Você está na página 1de 103

JURIS EM DIA

REVISÃO DE
JURISPRUDÊNCIA
FGV
Bloco I - Direito Civil, Processo Civil, Direito da
Criança e do Adolescente, Direito do Consumidor

*Este infoproduto foi criado e desenvolvido por


Mariana David Ferreira Machado
JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Olá, querido(a) aluno(a)!

Sou a Mariana Machado, advogada e responsável pelo projeto @jurisemdia, e elaborei esse material
especialmente para você que fará os concursos para Juiz de Direito Substituto do Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná e do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, ambos da banca FGV (Fundação
Getúlio Vargas), cujas provas serão realizadas, respectivamente, nos dias 03/12/2023 e 17/12/2023.

Nas páginas a seguir, você vai encontrar uma seleção com julgados importantes referentes às
disciplinas do Bloco I dos mencionados concursos, são elas: a) Direito Civil; b) Direito Processual
Civil; c) Direito do Consumidor; e d) Direito da Criança e do Adolescente.

Vou te lembrar que este é o primeiro e-book de três, cada qual referente a um bloco da sua prova.
O próximo e-book será disponibilizado no dia 25/09/2023 e contará com julgados importantes sobre
as seguintes disciplinas: a) Direito Constitucional; b) Direito Eleitoral; c) Direito Penal; e d) Direito
Processual Penal.

Se tiver alguma dúvida, entre em contato pelo nosso perfil do Instagram (@jurisemdia) ou pelo e-
mail: jurisemdia@gmail.com

Vá fundo em sua preparação e bons estudos!

1
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
ATENÇÃO! NÃO DEIXE DE LER:

• Você vai receber um material separado com os julgados em destaque do ano de 2023.

• Neste material você encontrará, além de julgados importantes, um destaque para os temas
que vêm sendo cobrados pela banca FGV. Fique de olho nessas sinalizações, pois as bancas
tendem a ser repetitivas na elaboração de suas questões – você perceberá, por exemplo, que
há julgados que foram cobrados recentemente nas provas para o TJ/MS e para o TJ/ES, ambas
aplicadas neste ano de 2023.

• Além dos materiais de revisão, será liberado para você um Cronograma de Leitura, para te
guiar e auxiliar na conclusão da sua revisão antes da data da primeira prova (TJ/PR –
03/12/2023).

• Atenção, agora, ao cronograma de liberação dos materiais incluídos nesta revisão:

DATA DE LIBERAÇÃO MATERIAL


07/09/2023 Material de Jurisprudência – Bloco I
14/09/2023 Rodada 1 – Questões de fixação – Bloco I
21/09/2023 Rodada 2 – Questões de fixação – Bloco I
25/09/2023 Material de Jurisprudência – Bloco II
02/10/2023 Rodada 3 – Questões de fixação – Bloco II
09/10/2023 Rodada 4 – Questões de fixação – Bloco II
16/10/2023 Material de Jurisprudência – Bloco III
23/10/2023 Rodada 5 – Questões de fixação – Bloco III
30/10/2023 Rodada 6 – Questões de fixação – Bloco III
06/11/2023 Material de Jurisprudência 2023
13/11/2023 Rodada 7 – Questões de fixação – todas as disciplinas
20/11/2023 Rodada 8 – Questões de fixação – todas as disciplinas
2
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Sumário

DIREITO CIVIL .............................................................................................................................. 4

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .............................................................................. 44

DIREITO DO CONSUMIDOR ...................................................................................................... 53

PROCESSO CIVIL ........................................................................................................................ 72

3
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
DIREITO CIVIL

Ao credor fiduciário é dada a faculdade de executar a integralidade de seu crédito judicialmente, desde que o
título que dá lastro à execução esteja dotado de todos os atributos necessários.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.965.973/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 15/02/2022 – Informativo 725

Comentários:
O credor de dívida garantida por alienação fiduciária de imóvel está obrigado a promover a execução
extrajudicial de seu crédito na forma determinada pela Lei n. 9.514/1997?
A Cédula de Crédito Bancário, desde que satisfeitas as exigências do art. 28, § 2º, I e II, da Lei n.
10.931/2004, de modo a lhe conferir liquidez e exequibilidade, e desde que preenchidos os requisitos do art.
29 do mesmo diploma legal, é título executivo extrajudicial.
Assim, o só fato de estar a dívida lastreada em título executivo extrajudicial e não haver controvérsia
quanto à sua liquidez, certeza e exigibilidade, ao menos no bojo da exceção de pré-executividade, é o quanto
basta para a propositura da execução (art. 580, CPC/73 ou art. 786, CPC/2015.
A constituição de garantia fiduciária como pacto adjeto ao financiamento instrumentalizado por meio
de Cédula de Crédito Bancário em nada modifica o direito do credor de optar por executar o seu crédito de
maneira diversa daquela estatuída na Lei n. 9.514/1997 (execução extrajudicial).
A propositura de execução de título extrajudicial, inclusive, aparenta ser a solução mais eficaz em
determinados casos, diante da existência de questão altamente controvertida, tanto da doutrina quanto na
jurisprudência dos tribunais, referente à possibilidade de o credor fiduciário exigir o saldo remanescente se o
produto obtido com a venda extrajudicial do bem imóvel dado em garantia não for suficiente para a quitação
integral do seu crédito, ou se não houver interessados em arrematar o bem no segundo leilão, considerando
o disposto nos §§ 5º e 6º do art. 27 da Lei n. 9.514/1997.
Com base nesse raciocínio, concluiu a 3ª Turma do STJ que ao credor fiduciário é dada a faculdade de
executar a integralidade de seu crédito judicialmente, desde que o título que dá lastro à execução esteja
dotado de todos os atributos necessários - liquidez, certeza e exigibilidade.

É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a benefício


obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa.

STF, Plenário, RE 820.823/DF (Tema 922 RG), Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/09/2022 – Informativo 1070

Comentários:
Condicionar a desfiliação de associado à quitação de débitos e/ou multas constitui ofensa à dimensão
negativa do direito à liberdade de associação (direito de não se associar), cuja previsão constitucional é
expressa. Ressalte-se, contudo, que a associação pode se valer dos instrumentos de direito para cobrar
eventuais compensações ou multas em face de quem a ela se filia para obter benefícios, mas, após, dela se
desliga, desde que o valor guarde razoabilidade e proporcionalidade.

Pratica ato ilícito apto à indenização o locador que proíbe o funcionamento de imóvel comercial locado, cujo
4
Página

acesso é autônomo e independente, sob a justificativa de cumprimento às normas de restrição sanitária pela
Covid-19.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 4ª Turma, REsp 1.997.050/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 02/08/2022 – Informativo 743

Muito importante!

Para o bem de família instituído nos moldes da Lei n. 8.009/1990, a proteção conferida pelo instituto alcançará
todas as obrigações do devedor, indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso de uma
demanda executiva.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.792.265/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/12/2021 – Informativo 723

Admite-se a penhora do bem de família para saldar o débito originado de contrato de empreitada global
celebrado para promover a construção do próprio imóvel.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.976.743/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/03/2022, DJe 11/03/2022 – Informativo
728/2022

Muito importante!

É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial,
seja comercial.

STF, Plenário, RE 1.307.334/SP (Tema 1127 RG), Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 08/03/2022 – Informativo
1046

Ajustando-se a esse entendimento, o STJ: É válida a penhora do bem de família de fiador apontado em
contrato de locação de imóvel, seja residencial, seja comercial, nos termos do inciso VII, do art. 3º da Lei n.
8.009/1990 (REsp 1.822.040/PR, Tema 1091, 2ª Seção, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 08/06/2022 –
Informativo 740)

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova do TJ/ES, aplicada no dia 27/08/2023. Inclusive, também se exigiu
o conhecimento da seguinte Súmula do STJ: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica
a ineficácia total da garantia (STJ, Súmula 332).

Muito importante!

É impenhorável o bem de família oferecido como caução em contrato de locação comercial.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.789.505/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 22/03/2022, DJe 07/04/2022 – Informativo 732

Comentários:
5
Página

A fiança e a caução são institutos explicitamente diferenciados pelo legislador enquanto modalidades
de garantia do contrato de locação, nos termos do art. 37 da Lei n. 8.245/1991. Trata-se de mecanismos com

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
regras e dinâmica de funcionamento próprias, cuja equiparação em suas consequências implicaria
inconsistência sistêmica.
Sobre o tema, a doutrina esclarece que "a caução é a cautela, precaução e, juridicamente, a submissão
de um bem ou uma pessoa a uma obrigação ou dívida pré-constituída. Portanto, a caução é gênero, do qual
são espécies a hipoteca, o penhor, a anticrese, o aval, a fiança etc".
Assim sendo, consoante asseverado pela eminente Min. Nancy Andrighi, relatora do REsp
1.873.594/SP, julgado em 02/03/2021 pela Terceira Turma, "o legislador optou, expressamente, pela espécie
(fiança), e não pelo gênero (caução), não deixando, por conseguinte, margem para dúvidas [...]. Caso o
legislador desejasse afastar da regra da impenhorabilidade o imóvel residencial oferecido em caução o teria
feito, assim como o fez no caso do imóvel dado em garantia hipotecária (art. 3º, V, da Lei n. 8.009/1990)".
Dessa forma, violaria a isonomia e a própria previsibilidade das relações jurídicas estender à caução
as gravosas consequências aplicadas à fiança pela Lei n. 8.009/1990. É que o ofertante do bem em caução não
aderiu aos efeitos legais atribuídos ao contrato de fiança. Noutros termos, a própria autonomia da vontade,
elemento fundamental das relações contratuais, restaria solapada se equiparados os regimes jurídicos em
tela.
Deste modo, a caução levada a registro, embora constitua garantia real, não encontra previsão em
qualquer das exceções legais, devendo prevalecer a impenhorabilidade do imóvel, quando se tratar de bem
de família.

Importante!

O imóvel dado em caução em contrato de locação comercial que pertence à determinada sociedade
empresária e é utilizado como moradia por um dos sócios recebe a proteção da impenhorabilidade do bem
de família.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.935.563/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 03/05/2022 – Informativo 735

Importante!

A obrigação do coproprietário de pagar alugueres de imóvel que este utiliza com exclusividade, como moradia
por sua família, em favor do outro, configura-se como propter rem afastando, assim, a impenhorabilidade do
bem de família.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.888.863/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, j.
10/05/2022, DJe 20/05/2022 – Informativo 748

A solvência dos créditos privilegiados detidos por credores concorrentes (concurso particular) independe de
se perquirir acerca da anterioridade da penhora, devendo o rateio do montante constrito ser procedido de
forma proporcional ao valor dos créditos (art. 962 do CC).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.987.941/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 03/05/2022, DJe 05/05/2022 – Informativo 735
6

A anterioridade da penhora é critério a ser considerado para estabelecer a forma de satisfação de créditos
Página

de igual privilégio em concurso particular de credores?

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
De acordo com a 3ª Turma do STJ, a norma do art. 908 do CPC/2015, segundo a qual deve ser
observada a anterioridade da penhora, incide apenas e tão somente quando se tratar de credores
quirografários, não se aplicando aos detentores de privilégio.
Segundo a doutrina, “a preferência emanada da anterioridade da penhora, porém, é condicional e
eventual, visto que apenas atua em sua plenitude quando concorrem ao dinheiro penhorado, ou ao produto
da alienação judicial de outro bem, dois ou mais credores quirografários, não envolvendo credores
pertencentes àquele segundo grupo, cuja primazia é oriunda de direito material. Dessa forma, além de
depender da solvência do executado, pressuposto geral ao concurso particular de credores [...], para ser
plenamente eficaz depende também da inexistência de credores concorrentes com título legal à preferência”.
Desse modo, não havendo necessidade de se perquirir acerca de qual credor obteve a penhora
anteriormente, aplica-se ao concurso particular de credores formado por titulares de verbas privilegiadas de
mesma natureza a norma insculpida no art. 962 do Código Civil, segundo o qual: “Quando concorrerem aos
mesmos bens, e por título igual, dois ou mais credores da mesma classe especialmente privilegiados, haverá
entre eles rateio proporcional ao valor dos respectivos créditos, se o produto não bastar para o pagamento
integral de todos”.

O adquirente de imóvel deve pagar as taxas condominiais desde o recebimento das chaves ou, em caso de
recusa ilegítima, a partir do momento no qual as chaves estavam à sua disposição.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.847.734/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 29/03/2022, DJe 31/03/2022 –
Informativo 731/2022

Comentários:
As despesas condominiais, devido à sua natureza propter rem, são obrigações provenientes da própria
coisa que recaem sobre o proprietário da unidade imobiliária ou sobre os titulares de um dos aspectos da
propriedade - a exemplo da posse -, desde que tenha estabelecido relação jurídica direta com o condomínio.
Por tais razões, a responsabilidade pelo pagamento também pode ser transferida para o adquirente do imóvel
em caso de inadimplemento do antigo titular (art. 1.345 do CC/2002).
Além disso, nos termos do art. 1.334 do CC/2002, os promitentes compradores e os cessionários de
direitos relativos às unidades autônomas são equiparados aos proprietários. Assim, diante da celebração de
compromisso de compra e venda, o dever de adimplir as cotas condominiais pode ser tanto do promissário
comprador quanto do promitente vendedor, a depender das circunstâncias do caso concreto, sem prejuízo de
eventual direito de regresso.
No julgamento do Recurso Especial repetitivo n. 1.345.331/RS, a Segunda Seção do STJ estabeleceu
que o registro do compromisso de compra e venda não define a responsabilidade pelo pagamento das
obrigações condominiais, mas a relação material com o imóvel, consistente na imissão na posse pelo
promissário comprador e pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação (Tema Repetitivo n. 886).
Seguindo tal linha de raciocínio, o STJ sufragou o entendimento no sentido de que o promitente
comprador passa a ser responsável pelo pagamento das despesas condominiais a partir da entrega das chaves,
tendo em vista ser este o momento em que tem a posse do imóvel.
Registra-se que a recusa em receber as chaves constitui, em regra, comportamento contrário aos
princípios contratuais, principalmente à boa-fé objetiva, desde que não esteja respaldado em fundamento
7

legítimo. Por sua vez, a rejeição em tomar a posse do imóvel, sem justificativa adequada, faz com que o
Página

adquirente das unidades imobiliárias passe a ser responsável pelas taxas condominiais.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Importante!

O direito ao esquecimento não justifica a exclusão de matéria jornalística.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.961.581/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07/12/2021, DJe 13/12/2021 – Informativo 723

#FGVAMA
Leia com atenção os comentários abaixo, porque a FGV ama o tema (inclusive, há dois artigos
publicados pela Fundação abordando o assunto) e já cobrou nos concursos para residência jurídica da DPE/RJ
em 2021 e para Advogado do Senado Federal em 2022.

Comentários:
O direito à liberdade de imprensa não é absoluto, devendo sempre ser alicerçado na ética e na boa-
fé, sob pena de caracterizar-se abusivo. A esse respeito, a jurisprudência desta Corte Superior é consolidada
no sentido de que a atividade da imprensa deve pautar-se em três pilares, a saber: (I) dever de veracidade, (II)
dever de pertinência e (III) dever geral de cuidado. Ou seja, o exercício do direito à liberdade de imprensa será
considerado legítimo se o conteúdo transmitido for verdadeiro, de interesse público e não violar os direitos
da personalidade do indivíduo noticiado.
Se esses deveres não forem observados e disso resultar ofensa a direito da personalidade da pessoa
objeto da comunicação, surgirá para o ofendido o direito de ser reparado.
No caso concreto julgado pelo STJ, o próprio Tribunal de origem havia afirmado não haver acerca da
veracidade da informação divulgada. Além disso, tratando-se de fato relativo à esfera penal, presente estava
o interesse público na notícia. Por sua vez, em que pese o recorrido tenha alegado que a notícia interferiu e
interfere negativamente na sua vida profissional, não alegou que a sua divulgação pela imprensa teve o
propósito de ofender a sua honra. Desse modo, não se verificou abuso no exercício da liberdade de imprensa.
Por outro lado, será que o tempo transcorrido entre a ocorrência do fato e a publicação da matéria
jornalística é capaz, por si só, de justificar a imposição do dever de proceder à exclusão desta?
Em algumas oportunidades, a 4ª e a 6ª Turmas do STJ se pronunciaram favoravelmente acerca da
existência do direito ao esquecimento. Considerando os efeitos jurídicos da passagem do tempo, ponderou-
se que o Direito estabiliza o passado e confere previsibilidade ao futuro por meio de diversos institutos
(prescrição, decadência, perdão, anistia, irretroatividade da lei, respeito ao direito adquirido, ato jurídico
perfeito e coisa julgada).
Ocorre que, em fevereiro de 2022, o Supremo Tribunal Federal definiu que o direito ao esquecimento
é incompatível com a Constituição Federal (Tema 786). Por isso, definiu a 3ª Turma, neste julgamento, que o
direito ao esquecimento, porque incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro, não é capaz de justificar
a atribuição da obrigação de excluir a publicação relativa a fatos verídicos.

A determinação para que os provedores de busca na internet procedam a desvinculação do nome de


determinada pessoa, sem qualquer outro termo empregado, com fato desabonador a seu respeito dos
resultados de pesquisa não se confunde com o direito ao esquecimento, objeto da tese de repercussão geral
786/STF.
8

Em outras palavras, conforme ressaltado pelo Supremo Tribunal Federal, o direito à desindexação - que foi
Página

reconhecido pela 3ª Turma do STJ - não se confunde com o direito ao esquecimento, objeto de análise no

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
recurso extraordinário que deu origem à tese fixada no Tema 786/STF, razão pela qual não há que se falar em
descumprimento da referida tese.

STJ, 3ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/06/2022, DJe 30/06/2022 –
Informativo 743

É lícita a divulgação de paródia sem a indicação do autor da obra originária.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.967.264/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo 725

Comentários:
Com fundamento assentado na liberdade de expressão (art. 5º, IV e IX, da CF), a Lei n. 9.610/1998 (Lei
de Direitos Autorais), em seu art. 47 - inserto no capítulo que trata das limitações aos direitos autorais -
estabelece que: "São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária
nem lhe implicarem descrédito".
A liberdade a que se refere o citado dispositivo significa que a criação e a comunicação ao público de
paródias não dependem de autorização do titular da obra que lhe deu origem, não se lhes aplicando, portanto,
a disciplina do art. 29 da Lei de Direitos Autorais - LDA (em cujos incisos estão elencadas modalidades de
utilização que exigem autorização prévia e expressa do respectivo autor).
Segundo compreensão do STJ, "A paródia é forma de expressão do pensamento, é imitação cômica de
composição literária, filme, música, obra qualquer, dotada de comicidade, que se utiliza do deboche e da ironia
para entreter. É interpretação nova, adaptação de obra já existente a um novo contexto, com versão diferente,
debochada, satírica" (REsp 1.548.849/SP, 4ª Turma, DJe 04/09/2017).
Todavia, ainda que se trate de obra derivada, a paródia, nos termos do precitado art. 5º, VIII, 'g', da
Lei n. 9.610/1998, constitui "criação intelectual nova", isto é, consiste em uma obra nova, autônoma e
independente daquela da qual se originou.
Além disso, sendo livre a paródia (art. 47 da LDA), sua divulgação ao público - desde que respeitados
os contornos estabelecidos pelo dispositivo precitado - não tem o condão de caracterizar ofensa aos direitos
do criador da obra originária.

A simples pretensão de homenagear um ascendente não constitui fundamento bastante para configurar a
excepcionalidade que propicia a modificação do registro civil.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.962.674/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 24/05/2022, DJe 31/05/2022 –
Informativo 748

Comentários:
O direito ao nome está ligado a seu aspecto público dado pelo registro de pessoas naturais, segundo
o qual o Estado determina limites para os nomes e seus elementos constitutivos, tal como a obrigatoriedade
de conter ao menos um prenome e um nome (sobrenome).
Por conseguinte, a legislação de regência consagra o princípio da imutabilidade do nome, de maneira
9

que o prenome e nome são, em regra, imutáveis, a fim de garantir a segurança jurídica e a estabilidade das
Página

relações jurídicas, pois, do contrário, a individualização e a certeza sobre quem se fala seriam temerárias.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Contudo, o STJ vem evoluindo sua interpretação sobre o tema a fim de se adequar à nova realidade
social e de tentar acompanhar a velocidade de transformação das relações jurídicas, passando a entender que
o tema está inserido no âmbito da autonomia privada, apesar de não perder seu aspecto público, haja vista
que somente será admissível a retificação quando não se verificar riscos a terceiros e à segurança jurídica.
Nessa toada, "conquanto a modificação do nome civil seja qualificada como excepcional e as hipóteses
em que se admite a alteração sejam restritivas, esta Corte tem reiteradamente flexibilizado essas regras,
interpretando-as de modo histórico-evolutivo para que se amoldem a atual realidade social em que o tema se
encontra mais no âmbito da autonomia privada, permitindo-se a modificação se não houver risco à segurança
jurídica e a terceiros" (REsp 1.873.918/SP, DJe 04/03/2021).
Desse modo, destaca-se que o nome de família tem como escopo identificar a qual família pertence a
pessoa, isto é, faz com que a pessoa sinta-se pertencente a determinada família, como membro integrante
dela.
Contudo, não se pode descurar do fato de que o sobrenome não tem a função de estreitar vínculos
afetivos com os membros da família, pois sua função primordial é revelar a estirpe familiar no meio social e
reduzir as possibilidades de homonímia, haja vista que, nos termos do art. 54 da Lei de Registros Públicos, o
registro de nascimento contém os nomes dos pais e dos avós (REsp 1.731.091/SC, DJe 17/02/2022).
Em face dessas considerações, a 3ª Turma do STJ entendeu que não se comprovou, no caso concreto,
a existência de justo motivo para se viabilizar a inclusão pretendida, sobretudo porque a simples homenagem
à ascendentes não constitui fundamento bastante para configurar a excepcionalidade que propicia a
modificação do registro, já que não há na lei a previsão de que sentimentos íntimos sejam suficientes para
alterar a qualidade imutável do nome, não sendo essa a função exercida pelo sobrenome.

A existência de um homônimo que responde a processo criminal, ainda que em outro estado da federação,
pode ensejar um constrangimento capaz de configurar o justo motivo para fundamentar a inclusão de
patronímico.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.962.674/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 24/05/2022, DJe 31/05/2022,
Informativo 748

Tem direito ao recebimento de alugueis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a cônjuge supérstite,
possuía imóvel em copropriedade com o de cujus.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.830.080/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/04/2022, DJe 29/04/2022 –
Informativo 734

Comentários:
Imagine a seguinte situação: Maria é filha do casamento de João e Joana, de modo que referido casal
reside em determinado bem imóvel. Após o falecimento de Joana, João contrai novas núpcias com Cláudia,
que passa a residir no mesmo imóvel em que ele residia com Joana. Algum tempo depois, com a morte de
João, Joana passa a residir sozinha no referido bem, sob o argumento de possuir direito real de habitação. Não
obstante, Maria ingressa em juízo a fim de receber aluguel referente a sua fração ideal do imóvel, obtida em
10

decorrência da anterior sucessão de sua genitora (Joana). Maria tem esse direito?
Note que a situação em análise possui uma peculiaridade que a distingue das hipóteses em que se
Página

discute, de forma usual, o direito real de habitação do cônjuge supérstite frente aos demais herdeiros.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Sob essa perspectiva, a 2ª Seção do STJ, ao apreciar caso análogo, firmou entendimento no sentido de
que “a copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito real de habitação,
visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o pretendido
direito” (EREsp 1.520.294/SP, DJe 02/09/2020). Da mesma forma, segundo a doutrina, o direito real de
habitação só existe sobre bem que pertence, em sua integralidade, ao de cujus. Assim, a existência de
coproprietários impede o uso pelo sobrevivente.
No caso narrado, o direito de Maria sobre fração ideal do imóvel não foi adquirido em decorrência do
falecimento de seu pai João, mas sim muito antes disso, quando do falecimento de sua mãe Joana, sendo
Maria, portanto, coproprietária do bem que João utilizou para moradia com sua segunda esposa Cláudia. Além
da preexistente copropriedade, Maria, filha do primeiro casamento, não guarda nenhum tipo de solidariedade
familiar em relação à cônjuge supérstite Cláudia, não havendo que se falar em qualquer vínculo de
parentalidade ou até mesmo de afinidade.
Sob esse raciocínio, não pode ser imputado à Maria qualquer limitação ao seu direito de propriedade,
sendo cabível, nesta hipótese específica – copropriedade anterior à abertura da sucessão –, o arbitramento
de aluguel em favor de Maria.

A atribuição dinâmica do ônus probatório acerca da realização de acessões/benfeitorias em imóvel de


propriedade do cônjuge varão, objeto de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a presunção do
art. 1.253 do Código Civil de 2002.

STJ, 3ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 29/03/2022, DJe 31/03/2022

Comentários:
A participação do cônjuge varão como coproprietário do imóvel em cujas acessões/benfeitorias foram
realizadas faz presumir também o esforço comum do cônjuge virago na sua realização (art. 1.660, I e IV, do
CC/2002), além do fato de terem ocorrido interrupções no vínculo matrimonial, são peculiaridades que
autorizam a dinamização do ônus probatório (art. 371, § 1º, do CPC/2015). Isso porque definir se tais
acessões/benfeitorias foram realizadas na constância do vínculo conjugal ou não vai proporcionar ao
magistrado a segurança jurídica necessária para deliberar se devem compor ou não o acervo patrimonial a ser
partilhado na ação de divórcio.

Na ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo prescricional é contado a partir do registro do ato jurídico
que se pretende anular, salvo se houver anterior ciência inequívoca do suposto prejudicado.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.933.685/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/03/2022 – Informativo 729/2022

O que é doação inoficiosa?


É aquela em que há violação da legítima dos herdeiros necessários – que são aqueles referidos no art.
1.845 do CC/2002: descendentes, ascendentes e cônjuge. De acordo com o art. 549 do CC/2002, inoficiosa é
a doação na parte em que exceder 50% da liberalidade de que não poderia dispor o doador em testamento.
A consequência é a nulidade absoluta da parte que exceder os limites da disposição.
11

Assim, verificada a doação inoficiosa, deve o interessado ajuizar ação judicial para requerer a
invalidade da parte inoficiosa. Mas qual o termo inicial da prescrição dessa pretensão específica?
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
De acordo com a 3ª Turma do STJ, o termo inicial da prescrição da pretensão de nulidade de doação
inoficiosa deve ser a data do registro do ato em cartório ou a data da celebração do respectivo negócio
jurídico mediante escritura pública, da qual participou, na qualidade de interveniente-anuente a parte a quem
a nulidade aproveitaria.
Ocorre que no caso concreto em julgamento, existia um ato jurídico anterior ao registro da doação na
matrícula do imóvel, igualmente dotado de publicidade e, mais do que isso, do qual efetivamente participou
o recorrente na qualidade de interveniente-anuente.
Diante desse cenário, decidiu a 3ª Turma que se deveria conferir flexibilidade à tese de que o termo
inicial da prescrição da pretensão de nulidade da doação inoficiosa é a data do registro do ato de doação em
cartório, de modo a excepcionar esse entendimento nas hipóteses em que o suposto prejudicado possuía a
ciência inequívoca da existência da doação alegadamente inoficiosa antes mesmo do referido registro, caso
em que esse será o termo inicial do prazo prescricional.
Em outras palavras, em se tratando de ação de nulidade de doação inoficiosa, o prazo prescricional é
contado a partir do registro do ato jurídico que se pretende anular, salvo se houver anterior ciência inequívoca
do suposto prejudicado, hipótese em que essa será a data de deflagração do prazo prescricional.

A condição resolutiva de doação verbal estabelecida entre pai e filho e desconhecida por terceiros não produz
efeitos jurídicos contra estes.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.905.612/MA, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 29/03/2022 – Informativo 731

São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que utilizada
para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização
perdurar, não sendo aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que
disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.863.973/SP (Tema 1085), Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 09/03/2022 – Informativo
728/2022

Importante!

É necessária a exigência geral de outorga do cônjuge para prestar fiança, sendo indiferente o fato de o fiador
prestá-la na condição de comerciante ou empresário, considerando a necessidade de proteção da segurança
econômica familiar.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.525.638/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 14/06/2022 – Informativo 742

A situação decorrente da pandemia pela Covid-19 não constitui fato superveniente apto a viabilizar a revisão
judicial de contrato de prestação de serviços educacionais com a redução proporcional do valor das
mensalidades.
12

STJ, 4ª Turma, REsp 1.998.206/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/06/2022 – Informativo 741
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
#FGVAMA
Esse julgado específico não foi cobrado pela FGV ainda, no entanto é bom ficar de olho, pois na prova
para Juiz do TJ/MG, aplicada em 2022, caiu uma questão justamente acerca da possibilidade de revisão
contratual em tempos de pandemia – ou seja, há um interesse da banca pelo tema.

Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas consumeristas –, a
maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida a partir de janeiro de 1999 não autoriza a
aplicação da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a revisão
de cláusula de indexação ao dólar americano. O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível
que ocorresse uma desvalorização do real frente ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso era um
fato imprevisível ou extraordinário.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.321.614/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 16/12/2014 – Informativo 556

#FGVAMA
Atenção aqui! Esse julgado é antigo, mas foi cobrado pela FGV na prova para Procurador da ALERJ (ano
2017), então, não custa ficar de olho, não é mesmo?

Não é cabível a adjudicação compulsória de imóvel pelos promitentes compradores de unidades autônomas
adquiridas de incorporadora não titular do domínio do terreno e sem o devido registro do memorial de
incorporação no Cartório de Registro de Imóveis.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.770.095/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 10/05/2022 – Informativo 736

O excesso no exercício do direito de informar é capaz de gerar dano moral ao denunciado quando o membro
do Ministério Público comete abusos ao divulgar, na mídia, o oferecimento da denúncia criminal.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.842.613/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/03/2022 – Informativo 730/2022

Comentários:
O Código Civil orienta que o abuso de direito consiste em um ato jurídico de objeto lícito, mas cujo
exercício, levado a efeito sem a devida regularidade, acarreta um resultado que se considera ilícito e a exclusão
deste ilícito, apta a afastar a responsabilidade civil, deve estar associada ao regular exercício de um direito,
cuja prática não tolera excessos
Portanto, abusar do direito é extravasar os seus limites quando de seu exercício. Assim, configurado
estará o abuso de direito, quando o agente, atuando dentro das prerrogativas que o ordenamento jurídico lhe
confere, não observa a função social do direito subjetivo e, ao exercitá-lo, desconsideradamente, ocasiona
prejuízo a outrem.

