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primeira sentença.
V - Não tendo o réu reconvindo no primeiro processo, viu precludidos
tais direitos, efeito preclusivo que resulta da autoridade do caso julgado
da sentença que julgou favorável (ao respetivo autor) a primeira ação,
verificando-se no segundo processo, em que vem formular tais pedidos,
a exceção de caso julgado, na vertente de autoridade do caso julgado
(havendo que acatar a decisão antes proferida e obstar a que a relação
jurídica definida na anterior decisão possa ser aqui de novo decidida e
destruída ou diminuída).
VI - Autoridade do caso julgado que não depende da verificação da
tríplice identidade prevista no art. 581.º, n.º 1, do CPC, não
prescindindo, porém, da identidade de sujeitos e que, em termos de
objetos processuais, haja conexão entre o objeto decidido e o a decidir
e que o resultado favorável do segundo processo represente uma
decisão que contraste com a decisão da antes proferida.
Decisão Texto Integral:
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culpa sua, até porque, os vícios e defeitos podem vir a ser conhecidos
já após ter decorrido o prazo de apresentação da Contestação /
Reconvenção daquela primeira acção judicial.
20. Já numa interpretação mais restritiva do mesmo artigo, a
reconvenção será obrigatória quando o pedido do réu emerge do facto
jurídico que serve de fundamento à acção, ou quando o pedido do réu
tende a conseguir, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o
autor se propõe obter, sob pena de preclusão do direito do réu.
21. Sucede que, no caso em apreço, o Recorrente não pretende que seja
apreciada a mesma questão jurídica decidida naquele Apenso K e
pugna, não pelo mesmo efeito jurídico que a Construções Meira &
Rodrigues, Lda. obteve naquela Apenso K mas sim, o reconhecimento
de um crédito a seu favor.
22. Os actos constitutivos do direito que o Recorrente apresentou nesta
Petição que originou os presentes autos poderiam ou não ter sido
anteriormente alegados na Reconvenção que apresentou no Apenso K,
mas, com o desentranhamento de tal peça processual, a mesma
necessariamente não pôde ser apreciada nem pôde produzir qualquer
efeito, isto é, não foi objecto de decisão de mérito.
23. E, se tais factos não puderam ser apreciados naquele Apenso K,
forçosamente devem ser apreciados no presente Apenso, através do
prosseguimento dos autos, pois o que aqui está em causa é o
reconhecimento de um crédito, e não um “ataque” ao alegado e dado
como provado naquele Apenso K.
24. Em síntese, o que a Recorrente pretende é sim o reconhecimento de
um crédito, decorrente de um incumprimento contratual e de actos
geradores de responsabilidade por parte da Construções Meira &
Rodrigues, Lda., absolutamente distintos daqueles que foram alegados,
e dados como provados, no Apenso K.
25. Decidiu mal o Tribunal ad quem quando concluiu que o aqui
Recorrente na acção anterior, não deduziu qualquer facto em sua
defesa, e que a alegação de todos os factos feita na sua petição inicial
desta acção (apenso Y), está precludida.
26. Isto porque, o Recorrente pretende fazer valer, com os presentes
autos, uma pretensão própria e autónoma, que poderia, mas não tem
necessariamente de ser invocada em sede de reconvenção.
27. O princípio da preclusão só deve, pois, operar relativamente à
matéria defensional, e, em matéria convencional, quanto muito,
quando o reconvinte queira conseguir, em seu benefício, o mesmo
efeito jurídico que o autor se propõe obter.
28. Através da presente acção, o que o ora Recorrente pretende é que
lhe seja reconhecido, e quantificado, um crédito.
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29. Daqui resulta que, com o prosseguimento dos presentes autos que
culmine numa decisão que conheça do mérito da causa, não corre este
Tribunal o risco de esvaziar a Decisão anteriormente proferida no
Apenso K.
30. Resulta que, nas duas causas em confronto, em cada um dos dois
Apensos acima mencionados, estamos em face de duas providências
jurisdicionais distintas, que apenas têm em comum o facto de ambos
darem como assente a existência do contrato de empreitada celebrado
entre o Recorrente e a Construções Meira & Rodrigues, Lda.
31. De facto, o crédito invocado pela Construções Meira & Rodrigues,
Lda., que lhe foi reconhecido na Sentença aí proferida, não
compromete nem é incompatível com o reconhecimento do crédito
pretendido pela Recorrente, através da Petição de Verificação Ulterior
de Créditos que originou o presente Apenso.
32. Até porque, do incumprimento contratual por parte de um dos
contraentes não resulta necessariamente a verificação do cumprimento
contratual de forma integral por parte do outro contraente, pois que,
podendo ambos incumprirem com o contrato de empreitada no qual
são contraentes.
