da Lei de
Contravenções Penais, cuja redação era a seguinte: " Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por
acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa".
Com efeito, a revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade pela Lei n. 14.132/2021,
não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os fatos que estavam enquadrados na
referida infração penal.
De fato, a parte final do art. 147-A do Código Penal prevê a conduta de perseguir alguém,
75

reiteradamente, por qualquer meio e "de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade
ou privacidade", circunstância que, a toda evidência, já estava contida na ação de "molestar alguém ou
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Jurisprudência Bloco II
perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável", quando cometida de forma reiterada,
porquanto a tutela da liberdade também abrange a tranquilidade.
No caso concreto julgado pela 6ª Turma do STJ, ficou consignado que o acusado, mesmo depois de
processado e condenado em primeira instância pelo mesmo crime (art. 65 da LCP), cometido contra a mesma
vítima, voltou a tentar contato ao lhe enviar três e-mails e um presente.
Assim, considerando que o comportamento é reiterado - ação que, no momento atual, está contida
no art. 147-A do Código Penal, em razão do princípio da continuidade normativo-típica -, de rigor, no caso, a
incidência da lei anterior mais benéfica (art. 65 do Decreto Lei n. 3.688/1941).

É hipótese de crime permanente, a conduta tipificada no art. 2º da Lei n. 8.176/1991, na modalidade de


usurpação por exploração de matérias-primas pertencentes à União, enquanto verificada a prática de
múltiplas condutas visando a extração do bem mineral, sem evidência de que o agente ativo intencionalmente
cessou a atividade extrativa.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.998.631/BA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 07/06/2022 – Informativo 740

Para a configuração do crime previsto no art. 89 da Lei n. 8.666/1993, agora disposto no art. 337-E do CP (Lei
n. 14.133/2021), é indispensável a comprovação do dolo específico de causar danos ao erário e o efetivo
prejuízo aos cofres públicos.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 669.347/SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Des. Convocado TJDFT), Rel. Acd. Min. João
Otávio de Noronha, j. 13/12/2021 – Informativo 723

A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento
ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica, prevista no art. 330
do Código Penal Brasileiro (crime de desobediência).

STJ, 3ª Seção, REsp 1.859.933/SC (Tema 1060), Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 09/03/2022, DJe
01/04/2022 – Informativo 732

Comentários:
O STJ já decidiu que "os direitos ao silêncio e de não produzir prova contra si mesmo não são absolutos,
razão pela qual não podem ser invocados para a prática de outros delitos. Embora por fatos diversos, aplica-
se ao presente caso a mesma solução jurídica decidida pela Terceira Seção desta Corte Superior quando do
julgamento do REsp n. 1.362.524/MG, submetido à sistemática dos recursos repetitivos, no qual foi fixada a
tese de que 'típica é a conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial, ainda que em
situação de alegada autodefesa'" (HC 369.082/SC, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em
27/6/2017, DJe 1º/8/2017).
76
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Jurisprudência Bloco II
Configura o crime de corrupção ativa o oferecimento de vantagem indevida a funcionário público para
determiná-lo a omitir ou retardar ato de ofício relacionado com o cometimento do crime de posse de drogas
para uso próprio.

STJ, 5ª Turma, AREsp 2.007.599/RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissado (convocado TJDFT), j. 03/05/2022 – Informativo
735

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele
ocupado.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AREsp 2.073.825/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 16/08/2022, DJe 22/08/2022 –
Informativo 746

Comentários:
No caso, a conduta imputada às partes é a nomeação da ré para o exercício de cargo em Câmara
Municipal, no gabinete do corréu. Segundo a narrativa do MP, essa conduta configurou o crime de peculato-
desvio porque a ré apenas comparecia ao trabalho, para assinar o ponto sem, contudo, exercer suas
atribuições do cargo e, dessa forma, não faria jus à remuneração percebida.
Constatou-se, no caso concreto, que houve comunhão de esforços, a partir de janeiro de 2016, e que
teriam desviado, em proveito próprio, R$ 478.419,09, referentes aos vencimentos mensais da ré. Isso porque,
embora cedida para trabalhar no gabinete do corréu na Câmara de Vereadores, desempenhava outras
funções, não cumprindo com a carga horária semanal de 40 horas.
Todavia, não há imputação de que o corréu tomasse para si os vencimentos da ré, mas somente que
a referida servidora não desempenhava, efetivamente, as funções para as quais foi nomeada. Tampouco o
acórdão recorrido registra, em qualquer momento, que as verbas remuneratórias fossem destinadas a
qualquer pessoa, além da própria ré.
Nos termos da jurisprudência do STJ, não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já
lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele ocupado. Assim, a conduta da funcionária poderia ter
repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade administrativa, mas não se ajusta ao delito
de peculato, porque seus vencimentos efetivamente lhe pertenciam. Se o servidor merecia perceber a
remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a ser discutida na esfera
administrativo-sancionadora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade.

Presente o dolo específico de satisfazer à lascívia, própria ou de terceiro, a prática de ato libidinoso com menor
de 14 anos configura o crime de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP), independentemente da ligeireza ou
da superficialidade da conduta, não sendo possível a desclassificação para o delito de importunação sexual
(art. 215-A do CP).
77

STJ, 3ª Seção, REsp 1.959.697/SC (Tema 1121), Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 08/06/2022 – Informativo 740
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Jurisprudência Bloco II
Importante!

O delito de favorecimento à exploração sexual de adolescente não exige habitualidade. Trata-se de crime
instantâneo, que se consuma no momento em que o agente obtém a anuência para práticas sexuais com a
vítima menor de idade, mediante artifícios como a oferta de dinheiro ou outra vantagem, ainda que o ato
libidinoso não seja efetivamente praticado.

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Laurita Vaz, j. 20/09/2022, DJe 29/09/2022 – Informativo
754

O crime de injúria praticado pela internet por mensagens privadas, as quais somente o autor e o destinatário
têm acesso ao seu conteúdo, consuma-se no local em que a vítima tomou conhecimento do conteúdo
ofensivo.

STJ, 3ª Seção, CC 184.269/PB, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/02/2022 – Informativo 724

Manifestações por parte da imprensa de natureza crítica, satírica, agressiva, grosseira ou deselegante não
autorizam, por si sós, o uso do direito penal para, mesmo que de forma indireta, silenciar a atividade
jornalística.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 691.897/DF, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), Rel. Acd. Min. Sebastião
Reis Júnior, j. 17/05/2022, DJe 26/05/2022 – Informativo 738

Importante!

A qualificadora prevista no art. 129, § 2º, IV do Código Penal (deformidade permanente) abrange somente
lesões corporais que resultam em dano físico.

STJ, 6ª Turma, HC 689.921/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08/03/2022, DJe 14/03/2022 – Informativo 728

Atenção!

A qualificadora da paga (CP, art. 121, § 2º, I) não é aplicável aos mandantes do homicídio, porque o pagamento
é, para eles, a conduta que os integra no concurso de pessoas, mas não o motivo do crime.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.973.397/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/09/2022 – Informativo 748

Comentários:
Segundo a jurisprudência da 5ª Turma do STJ, os motivos do homicídio têm caráter eminentemente
subjetivo e, dessa forma, não se comunicam necessariamente entre os coautores do delito.
Especificamente sobre a qualificadora da paga, a 5ª Turma sedimentou a compreensão de que tal
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circunstância se aplica somente aos executores diretos do homicídio, porque são eles que, propriamente,
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cometem o crime “mediante paga ou promessa de recompensa”.

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Jurisprudência Bloco II
Como consequência, o mandante do delito não incorre na referida qualificadora, já que sua
contribuição para o cometimento do homicídio em concurso de pessoas, na forma de autoria mediata, é a
própria contratação e pagamento do assassinato.
Destaca a doutrina que os motivos do mandante, ao menos em tese, podem até ser nobres ou mesmo
se enquadrar no privilégio do § 1º do art. 121, já que o autor intelectual não age motivado pela recompensa;
somente o executor direto é quem, recebendo o pagamento ou a promessa, a tem como um dos motivos
determinantes de sua conduta.
Há, pois, uma diferenciação relevante entre as condutas de mandante e executor: para o primeiro, a
paga é a própria conduta que permite seu enquadramento no tipo penal como coautor, na modalidade de
autoria mediata; para o segundo, a paga é, efetivamente, o motivo (ou um dos motivos) pelo qual aderiu ao
concurso de agentes e executou a ação nuclear típica.
Seguindo esse raciocínio, a 5ª Turma do STJ, seguindo o entendimento que já vem sendo por ela
aplicado, concluiu que, como a paga não é o motivo da conduta do mandante, mas sim o meio de sua
exteriorização, referida qualificadora não se aplica a ele.
MAS ATENÇÃO! Existem precedentes mais antigos da própria 5ª Turma em sentido contrário, bem como da
6ª Turma do STJ, que já decidiu ser “possível a aplicação da qualificadora descrita no inciso I do § 2º do artigo
121 do Código Penal ao mandante do crime de homicídio” (HC 447.390/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe
30/04/2019).

Muito importante!

Excepcionalmente, presentes nos autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste, a prova
pericial torna-se prescindível.

STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.895.487/DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 26/04/2022, DJe
02/05/2022 – Informativo 735

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

Comentários:
Em regra, a orientação firmada no âmbito do STJ é no sentido de ser imprescindível, ou seja,
indispensável, nos termos dos art. 158 e 167 do CPP, a realização de exame pericial para o reconhecimento
das qualificadoras de escalada e arrombamento no caso do delito de furto (CP, art. 155, § 4º, II), quando os
vestígios não tiverem desaparecido e puderem ser constatados pelos peritos.
Contudo, importa também ressaltar a orientação de que, "'excepcionalmente, quando presentes nos
autos elementos aptos a comprovar a escalada de forma inconteste, pode-se reconhecer o suprimento da
prova pericial [...]'(AgRg no HC 556.549/SC, Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, DJe 01/03/2021)"
(AgRg no HC 691.823/SC, Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, DJe 30/09/2021).
No caso concreto, a circunstância qualificadora fora comprovada pela prova oral, inclusive pela
confissão do próprio réu, além da existência de laudo papiloscópico que identificou impressões digitais no
local apontado pela vítima como sendo o local onde o réu pulou o muro. Diante dessas peculiaridades,
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presentes no caso concreto, concluiu a 6ª Turma pela dispensa da prova pericial.


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Jurisprudência Bloco II
Muito importante!

A causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período
noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.890.981/SP (Tema 1087), Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 25/05/2022 – Informativo
738

Por outro lado, o STF possui entendimento diverso. Confira: “A causa de aumento do repouso noturno se
coaduna com o furto qualificado quando compatível com a situação fática.” (STF, 1ª T., HC 180.966-AgR, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 04/05/2020)

#FGVAMA
O tema foi cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJMS, sendo indicado como gabarito da questão a
alternativa que representava o entendimento do STJ. A FGV também cobrou o entendimento do STJ na prova
para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

1. Em razão da novatio legis in mellius engendrada pela Lei n. 13.654/2018, o emprego de arma branca,
embora não configure mais causa de aumento do crime de roubo, poderá ser utilizado como fundamento para
a majoração da pena-base, quando as circunstâncias do caso concreto assim justificarem.

2. O julgador deve fundamentar o novo apenamento ou justificar a não realização do incremento na basilar,
nos termos do que dispõe o art. 387, II e III, do CPP.

3. Não cabe a esta Corte Superior a transposição valorativa da circunstância para a primeira fase da dosimetria
ou mesmo compelir que o Tribunal de origem assim o faça, em razão da discricionariedade do julgador ao
aplicar a novatio legis in mellius.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.921.190/MG (Tema 110), Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 25/05/2022, DJe 26/05/2022 –
Informativo 738

Muito importante!

1. Nos termos do § 1º do art. 155 do Código Penal, se o crime de furto é praticado durante o repouso noturno,
a pena será aumentada de um terço.

2. O repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para descansar, devendo o
julgador atentar-se às características do caso concreto.

3. A situação de repouso está configurada quando presente a condição de sossego/tranquilidade do período


da noite, caso em que, em razão da diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor
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capacidade de resistência da vítima, facilita-se a concretização do crime.


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Jurisprudência Bloco II
4. São irrelevantes os fatos das vítimas estarem, ou não, dormindo no momento do crime, ou o local de sua
ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência desabitada ou em veículos, bastando que o
furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.979.989/RS (Recursos Repetitivos – Tema 1144), Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j.
22/06/2022 – Informativo 742

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

Para fins do disposto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990, a menção a inúmeros inadimplementos (inscritos em
dívida ativa) gera a presunção relativa da ausência de tentativa de regularização.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 728.271/SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 21/06/2022, DJe 24/06/2022 –
Informativo 742

O dolo de não recolher o tributo, de maneira genérica, não é suficiente para preencher o tipo subjetivo do
crime de sonegação fiscal (art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990).

STJ, 6ª Turma, HC 569.856/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 11/10/2022, DJe 14/10/2022 – Informativo
753

Comentários:
O Plenário do STF julgou a questão no RHC 163.334/SC e firmou o entendimento de que o contribuinte
que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da
mercadoria ou serviço incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990.
No âmbito do STJ, a questão foi pacificada pela 3ª Seção, por ocasião do julgamento do HC 399.109/SC,
que consignou: “para a configuração do delito em apreço, o fato de o agente registrar, apurar e declarar em
guia própria ou em livros fiscais o imposto devido não tem o condão de elidir ou exercer nenhuma influência
na prática do ilícito, visto que este não pressupõe a clandestinidade nem a fraude.”.
Note-se que o sujeito ativo do crime é o sujeito passivo da obrigação, que, na hipótese do ICMS
próprio, é o comerciante, conforme claramente descrito pelo art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990, que exige, para
sua configuração, seja a conduta dolosa (elemento subjetivo do tipo), consistente na consciência (ainda que
potencial) de não recolher o valor do tributo devido. A motivação não tem importância no campo da
tipicidade; por opção do legislador, é prescindível a existência de elemento subjetivo especial.
No caso concreto, o acusado, na condição de proprietário e administrador da empresa, deixou de
efetuar, no prazo legal, o recolhimento de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS cobrado
de consumidores, locupletando-se ilicitamente mediante este tipo de apropriação de valores e em prejuízo do
Estado, conforme declarado pelo sujeito passivo da obrigação nas DIMEs (Declarações do ICMS e do
Movimento Econômico) dos meses de março, maio, julho, outubro e dezembro de 2012 e dezembro de 2013.
A conduta acima descrita seria típica pelo seu aspecto formal. Contudo, o Superior Tribunal de Justiça
81

firmou o entendimento de ser necessário, para a condenação, a demonstração da contumácia e do dolo de


apropriação, circunstâncias não identificáveis na espécie.
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Jurisprudência Bloco II
Há de se levar em consideração o dolo com a imprescindível consideração do elemento subjetivo
especial de sonegar, qual seja, a vontade de se apropriar dos valores retidos, omitindo o cumprimento do
dever tributário com a intenção de não os recolher.
O dolo de não recolher o tributo, de maneira genérica, não seria suficiente para preencher o tipo
subjetivo do art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990. É necessária a presença de uma vontade de apropriação
fraudulenta dos valores do Fisco para materializar o elemento subjetivo especial do tipo em comento. Esse
ânimo manifesta-se pelo ardil de omitir e/ou alterar os valores devidos e se exclui com a devida declaração da
espécie tributária junto aos órgãos de administração fiscal. Na situação em exame, inexiste imputação de
fraude.
Dessa forma, no caso em análise, o não pagamento do tributo por seis meses aleatórios não é
circunstância suficiente para demonstrar a contumácia nem o dolo de apropriação. Ou seja, não se identifica,
em tais condutas, haver sido a sonegação fiscal o recurso usado pelo empresário para financiar a continuidade
da atividade em benefício próprio, em detrimento da arrecadação tributária.

Importante!

Ameaçar a vítima na presença de seu filho menor de idade justifica a valoração negativa da culpabilidade do
agente.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.964.508/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 29/03/2022, DJe 01/04/2022 – Informativo
731/2022

Importante!

É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação integral da atenuante da confissão


espontânea com a agravante da reincidência, seja ela específica ou não. Todavia, nos casos de
multirreincidência, deve ser reconhecida a preponderância da agravante prevista no art. 61, I, do Código Penal,
sendo admissível a sua compensação proporcional com a atenuante da confissão espontânea, em estrito
atendimento aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.931.145/SP (Recursos Repetitivos – Tema 585), Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.
22/06/2022, DJe 24/06/2022 – Informativo 742

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES e também foi cobrado na prova para Juiz do
TJSC, aplicada em 2022.

No concurso entre agravantes e atenuantes, a atenuante da confissão espontânea deve preponderar sobre a
agravante da dissimulação, nos termos do art. 67 do Código Penal.

STJ, 6ª Turma, HC 557.224/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 16/08/2022, DJe 19/08/2022 –
82

Informativo 745
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Jurisprudência Bloco II
A atenuante da confissão, mesmo qualificada, pode ser compensada integralmente com qualificadora
deslocada para a segunda fase da dosimetria em razão da pluralidade de qualificadoras.

STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 2.010.303/MG, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 14/11/2022, DJe
18/11/2022 – Informativo 761

O reconhecimento de que o réu, condenado pelo crime de corrupção de testemunha, praticou ato
incompatível com o cargo de policial militar, é fundamento válido para a decretação da perda do cargo público.

STJ, 6ª Turma, HC 710.966/SE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 15/03/2022, DJe 28/03/2022 – Informativo
731

Comentários:
A 6ª Turma do STJ considerou que a instância ordinária apresentou fundamentação válida para a
aplicação do art. 92, I, a, do Código Penal, asseverando que houve clara violação de dever para com a
Administração Pública por parte do sentenciado, que restou condenado por corromper testemunha que iria
depor em processo penal no qual figurava como réu, ato que, de fato, é incompatível com o cargo de policial
militar. Com efeito, o reconhecimento de que o réu praticou ato incompatível com o cargo por ele ocupado é
fundamento suficiente para a decretação do efeito extrapenal de perda do cargo público (AgRg no REsp n.
1.613.927/RS, 6ª Turma, DJe 30/09/2016).

Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva e a lavagem de dinheiro.

STJ, Corte Especial, APn 989/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/02/2022, DJe 22/02/2022 – Informativo 726

Comentários:
Embora o tipo penal constante no art. 317 do CP preveja a possibilidade do recebimento da vantagem
indevida de forma indireta, quando o agente pratica conduta dissimulada que lhe permita não apenas a posse
do recurso ilícito, mas também sirva para conferir-lhe aura de legalidade, imprimindo-lhe feição de licitude,
deve responder pelo crime de lavagem de dinheiro.
Apesar de a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de um crime antecedente, é
possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e do crime de
lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do
primeiro crime, circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da consunção.
Com efeito, a autolavagem (self laundering/autolavado) merece reprimenda estatal, na medida em
que o autor do crime antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se dos
bens e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma série de condutas típicas, a imprimir a aparência
de licitude do recurso obtido com a prática da infração penal anterior.
Dessa forma, se for confirmado, a partir do devido processo legal e da consequente disposição de
todos os meios de prova ao alvitre das partes, notoriamente o contraditório e a ampla defesa, que o
denunciado enfunou ares de legalidade ao dinheiro recebido e transferido, estará configurado o crime de
83

lavagem de capitais.
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Jurisprudência Bloco II
MUITO IMPORTANTE – Novo entendimento!

É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a fixação da pena-base
quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, neste último
caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não tenham sido considerados na primeira fase
do cálculo da pena.

STJ, 3ª Seção, HC 725.534/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 27/04/2022 – Informativo 734

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

Comentários:
A primeira informação que você precisa saber é que o art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, traz a figura
conhecida como “tráfico privilegiado”, que possui, em verdade, natureza de causa de diminuição de pena.
Assim, de acordo com o referido dispositivo, haverá a diminuição de 1/6 a 2/3 da pena quando presentes os
seguintes requisitos: (i) primariedade do agente, (ii) bons antecedentes, (iii) não dedicação a atividades
criminosas, e (iv) não integração à organização criminosa.
Além disso, o art. 42 da Lei de Drogas dispõe que: “O juiz, na fixação das penas, considerará, com
preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do
produto, a personalidade e a conduta social do agente.
Acontece que, no momento da dosimetria da pena do condenado pelo delito do art. 33 da Lei de
Drogas, o magistrado utilizava a circunstância da natureza e da quantidade da droga apreendida para
aumentar a pena-base (primeira fase) e, na terceira fase, ao aplicar a causa de diminuição do § 4º do art. 33,
utilizava-se do percentual mínimo (1/6) sob o mesmo fundamento: natureza e quantidade da substância
apreendida. Sobre isso, o STF firmou entendimento de que as circunstâncias da natureza e da quantidade da
droga apreendida devem ser levadas em consideração apenas em uma das fases do cálculo da pena, sob pena
de bis in idem (Tema 712, ARE 666.334, j. 03/04/2014).
No âmbito do STJ, contudo, havia certa divergência sobre o assunto. Como se vê do Informativo 731
(REsp 1.985.297/SP, j. 29/03/2022), o entendimento que vinha sendo adotado era no sentido de que a
natureza e quantidade da droga deveriam ser valoradas na primeira fase da dosimetria da pena, conforme
previsão do art. 42 da Lei de Drogas, e, supletivamente, esses mesmos vetores poderiam ser utilizados na
terceira fase, para afastamento da causa de diminuição de pena do § 4º do art. 33, se, conjugados com outras
circunstâncias do caso concreto, caracterizassem a dedicação do agente à atividade criminosa ou a integração
a organização criminosa.
Essa divergência acabou com julgamento deste HC 725.534/SP, ocorrido em 27/04/2022, sob a
relatoria do Min. Ribeiro Dantas, tendo a 3ª Seção do STJ se alinhado ao posicionamento do STF (Tema 712),
para decidir que: É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a fixação
da pena-base quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006,
neste último caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não tenham sidos considerados
na primeira fase do cálculo da pena.
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Jurisprudência Bloco II
A ausência de regulamentação do órgão competente acerca do procedimento de avaliação técnica quanto ao
preenchimento dos requisitos da autorização do cultivo e colheita de cannabis sativa para fins medicinais não
pode ser suprida pelo Poder Judiciário.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 155.610/CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 10/05/2022, DJe 13/05/2022 –
Informativo 736

A semi-imputabilidade, por si só, não afasta o tráfico de drogas e o seu caráter hediondo, tal como a forma
privilegiada.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 716.210/DF, Rel. Min Sebastião Reis Júnior, j. 10/05/2022, DJe 13/05/2022 –
Informativo 737

Comentários:
A 3ª Seção do STJ, em 23/11/2016, ao julgar a Pet. 11.796/DF, cancelou a Súmula n. 512/STJ e firmou
tese no sentido de que o tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006)
não é crime equiparado a hediondo (HC 375.963/SP, DJe 19/12/2018).
No caso concreto, a defesa requereu que fosse excluída a natureza hedionda do delito de tráfico de
drogas, sob o argumento de que, por se tratar o paciente de semi-imputável, seria similar ao crime de tráfico
privilegiado. Entretanto, afirmou a 6ª Turma do STJ que não há previsão legal sobre a semi-imputabilidade,
por si só, afastar da conduta do tráfico de drogas o seu caráter hediondo, tal como a forma privilegiada. Para
a 6ª Turma, não há que se falar em similitude entre a semi-imputabilidade e o tráfico privilegiado, que já traz
condições objetivas de redução da pena e que são capazes de afastar a hediondez do delito.