O termo inicial dos juros de mora relativos às diferenças dos aluguéis vencidos será a data para pagamento
13

fixada na própria sentença transitada em julgado (mora ex re) ou a data da intimação do devedor - prevista
no art. 523 do CPC/2015 - para pagamento no âmbito da fase de cumprimento de sentença (mora ex persona).
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.929.806/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07/12/2021, DJe 13/12/2021 – Informativo 722

No mesmo sentido: O termo inicial dos juros de mora incidentes sobre as diferenças entre os valores do
aluguel estabelecido no contrato e aquele fixado na ação renovatória será a data para pagamento fixada na
própria sentença transitada em julgado (mora ex re) ou a data da intimação do devedor para pagamento na
fase de cumprimento de sentença (mora ex persona).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.888.401/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/03/2022, DJe 05/04/2022 –
Informativo 732

Comentários:
A sentença de procedência do pedido em ação renovatória produz efeitos ex tunc, portanto, o novo
aluguel é devido desde o primeiro dia imediatamente posterior ao fim do contrato primitivo. Dessa forma,
fixado o novo valor do aluguel, pode remanescer saldo relativo às diferenças de aluguéis vencidos em favor
do locador ou do locatário, a depender de o novo valor ser, respectivamente, maior ou menor do que o
original.
Com efeito, as diferenças, se existentes, a teor do art. 73 da Lei n. 8.245/1991, serão executadas nos
próprios autos da ação renovatória. Em razão disso, na ação renovatória, a citação não tem o condão de
constituir em mora o devedor, pois, quando da sua ocorrência, ainda não é possível saber quem será o credor
e quem será o devedor das diferenças, se existentes, o que somente ocorrerá após o trânsito em julgado.
Na hipótese de ação renovatória de locação, portanto, tendo em vista que, em regra, não há mora
sem fato ou omissão imputável e sem dívida certa, líquida e exigível, é de fundamental importância verificar
se a sentença que julga procedente a pretensão autoral fixa prazo para pagamento do saldo de aluguéis.
Isso porque, após o trânsito em julgado, se a própria sentença marcar data para pagamento das
diferenças, incorrerá em mora o devedor que não adimplir no termo estipulado, pois esta data integrará,
definitivamente o título executivo. Trata-se de hipótese de mora ex re. Por outro lado, inexistindo o referido
prazo na própria sentença, o devedor deverá ser interpelado para pagar, sob pena de incidir em mora. Trata-
se, aqui, de mora ex persona.
Ocorre, no entanto, que o referido entendimento merece ser atualizado, levando-se em consideração
as modernas balizas do processo civil. De fato, no processo civil contemporâneo, em virtude da adoção do
chamado processo sincrético, a "citação na ação de execução" foi substituída pela intimação do devedor para
pagar no âmbito da fase de cumprimento de sentença, data que deverá ser considerada, portanto, como
termo inicial dos juros moratórios, se a própria sentença não estipular prazo para pagamento.
Assim, pode-se afirmar que: a) renovada a locação, os novos aluguéis fixados em sentença são devidos
desde o primeiro mês subsequente o fim do contrato primitivo; b) o termo inicial dos juros de mora relativos
às diferenças dos aluguéis vencidos será a data para pagamento fixada na própria sentença transitada em
julgado (mora ex re) ou a data da intimação do devedor - prevista no art. 523 do CPC/2015 - para pagamento
no âmbito da fase de cumprimento de sentença (mora ex persona).

Muito importante!

Incabível o arbitramento de aluguel em desfavor da coproprietária vítima de violência doméstica, que, em


14

razão de medida protetiva de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo do imóvel de
Página

cotitularidade do agressor.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.966.556/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 08/02/2022 – Informativo 724

#FGVAMA
E nem é só a FGV! Esse julgado está sendo cobrado por praticamente todas as bancas que fazem
provas de magistratura estadual, inclusive acabou de cair na prova para o TJ/ES. Portanto, leia com atenção
os comentários e não dê mole. Se cair na sua prova, garanta esse ponto!

É possível o arbitramento de aluguel pelo uso exclusivo e gratuito de imóvel comum indiviso por um dos
condôminos, em favor de coproprietário que foi privado do uso e gozo do bem devido à decretação judicial
de medida protetiva em ação penal proveniente de suposta prática de crime de violência doméstica e
familiar contra a mulher?
A jurisprudência do STJ, fundada no art. 1.319 do CC/2002, é no sentido de que a utilização ou a fruição
da coisa comum indivisa com exclusividade por um dos coproprietários, impedindo o exercício de quaisquer
dos atributos da propriedade pelos demais consortes, enseja o pagamento de indenização àqueles que foram
privados do regular domínio sobre o bem, tal como o percebimento de aluguéis.
Contudo, impor à vítima de violência doméstica e familiar obrigação pecuniária consistente em
locativo pelo uso exclusivo e integral do bem comum, na dicção do art. 1.319 do CC/2002, constituiria proteção
insuficiente aos direitos constitucionais da dignidade humana e da igualdade, além de ir contra um dos
objetivos fundamentais do Estado brasileiro de promoção do bem de todos sem preconceito de sexo,
sobretudo porque serviria de desestímulo à que a mulher buscasse o amparo do Estado para rechaçar a
violência contra ela praticada, como assegura a Constituição Federal em seu art. 226, § 8º, a revelar a
desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos.
Além disso, a imposição judicial de uma medida protetiva de urgência - que procure cessar a prática
de violência doméstica e familiar contra a mulher e implique o afastamento do agressor do seu lar - constitui
motivo legítimo a que se limite o domínio deste sobre o imóvel utilizado como moradia conjuntamente com
a vítima, não se evidenciando, assim, eventual enriquecimento sem causa, que legitime o arbitramento de
aluguel como forma de indenização pela privação do direito de propriedade do agressor.
Assim, concluiu a 3ª Turma do STJ ser descabido o arbitramento de aluguel, com base no disposto no
art. 1.319 do CC/2002, em desfavor da coproprietária vítima de violência doméstica, que, em razão de medida
protetiva de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo do imóvel de cotitularidade do
agressor, seja pela desproporcionalidade constatada em cotejo com o art. 226, § 8º, da CF/1988, seja pela
ausência de enriquecimento sem causa (art. 884 do CC/2002).

É trienal o prazo prescricional aplicável à pretensão de restituição da caução prestada em contrato de locação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.967.725/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 15/02/2022 – Informativo 725

Comentários:
O § 3º, I, do art. 206 estabelece prazo prescricional de 3 (três) anos para a pretensão relativa a alugueis
de prédios urbanos e rústicos. Dentre as modalidades de garantia que podem constar do contrato de locação,
está a caução, que poderá ser em bens móveis ou imóveis, conforme art. 37, I, da Lei n. 8.245/1991. Além
15

disso, de acordo com o § 2º do art. 38 da referida Lei, quando a caução for em dinheiro, não poderá exceder
o equivalente a 3 (três) meses de aluguel e deverá ser depositada em caderneta de poupança, revertendo-se
Página

em benefício do locatário todas as vantagens dela decorrentes por ocasião do levantamento da soma
respectiva.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Em face disso, de acordo com a 3ª Turma do STJ, não há dúvidas de que a caução, por ser garantia
prestada ao contrato de locação, se configura acessória ao contrato principal, razão pela qual se impõe a
aplicação do mesmo prazo prescricional a ambos, tendo em vista o princípio da gravitação jurídica, segundo o
qual o acessório segue a sorte do principal. Portanto, a aplicação do prazo trienal à pretensão de restituição
da caução decorre da incidência ao contrato de locação do já citado art. 206, § 3º, I, do Código Civil.
Vale mencionar que, ainda que se afastasse a aplicação do inciso I do § 3º do art. 206, o prazo trienal
subsistiria, haja vista que a pretensão seria de ressarcimento de enriquecimento sem causa, disposto no inciso
IV do mesmo dispositivo legal.

O prazo máximo da renovação compulsória do contrato de locação comercial será de cinco anos, ainda que a
vigência da avença locatícia supere esse período.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.990.552/RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 17/05/2022 – Informativo 737

Comentários:
De acordo com o entendimento que vem prevalecendo no âmbito dos Tribunais Superiores,
possibilitar que a ação renovatória de aluguel comercial seja capaz de compelir o locador a renovar e manter
a relação locatícia, quando já não mais possui interesse, por prazo superior ao razoável lapso temporal de
cinco anos, certamente desestimularia os contratos de locação comercial mais longos, pois ensejaria, de certa
forma, a expropriação do imóvel de seu proprietário. Especialmente se levar-se em conta que sucessivas ações
renovatórias da locação poderão ser movidas.

Pode ser válida a estipulação que confira ao credor a possibilidade de exigir, “tão logo fosse de seu interesse”,
a transferência da propriedade de imóvel.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.990.221/SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 03/05/2022 – Informativo 735

Comentários:
O art. 122 do CC/2002 afirma ser ilícita a condição que sujeita a eficácia do negócio jurídico ao puro
arbítrio de uma das partes, interditando como proibidas, em suma, as condições puramente potestativas. Uma
primeira leitura desse dispositivo legal pode dar a entender que a sujeição da eficácia do negócio jurídico ao
arbítrio de qualquer das partes será, sempre e em qualquer hipótese, suficiente para qualificar como ilícita a
condição assim estabelecida.
No entanto, somente quando o próprio devedor se reserva o direito de caprichosamente descumprir
a obrigação assumida é que sobressai, de fato, o arbítrio da parte como elemento exclusivo para subordinar a
eficácia do ato/negócio.
Realmente o estabelecimento, em favor do devedor, de uma cláusula do tipo "se me aprouver", "se
eu quiser", configura quase um gracejo, uma graça lançada pela parte com aptidão para afastar por completo
a seriedade do negócio jurídico. Quem escuta uma proposição dessa espécie nem mesmo leva a sério o ajuste
que se lhe apresenta, pois na verdade o proponente não se obrigou a nada.
A jurisprudência do STJ parece seguir esse mesmo entendimento, afirmando que apenas as condições
16

(puramente) potestativas estabelecidas em proveito do devedor devem ser consideradas defesas.


No caso concreto, contudo, a estipulação mais se assemelha a termo incerto ou indeterminado do
Página

que, propriamente, a condição potestativa. Mesmo admitindo tratar-se de condição, seria de rigor verificar

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
que ela beneficiava ao credor e não ao devedor, não havendo que se falar, por isso, em falta de seriedade na
proposta ou risco à estabilidade das relações jurídicas.
Ademais, foi estatuída em consideração a uma circunstância fática alheia à vontade das partes: o
resultado de uma determinada ação judicial (usucapião), havendo, assim, interesse juridicamente relevante a
justificar sua estipulação.
Desse modo a condição não teria natureza puramente potestativa, mas meramente potestativa,
devendo, em consequência, ser considerada válida, até mesmo para efeito de impedir a fluência do prazo
prescricional.

Os valores depositados em planos abertos de previdência privada durante a vida em comum do casal,
integram o patrimônio comum e devem ser partilhados.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.545.217/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, j.
07/12/2021 – Informativo 723

A) É presumido, em regra, o rateio em partes iguais do numerário mantido em conta corrente conjunta
solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de responsabilidade solidária dos correntistas pelo
pagamento de dívida imputada a um deles.

B) Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta solidária no âmbito de
execução promovida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira mantenedora, sendo
franqueada aos cotitulares e ao exequente a oportunidade de demonstrar os valores que integram o
patrimônio de cada um, a fim de afastar a presunção relativa de rateio.

STJ, Corte Especial, REsp 1.610.844/BA (Tema IAC 12), Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/06/2022 –
Informativo 741

Promovido o leilão do bem pelo credor hipotecário, a permanência do mutuário no imóvel caracteriza posse
de má-fé.

STJ, 1ª Turma, AREsp 1.013.333/MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 03/05/2022 – Informativo 735

Dissolvida a sociedade conjugal, o bem imóvel comum do casal rege-se pelas regras relativas ao condomínio,
ainda que não realizada a partilha de bens, possuindo legitimidade para usucapir em nome próprio o
condômino que exerça a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.840.561/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 03/05/2022, DJe 17/05/2022 –
Informativo 739

Não é possível a interrupção do prazo prescricional em razão do ajuizamento de ação declaratória de


inexigibilidade dos débitos pelo devedor quando já tiver havido anterior interrupção do prazo prescricional
17

pelo protesto das duplicatas.


Página

STJ, 3ª Turma, REsp 1.963.067/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/02/2022, DJe 24/02/2022 – Informativo 727

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Comentários:
O instituto da prescrição tem por finalidade conferir certeza às relações jurídicas, na busca de
estabilidade, porquanto não seria possível suportar uma perpétua situação de insegurança. Admite-se,
contudo, a interrupção do prazo prescricional quando o titular do direito manifesta, por uma das formas
previstas em lei, a intenção de exercê-la ou quando o devedor manifesta inequivocamente o reconhecimento
daquele direito.
Destaque-se que o art. 202, caput, do CC/02, dispõe que a interrupção da prescrição somente poderá
ocorrer uma vez para a mesma relação jurídica. Há um certo debate na doutrina sobre se a interrupção
ocorreria uma única vez, independentemente de seu fundamento, ou se poderia acontecer uma vez para cada
uma das causas interruptivas previstas nos incisos do art. 202 do CC/2002.
Contudo, prevalece a orientação jurisprudencial e doutrinária no sentido de que a interrupção da
prescrição ocorre somente uma única vez para a mesma relação jurídica - isto é, independentemente de seu
fundamento. Assim, o posterior ajuizamento da ação declaratória de inexigibilidade de débitos, ainda que
indiscutivelmente seja causa interruptiva da prescrição, não tem o condão de promover nova interrupção do
prazo prescricional no caso em julgamento, uma vez que este já se interrompera quando do protesto das
duplicatas.

Importante!

O art. 200 do CC/2002 assegura que o prazo prescricional não comece a fluir antes do trânsito em julgado da
sentença penal, independentemente do resultado da ação na esfera criminal.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.987.108/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 29/03/2022, DJe 01/04/2022 – Informativo
732

É trienal o prazo prescricional aplicável à pretensão de indenização fundada em atos ofensivos praticados após
a rescisão do contrato de trabalho.

A fluência da prescrição da pretensão indenizatória fundada na imputação de crimes dos quais se venha a ser
posteriormente absolvido tem início com o trânsito em julgado da sentença na ação penal.

STJ, 4ª Turma, AREsp 1.192.906/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 14/03/2023 – Informativo 767/2023

Importante!

São critérios que indicam a tendência de adoção excepcional do viés subjetivo da teoria da actio nata: a) a
submissão da pretensão a prazo prescricional curto; b) a constatação, na hipótese concreta, de que o credor
tinha ou deveria ter ciência do nascimento da pretensão, o que deve ser apurado a partir da boa-fé objetiva e
de standards de atuação do homem médio; c) o fato de se estar diante de responsabilidade civil por ato ilícito
absoluto (ou seja, responsabilidade civil extracontratual); e d) a expressa previsão legal a impor a aplicação do
18

sistema subjetivo.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.836.016/PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, j.
10/05/2022 – Informativo 736

Quando se inicia o prazo prescricional para se exigir um direito?


• Análise de direito subjetivo x pretensão: A pretensão é o poder de exigir da outra parte um
comportamento positivo ou negativo. Trata-se, a rigor, do grau de exigibilidade do direito, nascendo,
portanto, tão logo este se torne exigível. A pretensão é algo a mais do que o direito subjetivo, que é
categoria eficacial de cunho estático. Quem tem em mãos um direito subjetivo, é titular de uma
situação jurídica ativa que é estática por estar destituída, ainda que em princípio, de um poder de
exigibilidade.
• A ideia-chave é a EXIGIBILIDADE: Não se pode falar em inércia quando o direito subjetivo ainda não
pode se fazer valer, de modo que o prazo prescricional só tem início no dia em que o direito poderia
ser exercitado. É óbvio que se a vítima não pode exigir (por razões de direito ou de fato) não há inércia
punível com o encobrimento da pretensão pela prescrição. Daqui surge a teoria da actio nata (de
Savigny), segundo a qual os prazos prescricionais se iniciariam no exato momento do surgimento da
pretensão (CC/2002, art. 189).
• Vertentes da teoria da actio nata: Subjetiva e objetiva. Segundo a vertente subjetiva, adotada pelo
STJ em situações excepcionais, o início dos prazos prescricionais deve ocorrer a partir da ciência do
nascimento da pretensão por seu titular (exemplos: STJ, Súmula 278; CDC, art. 27; CC/2002, art. 206,
§ 1º, II, “b”). Já na vertente objetiva, adotada como regra, o prazo prescricional tem seu termo inicial
na data do nascimento da pretensão.

Quais são os critérios a serem observados para adoção da vertente subjetiva da teoria da actio nata?
a) A submissão da pretensão a prazo prescricional curto: A doutrina aponta que a vertente objetiva da
teoria da actio nata se coaduna com prazos prescricionais mais longos, sob pena de, em muitas
hipóteses, conduzir a flagrante injustiças. Por outro lado, o viés subjetivo da teoria amolda-se melhor
a prazos prescricionais curtos, na medida em que a exiguidade dos prazos é, em certa medida,
compensada pela flexibilização permitida pela adoção de critérios subjetivos para a aferição do termo
inicial. Desse modo, é seguro afirmar que prazos prescricionais curtos tendem a atrair com maior
intensidade a adoção do viés subjetivo da teoria da actio nata, equilibrando, assim, a exiguidade do
tempo com a flexibilidade do termo inicial.
b) A constatação, na hipótese concreta, de que o credor tinha ou deveria ter ciência do nascimento da
pretensão: Partindo-se de uma interpretação teleológica, não é condizente com a finalidade do
instituto imputar eventual inércia ao titular de um direito sem que este saiba ou deva razoavelmente
saber que é titular de uma pretensão exercitável. Em outras palavras, deve-se observar que, a rigor, a
impossibilidade de conhecer, desde logo, o nascimento da pretensão é fator que faz protrair o início
do prazo prescricional. Isso deve ser apurado de acordo com a boa-fé objetiva e com standards
objetivos de atuação do homem médio.
c) O fato de se estar diante de responsabilidade civil por ato ilícito absoluto: As relações jurídicas de
direito absoluto são aquelas que possuem sujeito passivo indeterminado – o chamado sujeito passivo
total ou universal. São exemplos as relações jurídicas de direito real (por exemplo, a relação jurídica
de propriedade) e a relação jurídica de direitos da personalidade. A título de exemplo, pode-se
19

mencionar que o titular de determinado direito da personalidade ou direito real é titular de uma
Página

pretensão consubstanciada no poder de exigir que todos os demais indivíduos se abstenham de violar
esse seu direito. A violação de posição jurídica ativa conteúdo de relação jurídica de direito absoluto

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
dá ensejo à responsabilidade por ato ilícito absoluto, que representa, a rigor, desrespeito ao
mencionado dever geral de abstenção e que, via de regra, recebe o epíteto de responsabilidade civil
extracontratual. É a hipótese, por exemplo, da prática do ato ilícito previsto nos arts. 186 e 927, do
CC/2002. Diante destas considerações, importa consignar que o viés subjetivo da teoria da actio
nata encontra maior campo de aplicação na hipótese de responsabilidade civil por ato ilícito absoluto
(= responsabilidade civil extracontratual), pois da própria natureza jurídica desta espécie de
responsabilidade e, sobretudo, da presença do sujeito passivo universal, decorre uma maior
dificuldade para o credor determinar o causador e a extensão do dano sofrido. Tratando-se de sujeito
passivo total ou universal e, portanto, de violação de um dever geral de abstenção a todos imposto, é
lógico e razoável concluir que o credor terá maior dificuldade para tomar conhecimento da lesão, da
sua extensão e do agente que praticou o ato ilícito.
d) A expressa previsão legal a impor a aplicação do sistema subjetivo: Em algumas hipóteses, o próprio
legislador, de maneira expressa, impõe a adição da vertente subjetiva da teoria da actio nata. É o que
se verifica, por exemplo, no art. 27 do CDC – ao estatuir que o prazo prescricional se inicia a partir do
conhecimento do dano e de sua autoria pelo consumidor – e no art. 206, § 1º, II, “b”, do CC/2002, ao
estabelecer que, nos contratos de seguro em geral, o termo a quo do prazo prescricional é a “ciência
do fato gerador da pretensão”. Destarte, é seguro afirmar que o sistema subjetivo de determinação
do começo do prazo deve prevalecer sempre que, por razões de política legislativa, a legislação
expressamente o adotar.

Conclusão:
Diante de todas essas considerações, a 3ª Turma do STJ firmou o entendimento de que, ainda que de
modo não exaustivo e não cumulativo, são critérios que indicam a tendência de adoção do viés subjetivo da
teoria da actio nata: a) a submissão da pretensão a prazo prescricional curto; b) a constatação, na hipótese
concreta, de que o credor tinha ou deveria ter ciência do nascimento da pretensão, o que deve ser apurado a
partir da boa-fé objetiva e de standards de atuação do homem médio; c) o fato de se estar diante de
responsabilidade civil por ato ilícito absoluto; e d) a expressa previsão legal a impor a aplicação do sistema
subjetivo.

A pretensão de repetição de indébito por cobrança indevida de valores referentes a serviços de TV por
assinatura não previstos no contrato sujeita-se à norma geral do lapso prescricional de dez anos.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.951.988/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 10/05/2022, DJe 16/05/2022 –
Informativo 737

Importante!

A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de coerção não
se mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações.

STJ, 3ª Turma, RHC 160.368/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 05/04/2022, DJe 18/04/2022 – Informativo 733
20

No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separação obrigatória de bens, é possível que os
Página

nubentes/companheiros, em exercício da autonomia privada, estipulando o que melhor lhes aprouver em

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
relação aos bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao regime legal, com o afastamento da Súmula n.
377 do STF, impedindo a comunhão dos aquestos.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.922.347/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 07/12/2021, DJe 01/02/2022 – Informativo
723

A empresa que expede convites a jornalistas para cobertura e divulgação de seu evento, ou seja, em benefício
de sua atividade econômica, e se compromete a prestar o serviço de transporte destes, responde
objetivamente pelos prejuízos advindos de acidente automobilístico ocorrido quando de sua prestação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.717.114/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 29/03/2022 – Informativo 731/2022

Comentários:
No caso concreto, uma montadora de veículos, ao ensejo de promover o lançamento de um produto
no mercado, expediu convites a determinados jornalistas para a cobertura e divulgação de seu evento,
comprometendo-se a prestar serviço de hospedagem e de transportes a estes. Na ocasião do deslocamento
ao evento ocorreu um acidente automobilístico que ceifou a vida de um dos jornalistas. Diante desse cenário,
debateu a 3ª Turma do STJ se a empresa montadora de veículos deveria ou não responder civilmente pelo
ocorrido.
Não se trata, juridicamente, de a montadora ter procedido a um simples envio de convite de cortesia
ao grupo de jornalismo, inserto nos chamados contratos benéficos, em que apenas uma das partes aufere
benefício ou vantagem, regido pelo art. 392 do Código Civil. A montadora de veículo comprometeu-se a
promover o serviço de hospedagem e, no que importa à controvérsia, o de transportes aéreo e rodoviário em
favor do grupo de jornalistas, a serem prestados não de modo desinteressado, mas sim com o claro propósito
de beneficiar sua atividade econômica, por meio da cobertura jornalística e divulgação do lançamento de seu
produto, no que residiria sua remuneração indireta.
O modo pelo qual este transporte seria efetivado - se diretamente pela montadora ou por meio de
outras empresas contratadas para realização desse serviço - não altera o fato indiscutível de que esta,
efetivamente, assumiu a obrigação, perante o grupo de jornalistas, de efetuar o transporte destes para a
cobertura do evento de lançamento do produto da montadora.
É, pois, incontroverso que os contratos firmados entre a montadora e a agência de turismo e entre
esta e a transportadora, coligados entre si, ostentavam, como finalidade/objeto comum, a prestação do
serviço de transporte ao grupo de jornalistas, pelo qual se comprometeu a montadora. As relações internas,
estabelecidas no âmbito de cada ajuste, a vincular as partes contratantes, não repercutem, tampouco podem
ser oponíveis ao lesado pela prestação deficiente do serviço de transporte contratado pela montadora, no
interesse de sua atividade comercial.
A posição jurídica da montadora é, a toda evidência, de tomadora do serviço de transporte de pessoas,
contratado no interesse e em benefício de sua atividade econômica. Em face disso, concluiu a 3ª Turma do STJ
ser inafastável a sua responsabilidade objetiva pelos danos advindos do acidente automobilístico ocorrido
quando de sua prestação, com esteio na teoria do risco, agasalhada pela cláusula geral (de responsabilidade
objetiva) inserta no parágrafo único do art. 927 do Código Civil.
21
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Excessos cometidos pelo advogado não podem ser cobertos pela imunidade profissional, sendo em tese
possível a responsabilização civil ou penal do causídico pelos danos que provocar no exercício de sua atividade.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.731.439/DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022 –
Informativo 732/2022

O médico é civilmente responsável por falha no dever de informação acerca dos riscos de morte em cirurgia.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.848.862/RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022 –
Informativo 733

A utilização de fotografias que servirem tão somente para ilustrar matéria jornalística sobre fato ocorrido e
narrado pelo ponto de vista do repórter não constitui, per se, violação ao direito de preservação de imagem
ou de vida íntima e privada de outrem, não havendo que se falar em causa para indenização por danos morais.

STJ, 4ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Raul Araújo, j. 23/08/2022, DJe 31/08/2022 – Informativo
748

Comentários:
A análise acerca da ocorrência de abuso no exercício da liberdade de expressão a ensejar reparação
por dano moral deve ser feita no caso concreto, pois, em tese, sopesados os valores em conflito, é
recomendável que se dê primazia à liberdade de informação e de crítica, como decorrência da vida em um
Estado Democrático.
De acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, publicações que narrem fatos verídicos ou
verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, a princípio, não configuram ato
ilícito.
No caso concreto, verificou-se que a notícia veiculada expressou o pensamento de um repórter sobre
fato ocorrido durante a cobertura de evento do qual participavam vários famosos, o que, a toda evidência,
gera o interesse do público que consome esse tipo de notícia.
Nessa perspectiva, apesar da utilização de opiniões severas e irônicas, a publicação narrou fato
ocorrido e que, inclusive, estava sendo apurado criminalmente pela autoridade policial, de modo que sua
divulgação, ainda que somente sob o ponto de vista de uma das partes, não demonstra, inequivocamente, o
intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa.
Isso porque "A liberdade de informação diz respeito a noticiar fatos, e o exercício desse direito apenas
será digno de proteção quando presente o requisito interno da verdade, pela ciência da realidade, que não se
exige seja absoluta, mas aquela que se extrai da diligência do informador, a quem incumbe apurar de forma
séria os fatos que pretende tornar públicos" (REsp 1.897.338/DF, DJe de 05/02/2021).
Com base nessas considerações, concluiu-se que a utilização de fotografias serviu tão somente para
ilustrar a matéria jornalística sobre fato ocorrido e narrado pelo ponto de vista da repórter, e de interesse do
público-alvo do veículo de comunicação, tratando-se, na hipótese, de exercício regular do direito de
informação, de modo que não constitui, per se, violação ao direito de preservação de sua imagem ou de sua
22

vida íntima e privada, não havendo que se falar em causa para indenização por danos patrimoniais ou morais
à imagem.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Na hipótese de perda total do bem segurado, o valor da indenização só corresponderá ao montante integral
da apólice se o valor segurado, no momento do sinistro, não for menor.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.943.335/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 14/12/2021, DJe 17/12/2021 – Informativo 722

Comentários:
Segundo a doutrina, a indenização a ser recebida pelo segurado, no caso da consumação do risco
provocador do sinistro, deve corresponder ao real prejuízo do interesse segurado. Há de ser apurado por
perícia técnica o alcance do dano. O limite máximo é o da garantia fixada na apólice. Se os prejuízos forem
menores do que o limite máximo fixado na apólice, o segurador só está obrigado a pagar o que realmente
aconteceu.
Se a própria lei estabelece que a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse
segurado no momento da conclusão do contrato (art. 778 do CC/2002), e se o valor do bem segurado
corresponde, de ordinário, ao valor da apólice (uma vez que de outra forma não se teria uma reparação efetiva
do prejuízo sofrido, escopo maior do contrato de seguro), parece lícito admitir que a indenização deva ser
paga pelo valor integral da apólice na hipótese de perecimento integral do bem.
Mas essa assertiva precisa ser tomada com bastante cautela. Isso porque o art. 781 do CC/2002,
inovando em relação aos art. 1.437 do CC/16 e 778 do CC/2002, e prestigiando ainda mais o princípio
indenitário, afirmou que o valor da coisa segurada, que servirá de teto para a indenização, deve ser aferido no
momento do sinistro.
Assim, o valor da coisa no momento da celebração do negócio (que corresponde de ordinário ao valor
da própria apólice) serve apenas como um primeiro limite para a indenização securitária, uma vez que a
garantia contratada não pode ultrapassar esse montante.
Como segundo limite apresenta-se o valor do bem segurado no momento do sinistro, pois é esse valor
que reflete, de fato, o prejuízo sofrido pelo segurado em caso de destruição do bem.
Vale mencionar que a regra contida na primeira parte do art. 781 do CC/2002, tem em vista a variação
na expressão econômica do interesse segurado ao longo do tempo.
Deste modo, pode ocorrer variação no valor do interesse segurado. Tal circunstância deve ser
considerada para que o sinistro não resulte em fonte de lucro para o segurado, ou, ao contrário, em fonte de
prejuízo.

É ânuo o prazo prescricional para exercício de qualquer pretensão do segurado em face do segurador - e vice-
versa - baseada em suposto inadimplemento de deveres (principais, secundários ou anexos) derivados do
contrato de seguro, ex vi do disposto no artigo 206, § 1º, II, "b", do Código Civil de 2002 (artigo 178, § 6º, II,
do Código Civil de 1916).

STJ, 2ª Seção, REsp 1.303.374/ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 30/11/2021, DJe 16/12/2021 (Tema IAC 2)
– Informativo 723

Importante saber:
O prazo prescricional ânuo não alcança os seguros-saúde e os planos de saúde - dada a natureza sui
23

generis desses contratos, em relação aos quais o STJ entende pela aplicação dos prazos prescricionais decenal
ou trienal, a depender da natureza da pretensão - nem o seguro de responsabilidade civil obrigatório (DPVAT),
Página

cujo prazo trienal decorre de dicção legal específica (art. 206, § 3º, IX, do CC/02), já tendo sido reconhecida

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
pela Segunda Seção a inexistência de relação jurídica contratual entre o proprietário do veículo e as
seguradoras que compõem o correlato consórcio (REsp 1.091.756/MG, Segunda Seção, DJe 5/2/2018).