33. Em suma, pode o dono da obra, Réu no Apenso K, ter incumprido
com o que estava obrigado por força daquele contrato de empreitada,
mas pode também o empreiteiro autor dessa obra, a empresa
Construções Meira & Rodrigues, Lda., ter também ele incumprido com
o que se obrigou naquele contrato de empreitada, até porque, as
obrigações que decorrem para um e para o outro, atenta a qualidade
que cada um assumiu naquele contrato, são distintas.
34. E, por força do incumprimento de um e de outro, são geradas
responsabilidades distintas para cada um deles, que podem coexistir
na mesma realidade.
35. Por último, deve o Tribunal procurar a justiça material, em
detrimento da justiça formal.
36. A Contestação / Reconvenção que o Recorrente apresentou naquele
Apenso K foi desentranhada por, ao fim de anos, se ter concluído que o
Recorrente não beneficiava de apoio judiciário aquando da
apresentação daquela peça processual.
37. A Sentença proferida naquele Apenso é sentença de condenação de
preceito, pois não conheceu do mérito da causa.
38. É manifestamente injusto e desproporcionado que, por não ter o
Recorrente deduzido Reconvenção naquele Apenso, pelas razões
elencadas, não o possa invocar os factos subjacentes a um pedido de
indemnização de incumprimento contratual ao contraente faltoso.
39. Ao decidir como decidiu, o Acórdão recorrido violou a lei quanto
aos artigos 564º al. c), 573º n 1, 577º, al. i), 576º nº 2, 580º nº 2 e 278º
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E diz-se que há caso julgado quando se repete uma causa, sendo que há
a “repetição da causa” quando há identidade de sujeitos, do pedido e
também da causa de pedir (cfr. art. 581.º/1 do CPC).
Identidade de sujeitos que reside no facto de as partes serem as mesmas
nas duas ações sob o ponto de vista da sua qualidade jurídica.
Identidade da causa de pedir que existe quando a pretensão deduzida
nas duas ações procede do mesmo facto jurídico, identidade que tem de
ser procurada na questão fundamental levantada nas duas ações, uma
vez que, tendo a nossa lei adotado a chamada teoria da substanciação,
se exige sempre a indicação do título ou facto jurídico em que se baseia
o direito do autor.
Identidade do pedido que tem de ser apreciada não só em relação ao
que se pede nas duas ações mas também em relação ao que se alega a
respeito da questão fundamental que comanda o pedido das ações.
E se, quanto à identidade de sujeitos, nenhumas especiais dificuldades
normalmente se suscitam, não é sempre com a mesma facilidade que se
percebe a identidade nos elementos objetivos (causa de pedir e pedido).
Assim, a propósito dos limites objetivos do caso julgado, desde há
muito que a conceção/sistema restrito do caso julgado se foi impondo
quer na doutrina quer na jurisprudência, ou seja, hoje, não é sustentável
dizer que qualquer fundamento fica pelo trânsito em julgado
indiscutível (sistema amplo do caso julgado), devendo antes ser dito,
como regra, que só a decisão tem foros de indiscutibilidade, sendo tudo
o mais (todos os seus fundamentos) discutível (sistema restrito).
Porém, o que se diz como regra (só ter a sentença força de caso julgado
na parte decisória e não nos motivos) é algo que não tem uma rigidez
absoluta, distinguindo-se, tendo como ponto de partida tal regra
(própria dum sistema restritivo puro), hipóteses em que os fundamentos
têm força de caso julgado e hipóteses em que não têm[5].
Verdadeiramente, hoje, em termos de limites objetivos do caso julgado,
impera a ideia pragmática do “in medio virtus”[6]: o sistema restritivo
adotado acaba por ser apenas “pseudo-restritivo” ou, mais exatamente,
um sistema intermédio.
Efetivamente, de modos diversas e com mais ou menos nuances (de
linguagem), diz-se repetidamente que a decisão e fundamentos
constituem um todo único; que toda a decisão é a conclusão de certos
pressupostos (de facto e de direito), pelo que o respetivo caso julgado
se encontra sempre referenciado a certos fundamentos; que reconhecer
que a decisão está abrangida pelo caso julgado não significa que ela
valha com esse valor, por si mesma e independentemente dos
respetivos fundamentos; enfim, que não é a decisão, enquanto
conclusão do silogismo judiciário que adquire o valor de caso julgado,
mas o próprio silogismo no seu todo; que o caso julgado incide sobre a
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Lisboa, 09/03/2021
António Barateiro Martins (Relator)
Ana Paula Boularot (Tem voto de conformidade da Conselheira
Adjunta Ana Paula Boularot, que não assina nos termos e ao abrigo do
artigo 15º-A do DL 10-A/2020, de 13.03, aditado pelo DL 20/2020, de
01.05)
Ricardo Costa (E tem voto de vencido do Conselheiro Adjunto Ricardo
Costa, conforme declaração de voto em anexo)
Sumário (art. 663º, nº 7, do CPC).
