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1Compilação das resoluções/tópicos de correção dos exames da FDUL que foram publicadas
com enunciado anexo, até ao ano letivo de 2021/2022 (exclusive);
1. No decurso de inquérito aberto por crime de violência doméstica – art. 152.º, n.º
1, al. a), e n.º 2, do Código Penal –, o Ministério Público apresenta Alberico
perante o Juiz de Instrução para primeiro interrogatório judicial de Arguido
detido. Findo o interrogatório, requer a sujeição do Arguido a obrigação de
permanência na habitação.
A medida de coação em causa está prevista no art. 202.º: art. 191.º, n.º 1. Alberico
já foi constituído arguido: arts. 192.º, n.º 1, e 58.º, n.º 1, al. b). Já há um processo
instaurado, visto que estamos na fase de inquérito: arts. 192.º, n.º 1, e 194.º, n.º 1.
Estão assim reunidas as condições gerais de aplicação de uma medida de coação.
O enunciado não dá informações suficientes que permitam saber se os pressupostos
gerais da aplicação de medidas de coação estão preenchidos. Assim, podemos abrir a
hipótese de isso acontecer; ou seja, pode partir-se do princípio de que pelo menos um
dos perigos referidos no artigo 204.º está verificado e que a prisão preventiva é uma
medida adequada, necessária e proporcional, atendendo ao propósito de evitar esse
perigo: art. 193.º. Estas exigências aparecem especialmente realçadas no caso da
prisão preventiva: n.º 2 e n.º 3 do mesmo artigo. Uma vez que estamos na fase de
inquérito, porém, o perigo em causa teria de ser o referido na al. a) ou o referido na
al. c) do art. 204.º, visto que a medida em causa é mais grave do que a requerida pelo
MP: art. 194.º, n.º 2 e n.º 3.
Podemos também presumir que estão verificados fortes indícios de que o Arguido
terá praticado o crime: art. 202.º, n.º 1, al. b).
Em abstrato, a aplicação da medida de prisão preventiva é também possível em
processo por crime de violência doméstica. Com efeito, este crime pode ser
considerado “criminalidade violenta”, como resulta do art. 1.º, al. j), pelo que a
aplicação é permitida pelo art. 202.º, n.º 1, al. b).
Em conclusão, na hipótese de estarem verificados os referidos pressupostos gerais,
o Juiz poderia aplicar a medida de prisão preventiva.
Seria valorada a referência à alteração do art. 194.º, n.º 2 e n.º 3, através da Lei n.º
20/2013, de 21-02, que tornou possível a aplicação de medida de coação mais grave
do que a promovida pelo Ministério Público e a alusão à discussão doutrinária em
torno desta alteração.
b. Supondo que a prisão preventiva foi mesmo decretada e que Alberico está
preso preventivamente há sete meses sem ter havido acusação, que pode
ele fazer? (1,5 valores)
Por aplicação do art. 215.º, n.º 1, al. a), e n.º 2, não tendo havido ainda acusação,
o prazo máximo de prisão preventiva seria de seis meses. Estando Alberico preso
preventivamente há sete meses, o prazo já foi excedido.
Na hipótese de a medida ter sido aplicada legalmente (v. resposta à questão 1.1.),
Alberico poderia apenas reagir por meio da providência de habeas corpus, nos
termos do art. 222.º, n.º 1, e n.º 2, al. c).
Alberico poderá ainda deduzir pedido de indemnização, nos termos dos arts. 225.º,
n.º 1 e n.º 2, al. b), e 226.º.
Se se tiver considerado na resposta à questão a. que a medida de coação não poderia
ser aplicada, por não estarem cumpridos os seus pressupostos gerais, o Arguido
poderá também requerer a revogação da medida, nos termos do art. 212.º, n.º 1, al.
a), e n.º 4.
Poderá ainda recorrer dessa decisão, nos termos do art. 219.º, n.º 1.
Seria valorada a resposta que destacasse o facto de o prazo máximo de duração deste
inquérito ser de 8 meses, por decorrência do art. 276.º, n.º 2, al. a), discutindo a partir
daí a possível desarticulação da solução legal face às necessidades do processo.
O artigo 89.º, n.º 6, ao remeter para o art. 1.º, als. i) a m), prevê a possibilidade de
uma segunda prorrogação do prazo de duração do segredo de justiça em casos de
processo por criminalidade violenta, o que, como se viu, abrange a presente situação.
Essa segunda prorrogação não poderá ultrapassar o limite do tempo “objetivamente
indispensável à conclusão da investigação”. Não há, porém, um limite temporal
expressamente previsto, ao contrário do que acontece em relação à primeira
prorrogação, para a qual se prevê o prazo máximo de três meses.
Uma vez que o Ministério Público requer a (segunda) prorrogação por sete meses,
cabe discutir se esse limite de três meses deve valer também aqui.
Pode defender-se uma resposta negativa, com base em argumentos como os
seguintes:
i) a lei nada diz sobre a existência de um prazo, ao contrário do que acontece
quando se refere a primeira prorrogação;
ii) a limitação através de um prazo máximo fixado em abstrato e a priori
parece ir contra o propósito declarado de conceder o tempo “objetivamente
indispensável à conclusão da investigação”;
iii) só deste modo se garantirá o respeito pelos interesses da investigação nos
processos mais complexos, dando-se também cumprimento à garantia
constitucional do segredo de justiça (art. 32.º, n.º 2, da CRP), que, de resto,
é instrumental relativamente àqueles interesses; uma atuação rigorosa
do Juiz de Instrução permitirá evitar a eternização do processo e, como
o segredo de justiça dificilmente será absoluto, os direitos de defesa do
Arguido não são (totalmente) sacrificados.