Nos contratos de seguro em geral, a ciência do segurado acerca da recusa da cobertura securitária é o termo
inicial do prazo prescricional da pretensão do segurado em face da seguradora.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.970.111/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/03/2022 – Informativo 729/2022

Comentários:
De acordo com a teoria da actio nata, a prescrição tem como termo inicial o nascimento da pretensão.
Portanto, apenas a partir do momento em que o titular do direito pode exigir a sua satisfação é que se revela
lógico imputar-lhe eventual inércia em ver satisfeito esse seu interesse.
Com relação aos seguros em geral, na vigência do CC/1916, a 2ª Seção do STJ assentou a tese de que
não poderia transcorrer prazo prescricional algum enquanto a seguradora não decidisse o pleito indenizatório
endereçado a ela pelo segurado. Editou-se, assim, o enunciado da Súmula 229: "o pedido do pagamento de
indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão".
Todavia, ainda na vigência desse diploma civilista, passou a jurisprudência do STJ a perfilhar a tese segundo a
qual o termo inicial do prazo prescricional seria o momento da recusa de cobertura pela seguradora, ao
fundamento de que só então nasceria a pretensão do segurado em face da seguradora.
Com o advento do CC/2002, alterou-se a redação da alínea "b" do II do § 1º do art. 206, estabelecendo
como termo inicial do prazo prescricional a data da ciência do "fato gerador da pretensão". A interpretação
desse dispositivo em conjunto com o estabelecido no art. 771 do mesmo diploma legal conduz à conclusão de
que, antes da regulação do sinistro e da recusa de cobertura nada pode exigir o segurado do segurador, motivo
pelo qual não se pode considerar iniciado o transcurso do prazo prescricional tão somente com a ciência do
sinistro.
Por essa razão, é, em regra, a ciência do segurado acerca da recusa da cobertura securitária pelo
segurador que representa o "fato gerador da pretensão".

A cláusula de eleição de foro firmada entre a autora do dano e o segurado não é oponível à seguradora sub-
rogada em ação regressiva na qual pleiteia o ressarcimento do valor pago ao segurado.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.962.113/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 – Informativo
730/2022

Muito importante!

O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso praticado
contra os ascendentes fica excluído da sucessão.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.943.848/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo 725
24

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado recentemente pela FGV na prova para Juiz do TJ/MS.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
De acordo com o art. 1.824, I, do CC/2002, será excluído da sucessão o herdeiro que seja autor, coautor
ou partícipe de homicídio doloso, consumado ou tentado, contra os ascendentes de cuja sucessão se trata.
Conforme afirma a doutrina majoritária, o rol do art. 1.824, que prevê as hipóteses que autorizam a exclusão
de herdeiros ou legatários da sucessão, é taxativo, do que se conclui não ser admissível a criação de hipóteses
não previstas no dispositivo legal por meio de analogia ou interpretação extensiva.
Contudo, o fato de o rol ser taxativo não induz à necessidade de interpretação literal de seu conteúdo
e alcance, uma vez que a taxatividade do rol é compatível com as interpretações lógica, histórico-evolutiva,
sistemática, teleológica e sociológica das hipóteses taxativamente listadas.
A diferenciação entre o texto de lei, enquanto proposição física, textual e escrita de um dispositivo
emanado do Poder Legislativo, e a norma jurídica, enquanto produto da indispensável atividade interpretativa
por meio da qual se atribui significado ao texto, conduz à conclusão de que a interpretação literal é uma das
formas, mas não a única forma, de obtenção da norma jurídica que se encontra descrita no dispositivo em
análise.
A regra do art. 1.814, I, do CC/2002, se interpretada literalmente, induziria à conclusão de que o uso
da palavra homicídio tem sentido único, técnico e importado diretamente da legislação penal para a civil, razão
pela qual o ato infracional análogo ao homicídio praticado pelo filho contra os pais não poderia acarretar a
exclusão da sucessão, pois, tecnicamente, homicídio não houve.
Registra-se que a exclusão do herdeiro que atenta contra a vida dos pais, cláusula geral com raiz ética,
moral e jurídica existente desde o direito romano, está presente na maioria dos ordenamentos jurídicos
contemporâneos e, no Brasil, possui, como núcleo essencial, a exigência de que a conduta ilícita do herdeiro
seja dolosa, ainda que meramente tentada, sendo irrelevante investigar se a motivação foi ou não o
recolhimento da herança.
A finalidade da regra que exclui da sucessão o herdeiro que atenta contra a vida dos pais é, a um só
tempo, prevenir a ocorrência do ato ilícito, tutelando bem jurídico mais valioso do ordenamento jurídico, e
reprimir o ato ilícito porventura praticado, estabelecendo sanção civil consubstanciado na perda do quinhão
por quem praticá-lo.
Assim, se o enunciado normativo do art. 1.814, I, do CC/2002, na perspectiva teleológica-finalística, é
de que não terá direito à herança quem atentar, propositalmente, contra a vida de seus pais, ainda que a
conduta não se consuma, independentemente do motivo, a diferença técnico-jurídica entre o homicídio
doloso e o ato análogo ao homicídio doloso, conquanto relevante para o âmbito penal diante das substanciais
diferenças nas consequências e nas repercussões jurídicas do ato ilícito, não se reveste da mesma relevância
no âmbito civil, sob pena de ofensa aos valores e às finalidades que nortearam a criação da norma e de
completo esvaziamento de seu conteúdo.
Seguindo esse raciocínio, a 3ª Turma do STJ decidiu que fica excluído da sucessão o herdeiro que seja
autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso praticado contra os ascendentes.

O contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel não se extingue somente por força da
consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.779.751/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/06/2020 – Informativo 668/2020
25
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
A reversão da propriedade plena (consolidação) em favor do credor fiduciário (banco) constitui apenas
uma etapa da execução do contrato, não pondo fim a ele. O julgamento extra petita está configurado quando
o magistrado concede prestação jurisdicional diversa da pleiteada na inicial.
No caso concreto julgado pelo STJ, mesmo sem pedido de rescisão do contrato de alienação fiduciária,
a sentença reconheceu extinta a relação contratual, sendo, portanto, considerada extra petita. Há julgamento
extra petita na hipótese em que, julgado procedente o pedido de busca e apreensão de bem alienado
fiduciariamente, o juiz, sem o requerimento expresso do autor, extingue o contrato firmado entre o devedor
fiduciante e o credor fiduciário.

Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá: 1) ingressar com ação de busca e apreensão
requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69); ou 2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º
e 5º do DL 911/69). Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das
obrigações contratuais pelo devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução.
Vale ressaltar que o credor fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover
a venda do bem alienado fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em
cadastros de proteção ao crédito. Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de
seu crédito, não há ilicitude na inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito,
ante o incontroverso inadimplemento da obrigação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.833.824/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/05/2020 – Informativo 671/2020

Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, com a entrada em vigor da Lei
n. 13.465/2017, não se admite a purgação da mora após a consolidação da propriedade em favor do credor
fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão somente o exercício do direito de preferência.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.649.595/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/10/2020, DJe 16/10/2020 –
Informativo 681/2020

Comentários:
Antes da entrada em vigor da Lei n. 13.465/2017, nas situações em que já consolidada a propriedade
e purgada a mora nos termos do art. 354 do DL n. 70/1966 (ato jurídico perfeito), impõe-se o desfazimento
do ato de consolidação, com a consequente retomada do contrato de financiamento imobiliário. A partir da
entrada em vigor da lei nova (n. 13.465/2017), nas situações em que consolidada a propriedade, mas não
purgada a mora, é assegurado ao devedor fiduciante tão somente o exercício do direito de preferência
previsto no § 2º-B do art. 27, da Lei n. 9.514/97.

Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não é admissível que a concessão da
gratuidade de justiça esteja condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante
legal.
26

STJ, 3ª Turma, REsp 1.807.216/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 10/03/2020 – Informativo 667/2020
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e personalíssima. Assim, os
requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade deverão ser preenchidos, em regra, pela própria
parte, e não pelo seu representante legal. É evidente que, em se tratando de menores representados pelos
seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e
obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio menor. Isso não significa,
contudo, que se deva automaticamente examinar o direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz
da situação financeira de seus pais.
Assim, em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz,
inicialmente, aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício em razão da presunção de sua
insuficiência de recursos. Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte demonstrar, com base no § 2º, a
ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, pleiteando, em razão disso, a revogação do
benefício concedido.

Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu termo inicial, deve prevalecer o
disposto no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer caso, os
alimentos fixados retroagem à data da citação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.821.107/ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 10/03/2020 – Informativo 667/2020

Comentários:
Se a lei diz expressamente que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não cabe ao intérprete
fazer restrições onde o legislador não o fez, de modo que não há justificativa para que os alimentos fixados
em acordo celebrado em ação investigatória de paternidade não recebam o mesmo tratamento, sob o singelo
argumento de que ajuste foi omisso a respeito do seu termo inicial.

O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser assegurado alimentos apenas
durante certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios. Assim, ao se
analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o
binômio necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias, tais como a capacidade
potencial para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de desoneração.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.829.295/SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 09/06/2020 – Informativo 673/2020

É possível a realização de acordo com a finalidade de exonerar o devedor do pagamento de alimentos devidos
e não pagos.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.529.532/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cuevas, j. 09/06/2020, DJe 16/06/2020 –
Informativo 673/2020

Comentários:
27

O art. 1.707 do CC dispõe que o direito aos alimentos presentes e futuros é irrenunciável, o que não
se aplica, contudo, às prestações vencidas, nas quais o credor pode deixar de exercer a cobrança. Nota-se,
Página

então, que a vedação legal à renúncia ao direito aos alimentos atinge tão somente o direito em si, e não o seu

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
exercício. No caso concreto julgado pelo STJ houve a extinção da execução porque as partes celebraram
acordo, no qual o débito foi exonerado, o que não resultou prejuízo ao alimentando, já que não houve
renúncia aos alimentos vincendos – esses sim, indispensáveis ao seu sustento –, mas tão somente aos
alimentos vencidos. Portanto, não há motivo para impor empecilho à transação, tendo em vista que não houve
prejuízo, bem como que no âmbito do Direito de Família é salutar o estímulo à autonomia das partes para a
realização de acordo, como instrumento para se alcançar o equilíbrio e a manutenção dos vínculos afetivos.

É cabível ação de exigir de contas ajuizada pelo alimentante, em nome próprio, contra a genitora guardiã do
alimentado para obtenção de informações sobre a destinação da pensão paga mensalmente, desde que
proposta sem a finalidade de apurar a existência de eventual crédito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.814.639/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/05/2020, DJe 09/06/2020 –
Informativo 673/2020

O fato de o devedor de alimentos estar recolhido à prisão pela prática de crime não afasta a sua obrigação
alimentar, tendo em vista a possibilidade de desempenho de atividade remunerada na prisão ou fora dela a
depender do regime prisional do cumprimento.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.882.798/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/08/2021 – Informativo 704/2021

A penhora do bem de família, fundada na exceção do art. 3º, VI, da Lei n. 8.009/90 (execução de sentença
penal que condena o réu a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens), apenas é possível se houver
condenação definitiva na esfera criminal, não sendo possível interpretar extensivamente a referida exceção
legal.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.823.159, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 19/10/2020 – Informativo 681

O devedor solidário responde pelo pagamento da cláusula penal compensatória, ainda que não incorra em
culpa.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.867.551/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/10/2021, DJe 13/10/2021 –
Informativo 713/2021

Comentários:
O art. 279 do CC/2002 prevê que cabe ao devedor solidário pagar o equivalente à prestação pela qual
se obrigou e que se tornou impossível, apenas o isenta de pagar as perdas e danos, visto que não deu causa
ao descumprimento (CC, art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários,
subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado).
No caso concreto julgado pelo STJ, a parte não se obrigou pela entrega da embarcação (obrigação que
se tornou impossível), mas pelas obrigações pecuniárias decorrentes do contrato.
Importante lembrar que a cláusula penal compensatória tem como objetivo prefixar os prejuízos
28

decorrentes do descumprimento do contrato, evitando que o credor tenha que promover a liquidação dos
danos, por isso, a cláusula penal se traduz em um valor considerado suficiente pelas partes para indenizar
Página

eventual descumprimento do contrato. Tem, portanto, caráter nitidamente pecuniário.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Diante disso, como a parte, no caso concreto, se obrigou conjuntamente com outra empresa pelas
obrigações pecuniárias decorrentes do contrato, está obrigada ao pagamento do valor relativo à multa penal
compensatória, cuja incidência estava expressamente prevista no ajuste.

IMPORTANTE!

Quando na estipulação da cláusula penal prepondera a finalidade coercitiva, a diferença entre o valor do
prejuízo efetivo e o montante da pena não pode ser novamente considerada para fins de redução da multa
convencional com fundamento na segunda parte do art. 413 do Código Civil.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.803.803/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 09/11/2021 – Informativo 717/2021

Comentários:
A cláusula penal possui natureza mista, ou híbrida, agregando, a um só tempo, as funções de (I)
estimular o devedor ao cumprimento do contrato e de (II) liquidar antecipadamente o dano.
A jurisprudência do STJ tem admitido o controle judicial do valor da multa compensatória pactuada,
sobretudo quando esta se mostrar abusiva, para evitar o enriquecimento sem causa de uma das partes, sendo
impositiva a sua redução quando houver adimplemento parcial da obrigação.
Não é necessário que a redução da multa, na hipótese de adimplemento parcial da obrigação, guarde
correspondência matemática exata com a proporção da obrigação cumprida, sobretudo quando o resultado
final ensejar o desvirtuamento da função coercitiva da cláusula penal.
No caso concreto julgado pela 3ª Turma, a cláusula penal tinha preponderantemente função
coercitiva, de modo que ela não poderia ser reduzida ao valor de uma única prestação ao fundamento de que
essa seria a quantia que mais se aproximava do prejuízo suportado pela autora. Isso porque, quando na
estipulação da cláusula penal prepondera a finalidade coercitiva, a diferença entre o valor do prejuízo efetivo
e o montante da pena não pode ser novamente considerada para fins de redução da multa convencional com
fundamento na segunda parte do art. 413 do Código Civil.
A preponderância da função coercitiva da cláusula penal justifica a fixação de uma pena elevada para
a hipótese de rescisão antecipada, especialmente para o contrato de patrocínio – como era no caso em
questão –, em que o tempo de exposição da marca do patrocinador e o prestígio a ela atribuído acompanham
o grau de desempenho da equipe patrocinada.
Em tese, o valor da multa convencional estipulada, no patamar de 20% sobre o valor total do contrato
de patrocínio, não se mostra excessivo, sendo suficiente para evitar que, em situações que lhe pareçam menos
favoráveis, o patrocinador opte por rescindir antecipadamente o contrato.
Deve-se considerar ainda que a cláusula penal está inserida em contrato empresarial firmado entre
empresas de grande porte, tendo por objeto valores milionários, inexistindo assimetria entre os contratantes
que justifique a intervenção em seus termos, devendo prevalecer a autonomia da vontade e a força obrigatória
dos contratos.

O condomínio tem legitimidade ativa para pleitear, em favor próprio, indenização por dano moral, não
podendo fazê-lo em nome dos condôminos.
29

STJ, 3ª Turma, REsp 1.736.593/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/02/2020 – Informativo 665
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
MUITA ATENÇÃO! Apesar de possuir legitimidade para pleitear, em nome próprio, indenização por danos
morais, o STJ é firme no entendimento de que o condomínio não possui honra objetiva, razão pela qual não
sofre danos morais. Para o STJ, como o condomínio é uma mera “massa patrimonial”, não se pode dizer que
ele seja dotado de honra objetiva. Assim, as ofensas feitas e que atinjam o condômino representam uma
ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos. Em outras palavras, quem goza de reputação são
os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado. Nesse sentido: “A doutrina
dominante reconhece que os condomínios edilícios não possuem personalidade jurídica, sendo, pois, entes
despersonalizados, também chamados de entes formais, assim com a massa falida e o espólio. Não havendo
falar em personalidade jurídica, menos ainda se poderá dizer do maltrato a direitos voltados à personalidade
e, especialmente, àqueles ligados à honra objetiva.” (STJ, 3ª Turma, AgInt no REsp 1521404/PE, Rel. j.
24/10/2017).

O condomínio edilício responde pelos danos causados por seus empregados mesmo que fora do horário de
expediente, desde que em razão do seu trabalho.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.787.026/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/10/2021, DJe 05/11/2021 –
Informativo 717/2021

É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante


expressamente houverem consentido (art. 496 do CC). O prazo para anular a venda direta entre ascendente
e descendente é de 2 anos, a contar da conclusão do ato (art. 179 do CC). A venda de bem entre ascendente
e descendente, por meio de interposta pessoa, também é ato jurídico anulável, devendo ser aplicado o mesmo
prazo decadencial de 2 anos previsto no art. 179 do CC. Isso porque a venda por interposta pessoa não é outra
coisa que não a tentativa reprovável de contornar-se a exigência da concordância dos demais descendentes e
também do cônjuge. Em outras palavras, é apenas uma tentativa de se eximir da regra do art. 496 do CC, razão
pela qual deverá ser aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.679.501/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 10/03/2020 – Informativo 667/2020

É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens, na medida em que a
hipotética doação resultaria no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado pelo casal diante da
comunicabilidade de bens no regime e do exercício comum da copropriedade e da composse.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.787.027/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04/02/2020 – Informativo 670/2020

Em ação de extinção contratual com cláusula resolutiva, é lícito à parte lesada optar entre o cumprimento
forçado ou o rompimento do contrato, desde que antes da sentença.

STJ, REsp 1.907.653/RJ, 4ª Turma, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 23/02/2021 – Informativo 686/2021

Comentários:
30

Cinge-se a controvérsia sobre pedido formulado de forma alternativa, com fundamento na cláusula
resolutiva tácita prevista no art. 475 do Código Civil, e não de obrigação pactuada com natureza alternativa
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
(CC, arts. 252 a 256). Diz o art. 475: A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato,
se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Nesse contexto, definiu a 3ª Turma do STJ que, de fato, é lícito que a parte lesada opte ou pelo
cumprimento forçado ou pelo rompimento do contrato, não lhe cabendo, todavia, o direito de exercer ambas
as alternativas simultaneamente. A escolha, uma vez feita, pode variar, desde que antes da sentença.
Segundo a doutrina, a ação para resolução do contrato pode ser exercida em substituição da ação para
cumprimento, ainda que esta já tenha sido intentada, desde que não haja sentença, porque só esta (e não o
simples pedido judicial) é decisiva e extingue o direito de escolha que, entre os dois remédios, a lei concede.

É admissível o retorno ao nome de solteiro do cônjuge ainda na constância do vínculo conjugal.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.873.918/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 02/03/2021, DJe 04/03/2021 – Informativo
687/2021

Comentários:
No caso concreto a parte, que havia substituído um de seus patronímicos pelo de seu cônjuge por
ocasião do matrimônio, fundamentou a sua pretensão de retomada do nome de solteira, ainda na constância
do vínculo conjugal, em virtude do sobrenome adotado ter se tornado o protagonista de seu nome civil em
detrimento do sobrenome familiar, o que lhe causa dificuldades de adaptação, bem como problemas
psicológicos e emocionais, pois sempre foi socialmente conhecida pelo sobrenome do pai e porque os únicos
familiares que ainda carregam o patronímico familiar se encontrarem em grave situação de saúde.
Dado que as justificativas apresentadas não são frívolas, mas, ao contrário, demonstram a irresignação
de quem vê no horizonte a iminente perda dos seus entes próximos, sem que lhe sobre uma das mais palpáveis
e significativas recordações – o sobrenome – entendeu a 3ª Turma pela preservação da intimidade, da
autonomia da vontade, da vida privada, dos valores e das crenças das pessoas, bem como pela manutenção e
perpetuação da herança familiar, permitindo, assim, o retorno ao nome de solteira ainda na constância do
vínculo conjugal.

É admissível a exclusão de prenome da criança na hipótese em que o pai informou, perante o cartório de
registro civil, nome diferente daquele que havia sido consensualmente escolhido pelos genitores.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.905.614/SP, rel. min. Nancy Andrighi, j. 04/05/2021, DJe 06/05/2021 – Informativo
695/2021

Comentários:
Nomear o filho é típico ato de exercício do poder familiar, que pressupõe bilateralidade, salvo na falta
ou impedimento de um dos pais, e consensualidade, ressalvada a possibilidade de o juiz solucionar eventual
desacordo entre eles, inadmitindo-se, na hipótese, a autotutela. Desta forma, o ato do pai que,
conscientemente, desrespeita o consenso prévio entre os genitores sobre o nome a ser dado ao filho,
acrescendo prenome de forma unilateral por ocasião do registro civil, além de violar os deveres de lealdade e
31

de boa-fé, configura ato ilícito e exercício abusivo do poder familiar, sendo motivação bastante para autorizar
a exclusão do prenome indevidamente atribuído à criança.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Os herdeiros não podem exigir remuneração do companheiro sobrevivente pelo uso do imóvel.

Aos herdeiros não é autorizado exigir a extinção do condomínio e a alienação do bem imóvel comum enquanto
perdurar o direito real de habitação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.846.167/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/02/2021, DJe 11/02/2021 – Informativo
685/2021

Importante!

A orientação consagrada na Súmula 375/STJ e no julgamento do Tema 243 é aplicável às hipóteses de


alienações sucessivas.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.863.952/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/10/2021 – Informativo 716/2021

Comentários:
De acordo com a Súmula 375/STJ: O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da
penhora do bem alienado ou de prova de má-fé do terceiro adquirente.
A fraude à execução atua no plano da eficácia, de modo que conduz à ineficácia da alienação ou
oneração do bem em relação ao exequente (art. 592, V, do CPC/73; art. 792, § 1º, do CPC/2015). Com efeito,
as hipóteses em que a alienação ou oneração do bem são consideradas fraude à execução podem ser assim
sintetizadas: (I) quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória;
(II) quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução; (III) quando o bem
tiver sido objeto de constrição judicial nos autos do processo no qual foi suscitada a fraude; (IV) quando, no
momento da alienação ou oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência.
O STJ tem entendimento sedimentado no sentido de que a inscrição da penhora no registro do bem
não constitui elemento integrativo do ato, mas sim requisito de eficácia perante terceiros. Por essa razão, o
prévio registro da penhora do bem constrito gera presunção absoluta (juris et de jure) de conhecimento para
terceiros e, portanto, de fraude à execução caso o bem seja alienado ou onerado após a averbação (CPC/2015,
art. 844). Por outro lado, se o bem se sujeitar a registro e a penhora ou a ação de execução não tiver sido
averbada no respectivo registro, tal circunstância não obsta, prima facie, o reconhecimento da fraude à
execução. Nesse caso, entretanto, caberá ao credor comprovar a má-fé do terceiro; vale dizer, que o
adquirente tinha conhecimento acerca da pendência do processo – esta é, justamente, a orientação
consolidada pela Súmula 375/STJ.
Desse modo, são pressupostos genéricos da fraude à execução: (I) processo judicial em curso em face
do devedor/executado; (II) registro, na matrícula do bem, da penhora ou outro ato de constrição judicial ou
averbação premonitória ou, então, prova da má-fé do terceiro adquirente.
No caso de alienações sucessivas, inicialmente, é evidente que não se exige a pendência de processo
em face do alienante do qual o atual proprietário adquiriu o imóvel. Tal exigência, em atenção aos ditames
legais, deve ser observada exclusivamente em relação ao devedor que figura no polo passivo da ação de
conhecimento ou de execução. É dizer, a litispendência é pressuposto a ser analisado exclusivamente com
32

relação àquele que tem relação jurídica com o credor.


No que concerne ao requisito do registro da penhora ou da pendência de ação ou, então, da má-fé do
Página

adquirente, de acordo com diversos precedentes do STJ – os quais, inclusive, embasaram a Súmula 375/STJ –

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
e com a doutrina especializada, o reconhecimento da ineficácia da alienação originária, porque realizada em
fraude à execução, não contamina, automaticamente, as alienações posteriores. Nessas situações, existindo
registro da ação ou da penhora à margem da matrícula do bem imóvel alienado a terceiro, haverá presunção
absoluta do conhecimento do adquirente sucessivo e, portanto, da ocorrência de fraude. Contudo, se
inexistente o registro do ato constritivo ou da ação, incumbe, do mesmo modo, ao exequente/embargado a
prova da má-fé do adquirente sucessivo.

É inadmissível a declaração de incapacidade absoluta às pessoas com enfermidade ou deficiência mental.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.927.423/SP, rel. min. Marco Aurélio Bellizze, j. 27/04/2021 – Informativo 694/2021

É possível o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se os interessados forem capazes e
concordes e estiverem assistidos por advogado, desde que o testamento tenha sido previamente registrado
judicialmente ou haja a expressa autorização do juízo competente.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.808.767/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/10/2019 – Informativo 663

Em ação revisional de contrato de locação comercial, o reajuste do aluguel deve refletir o valor patrimonial do
imóvel locado, inclusive considerando em seu cálculo benfeitorias e acessões realizadas pelo locatário com
autorização do locador.

STJ, Corte Especial, EREsp 1.411.420/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 03/06/2020, DJe 27/08/2020 –
Informativo 678

É devida indenização por lucros cessantes pelo período em que o imóvel objeto de contrato de locação
permaneceu indisponível para uso, após sua devolução pelo locatário em condições precárias.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.919.208/MA, rel. min. Nancy Andrighi, j. 20/04/2021 – Informativo 693/2021

Comentários:
A determinação das perdas e danos está submetida ao princípio da reparação integral, de maneira
que devem abranger tanto o desfalque efetivo e imediato no patrimônio do credor, como a perda
patrimonial futura, a teor do disposto no art. 402 do CC/2002. Para além dos danos emergente, a restituição
do imóvel locado em situação de deterioração enseja o pagamento de indenização por lucros cessantes, pelo
período em que o bem permaneceu indisponível para o locador.

Importante!

É vedado o uso de unidade condominial com destinação residencial para fins de hospedagem remunerada,
com múltipla e concomitante locação de aposentos existentes nos apartamentos, a diferentes pessoas, por
curta temporada.
33
Página

STJ, 4ª Turma, REsp 1.819.075/RS, rel. min. Raul Araújo, j. 20/04/2021 – Informativo 693/2021

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A procuração para transferência do imóvel com valor superior ao teto legal, ato cuja exigência de instrumento
público é essencial para a sua validade, deve necessariamente ter a mesma forma pública que é exigida para
o ato.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.894.758/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, j.
19/10/2021 – Informativo 715/2021

Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em
loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores.

STJ, REsp 1.739.042/SP, 3ª Turma, Min. Nancy Andrighi, j. 08/09/2020, DJe 16/09/2020 – Informativo
679/2020

Não se comunicam, na partilha decorrente de divórcio, os bens adquiridos por uma das partes antes do
casamento, no período de namoro.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.841.128/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/11/2021 – Informativo 719

O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139, IV, do
CPC, com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA, especialmente
quando a presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a controvérsia.

STJ, 2ª Seção, Rcl 37.521/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/05/2020 – Informativo 673/2020

A divergência entre a paternidade biológica e a declarada no registro de nascimento não é apta, por si só, para
anular o ato registral, dada a proteção conferida a paternidade socioafetiva.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.829.093/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/06/2021 – Informativo 699/2021

Importante!

O valor recebido a título de horas extras integra a base de cálculo da pensão alimentícia fixada em percentual
sobre os rendimentos líquidos do alimentante.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.741.716/SP, rel. min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 25/05/2021 – Informativo 698/2021

A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços de reprodução humana é instrumento


absolutamente inadequado para legitimar a implantação post mortem de embriões excedentários, cuja
autorização, expressa e específica, deve ser efetivada por testamento ou por documento análogo.
34

STJ, 4ª Turma, REsp 1.918.421/SP, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, j. 08/06/2021, DJe 26/08/2021 – Informativo
706/2021
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
O uso da imagem de torcedor inserido no contexto de uma torcida não induz a reparação por danos morais
quando não configurada a projeção, a identificação e a individualização da pessoa nela representada.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.772.593/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16/06/2020, DJe 19/06/2020 – Informativo
674/2020

Não caracteriza hipótese de responsabilidade civil a publicação de matéria jornalística que narre fatos
verídicos ou verossímeis, embora eivados de opiniões severas, irônicas ou impiedosas, sobretudo quando se
trate de figuras públicas que exerçam atividades tipicamente estatais, gerindo interesses da coletividade, e a
notícia e crítica referirem-se a fatos de interesse geral relacionados à atividade pública desenvolvida pela
pessoa noticiada.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.729.550/SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/05/2021 – Informativo 696/2021

A divulgação pelos interlocutores ou por terceiros de mensagens trocadas via WhatsApp pode ensejar a
responsabilização por eventuais danos decorrentes da difusão do conteúdo.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.903.273/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/08/2021, DJe 30/08/2021 – Informativo
706/2021

Aquele que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear eventual nulidade de negócio jurídico que
envolva um dos bens que integram o patrimônio do de cujus.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.433.650/GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 19/11/2019 – Informativo 664/2020

Muito importante!

A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do art. 1.723,
§ 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para
fins previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento
jurídico-constitucional brasileiro.

STF, Plenário, RE 1.045.273, rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 19/12/2020 (Tema 529 – repercussão geral) –
Informativo 1003/2021

#FGVAMA
Esse julgado acabou de cair na prova para Juiz do TJ/ES.

Comentários:
O caso concreto envolvia a divisão da pensão por morte de um homem que tinha união estável
judicialmente reconhecida com uma mulher, com a qual tinha um filho, e, ao mesmo tempo, manteve uma
35

relação homoafetiva durante 12 anos. Segundo o relator, o fato de haver declaração judicial definitiva de união
Página

estável impede o reconhecimento, pelo Estado, de outra união concomitante e paralela. O ministro ainda
pontuou que o STF, ao reconhecer a validade jurídico-constitucional do casamento civil ou da união estável

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
por pessoas do mesmo sexo, não chancelou a possibilidade de bigamia, mas apenas conferiu plena igualdade
às relações, independentemente da orientação sexual.
O Código Civil, em seu art. 1.723, impede a concretização da união estável com pessoa já casada, sob
pena de se configurar bigamia (casamentos simultâneos) tipificada como crime pelo art. 235 do Código Penal.
Além disso, o art. 226, § 3º, da CF/88, se esteia no princípio de exclusividade ou monogamia como requisito
para o reconhecimento jurídico desse tipo de relação afetiva.

Importante!

A eleição do regime de bens da união estável por contrato escrito é dotada de efetividade ex nunc, sendo
inválidas cláusulas que estabeleçam a retroatividade dos efeitos patrimoniais do pacto sem expressa
autorização judicial, nos termos do art. 1.639, § 2º, do CC/2002.

STJ, 4ª Turma, AREsp 1.631.112/MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 26/10/2021 – Informativo 715/2021

A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o ajuizamento da ação de


usucapião. Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião extrajudicial, o interessado pode
livremente optar pela propositura de ação judicial. O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de
Registros Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial não traz prejuízo à busca da
usucapião na via jurisdicional.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.824.133/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/02/2020 – Informativo 665/2020

Importante!