_____________________
DECLARAÇÃO DE VOTO
Após inversão do Relator por vencimento do projecto de Acórdão,
votei Vencido, pelas razões que exponho.
1. Na presente revista, identifica-se a seguinte questão recursiva em
face da decisão das instâncias: a procedência da absolvição da
instância dos Réus nesta acção de verificação ulterior de créditos da
insolvência (art. 146º, 1, CIRE), tramitada por apenso (Y) ao processo
de falência/insolvência, intentada por AA contra «Construções Meira
& Rodrigues, Lda.», declarada falida/insolvente com sentença
transitada em julgado, «Massa Falida da Construções Meira &
Rodrigues, Lda.» e todos os credores da «Massa Falida», pedindo o
reconhecimento de crédito sobre a massa falida/insolvente e a
respectiva graduação no lugar devido no montante de 152.500,00 €,
com os respectivos juros legais contabilizados até integral pagamento,
fundada na preclusão extraprocessual resultante de decisão judicial
transitada em julgado num outro apenso da insolvência (K) em que
foram partes o Autor e a Ré declarada insolvente, em que esta se
apresentou como Autora em acção declarativa sob a forma de processo
ordinário (enquanto empreiteira), fundada na “autoridade de caso
julgado” da sentença proferida nesse apenso K, em que se dispôs a
condenação do Réu ao pagamento do preço correspondente aos
trabalhos realizados no âmbito da execução de contrato de empreitada e
indemnização pelo seu incumprimento/falta de pagamento. Nesta
mesma acção – e este é o busílis central da questão submetida em
revista – foi apresentada uma Contestação e Reconvenção por parte do
Réu (dono da obra), aqui Autor na acção de verificação ulterior de
créditos, sendo que essa peça foi objecto de desentranhamento por falta
de pagamento da taxa de justiça devida, uma vez verificada a falta de
benefício de apoio judiciário, e decretada a prossecução dos autos
como se o Réu fosse revel, assim como a confissão dos factos
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das acções, que deseje ser autor e discutir a sua pretensão, atendendo
acima de tudo ao comando do art. 564º, c), do CPC: «Além de outros,
especialmente prescritos na lei, a citação produz os seguintes efeitos:
(…) Inibe o réu de propor contra o autor ação destinada à apreciação
da mesma questão jurídica». Razão esta que afasta uma ampliação
contra legem da concentração da defesa ao pedido reconvencional, pois
é a própria lei que impõe ao réu que avance com a reconvenção sob
pena de não poder reapreciar a pretensão coincidente com o autor,
emergente dos factos que basearam a acção precedente – seja em sede
de litispendência, seja em sede de caso julgado, de acordo com o
definido pelo art. 580º, 1, do CPC, e tendo por fim «evitar que o
tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou de reproduzir
uma decisão anterior» (n.º 2 do art. 580º do CPC).
Fora deste caso – e dos casos expressamente previstos na lei de
reconvenção com sanção preclusiva[14] –, a regra da facultatividade
da reconvenção (ou da liberdade da dedução da reconvenção) impõe-
se nas restantes alíneas do art. 266º, 2, do CPC e exclui a produção de
qualquer efeito do caso julgado material em favor do autor,
relativamente aos direitos que poderiam ter sido peticionados em sede
de reconvenção correspondente a anteriores acções[15].
Aliás, se configurarmos em termos de equiparação processual e
substancial a falta de reconvenção à improcedência do pedido
reconvencional, se fosse julgado (caso julgado negativo, referente à
injunção que o tribunal decreta em relação ao pedido, limitada pela
respectiva causa de pedir)[16], chegaremos à conclusão, por maioria de
razão, que, fora dessas situações de verdadeiro ónus, ao réu reconvinte
– ou potencialmente reconvinte – não pode ficar vedada a colocação do
pedido facultativo em falta, num primeiro momento, em outra acção,
num segundo momento, se não houve apreciação do pedido nem
colocação ao seu serviço da causa ou causas de pedir (mesmo que em
parte concorrentes com a causa de pedir do autor). Na verdade, se não
há efectiva contradição ou incompatibilidade da reconvenção, que
poderia ter sido feita e não foi – mesmo se por causa imputável ao
reconvinte[17] –, com o julgado relativo ao efeito jurídico dos factos
alegados pelo autor, não há efeito externo desse caso julgado que, no
âmbito dos seus limites objectivos, possa ser invocado para paralisar o
pedido feito em acção ulterior por “repetição de causa” (art. 580º, 1,
CPC). Não havendo estatuição sobre a pretensão que poderia ter sido
feita em sede de reconvenção, nada obsta à prolação de uma nova
decisão útil em outra nova acção, pois é o próprio art. 621º do CPC que
condiciona que «a sentença constitui caso julgado nos precisos limites e
termos em que julga»[18].
