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DOCÊNCIA EM

CLÍNICA CIRÚRGICA
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ANIMAIS
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Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167
Portal Educação

P842c Clínica cirurgica em pequenos animais / Portal Educação. - Campo Grande:


Portal Educação, 2012.

283p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-279-4

1. Cirurgia veterinária. 2. Cirurgia – Pequenos animais. I. Portal Educação.


II. Título.

CDD 636.0897
SUMÁRIO

1 MATERIAL CIRÚRGICO............................................................................................................7

1.1 Arrumação da mesa de cirurgia ..............................................................................................7


2
1.2 Instrumentos Cirúrgicos ..........................................................................................................8

1.3 Fios de Sutura..........................................................................................................................18

2 AVALIAÇÃO, PREPARAÇÃO E ANESTESIAS .......................................................................24

2.1 Avaliação do paciente .............................................................................................................24

2.2 Preparação do paciente ..........................................................................................................25

2.3 Programa para o procedimento anestésico ..........................................................................26

2.4 Procedimentos antes da anestesia ........................................................................................26

2.5 Monitorização do paciente durante a anestesia .................................................................. 27

2.6 Parâmetros monitorizados habitualmente e causas potenciais de respostas


anormais .............................................................................................................................................28

2.7 Técnicas, Anestésicos em Felinos e Caninos.......................................................................29

3 INFECÇÕES CIRÚRGICAS ......................................................................................................53

3.1 Controle da infecção ...............................................................................................................53

3.2 Classificação da possibilidade de infecção intraoperatória ................................................57

3.3 Fatores da ferida podem influenciar as infecções................................................................57

4 CICATRIZAÇÃO .......................................................................................................................59

4.1 Conceitos Gerais .....................................................................................................................59

4.2 Fases da Cicatrização .............................................................................................................59

4.3 Tipos de cicatrização ..............................................................................................................60

4.4 Tecido de granulação ..............................................................................................................61

4.5 Fatores de crescimento importantes na cicatrização ..........................................................62


4.6 Fatores que afetam a cicatrização .........................................................................................62

4.7 Fatores que podem ser controlados pelo cirurgião .............................................................63

4.8 Conceitos importantes ............................................................................................................63

5 ANTIBIOTICOTERAPIA............................................................................................................65

6 CIRURGIAS ESTÉTICAS MUTILANTES EM PEQUENOS ANIMAIS ......................................67


3
6.1 Caudectomia ............................................................................................................................67

6.2 Conchectomia ..........................................................................................................................69

6.3 Otohematoma ..........................................................................................................................71

6.4 Entrópio ....................................................................................................................................73

6.5 Ectrópio ....................................................................................................................................76

7 APARELHO REPRODUTOR FEMININO ..................................................................................78

7.1 Ovário-histerectomia ...............................................................................................................78

7.2 Piometra ...................................................................................................................................85

7.3 Hiperplasia Vaginal..................................................................................................................89

7.4 Neoplasias da glândula mamária ...........................................................................................92

8 APARELHO REPRODUTOR MASCULINO ............................................................................102

8.1 Orquiectomia ..........................................................................................................................102

8.2 Criptorquidismo ..................................................................................................................... 105

8.3 Tratamento Cirúrgico da Prostatopatia ............................................................................... 107

9 SISTEMA URINÁRIO ...............................................................................................................113

9.1 Cálculos na bexiga .................................................................................................................113

9.2 Hidropropulsão retrógrada ....................................................................................................115

9.3 Cistotomia ...............................................................................................................................115

9.4 Uretrostomia ...........................................................................................................................119

9.5 Tratamento da Obstrução Uretral no Gato .......................................................................... 126

10 HÉRNIAS .................................................................................................................................132
10.1 Considerações gerais ............................................................................................................132

10. Hérnia umbilical ......................................................................................................................134

10.3 Hérnia inguinal ........................................................................................................................137

10.4 Hérnia diafragmática ..............................................................................................................142

10.5 Hérnia perineal ........................................................................................................................149


4
11 PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS .............................................................................................. 162

11.1 Ostectomia ou ablação da cabeça e colofemoral ................................................................162

11.2 Luxação patelar ......................................................................................................................162

11.3 Osteocondrite dissecante ......................................................................................................172

12 EMERGÊNCIAS OFTÁLMICAS...............................................................................................176

12.1 Trauma Ocular em Cães e Gatos.......................................................................................... 176

12.2 Enucleação do globo ocular ..................................................................................................180

13 APARELHO REPRODUTOR FEMININO .................................................................................184

13.1 Parto Distócico .......................................................................................................................184

13.2 Cesarianas ..............................................................................................................................193

14 EMERGÊNCIAS GASTROINTESTINAIS ................................................................................201

14.1 Vólvulo Gástrico .................................................................................................................... 201

14.2 Corpo estranho Linear .......................................................................................................... 209

15 ESPLENECTOMIA ...................................................................................................................213

16 TÓRAX .....................................................................................................................................217

16.1 Pneumotórax.......................................................................................................................... 217

16.2 Toracocentese ........................................................................................................................220

17 PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS ...............................................................................................223

17.1 Fraturas ...................................................................................................................................223

18 VIDEOCIRURGIA .....................................................................................................................237
18.1 Definição .................................................................................................................................237

18.2 Introdução ...............................................................................................................................237

18.3 Indicações ...............................................................................................................................238

19 TRANSPLANTE RENAL..........................................................................................................246

19.1 Indicações para transplante renal ........................................................................................ 246


5
19.2 Candidatos para transplante renal ....................................................................................... 247

19.3 Pré-operatório .........................................................................................................................248

19.4 Exames pré-operatórios.........................................................................................................249

19.5 Seleção do Doador ................................................................................................................ 250

19.6 Receptor ..................................................................................................................................251

19.7 Protocolo Anestésico .............................................................................................................252

19.8 Técnica cirúrgica ....................................................................................................................252

19.9 Pós-operatório ....................................................................................................................... 259

20 PRÓTESE TOTAL DE QUADRIL ............................................................................................261

20.1 Particularidades ..................................................................................................................... 261

20.2 Vantagens na substituição da articulação coxofemoral .....................................................262

20.3 Objetivo ...................................................................................................................................262

20.4 Cão candidato ........................................................................................................................ 262

20.5 Prótese ....................................................................................................................................263

20.6 Treinamento da equipe cirúrgica ......................................................................................... 265

20.7 Indicações ...............................................................................................................................265

20.8 Contraindicação .....................................................................................................................266

20.9 Preparação do animal ............................................................................................................266

20.10 Pré-operatório .........................................................................................................................266

20.11 Anestesia.................................................................................................................................267

20.12 Acesso cirúrgico ....................................................................................................................267


20.13 Técnica cirúrgica ....................................................................................................................269

20.14 Tempo cirúrgico .....................................................................................................................272

20.15 Pós-operatório ........................................................................................................................272

20.16 Avaliação pós-operatória .......................................................................................................273

20.17 Complicações .........................................................................................................................273


6
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 275

ANEXO I .............................................................................................................................................282
1 MATERIAL CIRÚRGICO

1.1 Arrumação da mesa de cirurgia

Para arrumação básica de uma mesa cirúrgica devem estar presentes materiais
cirúrgicos previamente autoclavados e dispostos de forma sequencial obedecendo à ordem de
necessidade para um procedimento cirúrgico, ou seja, dispostos da esquerda para direita e de
cima para baixo da seguinte forma: corte, hemostasia, síntese e acessórios, podendo haver
algumas modificações nesta disposição.

1- Corte - Lâmina de bisturi, cabo de bisturi, tesouras cirúrgicas de Metzenbaum ponta


fina-fina e ponta romba-romba.

2 - Hemostasia - pinças hemostáticas mosquito de Hausted, pinça hemostática de


Kelly, pinça crile e pinça hemostática de Ochsner reta.

3 – Síntese – porta agulhas e fio de sutura

4 – Auxiliares – compressas de algodão, cuba para colocação de iodo povidona, pinças


Backaus, afastador de Farabeuf e pinças Allis.
8

Fig.1 – Arrumação do material a ser usado na cirurgia.

1.2 Instrumentos Cirúrgicos

A seguir será descrito de forma simplificada características dos instrumentos cirúrgicos


mais comumente utilizados na clínica médica e cirúrgica de pequenos animais.

1- Cabos e Lâminas de Bisturis

Encontram-se disponíveis cabos de bisturis com lâminas destacáveis ou na forma de


unidades descartáveis com lâminas acopladas. O cabo nº 3 e 4 de Bard-Parker pode receber
várias lâminas.

O cuidado é essencial ao se acoplar ou remover as lâminas desses cabos. Com o


tempo, a corrosão pode alterar a ranhura que permite que as lâminas deslizem e se acoplem. As
lâminas podem grudar e não deslizar facilmente, e os dedos do cirurgião podem ficar
profundamente lacerados. Embora a utilização de porta-agulhas possa impedir o
escorregamento, as lâminas podem se quebrar se forem forçadas.
A
B

Fonte: arquivo pessoal. Fig. 2 - A – diferentes tamanhos de cabos de bisturi número; B - modo correto da
empunhadura do Bisturi em contato com o tecido no momento de incisá-lo. 9

Tesouras

Encontram-se disponíveis muitos tipos, tamanhos e formas diferentes de tesouras


cirúrgicas para todas as aplicações. A maioria é classificada pela configuração de suas
extremidades. As tesouras devem ser conferidas regularmente para se certificar que estejam
funcionando apropriadamente.

As tesouras cirúrgicas de Mayo e dissecadoras de Metzenbaum, que não cortam


adequadamente nas extremidades de suas lâminas, podem frustrar o uso, bem como traumatizar
excessivamente o tecido. As lâminas devem deslizar facilmente, indicando uma tensão
apropriada do cabo e lâminas lisas e apropriadamente encaixada.

Todas as tesouras cirúrgicas de Mayo e de Metzenbaum devem ser capazes de cortar


quatro camadas de gaze na extremidade das lâminas. As tesouras menores com menos de 10
cm de comprimento devem cortar pelo menos duas camadas. A ação deve ser firme, mas não
muito frouxa ou muito rigorosa. As extremidades devem se encontrar quando a tesoura estiver
fechada.

As tesouras devem ser utilizadas para seu propósito pretendido. Se as tesouras


dissecadoras (tais como as de Metzenbaum finas) forem utilizadas para cortar suturas fortes (tais
como o categute cromado), as lâminas ficarão cegas, frouxas e separadas. As tesouras perderão
sua efetividade. Uma tesoura de Mayo reta e forte de 15 cm deve ser destinada como tesoura de
corte de sutura em todas as caixas de cirurgia (Fig. 3).
B

Fonte: arquivo pessoal. Fig.3 – A -Tesouras de Mayo com diferentes tipos de ponta: à esquerda ponta romba e fina 10
à direita; B- Modo correto de segurar a tesoura.

A tesoura dissecadora de Mayo (Fig. 3) encontra-se disponível em comprimentos que


variam de 13,75 a 22,5cm, em configurações curvas ou retas. A Mayo é uma tesoura forte, que
pode ser utilizada para a dissecção do tecido conjuntivo e dos planos faciais resistentes.

A tesoura dissecadora de Metzenbaum (Fig. 4) é mais delicada e deve ser reservada


para uma dissecção mais fina e um trabalho mais complicado. Por exemplo, é inapropriado o uso
de uma Metzenbaum fina para abrir a linha alba.

Fonte: arquivo pessoal. Fig.4. Tesouras de Mayo e Metzembaun.

Pinças Hemostáticas
A danificação de uma pinça de alta qualidade é mais frequentemente o resultado direto
de maus-tratos. À medida que a superfície de apreensão da pinça fica sobrecarregada, as suas
lâminas se tornam desalinhadas e a tensão nos cabos diminui, impedindo que o instrumento
segure o tecido firmemente. A atividade excessiva no pino também causa um desalinhamento
das lâminas. O uso contínuo do instrumento acelera a deterioração e leva á quebra.

As pinças teciduais e hemostáticas podem ser conferidas quanto ao alinhamento das 11


lâminas, a tensão dos cabos e o uso da catraca. O exame visual do instrumento em uma posição
próxima pode revelar uma sobreposição de lâminas ou um não-encaixe nos dentes de
apreensão.

A pinça hemostática mosquito de Halsted (Fig.5) se encontra disponível nos


comprimentos delicado de 8,75cm e padrão de 12,5cm, com lâminas curvas ou retas. O uso
primário desses instrumentos é no controle de pontos de hemorragia. Esses instrumentos são
muito delicados para a ligação de cotos ou pedículos maiores, nos quais frequentemente se
inclui um tecido adicional na ligadura. Se um mosquito estiver em boa condição de trabalho e for
utilizada apropriadamente para o propósito correto (somente para pontos de hemorragia), essa
força de apreensão extra não deve ser necessária.

Fonte: arquivo pessoal

Fig. 5. Pinça mosquito curva e reta


As pinças hemostáticas de Kelly e Crile (Fig.6) são semelhantes em designer e uso.
São mais fortes que as pinças mosquito de Halsted e podem suportar um uso mais agressivo.
Os instrumentos possuem 13,75cm de comprimento e apresentam lâminas retas ou curvas. A
Kelly apresenta ranhuras transversais na metade distal da sua superfície de apreensão,
enquanto que a Crile apresenta ranhuras transversais por toda a superfície de sua lâmina.

12

Fonte: arquivo pessoal

Fig.6- Pinça de Kelly

Pinças teciduais

Encontram-se disponíveis pinças teciduais de vários tamanhos e formas para vários


usos. Muitas têm encontrado um uso extenso na cirurgia de pequenos animais. A popular pinça
tecidual de Allis apresenta um plano de apreensão perpendicular à direção do esforço. Encontra-
se disponível em comprimentos de 15 a 25cm (Fig.7 e 8), e o número de dentes presente na
superfície de apreensão do instrumento também varia. Como a pinça tecidual de Allis é forte, ela
pode ser traumatizante para o tecido e deve ser aplicada somente em tecido conjuntivo ou
planos faciais. Nunca deve ser utilizada na pele ou para segurar órgãos ocos, tais como o
estômago.

Fig.7 e 8 – Pinça de Allis para tecidos


Fig.9 – Pinça de Babcock para uso em tecidos. Fonte: arquivo pessoal.
13

A pinça intestinal de Doyen (Fig.10) é construída com lâminas finas e curvas. As


extremidades das lâminas se encontram quando se prende o primeiro dente da catraca, dando
ao instrumento uma apreensão delicada e não-traumatizante. As ranhuras na superfície de
apreensão são geralmente longitudinais. O instrumento se encontra disponível nos
comprimentos de 16,25 a 22,5cm. A Doyen é mais frequentemente utilizada na cirurgia do
estômago (gastrectomia distal) e pode ser utilizada em ressecções intestinais.

Disponível em: <www.gooogle.com.br>. Acesso em: 12 dez.2006.

Fig.10-pinça Doyen

Pinças de Polegar
As pinças de polegar são assim denominadas por serem geralmente seguras entre o
polegar e o primeiro dedo. São usadas para várias tarefas envolvendo trabalho delicado.

A pinça tecidual de Adson é provavelmente a mais comum das pinças de polegar


utilizadas na cirurgia veterinária. A extremidade em dente-de-rato (l x 2) na lâmina proporciona
uma apreensão segura, porém delicada, nos tecidos. Ela é apropriada para o uso na sutura de
pele e de planos faciais (Fig.11 e 12). 14

Embora as pinças de polegar não sejam construídas para prender agulhas de sutura,
muitos cirurgiões, ao passar uma agulha através de um tecido com um porta-agulhas, prendem a
extremidade da agulha com pinças de polegar para puxá-la o resto do trajeto através do tecido.
A configuração em dente-de-rato da pinça de Adson não permite uma superfície de apreensão
segura e frequentemente leva à danificação do instrumento.

Fig.11 Pinça dente de rato. Fig.12-modo correto de segurar a pinça

Fonte: arquivo pessoal

Pinças de Campo

As pinças de campo são projetadas para prender panos à pele. Como as extremidades
de uma pinça de campo penetram realmente na pele, elas devem ser afiadas e sem rebarbas ou
lascas. As pinças de campo também são usadas para prender tubos de sucção, cabos de
eletrocautérios e cabos de equipamentos de força aos panos.
As pinças de campo de Backaus (Fig.13) de 8,75cm e de 13.75cm são utilizadas mais
frequentemente em cirurgia veterinária.

15

Fonte arquivo pessoal

Fig. 13 - Pinças de Campo Backaus.

Porta-agulhas

Nenhum instrumento cirúrgico recebe maior uso ou maus-tratos que o porta-agulha. É


o único instrumento envolvido em contato metal com metal constante. Além de serem utilizados,
de forma indevida, para torcer e dobrar pinos ou até para tartarectomia.

Para verificar se está precisando de reparo, testar quanto ao desalinhamento ou uso,


escolha uma agulha de tamanho apropriado e aperte-a nas lâminas do instrumento. Feche o
porta-agulhas no segundo dente da catraca. Caso possa rodar manualmente a agulha,
necessita-se de reparo. Um porta-agulhas deve ser capaz de segurar a agulha quando fechado
no primeiro dente da catraca. Inspecione também a borda da superfície de apreensão. À medida
que é usada, a borda se torna afiada e pode cortar o material de sutura enquanto usado como
instrumento para dar nós.

O Mayo Hegar (Fig. 14) é o porta-agulha mais comumente utilizado na cirurgia


veterinária. Encontra-se disponível em muitos tamanhos, variando de 12,5 a 30cm de
comprimento. Os porta-agulhas menores são mais apropriados para a cirurgia de pequenos
animais. Deve-se escolher uma agulha de tamanho apropriado para o porta-agulha. Uma agulha
muito grande para um porta-agulha delicado pode resultar na quebra ou na danificação do pino
ou do cabo se o instrumento estiver firmemente fechado. Os porta-agulhas grandes podem
danificar as agulhas pequenas e são frequentemente difíceis de controlar e de manusear quando
realizam suturas delicadas.

16

Fig.14- Porta-agulhas de Mayo.

Afastadores

Encontram-se disponíveis muitos tipos de afastadores de campo ou retratores. Eles


funcionam no sentido de afastar os tecidos para que o cirurgião possa visualizar mais
adequadamente o campo cirúrgico. A útil classificação dos afastadores utilizada por muitos
fabricantes consiste em digitais, manuais e autoajustáveis. Os afastadores digitais e manuais
não são vantajosos na cirurgia veterinária, pois se exige um assistente para afastar
manualmente o tecido para segurar o afastador. Em muitas salas de operação veterinárias não
se encontram disponíveis assistentes cirúrgicos adicionais.

Afastadores Digitais

O afastador de Farabeuf (Fig. 15) possui lâminas chatas e mais profundas em ambas
as extremidades. Eles permitem o afastamento de mais tecido em orifícios mais profundos.
17
Fonte arquivo pessoal.

Fig. 15– Afastador de Farabeuf

Afastadores Autoajustáveis

O cirurgião que opera sozinho ou que realiza um extenso trabalho abdominal ou


torácico tem que confiar fortemente em afastadores autoajustáveis. Esses instrumentos
cirúrgicos possuem vários mecanismos de trava que mantêm as lâminas e as hastes abertas
enquanto estão sendo empregados, eliminando a necessidade de um assistente para segurar o
afastador.