A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua propriedade
pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para prescrição aquisitiva.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.528.626/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, j. 17/12/2019 –
Informativo 667/2020

#FGVAMA
Se liga, povo! Esse julgado acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/ES.

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira
flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais.

No caso concreto, restou comprovado que a mulher – vítima da chamada pornografia de vingança – sabia que
sua intimidade havia sido indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada causou-
lhe humilhação, violando, assim, seus direitos da personalidade.
36

STJ, 3ª Turma, REsp 1.735.712/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/05/2020 – Informativo 672
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A omissão de socorro à vítima de acidente de trânsito, por si, não configura hipótese de dano moral in re ipsa,
sendo, pois, necessária a demonstração do dano para que haja indenização.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.512.001/SP, rel. min. Antonio Carlos Ferreira, j. 27/04/2021 – Informativo 694/2021

Em regra, a cláusula penal moratória não pode ser cumulada com indenização por lucros cessantes. A cláusula
penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação e, em regra,
estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros cessantes.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.498.484/DF (repetitivo), Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/05/2019 – Informativo 651

Condôminos podem ser chamados a responder pelas dívidas do condomínio, sendo permitida, inclusive, a
penhora do apartamento que é bem de família.

De acordo com o entendimento da 4ª Turma do STJ, é possível a penhora do bem de família do condômino,
na proporção de sua fração ideal, se inexistente patrimônio próprio do condomínio para responder por dívida
oriunda de danos a terceiros.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.473.484/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 21/06/2018 – Informativo 631

Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio, ainda que destinadas
apenas a lazer, razão pela qual será ilícita qualquer disposição condominial nesse sentido.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.699.022/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/05/2019 – Informativo 651

Importante!

Não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo para o adimplemento dos alimentos
devidos em razão da prática de ato ilícito.

STJ, 4ª Turma, HC 523.357/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 01/09/2020, DJe 16/10/2020 – Informativo
681/2020

Importante!

Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade contratual, aplica-se a regra geral do art. 205 do CC/2002,
que prevê prazo prescricional de 10 (dez) anos, e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual,
aplica-se o prazo de 3 (três) anos estabelecido no art. 206, § 3º, CC, do CC/2002.

STJ, 2ª Seção, EREsp 1.280.825/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/06/2018 – Informativo 632
37

A pretensão de cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro obrigatório (DPVAT) prescrevem


Página

em três anos, sendo o termo inicial, no último caso, o pagamento administrativo considerado a menor.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Em relação ao prazo de prescrição da ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT), cabe ressaltar que a
Segunda Seção do STJ, quando do julgamento do REsp 1.071.861-SP (DJe 21/8/2009), firmou o entendimento
de que o seguro DPVAT não perdeu a natureza de seguro obrigatório de responsabilidade civil, de modo que
o prazo de prescrição, na vigência do CC/2002, é de três anos. Posteriormente, esse entendimento foi
cristalizado na Súmula 405 do STJ: "A ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) prescreve em três
anos".

Quanto à prescrição da ação de cobrança de diferença de valor pago a menor a título de seguro DPVAT, o STJ
consagrou o entendimento de que o prazo de prescrição para o recebimento da complementação deve ser o
mesmo prazo utilizado para o recebimento da totalidade da indenização securitária, pois o complemento está
contido na totalidade (REsp 1.220.068-MG, Quarta Turma, DJe 1º/2/2012). Assim, o prazo de prescrição para
o exercício da pretensão de cobrança de diferença de indenização paga a menor a título do seguro obrigatório
DPVAT deve ser o de três anos, incidindo também nesta hipótese a Súmula 405 do STJ.

No tocante ao termo inicial do aludido prazo prescricional, cabe assinalar que, nos termos do art. 202, VI, do
CC/2002 (art. 172, V, do CC/1916), qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor é considerado causa interruptiva da prescrição, a exemplo do
pagamento parcial. Por isso, em caso de pagamento parcial do seguro DPVAT, este deve ser o termo inicial
para a contagem do prazo prescricional relativo à pretensão ao recebimento complementar da verba
indenizatória, tendo em vista o ato inequívoco da seguradora de reconhecer a condição do postulante como
beneficiário do seguro obrigatório.

Nesse passo, cumpre ressaltar e distinguir que a suspensão do prazo de prescrição se dá apenas durante a
tramitação administrativa do pedido de indenização securitária, voltando a fluir da data da ciência da recusa
da seguradora (Súmula 229 do STJ). Por outro lado, se o pleito é acolhido, há, como visto, a interrupção do
lapso prescricional para se postular a indenização integral, caso venha ela a ser paga apenas parcialmente.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.418.347/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 08/04/2015, DJe 15/04/2015 –
Informativo 559

O filho do autor da herança tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que receberam via
doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade.

STJ, REsp 1.298.864/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/05/2015, DJe 29/05/2015 – Informativo 563

A viúva não pode opor o direito real de habitação aos irmãos de seu falecido cônjuge na hipótese em que eles
forem, desde antes da abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido.

STJ, REsp 1.184.492/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/04/2014 – Informativo 543
38

A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso de um homem para permitir a
alteração do registro de nascimento de uma criança em que ele constava como pai. A desconstituição da
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
paternidade registral foi autorizada diante da constatação de vício de consentimento: o homem, que vivia com
a mãe da criança, só descobriu que não era o pai biológico após fazer exame de DNA.

Embora a relação paterno-filial tenha durado cinco anos, os ministros levaram em conta o fato de que o pai
registral rompeu os laços de afetividade tão logo tomou conhecimento da inexistência de vínculo biológico
com a criança.

O recorrente viveu em união estável com a mãe e acreditava ser mesmo o pai da criança, que nasceu nesse
período. Assim, registrou o menor e conviveu durante cinco anos com ele. Ao saber de possível traição da
companheira, fez o exame de DNA.

STJ, 3ª Turma, S/N (segredo de justiça), julgamento realizado em 2015.


Fonte: https://www.migalhas.com.br/quentes/216080/stj-autoriza-desconstituicao-de-paternidade-mesmo-
apos-cinco-anos-de-convivio

No regime de separação legal de bens (CC/2002, art. 1.641), comunicam-se os adquiridos na constância do
casamento, desde que comprovado – não pode ser presumido – o esforço comum para sua aquisição.

STJ, 2ª Seção, EREsp 1.623.858/MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Convocado do TRF-5), j. 23/05/2018 (recurso
repetitivo) – Informativo 628

O roubo de carga mediante grave ameaça e emprego de arma de fogo constitui força maior e exclui a
responsabilidade da transportadora, quando adotadas todas as cautelas necessárias para o transporte da
carga. Precedentes. O Tribunal de origem, com fundamento nas provas produzidas nos autos, concluiu que a
transportadora adotou as cautelas necessárias para o transporte das mercadorias mediante contratação de
seguro de carga e de serviço de monitoramento e rastreamento de veículo.

STJ, 4ª Turma, AgInt no AREsp 1.232.877/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 27/11/2018, DJe 04/12/2018

O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado. O inciso V
afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se ele foi dado como hipoteca
(garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso,
o bem de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.

Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis. Assim,
a ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.

Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como argumento pelo
devedor para evitar a penhora do bem de família.
39

STJ, 3ª Turma, REsp 1.455.554/RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/06/2016 – Informativo 585
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A hipoteca se constitui por meio de contrato (convencional), pela lei (legal) ou por sentença (judicial) e desde
então vale entre as partes como crédito pessoal. Sua inscrição no cartório de registro de imóveis atribui a tal
garantia a eficácia de direito real oponível erga omnes.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.455.554/RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/06/2016, DJe 16/06/2016

Por unanimidade, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu como marco inicial para
contagem do prazo prescricional de uma ação de sonegados a data do trânsito em julgado da decisão de
mérito que estabeleceu que o imóvel em disputa não pertencia exclusivamente ao suposto sonegador. Com
base na teoria da actio nata, o colegiado entendeu que essa era a única data na qual se podia afirmar, com
segurança, que a parte prejudicada teve ciência inequívoca da lesão ao seu direito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.698.732/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 18/05/2020

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/ES.

Importante!

O prazo prescricional para propor ação de petição de herança conta-se da abertura da sucessão.

STJ, 2ª Seção, EAREsp n. 1.260.418/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Saldanha, j. 26/10/2022 – Informativo 757

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/ES e na prova para juiz do
TJ/MS. O tema também estava em uma das alternativas em questão da prova para Juiz do TJ/RJ (a banca dessa
prova foi a VUNESP, mas perceba que há uma tendência à cobrança do assunto).

Comentários:
Quanto ao termo inicial do prazo prescricional para a ação de petição de herança, a 3ª Turma concluiu
no acórdão embargado que "o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do
trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade". Tal orientação, vinculada à teoria da actio nata,
decorre do fundamento "de que antes do conhecimento da lesão ao direito subjetivo pelo seu titular, não se
pode considerar iniciado o cômputo do prazo prescricional".
No entanto, na 4ª Turma, ficou decidido que "o termo inicial do prazo prescricional da pretensão de
petição de herança conta-se da abertura da sucessão [...], momento em que [...] nasce para o herdeiro, ainda
que não legalmente reconhecido, o direito de reivindicar os direitos sucessórios (actio nata)" (AgInt no AREsp
1.430.937/SP, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 06/03/2020, e AgInt no AREsp 479.648/MS, Rel. Min. Raul Araújo,
DJe 06/03/2020).
O princípio da actio nata (actione non nata non praescribitur - ação não nascida não prescreve),
aplicado nos acórdãos confrontados, encontra-se disciplinado na parte final do art. 177 do CC/1916 e no art.
40

189 do CC/2002. Segundo tais normas, vinculadas ao princípio da actio nata, o prazo prescricional correrá a
partir do momento em que for possível, em tese, propor a ação, qual seja, a data em que afrontado o direito.
Página

Referidas normas não exigem que o titular do direito tenha ciência da respectiva lesão.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Atualmente admite-se que a regra geral, que adota a vertente objetiva na aplicação do princípio
da actio nata, comporta exceções, em decorrência ora de lei específica ora de circunstâncias extremamente
relevantes verificadas no caso concreto.
No presente caso, efetivamente inexistem circunstâncias específicas que impliquem afastamento da
regra geral (corrente objetiva), sobretudo diante das demais normas que disciplinam a sucessão, aplicáveis
mesmo nos casos em que a condição de herdeiro ainda não tenha sido reconhecida oficialmente.
Destaca-se que, pelo princípio da saisine, a herança transmite-se no momento da abertura da
sucessão (art. 1.572 do CC/1916 e 1.784 do CC/2002). Ademais, havendo questionamento de alta indagação
acerca da condição de herdeiro, tal matéria será remetida às instâncias ordinárias, reservando-se o respectivo
quinhão até a solução do caso (arts. 1.000, parte final do parágrafo único, e 1.001 do CPC/1973 e arts. 627, §
3º, e 628, § 2º, do CPC/2015)
Portanto, aberta a sucessão, o herdeiro, independentemente do reconhecimento oficial de tal
condição, poderá imediatamente postular seus direitos hereditários nas vias ordinárias, cabendo-lhe as
seguintes opções: (i) propor ação de investigação de paternidade cumulada com petição de herança; (ii)
propor concomitantemente, mas em processos distintos, ação de investigação de paternidade e ação de
petição de herança. Em tal caso, ambas poderão tramitar simultaneamente, ou se poderá suspender a petição
de herança até o julgamento da investigatória; (iii) propor ação de petição de herança, na qual deverão ser
discutidas, na esfera das causas de pedir, a efetiva paternidade do falecido e a violação do direito hereditário.
Tal opção, na prática, revela causas de pedir e pedidos semelhantes aos deduzidos no item "i".
Enfim, a defesa do direito hereditário pode ser exercida de imediato, logo após a abertura da sucessão,
devendo prevalecer o entendimento firmado nos paradigmas da 4ª Turma.
A ausência de prévia propositura de ação de investigação de paternidade, imprescritível, e de seu
julgamento definitivo não constitui óbice para o ajuizamento de ação de petição de herança e para o início da
contagem do prazo prescricional. A definição da paternidade e da afronta ao direito hereditário, na verdade,
apenas interfere na procedência da ação de petição de herança.

O direito de tapagem disposto no art. 1.297 do Código Civil prevê o direito ao compartilhamento de gastos
decorrentes da construção de muro comum aos proprietários lideiros.

STJ, 4ª Turma, REsp 2.035.008/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 02/05/2023, DJe 05/05/2023 – Informativo
774/2023

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/ES.

Comentários:
Cinge-se a controvérsia a determinar se é necessário o prévio acordo de vontades para que o
proprietário de imóvel confinante possa ser compelido a concorrer para as despesas de construção de
tapumes divisórios. Primeiramente, veja o que diz o art. 1.297 do Código Civil:

Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer
modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder
41

com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar
Página

marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os


interessados as respectivas despesas.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

§ 1º. Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas,
cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em
contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados,
de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes iguais, para
as despesas de sua construção e conservação.

§ 2º. As sebes vivas, as árvores, ou plantas quaisquer, que servem de marco divisório,
só podem ser cortadas, ou arrancadas, de comum acordo entre proprietários.

§ 3º. A construção de tapumes especiais para impedir a passagem de animais de


pequeno porte, ou para outro fim, pode ser exigida de quem provocou a necessidade
deles, pelo proprietário, que não está obrigado a concorrer para as despesas.

Com efeito, se o tapume é feito na divisa, a presunção legal é de que é comum e não particular (CC,
art. 1.297, § 1º). O interesse do que fez o tapume nada tem que ver com a intenção do confrontante de
adquirir-lhe ou não a meação. O seu interesse é o de receber a metade das despesas a que o seu confrontante
está obrigado por expressa disposição de lei. Aceitar a tese de que, construindo o tapume sem prévio acordo
ou sem sentença, a parte estaria renunciando ao direito ao ressarcimento que a lei lhe assegura, equivale a
presumir uma doação de seu direito, ao vizinho. Mas doação é negócio solene, que não se pode presumir, por
isso mesmo.
É claro que, tomando a iniciativa unilateral de erguer o muro ou a cerca, correrá a parte o risco de ver
sua obra impugnada pelo vizinho, quanto a custo e natureza, na contestação do feito, ao ensejo em que
postular a indenização pela metade dos gastos. Mas, se a prova acabar por demonstrar que o tapume foi
normalmente feito segundo as posturas municipais ou os costumes do lugar, e por custo razoável, só mesmo
por um capricho ou um formalismo injustificável será possível negar ao autor o reembolso da metade das
despesas feitas. De acordo com a doutrina, é o condomínio forçado estabelecido sobre as obras de confins de
prédios contíguos, o que justifica a obrigação dos proprietários em contribuir com as despesas do tapume
comum.
Adotar-se o entendimento diverso significaria tornar letra morta o dispositivo citado. O dever jurídico
só existiria caso houvesse o acordo e, existente este, seria o bastante, supérflua a norma legal. O anterior
concerto servirá para que se tenha como indiscutível que as obras são necessárias e para fazer incontroverso
o respectivo valor. Se o confinante, entretanto, se opõe à realização de trabalhos de conservação,
efetivamente reclamados, não será só por isso que ficará livre de concorrer para as despesas. Não se terá,
porém, como indispensável, deixando ao alvedrio da parte concorrer ou não para a construção e conservação
das cercas.

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. DIREITO DE VIZINHANÇA. DIREITO À


PASSAGEM FORÇADA. FUNDAMENTO. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE SOCIAL. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO
SOCIOECONÔMICA DA PROPRIEDADE E DA POSSE. FINALIDADE. GARANTIR O USO E A FRUIÇÃO DA COISA.
TITULARIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA. POSSUIDOR. CARACTERIZAÇÃO.
1- Recurso especial interposto em 11/7/2022 e concluso ao gabinete em 5/10/2022.
42

2- O propósito recursal consiste em dizer se o possuidor tem direito à passagem forçada na hipótese de imóvel
Página

encravado.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
3- No que diz respeito à tese calcada na suposta ofensa ao art. 426 do CC/2002, tem-se, no ponto, inviável o
debate, porquanto não se vislumbra o efetivo prequestionamento, o que inviabiliza a apreciação da tese
recursal apresentada, sob pena de supressão de instâncias.
4- O direito à passagem forçada - que encontra fundamento nos princípios da solidariedade social e da função
socioeconômica da propriedade e da posse - é o poder atribuído, pela lei, a determinado titular de, na hipótese
de imóvel encravado, sujeitar o vizinho a lhe dar passagem até via pública, nascente ou porto, mediante
pagamento de indenização.
5- A existência da posse ou do direito de propriedade sem a possibilidade real e concreta de usar e fruir da
coisa em razão do encravamento, significaria retirar do imóvel todo o seu valor e utilidade, violando o princípio
da função social que informa ambos os institutos.
6- O vizinho que recusa passagem ao possuidor do imóvel encravado, exerce seu direito de maneira não
razoável, em desacordo com o interesse social e em prejuízo da convivência harmônica em comunidade, o
que configura não apenas uso anormal da propriedade, mas também ofensa à sua função social, situação que
não merece a tutela do ordenamento jurídico.
7- Partindo da interpretação teleológica do art. 1.285 do CC/2002 e tendo em vista o princípio da função social
da posse, é forçoso concluir que o direito à passagem forçada é atribuído também ao possuidor do imóvel.
8- Na hipótese dos autos, tendo em vista que, conforme se extrai do acórdão recorrido, restou comprovado
que a autora, recorrida, é possuidora do imóvel em questão, não merece reforma o aresto estadual, pois,
consoante já ressaltado, o possuidor também tem direito à passagem forçada na hipótese de imóvel
encravado, nos termos do art. 1.285 do CC/2002.
9- Recurso especial não provido.

STJ, 3ª Turma, REsp 2.029.511/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/03/2023, DJe de 16/3/2023

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/ES.

A morte de usufrutuário que arrenda imóvel, durante a vigência do contrato de arrendamento, sem a
reivindicação possessória pelo proprietário, torna precária e injusta a posse exercida pelos seus sucessores,
mas não constitui óbice ao exercício dos direitos provenientes do contrato de arrendamento pelo espólio
perante o terceiro arrendatário.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.758.946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 08/06/2021 – Informativo 700

#FGVAMA
Esse julgado foi recentemente cobrado pela FGV na prova para Juiz do TJ/MS.
43
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder familiar e deverá ser exercida, em regra,
pelos pais, conforme prevê o art. 1.634, VII, do Código Civil. Assim, somente em algumas hipóteses é que o
menor poderá deixar de ser representado pelos seus pais. O fato de ter sido concedida a guarda do menor
para uma outra pessoa que não compõe o núcleo familiar não significa que tenha havido a destituição
automática do poder familiar. Logo, mesmo em tais casos, a competência para representar este menor em
juízo é do pai ou da mãe (e não da guardiã).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.761.274/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04/02/2020 – Informativo 664/2020

Irmãos unilaterais possuem legitimidade ativa e interesse processual para propor ação declaratória de
reconhecimento de parentesco natural com irmã pré-morta, ainda que a relação paterno-filial com o pai
comum, também pré-morto, não tenha sido reconhecida em vida.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.892.941/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/06/2021 – Informativo 699/2021

Compete à Justiça da Infância e da Juventude processar e julgar causas envolvendo reformas de


estabelecimento de ensino de crianças e adolescentes.

STJ, 2ª Turma, AREsp 1.840.462/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 15/03/2022, DJe 18/03/2022 – Informativo
729/2022

O art. 241-E do Estatuto da Criança e do Adolescente, ao explicitar o sentido da expressão “cena de sexo
explícito ou pornográfica” não restringe tal conceito apenas às imagens em que a genitália de crianças e
adolescentes esteja desnuda.

STJ, 6ª Turma, S/N (segredo judicial), j. 15/03/2022 – Informativo 729/2022

Na execução de medida socioeducativa, o período de tratamento médico deve ser contabilizado no prazo de
3 anos para a duração máxima da medida de internação, nos termos do art. 121, § 3º, do ECA.

STJ, 5ª Turma, REsp 1.956.497/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 05/04/2022 – Informativo 732

Importante!

Responde civilmente por danos morais o provedor de aplicação de internet que, após formalmente
comunicado de publicação ofensiva a imagem de menor, se omite na sua exclusão, independentemente de
ordem judicial.
44

STJ, 4ª Turma, REsp 1.783.269/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 14/12/2021 – Informativo 723
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
O risco real de contaminação pelo coronavírus (covid-19) em casa de abrigo justifica a manutenção de criança
de tenra idade com a família substituta, apesar da suposta irregularidade/ilegalidade dos meios empregados
para a obtenção da guarda da infante.

STJ, 3ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/06/2022, DJe 23/06/2022 –
Informativo 742

Importante!

É possível a mitigação da norma geral impeditiva contida no § 1º o art. 42 do ECA, de modo a se autorizar a
adoção avoenga em situações excepcionais.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.587.477-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/03/2020, DJe 27/08/2020 – Informativo
678

Comentários:
Diz o art. 42, § 1º do ECA, que “Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando”. Ou seja,
a própria legislação prevê, como regra, a impossibilidade de adoção dos netos pelos avós (adoção avoenga).
Em casos anteriores, já havia sido decidido pela 3ª Turma a possibilidade de mitigação da referida
norma geral impeditiva – de modo a se autorizar a adoção avoenga – em situações excepcionais em que: (i) o
pretenso adotando seja menor de idade; (ii) os avós (pretensos adotantes) exerçam, com exclusividade, as
funções de mãe e pai do neto desde o seu nascimento, (iii) a parentalidade socioafetiva tenha sido
devidamente atestada por estudo psicossocial, (iv) o adotando reconheça os adotantes como seus genitores
e seu pai (ou sua mãe) como irmão, (v) inexista conflito familiar a respeito da adoção, (vi) não se constate
perigo de confusão mental e emocional a ser gerada no adotando, (vii) não se funde a pretensão de adoção
em motivos ilegítimos, a exemplo da predominância de interesses econômicos, e (viii) a adoção apresente
reais vantagens ao adotando.
Neste caso concreto, decidiu a 4ª Turma encampar referida interpretação dada ao § 1º do art. 42, por
se mostrar consentânea com o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, que é o fim social
objetivado pela Constituição, art. 227, e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069/90,
conferindo-se, desta forma, a devida e integral proteção aos direitos e interesses das pessoas em
desenvolvimento, cuja vulnerabilidade e fragilidade justificam o tratamento especial destinado a colocá-las a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência ou opressão.

Presentes os requisitos autorizadores da tutela antecipada, é cabível a inclusão de informações adicionais,


para uso administrativo em instituições escolares, de saúde, cultura e lazer, relativas ao nome afetivo do
adotando que se encontra sob guarda provisória.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.878.298/MG, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 02/03/2021 – Informativo 687

Comentários:
45

O art. 47, § 5º, do ECA, prevê o direito à modificação do nome e do prenome do adotando, após a
prolação de sentença em processo de adoção, com a respetiva oitiva e consentimento da criança ou
Página

adolescente, conforme art. 28, § 2º do mesmo diploma legal.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
O nome afetivo já utilizado pela família adotiva no convívio decorrente da guarda provisória impacta
diretamente a noção de pertencimento social da criança, bem como influi no processo de reconstrução de
sua identidade e da dupla parental que se revela mesmo antes da sentença definitiva.
Ao longo da experiência da guarda provisória, os laços afetivos da filiação adotiva já começam a ser
tecidos e, caso presentes os requisitos para o deferimento da antecipação de tutela, o uso – nas demais
instituições em que a criança convive – do nome já utilizado pelos adotantes no seio familiar tende a, ao menos
em tese, facilitar a adaptação, a constrição das novas identidades em curso.
Dessa forma, concluiu a 3ª Turma no sentido de que, constatada a presença dos requisitos
autorizadores da tutela e respeitada a escuta da criança e do adolescente nos moldes previstos em lei, é
cabível a inclusão de informações adicionais, em via administrativa, relativas ao nome afetivo do adotando
que se encontra ainda sob a guarda provisória.

É possível, mesmo ante a regra da irrevogabilidade da adoção, a rescisão de sentença concessiva de adoção
ao fundamento de que o adotado, à época da adoção, não a desejava verdadeiramente e de que, após atingir
a maioridade, manifestou-se nesse sentido.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.892.782/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/04/2021 – Informativo 691

A regra que estabelece a diferença mínima de 16 (dezesseis) anos de idade entre adotante e adotando (art.
42, § 3º do ECA) pode, dadas as peculiaridades do caso concreto, ser relativizada no interesse do adotando.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.338.616/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 15/06/2021 – Informativo 701/2021

Atende ao melhor interesse da criança a adoção personalíssima intrafamiliar por parentes colaterais por
afinidade, a despeito da circunstância de convivência da criança com família substituta, também postulante à
adoção.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.911.099/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 29/06/2021, DJe 03/08/2021 – Informativo 703

A Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta para processar e julgar causas envolvendo
matrícula de menores em creches ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei n. 8.069/1990.

STJ, 1ª Seção, REsp 1.846.781/MS, rel. Min, Assussete Magalhães, j. 10/02/2021 – Informativo 685

Muito importante!

Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da
Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver
tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a
majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006.
46

STJ, 6ª Turma, REsp 1.622.781/MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 22/11/2016 – Informativo 595
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
Quando o agente criminoso envolve uma criança ou adolescente na prática de: (I) tráfico de drogas
(art. 33); (II) tráfico de maquinário para drogas (art. 34); (III) associação para o tráfico (art. 35); (IV)
financiamento do tráfico (art. 36); ou (V) informante do tráfico (art. 37), o legislador determina que ele – o
agente criminoso – responda pelo crime praticado com a pena aumentada de 1/6 a 2/3 pelo fato de ter se
envolvido menor de 18 anos na empreitada criminosa, na forma do art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006.
Dessa forma, o julgador não poderá aplicar a referida causa de aumento estabelecida no art. 40, VI,
da Lei de Drogas, e condenar o réu pela prática do crime de corrupção de menores (ECA, art. 244-B), pois, caso
assim o faça, incorrerá na prática de bis in idem.
Diante dessa situação, entende o STJ que deve prevalecer a causa de aumento prevista no art. 40, VI,
da Lei de Drogas, com base no princípio da especialidade.

É juridicamente existente a sentença proferida em ação de destituição do poder familiar ajuizada em desfavor
apenas da genitora, no caso em que pretenso pai biológico não conste na respectiva certidão de nascimento
do menor.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.819.860/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/09/2020 – Informativo 679

Importante!

É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos pais
possuem origem indígena.

STJ, REsp 1.698.635/MS, 3ª Turma, Min. Nancy Andrighi, j. 01/09/2020, DJe 09/09/2020 – Informativo 679

Importante!

O fato de os genitores possuírem domicílio em cidades distintas não representa óbice à fixação da guarda
compartilhada.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.878.041/SP, rel. min. Nancy Andrighi, j. 25/05/2021, DJe 31/05/2021 – Informativo 698

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde que
seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições necessárias para
que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade permaneça com
o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº 12.594/12 - SINASE).

STJ, 5ª Turma, HC 543.279/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10/03/2020 – Informativo 668

Na multiparentalidade deve ser reconhecida a equivalência de tratamento e de efeitos jurídicos entre as


paternidades biológica e socioafetiva.
47
Página

STJ, 4ª Turma, REsp 1.487.596/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 28/09/2021, DJe 01/10/2021 –
Informativo 712

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

É inviável a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-
se de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva.

STJ, 1ª Seção, HC 666.247/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 10/11/2021, DJe 18/11/2021 – Informativo 719

A despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibida sua veiculação em horários
diversos daquele recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à
programação sadia, previsto no art. 221 da CF/88, sendo possível, ao menos em tese, que uma emissora de
televisão seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de
filme fora do horário recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado que essa conduta
afrontou gravemente os valores e interesses coletivos fundamentais.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.840.463/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 19/11/2019 – Informativo 663/2020

IMPORTANTE SABER: Segundo o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado”
contida no art. 254 do ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente possam ser
exibidos em determinados horários. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A
classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória). (STF, Plenário, ADI 2404/DF, j. 31/08/2019)

O dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas, lacradas e
com advertência de conteúdo (ECA, art. 78), não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a todos
os integrantes da cadeia de consumo, inclusive aos transportadores e distribuidores.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.584.134/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho – Informativo 666

A autorização judicial para participação de adolescente em espetáculo público em diversas comarcas deve ser
concentrada na competência do juízo do seu domicílio, que solicitará providências e informações aos demais
juízos, onde ocorra apresentação, quanto ao cumprimento das diretrizes previamente fixadas.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.947.740/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 – Informativo 714

A multa instituída pelo art. 249 do ECA não possui caráter meramente preventivo, mas também punitivo e
pedagógico, de modo que não pode ser afastada sob fundamentação exclusiva do advento da maioridade civil
da vítima dos fatos que determinaram a imposição da penalidade.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.653.405/RJ, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 02/03/2021 – Informativo 687

Comentários:
Dispõe o art. 249 do ECA: “Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar
48

ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
Página

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência”.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Para o STJ, o simples advento da maioridade não pode ser fundamento para o afastamento da multa
imposto pelo referido dispositivo legal, sob pena de esvaziamento do instituto e enfraquecimento da rede
protetora estabelecida pelo diploma legal. Além disso, precedentes do próprio STJ reconhecem não somente
o caráter punitivo da referida multa, mas também os, igualmente importantes, aspectos pedagógicos e
preventivos, a fim de se evitar a perpetração de condutas de tal natureza.

IMPORTANTE SABER: Sobre a referida multa do art. 249 do ECA, o STJ também já decidiu que “A
hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade familiar não é suficiente para afastar a multa pecuniária
prevista no art. 249 do ECA” (Informativo 636/STJ).

Importante!

A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da CF/88, na alteração que lhe deu a Emenda Constitucional n. 20/98, tem
plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”.

STF, Plenário, ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 09/10/2020 – Informativo 994

Quando o agente adquire ou baixa arquivos de imagens pornográficas (fotos e vídeos) envolvendo crianças e
adolescentes e os armazena no próprio HD - como no caso dos autos -, é perfeitamente possível o concurso
material das condutas de "possuir" e "armazenar" (art. 241-B do ECA) com as condutas de "publicar" ou
"disponibilizar" e "transmitir" (art. 241-A), o que autoriza a aplicação da regra do art. 69 do Código Penal.

STJ, 5ª Turma, AgRg no AgRg no REsp 1.330.974/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, j. 12/02/2019, DJe 19/02/2019

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico, acessível transnacionalmente, envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio
da rede mundial de computadores (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990).