3. Aplicados os critérios adoptados à acção de verificação ulterior de
créditos instaurada pelo Autor AA contra a insolvente, a massa
insolvente e credores da insolvência, entendo que não há razão para se
ver na falta de reconvenção – como efeito processual do seu
desentranhamento por falta de pagamento da taxa de justiça devida – na
anterior acção de condenação de AA, réu-potencial reconvinte, a
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(…)
E sendo assim – é onde se pretende chegar – sendo a pretensão aqui
formulada pelo reclamante contraditória/contrastante com o pedido da
A/insolvente (na primeira ação) não podia o ora reclamante deixar de
a ter deduzido (a pretensão aqui formulada) na primeira ação, na
medida em que, mais tarde (agora), não poderá colocar em causa,
através desta ação autónoma, o resultado favorável (à insolvente)
alcançado no primeiro processo.
A invocação do cumprimento defeituoso do empreiteiro configura,
entre outras qualificações jurídicas, uma exceção que, mercê da
utilização da faculdade que é proporcionada pelo art. 428.º do C. Civil
(exceção de não cumprimento), suspende o cumprimento da prestação
principal (pagamento do preço) do dono da obra.
Tratando-se duma exceção, tinha a factualidade materializadora do
cumprimento defeituoso (do contrato de empreitada) e da exceção de
não cumprimento do art. 428.º do C. Civil, não há qualquer dúvida,
que ser deduzida na primeira ação e não o tendo sido – na medida em
que, como referimos, a sentença faz precludir todos os meios de defesa
do R., os concretamente deduzidos e os dedutíveis – ficou precludida,
para sempre, a invocação da exceção de não cumprimento.
Mas – é o ponto – também ficou precludido, face ao que estava
invocado e pedido na primitiva ação, o exercício dos contra direitos
alicerçados no “núcleo essencial” de tal cumprimento defeituoso,
ainda que tais contra direitos se tivessem que fazer valer por
reconvenção.”
Pois bem – em acrescento ao que já se aludiu.
Se aquilo que se indica como razão da identidade dos julgados se refere
à alegação exigível de excepções peremptórias defensivas (de natureza
extintiva, modificativa ou impeditiva do pedido) que deveriam estar no
quadro factual articulado na contestação, nomeadamente o art. 428º, 1,
do CCiv. (em conjugação com o art. 576º, 3, do CPC), tendo em vista
atacar o efeito jurídico pretendido pelo autor – recorde-se: pagamento
do preço da empreitada e responsabilidade indemnizatória pela falta
tempestiva do pagamento –, então estamos domiciliados fora do objeto
e âmbito do que é de sindicar em sede de ónus de reconvir; antes nos
encontramos no âmbito do que é preclusivo pela aplicação do art.
573º, 1, do CPC para a defesa enquanto réu. Ao invés, o que se discute
aqui e agora para o efeito preclusivo a atingir pela força do caso
julgado perante o réu reconvinte, posterior autor na presente acção
subsequente, é apenas e só, mas diferentemente, controlar o efeito
jurídico pretendido e obtido anteriormente pelo autor na acção
anterior e confrontá-lo com as pretensões, deduzidas ou dedutíveis, em
benefício do reconvinte nessa acção, transmutadas em pedidos por ele
feito na acção posterior, aquela que agora se aprecia e julga, na nova e
ulterior posição de autor, à luz do art. 266º, 2, d), do CPC. E não ao
abrigo de qualquer outras das hipóteses das alíneas a), b) e c), do art.
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termos em que julga: se a parte decaiu por não estar verificada uma
condição, por não ter decorrido um prazo ou por não ter sido praticado
determinado facto, a sentença não obsta a que o pedido se renove
quando a condição se verifique, o prazo se preencha ou o facto se
pratique». Ora: se a reconvenção de que tratamos na acção do apenso K
não chegou a ser considerada, por desentranhamento, em virtude da
falta de pagamento da taxa de justiça devida, não choca ver tal facto
como uma condição (mesmo que imprópria) não verificada, cominada
com a sanção do art. 570º, 6, do CPC, como facto responsável pelo
decaimento do pedido reconvencional e, por isso, facto promotor da
renovação do pedido em outra acção, nos termos – como já realçado –
desse mesmo art. 621º do CPC.