Importante!

No delito de tráfico de drogas praticado nas proximidades ou nas imediações de estabelecimento de ensino,
pode-se, excepcionalmente, em razão das peculiaridades do caso concreto, afastar a incidência da majorante
prevista no art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 728.750/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 17/05/2022, DJe 19/05/2022 –
Informativo 738

Comentários:
No caso, o tráfico foi cometido 28/04/2020, momento em que as escolas de ensino do DF estavam
fechadas por conta das medidas restritivas de combate à COVID-19, situação que perdurou entre março de
2020 e agosto de 2021, quando as aulas presenciais foram retomadas.
Veja-se, portanto, que a proximidade do comércio ilícito de drogas com os estabelecimentos de ensino
e esporte foi, na verdade, um elemento meramente acidental, sem nenhuma relação real e efetiva com a
traficância. Não há nenhum dado concreto de que haja o réu se aproveitado das facilidades de eventual
aglomeração de estudantes, de professores ou mesmo de casual hipossuficiência dos alunos da escola para, a
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partir delas, implementar o seu negócio ilícito e propagar, com maior facilidade, a venda, a aquisição, a
exposição à venda etc. de drogas.
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Jurisprudência Bloco II
Nesse contexto, por mais que tanto a jurisprudência quanto a doutrina entendam ser a majorante
descrita no inciso III do art. 40 de caráter precipuamente objetivo (não é, pois, em regra, necessário que se
comprove a efetiva mercancia nos locais elencados na lei, tampouco que a substância entorpecente atinja,
diretamente, os trabalhadores, os estudantes, as pessoas hospitalizadas etc.), não há como perder de vista a
razão de ser da causa especial de aumento de pena em questão.

#JURISDICA
Sobre o tema, vamos dar uma olhadinha em outros julgados relevantes:

Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de


aumento do art. 40, III, da Lei de Drogas, não importando quem seja o comprador.
Para incidência da referida causa de aumento é irrelevante se o agente infrator visa
ou não os frequentadores do local (STF, 2ª T., HC 138.944/SC, j. 21/03/2017, Info.
858).

É desnecessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a
majorante do art. 40, III, da Lei de Drogas. Se o agente comanda o tráfico de drogas
de dentro do presídio, deve incidir a referida causa de aumento de pena, mesmo que
os efeitos destes atos tenham se manifestado a quilômetros de distância, uma vez
que o dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por
dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento
dos crimes tenha ocorrido em seu interior (STJ, 5ª T., HC 440.888/MS, j. 15/10/2019,
Info. 659).

A prática do delito de tráfico de drogas nas proximidades de estabelecimentos de


ensino (art. 40, III, da Lei de Drogas) enseja a aplicação da majorante, sendo
desnecessária a prova de que o ilícito visava atingir os frequentadores desse local
(STJ, 6ª T., AgRg no REsp 1.558.551/MG, j. 12/09/2017).

É cabível a concessão de salvo-conduto para o plantio e o transporte de Cannabis Sativa para fins
exclusivamente terapêuticos, com base em receituário e laudo subscrito por profissional médico
especializado, e chancelado pela Anvisa.

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 14/06/2022 – Informativo 742

No mesmo sentido, a 5ª Turma do STJ: As condutas de plantar maconha para fins medicinais e importar
sementes para o plantio não preenchem a tipicidade material, motivo pelo qual se faz possível a expedição de
salvo-conduto, desde que comprovada a necessidade médica do tratamento. (5ª Turma, S/N (segredo de
justiça), Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 22/11/2022 – Informativo 758)
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MUITO IMPORTANTE!

É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a aplicação do art. 33, § 4º, da
Lei n. 11.343/2006.

A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas)
constitui direito subjetivo do acusado, caso presentes os requisitos legais, não sendo possível obstar sua
aplicação com base em considerações subjetivas do juiz.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.977.027/PR (Recursos Repetitivos – Tema 1139), Rel. Min. Laurita Vaz, j. 10/08/2022 –
Informativo 745

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

A apreensão de petrechos para a traficância, a depender das circunstâncias do caso concreto, pode afastar a
causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 773.113/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 04/10/2022, DJe 10/10/2022
– Informativo 752

Muito importante!

O fato de o flagrante do delito de tráfico de drogas ter ocorrido em comunidade apontada como local
dominado por facção criminosa, por si só, não permite presumir que os réus eram associados (de forma estável
e permanente) à referida facção, sob pena de se validar a adoção de uma seleção criminalizante norteada pelo
critério espacial e de se inverter o ônus probatório, atribuindo prova diabólica de fato negativo à defesa.

STJ, 6ª Turma, HC 739.951/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/08/2022, DJe 18/08/2022 – Informativo 753

As alterações providas pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019) apenas afastaram o caráter hediondo ou
equiparado do tráfico privilegiado, previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, nada dispondo sobre os
demais dispositivos da Lei de Drogas.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 748.033/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 27/09/2022, DJe 30/09/2022 – Informativo
754
STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 754.913/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 06/12/2022 – Informativo 760

Muito importante!

A Lei n. 11.340/2006 (Maria da Penha) é aplicável às mulheres trans em situação de violência doméstica.
87
Página

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 05/04/2022 – Informativo 732

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
A realização da audiência prevista no art. 16 da Lei n. 11.340/2006 somente se faz necessária se a vítima
houver manifestado, de alguma forma, em momento anterior ao recebimento da denúncia, ânimo de desistir
da representação.

STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1.946.824/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 14/06/2022, DJe 17/06/2022 –
Informativo 743

Comentários:
De início, destaca-se que "a Lei Maria da Penha disciplina procedimento próprio para que a vítima
possa eventualmente se retratar de representação já apresentada. Nesse sentido, dispõe o art. 16 da Lei n.
11.340/2006 que, "só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade" (HC n. 371.470/RS, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma,
DJe 25/11/2016).
De fato, o art. 16 da Lei Federal n. 11.340/2006 dispõe que "nas ações penais públicas condicionadas
à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz,
em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público". Por sua vez, o magistrado de primeiro grau deve designar a audiência prevista no art. 16
da Lei tão somente quando existir algum indício, antes do recebimento da denúncia, da intenção da vítima em
se retratar.
Nesse mesmo sentido, o STJ firmou o entendimento de que a realização da audiência prevista no art.
16 da Lei n. 11.340/2006 somente se faz necessária se a vítima houver manifestado, de alguma forma, em
momento anterior ao recebimento da denúncia, ânimo de desistir da representação.

Importante!

A audiência prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/2006 tem por objetivo confirmar a retratação, não a
representação, e não pode ser designada de ofício pelo juiz. Sua realização somente é necessária caso haja
manifestação do desejo da vítima de se retratar trazida aos autos antes do recebimento da denúncia.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.977.547/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 08/03/2023 (Recurso Repetitivo –
Tema 1167) – Informativo 766

É indevida a manutenção de medidas protetivas na hipótese de conclusão do inquérito policial sem


indiciamento do acusado.

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 20/09/2022 – Informativo 750

Comentários:
O STJ possui o entendimento segundo o qual "as medidas de urgência, protetivas da mulher, do
patrimônio e da relação familiar, somente podem ser entendidas por seu caráter de cautelaridade - vigentes
de imediato, mas apenas enquanto necessárias ao processo e a seus fins" (AgRg no REsp 1.769.759/SP, 6ª
88

Turma, j. 07/05/2019, DJe 14/05/2019).


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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
No caso, foram deferidas medidas protetivas pelo prazo de seis meses. Ao término, as medidas foram
prorrogadas por mais seis meses. Todavia, apesar de as medidas protetivas terem sido devidamente
fundamentadas, ocorreu a conclusão do inquérito policial sem indiciamento do recorrente.
Nesse sentido, tem-se que "a imposição das restrições de liberdade ao recorrente, por medida de
caráter cautelar, de modo indefinido e desatrelado de inquérito policial ou processo penal em andamento,
significa, na prática, infligir-lhe verdadeira pena sem o devido processo legal, resultando em constrangimento
ilegal" (RHC 94.320/BA, 5ª Turma, j. 09/10/2018, DJe 24/10/2018).

As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha têm natureza
de cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para apresentar contestação, tampouco a
possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei processual civil.

STJ, 5ª Turma, REsp 2.009.402/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 08/11/2022 –
Informativo 756

É ilegal a fixação ad eternum de medida protetiva, devendo o magistrado avaliar periodicamente a pertinência
da manutenção da cautela imposta.

STJ, 6ª Turma, HC 605.113/SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 08/11/2022 – Informativo 756

O inadimplemento de pensão alimentícia apenas configura crime de abandono material quando o agente
possui recursos para prover o pagamento e deixa de fazê-lo propositadamente.

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 04/10/2022, DJe 17/10/2022 –
Informativo 758

Importante!

O acórdão condenatório de que trata o inciso IV do art. 117 do Código Penal interrompe a prescrição, inclusive
quando confirmatório de sentença condenatória, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena
anteriormente imposta.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.930.130/MG (Recursos Repetitivos – Tema 1100), Rel. Min. João Otávio de Noronha, j.
10/08/2022 – Informativo 744

O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória é o trânsito em julgado para
ambas as partes.

STJ, 3ª Seção, AgRg no REsp 1.983.259/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Jpunior, j. 26/10/2022, DJe 03/11/2022 –
Informativo 755
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Admite-se reconhecer a não punibilidade de um furto de coisa com valor insignificante, ainda que presentes
antecedentes penais do agente, se não denotarem estes tratar-se de alguém que se dedica, com
habitualidade, a cometer crimes patrimoniais.

STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.986.729/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 28/06/2022, DJe 30/06/2022 –
Informativo 744

A multirreincidência específica somada ao fato de o acusado estar em prisão domiciliar durante as reiterações
criminosas são circunstâncias que inviabilizam a aplicação do princípio da insignificância.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.957.218/MG, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 23/08/2022 – Informativo
746

Importante!

Dadas as peculiaridades do caso concreto, admite-se que ao réu primário, condenado à pena igual ou inferior
a 4 (quatro) anos de reclusão, seja fixado o regime inicial aberto, ainda que negativada circunstância judicial.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.970.578/SC, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 03/05/2022 – Informativo
735

Muito importante!

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito do art. 28 da Lei n.
11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.

STF, 2ª Turma, RHC 178.512/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 22/03/2022 – Informativo 1048

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado na prova para Juiz do TJMS.

É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal


(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal antes do
recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores referentes aos juros e correção monetária durante
a tramitação da ação penal.

De acordo com o STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano,
até o recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição”.

STF, 1ª Turma, HC 165.312, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/04/2020 – Informativo 973/2020
90
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio culposo na direção de
veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que tenha sido realizada composição civil entre o autor do crime
e a família da vítima. Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do CP é
indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 510.052/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe 04/02/2020

O benefício do arrependimento posterior comunica-se aos coautores e partícipes que não tenham
participado da restituição da coisa ou da reparação do dano. Assim, uma vez reparado o dano integralmente
por um dos autores do delito, a causa de diminuição de pena do arrependimento posterior, prevista no art.
16 do CP, estende-se aos demais coautores.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.187.976/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 07/11/2013 (Informativo 531)

Importante!

A prática de crimes em concurso com dois adolescentes dá ensejo à condenação por dois crimes de corrupção
de menores.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.680.114/GO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 10/10/2017 (Informativo 613)

Comentários:
O bem jurídico tutelado pelo art. 244-B do ECA é a formação moral da criança e do adolescente a fim
de que eles não ingressem ou permaneçam no mundo da criminalidade. Se o bem jurídico tutelado pelo crime
de corrupção de menores é a formação moral da criança e do adolescente, caso duas crianças/adolescentes
tiverem seu amadurecimento moral violado, em razão de estímulos a praticar o crime ou a permanecer na
seara criminosa, dois foram os bens jurídicos violados. Da mesma forma, dois são os sujeitos passivos
atingidos, uma vez que a doutrina é unânime em reconhecer que o sujeito passivo do crime de corrupção de
menores é a criança ou o adolescente submetido à corrupção.
O entendimento perfilhado também se coaduna com os princípios da prioridade absoluta e do melhor
interesse da criança e do adolescente, vez que trata cada criança ou adolescente como sujeitos de direitos.
Ademais, seria desarrazoado atribuir a prática de crime único ao réu que corrompeu dois adolescentes, assim
como ao que corrompeu apenas um.

É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente (Código de Trânsito Brasileiro, art.
305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe
possa ser atribuída. Penas – detenção de seis meses a um ano, ou multa).

STF, Plenário, ADC 35/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ ac. Min. Edson Fachin, j. 09/10/2020 – Informativo
994/2020
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
A conduta de ingressar em estabelecimento prisional com chip de celular não se subsome ao tipo penal
previsto no art. 349-A do Código Penal.

STJ, 5ª Turma, HC 619.776/DF, rel. min. Ribeiro Dantas, j. 20/04/2021 – Informativo 693/2021

Comentários:
O art. 349-A do Código Penal prevê o seguinte tipo penal: Ingressar, promover, intermediar, auxiliar
ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal,
em estabelecimento prisional. Como se verifica, o legislador se limitou em punir – basicamente – o ingresso
ou o auxílio na introdução de aparelho telefônico móvel ou similar em estabelecimento prisional, não fazendo
referência a qualquer outro componente ou acessório utilizado para viabilizar o funcionamento desses
equipamentos.
Portanto, em decorrência da principiologia básica do direito penal (legalidade), na falta de lei prévia
que defina o ingresso de chip em estabelecimento prisional como comportamento típico (nullum crimen sine
lege), impõe-se a absolvição pelo delito previsto no art. 349-A do Código Penal.

Para tipificação do art. 317 do Código Penal – corrupção passiva – deve ser demonstrada a solicitação ou
recebimento de vantagem indevida pelo agente público, não configurada quando há mero ressarcimento ou
reembolso de despesa.

STJ, 5ª Turma, HC 541.447/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/09/2021, DJe 20/09/2021 – Informativo
709/2021

A mera interpretação equivocada da norma tributária não configura o crime de excesso de exação.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.943.262/SC, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, j. 05/10/2021 – Informativo 712/2021

Nas hipóteses de crime contra a economia popular por pirâmide financeira, a identificação de algumas das
vítimas não enseja a responsabilização penal do agente pela prática de estelionato.

STJ, 6ª Turma, RHC 132.655/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 28/09/2021, DJe 30/09/2021

A retratação da calúnia, feita antes da sentença, acarreta a extinção da punibilidade do agente independente
de aceitação do ofendido.

STJ, APn 912/RJ, Corte Especial, rel. Min. Laurita Vaz, j. 03/03/2021 – Informativo 687/2021

O crime de exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345) é formal e consuma-se com o emprego do
meio arbitrário, ainda que o agente não consiga satisfazer a sua pretensão.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.860.791, rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/02/2021 – Informativo 685/2021
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
O momento consumativo do crime de formação de cartel deve ser analisado conforme o caso concreto, sendo
errônea sua classificação como eventualmente permanente.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.800.334/SP, Rel. Min. Joel Ilan Parcionik, j. 09/11/2021, DJe 17/11/2021 – Informativo
718/2021

O delito do art. 2º, § 1º, da Lei n. 12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa) é crime material, inclusive na
modalidade embaraçar.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.817.416/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 03/08/2021 – Informativo 703/2021

A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume o
papel de garantidora.

STJ, 5ª Turma, HC 603.195, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/10/2020, DJe 16/10/2020 – Informativo 681/2020

A idade da vítima é irrelevante para afastar a competência da vara especializada em violência doméstica e
familiar contra a mulher e as normas protetivas da Lei Maria da Penha.

STJ, 6ª Turma, RHC 121.813/RJ, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 20/10/2020, DJe 28/10/2020 – Informativo
682/2020

O mentor intelectual dos atos libidinosos responde pelo crime de estupro de vulnerável.

STJ, 6ª Turma, HC 478.310/PA, Rel. Min. Rogério Schietti, j. 09/02/2021 – Informativo 685/2021

O delito previsto no art. 218-B, § 2º, I, do Código Penal, na situação de exploração sexual, não exige a figura
do terceiro intermediador.

STJ, 3ª Seção, EREsp 1.530.637/SP, rel. min. Ribeiro Dantas, j. 24/03/2021 – Informativo 690/2021

A simulação de arma de fogo pode sim configurar a “grave ameaça”, para fins do tipo do art. 213 do Código
Penal.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.916.611/RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (desembargador convocado do TRF-1), j.
21/09/2021 – Informativo 711/2021

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES.
93

Comentário:
No caso concreto julgado pela 6ª Turma do STJ, o Tribunal de origem havia desclassificado o crime de
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estupro para o de importunação sexual, por entender que não houve emprego de violência ou de grave

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
ameaça à pessoa, mas, sim, violência imprópria, mediante simulação de porte de arma de fogo. Entretanto, a
jurisprudência do STJ tem-se firmado no sentido de que a simulação de arma de fogo, desde que seja fato
comprovado e confirmado pelas instâncias ordinárias, pode sim configurar a “grave ameaça”, pois esse é de
fato o sentimento unilateral provocado no espírito da vítima subjugada. Diante disso, a 6ª Turma reformou o
acórdão do Tribunal de origem, para reconhecer que a simulação de arma de fogo configura grave ameaça,
de modo que o réu deverá ser processado pelo crime de estupro, e não de importunação sexual.

Muito importante!

Os crimes contra a ordem tributária pressupõem a prévia constituição definitiva do crédito na via
administrativa para fins de tipificação da conduta – esse é o entendimento que deu origem à Súmula
Vinculante n. 24.

Não obstante, o Supremo Tribunal Federal tem decidido que a regra contida na Súmula Vinculante 24 pode
ser mitigada de acordo com as peculiaridades do caso concreto, sendo possível dar início à persecução penal
antes de encerrado o procedimento administrativo, nos casos de: (a) embaraço à fiscalização tributária, ou (b)
diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal.

STF, 1ª Turma, ARE 936653 AgR, Rel. Min Roberto Barroso, j. 24/05/2016

No mesmo sentido:

A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que se admite a mitigação da Súmula Vinculante
n. 24/STF nos casos em que houver embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da prática de outras
infrações de natureza não tributária.
STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 551422/PI, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 09/06/2020.
STJ, 5ª Turma, RHC 134.016/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 23/03/2021

A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação pela prática de qualquer
crime, eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no plano fático, do nexo de
causalidade entre a conduta e o resultado delituoso.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.854.893/SP, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 08/09/2020, DJe 14/09/2020 – Informativo
681/2020

Condenações criminais transitadas em julgado, não consideradas para caracterizar a reincidência, somente
podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais, não se admitindo sua
utilização para desabonar a personalidade ou a conduta social do agente.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.794.854/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 23/06/2021 – Informativo 702/2021
94

Comentários:
No art. 59 do Código Penal há oito circunstâncias judiciais elencadas pelo legislador para
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individualização da pena na primeira fase da dosimetria, são elas: (i) a culpabilidade, (ii) os antecedentes, (iii)

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Jurisprudência Bloco II
a conduta social, e (iv) a personalidade do agente; (v) os motivos, (vi) as circunstâncias, e (vii) as consequências
do crime; e (viii) o comportamento da vítima.
Ao considerar desfavoráveis as circunstâncias judiciais, deve o juiz declinar, motivadamente, as suas
razões, sob pena de ofensa ao art. 93, IX, da CF/88.
Isso posto, devemos entender que por “conduta social” compreende-se o comportamento do
indivíduo perante a sociedade, não se considerando o que diz respeito à prática de infrações penais. Ainda, a
“personalidade do agente” deve ser aferida a partir de uma “análise pormenorizada, com base em elementos
concretos extraídos dos autos, acerca da insensibilidade, desonestidade e modo de agir do criminoso para a
consumação do delito” (STJ, AgRg no REsp 1.918.046/SP, 5ª Turma, DJe 19/04/2021).
Apenas quando se fala nos “antecedentes” do agente, é que se analisa o seu passado criminal, ou seja,
o seu histórico criminal. Sobre esse ponto, a jurisprudência tanto do STF quanto do STJ orienta-se no sentido
de “repelir a possibilidade jurídica de o magistrado sentenciante valorar negativamente, na primeira fase da
operação de dosimetria penal, as circunstâncias judiciais da personalidade e da conduta social, quando se
utiliza, para esse efeito, de condenações criminais anteriores, ainda que transitadas em julgado, pois esse
específico aspecto (condenações penais) há de caracterizar, unicamente, maus antecedentes” (STF, RHC
144.337-AgR, 2ª Turma, DJe 22/11/2019).
Seguindo esse raciocínio, concluiu a 3ª Seção do STJ que, quando não utilizadas para caracterização
de reincidência, as eventuais condenações criminais transitadas em julgado apenas podem ser valoradas, na
primeira fase da dosimetria da pena, a título de antecedentes criminais, não sendo possível a utilização, pelo
julgador, para desabonar os vetores personalidade e conduta social do agente.