O afastador de Weitlaner (Fig. 16) se encontra disponível em mais tamanhos (10 a


23,75cm). As pontas múltiplas (2 x 3 ou 3 x 4) na lâmina podem ser pontudas ou cegas. Também
se encontra disponível um Weitlaner de lâmina sólida. Ambos os afastadores possuem
mecanismos de trava de apreensão para manter as lâminas na posição de afastamento.

A cirurgia abdominal requer um afastamento da parede abdominal para uma


visualização adequada durante a mesma. O afastamento manual é muito cansativo e o Gelpi e o
Weitlaner são inadequados e pesados, mas o afastador abdominal autoajustável de Balfour
funciona bem nesse propósito. Encontram-se disponíveis um afastamento-padrão de 17,5cm ou
um expandido de 25 cm com lâminas laterais fenestradas ou sólidas e uma lâmina central sólida
profunda.

O afastador de Gosset (Fig. 17) possui tamanho médio, com um afastamento de 10 a


13,75cm. As lâminas laterais alcançam 3,75 ou 6,25cm de profundidade. O afastador não tem
uma lâmina central.
A manutenção da exposição da cavidade torácica requer afastadores autoajustáveis
fortes para manter as costelas separadas. O afastador de costelas de Finochietto (Fig. 18) é
grande e se encontra disponível com um afastamento de 15 a 30cm, com braços retos ou
curvos.

18

Fig.16-Afast. Weitlaner Fig.17- Afast. Gosset Fig.18 – Afast.Finochieto

Fonte arquivo pessoal.

1.3 Fios de Sutura

Os fios podem ser classificados de acordo com o seu comportamento no tecido


(absorvível ou não-absorvível), estrutura (monofilamentar ou multifilamentar), ou suas origens
(sintético, orgânico ou metálico). Fios monofilamentos são feitos por um único filamento de
material. Eles têm menos resistência tecidual que fios multifilamentar e não possuem interstício
que podem abrigar bactérias. Cuidado deve ser tomado ao se manipular o fio monofilamentar
porque eles marcam ou danificam quando portadores de agulha o que enfraquece possibilitando
sua quebra. Fios multifilamentar consistem em muitos trançados de fios que são enroscados ou
trançados juntos. Fios multifilamentar são geralmente mais flexíveis que os monofilamentares.

Fios de sutura absorvíveis – Sofrem degradação e uma rápida perda na força tênsil 19
dentro de 60 dias, sendo fagocitados ou hidrolisados.

Catgut: É feito com submucosa de intestino de ovelha ou serosa do intestino bovino,


contendo aproximadamente 90% de colágeno. Este fio é fagocitado e promove uma reação
inflamatória marcante. Possui a característica de ser removido rapidamente de locais infectados
ou áreas onde está exposto às enzimas digestivas sendo velozmente degradados.

Fios não-absorvíveis – São removidos geralmente por hidrólise. O ácido poliglicólico


(Dexon) é trançado a partir de filamentos extraídos do ácido glicólico e começa a perder sua
força tênsil em 14 dias.

A Poliglactina 910 (Vicryl) é multifilamentar, revestido de estearato de cálcio. A


Polidioxanona (PDS) e o Poligliconato (Maxon) são monofilamentares e mantém a força tênsil
mais tempo que o poliglicólico ou poliglactina 910.

O PDS perde apenas 31% da força tênsil em 42 dias, com completa absorção em seis
meses (podendo causar calcinose circunscrita). O ácido poliglicólico e a poliglactina 910 são
mais rapidamente hidrolisados em ambientes alcalinos, mas relativamente estáveis em locais
contaminados. O ácido poliglicólico pode ser rapidamente degradado em urina infectada. A
reação tecidual é mínima com este tipo de fio. A infecção ou exposição a enzimas digestivas não
influenciam a taxa de absorção de fios absorvíveis sintéticos.

Fios Orgânicos – O fio Seda é o mais comumente usado. É multifilamentar. Apresenta-


se de fácil manipulação e é muito usado em procedimentos cardiovasculares, entretanto não
mantém uma força tênsil após seis meses e por isso é contraindicado para enxertos vasculares.
Deve ser evitado em locais contaminados.

Fios Sintéticos – São multifilamentar ou monofilamentar. São fortes e induzem uma


reação inflamatória mínima.
Fios Metálicos – O aço inoxidável é o fio mais comumente usado. É disponível tanto
multi como monofilamentar. A reação geralmente é mínima, entretanto o nó provoca reação
inflamatória. Podem fragmentar e migrar. É estável em feridas contaminadas.

Diferentes tipos de fios de sutura


20
Maior Diâmetro Absorvível Não-absorvível

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

11.0

12.0
Menor diâmetro

Fonte arquivo pessoal.

Tabela 1 – demonstração dos tipos e diâmetros dos diferentes fios absorvíveis e não-absorvíveis.

Seleção do fio de acordo com tecido


21

Fechamento abdominal – recomenda-se sutura com fio monofilamentar para evitar


transporte capilar de bactérias, e fios não-absorvíveis sintéticos, que apresentam uma boa
segurança ao nó.

Suturas absorvíveis podem ser usadas na pele e subcutâneo, mas na pele devem ser
removidos porque a absorção requer contato com fluidos corporais.

Músculo e Tendão – Fios absorvíveis ou não podem ser usados, e devem ser
colocados paralelamente às fibras. No tendão o fio deve ser forte, não-absorvível e com mínima
reação, com agulha fina, comprida e afunilada.

Órgãos parenquimatosos e vasos – Fígado, baço ou rim são geralmente suturados


com fios monofilamentares absorvíveis. Evitar fios multifilamentar como vicryl e dexon.

Fios não-absorvíveis podem ser usados para enxertos vasculares.

Órgãos ocos – Recomendam-se fios absorvíveis para prevenir retenção de material


estranho na cicatrização da ferida. Adicionalmente fios não-absorvíveis podem formar cálculos
quando usados na bexiga urinária ou vesícula biliar. O dexon dissolve rapidamente em urina
estéril (seis dias) e urina contaminada (três dias).

Feridas contaminadas ou infectadas – Evitam-se suturas em feridas contaminadas.


Deve-se evitar fio não-absorvível multifilamentar porque potencializam a infecção e podem
fistular.

Fios absorvíveis são preferidos, entretanto o catgut deve ser evitado porque sua
absorção em tecidos contaminados é imprevisível. Em alguns estudos, o náilon monofilamentar
ou o polipropileno promovem menos infecção em tecidos contaminados que fios metálicos.
Tamanho da sutura e recomendações de usos gerais na cirurgia de pequenos
animais

Tecido Tamanho da Sutura Materiais de Sutura

Classes

Pele 3-0 a 4-0 Não-absorvível monofilamentar 22

Tecido subcutâneo 2-0 a 4-0 Absorvível

Fáscia 1 a 3-0 Absorvível sintético


(degradação prolongada) ou não-
absorvível sintético

Músculo 0 a 3-0 Esquelético- absorvível ou não


absorvível sintético

Cardíaco - não-absorvível
sintético

Órgão parenquimatoso 2-0 a 4-0 Absorvível

Órgão visceral oco 2-0 a 5-0 Absorvível ou não-absorvível


monofilamentar

Tendão, ligamento 0 a 3-0 Não-absorvível


monofilamentar, absorvível sintético
(degradação prolongada)

Nervo 5-0 a 7-0 Não-absorvível monofilamentar

Córnea 8-0 a 10-0 Absorvível sintético, não-absorvível não-


metálico

Pálpebra 4-0 a 6-0 Absorvível sintético, não-


absorvível não-metálico
Conjuntiva Palpebral 4-0 a 5-0 Absorvível

Ligadura vascular 3-0 a 4-0 Absorvível

Reparo vascular 5-0 a 7-0 Não-absorvível monofilamentar

Tabela 2 - Modificado de Bojrab, 1996.

23
2 AVALIAÇÃO, PREPARAÇÃO E ANESTESIAS EM CÃES E GATOS

2.1 Avaliação do paciente

24

1- Identificação do paciente: espécie, raça, idade, sexo e peso.

2- Anamnese: duração e gravidade da enfermidade, sintomas ou enfermidades


concomitantes (vômitos, diarreia, hemorragia, epilepsia, insuficiência cardíaca, insuficiência
hepática, etc.), nível de atividade, hora da última alimentação, utilização de algum outro fármaco,
história anestésica anterior e reações.

3- Exploração física

A - Estado corporal geral: obesidade, caquexia, gestação, hidratação, temperatura,


tranquilo ou excitado, nervoso ou inquieto.

B - Sistema cardiovascular: frequência cardíaca, pressão arterial e qualidade do pulso,


tempo de preenchimento capilar (deve ser < 1,5 segundos) e auscultação (ruídos cardíacos).

C - Sistema respiratório: frequência e profundidade respiratória, membranas mucosas,


auscultação (ruídos respiratórios), obstrução das vias respiratórias superiores e percussão.

D - Função hepática: icterícia e coagulopatias.

E - Função renal: oligúria, anúria, poliúria e polidipsia.

F - Função gastrointestinal: parasitos, distenção, vômitos e diarreia.

G - Sistema nervoso e órgãos sensoriais: glaucoma, coma, desmaios e convulsões.


H - Função metabólica e endócrina: temperatura, hipo e hipertireoidismo, hipo e
hiperadrenocol1icismo, e diabetes.

I - Aspecto geral: hidratação, neoplasias (metástase pulmonar), enfisema subcutâneo


(fratura de costelas), parasitos (anemias), perda de pelo, queimaduras e traumatismo, massa
muscular (% de gordura), debilidade, desequilíbrio hidroeletrolítico, deambulação e fraturas.

25
4 - Diagnóstico laboratorial

Deve ser feito antes de qualquer procedimento cirúrgico.

A - avaliação mínima laboratorial:

Proteínas plasmáticas; Hematócrito e Hemoglobina.

B - outras provas laboratoriais: Gasometria, albumina e hemostasia;

Bioquímica sanguínea: creatinina, sais biliares, fosfatase alcalina, glicose, eletrólitos,


AST e ALT.

Urinálise: densidade, bioquímica (pH, proteínas, corpos cetônicos, bilirrubina e


sangue), pesquisa de sedimentos (cilindros, hemácias, leucócitos, bactérias, células epiteliais e
cristais).

Eletrocardiografia: pacientes com traumatismo e ritmo cardíaco irregular.

Radiologia: tórax e abdômen.

C - distúrbio de coagulação - hemorragias

2.2 Preparação do paciente


A - Restrição de alimentos: os alimentos devem ser retirados algumas horas antes do
procedimento anestésico e cirúrgico, de acordo com a espécie. Em animais neonatos, esse
período deve ser menor.

B - Corrigir ou compensar desordens: como a desidratação ou hipovolemia, anemia,


perda de sangue, alterações hidroeletrolíticas e ácido básico, alterações na função cardíaca e/ou
respiratória, etc. 26

C - Preparação programada de acordo com o tipo de paciente e de procedimento


cirúrgico

Animais jovens e velhos são mais sensíveis à anestesia devido à maior dificuldade de
metabolização dos fármacos anestésicos.

D - outras considerações: necessidade de líquidos durante a anestesia, medicamentos


especiais como antiarrítmicos, duração da cirurgia e necessidades do cirurgião.

2.3 Programa para o procedimento anestésico

Formulação de um protocolo anestésico relacionado com o tempo de duração da


cirurgia, tipo de cirurgia, administração de analgésicos, manutenção da via aérea, cateterização
de uma veia, preparação de fármacos e equipe de emergência.

2.4 Procedimentos antes da anestesia


Jejum:

Cães e gatos - 12 horas de jejum alimentar e 06 horas de jejum hídrico;

O jejum é importante para que não ocorra refluxo do conteúdo estomacal e aspiração
do mesmo no sistema respiratório, uma vez que o animal sob efeito sedativo e anestésico perde
a capacidade de controlar fechamento e abertura de válvulas e esfíncteres.
27
Em cirurgias gastrintestinais devem-se reduzir ainda mais o material digestivo,
fazendo-se um jejum alimentar de 24 horas e jejum hídrico de 12 horas.

Em cirurgias de cólon, pode-se fazer 02 a 03 enemas durante as 12 horas que


antecedem o ato cirúrgico.

2.5 Monitorização do paciente durante a anestesia

A fisiologia e a homeostasia do paciente mostram-se alteradas por fármacos utilizados


durante a anestesia e pelo processo fisiopatológico da enfermidade, por isso se faz necessário
que durante o período de anestesia, o paciente seja monitorado.

 Monitorizar as funções dos sistemas corporais sensíveis às alterações;


 Monitorizar mais de um sistema corporal e mais de um parâmetro por sistema
corporal;
 Utilizar técnicas que sejam específicas, exatas e complementares;
 Comparação das técnicas não-invasivas (indiretas) com as invasivas (diretas).

Considerações fisiológicas

 Sistema nervoso central (SNC) – observar a atividade reflexa para monitorizar o


grau de depressão do SNC.
 Sistema respiratório - frequência respiratória, padrão respiratório, volume
corrente, oximetria, etc.
 Sistema cardiovascular - frequência cardíaca, perfusão capilar e pressão arterial.
 Sistema musculoesquelético - qualidade dos reflexos, tonicidade, etc.
 Termorregulação

28

2.6 Parâmetros monitorizados habitualmente e causas para respostas anormais

Frequência cardíaca

1- Taquicardia - dor, hipotensão, hipoxemia, isquemia, reações anafilactoides,


anemia, efeitos farmacológicos (tiobarbitúricos, ketamina) e febre.
2- Bradicardia- hipertensão, hipotermia, efeitos farmacológicos (xilazina,
narcóticos)
Frequência respiratória.

3 - Taquipneia - dor, hipoxemia , hipertermia, efeitos farmacológicos (doxapram)

4 - Apneia - hipotermia, paralisia musculoesquelética, hiperventilação, efeitos


farmacológicos (propofol, tiobarbitúricos, ketamina)

5 - Pressão arterial: Hipotensão – hipovolemia, efeitos farmacológicos (tiobarbitúricos,


anestesia inalatória), sepsis, choque; Hipertensão - dor, febre, efeitos farmacológicos (ketamina).

6 - Reflexos corneais: Hiperativos, dor, hipotensão, efeitos farmacológicos (ketamina)


2.7 Técnicas de Anestésicos em Felinos e Caninos

 Técnicas anestésicas em Gatos

29

Medicação pré-anestésica (MPA)

Em felinos, a MPA normalmente recomendada são as fenotiazinas e, entre elas, a


levomepromazina e clorpromazina são as mais comumente usadas, na dose de 0,5 a 1 mg/kg
por via intramuscular profunda, ou a acepromazina a 0,2%, na dose de 0,1 mg/kg pela mesma
via em felinos, a via intravenosa nem sempre é recomendada, pois considerando sua
agressividade, põe em risco a mão do manipulador, além de outros dissabores como fugas.

Anestesia barbitúrica

Anestesia barbitúrica tem sido usada em gatos, mas o grande inconveniente é o de


que, se o animal não for dócil, utilizam-se vias alternativas para a aplicação, tais como
intraperitoneal ou intrapleural. Estas vias nem sempre são eficientes, pois pode haver
complicações acidentais e resultados inadequados, tais como anestesias insatisfatórias por
subdoses.

O ideal é que se aplique o pentobarbital sódico, na dose de 30 mg/kg, por via


intravenosa, dando-se metade da dose de maneira rápida, a fim de se evitar a fase de excitação
ou delírio e complementando-se gradativamente, até desaparecerem os reflexos interdigital,
palpebral e laringotraqueal.
No gato, os reflexos de deglutição e o laríngeo desaparecem no 2º plano do estágio III,
o que leva a basearmo-nos no reflexo interdigital como principal parâmetro indicativo de
anestesia.

A miose no felino é transversal e, quando ocorre, indica plano profundo 3º plano do


estágio III, o que requererá cuidados maiores.

30
Caso de animais que tenham recebido MPA, a dose do barbitúrico deve ser reduzida
em 40-50%. Empregando-se a mesma técnica de aplicação anteriormente descrita.

Este tipo de anestesia proporcionará um tempo anestésico hábil de até uma hora,
enquanto que, o paciente que não recebeu MPA, o tempo será de até duas horas. Caso se
requeira uma anestesia de duração ultracurta, poder-se-ão empregar os tiobarbituratos, na
concentração de 2,5 e na dose de 25 mg/kg (empregando-se a mesma técnica de aplicação do
pentobarbital sódico), ou na dose de 12,5 mg/kg, caso se tenha empregado MPA.

Anestesia volátil

Sem dúvida alguma, a anestesia volátil representa o que há de mais seguro em termos
de anestesia felina.

As técnicas empregadas em gatos são várias, entretanto, para facilitar, serão citadas
as usadas rotineiramente.

Na rotina anestesiológica, a indução é feita com 15 mg/kg IM de quetamina na região


glútea e, após 10 a 15 minutos, manutenção por um agente volátil, administrado por meio de
circuito fechado ou semifechado com máscara de borracha.

As concentrações de anestésicos voláteis em gatos variam conforme o agente indutor


aplicado, o estado do animal ou até a MPA aplicada.

O reflexo pupilar em gatos é um sinal importante para se saber o plano anestésico,


mas este poderá ser mascarado caso se tenha usado atropina na MPA, o que, forçosamente,
obrigará a observação de outros reflexos, tais como o interdigital, o palpebral, o corneano e
mesmo o tipo de respiração que normalmente, no gato, é costoabdominal.

Não convém, em anestesia volátil por qualquer agente, deixar que o animal permaneça
sem discreto reflexo palpebral ou laringotraqueal, pois, nessa espécie animal, esses reflexos
desaparecem apenas do 2º para o 3º planos do estágio lII de Guedel, daí se justifica a
dificuldade da colocação da sonda endotraqueal ou o início da depressão bulbar súbita. 31

As concentrações recomendadas variam de acordo com o tipo de intervenção.

Caso se requeira a recuperação rápida em caso de depressão respiratória após a


cirurgia, pode aplicar o cloridrato de doxapram, na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg por via intravenosa.

Anestesia volátil, com respiração controlada (Silveira, 1977)

Jejum alimentar de 12 horas;

MPA com clorpromazina, na dose de 1 a 2 mg/kg. Associada à atropina, na dose de


0,05 mg/kg, ambos os fármacos da mesma seringa por via intramuscular.

Induzir com tiopental a 1,25 a 2,5% por via intravenosa, até a perda do reflexo
oculopalpebral.

Intubar e adaptar a sonda à respiração controlada, empregando como fluxo diluente o


ar ambiente ou, se necessário, enriquecer a mistura com O2, empregando-se como agente
anestésico o éter dietílico.

Esta técnica é contraindicada em gatos portadores de nefropatias ou cardiopatopatias


ou em cirurgias em que se usará bisturi elétrico, sugerindo-se trocar o anestésico por outro, de
preferência um halogenado.

