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Nº 1.0000.22.

182932-8/001
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV 18ª CÂMARA CÍVEL
Nº 1.0000.22.182932-8/001 BELO HORIZONTE
AGRAVANTE(S) DAIANE DE JESUS PESSOA
AGRAVANTE(S) RONALDO MARTINS RODRIGUES
AGRAVADO(A)(S) VALE S/A

DECISÃO

Vistos.
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por DAIANE
DE JESUS PESSOA e RONALDO MARTINS RODRIGUES contra
a r. decisão de doc. nº 55, proferida pelo Núcleo de Justiça 4.0 -
Cooperação Judiciária na Comarca de Brumadiho/MG nos autos da
ação de indenização movida em face da VALE S/A, que acolheu a
preliminar de coisa julgada, por parte dos agravantes e extinguiu o
feito sem resolução do mérito para ambos, prosseguindo o feito
apenas com o menor L.G.M.J no polo ativo.
Em suas razões recursais, os agravantes sustentam, em
síntese, que não há coisa julgada, na medida em que, nesta ação,
pretendem ser indenizados pelo dano material sofridos ao imóvel de
moradia deles, em razão do rompimento da barragem, além de ser
custeado as despesas de deslocamento, enquanto no na Transação
Extrajudicial, as partes pactuaram indenização referente aos danos
à saúde mental dos autores Ronaldo e Daiane. Afirmam que
decisão foi omissa e contraditória, uma vez que não observou que, a
indenização pactuada na Transação Extrajudicial trata-se de objeto
completamente distinto do pedido da presente ação, bem como
interpretou de forma errônea e contraditória a cláusula contratual,
além de ter sido genérica, por não ter analisado a documentação
colacionada na inicial.

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Com essas considerações, requerem a atribuição de efeito
suspensivo ao recurso, pedindo, ao final, que lhe seja dado
provimento para que afastada a extinção pela coisa julgada.
É o relatório.
Passo a decidir.
No sistema processual brasileiro, a regra é a de que o agravo
de instrumento não possui efeito suspensivo automático por
determinação legal, incumbindo à parte agravante requerer ao
Relator a concessão do mencionado efeito ao recurso, desde que
preenchidos os pressupostos legais.
Desse modo, de acordo com o art. 1.019, I, do CPC, recebido
o agravo de instrumento, o Relator, se não for o caso de inadmissão
ou de negativa imediata de provimento (art. 932, III e IV, do CPC),
poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em
antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal,
comunicando ao juiz sua decisão.
Frise-se que a concessão de efeito suspensivo impede a
produção imediata dos efeitos da decisão recorrida, adiando os seus
efeitos até que se encerre o julgamento do recurso interposto,
contudo, não obsta o prosseguimento do processo em primeira
instância.
Por sua vez, o art. 995, parágrafo único, do CPC, assim
estabelece:

Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da


decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial
em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão
recorrida poderá ser suspensa por decisão do
relator, se da imediata produção de seus efeitos
houver risco de dano grave, de difícil ou

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impossível reparação, e ficar demonstrada a
probabilidade de provimento do recurso.

De acordo com a norma, a suspensão da eficácia da decisão


agravada condiciona-se ao preenchimento concomitante dos
seguintes pressupostos: (I) risco de dano grave, de difícil ou
impossível reparação, caso a decisão recorrida produza efeitos
imediatos; (II) demonstração da probabilidade de provimento do
recurso.
No caso em apreço, não verifico a probabilidade do direito do
agravante, o que impede a atribuição de efeito suspensivo ao
recurso.
À luz do art.337, §§1º e 2º do Código de Processo Civil de
2015, há coisa julgada quando a parte intenta nova ação com as
mesmas partes, pedido e causa de pedir de outra demanda
anteriormente por ela ajuizada e já julgada, cuja decisão não é mais
passível de recurso, “verbis”:

“Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o


mérito, alegar:
(...)
§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa
julgada, quando se reproduz ação
anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica à outra quando tem as
mesmas partes, a mesma causa de pedir e o
mesmo pedido.
§ 3º Há litispendência, quando se repete ação, que
está em curso;
§4º Há coisa julgada quando se repete ação que
já foi decidida por decisão transitada em
julgado” (g.n.)

O documento de ordem 22 comprova que os agravantes


firmaram com a agravada, em 19.12.2019, ou seja, 11 meses

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depois da tragédia, acordo extrajudicial sobre os danos decorrentes
do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, dando-lhe plena,
geral e irrestrita quitação sobre os prejuízos sofridos.
A petição inicial é clara quanto aos pedidos dos autores, que
buscam compensação financeira por alegados danos materiais que
teriam sido suportados em decorrência do rompimento da barragem
do Córrego do Feijão, no dia 25.01.2019, em Brumadinho,
consistentes na desvalorização de seu imóvel e pelo deslocamento
diante da necessidade de se mudarem do local.
Não há duvidas que, rompida a barragem e atingida a área
onde localizado o imóvel dos agravantes, a desvalorização do bem
teria sido imediata ou logo subsequente, sendo, esse dano,
portanto, já conhecido pelos agravantes quando da assinatura do
acordo extrajudicial, ocorrido 11 meses depois.
O acordo realizado teve, portanto, o escopo de exaurir as
pendências existentes entre os autores e a Vale após o evento
narrado nos autos, criando-se uma garantia de estabilidade para
ambos as transigentes, encerrando definitivamente a discussão
sobre os danos sofridos pelos autores em decorrência do
rompimento, não permitindo, assim, a perpetuação de qualquer
litígio sob este fundamento.
Assim, firmado o acordo DOC 22, não se vislumbra
probabilidade de provimento do recurso, pois descabe o
prosseguimento de nova ação intentada pelos agravantes para se
discutir direitos que estão incluídos no objeto da transação, sob
pena de flagrante ofensa à coisa julgada, posto que dizem respeito
ao mesmo pedido indenizatório.

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Dessa forma, não se encontram presentes os requisitos
previstos no art. 995, parágrafo único, do CPC, pelo que INDEFIRO
O PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO.
Ressalte-se que o eventual desacerto da decisão agravada
será aferido oportunamente, por ocasião do julgamento desse
recurso, não havendo que se falar em irreversibilidade do efeito
suspensivo ora deferido.
Oficie-se ao juízo a quo, com urgência, comunicando-lhe
sobre o teor dessa decisão, dispensada a requisição de
informações.
Intime-se a parte contrária para, caso queira, apresentar
contraminuta no prazo de 15 dias, nos termos do art. 1.019, II, do
CPC.

Belo Horizonte, 26 de agosto de 2022.

DES. JOÃO CANCIO


RELATOR

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