STF, Plenário, RE 628.624 ED, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 393) –
Informativo 990

É possível que o adolescente infrator inicie o imediato cumprimento da medida socioeducativa de internação
que lhe foi imposta na sentença, mesmo que ele tenha interposto recurso de apelação e esteja aguardando
seu julgamento. Esse imediato cumprimento da medida é cabível ainda que durante todo o processo não
tenha sido imposta internação provisória ao adolescente, ou seja, mesmo que ele tenha permanecido em
liberdade durante a tramitação da ação socioeducativa. Em uma linguagem mais simples, o adolescente
infrator, em regra, não tem direito de aguardar em liberdade o julgamento da apelação interposta contra a
sentença que lhe impôs a medida de internação.

STJ, 3ª Seção, HC 346.380/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, j.
49

13/04/2016 – Informativo 583


Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Para se configurar a “reiteração na prática de atos infracionais graves” (art. 122, II), não se exige a prática de,
no mínimo, três infrações dessa natureza. O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves
para justificar a internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento
de outras infrações graves). Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições
específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação.

A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no
art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes tenha cometido apenas uma outra
infração grave. Está superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo somente seria
permitida com a prática de no mínimo 3 infrações.

STJ, 5ª Turma, HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 24/11/2015; STJ, 5ª Turma, HC
527.658/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 05/03/2020; STJ, 6ª Turma, HC 347.434/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel.
Acd. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. 27/09/2016 – Informativo 591

Muito importante!

Se o representante do Ministério Público ofereceu a adolescente remissão pré-processual (art. 126, caput, do
ECA) cumulada com medida socioeducativa e o juiz discordou dessa cumulação, ele não pode excluir do acordo
a aplicação da medida socioeducativa e homologar apenas a remissão. É prerrogativa do Ministério Público,
como titular da representação por ato infracional, a iniciativa de propor a remissão pré-processual como forma
de exclusão do processo.

O juiz, no ato da homologação, se discordar da remissão concedida pelo Ministério Público, deverá remeter
os autos ao Procurador-Geral de Justiça e este terá três opções: a) oferecerá representação; b) designará outro
Promotor para apresentar a representação; ou c) ratificará o arquivamento ou a remissão, hipótese na qual o
juiz estará obrigado a homologar. Assim, mesmo que o juiz discorde parcialmente da remissão, não pode
modificar os termos da proposta oferecida pelo MP para fins de excluir aquilo que não concordou.

STJ, 6ª Turma, REsp 1.392.888/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti, j. 30/6/2016 – Informativo 587

A conduta de emissora de televisão que exibe quadro que, potencialmente, poderia criar situações
discriminatórias, vexatórias, humilhantes às crianças e aos adolescentes configura lesão ao direito
transindividual da coletividade e dá ensejo à indenização por dano moral coletivo.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.517.973/PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/11/2017 – Informativo 618

A Defensoria Pública pode ter acesso aos autos de procedimento verificatório instaurado para inspeção
judicial e atividade correicional de unidade de execução de medidas socioeducativas.

STJ, 6ª Turma, RMS 52.271/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 19/06/2018 – Informativo 629
50
Página

Segundo o texto expresso do ECA, em todos os recursos, salvo os embargos de declaração, o prazo será
decenal (art. 198, II) e a sua contagem ocorrerá de forma corrida, excluído o dia do começo e incluído o do

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
vencimento, vedado o prazo em dobro para o Ministério Público (art. 152, § 2º). Desse modo, por força do
critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados pelo ECA são contados em dias corridos, não
havendo que se falar em aplicação subsidiária do art. 219 do CPC/2015, que prevê o cálculo em dias úteis.

STJ, 6ª Turma, HC 475.610/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 26/03/2019 – Informativo 647

É possível a adoção de uma criança por casal homoafetivo. É possível também a adoção unilateral do filho
biológico da companheira homoafetiva.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.281.093/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/12/2012

A partir da entrada em vigor da Lei n. 13.431/2017, nas comarcas em que não houver vara especializada em
crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara especializada em violência doméstica julgar as ações
penais que apurem crimes envolvendo violência contra crianças e adolescentes, independentemente de
considerações acerca do sexo da vítima ou da motivação da violência, ressalvada a modulação de efeitos
realizada no julgamento do EAREsp 2.099.535/RJ.

STJ, 6ª Turma, REsp 2.005.974/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 14/02/2023 – Informativo 765

No mesmo sentido: STJ, 6ª Turma, REsp 2.052.222/RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (convocado TJDFT), j.
18/04/2023 – Informativo 773/2023

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado recentemente na prova para Juiz do TJ/MS.

Comentários:
A 3ª Seção do STJ uniformizou a interpretação a ser conferida ao art. 23 da Lei n. 13.431/2017 no
julgamento do EAREsp 2.099.532/RJ, fixando a tese de que, após o advento desta norma, "nas comarcas em
que não houver vara especializada em crimes contra a criança e o adolescente, compete à vara especializada
em violência doméstica, onde houver, processar e julgar os casos envolvendo estupro de vulnerável cometido
pelo pai (bem como pelo padrasto, companheiro, namorado ou similar) contra a filha (ou criança ou
adolescente) no ambiente doméstico ou familiar", ressalvada a modulação de efeitos realizada naquele
julgamento.
O legislador estabeleceu, no caput do artigo supracitado, como possibilidade aos órgãos responsáveis
pela organização judiciária, a criação de varas especializadas em crimes contra a criança e o adolescente.
Enquanto não instituídas as varas especializadas, o parágrafo único do mesmo dispositivo legal determinou
que as causas decorrentes de práticas de violência contra crianças e adolescentes, independentemente de
considerações acerca do sexo da vítima ou da motivação da violência, deveriam tramitar nos juizados ou varas
especializadas em violência doméstica.
Desse modo, as ações penais que apurem crimes envolvendo violência contra crianças e adolescentes
devem tramitar nas varas especializadas previstas no caput do art. 23 do referido diploma legal e, caso elas
51

ainda não tenham sido criadas, nos juizados ou varas especializadas em violência doméstica, conforme
Página

determina o parágrafo único do mesmo artigo. Somente nas comarcas em que não houver varas

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
especializadas em violência contra crianças e adolescentes ou juizados/varas de violência doméstica,
poderá a ação tramitar na vara criminal comum.
Esta interpretação tem como objetivo, em primeiro lugar, evitar que os dispositivos da Lei n.
13.431/2017 se transformem em letra morta, o que frustraria o objetivo legislativo de instituir um regime
judicial protetivo especial para crianças e adolescentes vítimas de violências. De outra parte, também
concretiza os princípios da proteção integral e da absoluta prioridade (art. 227 da Constituição Federal), bem
como o compromisso internacional do Brasil em proteger crianças e adolescentes contra todas as formas de
violência (art. 19 do Decreto n. 99.710/1990), estabelecendo que a submissão destes à competência
especializada decorre de sua vulnerabilidade enquanto pessoa humana em desenvolvimento,
independentemente de considerações quanto ao sexo, motivação do crime, circunstâncias da violência ou
outras questões similares.
Outrossim, a tese de que o alargamento da competência dos juízos especializados em violência
doméstica poderá prejudicar a prestação jurisdicional precípua destes órgãos, qual seja, de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher, não justifica que se desconsidere a disposição expressa da lei.
Em verdade, incumbe aos órgãos responsáveis pela organização judiciária avaliar o impacto do processamento
de tais ações penais sobre os juizados de violência doméstica e, analisando as peculiaridades de cada local,
criar as varas ou juizados especializados, na forma do art. 23 da Lei n. 13.431/17, dando assim cumprimento
à imposição legal de conferir prestação jurisdicional célere e especializada tanto às mulheres quanto às
crianças e adolescentes.

52
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
DIREITO DO CONSUMIDOR

O hospital responde, objetivamente, pelos danos decorrentes da prestação defeituosa dos serviços
relacionados ao exercício da sua própria atividade.

STJ, 4ª Turma, AgInt no AgInt no REsp 1.718.427/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 06/03/2023 –
Informativo 768/2023

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado na prova para Juiz do TJ/ES.

Comentários:
Cinge-se a controvérsia à análise acerca da responsabilidade civil do hospital em decorrência da
alegada falha de serviço hospitalar - no caso, ausência de disponibilização de sala de cirurgia em tempo
adequado -, o que ocasionou o óbito do feto ainda no útero materno.
Sobre o tema, o STJ já decidiu que "(i) as obrigações assumidas diretamente pelo complexo hospitalar
limitam-se ao fornecimento de recursos materiais e humanos auxiliares adequados à prestação dos serviços
médicos e à supervisão do paciente, hipótese em que a responsabilidade objetiva da instituição (por ato
próprio) exsurge somente em decorrência de defeito no serviço prestado (artigo 14, caput, do CDC)"; [...] e
"(iii) quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos profissionais da saúde vinculados de
alguma forma ao hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional responsável,
apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro,
cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de
natureza absoluta (artigos 932 e 933 do Código Civil), sendo cabível ao juiz, demonstrada a hipossuficiência
do paciente, determinar a inversão do ônus da prova (artigo 6º, inciso VIII, do CDC)" (REsp 1.145.728/MG, Rel.
Acd. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, DJe 08/09/2011).
O Tribunal de origem demonstrou tanto o evento danoso, conduta e o nexo de causalidade, além da
indenização ter se dado sob a análise da medida de sua própria culpa, qual seja, a falha na prestação dos
serviços.
Portanto, o estabelecimento hospitalar não foi responsabilizado por ato de terceiro, mas sim por sua
própria culpa, pois configurado o nexo de causalidade entre sua conduta - má prestação de serviço pela
demora para disponibilizar a sala de cirurgia - e o dano causado.

Importante!

A notificação do consumidor acerca da inscrição de seu nome em cadastro restritivo de crédito exige o prévio
envio de correspondência ao seu endereço, sendo vedada a notificação exclusiva por meio de e-mail ou
mensagem de texto de celular (SMS).

STJ, 3ª Turma, REsp 2.056.285/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/04/2023, DJe 27/04/2023 – Informativo
773/2023
53
Página

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado na prova para Juiz do TJ/ES.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
O propósito recursal consiste em dizer se a notificação prévia à inscrição do consumidor em cadastro
de inadimplentes, prevista no § 2º do art. 43 do CDC, pode ser realizada, exclusivamente, por e-mail ou por
mensagem de texto de celular (SMS).
Como é de conhecimento ordinário, a vulnerabilidade do consumidor, presumida pelo CDC, não
decorre apenas de fatores econômicos, desdobrando-se em diversas espécies, a saber: a) vulnerabilidade
informacional; b) vulnerabilidade técnica; c) vulnerabilidade jurídica ou científica; e d) vulnerabilidade fática
ou socioeconômica.
Assim, conforme pontuado pela 3ª Turma do STJ, admitir a notificação, exclusivamente, via e-mail ou
por simples mensagem de texto de celular representaria diminuição da proteção do consumidor - conferida
pela lei e pela jurisprudência -, caminhando em sentido contrário ao escopo da norma, causando lesão ao bem
ou interesse juridicamente protegido.
A regra é que os consumidores possam atuar no mercado de consumo sem mácula alguma em seu
nome; a exceção é a inscrição do nome do consumidor em cadastros de inadimplentes, desde que autorizada
pela lei.
De acordo com a doutrina, "os arquivos de consumo, em todo o mundo, são vistos com desconfiança.
Esse receio não é destituído de fundamento, remontando a quatro traços básicos inerentes a esses organismos
e que se chocam com máximas da vida democrática contemporânea, do Welfare State: a unilateralidade (só
arquivam dados de um dos sujeitos da relação obrigacional), a invasividade (disseminam informações que,
normalmente, integram o repositório da vida privada do cidadão), a parcialidade (enfatizam os aspectos
negativos da vida financeira do consumidor) e o descaso pelo due process (negam ao 'negativado' direitos
fundamentais garantidos pela ordem constitucional). Por isso mesmo, submetem-se eles a rígido controle
legal".
Em outras palavras "apesar de facilitar a circulação de informações aptas a subsidiar a concessão de
crédito, notou-se que a atividade da coleta, do armazenamento e do fornecimento de dados sobre os hábitos
de consumo põe em risco os direitos da personalidade dos consumidores. Há, de fato, manifesta tensão entre
os proveitos econômicos da atividade de coleta de dados e a proteção constitucional aos direitos da
personalidade e à dignidade da pessoa humana, razão pela qual se vislumbrou interesse público em sua
regulação" (REsp 1.630.659/DF, 3ª Turma, j. 11/09/2018, DJe 21/09/2018).
Desse modo, não há como se admitir que a notificação do consumidor seja realizada, tão somente,
por simples e-mail ou mensagem de texto de celular, por se tratar de exegese ampliativa que, na espécie, não
deve ser admitida.
Além disso, do exame dos precedentes que deram origem à Súmula 404 do STJ (“É dispensável o aviso
de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de
dados e cadastros”), constata-se que, muito embora afastem a necessidade do aviso de recebimento (AR), não
deixam de exigir que a notificação do § 2º do art. 43 do CDC seja realizada mediante envio de correspondência
ao endereço do devedor.
Não se pode olvidar que a referida súmula, ao dispensar o aviso de recebimento (AR), já operou
relevante flexibilização nas formalidades da notificação ora examinada, não se revelando razoável nova
flexibilização em prejuízo da parte vulnerável da relação de consumo sem que exista justificativa alguma para
tal medida.
54

Não tem legitimidade ativa para propor ação indenizatória por danos morais a mãe de pessoa impossibilitada
Página

de usar cartão de crédito em viagem internacional.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.967.728/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 – Informativo 730

Importante!

A empresa patrocinadora de evento, que não participou da sua organização, não pode ser enquadrada no
conceito de fornecedor para fins de responsabilização por acidente de consumo ocorrido no local.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.955.083/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo
727/2022

A relação jurídica estabelecida no contrato de corretagem é diversa daquela firmada entre o promitente
comprador e o promitente vendedor do imóvel, de modo que a responsabilidade da corretora está limitada a
eventual falha na prestação do serviço de corretagem.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.811.153/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 15/02/2022 – Informativo 725

Há legitimidade passiva da corretora de imóveis que intermediou o contrato de compra e venda que se
rescinde em razão de mora contratual?
Primeiramente, devemos nos lembrar que o STJ possui entendimento pacífico no sentido de que todos
os fornecedores que compõem a relação jurídica do contrato de promessa de compra e venda de imóvel
possuem legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, incluindo não apenas a construtora, mas,
também, a incorporadora do empreendimento (Tema 939/STJ, REsp 1.551.951, j. 24/08/2016).
Referida tese, contudo, nada diz quanto à legitimidade da corretora de imóveis que realiza a
aproximação entre as partes.
Constata-se que não há legitimidade da corretora para responder pelos encargos indevidamente
transferidos ao consumidor ou para restituir os valores adimplidos em virtude da rescisão contratual, pois se
referem a relações jurídicas diversas.
O art. 722 do CC, ao definir o contrato de corretagem, é bastante esclarecedor ao dispor que "uma
pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de
dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas". Além
disso, de acordo com o art. 725 do CC, a remuneração é devida ao corretor, uma vez que tenha conseguido o
resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento
das partes.
Portanto, a obrigação fundamental do comitente é a de pagar a comissão ao corretor assim que
concretizado o resultado a que este se obrigou, qual seja, a aproximação das partes e a conclusão do negócio
de compra e venda, ressalvada a previsão contratual em contrário.
A relação jurídica estabelecida no contrato de corretagem é diversa daquela firmada entre o
promitente comprador e o promitente vendedor do imóvel, de modo que a responsabilidade da corretora
está limitada a eventual falha na prestação do serviço de corretagem.
Desse modo, a responsabilidade da corretora de imóveis está associada ao serviço por ela ofertado,
qual seja, o de aproximar as partes interessadas no contrato de compra e venda, prestando ao cliente as
55

informações necessárias sobre o negócio jurídico a ser celebrado.


Eventual inadimplemento ou falha na prestação do serviço relacionada ao imóvel em si, ao menos em
Página

regra, não lhe pode ser imputada, pois, do contrário, seria responsável pelo cumprimento de todos os negócios

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
por ela intermediados, desvirtuando, portanto, a natureza jurídica do contrato de corretagem e a própria
legislação de regência.
Insta ressalvar, contudo, que a constatação de eventuais distorções na relação jurídica de corretagem,
como o envolvimento da corretora na construção e incorporação do imóvel, pode afastar o entendimento
acima e viabilizar o reconhecimento da sua responsabilidade solidária, desde que demonstrado, no caso
concreto, a sua ocorrência.

Nos contratos firmados na vigência da Lei n. 13.786/2018, é indevida a intervenção judicial para vedar o
abatimento das despesas de corretagem, desde que esteja especificada no contrato, inclusive no quadro-
resumo.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.947.698/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 08/03/2022 – Informativo 730/2022

A inadequada prestação de serviços bancários, caracterizada pela reiterada existência de caixas eletrônicos
inoperantes, sobretudo por falta de numerário, e pelo consequente excesso de espera em filas por tempo
superior ao estabelecido em legislação municipal, é apta a caracterizar danos morais coletivos.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.929.288/TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/02/2022, DJe 24/02/2022 – Informativo 726

O estacionamento de veículo em vaga reservada à pessoa com deficiência não configura dano moral coletivo.

STJ, 2ª Turma, AREsp 1.927.324/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 05/04/2022, DJe 07/04/2022 – Informativo
732

A legitimidade subsidiária da associação e dos demais sujeitos previstos no art. 82 do CDC em cumprimento
de sentença coletiva fica condicionada, passado um ano do trânsito em julgado, a não haver habilitação por
parte dos beneficiários ou haver em número desproporcional ao prejuízo, nos termos do art. 100 do CDC.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.955.899/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/03/2022, DJe 21/03/2022 – Informativo 729

Após o prazo de 30 (trinta) dias do nascimento, o neonato submetido a tratamento terapêutico e não inscrito
no plano de saúde deve ser considerado usuário por equiparação, o que acarreta o recolhimento de quantias
correspondentes a mensalidades de sua categoria.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.953.191/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 23/02/2022 – Informativo 727

É ilegal a cobrança, pelo plano de saúde, de coparticipação em forma de percentual no caso de internação
domiciliar não alusiva a tratamento psiquiátrico.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.947.036/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/02/2022, DJe 24/02/2022 – Informativo 727
56

A operadora de plano de saúde tem o dever de cobrir parto de urgência, por complicações no processo
Página

gestacional, ainda que o plano tenha sido contratado na segmentação hospitalar sem obstetrícia.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 3ª Turma, REsp 1.947.757/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/03/2022, DJe 11/03/2022 – Informativo 728

É devida a limitação do reembolso, pelo preço de tabela, ao usuário que utilizar para o tratamento de terapia
coberta, os profissionais e estabelecimentos não credenciados, esteja eles dentro ou fora da área de
abrangência do município/área geográfica e de estar ou não o paciente em situação de emergência ou
urgência.

STJ, 4ª Turma, AgInt no REsp 1.933.552/ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, j.
15/03/2022 – Informativo 729

Muito importante!

1 – O rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar é, em regra, taxativo;

2 – A operadora de plano ou seguro de saúde não é obrigada a arcar com tratamento não constante do rol da
ANS se existe, para a cura do paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado ao rol;

3 – É possível a contratação de cobertura ampliada ou a negociação de aditivo contratual para a cobertura de


procedimento extra rol;

4 – Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os procedimentos do rol da ANS, pode haver, a título
excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo médico ou odontólogo assistente, desde que (i) não
tenha sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação do procedimento ao rol da Saúde
Suplementar; (ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina baseada em evidências; (iii)
haja recomendações de órgãos técnicos de renome nacionais (como CONITEC e NATJUS) e estrangeiros; e (iv)
seja realizado, quando possível, o diálogo interinstitucional do magistrado com entes ou pessoas com
expertise técnica na área da saúde, incluída a Comissão de Atualização do rol de Procedimentos e Eventos em
Saúde Suplementar, sem deslocamento da competência do julgamento do feito para a Justiça Federal, ante a
ilegitimidade passiva ad causam da ANS.

STJ, 2ª Seção, EREsp 1.886.929/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 08/06/2022 – Informativo 740

A aplicabilidade das teses firmadas no Tema 952/STJ aos planos coletivos, ressalvando-se, quanto às entidades
de autogestão, a inaplicabilidade do CDC.

A melhor interpretação do enunciado normativo do art. 3º, II, da Resolução n. 63/2003, da ANS, é aquela que
observa o sentido matemático da expressão “variação acumulada”, referente ao aumento real de preço
verificado em cada intervalo, devendo-se aplicar, para sua apuração, a respectiva fórmula matemática,
estando incorreta a simples soma aritmética de percentuais de reajuste ou o cálculo de média dos percentuais
aplicados em todas as faixas etárias.
57

STJ, 2ª Seção, REsp 1.716.113/DF (Tema 1016), Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 23/03/2022 –
Página

Informativo 730

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

A operadora, mesmo após o exercício regular do direito à rescisão unilateral de plano coletivo, deverá
assegurar a continuidade dos cuidados assistenciais prescritos a usuário internado ou em pleno tratamento
médico garantidor de sua sobrevivência ou de sua incolumidade física, até a efetiva alta, desde que o titular
arque integralmente com a contraprestação devida.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.845.123/SP (Recursos Repetitivos – Tema 1082), Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
22/06/2022 – Informativo 742

É abusiva a exclusão unilateral do usuário, quando seu direito de manutenção tem amparo contratual,
pactuado/firmado no “Termo de Opção”, e o rompimento unilateral do vínculo somente seria admitido nas
hipóteses previstas na RN ANS N. 195/2008.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.940.391/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/06/2022, DJe 23/06/2022 –
Informativo 742

Importante!

Considera-se fortuito externo a queda de passageiro em via férrea de metrô, por decorrência de mal súbito,
não ensejando o dever de reparação do dano por parte da concessionária de serviço público, mesmo
considerando que não houve adoção, por parte do transportador, de tecnologia moderna para impedir o
trágico evento.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.936.743/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/06/2022 – Informativo 741

A inexistência de responsabilidade solidária por fato do produto entre os fornecedores da cadeia de consumo
impede a extensão do acordo feito por um réu em benefício do outro.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.968.143/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 08/02/2022 – Informativo 724

O acordo firmado por um dos réus, em ação indenizatória ajuizada com base no Código de Defesa do
Consumidor, deve aproveitar aos demais corréus, a teor do que dispõe o § 3º do art. 844 do Código Civil, ao
fundamento de se tratar de responsabilidade solidária?
O caso concreto envolvia a ingestão parcial de produto contaminado, pois a parte havia consumido
parte de um suco que continha, em seu interior, um corpo estranho. De acordo com a jurisprudência do STJ,
a existência de corpo estranho em produtos alimentícios configura hipótese de fato do produto (defeito),
previsto nos arts. 12 e 13 do CDC, não se tratando, portanto, de vício do produto (2ª Seção, REsp 1.899.304/SP,
DJe 04/10/2021). Essa diferenciação é fundamental para analisar a existência ou não de solidariedade entre
58

os réus.
Isso porque, em relação à responsabilidade por vício do produto ou serviço, o art. 18 do CDC não faz
Página

qualquer diferenciação entre os fornecedores, estabelecendo a responsabilidade solidária de todos eles.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Percebe-se que a regra geral acerca da responsabilidade pelo fato do produto é objetiva e solidária
entre o fabricante, o produtor, o construtor e o importador, a teor do art. 12 do CDC. Ou seja, todos os
fornecedores que integram a cadeia de consumo irão responder conjuntamente independentemente de
culpa.
Ocorre que, ao tratar da responsabilidade do comerciante pelo fato do produto, o CDC disciplinou de
forma diversa, estabelecendo a responsabilidade subsidiária, conforme se verifica do disposto no art. 13,
incisos I a III, do CDC.
Isto é, o comerciante somente será responsabilizado pelo fato do produto ou serviço quando o
fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados (incisos I e II) ou quando
não conservar adequadamente os produtos perecíveis (inciso III).
Em conclusão, inexistindo responsabilidade solidária não há que se falar em extensão do acordo feito
por um réu em benefício do outro, tendo em vista a inaplicabilidade da regra do art. 844, § 3º, do Código Civil.

Importante!

A sociedade empresária que comercializa ingressos no sistema on-line responde civilmente pela falha na
prestação do serviço.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.985.198/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/04/2022, DJe 07/04/2022 – Informativo
733

A previsão de solidariedade prevista no art. 25, § 1º, do CDC deve ser interpretada restritivamente.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.647.238/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 17/05/2022 – Informativo 737

Comentários:
Havendo condenação de mais de um réu, e sendo omissa a sentença em relação à parcela de
responsabilidade de cada demandado, a solução para essa omissão, na execução, deve partir da premissa de
que “a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes” (CC/2002, art. 265).
No caso concreto, inexiste qualquer previsão legal e/ou convencional quanto à obrigação solidária
entre os corréus, razão pela qual entendeu a 1ª Turma do STJ ser inaplicável a norma do art. 257 do CC/2002,
segundo a qual “havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se
dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”.
A norma do art. 25, § 1º, do CDC, rege a responsabilidade solidária daqueles que provocam dano ao
consumidor por vício do produto ou do serviço, não sendo esta a hipótese do caso concreto, decorrente de
revisão de contrato de mútuo, de modo que, por se tratar de exceção à regra geral do art. 265 do CC/2002, a
previsão de solidariedade contida no art. 25, § 1º, do CDC, deve ser interpretada restritivamente.

Importante!

A responsabilidade civil decorrente de extravio de mercadoria importada objeto de contrato de transporte


59

celebrado entre a importadora e a companhia aérea se encontra disciplinada pela Convenção de Montreal.
Página

STJ, 2ª Seção, EREsp 1.289.629/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25/05/2022 – Informativo 738

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Por outro lado, as indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo
internacional não estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar,
nesses casos, a efetiva reparação do consumidor preceituada pelo CDC.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.842.066/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 09/06/2020, DJe 15/06/2020 – Informativo 673

Importante saber: O STF, no julgamento da repercussão geral, decidiu que, "nos termos do artigo 178 da
Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm
prevalência sobre o Código de Defesa do Consumidor" (RE 636.331/RJ, Relator Ministro Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 25/05/2017, DJe 13/11/2017).

Os agentes financeiros ("bancos de varejo") que financiam a compra e venda de automóvel não respondem
pelos vícios do produto, subsistindo o contrato de financiamento mesmo após a resolução do contrato de
compra e venda, exceto no caso dos bancos integrantes do grupo econômico da montadora ("bancos da
montadora").

STJ, 3ª Turma, REsp 1.946.388/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 07/12/2021, DJe 17/12/2021 –
Informativo 722

Comentários:
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido da ausência de responsabilidade da instituição financeira
que atua como mero "banco de varejo" por vício do veículo financiado. A exceção a esse entendimento fica
por conta dos bancos integrantes do grupo econômico da própria montadora, hipótese em que a
jurisprudência estende a responsabilidade por vício do produto para o agente financeiro.
Assim, a responsabilidade solidária entre a instituição financeira e a concessionária de automóveis
somente se perfaz quando existe vinculação entre ambas, isto é, a instituição financeira atua como "banco da
montadora", integrando a cadeia de consumo e, portanto, sendo responsável pelo defeito no produto.

Muito importante!

Admite-se a flexibilização da orientação contida na súmula 385/STJ para reconhecer o dano moral decorrente
da inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro restritivo, ainda que não tenha havido o trânsito
em julgado das outras demandas em que se apontava a irregularidade das anotações preexistentes, desde
que haja nos autos elementos aptos a demonstrar a verossimilhança das alegações.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.704.002/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/02/2020 – Informativo 665
60

O requerimento da inclusão do nome da executada em cadastros de inadimplentes (art. 782, § 3º, do


CPC/2015) não pode ser indeferido pelo juiz tão somente sob o fundamento de que as exequentes possuem
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
meios técnicos e a expertise necessária para promover, por si mesmas, a inscrição direta junto aos órgãos de
proteção ao crédito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.887.712/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/10/2020, DJe 12/11/2020 – Informativo 682

Não é abusiva a cláusula do contrato de cartão de crédito que autoriza a operadora/financeira, em caso de
inadimplemento, debitar na conta corrente do titular o pagamento do valor mínimo da fatura, ainda que
contestadas as despesas lançadas.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.626.997/RJ, rel. Min. Marco Buzzi, j. 01/06/2021 – Informativo 699

Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no art. 940 do Código Civil mesmo
sendo uma relação de consumo.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.645.589/MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 04/02/2020 – Informativo 664

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade
anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários.

De acordo com a teoria finalista ou subjetiva, adotada pelo STJ, o conceito de consumidor, para efeito de
incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a condição de destinatário final do produto
ou serviço, nos termos do art. 2º do Código. Assim, o investidor, ao adquirir ações no mercado imobiliário
visando o recebimento de lucros e dividendos, não está abrangido pela proteção do CDC.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.685.098/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.
10/03/2020 – Informativo 671

Muito importante!

Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por analogia, o prazo de prescrição
da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei n. 4.717/65), adotando-se também tal lapso na respectiva
execução, a teoria da Súmula 150 do STF.

STJ, 4ª Turma, AgInt no REsp 1.807.990/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 20/04/2020 – Informativo 671

Comentários:
A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação também integrante
do microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, a afastar os prazos
do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos.
Assim, a despeito da existência de recurso especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a
prescrição trienal para ações de cobrança contra plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as ações
61

ordinárias individuais, de modo que o entendimento referente à aplicação do prazo quinquenal às tutelas
Página

coletivas é específico e, consequentemente, prevalece no caso.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A alienação de terrenos a consumidores de baixa renda em loteamento irregular, tendo sido veiculada
publicidade enganosa sobre a existência de autorização do órgão público e de registro no cartório de imóveis,
configura lesão ao direito da coletividade e dá ensejo à indenização por dano moral coletivo.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.539.056/MG, rel. min. Luis Felipe Salomão, j. 06/04/2021 – Informativo 691

Importante!

É válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto mediante a assinatura a rogo, a qual, por
sua vez, não se confunde, tampouco poderá ser substituída pela mera aposição de digital ao contrato escrito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.868.099/CE, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 15/12/2020, DJe 18/12/2020 –
Informativo 684

Na hipótese em que pactuada a capitalização diária de juros remuneratórios, é dever da instituição financeira
informar ao consumidor acerca da taxa diária aplicada.

STJ, 2ª Seção REsp 1.826.463/SC, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/10/2020, DJe 29/10/2020 –
Informativo 682

É dever das instituições financeiras envolvidas na operação de portabilidade de crédito apurar a regularidade
do consentimento e da transferência da operação, recaindo sobre elas a responsabilidade solidária pelos
danos decorrentes de falha na prestação do serviço.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.771.984/RJ, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 20/10/2020, DJe 29/10/2020 –
Informativo 682

Muito importante!