Esta foi a posição defendida pelo Supremo Tribunal de Justiça no seu ac. de
fixação de jurisprudência n.º 5/2010.
Em sentido contrário, pode defender-se, como faz o Prof. PAULO DE SOUSA
MENDES, que o limite de três meses vale também para a segunda prorrogação.
Sobretudo porque em 2010 – portanto, posteriormente ao referido ac. do STJ de
fixação de jurisprudência – os prazos máximos de duração do inquérito foram
alargados, atendendo-se aí especificamente a situações como as que possibilitam a
segunda prorrogação referida. Assim sendo, perde muita razão de ser a principal
preocupação invocada para defender a ilimitação desta segunda prorrogação.
Uma vez que se descobrem novos factos que não constavam da acusação, tendo
ainda outros factos que dela constavam ficado por demonstrar, estão assim em causa
problemas relativos ao objeto do processo.
O facto de as agressões também terem sido praticadas contra o filho é independente
da factualidade constante da acusação, pelo que a tomada de conhecimento daquele
facto novo vale como notícia do crime, devendo o Tribunal extrair certidão do processo
e comunicar esse facto ao Ministério Público, a quem caberá depois abrir o
inquérito, nos termos gerais (art. 262.º, n.º 2). Salvo se se entendesse tratar-se de um
caso de ofensas à integridade física praticadas contra a criança, pois nesse caso o
Ministério Público só teria legitimidade para promover o processo se fosse
deduzida queixa (art. 49.º e art. 143.º, n.º 2, do CP).
Relativamente às restantes alterações, elas envolvem factos novos (a conduta foi
praticada na presença do filho do casal), mas não totalmente, pois dizem ainda
respeito ao mesmo pedaço de vida que era objeto do processo. É preciso saber,
portanto, se há uma alteração substancial deste objeto.
Estas alterações não envolvem um agravamento dos limites máximos das sanções
aplicáveis, pois a disposição legal a aplicar é a mesma. O segmento do art. 152.º, n.º
2, convocado, no entanto, é outro, pois agora a punição é agravada pelo facto novo
referido e não por a conduta ter sido praticada no domicílio do casal (este facto
constava da acusação, mas ficou por provar). Deste modo, é preciso discutir se está
em causa um “crime diverso” para efeitos do art. 1.º, al. f).
Seguindo PAULO DE SOUSA MENDES, para casos próximos, pode entender-se
estar em causa um crime diverso e, como tal, uma alteração substancial do objecto
do processo, pelo que deverá aplicar-se o art. 359.º.
Não havendo acordo entre o Arguido, o MP e o Assistente em sentido contrário
(art.
359.º, n.º 3), não poderá continuar o julgamento com conhecimento dos factos novos.
Estes factos também não são autonomizáveis, pois não podem ser conhecidos noutro
processo sem violação do princípio ne bis in idem (art. 29.º, n.º 5, da CRP), não se
aplicando assim o disposto no art. 359.º, n.º 2. Por conseguinte, os factos teriam de
ser desconsiderados e o Arguido apenas poderia vir a ser condenado por violência
doméstica, nos termos do art. 152.º, n.º 1, na medida em que não se deu por provada
a circunstância agravante constante da acusação.
Seria valorada a discussão sobre as posições doutrinárias que tentam encontrar
soluções alternativas a esta para casos como o presente, em que a verdade material é
pelo menos parcialmente sacrificada.
123.º, do CPP.
Uma vez que a carta apreendida ainda se encontrava fechada, está em causa uma
apreensão de correspondência.
Nos termos do art. 179.º, n.º 1, a apreensão de correspondência tem de ser ordenada
ou autorizada por um Juiz, sob pena de nulidade. O enunciado não é claro sobre o
cumprimento do disposto nessa norma. Já é mais clara, porém, a violação do regime
da apreensão de correspondência quando se diz que a polícia abriu e leu
“imediatamente” a carta apreendida: nos termos dos arts. 179.º, n.º 3, e 252.º, n.º 1, a
correspondência tem de ser lida, em primeiro lugar, pelo Juiz. Excecionalmente, os
Órgãos de Polícia Criminal podem ser os primeiros a proceder à leitura, mas mesmo
aí tem de haver autorização pelo Juiz: art. 252.º, n.º 2.
Tendo sido infringido o disposto nestas normas, está em causa a violação de uma
proibição de prova, nos termos do artigo 126.º, n.º 3: “são [...] nulas, não podendo ser
utilizadas, as provas obtidas mediante intromissão [...] na correspondência”. Deste
modo, a carta não deveria ter sido utilizada como meio de prova.
A confissão integral e sem reservas tem, entre outros efeitos, o de se dar
imediatamente como provados os factos confessados, nos termos do art. 344.º, n.º 2,
al. a). A confissão feita por Alberico constituiria em teoria, portanto, meio de prova
válido para fundamentar a condenação. Deve discutir-se, contudo, se a valoração
dessa confissão não estaria impedida pelo efeito-à-distância da proibição de prova.