Ainda para mais quando, por tal efeito processual da falta de
contestação, o réu potencialmente reconvinte foi considerado revel e o
julgamento foi feito por adesão ao pedido do autor – agora e aqui Réu
–, sem que tenha sido judicialmente discutida a eventual pretensão do
réu potencialmente reconvinte, nem – aliás – as excepções que poderia
invocar (com a submissão ao regime do art. 91º, 2, do CPC). Nesse
alcance, há que sublinhar a inoponibilidade da falta de reconvenção
nessa acção, uma vez que a respectiva pretensão e os factos que a
poderiam substanciar não integraram o objecto da anterior acção cuja
decisão faria de caso julgado vinculativo[24]. Em termos simples, nem
sequer o que agora se preclude chegou a ser apreciado, verificado e
julgado anteriormente por um tribunal.
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O Relator Vencido
(Ricardo Costa)
_____________________
[1] V. FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, Direito processual civil, Volume I, 2.ª ed.,
Almedina, Coimbra, 2017, págs. 97-99.
[2] “Exceção e autoridade de caso julgado – algumas notas provisórias”, Julgar online, 2018, pág.
42.
Na mesma linha, v., entre outros, MARIA FRANÇA GOUVEIA, A causa de pedir na acção
declarativa, Almedina, Coimbra, 2004, págs. 399 e ss, 495-497 (“o efeito preclusivo abrangerá
todas as excepções peremptórias que poderiam ter sido alegadas para impedir o reconhecimento da
pretensão”), MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, “Preclusão e caso julgado”, Blog do IPPC, 2016,
https://blogippc.blogspot.com/2016/05/paper-199.html, págs. 2-3, FRANCISCO FERREIRA DE
ALMEIDA, Direito processual civil, Volume II, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 2019, págs. 718-719.
Elucidativo e exemplar, v. o Ac. do STJ de 6/12/2016, processo n.º 1129/09.5TBVRL-H.G1.S2,
Rel. FONSECA RAMOS, in www.dgsi.pt.
[3] “Ónus de reconvir e caso julgado – Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão de 5-9-2017”, RLJ
n.º 4024, Ano 150º, 2020, pág. 54.
[4] ANTUNES VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de processo civil,
2.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1985, pág. 323.
[5] JOSÉ LEBRE DE FREITAS, Introdução ao processo civil. Conceito e princípios gerais à luz
do novo Código, 4.ª ed., Gestlegal, Coimbra, 2017, págs. 158-159.
[6] ANTUNES VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de processo civil
cit., pág. 329.
[7] “Preclusão e ‘contrário contraditório’ – Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de
10.10.2012”, CDP n.º 41, 2013, págs. 26-27, sublinhado nosso; o processualista expressamente
exclui do âmbito do ónus de reconvir as situações de direito a benfeitorias e o da compensação,
disciplinados no art. 274º, 2, b), do CPC 1961 e agora acolhidos nas als. b) e c) (este com mais
explicitação) do art. 266º, 2, do CPC 2013, na sequência, aliás, do que expressara em “As formas
de composição da acção”, Estudos sobre o novo processo civil, 2.ª ed., Lex, Lisboa, 1997, pág.
284.
[8] Reconvenção e excepção no processo civil [O dilema da escolha entre a reconvenção e a
excepção e o problema da falta de exercício do direito de reconvir], Almedina, Coimbra, 2009,
págs. 421-422, 439 e ss, 458 e ss, 482. Favoráveis: ABRANTES GERALDES/PAULO
PIMENTA/LUÍS PIRES DE SOUSA, Código de Processo Civil anotado, Vol. I, Parte geral e
processo de declaração, Artigos 1.º a 702.º, Almedina, Coimbra, 2018, sub art. 266º, págs. 307-
308.
[9] Na jurisprudência do STJ, v., para a admissão do ónus de reconvenção, os Acs. de 10/10/2012,
processo n.º 1999/11.7TBGMR.G1.S1, Rel. ABRANTES GERALDES, 5/9/2017, processo n.º
6509/16.7T8PRT.P1.S1, Rel. JÚLIO GOMES, sempre in www.dgsi.pt, e de 6/2/2020, processo n.º
428.17.7T8FLG.A.P1.S1, Rel. JOÃO BERNARDO, in
https://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:STJ:2020:428.17.7T8FLG.A.P1.S1/.
[10] Dessa forma levando, na tese da processualista, a um “caso julgado implícito”, que atinge os
“pedidos que estejam numa relação de implicação necessária e em que a apreciação de uma das
pretensões determine inexoravelmente um certo juízo quanto à outra” – v. “A natureza processual
da tutela do terceiro adquirente de boa fé e a título oneroso. Excepção, reconvenção e eficácia
preclusiva do caso julgado”, O Direito, 2009, Ano 141.º, I, págs. 234, 236-237.