Vantagem: apresenta recuperação anestésica satisfatória, pouca alteração da


frequência respiratória e boa margem de segurança.
Anestesia dissociativa e suas associações

A grande vantagem da anestesia dissociativa é a de que permite, por meio de injeção


intramuscular, conter e prostrar os felinos sem muitos efeitos colaterais. De posse desta
contenção, poderão ser usadas associações que facilitem qualquer intervenção cirúrgica.
32
A anestesia dissociativa em felinos apresenta as seguintes vantagens:

 Estado cataleptoide, que permite manipulações;


 A via é intramuscular;
 Analgesia cutânea, muscular e óssea;
 Permite explorações radiológicas e semiológicas;
 Funciona como agente indutor para manutenções com outros agentes
anestésicos voláteis;
 Presença dos reflexos protetores (faríngeo e palpebral).
Desvantagens:

 Eleva a pressão arterial, a frequência cardíaca e a respiratória;


 Libera catecolaminas;
 Não permitir cirurgias abdominais ou torácicas (a menos que a dose seja
elevada acima de 80 mg/kg, o que, além de encarecer a anestesia, a tomaria arriscada);
 Não permitir intubação laringotraqueal.
A dose de quetamina para gatos é de 2 a 6 mg/kg por via intravenosa, para se obter
uma anestesia dissociativa de duração ultracurta, e de 15 a 20 mg/kg por via intramuscular, para
se obter uma anestesia de 20 a 30 minutos, com período de latência de sete a 10 minutos.

Associação quetamina e xilazina


Para anestesias cuja duração cirúrgica não ultrapasse 50 minutos, pode-se empregar a
associação de quetamina, na dose de 10 a 15 mg/kg, e cloridrato de xilazina, na dose de 0,5 a 1
mg/kg, ambas na mesma seringa e aplicadas por via intramuscular profunda.

Convém lembrar que, em razão à ação parassimpatomimética de xilazina, que se


superpõe à ação simpática da quetamina após 30 minutos de anestesia, deverá tratar-se o
animal, 10 a 15 minutos antes da anestesia, com sulfato de atropina, na dose de 0,044 mg/kg 33
por via subcutânea.

Caso haja necessidade de se prolongar o tempo anestésico, poder-se-á aplicar metade


da dose mãe, obtendo-se, assim, mais 20 a 30 minutos de anestesia. A anestesia obtida com
essa associação permite efetuar, em gatos, intervenções a nível abdominal. Entretanto, dever-
se-á tomar cuidado em experimentos que envolvam estudos hemodinâmicos, pois a atropina
poderá interferir nos dados obtidos.

Ambos os fármacos por via intramuscular e na mesma seringa.

Se houver necessidade de complementação, dar 0,6 ml de quetamina e 0,1 ml de


xilazina pela mesma via. Entretanto, ressalte-se que, em felinos, essa anestesia apresenta um
período de recuperação maior do que o observado na espécie canina.

Associação tiletamina e zolazepam

Esta associação tem dado bons resultados em pequenos animais, pois as ações
ansiolítica, anticonvulsivante e miorrelaxante do zolazepam, associadas à ação analgésica
potente de tiletamina, causam um sinergismo por potenciação adequado, levando a uma
anestesia dissociativa de boa qualidade e que permite intervenções cirúrgicas em cabeça, tronco
e membros, desde que não se intervenha em pleura ou peritônio, pois para este fim as doses
deveriam ser maiores do que as costumeiramente usadas, ou então recorrer a outros fármacos
(associações anestésicas ou anestesia volátil).
Em felinos, a dose varia de 7 a 10 mg/kg pela via intramuscular ou 5 mg / kg pela via
intravenosa para procedimentos cirúrgicos mais fugazes, o que serviria até como agente indutor
da anestesia volátil.

No comércio, esta associação é encontrada em frascos-ampolas nos quais, após a


reconstituição (princípio ativo + 5 ml de água destilada), cada ml conterá 50 mg.

34

Anestesia local

Dificilmente se usam anestesias infiltrativas em felinos para intervenções cutâneas,


pois tanto a quetamina e suas associações ou a associação tiletamina e zolazepam resolvem
facilmente esse problema. Entretanto, pode-se requerer uma anestesia no trem posterior obtida
por meio da anestesia peridural lombossacra.

A dose máxima permitida de cloridrato de lidocaína não deve superar 7 mg/kg,


tomando-se o cuidado de se observar sempre o volume a ser injetado e o tempo anestésico
requerido.

As concentrações podem variar de 0,5 a 2%, tomando-se o cuidado de imobilizar bem


o animal, aplicando-se sempre uma MPA ou anestesia dissociativa para se evitarem acidentes,
tais como mordeduras, unhadas ou lesões espinhais.

Esse tipo de anestesia é requerido quando o estado do animal não permite outros
tratamentos anestésicos, ou pela interferência que esses fármacos teriam sobre o modelo
experimental.

 Técnicas Anestésicas em Cães

Ao se optar por uma técnica anestésica, é necessário que se avalie inicialmente qual o
tipo da intervenção ou manipulação e sua duração, bem como o tipo de temperamento (dócil,
indócil, nervoso) ou estado (gravidez, obesidade, cardíaco ou chocado).
Normalmente, ao se optar até por uma tranquilização, devem-se evitar aplicações
medicamentosas desnecessárias, ou insuficientes para mera manipulação.

Medicação pré-anestésica e tranquilizações

35

Estas tranquilizações, na espécie canina, se fazem necessárias com frequência em


várias situações, tais como viagens longas, exames clínicos e radiológicos, manipulações
ortopédicas, coadjuvante da anestesia local e indução anestésica.

A - Viagem longa

Quando se exige uma quietude duradoura em animais não acostumados a viagens, ou


nos quais as mesmas provocam vômito, existem algumas sugestões:

 Clorpromazina, 1 mg/kg IM, 30 a 40 minutos antes;


 levomepromazina, 1 mg/ kg IM, 30 a 40 minutos antes;
 acepromazina, 0,1 mg/kg IM, 30 a 40 minutos antes.
Os mesmos produtos, caso se requeira uma tranquilização mais potente, podem ser
associados ao midazolam, na dose de 0,2 mg/kg IM, na mesma seringa.

A clorpromazina é a mais indicada, pois é a fenotiazina cuja ação antiemética é tida


como a mais eficiente sobre as demais. Por outro lado, aconselha-se não exceder a dose
indicada de midazolam, a fim de se evitar o efeito paradoxal (contraturas e ganidos). Para tanto,
coloca-se na mesma seringa que contém a fenotiazina apenas uma quantidade mínima do
midazolam, suficiente para "contaminar" o outro fármaco.

O diazepam não pode ser colocado na mesma seringa, apesar de ser uma
benzodiazepina, pois precipitará imediatamente, tomando a solução leitosa.
Caso se use a associação de fenotiazina e benzodiazepina, o período hábil de
tranquilização se estenderá por mais de 8 horas, devido à ação do midazolam.

B - Exames clínicos, radiológicos e manipulações ortopédicas.

36

Geralmente, a aplicação das fenotiazinas anteriormente citadas nas mesmas doses.

Quando se requer um efeito imediato desses fármacos, pode-se recorrer à via


intravenosa e o efeito máximo será obtido a partir de 15 minutos, exceção feita para a
associação com o midazolam, que é imediata e recomendada para explorações radiológicas, nas
quais o miorrelaxamento muitas vezes é requerido por ser indispensável.

C - Coadjuvante da anestesia local

Técnica é análoga àquela empregada para viagens longas.

Considerando-se que não existe sinergismo digno de nota entre os anestésicos locais
e a MPA, esta última poderá ser feita empregando-se desde a simples tranquilização até a mais
potente. Entretanto, o grande cuidado a ser tomado é nos casos em que o animal está chocado
(brigas ou quedas com dilacerações), quando a MPA deverá ser suprimida ou reduzida em até
75%.

MPA para indução anestésica

Técnica. Análoga àquela empregada para viagens longas.


Geralmente, ao se aplicar uma fenotiazina, na MPA a potencialização prevista com o
uso posterior de um barbitúrico é de 40 a 60%. O que evita sobremaneira o risco de excitação
(estágio II de Guedel).

Entretanto, o cuidado a ser tomado é com o uso da associação das benzodiazepinas


na indução barbitúrica, pois ocorre uma potencialização exacerbada, cujo sinergismo acarreta
apneias de difícil controle. Face à boa tranquilização obtida com a associação de clorpromazina 37
ou levomepromazina e midazolam, com certa habilidade e de maneira suave, consegue-se
induzir diretamente com uma máscara anestésica, desde que se dê um anestésico volátil
halogenado de odor agradável (halotano, isofluorano, enfluorano e sevofluorano) em
concentrações baixas e posteriormente crescentes.

Administrar atropina, na dose de 0,044mg/Kg, toda vez que se empregar um fármaco


parassimpatomimético, como é o caso da xilazina, ou mesmo um fármaco de ação simpática que
provoque sialorreia abundante.

Sugere-se não ultrapassar, em cães de grande porte, a dose total de 1 a 1,5 mg e em


casos excepcionais 2 mg.

Induções anestésicas - modalidades

Consistem na aplicação de um fármaco que permite toda e qualquer manipulação


prévia antes da manutenção (acomodação na mesa cirúrgica, preparos cirúrgicos cruentos,
intubação endotraqueal) e, em geral, são realizadas com fármacos de ação anestésica
ultracurta, como os tiobarbituratos ou fármacos afins (quetamina, etomidato).

Desaconselha-se, tecnicamente, nessas induções, a manutenção pelo próprio agente


indutor. Pois, se é prático para o profissional, é desconfortável para o paciente, porque, pelo fator
cumulativo, ocasiona recuperações tardias.

Primeira técnica: Jejum prévio, com aplicação de tiopental a 2,5% IV, 25 mg/kg,
administrando metade da dose total rapidamente e o resto lentamente, até o desaparecimento
dos reflexos interdigital e palpebral.
Essa indução usada isoladamente é desaconselhável em animais idosos, cardiopatas,
nefropatas, Hepatopatas, em choque e submetidos à cesariana.

Permite um tempo hábil anestésico de 15 a 20 minutos, possibilitando efetuar:

 Retiradas de pontos em animais agressivos;


 Pequenas cirurgias (retirada de glândula de Harder, excisões tumorais e
38
retiradas de cistos),
 Tártaro dentário, extrações dentárias, biópsias, retirada de dedos
supranumerários e suturas de pele;
 Retirada de pinos ou fios intramedulares;
 Retirada de espinhos de ouriço;
 Curativos cruentos;
 Explorações bucais;
 Esofagoscopia e traqueoscopias.

Segunda técnica

Jejum prévio, administração de MPA (qualquer citada para viagens longas),


aguardando o período adequado, e tiopental a 2,5% IV, 12,5 mg/kg, a dose total sendo injetada
lentamente, até o desaparecimento dos reflexos interdigital e palpebral.

Essa indução anestésica é, sem dúvida, a mais empregada na rotina anestésica por
sua segurança, face à redução de 50 a 60% do agente barbitúrico, o que a torna indispensável,
especialmente em animais nos quais a indução requer cautela.

Sugere-se não exceder uma complementação anestésica, a qual deverá ser aplicada
na dose suficiente para fazer desaparecer novamente os reflexos, interdigital e palpebral.

Essa indução é desaconselhada em:

 Cesariana, quando há inviabilidade fetal e a mãe está em estado toxêmico;


 Animais chocados;
 Pacientes de alto risco.
É, entretanto, aconselhada em todas as cirurgias que requeiram, após a indução,
manutenção prolongada, paciente de risco moderado, pequenas intervenções que não excedam
10 a 15 minutos e intubação endotraqueal.

Terceira técnica
39
MPA aguardando 15 minutos se IV e 30 a 45 minutos se IM, logo após quetamina (2 a
4 mg/kg IV) lentamente ou 10 a 15 mg/kg IM.

A vantagem dessa indução é a de que dispensa o jejum prévio, sendo, portanto,


indicada nos casos de urgência, em que o paciente tenha ingerido alimento.

Esse tipo de indução não causa emese, permanecendo os reflexos protetores


(palpebrais e laringotraqueal), não permitindo, assim, aspirações de conteúdos gástricos, se
ocorressem acidentalmente.

Apesar da boa analgesia e da ausência de efeitos extrapiramidais, essa indução não


permitirá a intubação endotraqueal, que poderá ser apenas conseguida caso se aplique uma
máscara bem vedada e adaptada a circuito com filtro circular com anestésico volátil até o
desaparecimento do reflexo laringotraqueal, permitindo, assim, a introdução da sonda.

Essa indução não permite laparotomia ou toracotomia e é aconselhável em induções


em:

 Animais que necessitem de cirurgia com extrema urgência e que se tenham


alimentado; animais agressivos, nos quais a via IM se faz necessária;
 Pacientes de alto risco, desde que se reduza a MPA a em 50%;
 Cesarianas em que haja inviabilidade fetal e a mãe esteja com toxemia severa.
É desaconselhável em animais idosos ou hipertensos.

Quarta técnica
Jejum não é a condição mais importante nesta associação, que é realizada da seguinte
maneira: midazolam na dose de 0,2 a 0,5 mg/kg; clorpromazina ou levomepromazina, 1 mg/kg;
quetamina, 1 a 2 mg/kg, os três produtos injetados pela via intravenosa e na mesma seringa.

Esta associação, farmacologicamente, é uma das melhores associações e permite,


com cuidado, até efetuar a intubação endotraqueal. Dispensa, em casos de extrema urgência,
até o jejum prévio, pois ao aplicá-la nunca se notou vômito. 40

Outra vantagem desta associação é que, em animais arredios, a associação pode ser
aplicada pela via intramuscular, ocorrendo à prostração em 5 a 7 minutos.

Quinta técnica

Aplicação de MPA pela via intravenosa com qualquer fenotiazina:(acepromazina,


clorpromazina ou levomepromazina) nas doses citadas para viagens longas e 10 minutos após
aplicar pela via intramuscular associação zolazepam mais zoletil na dose de 7 a 10 mg/kg
permite, em 5 minutos, obter uma prostração suficiente para manipular o animal, bem como
introduzir a sonda endotraqueal.

A vantagem desta associação é que ela pode ser aplicada em animais que não
permitem a manipulação pelo seu temperamento, bastando à aplicação intramuscular para
causar a prostração do animal, sem estresses desnecessários.

Manutenções

As manutenções em rotina anestésica com anestésicos voláteis nunca são efetuadas


de maneira direta, mas sim com o auxílio, no mínimo, de MPA, por várias razões:

 Custo operacional torna-se oneroso;


 A insubmissão do animal ao se colocar a máscara para a indução;
 Poluição ambiental com halogenados (carcinogênicos);
 Concentrações altas de anestésicos voláteis halogenados (halotano e
enfluorano) levam à sensibilização do miocárdio, com consequente fibrilação cardíaca;
 A poluição ambiental com éter torna o ambiente sujeito à explosão por faíscas
elétricas (tomadas).
Os anestésicos voláteis comumente utilizados em máscaras bem vedadas ou em
sondas endotraqueais e em cães tranquilizados são Halotano enfluorano isofluorano
sevofluorano.

A evolução do ato cirúrgico e plano anestésico desejado vão variarem de acordo com o
paciente e tipo de cirurgia.

41
As potencializações ocorrem com outros fármacos como barbitúricos, succinilcolina e
fármacos usados em MPA.

Taquipneia geralmente surge na anestesia volátil com o halotano em altas


concentrações, que causa a sensibilização dos receptores de elastância do pulmão. A
administração de meperidina resolverá o problema. No caso de persistência, teremos então o
diagnóstico diferencial com acidose respiratória.

Condutas anestésicas em anestesia geral e dissociativa

Primeira conduta :Sem MPA e com jejum prévio.

Indução: tiopental a 2,5%, 25 mg/kg, IV. Ou Tiamilal a 2,0% a 20 mg/kg, IV, ou


metohexital a 2.5%, 12.5 mg/kg, IV. Metade da dose rapidamente e o resto até atingir o
desaparecimento do reflexo laringotraqueal e interdigital.

Intubação endotraqueal

Manutenção: halotano, enfluorano, isofluorano, ou sevofluorano.

Essa conduta só é permissível quando não se dispõe de tranquilizantes, pois a


taquicardia observada por bloqueio vagal causado pelo tiobarbiturato poderá ser agravada caso
se use, na manutenção, halotano que em altas concentrações causa sensibilização do miocárdio
ou o próprio éter anestésico que, apesar de liberar noradrenalina, não chega a causar alterações
cardíacas dignas de nota, resultando em estimulação simpática.

O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação de 10 a 20 minutos.


Segunda conduta

Jejum prévio.

MPA: clorpromazina, 1mg/kg IV ou IM, ou levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou


acepromazina a 0,2%, 1 mg/kg IV ou IM. 42

Aguardar 15 minutos na aplicação IV e 30 a 45 minutos na aplicação IM.

Indução: tiopental a 2,5%, 12,5 mg/kg, ou tiamilal a 2,5%, 10,5 mg/kg, ou metohexital a
2,5%,6,5 mg/kg, metade da dose rapidamente e o resto até o desaparecimento dos reflexos
Interdigital e laringotraqueal.

Introduzir a sonda endotraqueal e conectar ao aparelho de anestesia.

Essa conduta é a mais aconselhada para a rotina anestésica por sua segurança,
tranquilidade e discreta alteração dos parâmetros fisiológicos (temperatura retal, pulso arterial e
frequência respiratória).

Ressalte-se que a grande vantagem dessa técnica consiste na ação tranquilizante e


especialmente adrenalítica que a MPA oferece, tão desejada na manipulação pré-operatória
(sondagens ou tricotomias) ou na interação com outros fármacos (barbitúricos, halotano,
enfluorano e éter).

O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação leva 5 a 15 minutos.

Terceira conduta

O jejum não é condição obrigatória.

MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou


Acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kg IV ou IM.

Aguardar 15 minutos se a aplicação for IV e 30 a 45 minutos se a aplicação for IM.

Indução: quetamina, 2 a 4 mg/kg IV lentamente ou 10 a 15 mg/kg IM.


Manutenção: por não desaparecerem os reflexos protetores (laringotraqueal e
palpebral), aplicar máscara facial vedada com coaptação imediata ao aparelho de anestesia
volátil, caso se tenha usado quetamina por via intravenosa, e até cinco a 10 minutos após, ao se
empregar a via intramuscular profunda.

Ao atingirem os planos anestésicos desejados se procederão à intubação


endotraqueal, pois a quetamina não abole os reflexos protetores, mesmo em doses elevadas. 43

Essa conduta anestésica é mais utilizada em casos de extrema urgência, em que o


animal já se tenha alimentado.

Sugere-se, entretanto, a vigilância em eventos de mímicas de emese, colocando-se a


sonda endotraqueal logo que o animal perca o reflexo laringotraqueal, o que ocorre alguns
minutos após a aplicação da máscara facial vedada.

É desaconselhável em animais hipertensos ou acidoses por sua ação


predominantemente simpática, apesar de que o emprego da MPA atenua essa resposta por sua
ação adrenalítica. Recomenda-se a técnica em todas as cirurgias que requeiram laparotomias e
por sua segurança em cesarianas, quando os fetos são inviáveis e a mãe está em estado
toxêmico. Recomenda-se, para tanto, o enfluorano como agente de manutenção.

Com o paciente chocado, recomenda-se a redução da MPA em 50 a 75%.

O período hábil anestésico é indeterminado e o período de recuperação dura 5 a 15


minutos.

Quarta conduta

Jejum.

Levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou


acepromazina a 0,2%, 0,1 mg/kg IV ou associadas ao flunitrazepam, 0,005 mg/kg ou 0,2 mg/kg
de midazolam IV ou IM na mesma seringa.

Aguardar 15 minutos na aplicação IV ou 30 a 45 minutos na aplicação IM.


Dispensar a indução e adaptar a máscara para a devida manutenção com anestesia
volátil.

Intubar o animal quando perder o reflexo laringotraqueal.

Esta conduta é recomendada em animais agressivos em que a injeção intravenosa se


torna impraticável ou em paciente cuja indução barbitúrica se torna inviável (animais idosos,
44
cardíacos ou portadores de nefropatias ou hepatopatias).

A grande vantagem é que a prostração é tão severa que com a aplicação dos
anestésicos halogenados, ministrados por máscara, os animais não reagem, permitindo assim a
indução e manutenção suave sem necessidade de elevar as doses do anestésico volátil.

O período hábil anestésico é indeterminado e a recuperação tardia, face ao uso de


flunitrazepam (três a quatro horas).

Quinta conduta

Jejum.

Pentobarbital sódico a 3%, 30 mg/kg IV. Aplicar metade da dose rapidamente e


complementar lentamente até o desaparecimento dos reflexos palpebral, laringotraqueal e
interdigital.

Essa técnica anestésica, outrora defendida e empregada, está hoje restrita apenas aos
ensaios de técnicas cirúrgicas ou experimentais, pelos inconvenientes que a mesma oferece, tais
como limitações em pacientes não-hígidos ou mesmo pela recuperação desconfortável.

Essa técnica não é recomendada para delineamentos experimentais que visem ao


fluxo renal ou estudos hemodinâmicos, pela sua grande interferência nesses sistemas, ou
mesmo estudos eletrocorticográficos, em virtude da acentuada depressão no SNC.

Sua aplicação é recomendada apenas em animais sadios e no caso de inexistência de


fármacos tranquilizantes e qualquer outro anestésico geral.
O período hábil anestésico é de 60 a 120 minutos e o de recuperação de quatro a seis
horas.

Sexta conduta

Jejum. 45

MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou


Acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kg IV ou IM.

Aguardar 15 minutos se a aplicação for IV e 30 a 45 minutos se for IM.

Pentobarbital sódico a 3%, 15 mg/kg (0,5 ml) IV, metade da dose rapidamente e,
quando sobrevier a prostração, aplicar lentamente o resto até desaparecerem os reflexos
interdigital, laringotraqueal e palpebral.

Ao se aplicar esse anestésico, devem-se levar em consideração as mesmas


ponderações feitas na técnica anterior. A grande vantagem, porém, é a potencialização de 40 a
60% que ocorre, reduzindo o tempo anestésico face ao sinergismo apresentado.

O cuidado a ser tomado é ao se anestesiar animais adiposos, pois neles a


administração deve ser feita mais lentamente e com grande cautela.

O período hábil anestésico é de 40 a 60 minutos e o de recuperação, uma a três horas.

Dieta pós-anestésica: no dia da intervenção, apenas dieta líquida (água ou leite);


alimentação pastosa no dia seguinte e sólida no outro. A dieta pós-anestésica deverá respeitar o
tipo de intervenção, pois, se for intervenção de trato gastroentérico, a dieta será mais rigorosa.

Sétima conduta

Jejum.

Atropina, 0,044 mg/kg, via subcutânea.

Aguardar 10 a 15 minutos (até que se estabeleça discreta taquicardia).


Xilazina, 1 mg/kg, e quetamina, 15 mg/kg, ambos os fármacos na mesma seringa e
aplicados por via intramuscular profunda.

Aguardar no mínimo cinco minutos de latência para o início da intervenção cirúrgica.

Essa conduta anestésica é reconhecidamente a mais prática, pois, por meio de uma
simples aplicação intramuscular, consegue-se uma anestesia de 40 a 50 minutos. Ela é segura,
46
desde que se pré-trate o animal com atropina, a fim de se evitarem os efeitos
parassimpatomiméticos da xilazina, tais como bradicardia com arritmia e até bloqueios
atrioventriculares de segundo grau.

Caso se requeira uma prorrogação do tempo anestésico, é só complementar com


metade da dose-mãe (de ambos os fármacos), não sendo necessária complementação com
atropina, pois seu tempo hábil é de até uma hora. Convém lembrar que toda complementação
acarreta, seguramente, uma demora crescente na recuperação, por causa do efeito cumulativo,
o que não é recomendado em certas situações, mesmo porque a anestesia torna-se onerosa.

Essa conduta é desaconselhada em animais idosos ou toxêmicos, em choque ou com


distúrbios cardiocirculatórios. É aconselhável, entretanto, em animais hígidos que requeiram
intervenções no abdômen, incluindo cesariana, desde que não haja histórico de toxêmia.

Acidentalmente, em animais que não receberam atropina na MPA, podem ocorrer


convulsões com duração de segundos.

O período de latência da associação de xilazina e quetamina é de cinco a sete


minutos, seu período hábil anestésico de 40 a 50 minutos e o período de recuperação de 50 a 60
minutos.

Oitava conduta

Jejum.

MPA: levomepromazina, 1 mg/kg IV ou IM, ou clorpromazina, 1 mg/kg IV ou IM , ou


acepromazina a 0,2%,0,1 mg/kg IV ou IM.

Aguardar 15 ou 30 minutos, na dependência da via de aplicação.


Indução: tiopental a 2,5%, 12,5 mg/kg IV ou tiamilal a 2,0%, 10,5 mg/kg IV ou
metohexital a 2,5%,6,5 mg/kg IV, ou quetamina, 15,0 mg/kg IM ou 2 a 6 mg/Kg IV.

Manutenção: óxido nitroso 50 a 70%; oxigênio 50 a 30%. Reduzir os anestésicos


voláteis em 30 a 40%.

Essa conduta é vantajosa quando se dispõe de óxido nitroso, pois, por ser anestésico
47
inerte, não é metabolizado pelo organismo, sendo eliminado totalmente pela própria expiração.

Convém, nessa conduta, evitar associações do tipo quetamina e éter, pois ambas
apresentam características simpatomiméticas, alterando severamente os parâmetros
cardiocirculatórios.

O período hábil anestésico é indeterminado e o de recuperação dura cinco a 15


minutos.

Nona conduta

Jejum.

MPA, indução anestésica e manutenção análoga à segunda técnica.

Aplicação intravenosa depois de decorridos cinco minutos de manutenção anestésica,


ou quando se fizer necessário o miorrelaxamento com galamina, 0,5 a 0,8 mg/kg (não-
despolarizante), ou succinilcolina, 0,3 a 0,5 mg/kg (despolarizante), ou fazadínio, 1,0 mg/kg (não-
despolarizante), ou atracurônio, 0,4 mg/kg (não-despolarizante).

Conectar ao paciente o aparelho de respiração controlada.

Evitar a hiperoxia por meio da administração excessiva de oxigênio puro, pois poderá
sobrevir apneia provocada não pelo miorrelaxante, mas sim por desequilíbrio da relação O2 e
CO2.

Periodicamente e por poucos segundos, retirar a respiração controlada, repetindo a


manobra até que o paciente volte a respirar espontaneamente.
Essa conduta anestésica sempre se faz presente em intervenções a nível torácico, ou
quando, em pacientes de alto risco, se requer tal tipo de respiração.

Convém lembrar que a administração excessiva de O2 acarreta apneia que, com certa
habilidade, pode ser contornada, mediante o controle da administração de menos 02.

Uma das maneiras de se fazer o diagnóstico diferencial entre bloqueio central ou


48
periférico é por meio da administração de 1 mg/kg de doxapram por via intravenosa. Se o
bloqueio for de ação central, imediatamente notar-se-á aumento da amplitude e da frequência
respiratória. Se a apneia persistir, é sinal de que o bloqueio é periférico, o que vale dizer que é
causado pelo bloqueador neuromuscular. O fármaco antagonista para reverter o bloqueio dos
agentes não-despolarizantes é a neostigmina, na dose de 0,04 a 0,07 mg/kg IV.

Observação

Em todas as técnicas de anestesia geral propostas, após o ato cirúrgico, é


aconselhável acomodar os animais em recintos com controle de temperatura, destituídos de
barulho ou que tenham luz excessiva.

A dieta administrada, de modo geral, no dia da intervenção, desde que o paciente


tenha recuperado a consciência, baseia-se apenas em água ou leite, deixando-se a dieta sólida
para o dia seguinte, desde que a intervenção não tenha sido no trato gastroentérico, pois esta
dieta dependerá de prescrição do cirurgião.

Anestesias peridural ou epidural

Geralmente, essa anestesia, de fácil aplicação e baixo custo, é de extrema valia em


pacientes de alto risco ou que, por qualquer motivo (alimentação, cesariana, problema hepático
ou renal, idade), não possam ser submetidos à anestesia geral.

Os pontos eletivos para a anestesia peridural são entre L7 e S1 (lombo-sacra), S8 e C1


(sacrococcígea) ou intercoccígea.
A técnica é desenvolvida da seguinte maneira:

Tranquilizar o animal.

Tricotomia e antissepsia rigorosa do local (de preferência depilar uma boa área).

Palpar as tuberosidades ilíacas com os dedos, indicador e polegar. Com o indicador 2


a 3 cm caudalmente, sentir o espaço lombossacro. 49

Colocar o animal em decúbito esternal (posição de esfinge ou com os membros fora da


mesa).

Introduzir uma agulha (de preferência com mandril) 40 x 7 ou 50 x 8, na dependência


do tamanho do animal.

Perfurar a pele e fazer um botão anestésico, pois facilita futuras manipulações.

Atravessar o ligamento interespinhoso (ruído característico de ranger).

Atravessar o ligamento amarelo (ligamentun flavum).

Retirar o mandril e observar se há ruído de sucção (pressão negativa peridural) que


imediatamente poderá ser comprovada depositando-se uma gota do anestésico local,
observando-se a sucção da mesma.

Caso isso não aconteça, com outra seringa vazia, injetar 5 ml de ar e, com o dorso da
mão sobre a pele do animal (região lombar), perceber-se-á a infiltração do ar a nível subcutâneo.

Se a agulha estiver na posição correta. Injetar gradativamente e de forma suave (a fim


de não alterar bruscamente a pressão no espaço peridural) o anestésico local escolhido, de
acordo com a conveniência, observando-se sempre as doses máximas permitidas.

A dose recomendada, apesar de existirem correlações entre dimensões de colunas


vertebrais, gira em tomo da dose máxima permitida, da velocidade de aplicação e da eficácia da
droga, face ao seu posicionamento correto no espaço peridural.

Convém lembrar, como exemplificado, que, se for empregada lidocaína a 1%, cada ml
da droga terá 10 mg de princípio ativo e, para um cão de 10 kg, não se poderão exceder 70 mg
ou 7 ml. Caso, agora, se use a mesma lidocaína a 2%, o volume não poderá exceder 3,5 ml.
Em cães, especialmente, não se pode levar em consideração apenas a dimensão da
coluna vertebral, face às diferenças anatômicas verificadas nas diferentes raças, pois os animais
longilíneos e baixos (bassethound, dachshund, pequinês, ...) estarão sempre sujeitos às
intoxicações, caso não se observe as doses máximas permitidas.

Ao se depositar o anestésico no espaço peridural observar-se-á imediatamente queda


da cauda, relaxamento do esfíncter anal com emissão de gases ou até exteriorização de fezes, 50
posição característica (paralisia de posteriores) e eventual incontinência urinária.

Convém manter o animal na posição de esfinge por cinco a 10 minutos, pois, embora a
lidocaína cause anestesia local quase que imediata, convém aguardar uma melhor embebição
tissular pelo anestésico de forma equitativa (lados direito e esquerdo), dando assim uma
anestesia bilateral uniforme, já que, em decúbito lateral, por gravidade, causará apenas
anestesia local unilateral.

Fig. 19 - demonstração da agulha sendo colocada na região lombossacra; B: seringa conectada para injeção do
agente anestésico.

A B

Fonte arquivo pessoal.

Essa anestesia permite executar, pelo período hábil de 60 a 80 minutos, qualquer


intervenção retroumbilical, não permitindo, entretanto, trações viscerais altas, como no caso de
cesarianas ou ovário-histerectomias (ligamentos suspensor e uterovárico). O mesmo pode ser
dito quanto às intervenções intestinais, pois a manipulação suave é indolor, mas sua simples
tração torna a intervenção cruenta, requerendo uma anestesia geral.
Caso se requeira uma prorrogação da anestesia peridural pode-se recorrer à anestesia
peridural contínua que permite a injeção constante do anestésico, à medida que o mesmo é
requerido, podendo ser executada entre L5-L6 ou L6-L7 a anestesia peridural em cães permite
efetuar as seguintes cirurgias:

 Caudectomias em animais adultos;


 Retiradas de glândulas do saco anal; 51
 Hérnias perineais;
 Cirurgias proctológicas;
 Vulvoplastias;
 Orquiectomias;
 Cirurgias ortopédicas em membros posteriores;
 Excisões tumorais vaginais;
 Fecalomas.

Anestesia subaracnoide (raquianestesia)

Este tipo de anestesia é de grande valia, mas, por se tratar de uma anestesia de
técnica mais apurada e pelo espaço subaracnoide em cães ser de poucos milímetros, é
raramente empregada. Igualmente, se executada sem a devida assepsia, pode causar
meningites com resoluções fatais.

Seu procedimento é feito da seguinte maneira:

Jejum.

Tranquilização por via intravenosa e tricotomia da região lombar.

Aguardar 15 minutos.

Aplicação de um barbiturato de duração ultracurta, metade da dose (por ex., 12,5


mg/kg de tiopental sódico), pois o animal deve permanecer imóvel, mas com reflexo interdigital
presente.
Decúbito dorsal com os membros anteriores entre os posteriores, a fim de aumentar o
espaço intervertebral.

Introdução de uma agulha 70 x 80 com mandril entre L3-L4, L4 – L5, L5 - L6 ou L6-L7.

Após a retirada do mandril, observar-se-á a saída do liquor.

Aspirar suavemente com uma seringa e homogeneizar o conteúdo com o anestésico. 52


Injetando lentamente e sem resistência de 0,5 a 1,5 ml.

Manter previamente a cabeça do animal ligeiramente elevada.

Técnica possui uma vantagem maior sobre a anestesia peridural, pois o seu
relaxamento é maior por agir diretamente em nível de raízes nervosas espinhais.

Qualquer intervenção pré-retroumbilical de duração máxima de 50 a 60 minutos.


3 INFECÇÕES CIRÚRGICAS

3.1 Controle da infecção

53

Informações gerais

Nas infecções que ocorrem no pós-operatório têm-se dois fatores inter-relacionados,


trauma tecidual e infecção cirúrgica, que são sem dúvida de extrema importância pelo sucesso
ou não das mesmas.

Em qualquer procedimento cirúrgico se tem por meta, direta ou indiretamente, a


limitação do trauma e a diminuição do risco de infecção.

Os dois principais aspectos que contribuíram com o aperfeiçoamento da cirurgia


moderna foram o surgimento e desenvolvimento da anestesia e a aplicação dos princípios da
assepsia.

Contaminação de ferimento X infecção de ferimento:

• Contaminação - presença transitória de microrganismos na superfície tecidual,


sem invasão ou resposta fisiológica.

• Infecção – multiplicação de micróbios no interior do tecido e a consequente


resposta do hospedeiro.

Fontes de infecção de feridas:

• Tipo de ferida

• Paciente
• Procedimento cirúrgico

• Ambiente cirúrgico

Conceitos básicos

A) esterilização: é a destruição dos micro-organismos patogênicos e não patogênicos 54

de um determinado local. Ex: instrumentos cirúrgicos, panos de campo e compressas cirúrgicas.

B) desinfecção: é a destruição dos micro-organismos patogênicos ou não, termo mais


utilizado para ambientes. Ex: salas cirúrgicas e baias.

C) antissepsia: é a manobra que impede a proliferação de bactérias, seja inativando


(bacteriostáticos) ou destruindo-as (bactericidas). Refere-se aos tecidos vivos. Ex: mãos do
cirurgião, mucosas e pele do animal.

D) assepsia: é o conjunto de procedimentos que se empregam para evitar a infecção


dos tecidos durante as intervenções cirúrgicas. Engloba manobras de esterilização, desinfecção
e antissepsia.

Instrumental cirúrgico

Itens críticos: todo e qualquer material que entra em contato com o tecido subcutâneo,
este material deverá ser esterilizado. Ex: instrumental cirúrgico em geral, pano de campo, luvas,
compressas, etc.

Itens semicríticos: refere-se ao material que entra em contato com cavidades mucosas
que possam estar contaminadas e estes deverão estar, pelo menos, desinfetados. Ex: tubo
endotraqueal, sonda uretral, etc.

Itens não-críticos: são os objetos que estão relacionados ao ambiente cirúrgico e


devem estar limpos. Ex: mesas cirúrgicas, calhas, porta soro, etc.
Métodos de esterilização

A) métodos físicos:

 Filtração: é a separação dos micro-organismos de líquidos ou de gases, através


de filtros.
 Radiação: usada naqueles materiais que não podem ser esterilizados pelo calor
55
ou por meios químicos, geralmente é chamada de esterilização fria. Ex: raio u.v., raio gama, etc.
 Energia térmica: calor úmido ou calor seco.
B) métodos químicos: líquidos e gases

 Desinfetantes de 1º grau: são capazes de esterilização. Ex: formaldeído,


glutaraldeído, óxido de etileno, etc.
 Desinfetantes de 2º grau: atuam pela desnaturação das proteínas e não
destroem esporos. Ex: compostos fenólicos (creolina), cloro, iodo, álcool, etc.
 Desinfetantes de 3º grau: não apresentam o poder de destruição de vírus,
esporos, bacilo da tuberculose. É mais de ação bacteriostática. Ex: mercúrio cromo, amônia
quaternária, etc.

Antissépticos

São usados para reduzir a flora bacteriana da pele, braços e mãos do cirurgião e
equipe cirúrgica, além do campo operatório do paciente. Este é o ponto que contesta a técnica
cirúrgica asséptica, pois não se consegue esterilizar a pele sem destruí-la.

Além da atividade antimicrobiana, os antissépticos não podem ser tóxicos, não devem
ser irritantes quando aplicados na pele e devem reter suas propriedades in vivo. O antisséptico
ideal é um agente bactericida de amplo espectro que também seja eficaz contra esporos, vírus e
fungos. Ex: sabões, álcool, compostos iodopovidona, clorexidina e compostos de amônia
quaternária.

Degermação das mãos da equipe cirúrgica


Consiste na remoção de detritos e impurezas depositadas sobre a pele. A degermação
das mãos e antebraços tem a finalidade de remover a maior quantidade possível dos
microrganismos da pele a fim de prevenir infecções da ferida operatória. O preparo das mãos é
recomendável e justificável, se considerarmos o seguinte:

 Muitas luvas se apresentam perfuradas ao término da cirurgia;


 Bactérias tendem a se multiplicar sob as luvas; 56
 Luvas sofrem constantes traumas por agulhas, unhas e outros.
A degermação das mãos pode ser realizada por métodos químicos (com o uso de
antissépticos detergentes) e mecânicos (pela escovação). Atualmente costuma-se associar os
dois métodos pela sua maior eficiência na antissepsia das mãos.