A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, é regra de instrução
e não regra de julgamento, motivo pelo qual a decisão judicial que a determina deve ocorrer antes da etapa
instrutória ou, quando proferida em momento posterior, há que se garantir à parte a quem foi imposto o ônus
a oportunidade de apresentar suas provas, sob pena de absoluto cerceamento de defesa.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.286.273/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 08/06/2021 – Informativo 701

IMPORTANTE!

Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo. O erro
sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a falha
na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. O Código de Defesa do Consumidor não é
62

somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo, ele é um
Página

instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e consumidores, sempre com base
nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 3ª Turma, REsp 1.794.991/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/05/2020 – Informativo 671

O mero fato de o fornecedor do produto não o possuir em estoque no momento da contratação não é
condição suficiente para eximi-lo do cumprimento forçado da obrigação.

STJ, REsp 1.872.048/RS, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/02/2021 – Informativo 686

Muito importante!

A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital próprio ou
credenciado, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano de
saúde, resultando na sua responsabilização. A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária
por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados.

STJ, 4ª Turma, AgInt no AREsp 1.414.776/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/02/2020 – Informativo 666

É decenal o prazo prescricional aplicável ao exercício da pretensão de reembolso de despesas médico-


hospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas que não
foram adimplidas pela operadora.

STJ, 2ª Seção, REsp 1756283/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/03/2020, DJe 03/06/2020 – Informativo
673

É devida a cobertura, pela operadora de plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos de


paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.815.796/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/05/2020, DJe 09/06/2020 –
Informativo 673

Comentários:
Segundo a jurisprudência do STJ, não caberia a condenação da operadora de plano de saúde a custear
criopreservação como procedimento inserido num contexto de mera reprodução assistida. O caso concreto,
porém, revela a necessidade de atenuação dos efeitos colaterais, previsíveis e evitáveis, da quimioterapia,
dentre os quais a falência ovariana, em atenção ao princípio médico "primum, non nocere" e à norma que
emana do art. 35-F da Lei n. 9.656/1998, segundo a qual a cobertura dos planos de saúde abrange também a
prevenção de doenças, no caso, a infertilidade.
Nessa hipótese, é possível a manutenção da condenação da operadora à cobertura de parte do
procedimento pleiteado, como medida de prevenção para a possível infertilidade da paciente, cabendo à
beneficiária arcar com os eventuais custos do procedimento a partir da alta do tratamento quimioterápico.
63

Ressalte-se a distinção entre o caso dos autos, em que a paciente é fértil e busca a criopreservação como
Página

forma de prevenir a infertilidade, daqueles em que a paciente já é infértil, e pleiteia a criopreservação como
meio para a reprodução assistida, casos para os quais não há obrigatoriedade de cobertura.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro associado ao
tratamento de endometriose profunda.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.859.606/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/10/2020, DJe 15/10/2020 – Informativo
681/2020

Comentários:
Diferente do contexto delineado no REsp 1.815.796/RJ, DJe 09/06/2020, verifica-se que o
procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à parte, no caso concreto, para fins de prevenção da
infertilidade decorrente do tratamento para endometriose, mas, tão somente, como tratamento da
infertilidade em si, coexistente à endometriose, a cuja cobertura não está obrigada a operadora do plano de
saúde.
Em outras palavras, não se evidencia, neste caso concreto, que a infertilidade é efeito colateral,
previsível e evitável do tratamento prescrito para a endometriose, mas sim uma patologia que preexiste a
este, associada à baixa reserva ovariana e à endometriose, cujo tratamento é feito por meio dos
procedimentos de reprodução assistida. Diante disso, a fertilização in vitro não é o único recurso terapêutico
para a patologia, mas uma alternativa à cirurgia que resolve o problema da infertilidade a ela associada.

Salvo disposição contratual expressa, os planos de saúde não são obrigados a custear o tratamento médico de
fertilização in vitro.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.851.062/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 13/10/2021 (Tema 1067)

Os beneficiários de plano de saúde coletivo, após a resilição unilateral do contrato pela operadora, têm direito
à portabilidade de carências ao contratar novo plano, observado o prazo de permanência no anterior, sem o
cumprimento de novos períodos de carência ou de cobertura parcial temporária e sem custo adicional pelo
exercício do direito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.732.511/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04/08/2020, DJe 20/08/2020 – Informativo 677

A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do
falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao período posterior à comunicação
e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo cujo objeto seja o referido contrato.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.879.005/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/08/2020, DJe 26/08/2020 – Informativo
679

As disposições da Lei n. 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem sobre os
contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados anteriormente,
foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários que,
64

exercendo sua autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados.
Página

STF, Plenário, RE 948.634/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/10/2020 – Informativo 995

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Nos contratos de plano de saúde não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente ajustada e
informada ao consumidor, à razão máxima de 50% do valor das despesas, nos casos de internação superior a
30 dias por ano, decorrente de transtornos psiquiátricos, preservada a manutenção do equilíbrio econômico-
financeiro.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.809.486/SP, rel. Min. Marco Buzzi, j. 09/12/2020, DJe 16/12/2020 – Informativo 684

Importante!

O reembolso das despesas médico-hospitalares efetuadas pelo beneficiário com tratamento/atendimento de


saúde fora da rede credenciada pode ser admitido somente em hipóteses excepcionais, tais como a
inexistência ou insuficiência de estabelecimento ou profissional credenciado no local e urgência ou
emergência no procedimento.

STJ, 2ª Seção, EAREsp 1.459.849/ES, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/10/2020, DJe 17/12/2020 –
Informativo 684

Comentários:
O contrato de plano de assistência à saúde, por definição, tem por objeto propiciar, mediante o
pagamento de um preço (consistente em prestações antecipadas e periódicas), a cobertura de custos de
tratamento médico e atendimentos médico, hospitalar e laboratorial perante profissionais, rede de hospitais
e laboratórios próprios ou credenciados.
Dessa forma, a estipulação contratual que vincula a cobertura contratada aos médicos e hospitais de
sua rede ou conveniados é inerente a esta espécie contratual e, como tal, não encerra, em si, nenhuma
abusividade.
Não obstante, excepcionalmente, nos casos de urgência e emergência, em que não se afigurar possível
a utilização dos serviços médicos próprios, credenciados ou conveniados, a empresa de plano de saúde,
mediante reembolso, responsabiliza-se pelas despesas médicas expendidas pelo contratante em tais
condições, limitada, no mínimo, aos preços de serviços médicos e hospitalares praticados pelo respectivo
produto.
Trata-se, pois, de garantia legal mínima conferida ao contratante de plano de assistência à saúde, a
ser observada, inclusive, no denominado plano-referência, de cobertura básica, de modo que não se pode
falar em ofensa ao princípio da proteção da confiança nas relações privadas, já que os beneficiários do plano
estarão sempre amparados, seja pela rede credenciada, seja por outros serviços de saúde quando aquela se
mostrar insuficiente ou se tratar de situação de urgência.

É abusiva cláusula contratual de plano de saúde que impõe à dependente a obrigação de assumir eventual
dívida do falecido titular, sob pena de exclusão do plano.

A conduta de impor à dependente a obrigação de assumir eventual dívida do falecido titular, sob pena de ser
65

excluída do plano de saúde configura, em verdade, exercício abusivo do direito de exigir o respectivo
pagamento, na medida em que, valendo-se da situação de fragilidade da beneficiária e sob a ameaça de
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
causar-lhe um prejuízo, constrange quem não tem o dever de paga-lo a fazê-lo, evitando, com isso, todos os
trâmites de uma futura cobrança ao legítimo responsável (o espólio).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.899.674/SP, rel. min. Nancy Andrighi, j. 16/03/2021 – Informativo 689

No caso de morte do titular, os membros do grupo familiar – dependentes e agregados – podem permanecer
como beneficiários no plano de saúde coletivo, desde que assumam o pagamento integral.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.841.285/DF, rel. min. Nancy Andrighi, j. 23/03/2021 – Informativo 690

É lícita a exclusão, na Saúde Suplementar, do fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar,


salvo os antineoplásicos orais (e correlacionados), a medicação assistida (home care) e os incluídos no rol da
Agência Nacional de Saúde para esse fim.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.692.938/SP, rel. min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/04/2021 – Informativo 694

Não é abusiva a recusa, por operadora ou seguradora de plano de saúde, de custeio de aparelho auditivo de
amplificação sonora individual – AASI cuja cobertura não possui previsão contratual.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.915.528/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 28/09/2021 – Informativo 713

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) deve exigir, na rotulagem dos produtos alimentícios, a
advertência da variação de 20% nos valores nutricionais.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.537.571-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 27/09/2016, DJe 20/08/2020 – Informativo
677

A ausência de informação relativa ao preço, por si só, não caracteriza publicidade enganosa. Para a
caracterização da ilegalidade omissiva, a ocultação deve ser de qualidade essencial do produto, do serviço ou
de suas reais condições de contratação, considerando, na análise do caso concreto, o público alvo do anúncio
publicitário.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.705.278/MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 19/11/2019 – Informativo 663

É possível o redirecionamento da condenação de veicular contrapropaganda imposta a posto de gasolina


matriz à sua filial. Ainda que possuam CNPJ diversos e autonomia administrativa e operacional, as filiais são
um desdobramento da matriz por integrar a pessoa jurídica como um todo. Eventual decisão contrária à matriz
por atos prejudiciais a consumidores é extensível às filiais.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.655.796/MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 11/02/2020 – Informativo 665
66

É abusiva a publicidade de alimentos direcionada, de forma explícita ou implícita, a crianças.


Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 2ª Turma, REsp 1.613.561/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/04/2017, DJe 01/09/2020 – Informativo
679

Esclarecimentos posteriores ou complementares desconectados do conteúdo principal da oferta (informação


disjuntiva, material ou temporalmente) não servem para exonerar ou mitigar a enganosidade ou abusividade.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.802.787/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 08/10/2019, DJe 11/09/2020 – Informativo
679

O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura
defeito do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes,
de modo a poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além
de ter a possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.774.372/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/05/2020 – Informativo 671

A exploração de jogo de azar ilegal configura, em si mesma, dano moral coletivo.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.567.123-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 14/06/2016, DJe 28/08/2020 – Informativo
678

O comerciante tem a obrigação de intermediar a reparação ou a substituição de produtos nele adquiridos e


que apresentem defeitos de fabricação (vício oculto de inadequação), com a coleta em suas lojas e remessa
ao fabricante e posterior devolução.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.568.938-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 25/08/2020, DJe 03/09/2020 – Informativo 678

É obrigatória a devolução de veículo considerado inadequado ao uso após a restituição do preço pelo
fornecedor no cumprimento de sentença prolatada em ação redibitória.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.823.284/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/10/2020, DJe 15/10/2020 –
Informativo 681

A entidade esportiva mandante do jogo responde pelos danos sofridos por torcedores em decorrência de atos
violentos perpetrados por membros de torcida rival.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.924.527/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/06/2021, DJe 17/06/2021 – Informativo 701

Muito importante!
67

É irrelevante a efetiva ingestão do alimento contaminado por corpo estranho – ou do próprio corpo estranho
– para a caracterização do dano moral, pois a compra do produto insalubre é potencialmente lesiva à saúde
Página

do consumidor.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 2ª Seção, REsp 1.899.304/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/08/2021

Comentários:
O Código de Defesa do Consumidor protege o indivíduo contra produtos que coloquem em risco a sua
segurança (CDC, art. 8º), havendo responsabilidade objetiva do fornecedor de reparar o dano causado pelo
produto defeituoso, assim conceituado como aquele que não oferece a segurança esperada (CDC, art. 12,
caput e § 1º, II).
Com efeito, o dano moral, no caso de alimento contaminado, decorre da exposição do consumidor ao
risco concreto de lesão à sua saúde e integridade física ou psíquica, de modo que, mesmo que não haja a
ingestão do alimento, a situação de insalubridade estará presente, variando apenas o grau do risco a que o
indivíduo foi submetido - que deve refletir na definição do quantum indenizatório.
Assim, concluiu a 2ª Seção do STJ que é irrelevante a efetiva ingestão do alimento contaminado por
corpo estranho – ou do próprio corpo estranho – para a caracterização do dano moral, pois a compra do
produto insalubre é potencialmente lesiva à saúde do consumidor.

É cabível dano moral pelo defeito na prestação de serviço de transporte aéreo com a entrega de passageiro
menor desacompanhado, após horas de atraso, em cidade diversa da previamente contratada.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.733.136/RO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 21/09/2021, DJe 24/09/2021 –
Informativo 711

Demonstrado, pelo consumidor, a relação de causa e efeito entre o produto e o dano, incumbe ao fornecedor
o ônus de comprovar a inexistência de defeito do produto ou a configuração de outra excludente de
responsabilidade consagrada no § 3º do art. 12 CDC.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.955.890/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 – Informativo 714

O provedor de aplicações que oferece serviços de e-mail não pode ser responsabilizado pelos danos materiais
decorrentes da transferência de bitcoins realizada por hacker.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.885.201/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/11/2021, DJe 25/11/2021 – Informativo 719

A cláusula contratual que circunscreve e particulariza a cobertura securitária não encerra, por si, abusividade
nem indevida condição potestativa por parte da seguradora.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.358.159/SP, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 08/06/2021 – Informativo 701

Nos contratos de seguro de vida em grupo, a obrigação de prestar informações aos segurados recai sobre o
estipulante.
68

STJ, 4ª Turma, REsp 1.850.961/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 15/06/2021 – Informativo 702
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Não é ilegal ou abusiva a cláusula que prevê a cobertura adicional de invalidez funcional permanente total por
doença (IFPD) em contrato de seguro de vida em grupo, condicionando o pagamento da indenização
securitária à perda da existência independente do segurado, comprovada por declaração médica.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.867.199/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/10/2021, DJe 18/10/2021 (Tema
1068) – Informativo 714

Importante!

É válida a intermediação, pela internet, da venda de ingressos para eventos culturas e de entretenimento
mediante cobrança de “taxa de conveniência”, desde que o consumidor seja previamente informado do preço
total da aquisição do ingresso, com destaque do valor da referida taxa.

STJ, 3ª Turma, EDcl no REsp 1.737.428, rel. Acd. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 06/10/2020, DJe
19/11/2020 – Informativo 683

Importante!

Na hipótese em que as dimensões de imóvel adquirido não correspondem às noticiadas pelo vendedor, cujo
preço da venda foi estipulado por medida de extensão (venda ad mensuram) aplica-se o prazo decadencial de
1 (um) ano, previsto no art. 501 do CC/2002, para exigir o complemento da área, reclamar a resolução do
contrato ou o abatimento proporcional do preço.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.890.327/SP, rel. min. Nancy Andrighi, j. 20/04/2021 – Informativo 693

É decenal o prazo prescricional aplicável ao exercício da pretensão de reembolso de despesas


médicohospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas que
não foram adimplidas pela operadora.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.756.283/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/03/2020 – Informativo 673

A operadora do plano de saúde tem o dever de custear as despesas de acompanhante do paciente idoso no
caso de internação hospitalar.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.793.840/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/11/2019 – Informativo 660

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo médico sob o
pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.721.705/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/08/2018 – Informativo 632
69
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A inobservância do dever de informar e de obter o consentimento informado do paciente viola o direito à
autodeterminação e caracteriza responsabilidade extracontratual O médico deverá ser condenado a pagar
indenização por danos morais ao paciente que teve sequelas em virtude de complicações ocorridas durante a
cirurgia caso ele não tenha explicado ao paciente os riscos do procedimento.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.540.580/DF, Rel. Min. Lázaro Guimarães (convocado TRF-5), Rel. Acd. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 02/08/2018 – Informativo 632

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída
ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é
possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao
consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias
anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento
do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da
dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.

STJ, 1ª Seção, REsp 1.412.433/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/04/2018 (recurso repetitivo) – Informativo
634

A lanchonete responde pela reparação de danos sofridos pelo consumidor que foi vítima de crime ocorrido
no drive-thru do estabelecimento comercial. A lanchonete, ao disponibilizar o serviço de drive-thru em troca
dos benefícios financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, assumiu o
dever implícito de lealdade e segurança. A empresa, ao oferecer essa modalidade de compra, aumentou os
seus ganhos, mas, por outro lado, chamou para si o ônus de fornecer a segurança legitimamente esperada em
razão dessa nova atividade.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.450.434/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/09/2018 – Informativo 637

Não há abusividade na cláusula contratual que estabeleça o repasse dos custos administrativos da instituição
financeira com as ligações telefônicas dirigidas ao consumidor inadimplente.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.361.699/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/2017 – Informativo 611

A responsabilidade dos hospitais, no que tange à atuação dos médicos contratados que neles laboram, é
subjetiva, dependendo da demonstração de culpa do profissional, não se podendo, portanto, excluir a culpa
do médico e responsabilizar objetivamente o hospital.

Assim, a responsabilidade do hospital somente se configura quando comprovada a culpa do médico integrante
de seu corpo plantonista, conforme a teoria de responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais abrigada
pelo CDC. Vale ressaltar que, comprovada a culpa do médico, restará caracterizada a responsabilidade objetiva
do hospital.
70
Página

STJ. 3ª Turma. REsp 1579954/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2018

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A seguradora não pode recusar a contratação de seguro a quem se disponha a pronto pagamento se a
justificativa se basear unicamente na restrição financeira do consumidor junto a órgãos de proteção ao
crédito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.594.024/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/11/2018 – Informativo 640

Não há relação de consumo no seguro DPVAT, regido por lei própria (Lei n. 6.194/74), afastando, por
conseguinte, a legitimidade de associações de proteção ao consumidor.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.091.756/MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/12/2017

71
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
PROCESSO CIVIL

Importante!

Para fins de aplicação da Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica, o § 5º do art. 28 do CDC
não dá margem para admitir a responsabilização pessoal de quem não integra o quadro societário da empresa
(administrador não sócio).

STJ, 4ª Turma, REsp 1.860.333/DF, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 11/10/2022 – Informativo 754

#FGVAMA
Esse julgado acabou de ser cobrado na prova para Juiz do TJ/ES.

Comentários:
Cinge-se a controvérsia à possibilidade ou não de, a partir da teoria menor da desconsideração da
personalidade jurídica, adotado no artigo art. 28, § 5º, do Código de Defesa do Consumidor, atingir-
se/responsabilizar-se o administrador não sócio.
O instituto da desconsideração da personalidade jurídica é originário da experiência anglo-saxônica,
tradicionalmente denominada de "disregard doctrine", e que tem por escopo superar a autonomia e
separação patrimonial, a fim de responsabilizar sócios e/ou administradores por obrigações inicialmente de
titularidade apenas da pessoa jurídica.
No ordenamento jurídico pátrio, infere-se dois sistemas para a desconsideração: (a) aquele inserto no
Código Civil, em seu art. 50, concebido à luz da denominada teoria maior, e (b) aquele disciplinado pelo Código
de Defesa do Consumidor, em seu art. 28, § 5º, relacionado à intitulada teoria menor.
Efetivamente, à aplicação da teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica (art. 28, §
5º, do CDC), revela-se suficiente que consumidor demonstre o estado de insolvência do fornecedor ou o fato
de a personalidade jurídica representar um obstáculo ao ressarcimento dos prejuízos causados.
A citada teoria encontra como pressuposto o fato de que o risco empresarial, inerente ao exercício da
atividade econômica, deve ser suportado por aqueles que integram os quadros societários, com capacidade
de gestão, e não o consumidor. Assim, "em se tratando de vínculo de índole consumerista, (é possível) a
utilização da chamada Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica, a qual se contenta com o
estado de insolvência do fornecedor, somado à má administração da empresa, ou, ainda, com o fato de a
personalidade jurídica representar um "obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores"
(art. 28 e seu § 5º, do Código de Defesa do Consumidor)." (REsp 1.111.153/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
4ª Turma, j. 06/12/2012, DJe 04/02/2013).
Entretanto, diversamente do que ocorre com a teoria maior, prevista no Código Civil, o § 5º do art. 28
do Código de Defesa do Consumidor não contempla a previsão específica acerca da possibilidade de extensão
da responsabilidade ao administrador não sócio, isto é, àquele que, embora desempenhe as funções
gerenciais, não integra o quadro societário.
Oportuno destacar que, na redação original do diploma consumerista, havia alusão/menção expressa
sobre o atingimento do patrimônio do administrador, ainda que não-sócio, especificamente no § 1º do art.
72

28. Todavia, o artigo em comento foi vetado, não havendo, portanto, no diploma em questão, previsão para
desconsideração em relação àquele que não integre o quadro societário.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Ainda que o caput do artigo 28 pudesse ser conjugado com a norma prevista no artigo 50 do Código
Civil - pois ambos versam acerca da teoria maior -, a fim de reconhecer a possibilidade de desconsideração
para estender a responsabilidade obrigacional aos administradores não integrantes do quadro societário,
infere-se a inviabilidade de o fazer em relação ao disposto no parágrafo 5º do artigo 28 do Código de Defesa
do Consumidor, lastreado na teoria menor.
Isso porque, o dispositivo em comento, autônomo em relação ao caput, afigura-se mais gravoso, pois
tem incidência em hipóteses mais flexíveis, exigindo menos requisitos, isto é, sem a necessidade de
demonstração do abuso da personalidade jurídica, prática de ato ilícito ou de infração. Aplica-se, por
conseguinte, a casos de mero inadimplemento, em que se observe, por exemplo, a ausência de bens de
titularidade da pessoa jurídica, hábeis a saldar o débito.
Nesse contexto, dada especificidade do parágrafo em questão, e as consequências decorrentes de sua
aplicação - extensão da responsabilidade obrigacional -, afigura-se inviável a adoção de uma interpretação
extensiva, com a atribuição de abrangência apenas prevista no art. 50 do CC/2002, particularmente no que
concerne ao atingimento do patrimônio de administrador não sócio.

O Ministério Público não possui legitimidade para promover a execução coletiva do art. 98 do Código de
Defesa do Consumidor por ausência de interesse público ou social a justificar sua atuação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.801.518/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/12/2021, DJe 16/12/2021 –
Informativo 722

Não se aplica às ações civis públicas propostas por associações e fundações privadas o princípio da simetria
na condenação do réu nas custas e nos honorários advocatícios.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.974.436/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 – Informativo
730/2022

Resumindo:
- O princípio da simetria na condenação do réu nas custas e nos honorários advocatícios se aplica de o autor
da ACP for pessoa jurídica de direito público ou o MP;
- O princípio da simetria na condenação do réu nas custas e nos honorários advocatícios não se aplica às ações
civis públicas propostas por associações e fundações privadas.

A legitimidade ativa na ação civil pública das pessoas jurídicas da administração pública indireta depende da
pertinência temática entre as suas finalidades institucionais e o interesse tutelado.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.978.138/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 22/03/2022 – Informativo 731/2022

Muito importante – novo entendimento!

A liquidação da sentença coletiva, promovida pelo Ministério Público, não tem o condão de interromper o
73

prazo prescricional para o exercício da pretensão individual de liquidação e execução pelas vítimas e seus
sucessores.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, Corte Especial, REsp 1.758.708/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/04/2022 – Informativo 734

Comentários:
O objeto da liquidação de sentença coletiva, exarada em ação civil pública que versa sobre direitos
individuais homogêneos, é mais amplo, porque nela se inclui a pretensão do requerente de obter o
reconhecimento de sua condição de vítima/sucessor e da existência do dano individual alegado, além da
pretensão de apurar o quanto lhe é devido (quantum debeatur).
Ressalvada a hipótese da reparação fluida do art. 100 do CDC, o Ministério Público não tem
legitimidade para promover a liquidação correspondente aos danos individualmente sofridos pelas vítimas ou
sucessores, tampouco para promover a execução coletiva da sentença, sem a prévia liquidação individual,
incumbindo a estes - vítimas e/ou sucessores - exercer a respectiva pretensão, a contar da sentença coletiva
condenatória.
Nesse contexto, a ilegitimidade do Ministério Público se revela porque: (i) a liquidação da sentença
coletiva visa a transformar a condenação pelos prejuízos globalmente causados em indenizações pelos danos
particularmente sofridos, tendo, pois, por objeto os direitos individuais disponíveis dos eventuais
beneficiados; (ii) a legitimidade das vítimas e seus sucessores prefere à dos elencados no rol do art. 82 do CDC,
conforme prevê o art. 99 do CDC; (iii) a legitimação para promover a liquidação coletiva é subsidiária, na forma
do art. 100 do CDC, e os valores correspondentes reverterão em favor do Fundo Federal de Direitos Difusos,
ou de seus equivalentes em nível estadual e/ou municipal.
Ainda que se admita a possibilidade de o Ministério Público promover a execução coletiva, esta
execução coletiva a que se refere o art. 98 diz respeito aos danos individuais já liquidados.
Assim, uma vez concluída a fase de conhecimento, o interesse coletivo, que autoriza o Ministério
Público a propor a ação civil pública na defesa de direitos individuais homogêneos, enquanto legitimado
extraordinário, cede lugar, num primeiro momento, ao interesse estritamente individual e disponível, cuja
liquidação não pode ser perseguida pela instituição, senão pelos próprios titulares. Num segundo momento,
depois de passado um ano sem a habilitação dos interessados em número compatível com a gravidade do
dano, a legislação autoriza a liquidação coletiva - e, em consequência, a respectiva execução - pelo Parquet,
voltada à quantificação da reparação fluida, porque desse cenário exsurge, novamente, o interesse público na
perseguição do efetivo ressarcimento dos prejuízos globalmente causados pelo réu, a fim de evitar o
enriquecimento sem causa do fornecedor que atentou contra as normas jurídicas de caráter público, lesando
os consumidores.
Consequência direta da conclusão de que não cabe ao Ministério Público promover a liquidação da
sentença coletiva para satisfazer, um a um, os interesses individuais disponíveis das vítimas ou seus
sucessores, por se tratar de pretensão não amparada no CDC e que foge às atribuições institucionais do
Parquet, é reconhecer que esse requerimento - acaso seja feito - não é apto a interromper a prescrição para
o exercício da respectiva pretensão pelos verdadeiros titulares do direito tutelado.
Em homenagem à segurança jurídica e ao interesse social que envolve a questão, e diante da
existência de julgados anteriores do STJ, nos quais se reconheceu a interrupção da prescrição em hipóteses
análogas, gerando nos jurisdicionados uma expectativa legítima nesse sentido, a Corte Especial decidiu pela
modulação dos efeitos desta decisão, com base no § 3º do art. 927 do CPC/15, para decretar a eficácia
prospectiva do novo entendimento, atingindo apenas as situações futuras, ou seja, as ações civil públicas cuja
sentença seja posterior à publicação deste acórdão.
74

Portanto, a liquidação das futuras sentenças coletivas, exaradas nas ações civis públicas propostas
Página

pelo Ministério Público e relativas a direitos individuais homogêneos, deverão ser promovidas pelas

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
respectivas vítimas e seus sucessores, independentemente da eventual atuação do Parquet, sob pena de se
sujeitarem os beneficiados à decretação da prescrição.

A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para propor ação civil pública com vista a impor ao Estado o
cumprimento de obrigações legais na tutela de pequenos agricultores familiares, sendo prescindível a
comprovação prévia e concreta da carência dos assistidos.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.847.991/RS, Rel. Min. Og Fernandes, j. 16/08/2022 – Informativo 748

Em ação civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho em face de empresa estatal, com o
propósito de invalidar a contratação irregular de pessoal, não é cabível o ingresso, no polo passivo da causa,
de todos os empregados atingidos, mas é indispensável sua representação pelo sindicato da categoria.

STF, Plenário, RE 629.647/RR (Tema 1004 RG), Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. Acd. Min. Alexandre de Moraes,
j. 28/10/2022 – Informativo 1074

Em ação coletiva proposta por associação, é imprescindível a autorização expressa dos associados e a juntada
da lista de representados à inicial, mostrando-se razoável permitir que a parte autora regularize sua
representação processual no caso de ajuizamento de ação coletiva em momento anterior ao julgamento do
RE 573.232/SC, em 14/05/2014.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.977.830/MT, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 22/03/2022, DJe 25/03/2022 – Informativo 730

O início da execução de sentença proferida em ação coletiva referente à obrigação de fazer, em regra, não
influi no prazo prescricional da execução da obrigação de pagar, salvo se reconhecida a dependência na
decisão transitada em julgado ou no juízo da execução.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.687.306/PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, j. 08/03/2022,
DJe 07/04/2022 – Informativo 736

Na hipótese de composse, a decisão judicial de reintegração de posse deverá atingir de modo uniforme todas
as partes ocupantes do imóvel, configurando-se caso de litisconsórcio passivo necessário.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.811.718/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 02/08/2022, DJe 05/08/2022 –
Informativo 743

Comentários:
A citação é, em regra, pessoal, não podendo ser realizada em nome de terceira pessoa, salvo hipóteses
legalmente previstas, como a de tentativa de ocultação (citação por hora certa), ou, ainda, por meio de edital,
quando desconhecido ou incerto o citando.
75

Na hipótese de composse, a decisão judicial de reintegração de posse deverá atingir de modo


Página

uniforme todas as partes ocupantes do imóvel, configurando-se caso de litisconsórcio passivo necessário.
A ausência da citação de litisconsorte passivo necessário enseja a nulidade da sentença.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Na linha da jurisprudência do STJ, o vício na citação caracteriza-se como vício transrescisório, que pode
ser suscitado a qualquer tempo, inclusive após escoado o prazo para o ajuizamento da ação rescisória,
mediante simples petição, por meio de ação declaratória de nulidade (querela nullitatis) ou impugnação ao
cumprimento de sentença.

A escolha entre a ação de nulidade e a impugnação ao cumprimento de sentença em nada interfere na


cristalização ou não da decadência, de modo que, escoado o prazo de 90 dias para o ajuizamento da ação de
nulidade, não poderá a parte suscitar as hipóteses de nulidade previstas no art. 32 da Lei de Arbitragem pela
via da impugnação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.928.951/TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo 727

Não é possível considerar válida a citação de pessoa jurídica em seu antigo endereço, cuja mudança fora
comunicada à Junta Comercial, mas sem alteração no sítio eletrônico da empresa.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.976.741/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/04/2022 – Informativo 734

Importante!

Nos casos em que já executado o título formado na primeira coisa julgada, ou se iniciada sua execução, deve
prevalecer a primeira coisa julgada em detrimento daquela formada em momento posterior.