[11] Para este critério de delimitação do ónus de reconvir, sendo este aceite, v. o Ac. do STJ de
30/11/2017, processo n.º 3074/16.9T8STR.S1, Rel. ROSA TCHING, in www.dgsi.pt.
[12] Para este outro critério auxiliar, v. o Ac. do STJ de 10/10/2012, cit. nt. (9).
[13] “Um polvo chamado autoridade de caso julgado”, loc. cit., págs. 709-710, para quem nessa
situação se afigura certa a ideia de ónus de reconvir.
[14] V. FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, Direito processual civil, Volume II cit., págs.
168-169, MARIA JOSÉ CAPELO, “Ónus de reconvir e caso julgado”, loc. cit., págs. 56-57.
[15] V. MIGUEL MESQUITA, Reconvenção e excepção no processo civil… cit., págs. 477 e ss; na
jurisprudência superior, atente-se no Ac. do STJ de 13/7/2017, processo n.º 6471/12.5TBVNG-
B.P1.S1, Rel. TOMÉ GOMES, in https://www.stj.pt/wp-
content/uploads/2018/01/Civel_2017_07.pdf, pág. 47, ponto III. do Sumário.
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[16] V. RUI PINTO, “Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc. cit., págs. 43-44, em especial:
“Ao autor vencido não está vedado que repita o mesmo pedido, mas com diferentes causas de
pedir: o que transitou foi que pelo primeiro e concreto fundamento o autor não tem o direito que
alega, mas não transitou que ele não possa ter direito por qualquer outro fundamento fáctico não
deduzido. Por ex.: pedido o despejo de locado com fundamento em causa resolutiva do artigo
1083.º, n.º 2, al. a), CC, se o tribunal não decretar o despejo, é óbvio que o autor pode repetir o
pedido fundado noutros factos que consubstanciem outra causa resolutiva. Mas, não se poderá opor
ao autor um ónus de concentração de todos os fundamentos na dedução de um pedido, evitando-se
a multiplicação de ações por outros tantos fundamentos? A resposta é negativa: nada na lei
portuguesa o determina, nem constitui má fé processual, salvo quando redunda efetivamente
nalguma das categorias do artigo 542.º.”; em complemento, v. CASTRO MENDES, Limites
objectivos do caso julgado em processo civil, Edições Ática, Lisboa, 1974, págs. 176 e ss,
ANTUNES VARELA/J. MIGUEL BEZERRA/SAMPAIO E NORA, Manual de processo civil cit.,
págs. 710 e ss, 714 e ss, MARIANA FRANÇA GOUVEIRA, A causa de pedir… cit., págs. 499 e
ss, FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, Direito processual civil, volume II cit., págs. 712 e
ss. Na jurisprudência recente, v. o Ac. do STJ de 8/10/2019, processo n.º 998/17.0TBVRL.G1.S1,
Rel. MARIA JOÃO TOMÉ, in www.dgsi.pt.
[17] Pois essa imputabilidade não será de censurar à luz da liberdade de reconvenção padronizada
no art. 266º, 1, do CPC.
[18] FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, últ. ob. cit., págs. 715-716, 721.
[19] Sobre esta “identidade da causa de pedir”, essencialmente definida “através do facto principal
comum a ambas as contra-pretensões”, v. MARIANA FRANÇA GOUVEIA, A causa de pedir…
cit., pág. 270.
[20] Sobre o ponto, MIGUEL MESQUITA, Reconvenção e excepção no processo civil… cit., págs.
446 e ss.
[21] Ainda, desenvolvidamente, MIGUEL MESQUITA, Reconvenção e excepção no processo
civil… cit., págs. 460 e ss: “o caso julgado constituído sobre a sentença condenatória apenas afasta
o poder de operar, por via da compensação, a extinção do crédito do autor”, ou seja, perdendo o réu
“o poder de extinguir, com base no artigo 847.º do C.C., o crédito do autor”, sobrevivendo contudo
o crédito não compensado “à falta de invocação da compensação e contra o seu exercício através
de uma acção independente é incorrecto levantar o obstáculo do caso julgado”. Antes, v. CASTRO
MENDES, Limites objectivos… cit., págs. 192 e ss.
[22] Neste sentido, v. MARIA JOSÉ CAPELO, “Ónus de reconvir e caso julgado”, loc. cit., pág.
62; antes, v. o discurso de MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, “Preclusão e ‘contrário
contraditório’”, loc. cit., págs. 27-28.
[23] “Ónus de reconvir e caso julgado”, loc. cit., pág. 62.
[24] Para este ponto, v., elucidativamente, PAULA COSTA E SILVA, “A natureza processual da
tutela…”, loc. cit., págs. 235-236.