Procedimentos dentro da sala cirúrgica

Existem regras gerais:

1º) Todos os utensílios podem estar esterilizados ou não, em caso de dúvida,


considere não esterilizado.

2º) Somente à parte de fora dos materiais enrolados ou empacotados deve ser tocada
por mãos sem luvas, e estes pacotes devem ser abertos pelo volante longe do corpo para não
contaminá-los.

3º) Materiais esterilizados são manuseados somente com luvas esterilizadas ou com
instrumentos esterilizados.

4º) Uma vez que algum material é removido de um pacote, o mesmo não deve ser
retornado ao mesmo.

5º) Toda vez que um material esterilizado apresentar-se úmido, este deve ser
considerado não esterilizado.
3.2 Classificação da possibilidade de infecção intraoperatória

 Limpo: procededimento eletivo; cicatrização primária; isento de falhas nas


técnicas assépticas; sem penetração nos tratos alimentar, respiratório ou urogenital. 57
 Limpo-contaminado: procededimento não-eletivo, abertura de cavidade
colonizada, falha assépticas mínima e reoperação.
 Contaminada: falha na assepsia, traumatismo penetrante, ferimento crônico,
inflamação não-purulenta aguda.
 Sujo: purulência, drenagem, ferimento penetrante decorridas mais de quatro
horas, ruptura de víscera colonizada.

3.3 Fatores da ferida podem influenciar as infecções

 Contaminação, viabilidade e vascularização dos tecidos.

Fatores cirúrgicos que afetam a infecção das feridas

 Duração da cirurgia;
• Perfuração das luvas;

• Procedimentos de emergência;

• Cirurgias nos meses de verão;


• Remoção pré-cirúrgica dos pelos;

• Irrigação tópica das feridas.

Fatores que afetam as taxas de infecção das feridas

• Aumento da idade; 58

• Doença preexistente;

• Local do organismo operado;

• Má nutrição.

Infecção hospitalar: infecções em ferimentos que não estavam presentes e nem incubado, antes
da internação

Causas comuns:

• Falha nas técnicas de assepsia ou desinfecção;

• Cateteres;

• Contaminação direta da ferida e das ataduras;

• Mau uso de antibióticos;

• Ambiente hospitalar sujo.


4 CICATRIZAÇÃO

4.1 Conceitos Gerais

59

O fundamento da cirurgia é restabelecer a função e recuperar a integridade biológica


de células e tecidos mediante a cicatrização de ferimento natural ou iatrogênica.

O ferimento nada mais é que a perda da continuidade anatômica e funções


metabólicas de órgãos, tecidos e células.

São variadas as causas de ferimentos que vão desde cirurgia, infecção, traumas
(veicular, arma de fogo, brigas), substâncias químicas, tumores, temperaturas excessivas e até
mesmo uma medicação tópica.

Para haver a cicatrização de um ferimento é necessário que um conjunto de ações


simultâneas ocorram para ocorrer a restauração da estrutura e função do órgão. Isso se dá por
processos bioquímicos e celulares em padrão organizado e sequencial que pode levar dias,
meses ou anos.

4.2 Fases da Cicatrização

1. Inflamação: minutos a três dias. Fase chamada de Lag ou substrato. Nesta fase
tem-se a liberação de mediadores químicos (histamina, serotonina e prostaglandinas) pelos
mastócitos e plaquetas. Neutrófilos e mastócitos fagocitam e destroem restos celulares e corpos
estranhos e macrófagos liberam substâncias quimiotáticas para estimular fibroplasia,
angiogênese e a síntese de colágeno.
2. Reparação ou proliferação. Entre 3º e 21º dias, a fase de proliferação
fibroblástica, infiltração capilar e a reepitelização.
3. Maturação ou remodelação (meses ou anos). Ligações entre fibras de colágeno
(rede de fibras ao longo das linhas de estresse da ferida).
4. Contração - fase final da cicatrização, ação dos miofibroblastos que contêm 60
actina, proteína contrátil das células musculares.
Base da resistência da cicatrização: O colágeno é a principal proteína estrutural do
tecido conjuntivo. A resistência do tecido cicatricial se aproxima, mas nunca se iguala à do tecido
normal.

4.3 Tipos de cicatrização

 Cicatrização de primeira intenção ou fechamento primário - aposição dos tecidos


por sutura, grampos, adesivos ou fitas.
 Cicatrização de segunda intenção ou fechamento secundário - ferimentos
cutâneos cicatrizam por granulação, epitelização e contração.
 Cicatrização de terceira intenção - fechamento cirúrgico de uma cicatriz
granulosa (segunda intenção) após a remoção do tecido de granulação e o reavivamento dos
bordos epiteliais.
Fig.20- Cicatriz por segunda intenção. Fig.21- Cicatrização por meio de sutura.

61

Fonte: Wilkinson, George T; Harvey, Richard G (1997)

4.4 Tecido de granulação

Consiste em uma mistura de vasos capilares e linfáticos, de fibroblastos, macrófagos,


substância amorfa, colágeno e de fibras de elastina que se desenvolvem em uma semana a
partir da lesão.

Aspecto: vermelho e granular - barreira contra a infecção, sobre uma base para
epitelização e fonte celular contração cicatricial.

Fig. 22 – tecido de granulação.

Fonte: Clínica Veterinária, n. 49, p. 34-42, 2004.


4.5 Fatores de crescimento importantes na cicatrização

 Derivados de plaquetas (iniciam a divisão celular);


 Transformadores (aumentam a síntese de colágeno); 62
 Epidermal;
 Fibroblastos e tipo insulina: secretados por plaquetas, macrófagos e fibroblastos.

4.6 Fatores afetam a cicatrização

A – Locais:

 Vascularização: oxigenação e nutrientes às células e aos tecidos;


 Material estranho: acentua a inflamação e infecções;
 Espaço morto e acúmulo de líquidos: inibem a migração celular e aumentam
risco de infecção;
 Irradiação: semanas seguintes à cirurgia, reduz a formação de fibroblastos, a
síntese de colágeno e a regeneração capilar;
 Infecção bacteriana: impede a cicatrização devido à persistência da inflamação,
à necrose tissular e ao acúmulo de líquidos;
 Soluções de limpeza : reduz a contaminação;
 Curativos não-adesivos: promovem a epitelização, os curativos debridam
mecanicamente os ferimentos contaminados;
 Técnicas cirúrgicas: seguindo os princípios de Halsted.
B –Sistêmicos:

 Hipoproteinemia: retarda a fibroplasia, diminui resistência e provoca edema;


 Uremia: deprime a granulação, a epitelização e a resistência da cicatriz;
 Corticosteroide: Dosagem elevada ou prolongada que inibe a inflamação e reduz
síntese de colágeno;
 Quimioterápicos: inibem as fases de reparação (divisão celular) e de maturação
(síntese de colágeno);
 Idade avançada: diminui a função reparadora da célula;
 Tumorações: podem impedir a cicatrização devido à caquexia, a alteração do 63
metabolismo e diminuição da função inflamatória;
 Diabete descompensado e hiperglicemia: impedem a síntese de colágeno, o
crescimento capilar e a função das células granulócitas.

4.7 Fatores que podem ser controlados pelo cirurgião

 Manipulação delicada dos tecidos;


 Preservação da vascularização;
 Assepsia cirúrgica;
 Aproximação dos tecidos;
 Obliteração dos espaços vazios;
 Remoção do tecido necrótico.

4.8 Conceitos importantes


A - Seroma: acúmulo subcutâneo ou bolsa de soro e proteína em um ferimento
fechado. Excelente meio de crescimento bacteriano. Desenvolve-se usualmente como falha na
técnica cirúrgica;

B - Evisceração: protusão das vísceras;

C - Eventração: protusão dos intestinos através da parede abdominal;


64
D - Deiscência cicatricial: ruptura parcial ou total das camadas cicatriciais da cirurgia.
Que normalmente ocorre três a cinco dias após a cirurgia, antes que a síntese do colágeno
aumente a força tênsil da cicatriz.

São vários fatores associados com deiscência cicatricial:

 Fatores locais e sistêmicos que afetam a cicatrização


 Aumento da pressão abdominal
 Técnica cirúrgica e adequação (seleção da sutura, colocação, fechamento dos
pontos) do fechamento.
Sinais de deiscência cirúrgica:

 Inchaço na incisão;
 Dor;
 Coloração;
 Necrose tissular;
 Estravazamento serossanguinolento.
5 ANTIBIOTICOTERAPIA

O instante em que se emprega a antibioticoterapia é tudo. Antibióticos são para


prevenir infecção bacteriana ou para tratar uma infecção existente. 65

Profilaxia com antibióticos

A administração IV imediatamente antes e durante procedimento cirúrgico, promove


uma proteção extra ao paciente. Estando recomendada para procedimentos limpos ou limpo-
contaminados.

O fármaco mais frequentemente usado na antibioticoprofilaxia é a cefazolina, na


dosagem de 20 a 22 mg/kg, IV, e repetida a cada 90 a 120 min de cirurgia.

Indicações

Os antibióticos são administrados terapeuticamente no caso de ferimentos


contaminados ou sujos com presença de infecções. Deverá ser usado por uma a três semanas
de acordo com tipo da lesão (profunda ou superficial) e sinais da infecção.

Parâmetros para avaliar a presença de infecção

 Sinais clínicos (febre, depressão, inapetência e disfunção orgânica).


 Resultados laboratoriais (leucocitose, desvio degenerativo à esquerda, anemia,
elevação do fibrinogênio e culturas positivas).
 Exames por imagens (lise óssea, abscedação, falhas em implantação, aumento de
densidade de líquidos).
Antibióticos úteis para tratar infecções de feridas cirúrgicas.

• Cefazolina /cefalexina (Staphylococcus, Streptococcus, e. coli).


• Amoxicilina/clavulanato (Staphylococcus, Streptococcus, Bacteroides).
• Enrofloxacina (Pasteurella, Pseudomonas, Klebsiella, e. Coli)
• Clindamicina (Staphylococcus, Streptococcus).
• Metronidazol (bacteroides). 66
Causas das falhas no tratamento com antibióticos.
• Seleção inadequada do antibiótico.
• Erros de dosagem.
• Falta de acesso ao local afetado.
• Resistência bacteriana.
• Infecção polimicrobiana.
• Condições associadas com o implante.
• Erro de diagnóstico (causa não-infecciosa).
6 CIRURGIAS ESTÉTICAS MUTILANTES EM PEQUENOS ANIMAIS

6.1 Caudectomia

67

Definição

Consiste na extirpação cirúrgica parcial ou total da cauda.

Indicações

A caudectomia, ou o corte, é uma cirurgia realizada para extirpar tumores, corrigir


infecções, lesões traumáticas com fratura exposta das vértebras coccígeas ou presença de
necrose intensa e também para auxiliar no tratamento de doenças, tais como fistulas perianais
do pastor alemão e do setter.

Anestesia

A partir de oito semanas de idade, deve-se utilizar anestesia geral.

Técnica cirúrgica

Incisão elíptica (meia lua), iniciando no local de desarticulação vertebral, lateralmente,


a fim de sobrar pele para sutura final.

Disseca-se a pele de maneira romba no sentido proximal. A ligadura dos vasos pode
ser feito isoladamente nas artérias (lateral caudal, medial caudal e ventral) e nas veias
(coccígeas, caudais laterais, esquerda e direita) com fio cat-gut (4.0 ou 3.0) ou em massa sobre
o corpo da última vértebra que irá permanecer com categute 2.0. Após ligadura é feita a
desarticulação entre as vértebras. A sutura de pele é feita com pontos simples separados com fio
inabsorvível (náilon 3.0).

Pós-operatório
68
Deve-se ter cuidado com a higiene diária, aplicando-se repelentes de moscas em
pasta, pois são menos tóxicos, e fazer o curativo diariamente. Porém, se os rabos estiverem bem
cortados e não houver infecção, mesmo sem os pontos, a cicatrização ocorre sem problemas.

Depois de dez dias de idade, a anestesia local já não resolve tão bem, e a dor
insuportável de uma caudectomia mal anestesiada pode resultar em traumas emocionais
irreversíveis no filhote. Aos dois meses de idade, o corte do rabinho transforma-se então em uma
verdadeira cirurgia de amputação de membro, e seu pós-operatório irá requerer a utilização de
drogas antibióticas, anti-inflamatórias, curativos e contenção do animal para que ele não retire os
próprios pontos, colocando em contato o local da ferida com a boca.

Retirar pontos com oito dias.

Complicações

Estas complicações seriam devido à lambedura constante da mãe no local, retirando


assim as suturas, e a falta de higiene do ambiente, que atraem moscas, podendo acarretar
miíases nos rabinhos.

As miíases (bicheiras) são bastante perigosas, pois podem evoluir chegando a


comprometer órgãos, como o reto do bichinho, principalmente em raças como o Rothweiller, que
tem suas caudas cortadas bem rentes ao corpo.

Deiscência de sutura – caso ocorra deixar que aconteça a cicatrização por segunda
intenção, tratar a ferida aberta contaminada.
6.2 Conchectomia

Conceito

Partindo do princípio que os cães primitivos e os selvagens tinham o pavilhão auricular 69

ereto e em forma de concha, o homem, ao longo do tempo, reconheceu que esta realidade
beneficia as condições de proteção e audição. Talvez seja esta a real intenção do homem em
formatar orelhas grandes e pendentes em conchas eretas em algumas raças, propiciando além
de um corte estético, o fator proteção. O aumento do tamanho das orelhas dos cães ocorreu com
o tempo e isso talvez tenha sido na intenção de fechar o conduto auditivo para diminuir a
audição nos cães de caça, para não se distraírem do faro como é o caso do Basset Hound,
Bloodhound, Cocker Spaniel, entre outros, resultando em maiores problemas nas orelhas e
conduto auditivo, como otites (infecção nos ouvidos), fungos, sarnas, otematomas
(descolamento da cartilagem por hemorragia auricular), injúrias, dilacerações, alopecia,
sangramento, miíases (bicheira), surdez e dermatites. Percebemos que orelhas pendulares são
sempre alvos fáceis e com pouca chance de defesa, acarretando em uma maior incidência de
problemas. Um cão doméstico com orelhas pendulares se fosse solto na natureza
provavelmente morreria rapidamente, pois qualquer ferimento no pavilhão atrairia insetos,
moscas, e fatalmente uma miíase ocorreria, levando o animal à morte em pouco tempo.

Raças

Schnauzers, Pinscher, Boxer, Dobermann, Dog Alemão, Pit Bull, Dogo Argentino,
Mastin Napolitano, Grifon de Bruxelas, American Stafordshire Terrier.

Indicações:

 Traumatismo em ponta de orelha;


 Deformidades no pavilhão auricular (brigas, acidente e miiases);
 Deformidades decorrentes de otematoma;
 Remoção de tumores (carcinoma epidermoide em gatos);
 Auxiliar no tratamento do conduto auditivo;

Vantagens da conchectomia 70

 Novos Movimentos: Cortando parcialmente o pavilhão, se promovem três


movimentos das orelhas, o da ereção, abaixamento e rotação, dando condição ao cão de
espantar insetos, se proteger de mordida de outros cães, melhorarem a audição, diminuir as
chances de proliferar fungos, sarnas e bactérias que induzem a otite.
 Cães que mergulham: Em cães que tem habilidade de mergulhar como o Pit
Bull, as orelhas cortadas promovem uma condição ideal para a oclusão total do conduto auditivo,
observamos então que o cão que tem orelhas cortadas tem melhor desempenho ao mergulhar
do que o cão que tem as orelhas íntegras.
 Melhora na rotina diária: Em muitos casos é feita a prática do corte de orelhas
em cães mestiços, em geral no interior, com o intuito de beneficiar a condição de defesa do cão
para a lida no dia a dia com animais.
 Aumento da Imunidade: Alguns autores alegam que o corte das orelhas
aumenta sensivelmente a imunidade do cão contra vírus do tipo Cinomose, Parvovirose entre
outros.

Anestesia

Sedação associada à anestesia local.

Técnica

Faz o posicionamento de uma pinça para corte de orelhas de acordo com o local onde
irá incisar com bisturi. O sangramento é totalmente controlado com eletrocautério, e com sutura
com fio inabsorvível em toda sua extensão, facilita-se um correto posicionamento e cicatrização.
É um procedimento feito em torno de 30 minutos.

Pós-operatório:

 Usar colar elizabetano;


 Bandagens com esparadrapo com troca semanal; 71
 Antibiótico e anti-inflamatório;
 Os pontos devem ser removidos sete dias após a cirurgia.

6.3 Otohematoma

Conceito

O otohematoma define-se como uma coleção de sangue entre a cartilagem do pavilhão


auricular e a face interna da pele que o cobre.

Causas

A causa dos otohematomas nem sempre é bem esclarecida, mas parece que surgem
no decurso do ato de coçar a orelha ou de balanças a cabeça, em razão a irritação ou coceira
associada a otites externas, causadas por bactérias, ácaro ou por fungos na maior parte dos
casos.

Mais frequentes em cães com orelhas pendulares com inflamação crônica e aguda,
ectoparasitas, corpos estranhos e os tumores e pólipos do canal auditivo.

O sangue se acumula entre a pele e as camadas de cartilagem no pavilhão auricular,


formando um hematoma. Na superfície côncava, convexa ou em ambos os lados da orelha.
Tamanho/consistência

Dependerá do tempo e severidade do traumatismo.

Tratamento

Em primeiro lugar deve resolver-se a causa do hematoma auricular. Caso este seja 72

recente pode fazer-se a punção, para drenar o líquido. Dez a quinze dias são suficientes para a
pele e a cartilagem ganharem aderência novamente. Devendo fazer a compressão da orelha
durante este período para ajudar à recuperação. Infelizmente, na maioria dos casos este
procedimento não é suficiente e tem mesmo que se recorrer à cirurgia.

Os objetivos da cirurgia são remover o hematoma, prevenir as recidivas e manter a


aparência da orelha (i.é diminuir o espessamento e a ocorrência de cicatrizes).

Tratamento conservativo

Drenagem do hematoma: aspiração com uma agulha; lancetamento com lâmina de


bisturi ou a sutura de um dreno embutido na cavidade do hematoma para uma drenagem
contínua.

Obs: para hematomas com uma consistência fluida. Geralmente aplica-se uma atadura
na orelha.

Técnica Cirúrgica

 Incisão e drenagem e a sutura da pele à cartilagem;


 Incisão longitudinal ou em “S” ao longo de todo o seu comprimento;
 Cureta-se e lava-se - removendo depósitos de fibrina;
 Colocam-se suturas paralelamente à incisão cutânea – esses pontos, que
devem ir de um lado ao outro da orelha e devem ser em U e pode protegê-los com um tubo de
plástico ou até mesmo com botões de camisa;
 São mantidos durante, aproximadamente, 10 a 12 dias. O principal problema
destas situações é o risco de infecção, daí as orelhas devem estar bem protegidas.

B
A C

73

D E

Fonte: Prof. Eugênio Henriques. Aula de Clinica Médica. FAA., 2004 e Bojrab, 1996.