Ou seja, se a proibição de utilização da carta apreendida não se estenderia à
valoração da confissão. Uma vez que, aparentemente, Alberico confessou os factos
de livre vontade, este poderia ser um caso de exceção à regra do efeito-à-distância,
na medida em que o Arguido, com a sua conduta, parece vir “limpar a nódoa”
introduzida no processo com a violação da proibição de prova.
Arguidos. Haveria ainda que referir que pelo menos uma das circunstâncias
previstas no n.º 1 do art. 257.º do CPP teria de estar verificada. Não havendo
elementos no enunciado, ter-se-ia de ponderar a eventual aplicação das als. a) ou b)
do n.º 1 do art. 257.º do CPP.
Por fim, haveria que discutir se a emissão dos mandados de detenção fora de
flagrante delito satisfaria o princípio da proporcionalidade, tendo em conta a
finalidade pretendida, a saber: assegurar a presença dos Arguidos para primeiro
interrogatório judicial ou acautelar um dos perigos previstos no art. 204.º do CPP e
que só a detenção permitisse prevenir. Haveria que evidenciar por que razão a
realização das buscas nos diversos locais e em simultâneo, ademais com a notificação
aos Arguidos para comparecerem a primeiro interrogatório judicial, não seria
suficiente face ao perigo concreto.
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3. Admita que foi deduzida acusação contra os Arguidos pelos factos e crimes
suprarreferidos. Entre outras provas, a acusação sustenta-se em mensagens
de correio eletrónico trocadas entre os Arguidos, que demonstrariam a
atividade criminosa. O Arguido Abel considera que tais provas não
deveriam ser valoradas, dado que foram obtidas aquando da referida busca
domiciliária com apreensão do seu computador portátil, tendo o mesmo sido
forçado a fornecer a palavra-passe do respetivo equipamento. De que modo e
com que fundamento poderá Abel fazer valer a sua pretensão? (4 valores)
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4. Imagine que se apurou, durante o inquérito, que Berta não praticou os factos
que lhe foram imputados, tendo o MP arquivado o inquérito nesta parte.
Daniela, jornalista de investigação, durante a preparação de uma
reportagem, apurou novos elementos de prova que indiciam que a pessoa que
praticara os factos inicialmente imputados a Berta era um dos 20
trabalhadores da Escola de Condução X, sem, contudo, ter conseguido
proceder à sua identificação. Poderá Daniela constituir-se Assistente? Em
caso afirmativo, poderá reagir ao despacho de arquivamento? (4 valores)
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O Ministério Público (MP), após ouvir Bela, ordenou a sua libertação, não
validando a sua constituição como arguida, e veio a imputar a António a prática de
um crime de homicídio (p. e p. pelo art. 131.º do Código Penal).
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“São provas proibidas, pelo que não podem ser valoradas, a faca apreendida, bem
como, devido ao efeito à distância, o exame pericial subsequente de fls. 1511 dos
autos (em que se atesta que as impressões lofoscópicas encontradas no cabo da
faca e no corpo da vítima condizem com as do Arguido), porquanto:
ii) a apreensão da faca não foi realizada validamente porque essa diligência foi
realizada em casa habitada sem consentimento dos visados, não obstante a
apreensão ter sido validada por despacho do MP; e
Após conceder contraditório (32.º/5 e 20.º/4 da CRP) aos demais sujeitos processuais,
decidiria rejeitar o requerimento da defesa, por não lhe assistir qualquer razão, uma
vez que não haveria qualquer infração às regras de obtenção ou de produção de prova,
nem qualquer violação de proibições de prova (ficando prejudicada a questão do efeito
à distância).
Os OPC (1.º/c) e 55.º do CPP e 3.º da LOIC) mantêm todos os seus deveres em matéria
de medidas cautelares e de polícia, independentemente de se encontrarem ao serviço
no momento da atuação urgente. A competência para a investigação seria do MP
(263.º do CPP), a quem cabe a direção do inquérito, incluindo a prática de todos os
atos (267.º do CPP) que não estejam reservados ao JI (268.º e 269.º do CPP).
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O exame pericial era igualmente válido porque a ordem foi emanada pela AJ
competente no inquérito (172.º/1 do CPP), o MP. O Arguido, ao submeter-se à
recolha de impressões digitais, não pode agora invocar que tal careceria de despacho
do JI, o qual apenas seria necessário se o Arguido tivesse de ser compelido a prestar
tal meio de prova (172.º/2 do CPP). Deveria discutir-se o sentido de “ser compelido”:
se inclui a força física (adequada, necessária e proporcional) ou apenas a cominação
da pena de desobediência para o caso da recusa. Deveria ainda problematizar-se a
compatibilidade deste tipo de atuações com o princípio nemo tenetur se ipsum
accusare: atuações passivas, i.e., em que os elementos a recolher (impressão digital)
preexistem independentemente da vontade do visado e não carecem da sua
colaboração ou ato criativo/cultural, com discussão da jurisprudência relevante sobre
o tema desde o Ac. Saunders vs. UK do TEDH.