[25] Sobre o conceito, veja-se a afinação dogmática de MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA,
“Preclusão e caso julgado”, loc. cit., pág. 4: “a preclusão intraprocessual e a preclusão
extraprocessual não são duas modalidades alternativas da preclusão (no sentido de que a preclusão
é intraprocessual ou extraprocessual), mas duas manifestações sucessivas de uma mesma
preclusão: primeiro, verifica-se a preclusão da prática do acto num processo pendente; depois,
exactamente porque a prática do acto está precludida nesse processo, torna-se inadmissível a
prática do acto num outro processo. Portanto, a preclusão começa por ser intraprocessual e
transforma-se em extraprocessual quando se pretende realizar o acto num outro processo”.
[26] V. fundamentalmente (que seguimos na terminologia dogmática) MIGUEL TEIXEIRA DE
SOUSA, “O objecto da sentença e o caso julgado material (Estudo sobre a funcionalidade
processual)”, BMJ n.º 325, 1983, págs. 159-160, 171 e ss, em esp. 171-172, 175, 178-179, ID.,
“Prejudicialidade e limites objectivos do caso julgado”, RDES, 1977, págs. 305-308, ID.,
“Preclusão e ‘contrário contraditório’”, loc. cit., págs. 24-25, 28-29; LEBRE DE FREITAS,
“Providência cautelar: desistência do pedido, repetição e caso julgado”, Estudos sobre direito civil
e processo civil, Coimbra Editora, Coimbra, 2002, págs. 494-496, ID., “Um polvo chamado
autoridade de caso julgado”, ROA, 2019, págs. 691-693, 700-702; RUI PINTO, “Exceção e
autoridade de caso julgado…”, loc. cit., págs. 4-7, 17-19, 25 e ss (“efeito positivo externo”);
FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, Direito processual civil, Volume II cit., págs. 719 e ss.
[27] V., com jurisprudência relevante, RUI PINTO, “Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc.
cit., págs. 25 e ss (em conjugação com as págs. 10-12 [“estão abrangidos pelos efeitos do caso
julgado não somente os concretos titulares do direito ou bem litigioso que eram partes na causa à
data do trânsito em julgado da sentença (…), como, ainda, os seus transmissários ou sucessores
posteriores ao trânsito em julgado.”], 20-21); LEBRE DE FREITAS, “Um polvo chamado
autoridade de caso julgado”, loc. cit., pág. 700.
[28] V. MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, “Preclusão e caso julgado”, loc. cit., págs. 18-19 (o
caso julgado “destina-se a garantir que sobre uma questão há apenas uma decisão do tribunal” e,
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por isso, a sua doutrina “talvez devesse antes ser construída tomando como base a exclusão de uma
nova pronúncia do tribunal sobre a mesma questão ou sobre uma questão diferente, acentuando,
portanto, não tanto o carácter imutável da decisão proferida, mas mais o seu carácter único e
exaustivo”); JOSÉ LEBRE DE FREITAS, “Um polvo chamado autoridade de caso julgado”, loc.
cit., págs. 700-701.
[29] Não interessa abordar a condição objectiva “negativa”, em que a autoridade de caso julgado
opera em simetria com a exceção de caso julgado, “em qualquer configuração de uma causa que
não seja a de identidade com causa anterior; ou seja, supõe uma não repetição de causas. Se
houvesse uma repetição de causas, haveria, ipso facto, exceção de caso julgado” (RUI PINTO,
“Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc. cit., pág. 26).
[30] RUI PINTO, “Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc. cit., pág. 27.
[31] Para esta conclusão, no confronto de sentença de verificação de créditos reclamados, proferida
em apenso de “concurso de credores” à acção executiva (arts. 788º e ss do CPC), uma vez
declarados insolventes os executados, para efeitos de não se constituir como caso julgado material
nem dispor de autoridade de caso julgado relativamente à impugnação e verificação desses créditos
(como insolvenciais) no incidente de reclamação, verificação e graduação de créditos relativo ao
processo de insolvência, decisiva para o julgamento feito, v. o Ac. do STJ de 15/12/2020, processo
n.º 100/13.7TBVCD-B.P1.S1, Rel. RICARDO COSTA, in www.dgsi.pt.
[32] Aproveitamos aqui o Ac. do STJ de 27/9/2018, processo n.º 10248/16.0T8PRT.P1.S1, Rel.
TOMÉ GOMES, in www.dgsi.pt.
[33] V. RUI PINTO, “Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc. cit., págs. 28-30.
[34] Sobre o ponto, v. ainda RUI PINTO, “Exceção e autoridade de caso julgado…”, loc. cit., págs.
30 e ss.
__________________________________________________
[5] A dificuldade – como refere o Prof. Castro Mendes, in Limites Objetivos do Caso Julgado em
Processo Civil, pág. 121 e ss. – está “em estabelecer a distinção em bases científicas sem empurrar
a questão para uma casuísmo necessariamente arbitrário”.