Fig.23- A: orelha com otohematoma, observar o aumento que se formou entre a parte interna e externa
da mesma; B:realização do corte em “S” na parte interior da orelha afetada; C: visualização do corte
em “S”; D: demonstração de como fica a orelha em sua parte externa após ter suturado o defeito; E:
demonstração da parte interna da orelha, corte em “S” aberto e vários pontos simples laterais paralelos
a incisão.

6.4 Entrópio

É a inversão da pálpebra e dos cílios na direção da córnea.

Etiologia
 Hereditária: caninos com menos de seis meses de idade com entrópio,
considera-se de origem hereditária, a menos que se encontre outro fator desencadeante;
 Conformacional: é o entrópio de maior ocorrência nos pequenos animais, está
relacionado às raças predisponentes como o Sharpei, Chow Chow, Rothweiller, Dog Alemão,
Labrador e Bulldog;
 Adquirida: é a causa mais comum nas demais espécies, divide-se em dois
74
principais, o entrópio cicatricial e o entrópio espástico. O entrópio cicatricial decorre de uma
sequela da cicatrização de um ferimento na pálpebra. O entrópio espástico geralmente resulta de
um blefaroespasmo, e pode ser causado por problemas ciliares, provocando dor corneal
(triquíase, distiquíase e distriquíase), por corpos estranhos ou lesão corneal e pela conjuntivite;
Obs.: quando a irritação e a epífora estão associadas com os problemas ciliares, a
aplicação de pomadas lubrificantes e a remoção manual dos cílios proporcionarão alívio
temporário destes sinais clínicos.

Incidência

A. Cães: geralmente hereditário, mas pode ocorrer por blefaroespasmo ou por injúrias
(lesões). Raças predisponentes: Rothweiller, chow-chow, Bulldog, Setter inglês, São Bernardo;
Cocker, etc.;

B. Gatos: incomum. Quando ocorre normalmente é de origem traumática;

Sinais clínicos

Os sinais clínicos podem incluir: epífora, blefaroespasmo, fotofobia, conjuntivites,


ceratites, com ou sem a presença de úlcera de córnea. Quando a infecção bacteriana está
presente, observa-se descarga ocular mucopurulenta, opacidade de córnea e perda de visão.

Considerações cirúrgicas

O platô tarsal fibroso é uma estrutura anatômica da pálpebra muito importante,


particularmente devido ao seu suporte físico para as margens palpebrais, e por ancorar e
promover estabilidade as suturas palpebrais. Os abundantes suprimentos vasculares,
encontrados nas pálpebras, as tornam susceptíveis ao edema, mas também permitem uma
rápida cicatrização pós-traumática e proporcionam o reparo cirúrgico satisfatório, mesmo após
vários dias da ocorrência da lesão. Além disso, em razão ao excelente suprimento sanguíneo, as
pálpebras são relativamente tolerantes aos insultos térmicos, permitindo o uso da criocirurgia e
eletrocirurgia para o tratamento de desordens ciliares e de neoplasias palpebrais.

75

Tratamento

Baseia-se no reposicionamento da pálpebra para sua posição anatômica e no combate


ao agente etiológico.

Técnica de hotz-celsus ( blefaroplastia )

O entrópio crônico ou recorrente necessita de correção cirúrgica definitiva. O


procedimento cirúrgico mais comum é baseado na remoção localizada da pele palpebral,
denominado de procedimento de hotz-celsus.

Prenda uma porção de pele com uma pinça halsted mosquito curva, o suficiente para
que a pálpebra volte à posição anatômica normal. A quantidade de pele a ser removida deve ser
medida individualmente para cada caso. A prega de pele é feita logo abaixo da margem
palpebral (3 a 5 mm), depois de feita a marcação da pele com as pinças mosquitos, a porção
excedente é removida com uma tesoura de mayo curva, retirando toda a parte que foi pinçada. A
ferida da pele é, então, fechada com pontos isolados simples (náilon 4.0 a 5.0), mantendo a
pálpebra na sua posição anatômica normal.

Pós-operatório

Curativo local, remoção dos pontos com 14 dias.


76

Fonte: Meca cirurgia on-line. Acesso dia 09/01/2008.

Fig.24 A- Pálpebra invertida; B- Incisão com bisturi em meia lua; C- Sutura da ferida cirúrgica.

6.5 Ectrópio

Definição

É a eversão da pálpebra inferior, com exposição da superfície conjuntival, sendo


comum em cães e raro em gatos.

Etiologia

 Congênita: encontrada principalmente em cães que apresentam a pele da face


solta. Ex.: Cocker, Basset, São Bernardo, Fila, etc.;
 Fadiga dos músculos faciais: visto principalmente nos cães de caça que pela
manhã estão normais, porém ao final da tarde apresentam ectrópio. Não devemos tratar
cirurgicamente;
 Paralítica: ocorre devido à lesão dos ramos do nervo facial (ventral e dorsal),
que suprem o músculo orbicular do olho;
 Traumática: reação cicatricial após lesão da pálpebra inferior;
 Iatrogênica: correção exagerada do entrópio.

Sinais clínicos:

 Conjuntivite crônica (olho com aparência avermelhada, secreção abundante);


 Epífora (excesso de lágrima). 77

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico consiste no encurtamento da pálpebra inferior, por meio da


ressecção de um triângulo palpebral no canto lateral do olho.

O excesso do comprimento da pálpebra é estimado, marcando a quantidade de


pálpebra a ser removida. A borda da pálpebra inferior é pinçada 3 a 4 mm do canto temporal
com uma pinça hemostática hasted mosquito reta, para a delimitação da mesma. É feita uma
marca inferior projetando a formação de um triângulo, sendo que os lados desse triângulo
deverão medir de duas a três vezes o comprimento de sua base. Depois de feita às delineações
da porção palpebral em excesso, o triângulo de pele e conjuntiva palpebral são seccionados com
uma tesoura de mayo oftálmica. A sutura da ferida é feita com um mono náilon 5.0 e 6.0, com
pontos isolados simples, sendo que o primeiro ponto deve ser feito na borda palpebral.

Pós-operatório

Curativo local com pomadas oftálmicas ou colírios, e a retirada dos pontos com 15 dias
de pós-operatório. O uso do colar elizabetano evita a automutilação.
7 APARELHO REPRODUTOR FEMININO

7.1 Ovário-histerectomia

78

Indicações

A maior indicação para ovário-histerectomia é a esterilização eletiva, mas é também o


tratamento de escolha para a maioria das uteropatias, como a piometra, torção uterina,
hiperplasia vaginal, ruptura uterina e a neoplasia uterina.

Pode-se indicar a ovário-histerectomia para fêmeas diabéticas e epiléticas para impedir


as alterações hormonais que alteram a efetividade das medicações.

A produção de estrogênio endógeno exerce um papel na etiologia dos tumores


mamários espontâneos. A incidência de neoplasia mamária é de 0,5% nas cadelas castradas
antes do primeiro estro, enquanto o fator de risco é de 8% quando se retarda a ovário-
histerectomia até após o primeiro estro; após dois ou mais cios, o risco se eleva para 26%.

A ovário-histerectomia pode ser uma terapia adjunta justificável para uma neoplasia
mamária. A pesquisa atual sobre os receptores hormonais nos tumores mamários caninos pode
finalmente tomar possível a determinação de quais cadelas responderão a uma ovário-
histerectomia no momento da mastectomia por análise de receptores hormonais tumorais
específicos.
79

Fig.25 A anatomia do trato reprodutivo nas cadelas é exibida.


Fonte: Bojrab, 1996

Anatomia Cirúrgica

Os ovários, os ovidutos e o útero são presos às paredes dorsolaterais da cavidade


abdominal e à parede lateral da cavidade pélvica por meio de pregas duplas pareadas do
peritônio chamadas de ligamentos largos direito e esquerdo. Cranialmente, o ligamento largo se
prende por meio do ligamento suspensor do ovário. O ligamento largo se divide em três regiões:
o mesovário, a mesossalpinge e o mesométrio. O ligamento suspensor corre da face ventral do
ovário e da mesossalpinge cranial e dorsalmente para os terços médios e ventrais das duas
últimas costelas. O ligamento próprio, que é a continuação caudal do ligamento suspensor, se
prende à extremidade cranial do corno uterino. O ligamento redondo do útero se prende à
extremidade cranial do corno uterino e é a continuação caudal do ligamento próprio. O ligamento
redondo se estende caudal e ventralmente ao ligamento largo e, na maioria das cadelas, passa
através do canal inguinal e termina subcutaneamente próximo à vulva.

O complexo arteriovenoso (AV) ovariano repousa sobre o lado medial do ligamento


largo e se estende da aorta para o ovário. A artéria ovariana é menos torcida nas gatas que nas
cadelas. A artéria ovariana supre o ovário e a porção cranial do corpo uterino na cadela e na
gata.

A veia ovariana esquerda drena para dentro da veia renal esquerda, e a veia ovariana
direita drena para dentro da veia cava caudal. As veias uterinas correm em associação íntima
com as artérias uterinas e terminam caudalmente nas veias ilíacas internas.

80

Técnica Cirúrgica

Deve-se comprimir manualmente a bexiga antes da cirurgia. No caso da cadela, faz-se


uma incisão abdominal na linha média se estendendo do umbigo até meio caminho entre este e
a borda do púbis. No caso da gata, a incisão começa aproximadamente 1 cm caudal ao umbigo
e se estende cerca de 3 a 5 cm caudalmente. Deve-se estender a incisão abdominal mais
caudalmente na gata para proporcionar uma exposição adequada do corpo uterino.

Se o útero estiver aumentado, exige-se uma incisão abdominal mais extensa. Localiza-
se o corno uterino esquerdo com o dedo indicador. Pode-se colocar uma pequena pinça
hemostática no ligamento próprio para ajudar na retração do ovário. Estica-se ou rompe-se o
ligamento suspensor com o dedo indicador. Deve-se direcionar uma tensão mais caudalmente
ao longo da parede corporal dorsal que perpendicularmente a incisão, para evitar o rasgo do
complexo AV ovariano. Localiza-se o complexo AV ovariano e faz-se uma "janela" no mesovário
imediatamente caudal ao complexo AV ovariano. Pinça-se duplamente o complexo AV ovariano
com uma pinça hemostática. Deve-se manter contato constante com o ovário ao aplicar a
primeira pinça para assegurar que todo o ovário seja removido. Rompe-se então o pedículo entre
a pinça média e o ovário.

Devem-se colocar as pinças no pedículo ovariano, tão próximas do ovário quanto for
possível para prevenir a inclusão acidental do ureter.

Prefere-se uma sutura absorvível (por exemplo, o categute cromado) para todas as
ligaduras. Coloca-se uma sutura circular frouxa ao redor da pinça proximal. Remove-se a pinça à
medida que se aperta a sutura circular de forma que a mesma sutura repouse no sulco de tecido
esmagado criado pela pinça. Coloca-se uma sutura de transfixação entre a sutura circular e a
superfície de corte do pedículo. Prende-se o pedículo (sem prender a ligadura) com uma pinça
de polegar, libera-se a pinça final e inspeciona-se o pedículo quanto a sangramentos. Se não
ocorrer sangramento, recoloca-se o pedículo no abdome.

Isola-se o corno uterino direito por meio do segmento do corno uterino esquerdo
distalmente até a bifurcação. Repete-se o procedimento da ligadura no pedículo ovariano direito.
Faz-se então uma janela no ligamento largo adjacente à artéria e à veia uterinas, e prende-se e
lacera-se o mesmo. A ligadura em massa dos ligamentos, largo e redondo raramente é 81
necessária; no entanto, devem-se ligar os grandes vasos no ligamento largo.

Exterioriza-se o corpo uterino e localiza-se a cérvix. Podem-se utilizar várias técnicas


para ligar e dividir o corpo uterino, dependendo do tamanho do útero e da preferência do
cirurgião. Pode-se utilizar a técnica da pinça tripla quando o corpo uterino for pequeno (por
exemplo, nas gatas e nas cadelas pequenas). Rompe-se o corpo uterino entre a pinça média e a
pinça proximal. Ligam-se individualmente as artérias e veias uterinas entre a pinça distal e a
cérvix. Coloca-se uma sutura circular frouxa ao redor da pinça distal, remove-se a pinça e
aperta-se a sutura no sulco de tecido esmagado. Coloca-se uma sutura de transfixação entre a
sutura circular e a pinça remanescente, que é depois removida. Avalia-se o coto uterino quanto a
sangramentos e recoloca-se o mesmo no abdome.

Devem-se avaliar os pedículos ovarianos e o coto uterino quanto a sangramentos


antes do fechamento abdominal.

Fecha-se a incisão abdominal ou em um padrão de sutura interrompido simples com


uma sutura absorvível ou em um padrão de sutura contínuo simples com uma sutura não-
absorvível (polipropileno ou náilon monofilamentar). Devem-se colocar as suturas na bainha reta
externa, mas não é necessário se suturar a bainha reta interna ou o peritônio. Fecham-se
rotineiramente o tecido subcutâneo e a pele.
A B C

82

D E F

Fonte: arquivo pessoal H


Fig.26 A: incisão de pele na linha Alba, a 1 cm da cicatriz umbilical; B: incisão em estocada
com bisturi com parte cortante voltada para cima para penetrar cavidade abdominal; C: visualização da
cavidade abdominal com auxílio de 2 pinças Allis fixadas aos planos cirúrgicos incisados; D: coto
uterino esquerdo sendo retirado da cavidade e pinçamento anterior ao ovário; E: no detalhe
observamos ovário entre pinças hemostáticas pré e pós ovário; F:cornos uterinos já ligados e
seccionados e coto uterino ligado logo acima da cérvix.

Complicações e Sequelas

Hemorragia

Tem-se descrito a hemorragia intraoperatória como a complicação mais comum


associada com a ovário-histerectomia nas cadelas com mais de 25 kg. A hemorragia durante a
ovário-histerectomia pode resultar do rasgo do complexo AV ovariano enquanto se manipula o
ligamento suspensor. Isso pode ser evitado ao se manipular cuidadosamente o ligamento
conforme anteriormente descrito. A hemorragia intraoperatória também pode resultar do rasgo
dos grandes vasos no ligamento largo, do rasgo dos vasos uterinos por meio de uma tração
excessiva no corpo uterino ou da liberação acidental de uma pinça antes da colocação das
ligaduras. Devem-se ligar individualmente os grandes vasos no ligamento largo e deve-se evitar
uma tração excessiva no corpo uterino por meio da extensão da incisão abdominal. A colocação
83
imprópria das suturas pode resultar em uma hemorragia intra ou pós-operatória. Devem-se ligar
duplamente os pedículos ovarianos e o coto uterino e avaliá-los quanto a sangramentos antes do
fechamento abdominal.

Piometra do Coto Uterino

A piometra do coto uterino pode ocorrer se não se remover todo o corpo uterino ou
porções de qualquer dos cornos uterinos durante a ovário-histerectomia e o animal tiver níveis
sanguíneos de progesterona elevados. A fonte de progesterona pode ser endógena proveniente
de tecido ovariano residual ou exógeno (proveniente de compostos gestacionais utilizados para
tratar uma dermatite). Podem-se evitar a piometra do coto uterino excisando-se completamente
os cornos e o corpo do útero.

Ligadura do Ureter

A ligadura acidental de um ureter (que ocorre algumas vezes durante a ligadura do


corpo uterino ou de um complexo AV ovariano) resulta em uma hidronefrose e pode predispor a
uma pielonefrite. Pode-se esmagar ou ligar acidentalmente um ureter se o complexo AV ovariano
cair e se ocorrer um pinçamento indiscriminado do tecido na goteira lombar. É mais provável que
se inclua um ureter na ligadura do corpo uterino se a bexiga estiver repleta, pois o trígono e a
junção vesicoureteral se deslocam cranialmente, resultando em uma folga maior nos ureteres.
Incontinência Urinária

A incontinência urinária após uma ovário-histerectomia pode ser causada por um nível
estrogênico sistêmico baixo; por aderências ou granulomas do coto uterino que interferem na
função do esfíncter vesical; e por fistulação vaginoureteral proveniente da ligadura comum da
vagina e do ureter. Terapia recomendada para a incontinência urinária responsiva a estrógenos
é a administração oral de dietilstilbestrol em 0,1 a 1,O mg por dia por 3 a 5 dias seguida, por uma 84
dose de manutenção de 1,O mg por semana.

Ganho de Peso Corporal

O ganho de peso corporal foi a sequela em longo prazo mais comum relatada em um
estudo, ocorrendo em 26,2% das cadelas após uma ovário-histerectomia eletiva. A causa do
ganho de peso excessivo após a ovário-histerectomia é pouco compreendida. Uma teoria sugere
que os depósitos de gordura do corpo possuam receptores para 'hormônios esteroides
específicos, de forma que se facilite ou bloqueie a deposição de gordura em uma maneira
regional em resposta a testosterona, ao estradiol, a progesterona e ao cortisol. O estradiol inibe
a lipase lipoproteica nos adipócitos dos depósitos gordurosos incorrendo no fato de que os
ácidos graxos circulantes podem não se esterificar e depositar. Consequentemente, um baixo
nível de estradiol sistêmico após uma ovário-histerectomia pode levar a uma deposição
excessiva de gordura e a um ganho de peso.

Síndrome Eunucoide

A síndrome eunucoide ocasionalmente é observada nas cadelas de trabalho após uma


ovário-histerectomia. As cadelas afetadas apresentam uma redução na agressão, no interesse
pelo trabalho e na resistência. O autotransplante de um ovário para a subsserosa da parede
gástrica, que é drenada exclusivamente pela veia portal, pode impedir essa complicação. O
enxerto produz estradiol e progesterona, que são parcialmente metabolizados pelo fígado. Os
níveis de estradiol circulante são inadequados para iniciar o estro, mas são suficientes para
evitar a síndrome eunucoide.

Complicações Relacionadas à Celiotomia

85
Em qualquer procedimento abdominal, pode ocorrer uma incisão acidental do baço ou
da bexiga, uma falha na remoção de todos os tampões de gaze da cavidade abdominal antes do
fechamento, uma deiscência, uma formação de seroma e uma automutilação. O traumatismo
autoinfligido do ferimento abdominal tem sido descrito como a complicação mais comum
associada com a ovário-histerectomia de cadelas com menos de 25 kg. Pode-se evitar a maioria
dessas complicações por meio de uma atenção estrita a detalhes e pela observação dos
princípios básicos da técnica de cirurgia asséptica.

Estro Recorrente (Síndrome dos Restos Ovarianos)

O estro recorrente geralmente resulta de um tecido ovariano residual funcional após


uma ovário-histerectomia incompleta. Podem estar presentes sinais clínicos associados com o
estro e a atividade hormonal ovariana. Podem-se retardar os efeitos hormonais dependendo da
manutenção ou não da vascularização dos restos ovarianos. Pode-se desenvolver uma
circulação colateral ao tecido ovariano mesmo se estiver ligado e transeccionado o complexo AV
(arteriovenoso) ovariano.

7.2 Piometra
Conceito

Na piometra o útero se encontra repleto de pus, normalmente ocorre quatro a oito


semanas após o estro. Esta doença está associada à atividade ovariana e distúrbios
extragenitais.

A hiperplasia endometrial cística é considerada como a primeira lesão no


86
desenvolvimento da piometra.

