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Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Direito
Questão sobre Embargos de Declaração – Direito Processual Civil III
Prof. Maurício Dantas Góes e Góes

CONSUMIDOR firmou promessa de compra e venda de imóvel em construção


(apartamento de n. 1.201 do Edf. da Paz) com a CONSTRUTURA, com prazo de
entrega previsto em contrato para o dia 31/12/2018.
A CONSTRUTURA atrasou a obra e o imóvel só foi entregue em 30/06/2019.
No curso do contrato, para viabilizar a construção, a CONSTRUTORA firmou
contrato de mútuo com o BANCO para financiar a construção e deu em garantia
hipotecária do pagamento do mútuo algumas unidades em construção, inclusive o
apartamento do CONSUMIDOR. BANCO e CONSTRUTORA, mesmo após o fim da
construção, não procederam a baixa da garantia hipotecária, o que impediu o
CONSUMIDOR de proceder a escritura e registro do imóvel.
CONSUMIDOR então lhe procurou e você propôs uma ação judicial com os
seguintes pedidos cumulados: (i) condenação em obrigações de fazer consistentes em
proceder a baixa da hipoteca e lavrar escritura pública de compra e venda em
desfavor do BANCO e da CONSTRUTORA; e, exclusivamente contra a
CONSTRUTORA: (ii) condenação em indenizar por lucros cessantes no valor de
0,5% do valor do imóvel por mês de atraso; (iii) danos morais SEM VALOR!. Em
relação ao pedido de baixa da hipoteca e lavratura da escritura você requereu
antecipação da tutela, sendo que o juiz reservou-se a decidir sobre o pedido após a
contestação
O BANCO e a CONSTRUTORA, cada um por seu advogado, apresentaram
suas contestações. Após devidamente processado e instruído o feito, o JUIZ proferiu a
sentença nos seguintes termos: (i.1) sem desdobrar fundamentação, julgou totalmente
procedente o pedido para condenar solidariamente CONSTRUTORA e BANCO a
proceder a baixa da hipoteca, em 15 dias, sob pensa de multa diária de R$ 100,00; (i.2)
igualmente sem fundamentar, julgou procedente o pedido de lavratura da escritura
condenando apenas a CONSTRUTORA, aplicando a mesma multa para o caso de
descumprimento, e julgou improcedente este pedido em relação ao BANCO; (ii) em
relação ao pedido de lucros cessantes, na fundamentação o juiz reconhece a existência
da mora quanto ao prazo de entrega, reconhece que existe um direito a ser indenizado
pelo fato de o CONSUMIDOR ter sido obstado de usar, fruir e gozar o imóvel durante o
período de atraso, mas na conclusão julga improcedente o pedido de lucros cessantes;
(iii) na fundamentação trata do cabimento de danos morais, mas não atribui qualquer
valor durante a fundamentação e no dispositivo simplesmente silencia. Em capítulo
próprio da sentença, o juiz proferiu decisão deferindo a antecipação da tutela em relação
aos pedidos de baixa da hipoteca e de lavratura da escritura, obrigações que devem ser
cumpridas em 15 dias sob pena de incidência de multa diária de R$ 100,00.
A sentença foi publicada em 13/06/2019.
CONSUMIDOR inicialmente interpôs embargos de declaração e BANCO e
CONSTRUTORA apresentaram apelação direta, sem interpor embargos neste primeiro
momento.
Pergunta-se:
1. Qual o prazo final para interposição dos embargos de declaração para cada uma
das partes?
O prazo para interposição dos embargos de declaração, de acordo com o artigo
1023 do CPC, é de 5 dias úteis após a intimação, publicação ou leitura de
sentença. Nesse contexto, o prazo final do consumidor, do banco e da
construtora é o dia 20/06/2019.
2. Considerando que os embargos de declaração foram julgados e publicados no
primeiro dia útil após o fim do prazo de sua interposição, qual o prazo para
interposição do recurso de apelação para cada uma das partes?
É o chamado efeito interruptivo dos embargos declaratórios, ou seja, no momento
em que os embargos de declaração são interpostos, os prazos recursais que já se
iniciaram a partir da publicação da decisão são interrompidos e voltam a correr após
a publicação da nova decisão que será prolatada. Se houver erro material, omissão,
contradição ou obscuridade na decisão, a parte deverá interpor, antes do agravo, o
recurso de embargos de declaração, o qual tornará interrompido o prazo para
interposição do agravo. Os embargos serão decididos e somente aí reiniciará, o prazo
para interposição do agravo. (15 dias úteis da publicação!) 11 de julho de 2019.
3. Os embargos de declaração tem ou não efeito suspensivo? Quais capítulos da
sentença podem ou não ser desde logo executados ainda na pendência do
julgamento dos embargos de declaração?
a oposição dos embargos de declaração, por si só, não suspende a
eficácia da decisão embargada outorgando a possibilidade de concessão de
efeito suspensivo ope judicis, medida alicerçada na urgência ou na evidência
(art. 1.026, § 1º
4. O BANCO e a CONSTRUTORA podem, em tese, interpor algum recurso de
decisão que julgou os embargos de declaração?
5. Na condição de advogado do CONSUMIDOR, do BANCO e da
CONSTRUTORA, com base em quais hipóteses de cabimento (omissão,
contradição, obscuridade e/ou erro material) você interporia os embargos de
declaração, considerando que todos fossem interpor os emabargos?
BANCO E CONSTRUTORA POR CONTRADIÇÃO (i.1) sem desdobrar
fundamentação, julgou totalmente procedente o pedido para condenar solidariamente
CONSTRUTORA e BANCO a proceder a baixa da hipoteca, em 15 dias, sob pensa de
multa diária de R$ 100,00;
SÓ A CONSTRUTORA POR CONTRADIÇÃO: igualmente sem fundamentar,
julgou procedente o pedido de lavratura da escritura condenando apenas a
CONSTRUTORA,
SÓ O BANCO POR DECISÃO ULTRA PETITA: julgou improcedente o pedido a
cima o em relação ao BANCO.
SÓ O CONSUMIDOR POR CONTRADIÇÃO (ii) em relação ao pedido de lucros
cessantes, na fundamentação o juiz reconhece a existência da mora quanto ao prazo de
entrega, reconhece que existe um direito a ser indenizado pelo fato de o
CONSUMIDOR ter sido obstado de usar, fruir e gozar o imóvel durante o período de
atraso, mas na conclusão julga improcedente o pedido de lucros cessantes;
CONSUMIDOR E A CONSTRUTORA (iii) na fundamentação trata do cabimento de
danos morais, mas não atribui qualquer valor durante a fundamentação e no
dispositivo simplesmente silencia.

6. É possível e, em sendo possível, você atribuiria efeitos infringentes a estes


embargos de declaração, se magistrado do caso fosse?
7. Qual é o juízo a quo e ad quem dos embargos? Se fosse um julgamento em
tribunal, a resposta seria a mesma?
8. É possível ao magistrado aplicar multa nestes embargos de declaração? Se o
objetivo dos embargos for de prequestionamento da matéria para fins de futura
interposição de RE e REsp, é possível aplicar multa?

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