O simples fato de os cartuchos apreendidos estarem desacompanhados da respectiva arma de fogo não
implica, por si só, a atipicidade da conduta, de maneira que as peculiaridades do caso concreto devem ser
analisadas a fim de se verificar: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) ausência de periculosidade
social da ação, (c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão
jurídica provocada.

No caso concreto, embora o réu tenha sido preso com apenas uma munição de uso restrito, desacompanhada
de arma de fogo, ele também foi condenado pela prática de tráfico de drogas e associação para o tráfico, o
que afasta o reconhecimento da atipicidade da conduta, por não estarem demonstradas a mínima
ofensividade da ação e a ausência de periculosidade social exigidas para tal finalidade.

STJ, 3ª Seção, EREsp 1.856.980/SC, Rel. Min. Joel Ilan Parcionick, j. 22/09/2021 – Informativo 710/2021

MUITO IMPORTANTE – COMENTÁRIOS:


É muito importante ter em mente, inicialmente, que os delitos de posse e de porte de arma de fogo
são crimes de perigo abstrato, de modo que, em regra, é irrelevante a quantidade de munição apreendida,
para que o crime esteja configurado.
No entanto, a depender do caso concreto, tanto o STJ quanto o STF reconhecem a possibilidade de
aplicação do princípio da insignificância quando o caso envolver pouca quantidade de munição
desacompanhada da arma. Para melhor compreensão, confiram os seguintes julgados:
95

É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição


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desacompanhada de arma.
STF, HC 133.984/MG, j. 17/05/2016, info. 826.

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Jurisprudência Bloco II

O STJ, alinhando-se ao STF, tem entendido pela incidência do princípio da


insignificância aos crimes previstos na Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), afastando a tipicidade material da conduta quando evidenciada
flagrante desproporcionalidade da resposta penal. A aplicação do princípio da
insignificância deve, contudo, ficar restrita a hipóteses excepcionais que
demonstrem a inexpressividade da lesão, de forma que a incidência do mencionado
princípio não pode levar ao esvaziamento do conteúdo jurídico do tipo penal em
apreço – porte de arma, incorrendo em proteção deficiente ao bem jurídico
tutelado.
STJ, 6ª Turma, HC 473.334/RJ, j. 21/05/2019.

Para que exista, de fato, a possibilidade de incidência do princípio da insignificância,


deve-se examinar o caso concreto, afastando-se o critério meramente matemático,
de forma que deve ser considerado todo o contexto fático no qual houve a
apreensão da munição, a indicar a patente ausência de lesividade jurídica ao bem
tutelado.
STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1.960.029/SP, j. 05/10/2021.

O crime de porte de arma de fogo, seja de uso permitido ou restrito, na modalidade transportar, admite
participação.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.887.992/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 07/12/2021 – Informativo 721/2021

Muito importante!

A tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios da dignidade da pessoa
humana (CF/88, Art. 1º, III), da proteção à vida e da igualdade de gênero (CF/88, art. 5º, caput).

STF, Plenário, ADPF 779/DF, rel. min. Dias Toffoli, j. 13/03/2021 – Informativo 1009/2021

Comentários:
Por unanimidade, o STF firmou entendimento de que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional,
por violar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade de
gênero.
Em seu voto, o relator, ministro Dias Toffoli, deu interpretação conforme a Constituição a dispositivos
do Código Penal e do Código de Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do
instituto da legítima defesa.
Segundo o relator, além de ser um argumento "atécnico e extrajurídico", a tese é um "estratagema
cruel, subversivo da dignidade da pessoa humana e dos direitos à igualdade e à vida" e totalmente
discriminatório contra a mulher. Para ele, trata-se de recurso argumentativo e retórico "odioso, desumano e
96

cruel" utilizado pelas defesas de acusados de feminicídio ou agressões contra mulher para imputar às vítimas
a causa de suas próprias mortes e lesões, contribuindo para a naturalização e a perpetuação da cultura de
Página

violência contra as mulheres no Brasil.

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Jurisprudência Bloco II
Ao ressaltar que o argumento não é, tecnicamente, legítima defesa (essa, sim, causa excludente de
ilicitude), Toffoli registrou que, para evitar que a autoridade judiciária absolva o agente que agiu movido por
ciúme, por exemplo, foi inserida no Código Penal a regra do art. 28, segundo a qual a emoção ou a paixão não
excluem a imputabilidade penal. Nas palavras do relator "aquele que pratica feminicídio ou usa de violência,
com a justificativa de reprimir um adultério, não está a se defender, mas a atacar uma mulher de forma
desproporcional, covarde e criminosa".
Para o ministro Alexandre de Moraes, o Estado não pode permanecer omisso perante a naturalização
da violência contra a mulher, sob pena de ofensa ao princípio da vedação da proteção insuficiente e do
descumprimento ao compromisso adotado pelo Brasil de coibir a violência no âmbito das relações familiares.
Ao final do julgamento, o Plenário do STF referendou a liminar concedida pelo ministro Dias Toffoli na
ADPF 779, para: (i) firmar o entendimento de que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por
contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida
e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação conforme à Constituição aos arts.
23, II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a
excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa e, por consequência, (iii) obstar à
defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juízo que utilizem, direta ou indiretamente, a tese de legítima
defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais,
bem como durante julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento, nos
termos do voto do Relator.

O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que
a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que verse
sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave.

STF, Plenário, RE 776.823/RS, rel. Min. Edson Fachin, j. 04/12/2020 – Informativo 1001/2020

Aplica-se o limite temporal previsto no art. 75 do Código Penal ao apenado em livramento condicional.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.922.012/RS, Rel. Min. Joel Ilan Parcionik, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 – Informativo
712/2021

O período de suspensão do dever de apresentação mensal em juízo, em razão da pandemia de Covid-19, pode
ser reconhecido como pena efetivamente cumprida.

STJ, 6ª Turma, HC 657.382/SC, rel. min. Laurita Vaz, j. 27/04/2021 – Informativo 694/2021

Não havendo na sentença condenatória transitada em julgado determinação expressa de reparação do dano
ou de devolução do produto do ilícito, não pode o juízo das execuções inserir referida condição para fins de
progressão de regime.
97

STJ, 5ª Turma, HC 686.334/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 14/09/2021, DJe 20/09/2021 –
Página

Informativo 709/2021

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Jurisprudência Bloco II

O tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12 horas a cada 3 dias deve ser considerado para
fins de remição da pena.

STJ, 6ª Turma, HC 461.047/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 04/08/2020, DJe 14/08/2020 – Informativo n. 677

É necessário ficar atento a esse tema, pois a mesma 6ª Turma, em julgamento realizado em novembro
de 2019, entendeu de maneira diferente. Segundo a Ministra relatora deste HC, Min. Laurita Vaz, o
entendimento até então firmado necessita ser revisto, de modo que, citando a doutrina de Rodrigo Duque
Estrada Roig (Defensor Público do RJ), “nenhum esforço da pessoa presa para reduzir seu grau de
vulnerabilidade – em especial em um ambiente dessocializador por natureza – pode ser desprezado. Em última
análise, o princípio da humanidade demanda que todas as oportunidades redutoras de danos sejam
aproveitadas, evitando-se desperdícios de esforço humano e tempo existencial [...] não é razoável admitir-se
a interpretação ampliativa da lei para efeito de remição por trabalho e vedá-la para fins de remição por
estudo”.

Importante!

Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de liberdade e multa, o inadimplemento da sanção


pecuniária, pelo condenado que comprovar impossibilidade de fazê-lo, não obsta o reconhecimento da
extinção da punibilidade.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.785.383/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 24/11/2021, DJe 30/11/2021 (Tema 931)
– Informativo 720/2021

Comentários:
Não se pode desconsiderar que o cenário do sistema carcerário expõe disparidades sócio-econômicas
da sociedade brasileira, as quais ultrapassam o inegável caráter seletivo do sistema punitivo e se projetam não
apenas como mecanismo de aprisionamento físico, mas também de confinamento em sua comunidade, a
reduzir o indivíduo desencarcerado ao status de um pária social. Outra não é a conclusão a que se poderia
conduzir – relativamente aos condenados em comprovada situação de hipossuficiência econômica – a
subordinação da retomada dos seus direitos políticos e de sua consequente reinserção social ao prévio
adimplemento da pena de multa.
Com base nesse raciocínio, concluiu a 3ª Seção do STJ que condicionar a extinção da punibilidade, após
o cumprimento da pena corporal, ao adimplemento da pena de multa, acentua a já agravada situação de
penúria e de indigência dos apenados hipossuficientes e sobreonera pessoas próximas ao condenado,
impondo a todo o seu grupo familiar privações decorrentes de sua impossibilitada reabilitação social, o que
põe sob risco a implementação da política estatal de proteção da família (CF/88, art. 226).

A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela
valoração negativa das consequências do crime.
98

STJ, 3ª Seção, AgRg no REsp 1.851.435/PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 12/08/2020, DJe 21/09/2020 –
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Informativo 679/2020

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Jurisprudência Bloco II

MUITA ATENÇÃO AQUI!

O dolo eventual é compatível com a forma qualificada do crime de homicídio?

Em se tratando das qualificadoras do motivo fútil ou torpe, previstas nos incisos I e II do § 2º do art. 121, tanto
o STJ quanto o STF entendem pela compatibilização;

Quanto às qualificadoras de ordem objetiva, previstas nos incisos III e IV do § 2º do art. 121, há divergência
entre os Tribunais Superiores, veja:

1) O dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previstas no art. 121,
§ 2º, III e IV do Código Penal (STJ, 5ª Turma, REsp 1.836.556/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornick, j. 15/06/2021 –
Informativo 701/2021)

2) O dolo eventual não é compatível com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada,
dissimulação), pois para incidência da qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o
agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. No caso do
dolo eventual o agente não tem essa intenção, considerando que ele não quer matar a vítima, mas apenas
assume o risco de produção desse resultado. Assim, como o agente não deseja a produção do resultado, ou
seja, como ele não direciona a sua vontade para causar surpresa à vítima, ele não pode responder por essa
circunstância (STF, 2ª Turma, HC 111.442/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/08/2012 – Informativo 677).

3) A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do Código Penal não se
compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de premeditação,
em que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia
do sucesso da execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma
direcionada à obtenção de ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de
produzi-la (STJ, 6ª Turma, EDcl no REsp 1.848.841/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 02/02/2021).

Dolo eventual: Quando o agente assume o risco de produzir o resultado (CP, art. 18, I, segunda parte).
Conforme explica o professor Gabriel Habib, o agente faz a representação mental do resultado, mas não quer,
diretamente, que ele se produza, no entanto assume o risco de produzi-lo (o resultado, portanto, pode ou não
acontecer).

Qualificadoras objetivas no crime de homicídio (CP, art. 121, § 2º, III e IV): Se o homicídio é cometido com
emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum, ou à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido.

Comentários ao julgado da 5ª Turma, REsp 1.836.556/PR:


A jurisprudência do STJ e do STF oscila a respeito da compatibilidade ou incompatibilidade do dolo
99

eventual no homicídio com as qualificadoras objetivas (art. 121, § 2º, III e IV). Aqueles que compreendem pela
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incompatibilidade escoram tal posicionamento na percepção de que o autor escolhe o meio e o modo de
proceder com outra finalidade, lícita ou não, embora seja previsível e admitida a morte. De acordo com o

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Jurisprudência Bloco II
entendimento da 5ª Turma, referido posicionamento retira, definitivamente, do mundo jurídico a
possibilidade fática de existir um autor que opte por utilizar meio e modo específicos mais reprováveis para
alcançar fim diverso mesmo sendo previsível o resultado morte e admissível a sua concretização. Para a 5ª
Turma, a justificativa de incompatibilidade entre o dolo eventual e as qualificadoras objetivas, inexistência de
dolo direto para o resultado morte, se contrapõe à admissão no STJ de compatibilidade entre o dolo eventual
e o motivo específico e mais reprovável (CP, art. 121, § 2º, I e II). Com essas considerações, a 5ª Turma elegeu
posicionamento pela compatibilidade, em tese, do dolo eventual também com as qualificadoras objetivas
dos incisos III e IV do § 2º do art. 121 do CP. Em suma, as referidas qualificadoras serão devidas quando
constatado que o autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável
para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido o resultado morte.

As qualificadoras de homicídio fundadas exclusivamente em depoimento indireto (hearsay testimony), violam


o art. 155 do CPP, que deve ser aplicado aos veredictos condenatórios do Tribunal do Júri.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.916.733/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 23/11/2021, DJe 29/11/2021 – Informativo 719

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022.

O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de


incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico legal.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.802.845/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, j. 23/06/2020, DJe 30/06/2020 – Informativo
675/2020

Adotando-se a teoria objetivo-formal, o rompimento de cadeado e destruição de fechadura da porta da casa


da vítima, com o intuito de, mediante uso de arma de fogo, efetuar subtração patrimonial da residência,
configuram meros atos preparatórios, que impedem a condenação por tentativa de roubo circunstanciado.

STJ, 5ª Turma, AREsp 974.254/TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 21/09/2021, DJe 27/09/2021 – Informativo
711/2021

Importante!

Na falsidade ideológica, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o


momento da consumação do delito e não o da eventual reiteração de seus efeitos.

STJ, 3ª Seção, RvCr 5233/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 13/05/2020, DJe 25/05/2020 –
Informativo 672/2020
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MUITO IMPORTANTE!
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O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível.

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Jurisprudência Bloco II
STF, Plenário, HC154.248/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 28/10/2021 – Informativo 1036/2021

Comentários:
O crime de injúria racial vem tipificado no art. 140, § 3º, do Código Penal, que dispõe o seguinte:
“Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa. (...) Se
a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão de 1 a 3 anos e multa.
De acordo com o Plenário do Supremo, consistindo o racismo em processo sistemático de
discriminação que elege a raça como critério distintivo para estabelecer desvantagens valorativas e materiais,
a injúria racial consuma os objetivos concretos da circulação de estereótipos e estigmas raciais.
Em ambos os casos, há o emprego de elementos discriminatórios baseados naquilo que
sociopoliticamente constitui raça, para a violação, o ataque, a supressão de direitos fundamentais do
ofendido. Sendo assim, excluir o crime de injúria racial do âmbito do mandado constitucional de criminalização
por meras considerações formalistas desprovidas de substância, por uma leitura geográfica apartada da busca
da compreensão do sentido e do alcance do mandado constitucional de criminalização, é restringir-lhe
indevidamente a aplicabilidade, negando-lhe vigência.

A prestação pecuniária prevista no art. 45, § 1º, do Código Penal pode ser compensada com o montante fixado
com fundamento no art. 387, IV, do Código de Processo Penal, ante a coincidência de beneficiários.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.882.059/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 19/10/2021 – Informativo 714/2021

A multirreincidência revela maior necessidade de repressão e rigor penal, a prevalecer sobre a atenuante da
confissão, sendo vedada a compensação integral. Assim, em caso de multirreincidência, prevalecerá a
agravante e haverá apenas a compensação parcial/proporcional (mas não integral).

STJ, 5ª Turma, HC 620.640, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 02/02/2021

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.

Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de
novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige,
contudo, forma específica para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja
demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 16/08/2018
STF, 1ª Turma, HC 162.548 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 16/06/2020 – Informativo 982
101

Importante!

A reincidência específica tratada no art. 44, § 3º, do Código Penal somente se aplica quando forem idênticos,
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e não apenas de mesma espécie, os crimes praticados.

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Jurisprudência Bloco II

STJ, 3ª Seção, AREsp 1.716.664/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 25/08/2021

Comentários:
Primeiramente, leia com atenção o que diz o art. 44 do Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 2º. Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por
duas penas restritivas de direitos.
§ 3º. Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que,
em face da condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
§ 4º. A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva
de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.
§ 5º. Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz
da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for
possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.

A 3ª Seção do STJ decidiu por superar a tese de que a reincidência em crimes da mesma espécie
impede, em absoluto, a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, porque somente
a reincidência no mesmo crime (ou seja, aquele constante do mesmo tipo penal) é capaz de fazê-lo, nos
termos exatos do § 3º do art. 44 do CP. Acrescentou-se, ainda, que, nos demais casos de reincidência, caberá
ao Judiciário avaliar se a substituição é ou não recomendável, em face da condenação anterior.
Isso porque, para a 3ª Seção, o princípio da vedação à analogia in malam partem recomenda que não
seja ampliado o conceito de “mesmo crime”, existindo, a toda evidência, uma distinção de significado entre
“mesmo crime” e “crimes da mesma espécie”. Assim, se o legislador, no particular dispositivo legal em análise,
optou pela expressão “mesmo crime”, sua escolha deve ser respeitada.

É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.


102

STJ, 3ª Seção, EREsp 1.624.564, rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/10/2020, DJe 21/10/2020 – Informativo 683/2020
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Comentários:

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Jurisprudência Bloco II
De acordo com a relatora, Min. Laurita Vaz, "As condutas delituosas estão adstritas a ações voltadas
para o consumo de droga e aos núcleos verbais de semear, cultivar ou colher plantas destinadas à preparação
de pequena quantidade de droga, também para consumo pessoal. Sob essa óptica, o ato de importar pequena
quantidade de semente configuraria, em tese, mero ato preparatório para o crime do artigo 28, parágrafo 1º
– impunível, segundo nosso ordenamento jurídico".
Segundo a ministra, a substância psicoativa encontrada na planta Cannabis sativa – o tetra-
hidrocanabinol (THC) – não existe na semente, razão pela qual fica afastado o enquadramento do caso julgado
em qualquer uma das hipóteses do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, que descreve o crime de tráfico.
No mais, a lei de regência prevê como conduta delituosa o semeio, o cultivo ou a colheita da planta
proibida (art. 33, § 1º, II; e art. 28, § 1º). Embora a semente seja um pressuposto necessário para a primeira
ação, e a planta para as demais, a importação (ou qualquer dos demais núcleos verbais) da semente não está
descrita como conduta típica na Lei de Drogas.
Além disso, a semente também não se enquadra na qualificação de "insumo" ou, muito menos,
"produto químico", porque ambos visam à preparação de drogas.
Vale dizer, por fim, que o entendimento firmado pela 3ª Seção do STJ está em consonância com os
precedentes do Supremo Tribunal Federal - que consideram atípica a importação de pequena quantidade de
sementes de maconha.

Não é possível que o agente responda pela prática do crime do art. 34 da Lei n. 11.343/2006 quando a posse
dos instrumentos configura ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente.

STJ, 6ª Turma, RHC 135.617/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/09/2021 – Informativo 709/2021

O histórico de ato infracional pode ser considerado para afastar a minorante do art. 33, § 4º, da Lei n.
11.343/2006, por meio de fundamentação idônea que aponte a existência de circunstâncias excepcionais, nas
quais se verifique a gravidade de atos pretéritos, devidamente documentados nos autos, bem como a razoável
proximidade temporal com o crime em apuração.

STJ, 3ª Seção, EREsp 1.916.596/SP, Rel. Min. Joel Ilan Parcionik, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, j. 08/09/2021, DJe
04/10/2021 – Informativo 712/2021

Praticado o crime de roubo mediante uma só ação contra vítimas distintas, no mesmo contexto fático, resta
configurado o concurso formal próprio, e não a hipótese de crime único, visto que violados patrimônios
distintos.

STJ, 5ª Turma, HC 455.975/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 02/08/2018

O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo de segurança pública não
é compatível com a progressão de regime prisional.
103

STF, 2ª Turma, HC 131.649/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. Acd. Min. Dias Toffoli, j. 06/09/2016 – Informativo
838
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Conforme decidido pelo STF, no julgamento da ADPF 187, na qual se analisou a legalidade da “marcha da
maconha”, entendeu que deve-se excluir da incidência do artigo 287 do CP (apologia ao crime): “qualquer
exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da legalização das drogas, ou de qualquer substância
entorpecente específica, inclusive através de manifestações e eventos públicos”. Assim sendo, tal ação nada
mais é que exercício da liberdade de expressão, direito fundamental previsto no artigo 5º, IX, da CF.

STF, ADPF 187

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES.

NÃO É ABSOLUTO O DIREITO DO APENADO DE CUMPRIR PENA PRÓXIMO À SUA FAMÍLIA OU LOCAL DE
ORIGEM

Segundo o STF (ex., HC 88508 MC-AgR) e o STJ (HC 576284, AgRg no HC 565366, RHC 026981 e HC 571604), a
pessoa privada de liberdade não detém o direito absoluto de cumprir a sanção penal em unidade situada
próxima a seus familiares e/ou local de origem ou trabalho. Trata-se, de direito relativo que pode ceder diante
de outros valores/interesses públicos, tal como previsto na Lei nº 11671/08 (transferência de presos
condenados/provisórios p/ o sistema penitenciário federal no interesse da segurança púb. (art. 3º)). Ainda a
propósito do tema, vide a Regra 59.1 das Regras de Mandela, cujo teor redacional parece indicar cuidar-se de
um direito que pode ser flexibilizado (“...sempre que possível...”), e o art. 86 da LEP.

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS.

104
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
PROCESSO PENAL

A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie de “busca pessoal” e,
portanto, não necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu interior estão
escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos investigados.

Excepcionalmente, será necessária a autorização judicial se o veículo for destinado à habitação do indivíduo,
como no caso de trailers, cabines de caminhão, barcos, entre outros, quanto, então, se inserem no conceito
jurídico de domicílio.

STF, 2ª Turma, RHC 1.177.767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 11/10/2016 – Informativo 843
STJ, 6ª Turma, HC 216.437/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 20/09/2012

A não observância da intimação pessoal da Defensoria Pública deve ser impugnada imediatamente, na
primeira oportunidade processual, sob pena de preclusão.

STF, 2ª Turma, HC 133.476, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 16/06/2016 – Informativo 830

As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou
mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como
interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de
provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário.

Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”: 1) Realizar
investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”; 2) Sendo confirmado que a
“denúncia anônima” possui aparência mínima de procedência, instaura-se inquérito policial; 3) Instaurado o
inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação telefônica (esta
é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se revelar
imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.