O acúmulo de líquido no lúmen do útero e glândulas endometriais, juntamente com a


diminuição da contratilidade do miométrio causada pela progesterona parece favorecer a invasão
bacteriana.

A maior parte da morbidade e mortalidade associadas com a piometra pode ser


atribuída à infecção bacteriana secundária do útero normal.

O papel da progesterona na fisiopatologia da HCE -piometra tem sido investigada. A


ocorrência de HCE e piometra após a administração exógena de progesterona é dose e
duração-dependente, tanto na cadela como na gata. A ocorrência de HCE e piometra tem sido
descrita frequentemente após a administração de acetato de megestrol e medroxiprogesterona a
gatas intactas e parcialmente histerectomizadas. Embora o estrogênio exógeno sozinho não
provoque HCE ou piometra, ele potencializa os efeitos da progesterona. Em consequência aos
riscos de ocorrer piometra e a pobre eficácia na prevenção da gestação, os autores concluíram
que os estrógenos não devem ser usados para prevenir a gestação em cadelas.

Tipos

 Fechada
 Aberta

Causas

Progesterona exógena

Diestro – diminuição resposta Leucocitária


Idiopática

Sintomas

Os sintomas clínicos estão diretamente relacionados com a gravidade do quadro. Os 87

sintomas gerais incluem depressão, anorexia, vômitos, diarreia, polidipsia (aumento na ingestão
de líquidos) e poliúria (aumento na produção urinária).

Estes sintomas não específicos com um histórico de exposição à progestina, são


sugestivos de piometra. O corrimento vaginal purulento está presente em 75% das cadelas com
piometra. Variados graus de desidratação e depressão são encontrados ao exame clínico. Um
corrimento vaginal purulento, frequentemente contendo sangue, pode ou não estar presente. O
corrimento vaginal pode ser intermitente ou constante, escasso ou copioso em quantidade. A
temperatura retal geralmente esta normal.

Os animais com sepse ou endotoxemia podem estar hipotérmicos. Estes animais


geralmente se apresentam em decúbito e em choque.

As lesões renais associadas com a piometra têm sido investigadas. Ocorre uma
redução na capacidade de concentrar a urina, associada com a infecção bacteriana do útero,
porém ela não ocorre associada com a manipulação hormonal, na ausência de infecção
bacteriana.

Diagnóstico

A informação essencial para o diagnóstico e tratamento de piometra inclui histórico do


estágio do ciclo estral e/ou terapia hormonal, e exame físico completo.
A contagem sanguínea completa, urinálise, e o perfil bioquímico são necessários para
detectar as anormalidades metabólicas associadas com a septicemia e/ou toxêmia, e para a
avaliação da função renal.

A radiografia abdominal e/ou a ultrassonografia confirmarão a presença do útero


aumentado.

88
O diagnóstico diferencial mais importante para a piometra é a gestação. A aparência
radiográfica do útero gravídico antes da calcificação fetal (cerca de 42 dias) é indistinguível da
obtida quando há piometra. Ambas possuem uma densidade líquida homogênea.

A ultrassonografia é muito útil para a diferenciação da piometra e gestação. Antes de


28 dias, o diagnóstico de gestação com a ultrassonografia nem sempre é preciso, porém a
diferenciação entre a piometra e a gestação ainda é possível.

Tratamento

 Cirúrgico: ovário-histerectomia
 Clínico: antibioticoterapia e soroterapia para corrigir acidose.
O tratamento de escolha para a HCE -piometra é a ovário-histerectomia

B
A
C D

Fonte: arquivo pessoal


89
Fig. 27-A e B: piometra em cadela de três anos; C e D: piometra em uma gata de cinco anos.

7.3 Hiperplasia Vaginal

Conceito

A hiperplasia vaginal acomete frequentemente cadelas e acontece em fases do ciclo


estral em que há produção de estrogênio, ou seja, pró-estro e estro.

Com o estrogênio atuante, ocorre edema excessivo, aumento de tamanho das dobras
de mucosa e hiperemia do tecido vaginal, podendo ocorrer ou não a exteriorização através da
vulva.

A extensão do tecido vaginal acometido varia, porém a região localizada ventralmente


e cranialmente ao meato urinário externo é frequentemente encontrada hiperplásica. Na maioria
dos casos, a hiperplasia vaginal se mostra recidivante, aparecendo a cada ciclo estral (com a
onda de estrogênio) e desaparecendo posteriormente, com resolução espontânea (quando
termina a fase folicular do ciclo estral e aumenta o nível de progesterona, ou seja, no diestro).

Sinais clínicos
Ao exame físico, pode ser observado edema da mucosa vaginal e vulvar, que se
apresenta brilhante, lisa e de coloração avermelhada.

90

Disponível em <www.pedrovet.com.br>. Acesso em: 02/01/2008.

Fig 28- Demonstração da massa exteriorizada pela vulva da cadela com hiperplasia vaginal.

Outros sinais clínicos podem ser observados como: disúria, lambedura excessiva da
vulva, acasalamento doloroso e períneo evaginado.

De acordo com alguns autores, a hiperplasia vaginal pode ser classificada em:
hiperplasia vaginal de 1º grau apresentando edema de mucosa, com protrusão dos lábios
vulvares, principalmente em decúbito lateral e hiperplasia vaginal de 2º grau apresentando
tumefação dos bordos vulvares, principalmente acima da comissura ventral da vagina. Em casos
mais graves, pode ocorrer prolapso vaginal, com exteriorização da mucosa em forma de coroa,
apresentando opacidade e desidratação, podendo ainda ocorrer fissuras, infecções secundárias
e úlceras devido à exposição prolongada da mucosa.

Ocorrência

A hiperplasia vaginal acomete com maior frequência cadelas de raças grandes jovens
e intactas.

Diagnóstico
Como diagnóstico, se preconiza a execução do exame clínico com auxílio ou não da
vaginoscopia, além da citologia e histopatologia.

Em alguns casos se fazem necessárias a diferenciação de neoplasias (como pólipos,


lipomas, carcinomas de células escamosas e tumor venéreos transmissíveis) por intermédio das
técnicas de biópsia aspirativa e citologia do tecido vaginal.

91
No caso de neoplasias, além destas apresentarem diferente consistência, as lesões
neoplásicas e seus sintomas não possuem ligação com a fase do ciclo estral.

Tratamento

O tratamento deste distúrbio pode ser medicamentoso ou cirúrgico.

O tratamento medicamentoso é de natureza paliativa, pois os sintomas tendem a


desaparecer na fase progesterônica do ciclo estral, no caso de hiperplasias de 1º e 2º grau.

Em situações de prolapso vaginal, o tecido deve ser protegido de infecções, com o uso
de compressas e antissépticos locais e ainda deve se prevenir o risco de automutilação e
traumatismo com o colar elizabetano.

Em alguns casos, que não regridem espontaneamente pode ser feita a administração
de hormônios que induzirão a ovulação, como hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) ou
gonadrofina coriônica humana (HCG), todavia os efeitos colaterais são bastante expressivos
quando essa terapia é utilizada rotineiramente. Pode ser utilizado também o acetato de
megestrol, que antagoniza o estrogênio, evitando a hiperplasia, portanto não deve ser utilizado
em cadelas que se destinam à reprodução. O tratamento medicamentoso é feito no caso de
cadelas com função reprodutoras.

No tratamento cirúrgico será feita a exérese do tecido protuso e/ou ovário-


histerectomia, o que é recomendável visto que a característica recidivante da patologia. Desta
forma, com a OSH retira-se o estímulo hormonal e, com cerca de sete dias após a cirurgia,
ocorre normalização da mucosa vaginal.
7.4 Neoplasias da glândula mamária

A neoplasia da glândula mamária é uma doença das cadelas e gatas mais idosas. Os
tumores das glândulas mamárias (TGM) caninos são os tumores mais comuns nas tabelas. Nas 92
gatas, só os tumores cutâneos e os linfomas são mais comuns que os tumores de glândulas
mamárias. Os tumores das glândulas mamárias são muito raros nos machos.

Etiologia das neoplasias mamárias

Desconhece-se a causa das neoplasias da glândula mamária. Embora se tenha


identificado partícula semelhante a vírus nos TGM felinos e caninos, é improvável o seu papel
como agentes causadores. Cerca de 50% dos carcinomas mamários possuem receptores
estrogênios. Pode se associar a administração de progesterona com o desenvolvimento dos
TGM nos gatos, mas ainda não se estabeleceu uma relação de causa e efeito. Os TGM felinos
são receptores de progesterona-positivo. Os canais com TGM e benignos apresentam um risco
beco de mais de três vezes de desenvolver subsequentemente uma malignidade mamária de
tipo celular diferente.

A complexidade do tumor mamário decorre principalmente do próprio tecido mamário,


cuja estrutura histológica é muito heterogênea. Neoplasias mamárias em cadelas originam-se a
partir de células epiteliais ductuolares e/ou alveolares, células mioepiteliais adjacentes ao
epitélio, e/ou células do tecido conjuntivo intersticial.

Os tumores de mama mistos são aqueles que mais comumente acometem as cadelas,
e a observação frequente de cartilagem e osso nesses tumores tem provocado controvérsias em
relação ao tipo celular que dá origem a metaplasia. O tecido ósseo formado na glândula mamária
é tão autêntico que muitas vezes observamos a presença de medula óssea típica e ativa.
Quando da presença de cartilagem, esta assume seu aspecto morfológico característico e
demonstra íntima associação com o tecido epitelial adjacente. Os tumores mistos são formados
por dois tipos celulares: as células epiteliais e as mioepiteliais. Elas se manifestam
histologicamente, de forma muito variada, o comportamento de cada tumor vai variar de acordo
com a sua origem e seu arranjo histológico.

Anatomia cirúrgica das glândulas mamárias

As glândulas mamárias da cadela e da gata são glândulas cutâneas sudoríparas 93


modificadas, com uma estrutura lóbulo alveolar composta apócrina. As glândulas mamárias
estão arranjadas em duas fileiras paramedianas paralelas desde a região axilar até a inguinal. As
glândulas encontram-se circundadas por tecido adiposo subcutâneo, que é escasso na região
torácica e abundante na região inguinal.

As glândulas individuais são diferenciadas pela teta correspondente, embora o tecido


mamário possa ser confluente entre as glândulas cranial e caudal adjacentes. A separação na
linha média entre as cadeias mamárias é distinta. As glândulas são indicadas por nome
(torácicas, cranial e caudal, abdominais cranial e caudal e inguinais) ou por número (uma a cinco
craniais a caudais). As cadelas geralmente têm cinco pares de glândulas mamárias, e as gatas,
quatro, embora o número possa variar de quatro a seis em cada espécie.

As glândulas torácicas aderem diretamente aos músculos peitorais subjacentes com


pouca gordura ou tecidos conjuntivo areolar interposto. As glândulas abdominais encontram-se
frouxamente presas à fáscia por meio de um tecido conjuntivo delgado e gordura. As glândulas
inguinais encontram-se suspensas a partir da parede corporal por intermédio de uma extensão
do músculo do tronco cutâneo.

O sangue é fornecido às glândulas torácicas por meio de ramos perfurantes da artéria


torácica interna, de ramos cutâneos das artérias intercostais e por artéria torácica lateral. As
glândulas abdominais craniais recebem sangue predominantemente da artéria epigástrica
superficial cranial. As glândulas abdominais caudais e inguinais são supridas pela artéria
epigástrica superficial caudal e pelos ramos perivulvares da artéria pudenda externa. As veias
correm paralelamente às artérias, exceto quanto a numerosas veias que atravessam a linha
média durante a lactação.

A drenagem linfática das glândulas mamárias está sujeita a uma variação individual e
também é influenciada pelo estágio da lactação e pela presença de massas que ocupam espaço.
A linfa geralmente flui a partir dos três pares craniais de glândulas mamárias em direção aos
linfonodos axilares e a partir dos dois pares caudais em direção aos linfonodos inguinais. Em
algumas cadelas, encontra-se presente uma conexão linfática entre as glândulas abdominais,
cranial e caudal.

94
Tratamento Cirúrgico

A excisão cirúrgica é recomendada para a maioria dos cães apresentados com


neoplasia mamária, e o objetivo terapêutico é remover toda a evidência macroscópica de tumor.

A excisão deve ser feita naqueles animais que possuem carcinomas inflamatórios ou
moléstias metastáticas. A alta taxa de recidiva indica a incapacidade de se remover todos os
focos de células malignas. A avaliação completa, incluindo as radiografias torácicas, a palpação
cuidadosa de todas as glândulas mamárias, linfonodos periféricos, tecido mole adjacente e
estruturas ósseas, assim como análises laboratoriais adequadas são pré-requisitos para o
tratamento cirúrgico.
Pode-se optar por quatro procedimentos para a excisão:
 Nodulectomia;
 Mastectomia simples;
 Mastectomia em bloco;
 Mastectomia unilateral completa.
Para todas às técnicas, é recomendado o envio do material excisado para biópsia.
Para os cães com chance de recidiva recomenda-se que sejam reexaminados pelo
menos a cada um ou três meses. Nos animais com carcinoma “in situ”, os exames devem ser
feitos com intervalos de três a seis meses. Já os tumores benignos sugerem controles menos
agressivos no pós-operatório, a não ser que tenham novos tumores primários.

Técnicas cirúrgicas

Os procedimentos de mastectomia são realizados de maneira semelhante nas gatas e


cadelas, embora a frouxidão da pele felina geralmente torne a cirurgia mais fácil nas gatas.
Lumpectomia ou nodulectomia

Uma lumpectomia é iniciada ao se fazer uma incisão cutânea diretamente sobre o


tumor. Separa-se simplesmente o tecido mamário sobrejacente ao tumor. Prende-se a periferia
do tumor com uma pinça e se definem os planos teciduais naturais adjacentes ao tumor isolado
por meio de uma dissecção com pinças hemostáticas mosquito ou por uma retirada dos tecidos
para fora do tumor com um tampão (dissecção com tampão). Remove-se, secciona-se 95
parcialmente e coloca-se o tumor em formalina tamponada a 10%. Após se controlar a
hemorragia, fecha-se o ferimento com a aproximação do tecido mamário com um categute
cromado fino (4-0). Fecha-se a pele com a sutura de escolha do cirurgião.

Nodulectomia
Fonte: arquivo pessoal.

Fig.29 – retira-se um nódulo entre as mamas.

Mamectomia parcial

Faz-se uma incisão livre sobre o tumor. Se o tumor tiver contato ou estiver aderido à
pele ou ao tecido subcutâneo, ou seja, se o tumor estiver "fixo" à pele, faz-se uma incisão
elíptica que engloba tanto o tumor como a pele afetada. Desenvolve-se um plano artificial de
dissecção no tecido mamário normal que circunda o tumor. Remove-se uma quantidade livre de
tecido, frequentemente atingindo um terço da metade da mama. Faz-se o fechamento do defeito
no tecido mamário por uma aproximação direta, se for possível. Faz-se uma aproximação
subcutânea com categute 4-0 ou 3-0 para reduzir a tensão no fechamento da pele. Fecha-se
rotineiramente a pele.
Fonte: arquivo pessoal.
96
Fig. 30-Demonstração esquemática da mamectomia.

Mastectomia

A técnica básica para a mastectomia simples, a mastectomia regional e a mastectomia


unilateral completa é a mesma. Todos esses procedimentos envolvem a remoção de um
segmento cutâneo que engloba a(s) glândula(s) mamária(s) afetada(s). Inicia-se a cirurgia
fazendo-se uma incisão elíptica ao redor da (s) glândula(s) mamária(s) a serem removida(s).
Estende-se a incisão precisamente através do tecido subcutâneo até a parede corporal. Na
região torácica, a parede corporal é representada pelo músculo peitoral, e na região abdominal,
pela fáscia retal cranial. Estabelece-se então um plano de dissecção que permitirá que se retirem
limpamente o segmento cutâneo e os tecidos mamários associados a partir da parede corporal.
O plano apropriado de dissecção é profundo em relação ao tecido adiposo e direto sobre o
músculo ou a fáscia.

Nas regiões, abdominal e inguinal, as glândulas são frouxamente aderentes e podem


ser retiradas da fáscia subjacente por meio de um tampão. Na região torácica, as glândulas
aderem ao músculo subjacente e deve-se desenvolver o plano de dissecção com uma
combinação de dissecção precisa e simples com uma tesoura. O plano torácico apropriado é
representado por tiras rendilhadas, porém resistentes, de tecido conjuntivo fibroso. A tração na
porção rostral do segmento cutâneo facilita a dissecção. Procede-se a dissecção desde cranial
até caudalmente sem, na maioria dos casos, se necessitarem danificar o músculo subjacente. Ao
se completar a remoção dos tecidos, o músculo intacto deve ficar claramente visível na região
torácica e a fáscia reta na região abdominal.
A invasão do tecido subjacente por um tumor, seja o músculo peitoral na região
torácica ou a fáscia reta na região abdominal, requer uma ressecção em bloco do tecido da
parede corporal afetado junto com o tumor. Nos casos extremos, deve-se realizar uma
ressecção em espessura completa da parede corporal no sentido de remover todo o tumor
visível, mesmo que a invasão da parede corporal por um tumor seja um sinal de prognóstico
grave e mesmo que a ressecção cirúrgica em massa raramente seja curativa.
97
A remoção da glândula inguinal acarreta a remoção em bloco da gordura inguinal.
Deve-se ter cuidado em se isolar e ligar a artéria e a veia epigástricas superficiais caudais, que
emergem do canal inguinal. Podem-se separar simplesmente da gordura inguinal o processo
vaginal, a protrusão em forma de dedo da gordura que sai através do canal inguinal junto com a
veia e a artéria e o ligamento inguinal deixá-los por trás ou ligá-los e removê-los. Quando se
realiza a dissecção corretamente, removem-se os linfonodos inguinais junto com o segmento
cutâneo, as mamas e a gordura inguinal. As artérias e as veias provenientes dos vasos
pudendos entram nas glândulas inguinais caudalmente a partir dos tecidos ao redor da vulva e
podem exigir uma ligadura ou uma cauterização.

O fechamento do defeito tecidual deixado após uma mastectomia simples, regional ou


unilateral completa deve levar em conta o considerável espaço morto criado. Na maioria dos
casos, não são necessários drenos, restrições, ataduras ou técnicas de sutura exóticas. Mesmo
os grandes defeitos podem ser fechados por meio da aproximação das bordas cutâneas com
uma sutura subcutânea de categute cromado. Prefere-se um padrão interrompido. Pode-se
prender o tecido subcutâneo à parede corporal subjacente a fim de se reduzir o espaço morto.
Fecha-se então a pele de acordo com a preferência do cirurgião. Pode-se colocar rapidamente
um padrão de sutura cruzado interrompido de náilon monofilamentar 2-0 ou 3-0 e distribuir bem a
tensão. Esse padrão tem a vantagem de ser um padrão interrompido, mas que se estende por
um segmento mais longo de incisão por sutura que um padrão interrompido simples.
Independentemente do padrão de sutura utilizado para o fechamento da pele, o
sucesso definitivo da aproximação cutânea depende da colocação de uma linha de
sutura apropriada.
Fig.31- Mastectomia parcial nas três últimas mamas.
98
Fonte: arquivo pessoal

Fig. 31 -Mastectomia unilateral total.