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Haveria que distinguir: quanto à parte dos factos novos, a sentença seria nula;
quanto à parte da qualificação jurídica adicionada (i.e., o crime de violação de
domicílio), não haveria qualquer invalidade, uma vez que:
• Os factos descritos na acusação já continham a entrada no apartamento de
Xavier, tratando-se de uma mera alteração da qualificação jurídica;
• Consequentemente, o tribunal teria cumprido com os trâmites impostos
legalmente (358.º/1, ex vi n.º 3 do mesmo preceito do CPP) ao ter comunicado
previamente a AQJ. O Arguido é que dispensou prazo para se pronunciar,
pelo que a sentença, quanto a esta parte, seria válida;
• Poderia discutir-se, de acordo com o TEDH no caso Drassich v. Itália, se se
justifica um direito de requerer prova suplementar também nos casos de AQJ.
Voltando à questão de facto: deveriam identificar-se os factos novos (utilizando os
critérios doutrinários e jurisprudenciais), os quais não eram totalmente
independentes, pelo que constituíam uma alteração de factos.
Haveria ASF: 1.º/f) do CPP: agravação da pena máxima, pois passaria de 16 para 25
anos de pena de prisão.
Não autonomizáveis: a premeditação só por si não constitui um crime autónomo.
Tratando-se de ASF, não autonomizáveis, o tribunal procedeu corretamente ao tê-la
comunicado aos sujeitos processuais (359.º/3 do CPP). Porém, não havendo acordo
para a continuação do processo pelo novo objeto, deveria discutir-se as soluções
doutrinárias e jurisprudenciais a que o tribunal poderia lançar mão em face do
disposto no 359.º/1 do CPP. Deveria aplicar-se uma solução e discutir-se as
alternativas.
O facto de o Arguido nada ter requerido e prescindido de prazo para rever a sua
estratégia de defesa não equivale a acordo. Nem parece proceder que possa haver
uma mera irregularidade, pois o facto de o tribunal a qualificar incorretamente como
alteração não substancial de factos não equivale à comunicação para efeitos de
acordo. E a manifestação de acordo perante uma ASF não autonomizáveis tem de ser
expressa.
Em caso algum, o tribunal deveria conhecer deste novo facto para condenar o
Arguido pela prática de um crime de homicídio qualificado, p. e p. pelo art. 132.º/1
e 2/j) do CP.
No limite só poderia condená-lo pelo objeto definido, neste caso concreto, na acusação
do MP (identificando-se o princípio da vinculação temática).
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Feita a busca, foi encontrado quase todo o produto do roubo, perante o espanto
de Xavier que afirmou não ter o código de acesso ao referido cofre, dado que o mesmo
até fora comprado por Abel que o deixara por uns breves dias naquele escritório.
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O Tribunal deveria, após o prévio exercício do contraditório por parte dos restantes
sujeitos processuais, e na falta de acordo de todos, rejeitar a promoção do MP, dado
que a mesma comportaria uma alteração substancial de factos não autonomizáveis,
pelo que não poderia ser tida em conta pelo Tribunal sob pena de violação do princípio
da vinculação temática.
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Não havendo acordo, e caso o Tribunal tivesse em conta a nova factualidade e viesse
até a condenar o Arguido com base na mesma, tal sentença seria nula. Trata-se de
uma nulidade, atípica, com regime próprio. Trata-se de uma nulidade (sanável) da
sentença, nos termos dos art.ºs 118.º, n.º 1, e 379.º, n.º 1, al. b), do CPP, cuja arguição
deve ter lugar por via de recurso ordinário, perante o Tribunal superior, no prazo de
30 ou de 20 dias, consoante haja ou não impugnação da prova gravada (art.ºs 399.º,
410.º, n.º 1, e 411.º, n.º 1, do CPP).
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1. Suponha que Ana foi acusada pelo MP de um crime de furto simples, nos
termos do artigo 203.º, n.º 1, do CP, sem que o proprietário do supermercado
se tenha constituído assistente no processo. Ana, todavia, entendia que
tinha praticado um crime de furto, nos termos dos artigos 202.º, alínea c),
203.º, n.º 1, e 207.º, n.º 2, do CP. Enquanto advogada/o de Ana, o que faria
para reagir contra o despacho de acusação? (5 valores)
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1, alínea a), do CPP. Neste âmbito deveriam ser discutidas as teses a favor e contra
e respetivos argumentos.
Note-se que mesmo para quem sustentar que o Arguido apenas pode deduzir RAI
por questões de direito que possam ser úteis (i.e., que conduzam a um despacho de
não pronúncia), também neste caso haveria legitimidade dado que seria alcançado
um despacho idêntico (i.e., um despacho que ponha fim ao processo, evitando-se
assim o julgamento), pelo que a contestação não seria o momento adequado para
levantar a questão.
Caso se pugnasse pela possibilidade de apresentação de RAI, deveria ser discutida a
eventual inadmissibilidade legal do procedimento, nomeadamente a circunstância
de, em virtude da AQJ, o MP deixar de ter poderes para, inexistindo constituição
como Assistente, proceder à investigação do referido crime, nos termos do artigo 50.º
do CPP, mais se salientando que deveria ter sido o Assistente, e não o MP, a
apresentar acusação particular, nos termos do artigo 285.º do CPP, e que aquele
apenas poderia ter acompanhado a acusação, segundo o artigo 285.º, n.º 4, do CPP.
Importa nomeadamente discutir se a AQJ, de crime semipúblico para particular,
afeta a validade do inquérito e da acusação pública, ou se apenas produz efeitos para
o futuro, questionando se faz sentido uma regressão do processo à fase anterior ao
inquérito e à acusação pública; ou se deve antes o ofendido ser notificado para,
desejando, pôr termo ao processo, através da desistência da queixa – não da acusação
particular, pois esta não foi apresentada (art. 51.º do CPP).