STF, 1ª Turma, HC 106.152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/03/2016 – Informativo 819

Sobre o tema:
• Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em denúncia anônima
(STF, HC 106.152/MS, j. 29/03/2016, Info. 819);
• Não é possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em denúncia anônima (STJ, 6ª
T., HC 204.778/SP, j. 04/10/2012);
• É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente em denúncia
anônima (STJ, 6ª T., REsp 1.695.349/RS, j. 08/10/2019, Info. 659).
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
A colaboração premiada é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição
(não exige autorização judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações telefônicas ou na quebra
de sigilo bancário ou fiscal. Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente
entre o Ministério Público e o pretenso colaborador. O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais
apenas para aferir os requisitos legais de existência e validade, com a indispensável homologação.

STF, Plenário, Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/06/2017 - Informativo 870

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES.

Importante!

As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem
ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o
exercício do cargo e em razão dele.

Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado Federal, não
se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o cargo de
parlamentar federal.

Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.

Tese fixada: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas.

STF, Plenário, AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 03/05/2018 – Informativo 900

O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, estabelece: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para
o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade
poderá mandar conduzi-lo à sua presença.

O STF declarou que a expressão “para o interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela
Constituição Federal. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para
interrogatório, tal conduta poderá ensejar: a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade, a ilicitude das provas obtidas, a responsabilidade civil do Estado.

STF, Plenário, ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/06/2018 – Informativo 906
106

Importante!

A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento
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de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada. Portanto, essa decisão não vincula o titular da ação

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber
essa denúncia.

STF, 1ª Turma, HC 157.306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 25/09/2018 – Informativo 917

As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que o crime for
praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função.

STJ, Corte Especial, AgRg na APn 878/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 21/11/2018 – Informativo 639

Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de ar quente tripulados. Tais
valões não se enquadram no conceito de “aeronave” (Lei n. 7.565/86, art. 106), razão pela qual não se aplica
a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88.

STJ, 3ª Seção, CC 143.400/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 24/04/2019 – Informativo 648

Não há falar em trancamento da ação penal quando a complexidade dos fatos e da adequação típica das
condutas a eles, na conformidade da plausível articulação de juízos normativos preliminares da denúncia,
implicam a conveniência da instrução probatória.

STJ, 5ª Turma, RHC 150.707/PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, j.
15/02/2022 – Informativo 725

Inexistindo a demonstração do mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado, impossibilitado está
o exercício do contraditório e da ampla defesa.

STJ, 6ª Turma, RHC 154.162/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/03/2022 – Informativo 730

Importante!

A possibilidade de oferecimento do acordo de não persecução penal é conferida exclusivamente ao Ministério


Público, não cabendo ao Poder Judiciário determinar ao Parquet que o oferte.

STJ, 5ª Turma, RHC 161.251/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 10/05/2022, DJe 16/05/2022 – Informativo 739

No mesmo sentido: O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo
de não persecução penal (ANPP). STF, 2ª Turma, HC 194.677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/05/2021 –
Informativo 1017

#FGVAMA
107

Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS.


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Jurisprudência Bloco II
O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado para que ele compareça à instituição para
iniciar as tratativas de ANPP. Se o investigado tiver interesse, deverá procurar o Parquet.

Se o membro do Parquet constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele não é obrigado a notificar
extrajudicialmente o investigado informando que não irá propor o acordo. Neste caso, basta que o membro
do MP faça uma cota na denúncia informando os motivos pelos quais não ofereceu proposta de acordo.

Assim, o Ministério Público pode, no próprio ato do oferecimento da denúncia, expor os motivos pelos quais
optou pela não propositura do acordo. O juiz, recebendo a denúncia, irá determinar a citação do denunciado
e, neste momento, o réu terá ciência da recusa quanto à propositura do ANPP e poderá, se assim desejar,
requerer a remessa ao órgão superior do MP, nos termos do § 14 do art. 28-A do CPP. Em resumo, por ausência
de previsão legal, o Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado acerca da proposta do acordo
de não persecução penal, sendo que, ao se interpretar conjuntamente os arts. 28-A, § 14, e 28, caput, do CPP,
a ciência da recusa ministerial deve ocorrer por ocasião da citação, podendo o acusado, na primeira
oportunidade dada para manifestação nos autos, requerer a remessa dos autos ao órgão de revisão
ministerial.

STJ, 6ª Turma, REsp 2.024.381-TO, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j. 07/03/2023 – Informativo
766

Muito importante!

Constitui fundamentação idônea para o não oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) a
existência de vários registros policiais e infracionais, embora o réu seja tecnicamente primário, bem como a
utilização de posição de liderança religiosa para a prática de delito de violação sexual mediante fraude.

STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 02/08/2022, DJe 08/08/2022
– Informativo 750

A competência para a execução do acordo de não persecução penal é do Juízo que o homologou.

STJ, 3ª Seção, CC 192.158/MT, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/11/2022, DJe 18/11/2022 – Informativo 757

Não é compatível com a via do habeas corpus a pretensão de declaração de inconstitucionalidade do art. 28-
A do Código de Processo Penal.

STJ, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Laurita Vaz, j. 04/10/2022, DJe 10/10/2022 – Informativo 758
108
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Jurisprudência Bloco II
Muito importante!

O Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), inserido pela Lei n. 13.924/2019, aplica-se retroativamente desde
que não tenha havido o recebimento da denúncia.

STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 2.006.523/CE, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j. 23/08/2022, DJe
26/08/2022 – Informativo 761

Comentários:
Nos termos da jurisprudência consolidada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, "[o] acordo de
não persecução penal, previsto no art. 28-A do CPP, aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei n. 13.964/2019,
desde que não recebida a denúncia" (AgRg no AREsp 1.609.632/SP, 5ª Turma, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, DJe
03/12/2020).
No caso, é notório o avanço da marcha processual, tendo em vista que já havia denúncia recebida e
sentença condenatória.
De fato, nos termos do atual e pacífico entendimento desta Corte, "[...] por ambas as turmas de direito
criminal, unificou entendimento de que o art. 28-A do Código de Processo Penal, introduzido pela Lei n.
13.964/2019 (Pacote Anticrime), é norma de natureza processual cuja retroatividade deve alcançar somente
os processos em que não houve o recebimento da denúncia. (AgRg no HC 640.125/SC, 6ª Turma, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, DJe 26/06/2021).

#JURISDICA
A jurisprudência da 1ª Turma do STF fixou a tese de que ’o acordo de não persecução penal (ANPP)
aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia’. (HC 191.464-
AgR/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 25/11/2020)

Para a caracterização do delito de associação criminosa inserido em contexto societário, é imprescindível que
a denúncia contenha a descrição da predisposição comum de meios para a prática de uma série indeterminada
de delitos e uma contínua vinculação entre os associados com essa finalidade, não bastando a menção da
posição/cargo ocupado pela pessoa física na empresa.

STJ, 6ª Turma, RHC 139.465/PA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23/08/2022, DJe 31/08/2022 – Informativo
748

A indução do morador a erro na autorização do ingresso em domicílio macula a validade da manifestação de


vontade e, por consequência, contamina toda a busca e apreensão.

STJ, 6ª Turma, HC 674.139/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 15/02/2022 – Informativo 725

IMPORTANTE!
109

São lícitas as provas obtidas com a apreensão de bens não discriminados expressamente em mandado ou na
decisão judicial correspondente, mas vinculados ao objeto da investigação.
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Jurisprudência Bloco II
STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 16/08/2022, DJe 22/08/2022
– Informativo 750

A percepção de nervosismo do averiguado por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo
e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.961.459/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022 – Informativo 732

No mesmo sentido: A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da busca
pessoal (STJ, 6ª Turma, RHC 158.580/BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 19/04/2022, DJe 25/04/2022 –
Informativo 735).

As guardas municipais não possuem competência para patrulhar supostos pontos de tráfico de drogas, realizar
abordagens e revistas em indivíduos suspeitos da prática de tal crime ou ainda investigar denúncias anônimas
relacionadas ao tráfico e outros delitos cuja prática não atinja de maneira clara, direta e imediata os bens,
serviços e instalações municipais.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.977.119/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 16/08/2022 – Informativo 746

É justificada a redução da pena do réu colaborador em patamar um pouco inferior ao que havia sido ajustado
com o Ministério Público, tendo em vista que o acusado prestou declarações falsas perante o plenário do júri.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.973.397/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/09/2022 – Informativo 748

Comentários:
Em relação à minorante da colaboração premiada, no que diz respeito ao mérito da fração de redução
propriamente dita, o Tribunal de origem entendeu que a minoração no patamar de 1/2, em vez dos 2/3
pactuados no acordo de colaboração, foi justificada pelo fato de o colaborador ter prestado declarações falsas
contra os corréus, como reconhecido pelos jurados.
Assim, conforme concluiu a 5ª Turma do STJ, não há ilegalidade na diminuição da reprimenda em
fração um pouco inferior à que havia sido combinada entre o recorrente e o Parquet, porquanto apresentada
no acórdão recorrido motivação idônea para este fim.

Importante!

É possível celebrar acordo de colaboração premiada em quaisquer condutas praticadas em concurso de


agentes.

STJ, 6ª Turma, HC 582.678/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/06/2022 – Informativo 742
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#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.
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Importante!

Pessoa jurídica não possui capacidade para celebrar acordo de colaboração premiada, previsto na Lei n.
12.850/2013.

STJ, 6ª Turma, RHC 154.979/SP, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 09/08/2022, DJe 15/08/2022
– Informativo 747

Havendo pedido expresso da defesa no momento processual adequado (art. 403 do CPP e art. 11 da Lei
8.038/1990), os réus têm o direito de apresentar suas alegações finais após a manifestação das defesas dos
colaboradores, sob pena de nulidade.

STF, Plenário, HC 166.373/PR, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 30/11/2022 –
Informativo 1078

A colaboração premiada é um acordo realizado entre o acusador e a defesa, não podendo a vítima ser
colaboradora.

STJ, 6ª Turma, HC 750.946/RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 11/10/2022 – Informativo 754

O crime de estelionato praticado por meio de saque de cheque fraudado compete ao Juízo do local da agência
bancária da vítima.

STJ, 3ª Seção, CC 182.977/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/03/2022, DJe 14/03/2022 – Informativo 728

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS.

ATENÇÃO!
O delito de estelionato, tipificado no art. 171, caput, do Código Penal, consuma-se no lugar onde
aconteceu o efetivo prejuízo à vítima. Por essa razão, o STJ possuía entendimento pacificado no caso
específico do estelionato praticado por meio de depósito em dinheiro ou transferência de valores, para o qual
a competência seria do Juízo onde se auferiu a vantagem ilícita em prejuízo da vítima, ou seja, o local onde se
situava a conta que recebeu os valores depositados.
Com a Lei n. 14.155/2021, que incluiu o § 4º no art. 70 do Código de Processo Penal e criou hipótese
específica de competência no caso de crime de estelionato praticado mediante depósito, transferência de
valores ou cheque sem provisão de fundos em poder do sacado ou com pagamento frustrado, não mais
prevalece o entendimento que havia sido pacificado pelo STJ, passando a ser reconhecida, nesses casos, a
competência do Juízo do domicílio da vítima.
Contudo, o caso concreto analisado pela 3ª Seção não foi expressamente previsto na nova legislação,
111

visto que não se trata de cheque emitido sem provisão de fundos ou com pagamento frustrado, mas de
tentativa de saque de cártula falsa (ou seja, cheque falso), em prejuízo do correntista.
Sobre o tema, a 3ª Seção do STJ já havia afirmado que: Há que se diferenciar a situação em que o
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estelionato ocorre por meio do saque (ou compensação) de cheque clonado, adulterado ou falsificado, da

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Jurisprudência Bloco II
hipótese em que a própria vítima, iludida por um ardil, voluntariamente, efetua depósitos e/ou transferências
de valores para a conta corrente de estelionatário. Quando se está diante de estelionato cometido por meio
de cheques adulterados ou falsificados, a obtenção da vantagem ilícita ocorre no momento em que o cheque
é sacado, pois é nesse momento que o dinheiro sai efetivamente da disponibilidade da entidade financeira
sacada para, em seguida, entrar na esfera de disposição do estelionatário. Em tais casos, entende-se que o
local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a agência bancária onde foi sacado o cheque
adulterado, seja dizer, onde a vítima possui conta bancária. (AgRg no CC 171.632/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, DJe 16/06/2020).
Assim, concluiu-se pela aplicação do entendimento no sentido de ser competente o Juízo do local do
eventual do prejuízo – que ocorre com a autorização para o saque do numerário no local da agência bancária
da vítima – quando o delito de estelionato for praticado por meio de cheque fraudado.

A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares (CF/88, art. 102, I, “b”) alcança
os congressistas federais no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que consumada
a hipotética conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade.

Uma vez presentes as balizas estabelecidas no julgamento da AP 937 QP, o foro por prerrogativa de função
alcança os casos denominados “mandatos cruzados” de parlamentar federal, quando não houver interrupção
ou término do mandato.

STF, Plenário, Inq 4342 QO/PR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 01/04/2022 – Informativo 1049

É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial quando
autorizadas por juízo aparentemente competente.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 156.410/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022 –
Informativo 733

No mesmo sentido: "[a]s provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da
autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser considerado
incompetente, ante a aplicação no processo investigativo da teoria do juízo aparente. Precedentes: HC
120.027, Primeira Turma, Rel. p/ Acórdão, Min. Edson Fachin, DJe de 18/2/2016 e HC 121.719, Segunda Turma,
Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 27/6/2016." (AgR no HC 137.438/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe 20/6/2017).

Importante!

No crime de estelionato, não identificadas as hipóteses descritas no § 4º do art. 70 do CPP, a competência


deve ser fixada no local onde o agente delituoso obteve, mediante fraude, em benefício próprio e de terceiros,
os serviços custeados pela vítima.
112

STJ, 3ª Seção, CC 185.983/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 11/05/2022, DJe 13/05/2022 – Informativo 736
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Jurisprudência Bloco II
Não tendo havido imputação de crime eleitoral ou a ocorrência de conexão de delito comum com delito
eleitoral, não se justifica o encaminhamento do feito à Justiça Eleitoral.

STJ, 5ª Turma, HC 746.737/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 06/09/2022, DJe 12/09/2022 – Informativo 749

Após o advento do art. 23 da Lei n. 13.431/2017, nas comarcas em que não houver vara especializada em
crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara especializada em violência doméstica, onde houver,
processar e julgar os casos envolvendo estupro de vulnerável cometido pelo pai (bem como pelo padrasto,
companheiro, namorado ou similar) contra a filha (ou criança ou adolescente) no ambiente doméstico ou
familiar.

STJ, 3ª Seção, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 26/10/2022 – Informativo 755

Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de falas de suposto cunho homofóbico divulgadas na
internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube,
ambos de abrangência internacional.

STJ, 3ª Seção, CC 191.970/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/12/2022 – Informativo 761

Comentários:
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n.
26, de relatoria do Ministro Celso de Mello, deu interpretação conforme a Constituição para enquadrar a
homofobia e a transfobia, qualquer que seja a forma de sua manifestação, nos diversos tipos penais definidos
na Lei n. 7.716/1989, até que sobrevenha legislação autônoma, editada pelo Congresso Nacional.
Tendo sido firmado pelo STF o entendimento de que a homofobia traduz expressão de racismo,
compreendido em sua dimensão social, caberá a casos de homofobia o tratamento legal conferido ao crime
de racismo.
No caso, os fatos narrados pelo Ministério Público estadual indicam que a conduta do investigado não
se restringiu a uma pessoa determinada, ainda que tenha feito menção a ato atribuído a um professor da rede
pública, mas diz respeito a uma coletividade de pessoas.
Com efeito, foi destacado, no requerimento de autorização para instauração do procedimento
investigatório criminal, que as afirmações do investigado seriam capazes de provocar "especial estímulo à
hostilidade contra pessoas em razão da orientação sexual ou identidade de gênero".
Ficou demonstrado, ainda, que as falas de suposto cunho homofóbico foram divulgadas na internet,
em perfis abertos da rede social Facebook e da plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube, ambos
de abrangência internacional.
Considerada essa conjuntura, vale referir que a 3ª Seção do STJ, em julgamento ocorrido em
13/05/2020, assentou que a Constituição Federal "reconhece a competência da Justiça Federal não apenas no
caso de acesso da publicação por alguém no estrangeiro, mas também nas hipóteses em que a amplitude do
meio de divulgação tenha o condão de possibilitar o acesso", e que, "diante da potencialidade de o material
113

disponibilizado na internet ser acessado no exterior, está configurada a competência da Justiça Federal, ainda
que o conteúdo não tenha sido efetivamente visualizado fora do território nacional" (CC 163.420/PR, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, DJe 01/06/2020).
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Jurisprudência Bloco II
A rigor, o meio de divulgação empregado pelo investigado no caso tanto é eficaz para que usuários no
exterior visualizassem o conteúdo das falas, quanto é crível admitir que o material foi acessado fora do Brasil.
Vale lembrar, inclusive, que o Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014), que "estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil", prevê, em seu art. 2º, inciso I, "o
reconhecimento da escala mundial da rede".

A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lavagem de
Dinheiro, na redação dada pela Lei n. 12.683/2012, não constitui empecilho para o juiz manter a separação
dos feitos, nos termos do art. 80 do Código de Processo Penal.

STJ, 5ª Turma, RHC 157.077/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 03/05/2022 – Informativo 735

A verificação dos crimes no mesmo contexto fático configura mera descoberta fortuita e não implica,
necessariamente, conexão probatória ou teleológica entre eles.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AgRg no RHC 161.096/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 04/10/2022, DJe 17/10/2022
– Informativo 761

É lícito ao juiz alterar a tipificação jurídica da conduta do réu no momento da sentença, sem modificar os fatos
descritos na denúncia, sendo desnecessária a abertura de prazo para aditamento.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 770.256/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 25/10/2022, DJe 04/11/2022 – Informativo
761

Excepcionalmente, admite-se a concessão da prisão domiciliar às presas dos regimes fechado quando
verificado pelo juízo da execução penal, no caso concreto, a proporcionalidade, adequação e necessidade da
medida, e que a presença da mãe seja imprescindível para os cuidados da criança ou pessoa com deficiência,
não sendo caso de crimes praticados por ela mediante violência ou grave ameaça contra seus descendentes.

STJ, 3ª Seção, RHC 145.931/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 09/03/2022 – Informativo 728/2022

Pendente de julgamento no STF o tema n. 1.068, em que se discute a constitucionalidade do art. 492, I, do
CPP, deve ser reafirmado o entendimento do STJ de impossibilidade de execução provisória da pena mesmo
em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou superior a 15 anos de reclusão.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 714.884/SP, Rel. Min. Jesuíno Rissado (convocado TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio
de Noronha, j. 15/03/2022, DJe 24/03/2022 – Informativo 730

Comentários:
Discute-se a legalidade da execução provisória da pena na forma do art. 492, I, e, parte final, do Código
114

de Processo Penal, diante de condenação pelo Tribunal do Júri, que resultou em reprimenda superior a 15
anos de reclusão.
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Jurisprudência Bloco II
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I – no caso de condenação:
(...)
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra,
se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução
provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem
prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos; e) mandará o
acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes
os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou
superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das
penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do
conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos;

No entanto, o entendimento do STJ, firmado em consonância com a jurisprudência do STF fixada no


julgamento das ADCs n. 43, 44 e 54, é no sentido de ilegalidade da execução provisória da pena quando
ausentes elementos de cautelaridade, previstos no art. 312 do CPP.
A constitucionalidade do art. 492 do CPP, aliás, é objeto de repercussão geral no STF, Tema n. 1.068
(RE 1.235.340/SC), já tendo o Ministro Gilmar Mendes votado no sentido da inconstitucionalidade do
dispositivo legal. De fato, no sistema constitucional brasileiro, em harmonia como a jurisprudência dos
tribunais superiores, não há espaço para execução provisória da pena.
Assim, estando pendente de julgamento no STF o Tema n. 1.068, em que se discute a
constitucionalidade do art. 492, I, do CPP, deve ser reafirmado o entendimento do STJ de impossibilidade de
execução provisória da pena mesmo em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou
superior a 15 anos de reclusão.

O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime praticado com violência ou grave ameaça (uma
condição legal do atual art. 83, parágrafo único, do Código Penal), afasta a constatação inequívoca do requisito
subjetivo para a concessão do livramento condicional.

STJ, 5ª Turma, HC 734.064/SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j. 03/05/2022, DJe 09/05/2022 –
Informativo 735

Importante!

Sobrevindo condenação por pena privativa de liberdade no curso da execução de pena restritiva de direitos,
as penas serão objeto de unificação, com a reconversão da pena alternativa em privativa de liberdade,
ressalvada a possibilidade de cumprimento simultâneo aos apenados em regime aberto e vedada a unificação
automática nos casos em que a condenação substituída por pena alternativa é superveniente.
115

STJ, 3ª Seção, REsp 1.918.287/MG (Tema 1106), Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Laurita Vaz, j.
27/04/2022 – Informativo 736
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Jurisprudência Bloco II
O indulto é instituto da execução penal, não se estendendo os benefícios da norma instituidora aos presos
cautelarmente com direito à detração penal, mas apenas aos que cumprem prisão-pena na ocasião da edição
da norma.

STJ, 6ª Turma, AgRg no AREsp 1.887.116/GO, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 03/05/2022, DJe
06/05/2022 – Informativo 736

A ineficiência do Estado em fiscalizar as horas de estudo realizadas a distância pelo condenado não pode
obstaculizar o seu direito de remição da pena, sendo suficiente para comprová-las a certificação fornecida
pela entidade educacional.

STF, 1ª Turma, RHC 203.546/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 28/06/2022 – Informativo 1061

Comentários:
Conforme entendimento da 1ª Turma do STF, constando do atestado emitido pelo Sistema de
Informações Penitenciárias que o sentenciado concluiu o aprendizado das disciplinas, a inércia estatal em
acompanhar e fiscalizar o estudo a distância não deve ser a ele imputada, sob pena de prejudicá-lo pelo
descumprimento de uma obrigação que não é sua (LEP, art. 126).
Em respeito ao princípio da igualdade, notadamente em situações precárias, é necessário
sobrevalorizar a remição da pena, de modo que não se pode presumir que o condenado não tenha
efetivamente se dedicado aos estudos na cela.