STJ, 2ª Turma, AgInt nos EDcl no REsp 1.930.955/ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 08/03/2022 –
Informativo 728/2022

IMPORTANTE SABER:
A Corte Especial do STJ, ao julgar o EAREsp 600.811/SP, firmou o entendimento de que havendo
conflito entre coisas julgadas deve prevalecer a última que se formou, desde que não desconstituída por ação
rescisória.
Contudo, a referida regra deve ser afastada nos casos em que já executado o título formado na
primeira coisa julgada, ou se iniciada sua execução, hipótese em que deve prevalecer a primeira coisa julgada
em detrimento daquela formada em momento posterior.
Assim, no presente caso concreto, houve a execução do título formado na ação coletiva, primeiro a
transitar em julgado. Logo, incide a exceção prevista no EAREsp 600.811/SP, devendo prevalecer a primeira
coisa julgada formada, razão pela qual se mostra indevida a execução do título formado em momento
posterior, ainda que se trate de período diverso, sobre o qual foi reconhecida a prescrição na primeira
execução.

Existindo interesse jurídico da União no feito, na condição de assistente simples, a competência afigura-se da
Justiça Federal, conforme prevê o art. 109, I, da Constituição da República, motivo pelo qual compete ao
Tribunal Regional Federal o julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pela
76

Justiça Estadual.
Página

STJ, Corte Especial, EREsp 1.265.625/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 30/03/2022 – Informativo 731

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Em demandas relativas a direito de saúde, é incabível ao juiz estadual determinar a inclusão da União no polo
passivo da demanda se a parte requerente optar pela não inclusão, ante a solidariedade dos entes federados.

Não optando a parte requerente pela inclusão da União na lide, não cabe ao juiz estadual determinar que se
proceda à emenda da inicial para requerer a citação da União para figurar no polo passivo, uma vez que, não
se tratando de litisconsórcio passivo necessário, incumbe à parte autora escolher contra qual(is) ente(s)
federativo(s) pretende litigar.

STJ, 1ª Seção, AgInt no CC 182.080/SC, Rel. Min. Manoel Erhardt (convocado TRF-3), j. 22/06/2022 –
Informativo 742

Não é cabível extinção da execução pela ausência de juntada das avenças anteriores e subjacentes ao contrato
de confissão de dívida.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.805.898/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 26/04/2022, DJe 04/05/2022 –
Informativo 735

Comentários:
O instrumento de confissão de dívida constitui título executivo extrajudicial, sendo que a
possibilidade de discussão dos contratos que lhe antecedem não retira a sua força executiva. Nesse sentido,
confira o entendimento sumulado do STJ:

STJ, Súmula 286. A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não


impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos
anteriores.

STJ, Súmula 300. O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de


contrato de abertura de crédito, constitui título executivo extrajudicial.

No caso concreto, o Tribunal de origem extinguiu uma execução de longa data (aproximadamente 24
anos), com base na ausência de apresentação do das avenças anteriores ao instrumento de confissão de
dívida. Ocorre que o contrato de confissão de dívida apresentado pela exequente já havia sido reconhecido
como título executivo válido por meio de decisão com trânsito em julgado.
Nesse contexto, entendeu a 3ª Turma do STJ que se equivocou o Tribunal de origem, pois a discussão
acerca da necessidade de apresentação dos contratos subjacentes ao contrato de confissão de dívida está
albergada pela preclusão consumativa, vez que houve anterior debate sobre a controvérsia pelas partes, já
solucionado por decisão judicial imutável. Frisou-se, ainda, que eventuais equívocos nos cálculos realizados
pelo perito também não seriam mais passíveis de discussão, pois os executados expressamente com eles
anuíram, bem como requereram sua homologação, acarretando, assim, as preclusões lógica e consumativa.
77
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Apenas a prescrição superveniente à formação do título pode ser alegada em cumprimento de sentença.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.931.969/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 08/02/2022, DJe 11/02/2022 –
Informativo 726

O Defensor Público, atuando em nome da Defensoria Pública, possui legitimidade para impetrar mandado de
segurança em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus órgãos de execução, atribuição não
conferida exclusivamente ao Defensor Público-Geral.

STJ, 4ª Turma, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 07/06/2022, DJe 10/06/2022 –
Informativo 742

Fundo de investimento pode sofrer os efeitos da aplicação do instituto da desconsideração da personalidade


jurídica.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.965.982/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/04/2022, DJe 08/04/2022 –
Informativo 733

Comentários:
Embora destituídos de personalidade jurídica, aos fundos de investimento são imputados direitos e
deveres, tanto em suas relações internas quanto externas, e, não obstante exercerem suas atividades por
intermédio de seu administrador/gestor, os fundos de investimento podem ser titulares, em nome próprio,
de direitos e obrigações.
A impossibilidade de responsabilização do fundo por dívidas de um único cotista, de obrigatória
observância em circunstâncias normais, deve ceder diante da comprovação inequívoca de que a própria
constituição do fundo de investimento se deu de forma fraudulenta, como forma de encobrir ilegalidades e
ocultar o patrimônio de empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico.
Assim, comprovado o abuso de direito, caracterizado pelo desvio de finalidade (ato intencional dos
sócios com intuito de fraudar terceiros), e/ou confusão patrimonial, é possível desconsiderar a personalidade
jurídica de uma empresa para atingir o patrimônio de outras pertencentes ao mesmo grupo econômico.

As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares
inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade
econômica.

A aferição da capacidade econômica, para este fim, deve refletir não somente a receita, mas igualmente os
graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado.

A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do teto das requisições de pequeno


valor impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela legislação local.
78

STF, Plenário, RE 1.359.139/CE (Tema 1231 RG), Rel. Min. Luiz Fux, j. 01/09/2022 – Informativo 1066
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
É inconstitucional, por violar competência legislativa privativa da União, lei estadual que obriga a Fazenda
Pública a antecipar o pagamento das despesas com diligências dos oficiais de justiça.

STF, Plenário, ADI 5969/PA, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/09/2022 – Informativo 1070

Comentários:
A lei estadual impugnada dispôs sobre dever do sujeito processual (na hipótese, a Fazenda Pública em
execução fiscal), motivo pelo qual se pode afirmar que versou sobre norma de processo civil, incidindo,
portanto, em inconstitucionalidade formal (CF/88, art. 22, I).
Por outro lado, ressaltou-se que a declaração de inconstitucionalidade não importa, por si só, na
dispensa da referida antecipação. Isso porque subsiste a orientação do STJ acerca da interpretação do art. 39
da Lei n. 6.830/1980 – cuja uniformização da jurisprudência culminou na edição da Súmula 190/STJ –, sendo
certo que este entendimento encontra amparo em diversos julgados do STF.

Os honorários advocatícios de sucumbência, quando vencedora a Fazenda Pública, integram o patrimônio da


entidade estatal, não constituindo direito autônomo do procurador judicial.

STJ, 2ª Turma, AgInt no AREsp 1.834.717/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/05/2022, DJe
19/05/2022 – Informativo 743

A concessão da gratuidade de justiça ao microempreendedor individual – MEI e ao empresário individual


prescinde de comprovação da hipossuficiência financeira.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.899.342/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 26/04/2022, DJe 29/04/2022 – Informativo 734

A mera pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira, mas a
existência de decisão judicial proferida no Brasil contrária ao conteúdo da sentença estrangeira impede a sua
homologação.

STJ, Corte Especial, S/N (segredo judicial), Rel. Min. Jorge Mussi, j. 01/06/2022 – Informativo 739

A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é permitida quando os valores da condenação, da
causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados. É obrigatória nesses casos a observância dos
percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do art. 85 do CPC – a depender da presença da Fazenda Pública na lide
–, os quais serão subsequentemente calculados sobre o valor: (a) da condenação; ou (b) do proveito
econômico obtido; ou (c) do valor atualizado da causa.

Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não condenação: (a) o
proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou (b) o valor da causa for muito baixo.

STJ, Corte Especial, REsp 1.850.512/SP (Tema 1076), Rel. Min. Og Fernandes, j. 16/03/2022 – Informativo 730
79
Página

O termo inicial dos juros de mora incidentes sobre os honorários sucumbenciais dá-se no dia seguinte ao
transcurso do prazo recursal, ainda que interposto recurso manifestamente intempestivo.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 3ª Turma, REsp 1.984.292/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 29/03/2022, DJe 01/04/2022 – Informativo 731

Na hipótese de desistência da ação de desapropriação por utilidade pública, face a inexistência de condenação
e de proveito econômico, os honorários advocatícios sucumbenciais observam o valor atualizado da causa,
assim como os limites da Lei das Desapropriações.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.834.024/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/05/2022 – Informativo 736

Nas sentenças que reconheçam o direito à cobertura de tratamento médico e ao recebimento de indenização
por danos morais, os honorários advocatícios sucumbenciais incidem sobre as condenações ao pagamento de
quantia certa e à obrigação de fazer.

STJ, 2ª Seção, EAREsp 198.124/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/04/2022, DJe 11/05/2022 –
Informativo 739

Verificada a existência de sucumbência recíproca, os honorários e ônus decorrentes devem ser distribuídos
adequada e proporcionalmente, levando-se em consideração o grau de êxito de cada um dos envolvidos, bem
como os parâmetros dispostos no art. 85, § 2º, do CPC/2015.

STJ, 4ª Turma, EDcl no AgInt nos EDcl no AREsp 1.553.027/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 03/05/2022, DJe
06/05/2022 – Informativo 739

Importante!

É possível ao devedor poupar valores sob a regra da impenhorabilidade no patamar de até quarenta salários
mínimos, não apenas aqueles depositados em cadernetas de poupança, mas também em conta corrente ou
em fundos de investimento, ou guardados em papel-moeda.

STJ, 4ª Turma, AgInt no REsp 1.958.516/SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 14/06/2022 – Informativo 742

Comentários:
A 2ª Seção do STJ pacificou o entendimento de que "é possível ao devedor poupar valores sob a regra
da impenhorabilidade no patamar de até quarenta salários mínimos, não apenas aqueles depositados em
cadernetas de poupança, mas também em conta corrente ou em fundos de investimento, ou guardados em
papel-moeda" (EREsp 1.330.567/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, DJe de 19/12/2014).
"Nos termos do entendimento jurisprudencial firmado por esta Corte, a abrangência da regra do art.
833, X, do CPC/2015 se estende a todos os numerários poupados pela parte executada, até o limite de 40
(quarenta) salários mínimos, não importando se depositados em poupança, conta-corrente, fundos de
investimento ou guardados em papel-moeda, autorizando as instâncias ordinárias, caso identifiquem abuso
do direito, a afastar a garantia da impenhorabilidade" (AgInt nos EDcl no AREsp 1.323.550/RJ, Rel. Ministro
80

Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 27/09/2021, DJe 30/09/2021).


Página

Ademais, no que se refere à possibilidade de mitigação da mencionada regra, o STJ tem entendimento
de que a impenhorabilidade pode ser relativizada quando a hipótese concreta dos autos permitir que se

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
bloqueie parte da verba remuneratória do devedor inadimplente, ocasião em que deve ser preservado
montante suficiente a assegurar a subsistência digna do executado e sua família.

Não cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem que fixa tese jurídica em abstrato
em julgamento do IRDR, por ausência do requisito constitucional de cabimento de “causa decidida”, mas
apenas naquele que aplique a tese fixada, que resolve a lide, desde que observados os demais requisitos
constitucionais do art. 105, III, da Constituição Federal e dos dispositivos do Código de Processo Civil que
regem o tema.

STJ, Corte Especial, REsp 1.798.374/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 18/05/2022 – Informativo 737

Não é possível a Turma Recursal nos Juizados Especiais da Fazenda Pública realizar juízo prévio de
admissibilidade de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (PUIL) a ser julgado pelo STJ.

STJ, 1ª Seção, Rcl 42.409/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/06/2022, DJe 29/06/2022 – Informativo 743

Comentários:
A Lei n. 12.153/2009, que trata dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, disciplina um sistema
próprio de uniformização jurisprudencial, mediante o denominado pedido de uniformização de interpretação
de lei, que poderá ser processado e julgado tanto pelo Poder Judiciário local quanto pelo STJ, a depender da
divergência apontada.
Se instaurada entre acórdãos de Turmas Recursais de um mesmo Estado, o pedido será apreciado pela
reunião dessas Turmas Recursais, sob a presidência de um desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça
(art. 18, § 1º); se instaurada entre acórdãos de Turmas Recursais de diferentes Estados ou quando o acórdão
recorrido estiver em desacordo com súmula do STJ, a este caberá decidir (art. 18, § 3º).
Esta, na hipótese de o STJ decidir a reclamação, não prevê juízo prévio de admissibilidade pela turma
recursal, cabendo-lhe apenas processar o pedido, intimar a parte recorrida para responder ao reclamo e,
depois disso, remeter os autos ao STJ.
No caso, o Incidente de Uniformização de Interpretação de Lei não foi admitido por Turma Recursal
da Fazenda Pública dos Juizados Especiais Estadual sob o fundamento de que a matéria não era reiterada.
Assim, fica evidenciada a usurpação da competência do STJ, ante a imposição de óbice indevido ao trâmite do
Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei.

Nas hipóteses de julgamento parcial, como ocorre na decisão que exclui um dos litisconsortes passivos sem
pôr fim à demanda, os honorários devem observar proporcionalmente a matéria efetivamente apreciada.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.760.538/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 24/05/2022, DJe 26/05/2022 – Informativo 738

A regra do art. 1.005 do CPC/2015 (“O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo
se distintos ou opostos os seus interesses”) não se aplica apenas às hipóteses de litisconsórcio unitário, mas,
81

também, a quaisquer outras hipóteses em que a ausência de tratamento igualitário entre as partes gere uma
situação injustificável, insustentável ou aberrante.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.993.772/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 07/06/2022, DJe 13/06/2022 – Informativo 743

É nulo o processo em que não houve a intimação e a intervenção do Ministério Público em primeiro grau de
jurisdição, apesar da presença de parte com enfermidade psíquica grave e cujos legitimados para propor
eventual ação de interdição possuem conflitos de interesses.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.969.217/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/03/2022, DJe 11/03/2022 – Informativo 729

O Ministério Público possui legitimidade para impetrar Mandado de Segurança a fim de promover a defesa
dos interesses transindividuais e do patrimônio público material ou imaterial.

STJ, 2ª Turma, RMS 67.108/MA, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 05/04/2022 – Informativo 732

O habeas corpus não constitui via própria para impugnar Decreto de governador de Estado sobre adoção de
medidas acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 para que as pessoas
possam circular e permanecer em locais públicos e privados.

STJ, 2ª Turma, RDC no HC 700.487/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 22/02/2022 – Informativo 726

Não cabe Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal – PUIL em questões de direito processual.
Isso porque, de acordo com o disposto no art. 14, § 4º, da Lei n. 10.259/2001, caberá pedido de uniformização
de interpretação de lei federal, dirigido ao STJ, quando a orientação acolhida pela Turma Nacional, em
questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça.

STJ, 1ª Seção, AgInt no PUIL 1.192/DF, Rel. Min. Manoel Erhardt, j. 25/05/2022 – Informativo 738

A interferência do Poder Judiciário em regras de elevada especificidade técnica do setor elétrico por meio de
liminar configura grave lesão à ordem e à economia pública.

STJ, Corte Especial, SLS 2.162/DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 02/05/2022 – Informativo 739

É juridicamente possível o pedido de exclusão do herdeiro em virtude da prática de ato infracional análogo ao
homicídio, doloso e consumado, contra os pais, à luz da regra do art. 1.814, I, do CC/2002.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.938.984/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo 725

Comentários:
O enquadramento da possibilidade jurídica do pedido, na vigência do CPC/1973, na categoria das
condições da ação, sempre foi objeto de severas críticas da doutrina, que reconhecia o fenômeno como uma
questão de mérito, tendo sido esse o entendimento adotado pelo CPC/2015, conforme se depreende de sua
82

exposição de motivos e dos dispositivos legais que atualmente versam sobre os requisitos de admissibilidade
da ação.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
O fato de a possibilidade jurídica do pedido ter sido realocada como questão de mérito, conquanto
provoque reflexos significativos na forma como o processo será resolvido, com mérito e aptidão para formar
coisa julgada material, não acarreta modificação substancial em seu conceito e conteúdo, que continua sendo
a ausência de vedação, pelo ordenamento jurídico, à pretensão deduzida pelo autor, sob pena de, após o
CPC/2015, conduzir à improcedência liminar do pedido.
Para que haja o reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido, há que se ter uma repulsa do
sistema jurídico à pretensão autoral, de tal maneira eloquente e contundente, que seria capaz de resultar, de
imediato e sem grande debate, na improcedência liminar do pedido formulado, ainda que essa situação, em
específico, não tenha sido expressamente contemplada pelo art. 332 do CPC/2015.
Na hipótese, a questão relativa à possibilidade de exclusão do herdeiro que atenta contra a vida dos
pais é objeto de severas controvérsias doutrinárias, seja sob a perspectiva da taxatividade, ou não, do rol do
art. 1.814 do CC/2002, seja sob o enfoque dos métodos admissíveis e apropriados para a interpretação das
hipóteses listadas no rol, razão pela qual as múltiplas possibilidades hermenêuticas do referido dispositivo
induzem à inviabilidade do julgamento de improcedência liminar do pedido.

Independentemente do desfecho da ação anulatória de registro civil, não há que se falar em impossibilidade
jurídica de pedido investigatório de paternidade.

STJ, 3ª Turma, S/N (segredo de justiça), Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 21/06/2022, DJe 23/06/2022 – Informativo
742

Comentários:
O STJ já proclamou que a ação de investigação de paternidade ajuizada pelo pretenso filho contra o
suposto pai é manifestação concreta dos direitos à filiação, à identidade genética e à busca da ancestralidade,
que compõem uma parcela muito significativa dos direitos da personalidade, que, sabidamente, são
inalienáveis, vitalícios, intransmissíveis, extrapatrimoniais, irrenunciáveis, imprescritíveis e oponíveis erga
omnes (REsp 1.893.978/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de 29/11/2021).
É absolutamente lícito a autora perseguir seu indisponível e personalíssimo direito a busca da sua
ancestralidade, consubstanciado no reconhecimento do seu estado de filiação, que pode ser realizado sem
restrições independentemente da pré-existência ou superveniência de eventual vínculo registral, podendo
perfeitamente coexistirem as respectivas demandas, que são plenamente compatíveis.
Essa possibilidade de coexistência de ações relacionadas ao direito pleno de busca do vínculo de
filiação já foi objeto de deliberação pelo STJ, que proclamou que a existência de vínculo com o pai registral
não é obstáculo ao exercício do direito de busca da origem genética, ou seja, de reconhecimento da
paternidade.

O erro do sistema eletrônico do Tribunal de origem na indicação do término do prazo recursal é apto a
configurar justa causa para afastar a intempestividade do recurso.

STJ, Corte Especial, EAREsp 1.759.860/PI, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 16/03/2022, DJe 21/03/2022 – Informativo
730
83

IMPORTANTE SABER: Foi seguindo esse mesmo raciocínio que a Corte Especial do STJ decidiu que: "A
Página

divulgação do andamento processual pelos Tribunais por meio da internet passou a representar a principal

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
fonte de informação dos advogados em relação aos trâmites do feito. A jurisprudência deve acompanhar a
realidade em que se insere, sendo impensável punir a parte que confiou nos dados assim fornecidos pelo
próprio Judiciário" (REsp 1324432/SC, DJe 10/05/2013).

Para a prorrogação do prazo recursal é necessária a configuração da justa causa, que deve ser demonstrada
de maneira efetiva.

STJ, 4ª Turma, AREsp 1.837.057/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 29/03/2022 – Informativo 733

Na contagem realizada conforme o disposto no art. 219, do CPC/2015, não se deve computar o dia em que,
por força de ato administrativo editado pela presidência do Tribunal local, os prazos processuais estavam
suspensos. A cópia de página do Diário de Justiça Eletrônico, editado na forma do disposto no art. 4º, da Lei
n. 11.419/2006, é documento idôneo para comprovar a tempestividade recursal.

STJ, 4ª Turma, AgInt no AREsp 1.788.341/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos
Ferreira, j. 03/05/2022 – Informativo 738

Importante!

A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios de
prática jurídica de instituições privadas de ensino superior.

STJ, Corte Especial, REsp 1.986.064/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/06/2022, DJe 08/06/2022 – Informativo
740

O prazo estabelecido pelo juiz no despacho de citação não configura matéria controvertida entre as partes a
demandar a prolação de uma decisão, não se apresentando insuscetível de novo pronunciamento.

STJ, 1ª Turma, AgInt no IgInt no REsp 653.774/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 14/06/2022 – Informativo 741

A prescrição somente obsta a compensação se for anterior ao momento da coexistência das dívidas.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.969.468/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/02/2022, DJe 24/02/2022 – Informativo 726

#FGVAMA
Esse julgado foi cobrado recentemente pela FGV na prova para Juiz do TJ/MS.

Comentários:
Conforme dicção do art. 368 do CC/2002, "se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor
uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem". Trata-se a compensação, assim,
de meio indireto de extinção da obrigação. A compensação é direito potestativo extintivo e, no direito
84

brasileiro, opera por força de lei no momento da coexistência das dívidas. Para que as dívidas sejam
Página

compensáveis, elas devem ser exigíveis. Sendo assim, as obrigações naturais e as dívidas prescritas não são
compensáveis.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Não se pode afirmar, no entanto, que a obrigação prescrita não possa ser, em nenhuma hipótese,
objeto de compensação. Quer dizer que a prescrição somente obstará a compensação se ela for anterior ao
momento da coexistência das dívidas, ou seja, se o prazo prescricional se completou posteriormente a esse
fato, tal circunstância não constitui empecilho à compensação dos débitos.
Outrossim, ainda que a pretensão de cobrança do débito esteja prescrita quando configurada a
simultaneidade das dívidas, a parte que se beneficia da prescrição poderá efetuar a compensação.
Portanto, se o crédito do qual é titular a parte contrária estiver prescrito, é possível que o devedor, o qual
também ocupa a posição de credor, desconte de seu crédito o montante correspondente à dívida prescrita.
Desse modo, nada impede que a parte que se beneficia da prescrição realize, espontaneamente, a
compensação. Por essa razão, ainda que reconhecida a prescrição uma vez que a compensação foi realizada
voluntariamente pela parte, não há óbice para que a perícia averigue se a compensação ensejou a quitação
parcial ou total do débito decorrente do contrato de financiamento imobiliário. Assim, o indeferimento da
produção de prova pericial com fundamento na ocorrência de prescrição configura cerceamento de defesa.

O ajuizamento de execução da obrigação de fazer não interrompe o prazo para a execução da obrigação de
pagar.

STJ, 1ª Turma, AgInt no AREsp 1.804.754/RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 15/03/2022 – Informativo 729

Comentários:
A atual jurisprudência da Corte Especial do STJ é no sentido de que o prazo prescricional para a
pretensão executória é único e o ajuizamento de execução da obrigação de fazer não interrompe o prazo para
a propositura da execução que visa ao cumprimento da obrigação de pagar (REsp 1.340.444/RS, DJe
12/06/2019).
Esse entendimento apenas pode ser excepcionado nas hipóteses em que a própria decisão transitada
em julgado ou o juízo da execução, dentro do prazo prescricional, reconhecer que a execução de um tipo de
obrigação dependa necessariamente da prévia execução de outra espécie de obrigação – o que não ocorreu
no caso concreto, conforme mencionado pela 1ª Turma.
Vale ainda dizer que essa autonomia das pretensões executórias vem sendo adotada de forma
pacífica no âmbito da 1ª Seção do STJ.

A propositura da ação revisional pelo devedor interrompe o prazo prescricional para o ajuizamento da ação
executiva.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.956.817/MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/06/2022, DJe 17/06/2022 –
Informativo 743

É cabível condenação em honorários advocatícios no julgamento de reclamação indeferida liminarmente na


qual a parte comparece espontaneamente para apresentar defesa.

STJ, 2ª Seção, Rcl 41.569/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 09/02/2022 – Informativo 724
85
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A ausência de assinatura na petição de ratificação do recurso de apelação interposto prematuramente não o
torna inexistente, mas revela irregularidade formal que pode ser sanada pela parte peticionante, nos termos
do art. 13 do CPC/1973.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.712.851/PA, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 14/12/2021 – Informativo 723

Para comprovação de prequestionamento, não se admite que a certidão de julgamento, de caráter


administrativo, subscrita por servidor desprovido de poder jurisdicional, sirva como integrante do acórdão
para aferição dos fundamentos do julgado.

STJ, 2ª Turma, AgInt no REsp 1.809.807/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 15/02/2022 – Informativo 725

A interposição de agravo de instrumento contra decisão que, em ação de exclusão de sócio, homologa
transação quanto à saída da sociedade e fixa critérios para apuração dos haveres constitui erro grosseiro,
inviabilizando a aplicação do princípio da fungibilidade recursal.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.954.643/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/02/2022, DJe 18/02/2022 – Informativo 725

Comentários:
Havendo pretensão de dissolução parcial da sociedade e de apuração de haveres, o processo engloba
duas fases distintas: na primeira, é apreciado se é o caso ou não de se decretar a dissolução; na segunda, são
apurados os valores devidos ao sócio retirante ou excluído, de acordo com o procedimento de liquidação
específica previsto nos arts. 604 a 609 do CPC/2015.
Outrossim, o pronunciamento judicial que homologa transação (CPC/2015, art. 487, III, “b”), pondo
fim à fase cognitiva do processo com resolução de mérito, possui natureza jurídica de sentença, conforme
disposto expressamente no art. 203, § 1º do diploma processual.
Conforme o entendimento da 3ª Turma do STJ, ainda que ausente a especificidade da demanda –
sentença homologatória de transação –, o pronunciamento judicial que decreta a dissolução parcial da
sociedade possui natureza de sentença e não de decisão parcial de mérito, de modo que o recurso contra ela
cabível é a apelação (CPC/2015, art. 1.009).
Assim, inexistindo dúvida razoável quanto ao recurso cabível, torna-se inviável a aplicação do princípio
da fungibilidade recursal, cuja incidência não admite a ocorrência de erro grosseiro quando da interposição
do recurso.

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões que versem sobre o mero requerimento de
expedição de ofício para apresentação ou juntada de documentos ou coisas, independentemente da menção
expressa ao termo "exibição" ou aos arts. 396 a 404 do CPC/2015.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.853.458/SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, j. 22/02/2022, DJe 02/03/2022 – Informativo
726
86

É incabível a interposição de recurso ordinário contra apelação em mandado de segurança.


Página

STJ, 2ª Turma, RMS 66.905/SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 22/03/2022 – Informativo 731

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
No caso concreto, a parte manejou o recurso ordinário a fim de evitar a incidência da Súmula n. 7/STJ
("A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial."), e defendeu ser admissível, na
hipótese, a fungibilidade com a via especial.
De acordo com o entendimento do STJ, inexiste fungibilidade recursal entre as vias ordinária e
especial, ante a ausência de dúvida objetiva patente sobre as hipóteses de cabimento das espécies recursais.
A tática confessadamente deliberada de manejar-se o recurso ordinário com o intuito de afastar a incidência
da Súmula n. 7/STJ revela-se particularmente afrontosa ao Poder Judiciário. A competência dos Tribunais se
afirma pelo ordenamento constitucional e suas derivações, não pela estratégia processual articulada pelas
partes.
Há inegável erro grosseiro na interposição do recurso ordinário contra acórdão de apelação em
mandado de segurança. O fato de se tratar de erro deliberado, com intuito de burlar a compreensão do
Tribunal Superior sobre os requisitos constitucionais de manejo do recurso especial não mitiga ou afasta tal
equívoco; ao contrário.

A falta de indicação expressa da norma constitucional que autoriza a interposição de recurso especial (alíneas
a, b e c do inciso III do art. 105 da CF) implica o seu não conhecimento pela incidência da Súmula 284 do STF,
salvo, em caráter excepcional, se as razões recursais conseguem demonstrar, de forma inequívoca, a hipótese
de seu cabimento.

STJ, Corte Especial, EAREsp 1.672.966/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 20/04/2022 – Informativo 734

A ausência de expediente forense no dia de Corpus Christi deve ser comprovada pela parte, no momento da
interposição do recurso, por meio de documento idôneo.

Isso porque, de acordo com a jurisprudência do STJ, o dia de Corpus Christi é feriado local, porquanto não
previsto em lei federal, razão pela qual a ausência de expediente forense em tal data deve ser comprovada
pela parte recorrente, no momento da interposição do recurso, por meio de documento idôneo.

STJ, 4ª Turma, AREsp 1.779.552/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 26/04/2022, DJe 06/05/2022 – Informativo 735

A procuradoria jurídica estadual ou municipal possui legitimidade para interpor recurso em face de acórdão
de tribunal de justiça proferido em representação de inconstitucionalidade.

STF, Plenário, ARE 873.804 AgR-segundo-ED-EDv-AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/10/2022 – Informativo
1072

O STJ é pacífico quanto à impossibilidade de manifestação, em sede de Recurso Especial, ainda que para fins
de prequestionamento, a respeito de alegada violação a dispositivos da Constituição Federal.
87

STJ, EDcl no AgInt no RMS 66.940/RJ, Rel. Min. Assussete Magalhães, j. 21/06/2022 – Informativo 742
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
No mesmo sentido: "3. Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça, ainda que para fins de
prequestionamento, examinar, na via especial, suposta violação a dispositivo constitucional, sob pena de
usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal. 4. Embargos de declaração rejeitados" (STJ, EDcl no
AgInt na Rcl 35.425/PR, 1ª Seção, DJe 18/12/2020).

É prescindível a propositura de ação anulatória autônoma para declaração da ineficácia do negócio jurídico
em relação ao exequente ante a caracterização da fraude à execução, com o reconhecido da nítida má-fé das
partes que firmaram o acordo posteriormente homologado judicialmente.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.845.558/SP, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 01/06/2021 – Informativo 699

Comentários:
No caso julgado pelo STJ não se buscava a desconstituição de negócio jurídico firmado pelas partes,
isto é, não se pretendia a declaração de invalidade do acordo e da decisão anulatória – o que,
indubitavelmente, exigiria a propositura de ação anulatória. Pretendia-se, em verdade, o reconhecimento de
que o ato entabulado pelas partes não surtirá efeitos em relação a outra parte em razão de fraude à execução,
sem a declaração de invalidade do acordo e da decisão homologatória.
Ao contrário da fraude contra credores, não é necessária a propositura de ação específica para o
reconhecimento de fraude à execução, endo suficiente o protocolo de mera petição no processo pendente,
salvo nos casos de alienação judicial do bem, o que não era o caso dos autos.
Enquanto o art. 966, § 4º, do CPC/2015 expressamente prevê o cabimento de ação anulatória para se
declarar a nulidade do ato ou negócio firmado pelas partes, o § 1º do art. 792 do mesmo diploma legal prevê
que “a alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente”. Isso quer dizer que não se anula
o negócio jurídico que configurou o ato fraudulento, mas apenas se declara a sua ineficácia em relação ao
exequente prejudicado.
Assim sendo, o negócio jurídico é existente, válido e eficaz para as partes que o firmaram e, também,
para terceiros, à exceção daquele exequente em favor de quem tenha sido reconhecida a fraude à execução,
para o qual o negócio jurídico existe e é válido, porém é ineficaz.
Portanto, cuidando-se apenas da pretensão de declaração da ineficácia do negócio jurídico em relação
ao exequente ante a inequívoca caracterização da fraude à execução, com o reconhecimento da nítida má-fé
das partes que firmaram o acordo posteriormente homologado judicialmente, é prescindível a propositura de
ação anulatória autônoma.