Dever-se-ia ainda questionar a possibilidade de a arguida requerer a abertura da
instrução para invocar a invalidade decorrente da ilegitimidade do MP num processo
por crime particular sem que tenha havido a constituição como Assistente e a
dedução de acusação particular por este. Seria de discutir se tal ilegitimidade, que
constitui um pressuposto processual, gera até uma nulidade insanável nos termos do
artigo 119.º, alínea b), do CPP. Uma invalidade que não depende de arguição, mas
que pode ser invocada a todo o tempo e constituindo o RAI um desses momentos
adequados.
Caso se pugnasse pela impossibilidade de apresentação de RAI, deveria o JI rejeitar
o requerimento por inadmissibilidade legal da instrução, devendo o processo
prosseguir para julgamento. Neste âmbito deverá ser valorizada a resposta que
referir que, avançando para julgamento, é questionável que o Juiz possa logo em
sede de saneamento (artigo 311.º do CPP) alterar a qualificação jurídica,
nomeadamente tomando em consideração o Acórdão de fixação de jurisprudência do
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STJ n.º 11/2013, sendo de referir o voto de vencido do conselheiro Manuel Joaquim
Braz. Porém, é de notar que a falta de legitimidade do MP corresponde à falta de um
pressuposto processual que é de conhecimento oficioso e que no saneamento o Juiz
deverá apreciar. Deste modo, e independentemente da AQJ quanto à natureza do
crime, poderia conhecer da referida questão, bem como da eventual invalidade
processual mencionada supra.
A busca domiciliária efetuada seria nula nos termos do artigo 32º, n.º 8, da CRP, e
artigo 126º, n.º 3, do CPP e, por conseguinte, sê-lo-ia também a apreensão efetuada,
não podendo a prova ser utilizada por ser proibida.
Em primeiro lugar, uma busca domiciliária só pode ser realizada quando existirem
indícios de que os objetos relacionados com o crime ou que possam servir de prova se
encontram em casa habitada ou numa sua dependência fechada.
A realização da busca domiciliária terá de cumprir os requisitos previstos no artigo
177.º do CPP. No caso, sendo o enunciado omisso quanto à existência de despacho
fundamentado que autorizasse as respetivas buscas, apenas poderiam ser efetuadas
caso fosse prestado consentimento, documentado, por parte do visado, nos termos do
artigo 177.º, n.º 3, alínea a) e 17.º, n.º 5, alínea b), do CPP, dado que se mostrava
respeitado o princípio da proporcionalidade, nos seus vários corolários ou vertentes
da necessidade, adequação e justa medida.
Deveria ainda referir-se que é pressuposto das buscas domiciliárias a existência de
indícios da prática do crime investigado. Ora, mesmo que não se exigisse o crivo dos
indícios suficientes como para a dedução de uma acusação (ou de uma medida de
diversão), sempre seria necessário demonstrar-se o nível da suspeita fundada (tal
como a jurisprudência tem vindo a reforçar). Neste caso concreto, não se conhece
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como poderia Edgar ser suspeito, nem, muito menos, como recairia sobre o mesmo
a suspeita fundada. Seria discutível a verificação deste pressuposto.
Quanto ao consentimento, não se encontrando o visado em casa, a mãe não poderia
consentir na realização de uma busca ao quarto do filho, uma vez que, a partir do
momento em que esse ato deixava de ter por objeto o quarto da mãe (ou mesmo os
espaços comuns) e passava a ter por objeto o espaço privado do filho, o visado passava
a ser este último. Assim, poderia ser dado consentimento para que a busca fosse
realizada nas áreas comuns ou no seu quarto, mas não ao quarto do seu filho.
A exigência de consentimento do visado, nos termos do artigo 174.º, n.º 5, alínea b),
do CPP, nada tem a ver com a tutela da propriedade, do domínio ou da titularidade
do domicílio, mas sim com a privacidade, a intimidade e a vida familiar, direitos de
personalidade que apenas cabe ao próprio exercer.
Por outro lado, o consentimento é necessariamente prévio à realização do ato, não se
confundindo com a mera ratificação de uma atuação já encetada, razão pela qual o
consentimento a posteriori não pode sanar o vício em causa.
Deveria identificar-se a nulidade da prova recolhida, nos termos dos artigos 178.º,
n.ºs 3 e 4. Mas neste caso prevalece a aplicação do regime mais severo das proibições
de prova, nos termos dos artigos 118.º, n.º 3, e 126.º, n.º 3, do CPP, com as respetivas
consequências. Um regime que comporta a proibição de produção e de valoração da
prova proibida, sendo apenas permitida a sua valoração para a responsabilização dos
agentes que utilizaram tal método proibido, nos termos do artigo 126.º, n.º 4, do CPP,
devendo em princípio ser desentranhada dos autos, não podendo ser repetida, sendo
de conhecimento oficioso e insanável mesmo para além do trânsito em julgado e
constituindo ademais fundamento de recurso extraordinário de revisão de sentença,
nos termos do artigo 449.º, n.º 1, alínea e), do CPP. Tal nulidade sui generis
decorrente de prova proibida comporta ainda o efeito à distância, i.e., a invalidade
da prova principal contaminaria (salvo alguma exceção) as eventuais provas
secundárias que com aquela estivessem numa relação de causalidade ou, na
terminologia da jurisprudência nacional, em que se estabeleça um “nexo de
dependência cronológica, lógica e valorativa”, através do chamado efeito à distância,
devido à teoria, originária na jurisprudência dos EUA, dos frutos da árvore
envenenada ou da sua congénere alemã teoria da nódoa ou da mancha, nos termos
do art. 32.º, n.º 8, da CRP e art. 122.º, n.º 1, do CPP, este último aplicável às proibições
de prova por raciocínio a fortiori.