[6] Efetivamente, a conceção/sistema restrito (da sentença só ter força de caso julgado na parte
decisiva e não nos fundamentos) leva a conclusões duvidosas e em última análise insatisfatórias
(como resulta dos inúmeros exemplos citados por Castro Mendes, obra citada, pág. 143).
[7] Seguimos de perto Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o Novo Processo Civil, pág. 578.
[8] Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o Novo Processo Civil, pág. 579/80.
[9] Aliás, a distinção – entre “factos” e “direito” – já encerra um modo hábil de entender o que são
“factos”, uma vez que, no processo, só assume a qualidade de “facto” o quid a que o “direito”
reconhece tal qualidade, ou seja, não há “factos” sem “direito”, o mesmo é dizer só há “factos de
direito”.
[10] O Prof. Antunes Varela – Manual de Processo, 1.ª ed., pág. 693 e ss. – parece ser um pouco
mais restritivo, na medida em que apenas diz que “é a resposta dada na sentença à pretensão do
A., delimitada em função da causa de pedir, que a lei pretende que seja respeitada através da força
e autoridade do caso julgado”; e que “a força do caso julgado não se estende, por conseguinte,
aos fundamentos da sentença, que no corpo desta se situam entre o relatório e a decisão final”;
porém, mais à frente não deixa de reconhecer que “reveste o maior interesse, para a delimitação
do caso julgado, a fixação do sentido e, sobretudo, do alcance dessa resposta contida na decisão
final”; e que “é ponto assente na doutrina que os fundamentos da sentença podem e devem ser
utilizados para fixar o sentido e alcance da decisão contida na parte final da sentença, coberta
pelo caso julgado”
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[14] E a indiscutibilidade não pode ser posta em causa invocando argumentos, factos ou razões que
o efeito preclusivo cobriu. - Prof. Castro Mendes, obra citada, pág. 186.
[15] A exceção do caso julgado encerra a vertente negativa, em ordem a evitar a repetição de
ações; a autoridade do caso julgado traduz a vertente positiva, no sentido de imposição externa da
decisão tomada.
[16] Se a exigisse não faria diferença com a exceção de caso julgado.
[17] Citado por Miguel Mesquita, in Reconvenção e Exceção em Processo Civil, pág. 437 e 426.
[18] In obra citada, pág. 429
[19] Daí que a expressão repetidamente utilizada seja “apenas” a de estarem “cobertas pelo caso
julgado”.
[22] Uma vez que o princípio da eventualidade (que tem como reflexo o princípio da preclusão) a
que o R. se encontra sujeito compreende as alegações subordinadas e o pedido reconvencional
pode ser subsidiário ou eventual.
[23] In obra citada, Pág 452/3.
[24] Bem vistas as coisas, nem “guardou”, sucedendo, isso sim, que não pagou a TJ devida pela
contestação/reconvenção então apresentada.
[25] O aqui reclamante, condenado a cumprir no primeiro processo, perde a possibilidade de vir a
afetar o conteúdo da sentença anteriormente transitada em julgado.
[26] Ou até para pedir a redução do preço, o que também pode ser feito por via de exceção.
[27] Voltar “à carga”, perdoe-se-nos a expressão, que é o que estes autos também representam, na
medida em que a presente reclamação é a repetição da contestação/reconvenção deduzida no
primeiro processo e que só ali não foi discutida/apreciada por razões imputáveis ao aqui
reclamante.
[28] Seguramente, todas as questões/exceções que condicionaram o mérito da decisão da primeira
ação.
[29] As contrapretensões do réu, intimamente conexionadas com a ação (v. g., no âmbito da relação
de liquidação dum mesmo concreto contrato), devem ser apreciadas no processo pendente.
[30] Na resposta à litispendência invocada, até referiu que reclamou por causa do “entendimento
muito restrito no que se reporta aos prazos de reclamação de créditos”, parecendo querer dizer
que apenas queria evitar não ser pago do crédito que lhe viesse a ser reconhecido no processo
pendente (o atual Apenso K).
[31] Efetivamente, é este o momento em que, a nosso ver, repete-se, ocorre o “efeito preclusivo” e
não o momento, anterior, em que o aqui reclamante ficou sem contestação/reconvenção, razão pela
qual continuamos a dizer que é o caso julgado que faz precludir os factos defensivos e os contra
direitos que o reclamante devia ter deduzido e não deduziu: basta pensar que, caso a ação do
apenso K fosse julgada improcedente, ficava o aqui reclamante “com margem de liberdade para
pôr em marcha a sua pretensão através de um processo independente” – cfr. Miguel Mesquita,
obra citada, pág, 447
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