A remição de pena em virtude de curso profissionalizante, realizado pelo apenado na modalidade à distância
(EaD), exige a apresentação de certificado emitido por entidade educacional devidamente credenciada
perante o Ministério da Educação (MEC).

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 722.388/SP, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 09/08/2022, DJe
15/08/2022 – Informativo 748

IMPORTANTE!

Nada obstante a interpretação restritiva que deve ser conferida ao art. 126, §4º, da LEP, os princípios da
individualização da pena, da dignidade da pessoa humana, da isonomia e da fraternidade, ao lado da teoria
da derrotabilidade da norma e da situação excepcionalíssima da pandemia de Covid-19, impõem o cômputo
do período de restrições sanitárias como de efetivo estudo ou trabalho em favor dos presos que já estavam
trabalhando ou estudando e se viram impossibilitados de continuar seus afazeres unicamente em razão do
estado pandêmico.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.953.607/SC (Recursos Repetitivos – Tema 1120), Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 14/09/2022
– Informativo 749
116
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Jurisprudência Bloco II
Se devidamente motivado pelo Juízo estadual o pedido de manutenção de preso, em presídio federal, não
cabe ao Magistrado federal exercer juízo de valor sobre a fundamentação apresentada, mas, apenas, aferir a
legalidade da medida.

STJ, 3ª Seção, CC 190.601/PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 28/09/2022, DJe 30/09/2022 – Informativo
751

MUITO IMPORTANTE! NÃO DEIXE DE LER OS COMENTÁRIOS.

Aplica-se se o percentual previsto no art. 112, inciso VI, alínea "a", da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal)
para a progressão de regime ao condenado por crime hediondo com resultado morte e reincidente genérico,
quando a condenação tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime).

STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 2.015.414/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/10/2022 – Informativo
755

Comentários:
Cinge-se a controvérsia a determinar qual seria o percentual de pena a ser cumprido para que a pessoa
condenada por crime hediondo com resultado morte e reincidente genérica possa requerer a transferência
para regime menos rigoroso, quando a condenação ocorreu antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019
(Pacote Anticrime).
A 3ª Seção do STJ, no julgamento dos Recursos Especiais 1.910.240/MG e 1.918.338/MT, ambos pela
sistemática do recurso representativo de controvérsia, estabeleceu tese, no Tema Repetitivo n. 1.084, que
"é reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, àqueles
apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam
reincidentes em delito de natureza semelhante".
A tese estabelecida nos mencionados recursos repetitivos, limita-se à retroatividade do art. 112, V, da
Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal - LEP), na redação da Lei n. 13.964/2019, aos condenados que,
embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em
delito de natureza semelhante.
Conquanto tenha o relator, em obter dictum, ponderado que a parte final do art. 112, VI, alínea "a",
da Lei de Execução Penal (na redação da Lei n. 13.964/2019) não seria aplicável aos condenados por crimes
hediondos com resultado morte antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, fossem eles primários ou
reincidentes genéricos, pois também vedaria o benefício do livramento condicional, disposição que não
existiria ao tempo da vigência do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/1990, situação mais gravosa ao sentenciado, ao
julgar o recurso especial, na sistemática dos recursos repetitivos, vota-se na tese final nele fixada, não
necessariamente aderindo a todos os fundamentos postos no voto condutor do acórdão, sobretudo quando
exarados em obiter dictum, que não tem efeito vinculante.
Dito isto, ainda que a Lei n. 13.964/2019 tenha trazido disposições sobre o livramento condicional,
não promoveu alteração nem revogação expressa do texto normativo pelo qual este instituto é regido, o
Código Penal, com as alterações trazidas pelas Leis n. 7.209/1984 e 13.344/2016.
117

Por consectário lógico, não há por que vedar a aplicação da retroatividade no tocante à fração para
progressão de regime, em razão da vedação do livramento condicional, na medida em que não há combinação
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Jurisprudência Bloco II
de leis, uma vez que esse instituto estava à época regulamentado materialmente em lei diversa da lei que
dispunha sobre a progressão de regime.
Portanto, não há a criação de uma terceira lei, nem se viola a vontade do Poder Legislativo, porque o
diploma legislativo que delibera sobre as regras do livramento condicional para o condenado em crime
hediondo com resultado morte é o Código Penal, alterado pelas Leis n. 7.209/1984 e 13.344/2016, que
permanece em plena vigência, e não as Leis n. 7.210/1984 e 8.072/1990, como no caso da progressão de
regime.
Nessa linha de entendimento, recentes decisões do STJ afirmam que a aplicação retroativa do art. 112,
VI, "a", da LEP aos condenados por crime hediondo ou equiparado com resultado morte, seria admissível e
não prejudicial ao executado, tendo em vista que, em uma interpretação sistemática, a vedação de concessão
de livramento condicional somente atingiria o período previsto para a progressão de regime, não impedindo
posterior pleito com fundamento no art. 83, inciso V, do CP.
Assim, aplica-se a exigência do cumprimento de 50% (cinquenta por cento) da pena imposta à pessoa
condenada por crime hediondo com resultado morte e reincidente genérica, quando a condenação ocorreu
antes da entrada em vigor da Lei n. 13.964/2019, para fins de obtenção de progressão de regime prisional, na
forma do art. 112, VI, "a", da LEP (na redação da Lei n. 13.964/2019).

A ausência de falta grave nos últimos 12 (doze) meses não é suficiente para satisfazer o requisito subjetivo
exigido para a concessão do livramento condicional.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 776.645/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 25/10/2022, DJe 03/11/2022 – Informativo 756

MUITO IMPORTANTE!

1. O período de recolhimento obrigatório noturno e nos dias de folga, por comprometer o status libertatis do
acusado deve ser reconhecido como período a ser detraído da pena privativa de liberdade e da medida de
segurança, em homenagem aos princípios da proporcionalidade e do non bis in idem.

2. O monitoramento eletrônico associado, atribuição do Estado, não é condição indeclinável para a detração
dos períodos de submissão a essas medidas cautelares, não se justificando distinção de tratamento ao
investigado ao qual não é determinado e disponibilizado o aparelhamento.

3. A soma das horas de recolhimento domiciliar a que o réu foi submetido devem ser convertidas em dias para
contagem da detração da pena. Se no cômputo total remanescer período menor que vinte e quatro horas,
essa fração de dia deverá ser desprezada.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.977.135/SC (Recursos Repetitivos – Tema 1155), Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j.
23/11/2022, DJe 28/11/2022 – Informativo 758

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS.
118
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Jurisprudência Bloco II
A pena integralmente cumprida não interfere nos cálculos de benefícios em nova execução penal.

STJ, 6ª Turma, HC 762.729/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 04/10/2022, DJe 10/10/2022 – Informativo
761

É constitucional a norma de Regimento Interno de Tribunal de Justiça que condiciona a instauração de


inquérito à autorização do desembargador relator nos feitos de competência originária daquele órgão.

STF, Plenário, ADI 7081/AP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/05/2022 – Informativo 1054

É inconstitucional, por violação ao princípio da simetria, norma de Constituição Estadual que confere foro por
prerrogativa de função a autoridades que não guardam semelhança com as que o detém na esfera federal.

STF, Plenário, ADI 6511/RR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 13/09/2022 – Informativo 1067

Comentários:
A jurisprudência do STF se firmou em torno de uma compreensão restritiva acerca da matéria, de
modo que os estados-membros devem observância ao modelo adotado na CF/1988. Assim, não pode o ente
estadual, de forma discricionária, estender o foro por prerrogativa de função à cargos diversos daqueles
abarcados pelo legislador federal, sob pena de violação às regras de reprodução automática (CF/88, art. 25, §
1º, e art. 125, § 1º).

Não sendo o crime praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função, as regras de competência
não são alteradas pela superveniente posse no cargo de Prefeito Municipal.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.982.779/AC, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 14/09/2022, DJe
20/09/2022 – Informativo 755

As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função devem
ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados durante o
exercício do cargo e em razão dele. Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser
diplomado como Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª
instância mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo que o crime tenha sido
cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta com as funções exercidas,
também não haverá foro privilegiado.

Tese fixada: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas.

Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
119

alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o
agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo.
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STF, Plenário, AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 03/05/2018 – Informativo 900

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II

#FGVAMA #JURISDICA
Esse julgado foi cobrado pela FGV na última prova para Juiz do TJ/PR, realizada em 2021. Preste
atenção ao tema porque não é só a FGV que o ama. Além desse julgado, as bancas – incluindo a FGV –
exploram MUITO o art. 53 da CF/88, então leia o dispositivo sempre que puder.

A prerrogativa de foro não se estende a terceiro que compartilhe imóvel com autoridade não investigada.

STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/10/2022, DJe 07/11/2022
– Informativo 759

Comentários:
A orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem na AP 937 é no sentido de
que o foro por prerrogativa de função é restrito a crimes cometidos ao tempo do exercício do cargo e que
tenham relação com este (AgRg na Rcl 40.661/AP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Corte Especial, DJe
20/04/2021).
Portanto, o foro privilegiado consiste em uma garantia conferida a determinadas autoridades para
assegurar-lhes o livre exercício do cargo. Não se trata de imunidade penal ou de garantia de não ser
importunado.
A respeito do tema, o STF também já decidiu que a prerrogativa de foro se relaciona à autoridade, e
não à titularidade de um imóvel. No julgamento da Reclamação 36.956/SP, de relatoria do Ministro Gilmar
Mendes, ficou definido que a questão central para validar a admissibilidade da diligência é a
incomunicabilidade do seu resultado com o titular da prerrogativa de foro.

A gravação ambiental em que advogados participam do ato, na presença do inquirido e dos representantes
do Ministério Público, inclusive se manifestando oralmente durante a sua realização, ainda que clandestina
ou inadvertida, realizada por um dos interlocutores, não configura crime, escuta ambiental, muito menos
interceptação telefônica.

STJ, 5ª Turma, HC 662.690/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 17/05/2022 – Informativo 737

As decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva prorrogação devem prever, expressamente,
os fundamentos da representação que deram suporte à decisão - o que constituiria meio apto a promover a
formal incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada como razão de decidir - sob pena de ausência
de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar.

STJ, 6ª Turma, HC 654.131/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 16/11/2021, DJe 19/11/2021 – Informativo
723

Comentários:
120

A interceptação de comunicações telefônicas depende de decisão judicial fundamentada, tendo a


medida prazo máximo de quinze dias, renovável por igual período, desde que apontado: (i) indispensabilidade
do meio de prova, (ii) indícios razoáveis de autoria e (iii) que o fato investigado constitui infração penal punida
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com pena de reclusão. A medida em questão pode ser determinada de ofício ou por representação da

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Jurisprudência Bloco II
autoridade policial ou do Parquet, devendo, nestes casos, o pedido demonstrar sua necessidade, com
indicação dos meios a serem empregados (arts. 1º a 5º da Lei n. 9.296/1996).
Sobre o tema, o entendimento jurisprudencial pacificado é no sentido de que a utilização da
fundamentação per relationem, seja para fim de reafirmar a fundamentação de decisões anteriores, seja para
incorporar à nova decisão os termos de manifestação ministerial anterior, não implica vício de fundamentação
(AgRg no AREsp n. 1.7906.66/SP, DJe 06/05/2021). E mais, admite-se o uso da motivação per relationem para
justificar a quebra do sigilo das comunicações telefônicas (AgRg no RHC n. 136.245/MG, DJe 20/9/2021).
Entretanto, faz-se necessário que a decisão que defere a interceptação telefônica e respectiva
prorrogação traga, expressamente, os fundamentos da representação que deram suporte à decisão - o que
constituiria meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada como
razão de decidir - sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar.

Muito importante!

São lícitas as sucessivas renovações de interceptação telefônica, desde que, verificados os requisitos do art.
2º da Lei n. 9.296/1996 e demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a
complexidade da investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas, com
justificativa legítima, ainda que sucinta a embasar a continuidade das investigações.

São ilegais as motivações padronizadas ou reproduções de modelos genéricos sem relação com o caso
concreto.

STF, Plenário, RE 625.263/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/03/2022 –
Informativo 1047

No mesmo sentido, o STJ: Em decisões que autorizem a interceptação das comunicações telefônicas de
investigados, é inválida a utilização da técnica da fundamentação per relationem (por referência) sem tecer
nenhuma consideração autônoma, ainda que sucintamente, justificando a indispensabilidade da autorização
de inclusão ou de prorrogação de terminais em diligência de interceptação telefônica. (RHC 119.342/SP, 6ª
Turma, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 20/09/2022 – Informativo 751).

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022.

A conversão do conteúdo das interceptações telefônicas em formato escolhido pela defesa não é ônus
atribuído ao Estado.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 155.813/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 15/02/2022, DJe 21/02/2022
– Informativo 731/2022
121
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Jurisprudência Bloco II
Havendo requerimento próprio neste sentido, a intimação efetivada por meio eletrônico do Ministério Público
não viola sua prerrogativa de ser pessoalmente intimado.

STJ, 5ª Turma, Pet no REsp 1.468.085/PA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 13/09/2022, DJe 16/09/2022 –
Informativo 757

É inconstitucional norma estadual de acordo com a qual compete a órgão colegiado do tribunal autorizar o
prosseguimento de investigações contra magistrados, por criar prerrogativa não prevista na Lei Orgânica da
Magistratura Nacional e não extensível a outras autoridades com foro por prerrogativa de função.

STF, Plenário, ADI 5331/MG, Rel. Min. Rosa Weber, Rel. Acd. Min. Roberto Barroso, j. 03/06/2022 –
Informativo 1057

Comentários:
Atualmente, a disciplina das matérias institucionais da magistratura nacional decorre da Lei
complementar 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN), segundo a qual não há qualquer
previsão dessa condicionante para a continuidade das investigações (art. 33, parágrafo único). Também não
há se falar, na hipótese, em aplicação da ratio decidendi da ADI 7083.
Nesse contexto, a norma estadual impugnada, ao dispor de modo distinto à lei federal, promove
indevida inovação, afrontando o art. 93 da CF/1988. Ademais, ofende o princípio da isonomia, pois cria
garantia mais extensa aos juízes estaduais mineiros do que a prevista aos demais membros da magistratura
nacional e demais autoridades com foro por prerrogativa de função.

Não configura violação ao princípio do promotor natural a atuação do Grupo de Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado (GAECO) quando precedida de solicitação do promotor de justiça a quem a investigação
foi atribuída.

STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 27/09/2022 – Informativo 751

Há excesso de prazo para conclusão de inquérito policial, quando, a despeito do investigado se encontrar solto
e de não sofrer efeitos de qualquer medida restritiva, a investigação perdura por longo período e não resta
demonstrada a complexidade apta a afastar o constrangimento ilegal.

STJ, 6ª Turma, HC 653.299/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 16/08/2022, DJe
25/08/2022 – Informativo 747

A imputação de dois crimes de organização criminosa ao agente não revela, por si só, a litispendência das
ações penais, se não ficar demonstrado o liame entre as condutas praticadas por ambas as organizações
criminosas.
122

STJ, 5ª Turma, RHC 158.083/RO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 17/05/2022, DJe 20/05/2022 –
Informativo 737
Página

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Jurisprudência Bloco II
A teor do art. 4º do Decreto-Lei n. 3.240/1941, o qual foi recepcionado pela CF/88, a medida de sequestro
para garantir o ressarcimento do prejuízo causado, bem como o pagamento de eventuais multas e das custas
processuais, pode recair sobre quaisquer bens e não apenas sobre aqueles que sejam produtos ou proveito
do crime, bastando, para tal, indícios da prática criminosa.

STJ, AgRg no RMS 67.164/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 29/03/2022, DJe 31/03/2022 –
Informativo 732

Comentários:
A jurisprudência do STJ é assente no sentido de que o Decreto-Lei n. 3.240/1941 (que dispõe sobre o
sequestro de bens de pessoas indiciadas por crimes que resultam prejuízo para a Fazenda Pública) foi
recepcionado pela Constituição Federal de 1988, continua sendo aplicável e não foi revogado pelo Código de
Processo Penal.
Vale ressaltar que a medida de sequestro, a teor do art. 4º do Decreto-Lei n.º 3.240/1941, pode recair
sobre quaisquer bens dos requerentes e não apenas sobre aqueles que sejam produtos ou proveito do crime
(RMS 29.854/RJ 6ª Turma, DJe 26/10/2015). Além disso, a incidência do Decreto-Lei 3.240/41 afasta a prévia
comprovação do periculum in mora para a imposição do sequestro, bastando indícios da prática criminosa
(AgRg no REsp 1.844.874/SC, 5ª Turma, DJe 15/09/2020)
Por fim, a jurisprudência do STJ está fixada no sentido de que é possível a imposição de medidas
constritivas visando, além de garantir o ressarcimento do prejuízo causado pelo réu, abarcar o pagamento de
eventuais multas e das custas processuais (AgRg no RMS 64.068/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, 6ª Turma,
julgado em 13/10/2020, DJe 23/10/2020).

Não há disposição legal que restrinja o prazo das medidas cautelares diversas da prisão, as quais podem
perdurar enquanto presentes os requisitos do art. 282 do Código de Processo Penal, devidamente observadas
as peculiaridades do caso e do agente.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 737.657/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 14/06/2022 – Informativo 741

Muito importante!

É válida a atuação supletiva e excepcional de delegados de polícia e de policiais a fim de afastar o agressor do
lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, quando constatado risco atual ou iminente à vida ou à
integridade da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, conforme o
art. 12-C inserido na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

STF, Plenário, ADI 6138/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 23/03/2022 – Informativo 1048

Comentários:
A inclusão do art. 12-C, II, III e § 1º na Lei Maria da Penha, segundo o decidido pelo Plenário do STF, é
123

razoável, proporcional e adequada, pois permite a retirada imediata do algoz, sem ordem judicial prévia,
mediante a atuação de delegados de polícia, quando o município não for sede de comarca, e de policiais,
quando o município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. Em
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ambos os casos, o juiz deverá ser comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá sobre a manutenção
ou revogação da medida protetiva de urgência.
Como se vê, o afastamento ocorre de forma excepcional, supletiva e ad referendum do magistrado.
Esse importante mecanismo visa garantir a efetividade da retirada do agressor e inibir a violência no âmbito
das relações domésticas e familiares.
Além disso, a opção do legislador não contraria a cláusula de inviolabilidade de domicílio, tampouco
ofende o devido processo legal (CF/88, art. 5º, XI e LIV). Tais mudanças estão, em verdade, em consonância
com o texto constitucional, que não exige ordem judicial prévia para o afastamento, bem como determina a
criação de mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações familiares (CF/88, art. 226, § 8º).
No mais, a legislação está de acordo com o sistema internacional de proteção aos direitos humanos
das mulheres e de combate à violência contra a mulher, que evoluiu no sentido de recomendar a criação de
mecanismos preventivos e repressivos eficazes e, dentre outras considerações, a outorga de prioridade à
segurança sobre os direitos de propriedade.

Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julgamento contra
a honra do jurisdicionado que está sendo julgado, podem configurar causa de nulidade absoluta, haja vista
que ofendem a garantia constitucional da imparcialidade, que deve, como componente do devido processo
legal, ser observada em todo e qualquer julgamento em um sistema acusatório.

STJ, 6ª Turma, HC 718.525/PR, Rel. Min. Olindo Menezes, j. 26/04/2022 – Informativo 734

Inexiste nulidade na desconsideração do rol de testemunhas quando apresentado fora da fase estabelecida
no art. 396-A do Código de Processo Penal.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 161.330/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022
– Informativo 738

É inadmissível a chamada “nulidade de algibeira” – aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata
da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor conveniência
futura.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 732.642/SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado do TJDFT), j. 24/05/2022, DJe
30/05/2022 – Informativo 741

A inquirição de testemunhas diretamente pelo magistrado que assume o protagonismo na audiência de


instrução e julgamento viola o art. 212 do CPP.

STJ, 6ª Turma, HC 735.519/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 16/08/2022 – Informativo 745

Situação diferente: ausência do MP


124

Não gera nulidade do processo o fato de, em audiência de instrução, o magistrado, após o registro da ausência
do representante do MP (que, mesmo intimado, não comparece), complementar a inquirição das
testemunhas realizada pela defesa, sem que o defensor tenha se insurgido no momento oportuno nem
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demonstrado o efetivo prejuízo.

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STJ, 6ª Turma, REsp 1.348.978/SC, Rel. Min. Rogerio Schietti, Rel. Acd. Min. Nefi Cordeiro, j. 17/12/2015,
Informativo 577

É incabível a alegação de nulidade por ausência de intimação na hipótese em que novo causídico, ainda que
sem juntada de mandato, omitiu-se em registrar seu efetivo patrocínio em ata de audiência e, sucessivamente,
em novo prazo para alegações finais.

STJ, 6ª Turma, AgRg no AREsp 2.021.072/RR, Rel. Min. Antonio Saldanha Pinheiro, j. 13/09/2022 – Informativo
749

Se, no momento do oferecimento da denúncia, o acusado não exercer função/cargo público, torna-se
dispensável a defesa prévia prevista no art. 2°, I, do Decreto Presidencial n. 201/1967.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 163.645/TO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 16/08/2022, DJe 22/08/2022
– Informativo 746

Comentários:
O processo penal é regido pelo princípio do tempus regit actum, assim, se no momento do
oferecimento da denúncia os acusados não exerciam função/cargo público, torna-se dispensável a defesa
prévia prevista no art. 2º, I, do Decreto Presidencial n. 201/1967, que tem por escopo a proteção do interesse
público e da atividade exercida pelo servidor público, motivo da real preocupação do legislador.
No caso, não tendo a defesa demonstrado em que medida a ausência de notificação anterior ao
recebimento da denúncia poderia gerar prejuízo à sua ampla defesa na ação penal, não há se falar em
nulidade, uma vez que, nos termos do art. 563 do Código de Processo Penal, "nenhum ato será declarado nulo,
se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa".
Ademais, a defesa preliminar nos crimes de responsabilidade de prefeitos é suprida pela resposta à
acusação do rito ordinário, em que é permitida não apenas a formal rejeição da denúncia como, inclusive,
mais ampla e beneficamente ao acusado, o juízo de sua sumária inocência (AgRg no RHC 88.026/PE, 6ª Turma,
DJe 22/08/2019).

