Enquanto Vitiza foi vivo, os auxílios por ele prestados a Julião permitem-lhe
resistir ao assédio dos muçulmanos, comandados por Mussa e Tarique. Com as
convulsões que em Espanha se seguem a seguir à morte de Vitiza, cessa a ajuda a Julião, e este negoceia com Mussa a sua submissão. Ora, ainda antes da eleição de Rodrigo, já, segundo, parece, os vitizianos tinham solicitado o apoio de Juilião, e até, possivelmente, o do próprio Tarique. Como quer que seja, a posterior aparente submissão dos vitizianos, frente a Rodrigo, devia ter por fonte a certeza de uma próxima intervenção muçulmana.
• Assim vai acontecer. Em 711, após uma primeira expedição,d e carácter
explorador, um exército de invasão, comandado por Tarique, passa o estreito e desembarca em Espanha. Rodrigo, que se encontrava no norte, em luta com uma revolta, dirige-se para sul, disposto a sair ao caminho do exército de Tarique que, entretanto, recebera reforços, nos quais, segundo parece, se achava Julião. O encontro dos dois exércitos vem a dar-se nas margens do rio Guadalete. Depois de alguns dias de batalha, a defecção dos irmãos de Vitiza terá apressado o completo desbarato do exército godo: Rodrigo morre no campo de luta e com ele a monarquia visigoda. Uma batalha decidiu a sorte do debilitado Estado. • Mussa e Tarique esquecem o motivo próximo da sua intervenção, e decidem fazer a conquista em nome próprio: em cerca de cinco anos, toda a península – com excepção das terras montanhosas do norte – está submetida ao poder muçulmano. Aos cinco anos de conquista muçulmana, vão corresponder mais de setecentos de Reconquista cristã. Assim, durante mais de sete séculos, há uma presença muçulmana na península, presença que, indubitavelmente, influencia as sociedades hispânicas: cristãos há que, até, abandonam o seu credo (renegados, muledies), enquanto outros só na cultura e no modo de viver se arabizam (moçárabes). Não se exagere, no entanto, esta influência muçulmana. O muçulmano, nesses séculos de presença, nunca deixou de ser o invasor que urgia repelir. E, para alem de invasor, o muçulmano é, ainda, o inimigo religioso: a guerra entre cristãos e muçulmanos é uma guerra religiosa. Tudo isto é factor impeditivo da obra de plena fusão do hispânico com o muçulmano.