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Todavia, com a AQJ efetuada pelo Tribunal, passava a ser competente o Tribunal
Coletivo, nos termos do artigo 14.º, n.º 2, alínea b), do CPP, uma vez que este crime
é punível com pena de prisão até 10 anos.
Discussão das teses aplicáveis a este caso quanto à competência: nomeadamente se
o Tribunal Singular se deverá declarar incompetente e remeter o processo para
Tribunal Coletivo; ou se será antes competente, mas não poderá aplicar pena
superior àquela que estava prevista para a qualificação jurídica inicial.
De todo o modo, conclui-se que o Tribunal Singular estava obrigado a comunicar a
alteração ao Arguido (não decorre do enunciado que o tenha feito), e que não o
poderia condenar numa pena de prisão de 6 anos e 6 meses, ao abrigo da segunda
tese referida, uma vez que não teria competência para o efeito, sendo a sentença nula
nos termos do artigo 379.º, n.º 1, alínea b), do CPP), podendo o Arguido invocar a
nulidade em sede de recurso ordinário e no prazo do mesmo, a saber: 30 dias (379.º,
n.º 2, 410.º, n.º 3, e 411.º, n.º 1, do CPP).
Por fim, a agente Paula conseguiu deter Abel pela prática, em concurso efetivo,
de dois crimes de ofensas corporais (um à agente Paula e outro a Bernardo – artigo
143.º e ss. do CP), de dano (artigo 212.º do CP), e de injúria (artigo 181.º e ss. do CP),
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Forma comum (salvo se algo, que não consta do enunciado, revelasse que a pena
concreta não deveria ser superior a 5 anos de acordo com um juízo de prognose)
Prioridade das formas especiais: nulidade dependente de arguição 120.º/2/a), sendo
a forma comum subsidiária
Exclusão de aplicação das formas especiais sumária e abreviada:
2 Artigo 40.º
Consumo
1 - Quem consumir ou, para o seu consumo, cultivar, adquirir ou detiver plantas,
substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas I a IV é punido com pena de prisão
até 3 meses ou com pena de multa até 30 dias.
2 - Se a quantidade de plantas, substâncias ou preparações cultivada, detida ou adquirida
pelo agente exceder a necessária para o consumo médio individual durante o período de 3
dias, a pena é de prisão até 1 ano ou de multa até 120 dias.
3 - No caso do n.º 1, se o agente for consumidor ocasional, pode ser dispensado de pena.
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Mesmo que não tivesse havido consentimento do visado, a prova seria válida, salvo
falta de autorização ou de validação pela autoridade judiciária competente
• Regime da busca (174.º/5/c) + 251/a)) e apreensão do computador (178.º/4 e
249.º/2/c)) encontrado na viatura: sujeitas a validação pela autoridade
judiciária competente (178.º/6 e 251.º/251.º/2), no caso o MP (263.º e 267.º) por
ser o dominus do inquérito e não se tratar de ato reservado ao JI (a contrario
sensu, 268.º e 269.º CPP)
• Quanto ao acesso ao conteúdo do computador nomeadamente quanto aos
ficheiros como aquele que está em causa:
o Apreciação do problema da privacidade digital
▪ Discussão sobre o âmbito de aplicação da privacidade em
ambiente digital
o Aplicação da LdCibercrime: âmbito extenso: art. 11.º/1/c)
▪ Pesquisa de dados: regime do art. 15.º
▪ A apreensão do ficheiro em concreto: art. 16.º
Um facto novo que não é totalmente independente, i.e., estranho ao objeto pendente:
trata-se do mesmo pedaço de vida que estava em apreço judicial (o Arguido detinha
uma quantidade de estupefacientes que agora se descobriu destinar-se a revenda);
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Havendo uma alteração de factos, a mesma seria substancial (ASF), dado que resulta
num agravamento da pena máxima abstratamente aplicável (passando de 1 ano para
5 anos de prisão de máximo), nos termos do art. 1.º/f);
Por fim, não seria autonomizável já que não seria possível conhecer daquela atuação
intencional do Arguido sem violar-se o non bis in idem:
No caso, o Juiz deveria proceder à comunicação dos factos novos aos sujeitos
processuais para efeitos de obtenção do seu acordo (art. 359.º/3)
Não havendo acordo (como parece que o Arguido se opõe à apreciação dos novos
factos), o tribunal não poderia validamente condenar o Arguido pelo novo crime (sob
pena de nulidade da sentença quanto a essa parte, ainda que dependente de arguição
em sede de recurso e no prazo do mesmo – arts. 379.º/1/b), n.º 2 e 410.º/3 e 411.º/1
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1. Luiz considera que Mário agiu motivado por um ódio pessoal à sua pessoa e
que deveria ter sido acusado pela prática do mesmo crime imputado no seu
processo (isto é, o crime de ofensa à integridade física simples) — razões pelas
quais discorda do teor da acusação deduzida no processo n.º 1/T9LX.