Não obstante na esfera penal não ser viável a fixação de multa por litigância de má-fé, é possível, até mesmo
antes do trânsito em julgado da condenação, a baixa dos autos à origem, independentemente da publicação
do acórdão recorrido.

STJ, Corte Especial, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Jorge Mussi, j. 23/08/2022, DJe 25/08/2022 –
Informativo 750

Comentários:
Nos limites estabelecidos pela legislação processual pátria, os embargos de declaração destinam-se a
125

suprir omissão, afastar obscuridade, eliminar contradição ou ambiguidade e corrigir eventuais erros materiais
existentes no julgado combatido.
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Na espécie, por ocasião do julgamento dos embargos anteriormente opostos, foram afastados os
vícios apontados, destacando-se que a mera irresignação com o entendimento adotado no aresto objurgado
não dá ensejo à oposição dos aclaratórios.
As sucessivas oposições de embargos de declaração contra acórdão impugnado, revela não só o
exagerado inconformismo, bem como o desrespeito ao Poder Judiciário e o seu nítido caráter protelatório,
constituindo abuso de direito, em razão da violação dos deveres de lealdade processual e comportamento
ético no processo, bem como do desvirtuamento do próprio postulado da ampla defesa, circunstâncias que
autorizam a baixa dos autos, independentemente da publicação do acórdão recorrido e da certificação do
trânsito em julgado.

O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV da Constituição Federal, tem aplicação às
pessoas jurídicas, de modo que, extinta legalmente a pessoa jurídica – sem nenhum indício de fraude –, aplica-
se analogicamente o art. 107, I do Código Penal, com a consequente extinção de sua punibilidade.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.977.172/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 24/08/2022 – Informativo 746

No âmbito da audiência de inquirição de testemunhas, a ausência de contato prévio entre o réu e seu defensor
dativo configura cerceamento de defesa.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.794.907/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 13/09/2022 – Informativo 749

Importante!

A apreensão de grande quantidade e variedade de drogas não impede a concessão da prisão domiciliar à mãe
de filho menor de 12 (doze) anos se não demonstrada situação excepcional de prática de delito com violência
ou grave ameaça contra seus filhos, nos termos do art. 318, I e II, do CPP.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 712.258/SP, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 29/03/2022, DJe
01/04/2022 – Informativo 733

Comentários:
Entende o STJ que "o afastamento da prisão domiciliar para mulher gestante ou mãe de criança menor
de 12 anos exige fundamentação idônea e casuística, independentemente de comprovação de
indispensabilidade da sua presença para prestar cuidados ao filho, sob pena de infringência ao art. 318, inciso
V, do Código de Processo Penal, inserido pelo Marco Legal da Primeira Infância (Lei n. 13.257/2016)" (HC
551.676/RN, 6ª Turma, DJe 25/05/2020).
Entende, ainda, que "O art. 318-A, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei n.
13.769, de 19/12/2018, dispõe que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que: I) não
tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e que II) não tenha cometido o crime contra
126

seu filho ou dependente" (HC 623.992/SC, 6ª Turma, DJe 30/04/2021).


O caso concreto envolvia a mãe de uma criança de 6 anos de idade, razão pela qual se entendeu pela
aplicação da regra geral de proteção da primeira infância, à mingua de fundamentação idônea para a mitigação
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da referida garantia constitucional.

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Isso porque, o fundamento relacionado à apreensão de grande quantidade e variedade de
entorpecentes não impede a concessão da prisão domiciliar se não demonstrados outros motivos que
evidenciam que a conduta praticada representa risco à ordem pública, como indícios de comércio ilícito no
local em que a agente cria os menores, nos termos da jurisprudência do próprio STJ.

A concessão de prisão domiciliar às genitoras de menores de até 12 anos incompletos não está condicionada
à comprovação da imprescindibilidade dos cuidados maternos, que é legalmente presumida.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 731.648/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, j.
07/06/2022, DJe 23/06/2022 – Informativo 742

Tema controvertido entre as Turmas do STJ – CUIDADO!

A determinação do magistrado pela cautelar máxima, em sentido diverso do requerido pelo Ministério
Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação ex officio.

STJ, 6ª Turma, RHC 145.225/RO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 15/02/2022 – Informativo 725
STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 626.529/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 26/04/2022, DJe 03/05/2022

Se o requerimento do Ministério Público limita-se à aplicação de medidas cautelares ao preso em flagrante, é


vedado ao juiz decretar a medida mais gravosa - prisão preventiva -, por configurar uma atuação de ofício.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 754.506/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 16/08/2022, DJe 22/08/2022
– Informativo 746

Comentários ao RHC 145.225/RO, da 6ª Turma do STJ:


Cuida-se de decretação da cautelar máxima pelo Magistrado diante do pedido do Ministério Público,
durante a audiência de custódia, de conversão da prisão em flagrante em cautelares diversas.
Inicialmente, frisa-se que não obstante o art. 20 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) ainda
autorize a decretação da prisão preventiva de ofício pelo Juiz de direito, tal disposição destoa do atual regime
jurídico. A atuação do juiz de ofício é vedada independentemente do delito praticado ou de sua gravidade,
ainda que seja de natureza hedionda, e deve repercutir no âmbito da violência doméstica e familiar.
Contudo, a decisão que decreta a prisão preventiva, desde que precedida da necessária e prévia
provocação do Ministério Público, formalmente dirigida ao Poder Judiciário, mesmo que o magistrado
decidida pela cautelar pessoal máxima, por entender que apenas medidas alternativas seriam insuficientes
para garantia da ordem pública, não deve ser considerada como de ofício.
Isso porque uma vez provocado pelo órgão ministerial a determinar uma medida que restrinja a
liberdade do acusado em alguma medida, deve o juiz poder agir de acordo com o seu convencimento motivado
e analisar qual medida cautelar pessoal melhor se adequa ao caso.
Impor ou não cautelas pessoais, de fato, depende de prévia e indispensável provocação. Entretanto,
127

a escolha de qual delas melhor se ajusta ao caso concreto há de ser feita pelo juiz da causa. Entender de forma
diversa seria vincular a decisão do Poder Judiciário ao pedido formulado pelo Ministério Público, de modo a
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transformar o julgador em mero chancelador de suas manifestações, ou de lhe transferir a escolha do teor de
uma decisão judicial.
Em situação que, mutatis mutandis, implica similar raciocínio, decidiu o STF que "... 3. Prisão
preventiva decretada a pedido do Ministério Público, que, posteriormente requer a sua revogação. Alegação
de que o magistrado está obrigado a revogar a prisão a pedido do Ministério Público. 4. Muito embora o juiz
não possa decretar a prisão de ofício, o julgador não está vinculado a pedido formulado pelo Ministério
Público. 5. Após decretar a prisão a pedido do Ministério Público, o magistrado não é obrigado a revogá-la,
quando novamente requerido pelo Parquet. 6. Agravo improvido (HC n. 203.208 AgR, Rel. Ministro Gilmar
Mendes, 2ª T., DJe 30/8/2021).
Saliente-se que esse é igualmente o posicionamento adotado quando o Ministério Público pugna pela
absolvição do acusado em alegações finais ou memoriais e, mesmo assim, o magistrado não é obrigado a
absolvê-lo, podendo agir de acordo com sua discricionariedade.
Dessa forma, a determinação do magistrado, em sentido diverso do requerido pelo Ministério Público,
pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação ex officio, uma vez que lhe
é permitido atuar conforme os ditames legais, desde que previamente provocado, no exercício de sua
jurisdição.

Comentários ao AgRg no HC 754.506/MG, da 5ª Turma do STJ:


A reforma introduzida pela Lei n. 13.964/2019 ("Lei Anticrime"), preservando e valorizando as
características essenciais da estrutura acusatória do processo penal brasileiro, modificou a disciplina das
medidas de natureza cautelar, especialmente as de caráter processual, estabelecendo um modelo mais
coerente com as características do moderno processo penal.
Após o início da vigência da mencionada lei, houve a inserção do art. 3º-A ao CPP e a supressão do
termo "de ofício" que constava do art. 282, §§ 2º e 4º, e do art. 311, todos do Código de Processo Penal.
Assim sendo, o art. 310 e os demais dispositivos do Código de Processo Penal devem ser interpretados
privilegiando o regime do sistema acusatório vigente em nosso país, nos termos da Constituição Federal, que
outorgou ao Parquet a relevante função institucional, dentre outras, de "promover, privativamente, a ação
penal pública, na forma da lei" (art. 129, I, CF), ressalvada a hipótese, que é excepcional, prevista no art. 5º,
LIX, da Carta Política e do próprio Código de Processo Penal.
Assim, a despeito da manifestação do Ministério Público em audiência de custódia, a prisão que venha
a ser decretada por Magistrado, à revelia de um requerimento expresso nesse sentido, configura uma atuação
de ofício em contrariedade ao que dispõe a nova regra processual penal.
Portanto, tratando-se de pedido do Ministério Público limitado à aplicação de medidas cautelares ao
preso em flagrante, é vedado ao juiz decretar a medida mais gravosa, a prisão preventiva, por configurar uma
atuação de ofício.
Inclusive, para a 5ª Turma do STJ, a manifestação posterior do Ministério Público favorável à
manutenção da prisão preventiva, proferida em sede de habeas corpus originário, não supre a ilegalidade da
prisão decretada de ofício em primeiro grau, por se tratar de ação de manejo exclusivo da defesa em benefício
do réu.
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Não se justifica a prisão preventiva se, considerando o modus operandi dos delitos, a imposição de cautelar
de proibição do exercício da medicina e de suspensão da inscrição médicas, e outras que o Juízo de origem
entender necessárias, forem suficientes para prevenção da reiteração criminosa e preservação da ordem
pública.

STJ, 5ª Turma, HC 699.362/PA, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de
Noronha, j. 08/03/2022 – Informativo 728/2022

Muito importante!

O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal não acarreta,
automaticamente, a revogação da prisão preventiva e, consequentemente, a concessão de liberdade
provisória.

Além disso, a exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva aplica-
se até o final dos processos de conhecimento.

STF, Plenário, ADI 6581/DF e ADI 6582/DF, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j.
08/03/2022 – Informativo 1046

Quando o acusado encontrar-se foragido, não há o dever de revisão ex officio da prisão preventiva, a cada 90
dias, exigida pelo art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal.

STJ, 5ª Turma, RHC 153.528/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 29/03/2022, DJe 01/04/2022 – Informativo
731/2022

Importante!

A mera circunstância de o agente ter sido denunciado em razão dos delitos descritos na Lei n. 12.850/2013
não justifica a imposição automática da prisão preventiva, devendo-se avaliar a presença de elementos
concretos, previstos no art. 312 do CPP.

STJ, 5ª Turma, HC 708.148/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, j.
05/04/2022 – Informativo 732

A necessidade de interrupção do ciclo delitivo de associações e organizações criminosas é fundamento idôneo


para justificar a custódia cautelar e a garantia da ordem pública.

STJ, 6ª Turma, HC 730.721/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/08/2022 – Informativo 746
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Jurisprudência Bloco II
Estando o advogado em cela individual, sem registro de eventual inobservância das condições mínimas de
salubridade e dignidade humanas, não se configura constrangimento ilegal em razão das instalações em que
se encontra recolhido.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 765.212/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 27/09/2022, DJe 04/10/2022
– Informativo 753

Na análise do cabimento da prisão preventiva de pessoas em situação de rua, além dos requisitos legais
previstos no Código de Processo Penal, o magistrado deve observar as recomendações constantes da
Resolução n. 425 do CNJ, e, caso sejam fixadas medidas cautelares alternativas, aquela que melhor se adequa
a realidade da pessoa em situação de rua.

STJ, 6ª Turma, HC 772.380/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 08/11/2022, DJe 16/11/2022 – Informativo 757

Muito importante!

A decretação de prisão temporária somente é cabível quando: (i) for imprescindível para as investigações do
inquérito policial, (ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado, (iii) for justificada em
fatos novos ou contemporâneos, (iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato
e às condições pessoais do indiciado, e (v) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.

STF, Plenário, ADI 3360/DF e ADI 4109/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. Acd. Min. Edson Fachin, j. 11/02/2022
– Informativo 1043

É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público.

STJ, 3ª Seção, RHC 82.233/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 09/02/2022 – Informativo 724

Comentários:
O STF, ao julgar o RE 1.055.941/SP, em sede de repercussão geral, firmou a orientação de que é
constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do
procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil - em que se define o lançamento do tributo - com os
órgãos de persecução penal para fins criminais sem prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o
sigilo das informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional
(Tema 990).
Da leitura desatenta da ementa do julgado, poder-se-ia chegar à conclusão de que o entendimento
consolidado autorizaria a requisição direta de dados pelo Ministério Público à Receita Federal, para fins
criminais. No entanto, a análise acurada do acórdão demonstra que tal conclusão não foi compreendida no
julgado, que trata da Representação Fiscal para fins penais, instituto legal que autoriza o compartilhamento,
de ofício, pela Receita Federal, de dados relacionados a supostos ilícitos tributários ou previdenciários após
130

devido procedimento administrativo fiscal.


Assim, a requisição ou o requerimento, de forma direta, pelo órgão da acusação à Receita Federal,
com o fim de coletar indícios para subsidiar investigação ou instrução criminal, além de não ter sido
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satisfatoriamente enfrentada no julgamento do Recurso Extraordinário n. 1.055.941/SP, não se encontra

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abarcada pela tese firmada no âmbito da repercussão geral em questão. Ainda, as poucas referências que o
acórdão faz ao acesso direto pelo Ministério Público aos dados, sem intervenção judicial, é no sentido de sua
ilegalidade.
Em um estado de direito não é possível se admitir que órgãos de investigação, em procedimentos
informais e não urgentes, solicitem informações detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas
constitucionalmente protegidas, salvo autorização judicial. Uma coisa é órgão de fiscalização financeira,
dentro de suas atribuições, identificar indícios de crime e comunicar suas suspeitas aos órgãos de investigação
para que, dentro da legalidade e de suas atribuições, investiguem a procedência de tais suspeitas. Outra, é o
órgão de investigação, a polícia ou o Ministério Público, sem qualquer tipo de controle, alegando a
possibilidade de ocorrência de algum crime, solicitar ao COAF ou à Receita Federal informações financeiras
sigilosas detalhadas sobre determinada pessoa, física ou jurídica, sem a prévia autorização judicial. Assim, é
ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público.

O requerimento de simples guarda dos registros de acesso a aplicações de internet ou registros de conexão
por prazo superior ao legal, feito por autoridade policial, administrativa ou Ministério Público, prescinde de
prévia autorização judicial.

STJ, 6ª Turma, HC 626.983/PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado TRF-1), j. 08/02/2022 –
Informativo 724

É ilegal a utilização, por parte do Ministério Público, de peça sigilosa obtida em procedimento em curso no
Supremo Tribunal Federal para abertura de procedimento investigatório criminal autônomo com objetivo de
apuração dos mesmos fatos já investigados naquela Corte.

STJ, 5ª Turma, RHC 149.836/RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de
Noronha, j. 15/02/2022 – Informativo 726

Muito importante!

A desconformidade ao regime procedimental determinado no art. 226 do CPP deve acarretar a nulidade do
ato e sua desconsideração para fins decisórios, justificando-se eventual condenação somente se houver
elementos independentes para superar a presunção de inocência.

STF, 2ª Turma, RHC 206.846/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 22/02/2022 – Informativo 1045

É inválido o reconhecimento pessoal realizado em desacordo com o modelo do art. 226 do CPP, o que implica
a impossibilidade de seu uso para lastrear juízo de certeza da autoria do crime, mesmo que de forma
suplementar.

STJ, 6ª Turma, HC 712.781/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 15/03/2022 – Informativo 730
131

No mesmo sentido: STJ, 5ª Turma, HC 652.284/SC, j. 27/04/2021


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Comentários:
O reconhecimento de pessoas, presencial ou por fotografia, deve observar o procedimento previsto
no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se
encontra na condição de suspeito da prática de um crime e para uma verificação dos fatos mais justa e precisa.
A inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o
reconhecimento da pessoa suspeita, de modo que tal elemento não poderá fundamentar eventual
condenação ou decretação de prisão cautelar, mesmo se refeito e confirmado o reconhecimento em juízo. Se
declarada a irregularidade do ato, eventual condenação já proferida poderá ser mantida, se fundamentada
em provas independentes e não contaminadas.
A realização do ato de reconhecimento pessoal carece de justificação em elementos que indiquem,
ainda que em juízo de verossimilhança, a autoria do fato investigado, de modo a se vedarem medidas
investigativas genéricas e arbitrárias, que potencializam erros na verificação dos fatos.

Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o procedimento do art. 226 do
CPP.

STJ, 6ª Turma, HC 721.963/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/04/2022 – Informativo 733

É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação do país estrangeiro para a
polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem, essas informações não tenham sido obtidas com
autorização judicial, já que isso não é exigido naquele país.

Respeitadas as garantias processuais do investigado, não há prejuízo na cooperação direta entre as agências
investigativas, sem a participação das autoridades centrais. A ilicitude da prova ou do meio de sua obtenção
somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação de suas garantias ou das específicas
regras de produção probatória.

STJ, 5ª Turma, AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 04/05/2021 – Informativo 695

Não há ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do compartilhamento de dados
de movimentações financeiras da própria instituição bancária ao Ministério Público.

STJ, 6ª Turma, RHC 147.307/PE, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 29/03/2022 – Informativo 731

Comentários:
Não há falar-se em ilicitude das provas por violação ao sigilo de dados bancários, em razão do
compartilhamento de dados pela instituição bancária ao Ministério Público, por não se tratar de informações
bancárias sigilosas relativas à pessoa do investigado, senão de movimentações financeiras da própria
instituição, sem falar que, após o recebimento da notícia-crime, o Ministério Público requereu ao juízo de
primeiro grau a quebra do sigilo bancário e o compartilhamento pelo Banco de todos os documentos relativos
132

à apuração relacionada aos autos do ora recorrente, o que foi deferido, havendo, portanto, autorização
judicial.
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Jurisprudência Bloco II
Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um salvo-
conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria probatória
(fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade.

STJ, 6ª Turma, HC 663.055/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 22/03/2022 – Informativo 731

É ilegal o encerramento do interrogatório do paciente que se nega a responder aos questionamentos do juiz
instrutor antes de oportunizar as indagações pela defesa.

STJ, 6ª Turma, HC 703.978/SC, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 05/04/2022, DJe 07/04/2022 –
Informativo 732

Demonstradas pela instância de origem a estabilidade e permanência do crime de associação para o tráfico
de drogas, inviável o revolvimento probatório em sede de habeas corpus visando a modificação do julgado.

STJ, 5ª Turma, HC 721.055/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 –
Informativo 730

No caso em que o reconhecimento fotográfico na fase inquisitorial não tenha observado o procedimento legal,
mas a vítima relata o delito de forma que não denota riscos de um reconhecimento falho, dá-se ensejo a
distinguishing quanto ao acórdão do HC 598.886/SC, que invalida qualquer reconhecimento formal – pessoal
ou fotográfico – que não siga estritamente o que determina o art. 226 do CPP.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.969.032/RS, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 17/05/2022, DJe
20/05/2022 – Informativo 739

No mesmo sentido: Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o procedimento
previsto no art. 226 do CPP, deve ser mantida a condenação quando houver outras provas produzidas sob o
crivo do contraditório e da ampla defesa, independentes e suficientes o bastante, para lastrear o decreto
condenatório. (STJ, 6ª Turma, AgRg nos EDcl no HC 656.845/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 04/10/2022, DJe
17/10/2022 – Informativo 758)

É nula a condenação fundamentada em reconhecimento fotográfico que, além de ter sido realizado com
grande lapso temporal dos fatos, encontra-se em contradição com os depoimentos prestados pela vítima, não
sendo possível a sua convalidação em juízo.

STJ, 6ª Turma, HC 664.537/RJ, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 16/08/2022, DJe 19/08/2022 –
Informativo 746
133
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Jurisprudência Bloco II
A decisão que determina a exclusão de elementos probatórios obtidos mediante o acesso ao e-mail funcional
de servidor investigado não contamina a legalidade da utilização de provas produzidas de forma independente
por comissão disciplinar de PAD, em observância à teoria da fonte independente e da descoberta inevitável
de prova.

STJ, 3ª Seção, AgRg na Rcl 42.292/DF, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 24/08/2022, DJe
26/08/2022 – Informativo 747

O ato de dispensar uma sacola na rua ao notar a aproximação da guarnição, somado ao nervosismo
demonstrado e à denúncia anônima pretérita de que o acusado estava praticando o crime de tráfico de drogas
no local, indica a existência de fundada suspeita de que o recipiente contivesse substâncias entorpecentes e
de que o réu estivesse na posse de mais objetos relacionados ao crime.

STJ, 6ª Turma, HC 742.815/GO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23/08/2022, DJe 31/08/2022 – Informativo
749

Empresas que prestam serviços de aplicação na internet em território brasileiro devem necessariamente se
submeter ao ordenamento jurídico pátrio, independentemente da circunstância de possuírem filiais no Brasil
e/ou realizarem armazenamento em nuvem.

STJ, 5ª Turma, RMS 66.392/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 16/08/2022, DJe 19/08/2022 – Informativo
750

É nula, para fins de investigação criminal, a coleta compulsória de material orgânico não descartado de pessoas
definitivamente não condenadas.

STJ, 6ª Turma, RHC 162.703/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 13/09/2022 – Informativo 750

São ilícitas as provas obtidas em acordo de delação premiada firmado com advogado que, sem justa causa,
entrega às autoridades investigativas documentos e gravações obtidas em virtude de mandato que lhe fora
outorgado, violando o dever de sigilo profissional.

STJ, 5ª Turma, RHC 164.616/GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 27/09/2022, DJe 30/09/2022 –
Informativo 751

O testemunho prestado em juízo pelo policial deve ser valorado, assim como acontece com a prova
testemunhal em geral, conforme critérios de coerência interna, coerência externa e sintonia com as demais
provas dos autos.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.936.393/RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 25/10/2022, DJe 08/11/2022 – Informativo 756
134
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Jurisprudência Bloco II
A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência tenha ocorrido quando não havia
mais clientes, é hipótese de local aberto ao público, que não recebe a proteção constitucional da
inviolabilidade do domicílio.