MUITO IMPORTANTE!

É inconstitucional o art. 16 da Lei 7.347/1985, alterada pela Lei 9.494/1997. Em se tratando de ação civil
pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve observar o art. 93, II, da Lei 8.078/1990.
Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, forma-se a prevenção do juízo que
primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.
88

Na ocasião desse julgamento, o Plenário do STF fixou a seguinte tese de repercussão geral:
Página

I - É inconstitucional o art. 16 da Lei 7.347/1985, alterada pela Lei 9.494/1997. II - Em se tratando de ação civil
pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve observar o art. 93, II, da Lei 8.078/1990. III -

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo que
primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.

STF, Plenário, RE 1.101.973 (Tema 1075 RG), rel. min. Alexandre de Moraes, j. 07/04/2021 – Informativo 1012

Em ação civil pública proposta por associação, na condição de substituta processual, possuem legitimidade
para liquidação e execução da sentença todos os beneficiados pela procedência do pedido,
independentemente de serem filiados à associação promovente.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.438.263/SP, rel. min. Luis Felipe Salomão, j. 24/03/2021 (Tema 948) – Informativo 694

O Ministério Público Federal é parte legítima para pleitear indenização por danos morais coletivos e individuais
em decorrência do óbito de menor indígena.

STJ, 2ª Turma, AgInt no AREsp 1.688.809/SP, rel. Min. Assussete Magalhães, DJe 28/04/2021 – Informativo
696

O Ministério Público possui legitimidade para promover a tutela coletiva de direitos individuais homogêneos,
mesmo que de natureza disponível, desde que o interesse jurídico tutelado possua relevante valor social.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.585.794/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 28/09/2021, DJe 01/10/2021 –
Informativo 712

A competência prevista no § 3º do art. 109 da Constituição Federal, da Justiça comum, pressupõe a


inexistência de Vara Federal na Comarca do domicílio do segurado.

STF, Plenário, RE 860.508/SP (Tema 820 RG), Rel. Min. Marco Aurélio, j. 06/03/2021 – Informativo 1008

Comentários:
O § 3º do art. 109 da CF/88 afirma que, se não existir vara federal na comarca do domicílio do
segurado, a lei poderá autorizar que esse segurado ajuíze a ação contra o INSS na justiça estadual. A delegação
de competência de que trata esse dispositivo foi feita pelo art. 15, III, da Lei n. 5.010/66, com redação dada
pela Lei n. 13.876/2019.
O que vale, portanto, é que não exista vara federal na comarca.

MUITO IMPORTANTE!

Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título executivo formado em
ação coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como impor o rito sumaríssimo da Lei n. 12.153/2009
ao juízo comum da execução.
89
Página

STJ, REsp 1.804.186/SC, 1ª Seção, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 12/08/2020, DJe 11/09/2020 (Tema 1029) –
Informativo 679

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Comentários:
Concluiu a 1ª Seção que a Lei n. 12.153/2009 e as respectivas normas de aplicação subsidiária
determinam que os Juizados Especiais da Fazenda Pública têm competência para apreciar apenas as execuções
de seus próprios julgados ou de títulos extrajudiciais. Outrossim, o CDC, norma que rege a tutela coletiva não
só no direito do consumidor, mas de forma subsidiária de todos os tipos de direitos, fixa a competência, para
a execução, do juízo da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual,
valendo a regra do domicílio do exequente no caso de juízos com a mesma competência. Desta forma, não é
possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a execução de título executivo formado em ação
coletiva, tampouco impor o citado rito sumaríssimo ao juízo comum. Assim, o cumprimento da sentença
coletiva deve obedecer ao rito previsto nos arts. 534 e seguintes do CPC/2015; e o fato de o valor da execução
ser baixo pode apenas resultar, conforme a quantia, em Requisição de Pequeno Valor para o pagamento do
débito (CPC/2015, art. 535, § 3º, II).

O termo inicial do prazo de 15 (quinze) dias, previsto no art. 550, § 5º do CPC/2015, para o réu cumprir a
condenação da primeira fase do procedimento de exigir contas começa a fluir automaticamente a partir da
intimação do réu, na pessoa do seu advogado, acerca da respectiva decisão.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.847.194/MS, rel. min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/03/2021 – Informativo 689

O laudo médico, previsto no art. 750 do CPC/2015 como necessário à propositura da ação de interdição, pode
ser dispensado na hipótese em que o interditando resiste em se submeter ao exame.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.933.597/RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/10/2021, DJe 03/11/2021 – Informativo 717

O termo inicial do prazo para ajuizamento da ação rescisória, quando há insurgência recursal da parte contra
a inadmissão de seu recurso, dá-se da última decisão a respeito da controvérsia, salvo comprovada má-fé.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.887.912/GO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/09/2021, DJe 24/09/2021

Não é possível o reconhecimento de ofício do direito ao recebimento de indenização por benfeitorias úteis ou
necessárias em ação possessória.

STJ, REsp 1.836.846/PR, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/09/2020, DJe 28/09/2020 – Informativo 680

É vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse de imóvel na pendência de ação possessória envolvendo
o mesmo bem.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.909.196/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/06/2021, DJe 17/06/2021 – Informativo 701

Comentário:
Diz o art. 557 do CPC que, “na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu,
90

propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa”.
Página

Essa vedação legal visa proteger o possuidor, na medida em que impossibilita o debate sobre o domínio do
bem enquanto pendente a discussão sobre a posse – deixando evidente, assim, a clássica concepção de que a

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
posse é direito autônomo em relação à propriedade. Apesar de sua nomenclatura, a ação de imissão na posse
é ação de domínio, por meio da qual o proprietário, ou o titular de outro direito real sobre a coisa, pretende
obter a posse nunca antes protegida – diferentemente das ações possessórias, que possuem como principal
caraterística a tutela de um possuidor contra um fato que ofenda a sua posse. Vale dizer que, de forma
semelhante à ação reivindicatória, a ação de imissão na posse funda-se no direito à posse decorrente da
propriedade ou de outro direito real, e não na posse em si mesmo considerada como uma situação de fato a
ser protegida juridicamente contra atentados praticados por terceiros. Assim é que a 3ª Turma do STJ concluiu
ser vedado o ajuizamento de ação de imissão na posse, cuja natureza é de ação petitória, na pendência de
ação possessória envolvendo o mesmo bem.

É possível o manejo de ação possessória, fundada em cláusula resolutiva expressa, decorrente de


inadimplemento contratual do promitente comprador, sendo desnecessário o ajuizamento de ação para
resolução do contrato.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.789.863/MS, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 10/08/2021 – Informativo 704

Comentário: Impor à parte prejudicada o ajuizamento de demanda judicial para obter a resolução do contrato
quando esse estabelece em seu favor a garantia de cláusula resolutória expressa, é impingir-lhe ônus
demasiado e obrigação contrária ao texto expresso da lei, desprestigiando o princípio da autonomia da
vontade, da não intervenção do Estado nas relações negociais, criando obrigação que foge à verdadeira
intenção legislativa.

É desnecessária a notificação prévia do comodatário para fins de comprovação do esbulho possessório quando
verificada a ciência inequívoca do intuito de reaver o imóvel.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.947.694/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/09/2021, DJe 01/10/2021 – Informativo 713

É prescindível a intimação direta do devedor acerca da data da alienação judicial do bem, quando
representado pela Defensoria Pública.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.840.374/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/05/2021 – Informativo 698

Comentários:
Em caso de hasta pública, dispõe o art. 889, II, do CPC/2015, que “Serão cientificados da alienação
judicial, com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência: I – o executado, por meio de seu advogado ou, se não
tiver procurador constituído nos autos, por carta registrada, mandado, edital ou outro meio idôneo”. Assim,
basta a intimação do advogado do devedor para cumprir a exigência processual referente ao prévio
conhecimento da praça pública do imóvel. Apenas se não houver procurador constituído nos autos, a norma
impõe a notificação direta do executado. Nesse contexto, a mesma regra vale para a parte representada pela
Defensoria Pública.
Ressalta-se que, antes de haver a alienação judicial, o devedor já teve várias oportunidades de evitar
91

que o seu bem respondesse pela dívida cobrada, inclusive quanto teve início a fase de cumprimento de
sentença. Agora, em etapa avançada do processo, exigir a comunicação pessoal do executado a respeito do
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
leilão, quando a norma específica prescreve apenas a intimação na pessoa do advogado – ou do defensor
público –, viola, em tese, os princípios da celeridade e da razoável duração do processo.

Na ação de busca e apreensão de que trata o Decreto-Lei n. 911/1969, a análise da contestação somente deve
ocorrer após a execução da medida liminar.

STJ, 2ª Seção, REsp 1.892.589/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 16/09/2021 (Tema 1040) –
Informativo 710

A impugnação ao cumprimento de sentença arbitral, devido à ocorrência dos vícios elencados no art. 32 da
Lei n. 9.307/96, possui prazo decadencial de 90 (noventa) dias.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.900.136/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/04/2021 – Informativo 691

No mesmo sentido: Não é cabível a impugnação ao cumprimento da sentença arbitral, com base nas nulidades
previstas no art. 32 da Lei n. 9.307/96, após o prazo decadencial nonagesimal.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.862.147/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 14/09/2021, DJe 20/09/2021 –
Informativo 709

Não é aceitável que a parte provoque a manifestação do juízo arbitral e, depois de obter o pronunciamento
acerca da matéria, venha a pleitear a nulidade da decisão ao argumento de que não poderia ter enfrentado o
tema.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.953.212/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/10/2021, DJe 03/11/2021 – Informativo 717

É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do processo, pela demora ou
não cumprimento de ordem emanada do Juízo Criminal.
É possível ao juízo criminal efetivar o bloqueio via Bacen-Jud ou a inscrição em dívida ativa dos valores
arbitrados a título de astreintes.

STJ, REsp 1.568.445-PR, 3ª Seção, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, j. 24/06/2020,
DJe 20/08/2020 – Informativo 677

É possível que o magistrado, a qualquer tempo, e mesmo de ofício, revise o valor desproporcional das
astreintes.

STJ, Corte Especial, EAREsp 650.536/RJ, rel. min. Raul Araújo, j. 07/04/2021 – Informativo 691

Não cabe aplicação de multa pelo não comparecimento pessoal à audiência de conciliação, por ato atentatório
à dignidade da justiça, quando a parte estiver representada por advogado com poderes específicos para
92

transigir.
Página

STJ, 4ª Turma, RMS 56.422/MT, rel. Min. Raul Araújo, j. 08/06/2021 – Informativo 700

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

Na vigência do CPC/2015, o juízo deprecante é o competente para a degravação de depoimento colhido por
carta precatória.

STJ, 2ª Seção, CC 150.252/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/06/2020, DJe 16/06/2020 – Informativo
674

O ajuizamento de Ação Civil Pública para discussão da titularidade de imóvel não ofende a coisa julgada
decorrente de ação de desapropriação, mesmo após o prazo de dois anos para propositura de ação rescisória.

Na ocasião deste julgamento, o Plenário do STF fixou a seguinte tese de repercussão geral:

I – O trânsito em julgado de sentença condenatória proferida em sede de ação desapropriatória não obsta a
propositura de Ação Civil Pública em defesa do patrimônio público, para discutir a dominialidade do bem
expropriado, ainda que já se tenha expirado o prazo para a Ação Rescisória; II – Em sede de Ação de
Desapropriação, os honorários sucumbenciais só serão devidos caso haja devido pagamento da indenização
aos expropriados.

STF, Plenário, RE 1.010.819/PR (Tema 858 RG), Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 26/05/2021 – Informativo
1019

A insolvência civil está entre as exceções da parte final do artigo 109, I, da Constituição da República, para fins
de definição da competência da Justiça Federal.

O termo “falência”, contido na parte final do art. 109, I, da CF/88, compreende a insolvência civil. Por essa
razão, compete à Justiça comum estadual, e não à federal, processar e julgar as ações de insolvência civil ainda
que haja interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal.

STF, Plenário, RE 678.162 (Tema 859 RG), j. 26/03/2021, Informativo 1011

O prazo para impugnação se inicia após 15 (quinze) dias da intimação para pagar o débito, ainda que o
executado realize o depósito para garantia do juízo no prazo para pagamento voluntário, independentemente
de nova intimação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.761.068/RS, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, rel. p/ acd. Min. Nancy Andrighi, j.
15/12/2020, DJe 18/12/2020 – Informativo 684

A alegação da Fazenda Pública de excesso de execução sem a apresentação da memória de cálculos com a
indicação do valor devido não acarreta, necessariamente, o não conhecimento da arguição.
93

Isso porque a ausência da memória de cálculos com a indicação do valor que se entende devido não afasta o
Página

poder-dever de o magistrado averiguar a exatidão dos cálculos à luz do título judicial que lastreia o
cumprimento de sentença, quando verificar a possibilidade de existência de excesso de execução. Tal

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
entendimento encontra respaldo, inclusive, no próprio CPC, art. 526, §§ 1º e 2º, cuja aplicação é cabível nos
cumprimentos de sentença contra a Fazenda Pública, com as devidas adaptações.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.887.589/GO, rel. min. Og Fernandes, j. 06/04/2021 – Informativo 691

O termo inicial do prazo para oferecer contestação na hipótese de acolhimento da impugnação ao


cumprimento de sentença fundada no art. 525, § 1º, I, do CPC/2015, é a data da intimação que acolhe a
impugnação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.930.225/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 08/06/2021 – Informativo 700

O prazo de cumprimento de obrigação de fazer possui natureza processual, devendo ser contado em dias
úteis.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.778.885/DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 15/06/2021, DJe 21/06/2021 – Informativo 702

A regra do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015, segundo a qual o juiz, para deixar de aplicar enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente invocado pela parte, deve demonstrar a existência de distinção ou de superação,
somente se aplica às súmulas ou precedentes vinculantes, mas não às súmulas e aos precedentes apenas
persuasivos, como, por exemplo, os acórdãos proferidos por Tribunais de 2ª grau distintos daquele a que o
julgador está vinculado.

STJ, REsp 1.698.774/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/09/2020, DJe 09/09/2020 – Informativo 679

É nulo acórdão genérico que, sob a justificativa da multiplicidade de recursos, delega ao juízo de primeiro grau
a sua aplicação ao caso concreto.

STJ, REsp 1.880.319/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/11/2020, DJe 20/11/2020 –
Informativo 683/

Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual,


ressalvados os casos excepcionais. Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica,
não cabe a condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante
apurar quem deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.845.536/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, j.
26/05/2020 – Informativo 673

Em caso de desistência da ação após a citação e antes de apresentada a contestação, é devida a condenação
do autor ao pagamento de honorários advocatícios, que deve observar a regra geral prevista no § 2º do art.
94

85 do CPC/2015.
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
STJ, 3ª Turma, REsp 1.819.879/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 –
Informativo 713

A caução prestada em ação conexa pode ser aceita como garantia do juízo para concessão de efeito suspensivo
a embargos à execução.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.743.951, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06/10/2020, DJe 14/10/2020 – Informativo 681

Em sede de exceção de pré-executividade, o juiz pode determinar a complementação das provas, desde que
elas sejam preexistentes à objeção.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.912.277/AC, rel. Min. Nancy Nadrighi, j. 18/05/2021, DJe 20/05/2021 – Informativo 697

As sanções aplicáveis ao litigante de má-fé são aquelas taxativamente previstas pelo legislador, não
comportando interpretação extensiva. Assim, apesar de reprovável, a conduta desleal, ímproba, de uma
parte beneficiária da assistência judiciária gratuita não acarreta, por si só, a revogação do benefício,
atraindo, tão somente, a incidência das penas expressamente cominadas no texto legal.

A revogação do benefício da assistência judiciária gratuita – importante instrumento de democratização do


acesso ao Poder Judiciário – pressupõe prova da inexistência ou do desaparecimento do estado de
miserabilidade econômica não estando atrelada à forma de atuação da parte no processo.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.663.193/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/02/2018

A sucumbência recíproca, por si só, não afasta a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais nem
impede a sua majoração em sede recursal.

STJ, 4ª Turma, AgInt no AREsp 1.495.369/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 01/09/2020, DJe 16/10/2020 –
Informativo 681

É devido o pagamento de honorários advocatícios recursais quando o acórdão recorrido for publicado na
vigência do CPC/2015, mesmo que a sentença tenha sido proferida sob a égide do CPC/1973.

STJ, 1ª Seção, EAREsp 1.402.331/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 09/09/2020, DJe 15/09/2020 –
Informativo 679

No contrato de prestação de serviços advocatícios não é cabível a estipulação de multa pela renúncia ou
revogação unilateral do mandato.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.882.117/MS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/10/2020, DJe 12/11/2020 – Informativo 682
95
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
Em sede de homologação de decisão estrangeira, aplica-se a norma do § 8º do art. 85 do CPC, fixando-se os
honorários advocatícios por equidade.

STJ, Corte Especial, HDE 1.809/EX, rel. min. Raul Araújo, j. 22/04/2021 – Informativo 693

Sob a égide do Código de Processo Civil de 2015, é irrecorrível o ato judicial que determina a intimação do
devedor para o pagamento de quantia certa.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.837.211/MG, rel. min. Moura Ribeiro, j. 09/03/2021, DJe 11/03/2021 – Informativo 688

Interpretando o inciso VI do art. 833 do CPC/2015, concluiu a 3ª Turma do STJ que a impenhorabilidade dos
valores recebidos pelo beneficiário do seguro de vida limita-se ao montante de 40 (quarenta) salários mínimos,
cabendo, portanto, a constrição judicial da quantia que a exceder.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.361.354/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/05/2018 – Informativo 628

É inadmissível a cumulação de pedidos estranhos à natureza constitutivo-negativa dos embargos de terceiro.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.703.707/RS, rel. min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/05/2021 – Informativo 698

É inadmissível a penhora de ativos financeiros da conta bancária pessoal de terceiro, não integrante da relação
processual em que se formou o título executivo, pelo simples fato de ser cônjuge da parte executada com
quem é casado sob o regime de comunhão parcial de bens.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.869.720/DF, rel. p/ acd. min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/04/2021 – Informativo 694

Para a proteção da impenhorabilidade da pequena propriedade rural é ônus do executado comprovar que o
imóvel é explorado pela família, prevalecendo a proteção mesmo que tenha sido dado em garantia hipotecária
ou não se tratando de único bem do devedor.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.913.236/MT, rel. min. Nancy Andrighi, j. 16/03/2021 – Informativo 689

Os valores pagos a título de indenização pelo “Seguro DPVAT” aos familiares da vítima fatal de acidente de
trânsito gozam de proteção legal de impenhorabilidade ditada pelo art. 649, VI, do CPC/73, atual art. 833, VI,
do CPC/2015, enquadrando-se na expressão “seguro de vida”.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.412.247/MG, rel. min. Antônio Carlos Ferreira, j. 23/03/2021 – Informativo 690

O prazo estabelecido no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para cumprimento voluntário da
obrigação imposta em sentença possui natureza processual, devendo por isso ser contado em dias úteis.
96

STJ, 3ª Turma, REsp 1.708.348/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 25/06/2019 – Informativo 652
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas
demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei
n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).

STJ, 1ª Seção, REsp 1.682.836/SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 25/04/2018 (recurso repetitivo) – Informativo 624

Importante!

A técnica de ampliação do colegiado, prevista no art. 942 do CPC/2015, aplica-se também ao julgamento de
apelação interposta contra sentença proferida em mandado de segurança.

STJ, 2ª Turma, REsp 1.868.072/RS, rel. min. Francisco Falcão, j. 04/05/2021 – Informativo 695

Importante!

O Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade do art. 7º, § 2º, e do art. 22, § 2º, ambos da Lei n.
12.016/2009.

Art. 7º. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) §2º. Não será concedida medida liminar que tenha por
objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens
ou pagamento de qualquer natureza.
Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do
grupo ou categoria substituídos pelo impetrante. (...) § 2º. No mandado de segurança coletivo, a liminar só
poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que
deverá se pronunciar no prazo de 72 horas.

STF, Plenário, ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ acd. Min. Alexandre de Moraes, j. 09/06/2021 –
Informativo 1021

O negócio jurídico processual que transige sobre o contraditório e os atos de titularidade judicial se aperfeiçoa
validamente se a ele aquiescer o juiz.

STJ, REsp 1.810.444/SP, 4ª Turma, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/02/2021 – Informativo 686

A arma de fogo pode ser penhorada e expropriada, desde que assegurada pelo Juízo da execução a
observância das mesmas restrições impostas pela legislação de regência para a sua comercialização e
aquisição.
97

STJ, 2ª Turma, REsp 1.866.148/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 26/05/2020, DJe 20/08/2020 – Informativo
Página

677

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
É admitida a alienação integral do bem indivisível em qualquer hipótese de propriedade em comum,
resguardando-se, ao coproprietário ou cônjuge alheio à execução, o equivalente em dinheiro da sua quota-
parte no bem.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.818.926/DF, rel. min. Nancy Andrighi, j. 13/04/2021 – Informativo 692

Nos termos do art. 1.003, § 6º, do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no
ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual
civil.

STJ, 3ª Turma, AgInt nos EDcl no AREsp 1.539.007/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 09/03/2020
STF, 1ª Turma, RE-AgR 1.198.084, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 23/08/2019

Importante!

O termo inicial de contagem dos prazos processuais, em caso de duplicidade de intimações eletrônicas, dá-se
com a realizada pelo portal eletrônico, que prevalece sobre a publicação no Diário da Justiça (DJe).

STJ, Corte Especial, EAREsp 1.663.952/RJ, rel. Min. Raul Araújo, j. 19/05/2021 – Informativo 697

A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato, por meio de
agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque se trata de decisão de
mérito. Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na
sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões interlocutórias,
hipótese em que caberá agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação
de coisa julgada material sobre a questão.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.738.756/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/02/2019 – Informativo 643

É admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção, desde que a


questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.690.216/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, por
maioria, j. 22/09/2020, DJe 28/09/2020 – Informativo 680

A equivocada denominação do pedido reconvencional como pedido contraposto não impede o regular
processamento da pretensão formulada pelo réu contra o autor, desde que ela esteja bem delimitada na
contestação.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.940.016/PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/06/2021 – Informativo 702
98

A técnica de julgamento ampliado do art. 942 do CPC aplica-se aos aclaratórios opostos ao acórdão de
Página

apelação quando o voto vencido nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado inicial

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
do julgamento, independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se
acolhidos, com ou sem efeito modificativo).

STJ, 3ª Turma, REsp 1.786.158-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze. J.
25/08/2020, DJe 01/09/2020 – Informativo 678

No mesmo sentido: Deve ser aplicada a técnica de julgamento ampliado nos embargos de declaração toda
vez que o voto divergente possua aptidão para alterar o resultado unânime do acórdão de apelação.

STJ, 4ª Turma, REsp 1.910.317/PE, rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 02/03/2021 – Informativo 687

Somente se admite a técnica do julgamento ampliado, em agravo de instrumento, prevista no art. 942, § 3º,
II, do CPC/2015, quando houver o provimento do recurso por maioria de votos e desde que a decisão agravada
tenha julgado parcialmente o mérito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.960.580/MT, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 05/10/2021, DJe 13/10/2021 – Informativo 713

Os tribunais podem, diante do recurso de apelação, aplicar a técnica do julgamento antecipado parcial do
mérito.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.845.542/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11/05/2021 – Informativo 696

Comentários:
O art. 356 do CPC/2015 prevê, de forma clara, as situações em que o juiz deverá proceder ao
julgamento antecipado parcial do mérito. Esse preceito legal representa, portanto, o abandono do dogma da
unicidade da sentença. Na prática, significa dizer que o mérito da causa poderá ser cindido e examinado em
duas ou mais decisões prolatadas no processo. Não há dúvidas de que a decisão interlocutória que julga
parcialmente o mérito da demanda é proferida com base em cognição exauriente e, ao transitar em julgado,
produz coisa julgada material (art. 356, § 3º, do CPC/2015).
No entanto, o julgador apenas poderá valer-se dessa técnica caso haja cumulação de pedidos e estes
sejam autônomos e independentes ou, tendo sido deduzido um único pedido, esse seja decomponível. Além
disso, é imprescindível que se esteja diante de uma das situações descritas no art. 356 do CPC/2015.
Presentes tais requisitos, não há óbice para que os tribunais apliquem a técnica do julgamento
antecipado parcial do mérito. Tal possibilidade encontra alicerce na teoria da causa madura, no fato de que a
anulação dos atos processuais é a ultima ratio, no confinamento da nulidade (art. 281, segunda parte, do
CPC/2015) e em princípios que orientam o processo civil, notadamente, da razoável duração do processo, da
eficiência e da economia processual.

É cabível agravo de instrumento para impugnar decisão que define a competência.

STJ, Corte Especial, EREsp 1.730.436/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/08/2021 – Informativo 705
99

Constitui ofensa ao art. 942 do CPC/2015 a dispensa do quinto julgador, integrante necessário do quórum
Página

ampliado, sob o argumento de que já teria sido atingida a maioria sem possibilidade de inversão do resultado.

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

STJ, 3ª Turma, REsp 1.890.473/MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 17/08/2021, DJe 20/08/2021 –
Informativo 705

A decisão que deixa de homologar pedido de extinção consensual da lide retrata decisão interlocutória de
mérito a admitir a recorribilidade por agravo de instrumento, interposto com fulcro no art. 1.015, II, do
CPC/2015.

STJ, 1ª Turma, REsp 1.817.205/SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 05/10/2021 – Informativo 712

A mera remissão a link de site do Tribunal de origem nas razões recursais é insuficiente para comprovar a
tempestividade de recurso.

STJ, 2ª Turma, AgInt nos EDCL no REsp 1.893.371/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 26/10/2021 –
Informativo 715

A prioridade na tramitação do feito é direito subjetivo da pessoa idosa e a lei lhe concede legitimidade
exclusiva para postulação do benefício.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.801.884/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/05/2019 – Informativo 650

A contagem do prazo de 30 (trinta) dias previsto no art. 308 do CPC/2015 para formulação do pedido principal
de inicia na data em que for totalmente efetivada a tutela cautelar.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.954.457/GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 09/11/2021, DJe 11/11/2021 – Informativo 718

A obrigação de indenizar o dano causado pela execução de tutela antecipada posteriormente revogada é
consequência natural da improcedência do pedido, dispensando-se, nessa medida, pronunciamento judicial
que a imponha de forma expressa. Os danos causados a partir da execução de tutela antecipada suscitam
responsabilidade processual objetiva e devem ser integralmente reparados (art. 944 do CC/02) após apurados
em procedimento de liquidação levado a efeito nos próprios autos.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.780.410/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Moura Ribeiro, j.
23/02/2021

A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição para a instauração do
procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para aquela declaração, já que
imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de finalidade ou de confusão
patrimonial. Assim, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser instaurado mesmo nos
casos em que não for comprovada a inexistência de bens do devedor, pois o que é condição para a instauração
100

do incidente é a prova do desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.


Página

STJ, 4ª Turma, REsp 1.729.554/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 08/05/2018

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I

O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares, não é causa, por si só, para
a desconsideração da personalidade jurídica prevista no Código Civil.

STJ, 2ª Seção, EREsp 1.306.553/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j.10/12/2014 – Informativo 554

Não é admissível a denunciação da lide embasada no art. 70, III, do CPC 1973 (art. 125, II, do CPC 2015) quando
introduzir fundamento novo à causa, estranho ao processo principal, apto a provocar uma lide paralela, a
exigir ampla dilação probatória, o que tumultuaria a lide originária, indo de encontro aos princípios da
celeridade e economia processuais, que essa modalidade de intervenção de terceiros busca atender.

STJ, 4ª Turma, REsp 701.868/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/02/2014 – Informativo 535

O crédito decorrente de honorários advocatícios sucumbenciais titularizado pelo advogado não é capaz de
estabelecer relação de preferência ou de exclusão em relação ao crédito principal titularizado por seu cliente.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.890.615/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/08/2021, DJe 19/08/2021 – Informativo 707

As decisões interlocutórias sobre a instrução probatória não são impugnáveis por agravo de instrumento ou
pela via mandamental, sendo cabível a sua impugnação diferida pela via da apelação.

STJ, 2ª Turma, RMS 65.943/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 26/10/2021 – Informativo 715

A prolação de sentença objeto de recurso de apelação não acarreta a perda superveniente do objeto de agravo
de instrumento pendente de julgamento que versa sobre a consumação da prescrição.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.921.166/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 – Informativo 713

Na cumulação simples subjetiva de pedidos, o provimento do recurso que apenas atinge o pedido de um dos
litisconsortes facultativos não impede a fixação de honorários recursais em relação aos pedidos autônomos
dos demais litisconsortes, que se mantiveram intactos após o julgamento.

STJ, 3ª Turma, REsp 1.954.472/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 05/10/2021, DJe 08/10/2021 – Informativo 714

É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, III, da Lei nº
12.016/2009 e Súmula nº 268-STF). No entanto, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao
trânsito em julgado da decisão questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS
deverá ser julgado, não podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto.

STJ, Corte Especial, EDcl no MS 22.157/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/03/2019 – Informativo 650
101
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado


JURIS EM DIA – FGV
Jurisprudência Bloco I
A Defensoria Pública não detém legitimidade para impetrar mandado de segurança coletivo, não se
enquadrando no rol taxativo dos artigos 5°, LXX, da CF e 21 da Lei 12.016/2009.

STJ, 1ª Turma, RMS 51.949/ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 23/11/2021

Partido político não possui legitimidade para postular pedido de suspensão de segurança, já que se trata de
pessoa jurídica de direito privado, com base na vedação legal disposta no art. 15 da Lei 12.016/2009”.

STF, Tribunal Pleno, SL 1424 AgRg, Min. Luiz Fux, j. 15/09/2021

Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta de ordem, precatória ou
rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de recebimento, do mandado cumprido,
ou da juntada da carta.

STJ, Corte Especial, REsp 1.632.777/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 17/05/2017 (recurso
repetitivo) – Informativo 604

O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º
e 2º da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da
não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem
prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.

STJ, 1ª Seção, REsp 1.340.553/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 12/09/2018 (recurso repetitivo) –
Informativo 635

102
Página

@jurisemdia | Criado e desenvolvido por Mariana David Ferreira Machado

Você também pode gostar