A resposta seria positiva, quer por apensação natural, quer por verificação dos
requisitos da conexão previstos legalmente.
Caso de conexão inscrito no artigo 24.º, n.º 1, alínea e), do Código de Processo Penal;
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b. O que poderia Luiz fazer com vista a evitar que Mário fosse julgado
pelo crime de ofensa à integridade física simples privilegiada? (4
valores)
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- Não seria um facto autonomizável porque esta lesão a Luiz não poderia ser
judicialmente apreciada sem se incorrer numa violação do princípio ne bis in idem,
uma vez que só há uma ofensa corporal (agora com maior gravidade, dada a sequela);
- Violação das regras de competência a pena cominada pelo artigo 144.º do Código
Penal não pode ser aplicada por Tribunal singular.
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Notícia é obtida através de declarações que foram prestadas face a uma promessa de
vantagem ilegal (artigo 32.º, n.º 8, da Constituição; artigo 126.º, n.ºs 1 e 2, alínea e),
do Código de Processo Penal):
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Uma vez que não tinha quaisquer rendimentos, Louise falsifica a assinatura
de Ricardo e consegue vender o automóvel a um terceiro. Ricardo dirige-se à PSP
e apresenta denúncia contra Louise, afirmando que esta se tinha apropriado do seu
automóvel.
3.A arguida Louise agiu conscientemente, bem sabendo que as suas condutas
eram proibidas por lei.
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Relativamente ao crime de furto qualificado, p. e p. nos arts. 203.º, n.º 1, 204.º, n.º 2,
al. a), e 202.º, al. b), do CP, não restam dúvidas de que Ricardo é titular do interesse
–do bem jurídico patrimonial propriedade –diretamente protegido por aquelas
normas, relativamente ao crime de furto contra si cometido. E isto
independentemente do conceito de ofendido adotado.
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Porém, o Ac. STJ 1/20033 veio fixar jurisprudência no sentido de que “no
procedimento criminal pelo crime de falsificação de documento, previsto e punido pela
alínea a) do n.º 1 do artigo 256.º do Código Penal, a pessoa cujo prejuízo seja visado
pelo agente tem legitimidade para se constituir Assistente.”
Veio, assim, o STJ afirmar que o vocábulo “especial”, contido na al. a), do n.º 2, do
art. 68.º do CPP, “não significa ‘exclusivo’, mas sim ‘particular’, e que um só tipo legal
pode proteger mais do que um bem jurídico, questão a resolver face, ao mesmo tempo,
ao caso concreto e ao recorte do tipo legal interessado”.
Ricardo poderia requerer a sua constituição como Assistente até 5 dias antes do
início da audiência de julgamento, nos termos do art. 68.º, n.º 3, al. a), devendo,
porém, fazê-lo, caso pretendesse deduzir acusação subordinada, no prazo de 10 dias
contados da notificação da acusação (arts. 68.º, n.º 3, al. b), e 284.º, n.º 1, do CPP) ou
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de 20 dias, caso pretendesse requerer a abertura de instrução (arts. 68.º, n.º 3, al. b),
e 287.º, n.º 1, al. b), do CPP.
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nomeação de intérprete no processo (de outra forma seria necessário que o Arguido
fosse notificado pessoalmente, por OPC, com a presença de intérprete, o que não só
é ineficiente em termos de economia processual, como não permite ao Arguido a
análise efetiva e ponderada da acusação, colocando-o numa situação de desvantagem
face ao Arguido que entenda a língua portuguesa)5.
Relativamente a este ponto, na falta de disposição que comine a falta esta tradução
como vício de nulidade, apenas poderemos estar perante o vício de irregularidade
(art. 118.º, n.º 2, do CPP), ou, muito discutivelmente, de inexistência6 ou ainda da
nulidade sanável nos termos do art. 120.º, n.º 3 al. c) do CPP7. Tratando-se de
irregularidade, pelos motivos já expostos quanto à função do ato em causa, sempre
se tratará de uma irregularidade que deve ser conhecida e declarada oficiosamente
a todo o tempo, por afetar o valor do ato em causa (art. 123.º, n.º 2, do CPP). O Juiz
poderia, pois, conhecer e declarar a irregularidade em causa, declarando a invalidade
da notificação da acusação à arguida e de todos os atos subsequentes (art. 123.º, n.º
1 e 2, do CPP). Quais as a consequências dessa declaração? Poderia o Juiz reparar a
irregularidade em causa, da forma indicada na hipótese? Dir-se-á que não, por dois
motivos: i) a declaração de invalidade tem por consequência a invalidade da remessa
dos autos ao tribunal de julgamento, devendo os mesmos regressar à fase de
inquérito, dirigida pelo MP, a quem compete realizar a notificação da acusação em
falta; ii) após a notificação da acusação, a arguida poderá ainda requerer a abertura
da fase de instrução, pelo que não faz sentido manter-se o processo em fase de
julgamento. Desta forma, deveria o Juiz em causa ter declarado a irregularidade da
notificação da acusação e dos atos subsequentes, determinando o reenvio dos autos
ao MP para notificação da acusação devidamente traduzida.
tratar-se de mera irregularidade –cfr. Ac. TRL, de 13.01.2021, Proc. n.º 13/18.6SILSB-F4-3
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8 Cf. a título de exemplo, o Ac. TRP, de 09.09.2009, Proc. n.º 596/08.9GNPRT.P1, 1.ª Secção,
http://www.trp.pt/incidentescrime/crime_596/08.9gnprt.p1.html.