STJ, 6ª Turma, HC 754.789/RS, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 06/12/2022 – Informativo 760

O simples fato de o acusado ter antecedente por tráfico de drogas não autoriza a realização de busca
domiciliar, porquanto desacompanhado de outros indícios concretos e robustos de que, nesse momento
específico, ele guarda drogas em sua residência.

Mesmo se ausente coação direta e explícita sobre o acusado, as circunstâncias de ele já haver sido preso em
flagrante pelo porte da arma de fogo em via pública e estar detido, sozinho - sem a oportunidade de ser
assistido por defesa técnica e sem mínimo esclarecimento sobre seus direitos -, diante de dois policiais
armados, poderiam macular a validade de eventual consentimento para a realização de busca domiciliar, em
virtude da existência de um constrangimento ambiental/circunstancial.

STJ, 6ª Turma, HC 762.932/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 22/11/2022, DJe 30/11/2022 – Informativo
760

A ausência do membro do Ministério Público na oitiva de testemunhas da acusação durante audiência de


instrução não permite que o magistrado formule perguntas diretamente a estas, assumindo função precípua
do Parquet.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.846.407/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 13/12/2022 – Informativo 761

IMPORTANTE!

Em crimes contra a dignidade sexual, é possível afastar, em caráter excepcional, o óbice da Súmula n. 7/STJ,
estritamente para a revaloração de prova ou de dados que estejam admitidos e delineados no decisório
recorrido de forma explícita.

STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j. 23/08/2022, DJe
26/08/2022 – Informativo 747

Não é cabível revisão criminal quando utilizada como nova apelação, com vista a reexame de fatos e provas,
não se verificando contrariedade ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos, consoante previsão
do art. 621, I, do Código de Processo Penal.

STJ, 3ª Seção, AgRg na RvCr 5.735/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 11/05/2022, DJe 16/05/2022 – Informativo
746
135

Comentários:
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Cumpre lembrar que o "Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento no sentido do não
cabimento da revisão criminal quando utilizada como nova apelação, com vista ao mero reexame de fatos e

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Jurisprudência Bloco II
provas, não se verificando hipótese de contrariedade ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos,
consoante previsão do art. 621, I, do CPP" (AgRg no REsp 1.781.148/RJ, 5ª Turma, DJe 18/10/2019).
No caso concreto, a pretensão do autor era rediscutir tudo aquilo que fora objeto de análise no
processo penal originário. A prova já fora objeto de apreciação pelas instâncias competentes, não havendo
nenhuma informação adicional a modificar a conclusão alcançada, sendo, portanto, inviável se falar em
revisão criminal na hipótese.

É cabível o ajuizamento de revisão criminal em face de decisão unipessoal de relator que dá provimento a
recurso especial para restabelecer sentença condenatória.

STJ, 3ª Seção, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), Rel. Acd. Min. João Otávio
de Noronha, j. 14/09/2022 – Informativo 749

A hipótese excepcional do art. 256 do CPP somente pode ser reconhecida se o magistrado ou o Tribunal,
atendendo a elevado ônus argumentativo, demonstrar de maneira inequívoca que o excipiente provocou
dolosamente a suspeição.

STJ, 5ª Turma, AREsp 2.026.528/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 07/06/2022 – Informativo 740

Importante!

A falta de acordo entre as partes quanto ao valor a ser pago a título de reparação do dano inviabiliza o
benefício legal da suspensão condicional do processo.

STJ, 6ª Turma, RHC 163.897/RS, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 18/10/2022, DJe 21/10/2022
– Informativo 754

Quesitos complexos, com má redação ou com formulação deficiente, geram a nulidade do julgamento do
Tribunal do Júri, por violação ao art. 482, parágrafo único, do CPP.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.883.043/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, j.
15/03/2022 – Informativo 730

Diversamente do que ocorre na hipótese de contrariedade entre o veredito e as provas dos autos (CPP, art.
593, § 3º), o afastamento de qualificadora por vício de quesitação não exige a submissão dos réus a novo júri.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.973.397/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/09/2022 – Informativo 748

Embora seja necessária a quesitação aos jurados sobre a incidência de minorantes, a escolha do quantum de
diminuição da pena cabe ao juiz sentenciante, e não ao júri.
136

STJ, 5ª Turma, REsp 1.973.397/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/09/2022 – Informativo 748
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Há nulidade no quesito que não questiona os jurados sobre a ciência dos mandantes do crime em relação ao
modus operandi pelos executores diretos – emboscada –, já que as qualificadoras objetivas do homicídio só
se comunicam entre os coautores se estes tiverem ciência do fato que qualifica o crime.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.973.397/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 06/09/2022 – Informativo 748

O reconhecimento da manifesta contrariedade entre o veredito condenatório e as provas dos autos gera a
cassação da sentença e submissão dos réus a novo júri, mas não sua absolvição imediata pelos juízes togados,
na forma do art. 593, § 3º do CPP.

STJ, 5ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 21/06/2022, DJe 29/06/2022 – Informativo
747

O entendimento de que, em processos de competência do júri, o não oferecimento de alegações finais na fase
acusatória não é causa de nulidade do processo não se aplica na hipótese em que isso não ocorre por
deliberação do acusado.

STJ, 6ª Turma, AgRg ni HC 710.306/AM, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-1), j. 27/09/2022 –
Informativo 751

O art. 563, inciso III, alínea d, do Código de Processo Penal deve ser interpretado de forma estrita, permitindo
a rescisão do veredicto popular somente quando a conclusão alcançada pelos jurados seja teratológica,
completamente divorciada do conjunto probatório constante do processo.

STJ, 6ª Turma, AgRg no HC 482.056/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 02/08/2022, DJe 08/08/2022 –
Informativo 752

No âmbito do Tribunal do Júri, não há nulidade na formulação de quesito a respeito do dolo eventual, quando
a defesa apresenta tese no sentido de desclassificar o crime para lesão corporal seguida de morte, ainda que
a questão não tenha sido discutida em plenário.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.883.314/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 25/10/2022, DJe 18/11/2022 – Informativo
757

O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra de sigilo
telefônico.

STJ, 5ª Turma, HC 720.605/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 09/08/2022 – Informativo 744

Comentários:
137

De início, ressalta-se que "nos termos do art. 244 do CPP, a busca pessoal independerá de mandado
quando houver prisão ou fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, objetos ou
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papéis que constituam corpo de delito, ou ainda quando a medida for determinada no curso de busca
domiciliar." (AgRg no AREsp 1403409/RS, 6ª Turma, DJe 04/04/2019).

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Jurisprudência Bloco II
No caso concreto, os policiais visualizaram o delito de roubo sendo praticado por diversos indivíduos
em via pública e perseguiram os assaltantes, que empreenderam fuga. Após contínua perseguição, o paciente
foi alcançado. Assim, não há se falar em nulidade da busca pessoal quando o acusado é preso em flagrante
impróprio, pois indubitavelmente há fundada suspeita do cometimento do delito na hipótese.
Verifique-se que, durante a fuga, o acusado dispensou um simulacro de arma de fogo, um aparelho
celular e um chip de operadora de telefonia, objetos esses encontrados em via pública. Conforme vivência
prática, relataram os policias militares que é muito comum a retirada do chip dos celulares roubados, para
dificultar a identificação dos proprietários. Assim sendo, apreendido o chip descartado pelo acusado, houve a
inserção em outro aparelho telefônico pela polícia para fins de possível identificação da vítima lesada, o que
de fato ocorreu. Ocorre que a vítima não era proprietária do celular descartado, mas somente do chip.
A defesa sustenta que o aparelho pertencia ao próprio acusado. Atente-se, porém, que o aparelho
telefônico não foi examinado. Assim, ainda que o celular seja de propriedade do acusado, saliente-se que não
houve extração de nenhum dado do aparelho, pois o alvo de análise foi apenas o chip telefônico descartado,
que de fato era de uma das vítimas. Hipótese distinta seria se o celular fosse acessado pelos policiais e alguma
informação retirada e utilizada em desfavor do acusado, o que não ocorreu. Dessa forma, torna-se inócua a
tese defensiva no sentido de suposta violação de sigilo telefônico, afinal, não encontra amparo no contexto
fático narrado nos autos.

A violação de domicílio com base no comportamento suspeito do acusado, que empreendeu fuga ao ver a
viatura policial, não autoriza a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para a entrada dos
agentes públicos na residência.

STJ, 6ª Turma, HC 695.980/GO, Rel. Min. Antonio Saldanha Pinheiro, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 –
Informativo 730

Importante!

A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências para a
constatação da veracidade das informações prévias podem caracterizar as fundadas razões para o ingresso
dos policiais na residência do investigado.

STJ, 5ª Turma, AgRg nos EDcl no RHC 143.066/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 19/04/2022, DJe 22/04/2022
– Informativo 734

A investigação policial originada de informações obtidas por inteligência policial e mediante diligências prévias
que redunda em acesso à residência do acusado configura exercício regular da atividade investigativa
promovida pelas autoridades policiais.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 734.423/GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 24/05/2022, DJe 26/05/2022 –
Informativo 738
138
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Jurisprudência Bloco II
A habitação em prédio abandonado de escola municipal pode caracterizar o conceito de domicílio em que
incide a proteção disposta no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 712.529/SE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 25/10/2022, DJe 04/11/2022 – Informativo
755

Comentários:
A Constituição da República, em seu art. 5º, XI, afirma que "a casa é asilo inviolável do indivíduo,
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial".
O Pleno do STF, no exame do RE 603.616 (Tema 280/STF), reconhecido como de repercussão geral,
assentou que "a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade dos atos praticados".
Não procede o fundamento de que o fato de o agravante habitar o prédio abandonado de uma escola
municipal descaracterizaria o conceito de domicílio, para que haja proteção constitucional
Anota-se, por fim, que o Decreto n. 7.053/2009, que instituiu a Política Nacional para População em
Situação de Rua, reforça a condição de moradia aos habitantes de logradouros públicos e áreas degradadas.

A sentença de pronúncia deve limitar-se a um juízo de dúvida a respeito da acusação, evitando


considerações incisivas ou valorações sobre as teses em confronto nos autos.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 673.891-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Ministro João Otávio de Noronha,
j. 23/08/2022 – Informativo Especial 10

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS.

Havendo controvérsia entre as declarações dos policiais e do flagranteado, e inexistindo a comprovação de


que a autorização do morador foi livre e sem vício de consentimento, impõe-se o reconhecimento da
ilegalidade da busca domiciliar.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 766.654/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 13/09/2022, DJe 19/09/2022
– Informativo 759

MUITO IMPORTANTE!

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime),
retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso?
139

A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já
foi oferecida (STJ, 3ª Seção, HC 610.201/SP, rel. min. Ribeiro Dantas, j. 24/03/2021 – Informativo 691/2021).
Página

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Jurisprudência Bloco II

Tema pacificado no STF em 13/04/2023:

A exigência de representação para estelionato retroage em benefício do réu.


Nos estelionatos cometidos antes da Lei 13.964/2019, se a vítima não fez a representação, ela deverá ser
intimada para que o faça, no prazo de 30 dias, sob pena de decadência. O fundamento utilizado foi a aplicação,
por analogia do art. 91 da Lei 9.099/95. Para o STF, ainda que a Lei 13.964/2019 não tenha regulado
expressamente uma norma de transição semelhante, isso não afasta a necessidade de retroatividade da
norma que possui natureza mista ao alterar a iniciativa da ação penal do estelionato para condicionada à
representação da pessoa ofendida. (STF, Plenário, HC 208.817-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/04/2023).

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de
advogado réu em ação penal.

STJ, 5ª Turma, RMS 63.393/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 23/06/2020, DJe 30/06/2020 –
Informativo 675/2020

Comentários:
Entende o STJ que “a qualidade de advogado ostentada por qualquer das partes, por si só, não legitima
a Ordem dos Advogados do Brasil à assistência” (HC 55.631/DF). Mesmo na seara civil e administrativa, o STJ
exige a demonstração do interesse jurídico na intervenção de terceiros, que somente se identifica, no caso da
OAB, quando a demanda trata das prerrogativas de advogados ou das “disposições ou fins” do Estatuto da
Advocacia, conforme se depreende do art. 49 da Lei n. 8.906/94. Desse modo, a legitimidade prevista na
norma do Estatuto da OAB apenas se verifica em situações que afetem interesses ou prerrogativas da
categoria dos advogados, não autorizando a intervenção dos Presidentes dos Conselhos e das Subseções da
OAB, como assistentes da defesa, pela mera condição de advogado do acusado.

O ajuizamento de duas ações penais referentes aos mesmos fatos, uma na Justiça Comum Estadual e outra na
Justiça Eleitoral, viola a garantia contra a dupla incriminação.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.847.488/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 20/04/2021, DJe 26/04/2021 – Informativo 719

O juiz tem poderes diante da omissão de alegações finais pelo advogado para oportunizar à parte a
substituição dele no causídico ou, na inércia, para requerer que a Defensoria Pública ofereça as alegações
finais.

STJ, 6ª Turma, RMS 47.680/RR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 05/10/2021, DJe 11/10/2021 – Informativo
715/2021

Não se mostra razoável, para a realização da audiência de custódia, determinar o retorno de investigado à
140

localidade em que ocorreu a prisão quando este já tenha sido transferido para a comarca em que se realizou
a busca e apreensão.
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STJ, 3ª Seção, CC 182.728/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 13/10/2021, DJe 19/10/2021 – Informativo 714/2021

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Jurisprudência Bloco II

A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de


ausência de audiência de custódia.

STF, 2ª Turma, HC 202.579 AgR/ES e HC 202.700 AgR/SP, Rel. Min. Nunes Marques, Rel. Acd. Min. Gilmar
Mendes, j. 26/10/2021 – Informativo 1036/2021

Comentários:
A audiência de custódia tem finalidades sistêmicas totalmente distintas daquelas desempenhadas na
audiência de instrução e julgamento.
A audiência de custódia possui limitações, pois não se pode antecipar o julgamento de mérito do
processo com aprofundamento instrutório. Contudo, tendo-se em vista que no ato há um contato da defesa
com um juiz, deve-se dar primazia ao exercício do contraditório de modo oral e com imediação para controle
da legalidade da prisão e especial atenção à revisão de ilegalidades manifestas.
Ainda que eventualmente questões sobre a prisão e eventuais abusos possam ser levantadas pelas
partes na audiência de instrução, deve-se perceber que tais questões seriam objeto de análise incidental, e
não o tema central da audiência a ser submetido ao contraditório. A depender da inércia das partes, esses
pontos podem nem mesmo ser abordados.
Além disso, aceitar a superação da necessidade de realização da audiência de custódia pelo transcurso
do prazo e a ocorrência da audiência de instrução findaria por transmitir uma mensagem distorcida aos
operadores do sistema criminal, no sentido da desnecessidade da medida.

Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em apartamento
que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente ausência de
residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crime permanente.

STJ, 5ª Turma, HC 588.445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 25/08/2020, DJe 31/08/2020 –
Informativo 678

É válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede de empresa investigada por pessoa que age
como sua representante.

STJ, 5ª Turma, RMS 57.740/PE, rel. min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 23/03/2021 – Informativo 690/2021

Inexiste exigência legal de que o mandado de busca e apreensão detalhe o tipo de documento a ser
apreendido, ainda que de natureza sigilosa.

STJ, 6ª Turma, RHC 141.737/PR, rel. min. Sebastião Reis Junior, j. 27/04/2021 – Informativo 694/2021

Nesse sentido, também já se pronunciou o STF: “dada a impossibilidade de indicação, ex ante, de todos os
141

bens passíveis de apreensão no local da busca, é mister conferir-se certa discricionariedade, no momento da
diligência, à autoridade policial” (Pet 5173/DF, min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJe 18/11/2014).
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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
A busca e apreensão de bens em interior de veículo é legal e inerente ao dever de fiscalização regular da Polícia
Rodoviária Federal, em se tratando do flagrante de transporte de vultuosa quantia em dinheiro e não tendo o
investigado logrado justificar o motivo de tal conduta.

STJ, 6ª Turma, RHC 142.250/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 28/09/2021, DJe 30/09/2021 – Informativo
711/2021

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Constituição como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo prescricional ao
tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o processo permanecer
suspenso.

STF, Plenário, RE 600.851, j. 04/12/2020 – Informativo 1001/2020

Comentários:
A Constituição estipula ser a prescritibilidade das pretensões penais a regra e, salvo opção
constitucional expressa, não autoriza que o legislador ordinário crie hipóteses de imprescritibilidade fora do
texto constitucional. Essa conclusão advém de diversos dispositivos constitucionais, como a vedação de penas
de caráter perpétuo, a garantia da duração razoável do processo e da celeridade processual e a cláusula do
devido processo legal. Assim, temos que a imprescritibilidade é opção somente quando prevista na própria
Constituição, como é o caso dos crimes de racismo e as ações de grupos armados contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.
Seguindo esse raciocínio, afirmou o Plenário do Supremo que é compatível com a Constituição a
interpretação conjunta do art. 366 do CPP com o art. 109, caput, do CP, limitando o prazo de suspensão da
prescrição ao tempo de prescrição do máximo da pena em abstrato prevista para o delito. Afinal, a lógica da
prescrição é que as pretensões sejam exercidas em prazo previamente delimitado no tempo, visando sempre
a segurança jurídica. Caso essa limitação não exista, o que se tem, ao fim, é a imprescritibilidade. Não bastasse
isso, o legislador ordinário não está autorizado a criar hipóteses de imprescritibilidade penal.
Ademais, mostra-se condizente com o princípio da proporcionalidade e com a própria noção de
individualização da pena, regular o prazo de suspensão da prescrição com o tempo de prescrição da pena
máxima em abstrato cominado ao delito.
Ainda, a compreensão de que deve ser dado prosseguimento ao processo, com a nomeação de
defensor dativo, contraria o sentido da alteração promovida no art. 366 do CPP pela Lei n. 9.271/96. Isso
porque a citação por edital é uma ficção jurídica, de modo que a referida alteração legislativa pretendeu obstar
que alguém fosse processado e julgado sem que se tivesse a certeza de que tomara conhecimento do
processo, em prejuízo à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal. Além de não prestigiar as
garantias inerentes ao devido processo legal, a retomada do processo colocaria o réu em situação mais gravosa
do que a suspensão do processo e da prescrição ad eternum.
Assim, decidiu o Supremo que no caso de inatividade processual decorrente de citação por edital,
deve-se limitar o período de suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em
abstrato cominada ao crime, de modo que, finda a suspensão do prazo prescricional pelo decurso do tempo,
142

seu curso será retomado, permanecendo suspenso o processo penal.


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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II
Importante!

É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam adotadas medidas suficientes
para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do ato
processual.

STJ, 5ª Turma, HC 641.877/DF, rel. min. Ribeiro Dantas, j. 09/03/2021 – Informativo 688

O termo final da suspensão do prazo prescricional pela expedição de carta rogatória para citação do acusado
no exterior é a data da efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora para a
juntada da carta rogatória cumprida aos autos.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.882.330/SP, rel. min. Ribeiro Dantas, j. 06/04/2021 – Informativo 691/2021

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMS e na prova para Juiz do TJPE, esta última aplicada em
2022.

Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira
em investimento de grupo em criptomoeda.

STJ, 3ª Seção, CC 170392/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 10/06/2020, DJe 16/06/2020 – Informativo
673/2020

Comentários:
De acordo com a 3ª Seção do STJ, a captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se
enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual só se terá como competente a Justiça Federal
quando demonstrada a evasão de divisas ou a lavagem de dinheiro em detrimento de bens, serviços e
interesses da União.

A conduta de transportar folhas de coca melhor se amolda, em tese e para a definição de competência, ao
tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima
destinada à preparação de drogas.

STJ, 3ª Seção, CC 172.464/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10/06/2020, DJe 16/06/2020 –
Informativo 673/2020

Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o
cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
143

federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta.


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STJ, CC 171.206/SP, 3ª Seção, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 10/06/2020, DJe 16/06/2020 – Informativo
673/2020

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Jurisprudência Bloco II

Compete ao Juízo Federal do endereço do destinatário da droga, importada via Correio, processar e julgar o
crime de tráfico internacional.

STJ, 3ª Seção, CC 177.882/PR, rel. min. Joel Ilan Paciornik, j. 26/05/2021 – Informativo 698/2021

IMPORTANTE SABER: O STJ cancelou formalmente a Súmula 528 no dia 25/02/2022.

Incorre em usurpação de competência o Juízo cível ou trabalhista que pratica ato expropriatório de bem
sequestrado na esfera penal.

STJ, 3ª Seção, CC 175.033/GO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 26/05/2021, DJe 31/05/2021 – Informativo
698/2021

Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao Programa
Minha Casa Minha Vida.

STJ, 3ª Seção, CC 179.467/RJ, rel. Min. Laurita Vaz, j. 09/06/2021 – Informativo 700/2021

Nos crimes de estelionato, quando praticados mediante depósito, por emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou por meio da transferência de
valores, a competência será definida pelo local do domicílio da vítima, em razão da superveniência da Lei n.
14.155/2021, ainda que os fatos tenham sido anteriores à nova lei.

STJ, 3ª Seção, CC 180.832/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 25/08/2021 – Informativo 706/2021

Comentários:
Em regra, o Código de Processo Penal estabelece, nos termos de seu art. 70, que a competência deve
se determinar pelo local em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo local onde for praticado
o último ato de execução.
Ocorre que em 28/05/2021 entrou em vigor a Lei n. 14.155/2021 que, dentre outras modificações,
introduziu o § 4º ao mencionado art. 70 do CPP, para determinar que no crime de estelionato (tipificado no
art. 171 do CP), quando praticado mediante depósito, emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será
definida pelo local do domicílio da vítima e, em caso de pluralidade de vítimas, firmar-se-á pela prevenção.
Considerando referida alteração, a 3ª Seção do STJ decidiu que, por se tratar de norma processual,
deve a Lei n. 14.155/2021 ser aplicada de imediato, ainda que os fatos sejam anteriores a ela, notadamente
quando o processo ainda estiver em fase de inquérito policial.