9 Cf., em sentido contrário, o Ac.TRG de 19.01.2009, Proc. 1700/08-2. Deve, porém, atentar-
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o chão, Bento saiu pela porta que ambos tinham arrombado e desatou a correr.
Iniciou-se uma perseguição a pé pela fazenda, até que, a meio do milharal, Bento
desapareceu.
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⎯ Carlos deveria ter constituído Daniel como Arguido, seja por força da detenção,
seja mais tarde quando o interrogou, seja simplesmente por ter sido levantado auto
de ocorrência e por o mesmo lhe ter sido comunicado nos termos do disposto no artigo
58.º, n.º 1, alíneas a), c) e d), do CPP.
⎯ Tendo havido detenção, o Arguido teria de ser submetido a primeiro interrogatório
judicial ou não judicial de Arguido detido, nos termos dos artigos 141.º e 143.º do
CPP, e nunca a interrogatório por órgão de polícia criminal, nos
termos do artigo 144.º.
⎯ Carlos não poderia igualmente ter ameaçado Daniel para obtenção da prova, sob
pena de contaminá-la, nos termos do disposto nos artigos 32.º, n.º 8, da CRP e 126.º,
n.ºs 1 e 2, alíneas a) e d), do CPP. Trata-se de método absolutamente proibido de
prova, que se distingue dos métodos relativamente proibidos de prova, entre o mais,
por não ser sanável pelo consentimento e por não admitir previsão legal como meio
alternativo para a sua produção.
2. Admita que Bento foi indicado por Aníbal como testemunha na fase de inquérito
e que prestou depoimento nessa qualidade perante o órgão de polícia criminal.
Com o desenrolar da investigação, apurou-se finalmente que Bento estaria
igualmente envolvido na prática do crime investigado. Considerando que já
prestara depoimento, o Ministério Público prescindiu de o interrogar e proferiu
despacho de acusação contra Aníbal, Bento e Daniel pela prática, em coautoria,
de um crime de furto qualificado, p. e p. pelo artigo 204.º, n.º 1, alínea f), do Código
Penal, na forma tentada. Aprecie a acusação (4 valores).
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⎯ Caso seja defendida esta última solução, a nulidade deverá ser arguida no prazo
referido no artigo 120.º, n.º 3, alínea c), do CPP.
⎯ A proibição de prova é uma invalidade sui generis, que não carece de arguição, nem
se pode sanar (artigo 126.º, n.º 1, do Código de Processo Penal; referência ao disposto
nos artigos 118.º, n.º 3, e 449.º, n.º 1, alínea e), do CPP).
⎯ A circunstância de Daniel ter confessado apenas por crer que a primeira confissão
era válida convoca a discussão sobre as exceções ao efeito a distância da prova
proibida, designadamente as exceções da mácula dissipada e but for (cf. Acórdão n.º
198/2004 do Tribunal Constitucional sobre a nulidade das escutas e confissão). É
valorada a discussão crítica sobre o ac. TC.
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do Ministério Público, por parte deles ou por outros que não iMPortem alteração
substancial daqueles.
⎯ O aditamento de uma circunstância qualificativa e autónoma da infração poderá
configurar uma alteração substancial dos factos. Haveria que distinguir: o A
circunstância qualificativa respeitante ao valor da cortiça não parece iMPortar uma
alteração substancial dos factos (ASF), na medida em que não constitui um crime
diverso, nem uma alteração dos limites máximos da pena. Será, por isso, subsumível
no regime da alteração não substancial dos factos (ANSF), pelo que relativamente à
mesma, seria admissível a acusação subordinada. Consequentemente, a pronúncia,
quanto a esta parte, seria válida e não haveria lugar à aplicação do disposto no artigo
303.º, n.º 1, uma vez que não há alteração em relação aos factos vertidos na acusação
do Assistente.
• Já o aditamento da circunstância qualificativa prevista no artigo 204.º, n.º 2,
alínea e) (o arrombamento) importa uma ASF face aos descritos na acusação, nos
termos do disposto no artigo 1.º, alínea f), segunda parte. Trata-se de um facto
novo (pedaço de vida: arrombamento), não totalmente independente (é relativo
aquele mesmo furto), e de acordo com o critério quantitativo, implicaria uma ASF
por agravar os limites máximos das sanções aplicáveis.
• Tal ASF não seria autonomizável, na medida em que o eventual ilícito criminal
(v.g., o crime de dano) não pode ser valorado autonomamente sem violação do
princípio non bis in idem. Seria valorada a discussão sobre o critério aplicável e
a eventual solução alternativa.
• A acusação subordinada deveria ter sido rejeitada nesta parte, por ter sido
deduzida fora dos limites legais.
A ASF estará, por isso, sujeita ao regime do artigo 303.º, n.º 3, do CPP.
A decisão instrutória seria, quanto a esta parte, nula, nos termos do disposto no
artigo 309.º, n.º 1, do CPP, nulidade que deverá ser arguida perante o Juiz de
Instrução no prazo de 8 dias, nos termos do n.º 2.
⎯ Não tendo sido arguida tempestivamente, o vício sanar-se-á.
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