É do juízo criminal singular a competência para julgar o crime de remoção ilegal de órgãos, praticado em
144

pessoa viva e que resulta morte, previsto no art. 14, § 4º, da Lei n. 9.434/1997 (Lei de Transplantes).
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STF, Plenário, RE 1.313.494/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 14/09/2021 – Informativo 1030/2021

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Jurisprudência Bloco II
A Justiça Federal é competente para processar e julgar os crimes ambientais e contra a vida decorrentes do
rompimento da barragem em Brumadinho/MG.

STJ, 6ª Turma, RHC 151.405/MG, Rel. Min. Olindo Menezes (convocado TRF-5), j. 19/10/2021 – Informativo
714/2021

Não compete à Justiça Federal processar e julgar o desvio de valores do auxílio emergencial pagos durante a
pandemia da Covid-19, por meio de violação do sistema de segurança de instituição privada, sem que haja
fraude direcionada à instituição financeira federal.

STJ, 3ª Seção, CC 182.940/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 27/10/2021, DJe 03/11/2021 – Informativo
716/2021

Diante da persistência do quadro pandêmico de emergência sanitária decorrente da Covid-19 e presentes a


plausibilidade jurídica do direito invocado, bem como o perigo de lesão irreparável ou de difícil reparação a
direitos fundamentais das pessoas levadas ao cárcere, admite-se – analisadas as peculiaridades dos processos
individuais pelos respectivos juízos de execução penal, e desde que presentes os requisitos subjetivos – a
adoção de medidas tendentes a evitar a infecção e a propagação da Covid-19 em estabelecimentos prisionais,
dentre as quais a progressão antecipada da pena.

STF, 2ª Turma, HC 188.820, rel. Min. Edson Fachin, j. 24/02/2021 – Informativo 1006/2021

É possível considerar o tempo submetido à medida cautelar de recolhimento noturno, aos finais de semana e
dias não úteis, supervisionados por monitoramento eletrônico, com o tempo de pena efetivamente cumprido,
para detração da pena.

STJ, 3ª Seção, HC 455.097/PR, rel. min. Laurita Vaz, j. 14/04/2021 – Informativo 693/2021

O crime de posse ou porte de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro sinal
de identificação raspado, suprimido ou adulterado não integra o rol dos crimes hediondos.

STJ, 6ª Turma, HC 525.249/RS, rel. Min. Laurita Vaz, j. 15/12/2020, DJe 18/12/2020 – Informativo 684/2021

Muito importante!

É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, àqueles


apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam
reincidentes em delito de natureza semelhante.

STJ, 3ª Seção, REsp 1.910.240/MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 26/05/2021, DJe 31/05/2021 (Tema 1084)
145

– Informativo 699/2021
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Jurisprudência Bloco II
Comentários:
A Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), promoveu profundas alterações na Lei de Execução Penal,
dentre as quais a alteração nos lapsos temporais exigidos para a progressão de regime prisional, tendo sido
expressamente revogadas as disposições do art. 2º, § 2º, da Lei n. 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos) e
estabelecidos patamares de progressão com base (i) na natureza do delito e (ii) no caráter da reincidência
(genérica ou específica).
Especificamente em relação ao condenado por crime hediondo ou equiparado sem resultado morte,
a atual redação do art. 112 estabelece, para progressão de regime, que o apenado tenha cumprido 40% da
pena, se for primário, ou 60% da pena se for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado (ou seja,
estabelece o patamar de 60% quando se tratar de reincidência específica).
Não há, na lei, previsão quanto ao tempo mínimo de pena para progressão do apenado condenado
por crime hediondo ou equiparado, mas reincidente genérico, o que impõe ao Juízo da execução penal a
integração da norma. Desse modo, considerando o óbice à analogia in malam partem, a 3ª Seção do STJ
concluiu ser aplicável aos reincidentes genéricos os lapsos de progressão referentes aos sentenciados
primários – 40% conforme inciso V do art. 112 da LEP.
Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é indiscutível que –
considerando a mencionada lacuna legal – o atual art. 112, V, da LEP, que fixa o cumprimento de 40% da pena
para progressão de regime ao sentenciado primário, institui conjuntura mais favorável que a instituída pela
redação anterior, que fixava o lapso de 3/5, autorizando-se, assim, a retroatividade da lei penal mais benigna.
Diante de todas essas considerações, a 3ª Seção do STJ fixou a seguinte tese: “É reconhecida a
retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da Lei n. 13.964/2019, àqueles apenados que, embora
tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em delito de
natureza semelhante”.

No mesmo sentido do julgado acima, o STF:

Tendo em vista a legalidade e a taxatividade da norma penal (art. 5º, XXXIX, CF), a alteração promovida pela
Lei 13.964/2019 no art. 112 da LEP não autoriza a incidência do percentual de 60% (inc. VII) aos condenados
reincidentes não específicos para o fim de progressão de regime. Diante da omissão legislativa, impõe-se a
analogia in bonam partem, para aplicação, inclusive retroativa, do inciso V do art. 112 da LEP (lapso temporal
de 40%) ao condenado por crime hediondo ou equiparado sem resultado morte reincidente não específico.

STF, Plenário, ARE 1.327.963/SP (Tema 1169 RG), Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17/09/2021 – Informativo
1032/2021

A manutenção do monitoramento eletrônico ao apenado agraciado com a progressão ao regime aberto não
implica constrangimento ilegal, pois atende aos parâmetros referenciados na Súmula Vinculante 56.

STJ, 6ª Turma, HC 691.963/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 19/10/2021, DJe 22/10/2021 – Informativo
715/2021
146
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Jurisprudência Bloco II
O reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do inquérito policial,
apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas
no art. 226 do Código de Processo Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob
o crivo do contraditório e da ampla defesa.

STJ, 6ª Turma, HC 598.886/SC, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 27/10/2020, DJe 18/12/2020 – Informativo
684/2021

A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito


incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou
o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve
ser registrada em áudio-vídeo e preservada a prova enquanto durar o processo.

STJ, 6ª Turma, HC 598.051/SP, rel. Min. Rogério Schietti Cruz, j. 02/03/2021 – Informativo 687/2021

É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do hóspede, em quarto de hotel
não utilizado como morada permanente, desde que presentes as fundadas razões que sinalizem a ocorrência
de crime e hipótese de flagrante delito.

STJ, 6ª Turma, HC 659.527/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 19/10/2021, DJe 25/10/2021 – Informativo
715/2021

Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações penais de
menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro juízo com
vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto àqueles, os
institutos despenalizadores, quando cabíveis.

STF, Plenário, ADI 5264, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 04/12/2020 – Informativo 1001/2020

A medida assecuratória de indisponibilidade de bens, prevista no art. 4º, § 4º, da Lei n. 9.613/98 (Lei de
Lavagem de Capitais), pode atingir bens de origem lícita ou ilícita, adquiridos antes ou depois da infração penal,
bem como de pessoa jurídica ou familiar não denunciado, quando houver confusão patrimonial.

STJ, Corte Especial, Inq 1.190/DF, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 15/09/2021 – Informativo 710/2021

A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei n. 12.850/2013 independe de autorização, bastando


comunicação prévia à autoridade judicial.

STJ, 6ª Turma, HC 512.290/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 18/08/2020, DJe 25/08/2020 – Informativo
680/2020
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Jurisprudência Bloco II
A homologação de acordo de colaboração, em regra, terá que se dar perante o juízo competente para
autorizar as medidas de produção de prova e para processar e julgar os fatos delituosos cometidos pelo
colaborador. Caso a proposta de acordo aconteça entre a sentença e o julgamento pelo órgão recursal, a
homologação ocorrerá no julgamento pelo Tribunal e constará do acórdão.

STF, 2ª Turma, HC 192.063/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 02/02/2021 – Informativo 1004/2021

É indispensável a existência de prévia autorização judicial para a instauração de inquérito ou outro


procedimento investigatório em face de autoridade com foro por prerrogativa de função em Tribunal de
Justiça. O Ministério Público deve requerer judicialmente a prévia instauração de investigação contra
autoridade com foro por prerrogativa de função em Tribunal De Justiça — ou, ao menos, deve cientificar o
aludido Tribunal para fins de possibilitar o exercício da atividade de supervisão judicial.

STF, 2ª Turma, HC 201.965/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 30/11/2021

Se a defesa técnica teve pleno acesso aos autos da ação penal, anexos e mídias eletrônicas, a negativa de
ingresso de notebook na unidade prisional para que o custodiado visualize as peças eletrônicas não configura
violação do princípio da ampla defesa.

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 631.960/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 23/11/2021, DJe 26/11/2021 –
Informativo 720/2021

Muito importante!

Após o advento da Lei n. 13.964/2019, não é possível a conversão ex officio da prisão em flagrante em
preventiva, mesmo nas situações em que não ocorre audiência de custódia.

STJ, 3ª Seção, RHC 131.263, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 24/02/2021 – Informativo 686/2021

Comentários:
Com o RHC 131.263 julgado pela 3ª Seção do STJ em 24/02/2021 (informativo n. 686), pacificou-se o
entendimento no âmbito dos Tribunais Superiores no sentido da impossibilidade de conversão de ofício da
prisão em flagrante em prisão preventiva, devendo haver pedido da parte interessada nesse sentido. A
divergência ocorria entre as Turmas do STJ.
Após o advento da Lei n. 13.964/2019, não é mais possível a conversão da prisão em flagrante em
preventiva sem provocação por parte ou da autoridade policial, do querelante, do assistente, ou do Ministério
Público, mesmo nas situações em que não ocorre audiência de custódia.
Nesse sentido, deve-se considerar o disposto no art. 3º-A do CPP, que reafirma o sistema acusatório
em que o juiz atua, vinculado à provocação do órgão acusador; no art. 282, § 2º, do CPP, que vincula a
decretação de medida cautelar pelo juiz ao requerimento das partes ou quando, no curso da investigação
148

criminal, à representação da autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público; e, finalmente, no


art. 311, também do CPP, que é expresso ao vincular a decretação da prisão preventiva a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou à representação da autoridade policial.
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Jurisprudência Bloco II
Vale ressaltar que a prisão preventiva não é uma consequência natural da prisão flagrante, logo é uma
situação nova que deve respeitar o disposto, em especial, nos arts. 311 e 312 do CPP.
Não se vê, ainda, como o disposto no inciso II do art. 310 do CPP - possibilidade de o juiz converter a
prisão em flagrante em preventiva quando presentes os requisitos do art. 312 e se revelarem inadequadas ou
insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão - pode autorizar a conversão da prisão em flagrante em
preventiva sem pedido expresso nesse sentido, já que tal dispositivo deve ser interpretado em conjunto com
os demais que cuidam da prisão preventiva.
Dessa forma, pode, sim, o juiz converter a prisão em flagrante em preventiva desde que, além de
presentes as hipóteses do art. 312 e ausente a possibilidade de substituir por cautelares outras, haja o pedido
expresso por parte ou do Ministério Público, ou da autoridade policial, ou do assistente ou do querelante.
Por fim, a não realização da audiência de custódia (qualquer que tenha sido a razão para que isso
ocorresse ou eventual ausência do representante do Ministério Público quando de sua realização) não autoriza
a prisão, de ofício, considerando que o pedido para tanto pode ser formulado independentemente de sua
ocorrência. O fato é que as novas disposições legais trazidas pela Lei n. 13.964/2019 impõem ao Ministério
Público e à Autoridade Policial a obrigação de se estruturarem de modo a atender os novos deveres que lhes
foram impostos.

Muito importante!

O posterior requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou manifestação do Ministério


Público favorável à prisão preventiva suprem o vício da inobservância da formalidade de prévio
requerimento.

STJ, 5ª Turma, AgRg no RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fischer, j. 11/03/2021 – Informativo 691/2021

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJMG, aplicada em 2022.

A obrigação de revisar, a cada 90 dias, a necessidade de se manter a custódia cautelar (CPP, art. 316, parágrafo
único), é imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a prisão preventiva.

STJ, 6ª Turma, HC 589.544/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08/09/2020, DJe 22/09/2020 – Informativo 680/2020

A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática
revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade
de seus fundamentos.

STF, Plenário, SL 1395, Rel. Min. Juiz Fux, j. 14 e 15/10/2020 – Informativo 995/2020

Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar – desde que observados os requisitos
149

do art. 318 do CPP e não praticados crimes mediante violência ou grave ameaça ou contra os próprios filhos
ou dependentes – os pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de menor de 12 anos ou de
pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe ou o pai, se forem
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imprescindíveis aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência.

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STF, 2ª Turma, HC 165.704, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 20/10/2020 – Informativo 996/2020

É ilegal a sentença de pronúncia fundamentada exclusivamente em elementos colhidos no inquérito policial.

STJ, HC 589.270, 6ª Turma, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 23/02/2021 – Informativo 686/2021

Não é cabível a pronúncia fundada exclusivamente em testemunhos indiretos de “ouvi dizer”.

STJ, 5ª Turma, HC 673.138/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 14/09/2021 – Informativo 709/2021

Não cabe ao juiz, na audiência de instrução e julgamento de processo penal, iniciar a inquirição de testemunha,
cabendo-lhe, apenas, complementar a inquirição sobre os pontos não esclarecidos.

STF, 1ª Turma, HC 187.035/SP, rel. min. Marco Aurélio, j. 06/04/2021 – Informativo 1012/2021

Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais prestadas a policiais no


momento da prisão em flagrante.

STF, 2ª Turma, RHC 170.843, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 04/05/2021 – Informativo 1016

Viola o princípio constitucional da ampla defesa o indeferimento de prova nova sem a demonstração de seu
caráter manifestamente protelatório ou meramente tumultuário, mormente quando esta teve como causa
situação processual superveniente.

STJ, 6ª Turma, HC 545.097/SP, Rel. Min. Rogério Schietti, Cruz, j. 28/09/2021 – Informativo 711/2021

É ilegal a quebra do sigilo telefônico mediante a habilitação de chip da autoridade policial em substituição ao
do investigado titular da linha.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.806.792/SP, rel. Min. Laurita Vaz, j. 11/05/2021 – Informativo 696/2021

A superveniência de sentença condenatória não tem o condão de prejudicar habeas corpus que analisa tese
defensiva de que teria havido quebra da cadeia de custódia da prova, ocorrida ainda na fase inquisitorial e
empregada como justa causa para a própria ação penal.
*Esse entendimento representa verdadeira exceção à Súmula n. 648/STJ.

As irregularidades constantes da cadeia de custódia devem ser sopesadas pelo magistrado com todos os
elementos produzidos na instrução, a fim de aferir se a prova é confiável.
150

STJ, 6ª Turma, HC 653.515/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23/11/2021 –
Informativo 720/2021
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Importante!

A apelação criminal é o recurso cabível adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do
acordo de colaboração premiada, mas ante a existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio
da fungibilidade.

STJ, REsp 1.834.215/RS, 6ª Turma, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 27/10/2020, DJe 12/11/2020 – Informativo
683/2020

Sobre o tema: Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas parcialmente
o acordo de colaboração premiada (STF, 2ª T., HC 192.063/RJ, j. 02/02/2021, Informativo 1004).

O réu delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais somente após o réu delator. Os réus
colaboradores não podem se manifestar por último (ou no mesmo prazo dos réus delatados) porque as
informações trazidas por eles possuem uma carga acusatória.

STF, 2ª Turma, HC 157.627 AgR/PR, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. Acd. Min. Ricardo Lewandowski, j. 27/08/2019
– Informativo 949

Comentários:
O direito fundamental ao contraditório e à ampla defesa deve permear todo o processo legal,
garantindo-se sempre a possibilidade de a defesa se manifestar depois do agente acusador. Vale ressaltar que
pouco importa a qualificação jurídica do agente acusador: Ministério Público ou corréu colaborador. Se é um
“agente acusador”, a defesa deve falar depois dele.
Ao se permitir que os réus colaboradores falem por último (ou simultaneamente com os réus
delatados), há uma inversão processual que ocasiona sério prejuízo ao delatado, tendo em vista que ele não
terá oportunidade de repelir os argumentos eventualmente incriminatórios trazidos pelo réu delator ou para
reforçar os favoráveis à sua defesa.
Permitir o oferecimento de memoriais escritos de réus colaboradores, de forma simultânea ou depois
da defesa — sobretudo no caso de utilização desse meio de prova para prolação da condenação —,
compromete o pleno exercício do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa falar por último, a fim de
poder reagir às manifestações acusatórias.

A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de
modificação ou de concentração da competência.

STF, 2ª Turma, HC 181.978-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/11/2020 – Informativo 999

Comentários:
Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos
151

ao objeto da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao
encontro fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a
interceptação telefônica.
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A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação,
de modificação ou de concentração da competência. Assim, ainda que o agente colaborador aponte a
existência de outros crimes e que o juízo perante o qual foram prestados seus depoimentos ou apresentadas
as provas que corroborem suas declarações ordene a realização de diligências para sua apuração, esses fatos,
por si sós, não firmam sua prevenção.

A ausência de afirmação da autoridade policial de sua própria suspeição não eiva de nulidade o processo
judicial por si só, sendo necessária a demonstração do prejuízo suportado pelo réu.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.942.942/RO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 10/08/2021 – Informativo 704/2021

Em face da reforma introduzida no procedimento do Tribunal do Júri (Lei n. 11.689/2008), é incongruente o


controle judicial, em sede recursal (CPP, art. 593, III, “d”), das decisões absolutórias proferidas com
fundamento no art. 483, III e § 2º, do CPP.

STF, 2ª Turma, RHC 192431 e RHC 192432, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 23/02/2021 – Informativo
1007/2021

Quando a apelação contra a sentença condenatória é interposta com fundamento no art. 593, III, “d” do
Código de Processo Penal, o Tribunal tem o dever de analisar se existem provas de cada um dos elementos
essenciais do crime, ainda que não concorde com o peso que lhes deu o júri.

STJ, 5ª Turma, AREsp 1.803.562/CE, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 24/08/2021, DJe 30/08/2021 – Informativo
707/2021

No tribunal do júri é possível, mediante acordo entre as partes, estabelecer uma divisão de tempo para
debates de acusação e defesa que melhor se ajuste às peculiaridades do caso.

STJ, 6ª Turma, HC 703.912/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 23/11/2021 – Informativo 719

Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes
indícios de transnacionalidade na conduta.

STJ, 3ª Seção, CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 26/09/2018 – Informativo 635

Demonstrados pelo Parquet todos os indícios necessários para a decretação da medida cautelar de
sequestro prevista nos arts. 1º e 3º do Decreto-Lei n. 3.240/1941, inverte-se o ônus da prova, cabendo ao
impetrante comprovar que jamais se locupletou com a sonegação e/ou que outro era o verdadeiro
responsável pela gestão da empresa, prova essa que, na via do mandado de segurança, deve ser pré-
constituída, já que o rito do writ não admite dilação probatória.
152

STJ, AgRg no RMS 60.927/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, j. 17/09/2019, DJe 24/09/2019
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O artigo 273 do Código de Processo Penal disciplina, de forma expressa, o não cabimento de qualquer recurso
contra a decisão que admite ou não o assistente de acusação, sendo certo que, caso evidenciada flagrante
ilegalidade no referido ato, lhe restaria a via do mandado de segurança conforme doutrina e STJ.

RHC 31.667/ES, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, j. 28/05/2013, DJe 11/06/2013

1. Consoante entendimento pacificado no âmbito desta Casa de Justiça e da Suprema Corte, o recurso de
apelação interposto contra as decisões do Tribunal do Júri tem devolutividade restrita. Vale dizer, somente
são devolvidas ao Tribunal ad quem as matérias efetivamente constantes nas razões de apelação. 2. No
caso, vê-se que a tese ora ventilada - nulidade na quesitação - não foi arguida pela defesa nas razões de
apelação. 3. Ainda que assim não o fosse, o fato de a defesa não ter apresentado irresignação no momento
apropriado torna preclusa a matéria. Inteligência do art. 571, VIII, do CPP. 4. Na hipótese, a leitura da ata de
julgamento aponta que, indagadas as partes se concordavam com os quesitos formulados, não houve
nenhuma contrariedade. 5. Ordem denegada.

STJ, HC 103.470/MS, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª Turma, j. 11/10/2011, DJe 26/10/2011

o HC tem caráter universal no que tange a legitimidade ativa. Contudo tem natureza personalíssima, podendo
ser impetrado apenas pela própria pessoa que sofre a violação da liberdade, ou por seu representante legal,
ou ainda por terceiros quando por ele, o sujeito o qual recai a liberdade de ir e vir, anuído. Sendo assim, é
incabível conhecimento de HC quando o paciente não concorda com a impetração do referido remédio.

STF, HC 145.751

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJES, bem como caiu na prova para Juiz do TJMS, do
TJPE e do TJSC, as duas últimas aplicada em 2022. Ou seja, a FGV ama muito!

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO PELO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. LEGITIMIDADE. PRETENSÃO


QUE NÃO EXTRAPOLOU OS LIMITES DA DENÚNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou a orientação de que não cabe habeas corpus em substituição ao
recurso próprio, impondo-se, em situações tais, o não conhecimento da impetração, salvo se identificada
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. A jurisprudência do STJ tem-se posicionado no sentido de flexibilizar o rigor da regra contida no art. 271 do
Código de Processo Penal, de modo a, conferindo-lhe caráter mais abrangente, reconhecer a legitimidade
recursal do assistente de acusação quando interpõe recurso contra decisão de desclassificação de crime de
competência do tribunal do júri.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
153

STJ, 5ª Turma, AgRg no HC 539.346/PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha j. 13/09/2022

#FGVAMA
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Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJPE, aplicada em 2022.

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JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco II

A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da ação penal,
nos termos do art. 395, III, do CPP, e consubstancia-se pela somatória de três componentes essenciais:
(a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a
conduta precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas extintivas da punibilidade); e
(c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de autoria).

STF, 1ª Turma, HC 129.678, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/06/2017 -
Informativo 869

#FGVAMA
Esse julgado caiu na prova para Juiz do TJSC, aplicada em 2022.

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