Fonte: arquivo pessoal

Cuidados e complicações

As complicações pós-operatórias associadas com a mastectomia incluem a


formação de seroma, a deiscência do ferimento e o edema de um ou de ambos os
membros traseiros. A formação de seroma é mais comum na região da virilha e pode
ser tratada com o uso de compressas úmidas e mornas. A drenagem por aspiração
ajuda temporariamente, mas aumenta o risco de infecção.

É melhor que se deixem as deiscências de ferimentos, se não for muito


extenso, cicatrizarem por segunda intenção.

As deiscências extensas requerem um debridamento e um fechamento.


Pode ocorrer um edema do membro posterior devido à cirurgia. A remoção
dos tumores mamários inguinais interrompe temporariamente a drenagem linfática
por também remover os vasos linfáticos e os linfonodos.

O exercício moderado, as compressas mornas, os diuréticos e o tempo


geralmente resultam na resolução. Mais ameaçador é o edema que resulta de uma
embolia tumoral nos vasos linfáticos entre as glândulas mamárias e os linfonodos 99
sublombares e de uma metástase tumoral nos linfonodos sublombares. As últimas
situações são indicações de um prognóstico grave, e embora o edema possa se
reduzir à medida que se estabeleça o trajeto linfático potencial, as chances de um
retorno completo a uma homoestasia de fluido tecidual normal são pequenas. O
bloqueio dos vasos linfáticos ou dos linfonodos por meio de uma infiltração tumoral
resulta algumas vezes em uma "metástase retrógrada". Por exemplo, pode-se
estender o tumor inguinal distalmente em uma embolia tumoral nos vasos linfáticos
entre as glândulas mamárias e os linfonodos sublombares e de uma metástase
tumoral nos linfonodos sublombares. As últimas situações são indicações de um
prognóstico grave, e embora o edema possa se reduzir à medida que se estabeleça o
trajeto linfático potencial, as chances de um retorno completo a uma homoestasia de
fluido tecidual normal são pequenas. O bloqueio dos vasos linfáticos ou dos
linfonodos por meio de uma infiltração tumoral resulta algumas vezes em uma
"metástase retrógrada". Por exemplo, pode-se estender o tumor inguinal distalmente
em uma faixa de nódulos na face medial da perna traseira. Pode-se desejar uma
ovário-histerectomia (embora não se tenha provado benéfica para o tratamento de um
câncer mamário) no momento da mastectomia por outras razões. Pode-se realizar a
castração antes ou depois da mastectomia. Devem-se remover os tumores mamários
que se estendem através da linha média antes da ovário-histerectomia.

A B
C D
100
Fonte: Castro, J. Aula Pós-graduação. FAA, Valença-RJ, 2005.

Fig.33- A: Incisão elíptica ao redor do tumor; B: dissecção do tumor; C - Remoção das


mamas afetadas juntamente com pele e tecido subcutâneo; D – visualização do defeito após remoção
total do tumor de mama.

Prognóstico

A educação do cliente com relação a terapia para os TGM é complicada pelos


prognósticos variáveis descritos na literatura.

A mortalidade por câncer nos cães com carcinomas invasivos ou carcinomas com
metástase distante foi de 88%. A taxa de recorrência foi mais alta nos cães com carcinomas
invasivos macroscópicos (44%) do que nos cães com carcinomas benignos e não invasivos
(12%). Outros estudos demonstram que:

 Os cães com tumores menores que 3 cm de diâmetro apresentam um


prognóstico melhor que os canhões com tumores maiores que 3 cm de diâmetro.
 A presença de tumores múltiplos não parece alterar o prognóstico nos cães.
 Os sarcomas de glândula mamária e o carcinoma inflamatório possuem um bom
prognóstico muito ruim.
 Os gatos com carcinoma mamário tratado por meio de excisão cirúrgica
apresentam sobrevivência média de 7,7 meses.
 Os gatos com tumores menores que 2cm, apresentam menos recorrência local e
maior tempo de sobrevivência que os gatos com tumores maiores de 2 cm.
 Pode-se reduzir à sobrevivência no caso dos gatos com tumores múltiplos.

101
8 APARELHO REPRODUTOR MASCULINO

8.1Orquiectomia

102

Definição

É a remoção cirúrgica dos testículos.

Indicação:

 Facilita o manejo dos animais;


 Evita coberturas indesejáveis;
 Diminui a agressividade.
Anestesia e pré-operatório:

 Anestesia geral ou através de tranquilização;


 Limpeza da região escrotal e pênis;
 Antissepsia local com povidine adstringente e álcool iodado.

Técnicas de abordagem:

 Orquiectomia fechada – secciona-se a pele e a túnica dartos, mas não é aberta


a túnica vaginal. Nesta técnica, uma porção da túnica vaginal parietal e do músculo cremaster é
removida. Esta técnica não expõe a cavidade abdominal ao meio externo, sendo mais indicada
para animais com testículos pequenos;
 Orquiectomia semifechada – secciona-se a pele, a túnica dartos e a túnica
vaginal, expondo o testículo, epidídimo e o ducto deferente, mas não é feita a dissecação do
funículo espermático. Esta técnica também proporciona a remoção de uma porção da túnica
vaginal parietal e do músculo cremaster. A ligadura do funículo espermático deve ser
feita sobre a túnica vaginal;
 Orquiectomia aberta – é a mais comum, cada testículo é exteriorizado através
de uma incisão da túnica vaginal parietal, os testículos junto com o epidídimo são removidos,
mas a túnica vaginal parietal e o músculo cremaster permanecerão no animal.
Após o preparo pré-operatório, o animal deve ser posicionado em decúbito dorsal.
Colocam-se panos de campo fenestrado. 103

Com uma das mãos os testículos são forçados ventralmente contra a bolsa escrotal,
para que seja feita uma incisão sobre o rafe mediana escrotal.

São incididas pele, túnica dartos, fáscias escrotais e túnica vaginal parietal, com uma
incisão suficientemente longa para permitir que os testículos e os epidídimos possam emergir da
bolsa escrotal.

O cordão espermático é dissecado da túnica vaginal é ligado (vicryl ou náilon 3-0 ou 4-


0), o mais proximal possível.

É feita a secção do cordão espermático um a dois centímetros distais à ligadura,


observa-se possíveis sangramentos antes de liberar os cordões espermáticos.

A bolsa escrotal é fechada com pontos simples separados.

C
A
B

D E F

Fonte: Arquivo pessoal. Fig. 34 - A: Incisão no saco escrotal; B: Incisão nas túnicas; C: exposição do testículo;
D:Ligando epidídimo com fio de náilon 3-0; E: seccionando os testículos com uma lamina de bisturi, logo acima da
pinça hemostática colocada para evitar sangramento; F: Após remover testículos sutura-se o saco escrotal com
pontos simples separados.
Pós-operatório:

Curativo local diário;

Anti-inflamatórios e antibióticos;

Caminhadas diárias, mas evitar atividade física vigorosa nas primeiras 72 horas após a 104
cirurgia para prevenir hemorragias.

Principais complicações e tratamentos

Edema pós-operatório – a presença de algum edema é normal, não sendo uma


complicação. Excessivo edema local ocorre como resultado de edema do prepúcio e do escroto,
sendo uma complicação bastante comum. Normalmente o edema atinge o seu pico entre o
terceiro ao sexto dia, diminuindo significativamente ao redor do nono dia de pós-operatório.
Embora o edema exagerado raramente ponha em risco a vida, ele pode promover desconforto
ao animal e preocupação ao proprietário.

Problemas secundários associados ao edema exagerado incluem: infecções e


dificuldade para urinar.

Hemorragia – consiste em uma das complicações mais comuns na castração, pode


ocorrer durante, imediatamente ou mesmo após vários dias do ato cirúrgico. As hemorragias
intensas usualmente resultam da artéria testicular, mas podem também ter como origem a lesão
dos ramos da artéria pudenda externa.

Infecções – infecções associadas com a castração podem ocorrer dentro de dias ou


até meses após a cirurgia. Geralmente a infecção da ferida cirúrgica escrotal permanece
localizada, entretanto, há propagação da infecção da bolsa escrotal, via cordão espermático,
pode acarretar em peritonite bacteriana e septicemia (funiculite séptica).

Lesões penianas iatrogênicas - a lesão peniana é uma complicação incomum,


geralmente decorrente do desconhecimento da anatomia genital e da técnica cirúrgica.
Eventração e evisceração – consiste em grave complicação decorrente da castração.
Embora as causas da eventração permaneçam especulativas, acredita-se que alguns fatores
como presença de hérnia inguinal e aumento da pressão abdominal após a cirurgia estejam
envolvidos. A eventração e a evisceração podem ocorrer até seis dias após a cirurgia, e os
objetivos essenciais no tratamento dessas afecções baseiam-se na limpeza, proteção e retorno
das vísceras para a cavidade abdominal e sutura do anel inguinal antes da excessiva
105
contaminação e traumatismo local.

8.2 Criptorquidismo

O criptorquidismo é a ausência de um ou dois testículos na bolsa escrotal, ou seja,


quando esses ficam retidos no canal inguinal ou cavidade abdominal. Então o criptorquidismo
pode ser uni ou bilateral (especialmente no cão), sendo encontrado frequentemente.

O criptorquidismo canino é transmitido hereditariamente, ocorrendo mais comumente


nos cães pequenos de raça pura, com uma proporção direita/esquerda de 2,3:1. Os machos
unilateralmente criptorquídicos são tipicamente férteis e possuem uma libido normal.
Consequentemente, a característica é largamente disseminada.

A descida testicular deve ser completa logo após o nascimento. Devem-se considerar
permanentemente retidos os testículos não localizados no interior do escroto por volta dos dois a
quatro meses de idade. Nenhuma droga pode estimular a migração testicular após o mecanismo
contrátil de o gubernáculo testicular ter regredido. Os testículos retidos em uma posição inguinal
ou abdominal são predispostos a alterações malignas (seminoma e tumor das células de Sertoli)
em uma idade mais avançada, por isso se deve recomendar a castração dos animais
criptorquídicos.
Diagnóstico

A ausência palpável de um ou de ambos os testículos durante vários exames confirma


o diagnóstico de criptorquidismo. Pode-se necessitar de um exame em série devido ao espasmo
induzido pelo medo de o músculo cremaster poder causar uma elevação dos testículos descidos
em alguns cães jovens. Uma vez estabelecido um diagnóstico de criptorquidismo, o cirurgião
deve determinar em que ponto ao longo do trajeto normal da migração testicular descendente 106
ocorreu à cessação. Esse ponto pode estar em qualquer lugar. Desde imediatamente cranial ao
escroto no tecido subcutâneo da região da virilha até a posição da organogênese embrionária,
imediatamente caudal ao rim. A palpação cuidadosa geralmente detectará a maioria das
gônadas, caso se encontre distalmente ao anel inguinal superficial no tecido subcutâneo da
virilha.

Quando não estão palpáveis deve-se realizar uma ultrassonografia abdominal ou


radiografia para confirmar tal diagnóstico. Principalmente para fazer o diagnóstico diferencial de
monorquidismo (agenesia testicular).

Técnica cirúrgica

Muitos testículos caninos retidos se localizam no interior da cavidade abdominal, e


exige-se uma celiotomia exploratória para a sua remoção.

Realiza-se uma celiotomia na linha média por meio da linha alba desde o umbigo até o
prepúcio, com o paciente sob anestesia geral e a parede abdominal ventral preparada para uma
cirurgia asséptica.

O testículo ou os testículos frequentemente se localizam na região meio-abdominal


como um órgão altamente móvel, menor que a gônada descida. Visualizam-se tipicamente o
suprimento arterial proveniente da artéria testicular (um ramo direto da aorta) e uma pequena
artéria no resíduo gubernacular ou na prega deferente do peritônio. O duto deferente corre em
direção à face caudal do abdome e pode ser utilizado como ponto de referência primário para o
achado do testículo retido.
Se não localizar inicialmente os testículos na área meio-abdominal, examina-se a área
do anel inguinal. Quando a descida testicular cessa nessa localização, será possível palpar os
testículos ao se mover um dedo ao longo da parede abdominal em direção ao anel. Se ainda
assim não localizar os testículos, estende-se caudalmente a incisão da celiotomia e identifica-se
o ducto deferente na alça ureteral e então se segue manualmente o mesmo para achar o
testículo. Ao localizar o testículo criptorquídico, isola-o e pinçam-se triplamente e ligam-se
107
duplamente os vasos e os dutos testiculares, coletivamente ou individualmente, com um material
de sutura lentamente absorvível.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 15 - Testículos retidos na região inguinal já com tumoração.

8.3 Tratamento Cirúrgico da Prostatopatia

Prostatite

A inflamação da próstata pode ser ou aguda ou crônica. A fonte de inflamação é


geralmente uma infecção ascendente do trato urinário com Escherichia coli, Proteus spp.,
estafilococos ou estreptococos. Podem se formar microabscessos dentro do parênquima ou
podem se desenvolver grandes abscessos flutuantes, distorcendo a forma da glândula. Um
animal afetado encontra-se frequentemente com dor e enfermo com uma prostatite aguda.
Podem se encontrar presentes constipação, tenesmo, retenção urinária ou incontinência. A
próstata fica geralmente dolorosa e esponjosa à palpação. Os episódios agudos não-resolvidos
de prostatite progridem para uma afecção crônica. A glândula cronicamente inflamada fica
menos dolorosa, aumenta de volume e pode ficar assimétrica. Não é incomum o gotejamento de
sangue e exsudato provenientes do pênis.

Diagnóstico

O tratamento apropriado de uma prostatopatia depende do diagnóstico preciso. 108


Devem-se diferenciar a metaplasia, a hiperplasia, os cistos, os abscessos e a neoplasia antes de
se iniciar o tratamento.

Uma avaliação completa de uma prostatopatia suspeita inclui:

 Exame físico geral e história;


 Exame retal;
 Contagem sanguínea completa;
 Ureia sanguínea; urinálise;
 Radiografias com contraste;
 Citologia e/ou histopatologia;
 Ultrassonografia para diagnosticar cavidades preenchidas por fluidos no interior
da glândula.
Os exames citológicos incluem a análise do sêmen, do lavado prostático e do aspirado
prostático com agulha.

O exame histopatológico por meio de uma biópsia com agulha acrescenta informações
diagnósticas adicionais com um mínimo de esforço e risco para o paciente.

A prostatite aguda, os grandes abscessos e os cistos podem ser geralmente


diagnosticados sem técnicas invasivas. A doença crônica garante informação adicional, e pode-
se indicar uma biópsia.

Tratamentos

Marsupialização
A marsupialização da próstata é a criação cirúrgica de uma fistula entre um saco
preenchido de fluido e a parede abdominal. Esse procedimento é mais efetivo no caso de um
abscesso grande um cisto que se localize próximo à parede abdominal.

Técnica cirúrgica
109
Anestesia-se e coloca-se o paciente em decúbito dorsal e prepara-se o abdome para
uma cirurgia asséptica.

Faz-se uma incisão cutânea na linha média ventral, do umbigo até a extremidade do
prepúcio, e depois uma curva lateral e caudalmente, deixando o prepúcio paralelo à entrada
pélvica.

Ligam-se e dividem-se a artéria e a veia prepuciais, e retrai-se o pênis lateralmente.


Entra-se no abdome na linha média ventral, desde o umbigo até a entrada pélvica. Remove-se a
gordura peri-prostática para se visualizar melhor a próstata. Isola-se o abscesso ou cisto dos
outros órgãos abdominais com tampões de laparotomia umedecidos com solução salina.

Faz-se uma incisão em estocada no interior da cavidade da próstata, e utiliza-se


sucção para remover o fluido ou o pus para minimizar a contaminação no interior do abdome.
Obtêm-se amostras para cultura.

Após a drenagem da cavidade, palpa-se a glândula para conferir quanto a outras áreas
de flutuação. Se existirem vários abscessos ou cistos parenquimatosos pequenos. Lava-se a
cavidade com quantidades abundantes de solução salina.

Puxa-se as paredes da cavidade através da linha média ventral e sutura-se em um


padrão interrompido simples.

Fecham-se as incisões cutâneas e pele de forma rotineira.

Prostatectomia Intracapsular Subtotal


No caso de uma prostatectomia intracapsular subtotal (PIS), pode-se remover mais de
80% da próstata doente e drenar qualquer tecido doente remanescente através da uretra. Indica-
se esse procedimento quando os abscessos ou cistos forem múltiplos, estiverem localizados na
porção dorsal da próstata ou se forem muito pequenos para serem exteriorizados efetivamente
por meio da marsupialização.

Embora a PIS seja eficiente nos casos de prostatite crônica, não se deve utilizá-la em 110
próstatas que requeiram a remoção total.

Técnica cirúrgica

Colocar o animal em decúbito dorsal.

Coloca-se um cateter urinário de polipropileno no interior da uretra e da bexiga. Se


existir uma obstrução uretral, esvazia-se a bexiga por meio de uma cistocentese.

Prepara-se o paciente para a cirurgia e entra-se no abdome como descrito para a


marsupialização.

Remove-se a gordura peri-prostática para se visualizar melhor a glândula.

Rebate-se cranialmente a bexiga, e coloca-se uma sutura de arrimo em seu vértice


para manter a tração na bexiga e na próstata.

A maioria das próstatas estará suficientemente grande para exigir a cirurgia e se


encontra no interior do abdome não exigindo rompimento pélvico.

Isolam-se a próstata e a bexiga exteriorizadas a partir da cavidade abdominal com


tampões de laparotomia umedecidos em solução salina, e incisa-se a próstata ao longo do septo
mediano ventral com um bisturi elétrico, evitando-se o colo da bexiga. Estende-se a incisão
através do parênquima para o interior da luz da uretra prostática cateterizada.

Abre-se a glândula, expondo-se a uretra, utilizando um bisturi elétrico curvo, são feitas
incisões longitudinais em meia-lua sucessivas para remover o parênquima glandular a partir do
centro da cápsula em cada lado.
Remove-se lateral e dorsolateralmente a maior parte da próstata, deixando uma
armação de parênquima de 2 a 3 mm dentro da cápsula. Devido à cápsula prostática do cão ser
muito fina, a remoção de todos os tecidos abaixo da cápsula resulta em uma ruptura capsular.

Os tecidos removidos são enviados para histopatologia, cultura e testes de


sensibilidade. Amputam-se então as paredes da próstata, a qual é fechada para minimizar a
cavidade. Deve-se fechar a próstata de maneira semelhante a uma incisão de cistotomia. 111

Prostatectomia Total

Só se indica uma prostatectomia completa no caso de pacientes com prostatopatia


proliferativa na qual a luz da bexiga prostática se encontre significativamente comprometida e no
caso de pacientes com neoplasias prostáticas.

Técnica Cirúrgica

Prepara-se o paciente e entra no abdome conforme descrito anteriormente, colocando-


se um cateter urinário no interior da bexiga. Deve-se ter um cuidado extremo em evitar os nervos
delicados do plexo pélvico, que repousam na superfície dorsal da próstata. A dissecção deve ser
tão próxima da próstata quanto possível por baixo da camada de gordura peri-prostática e
imediatamente superficial à cápsula prostática. Puxa-se a próstata em direção ao cirurgião para
se dissecar em direção à borda dorsal e afasta-se a mesma do cirurgião para se dissecar ao
longo da borda oposta.

O parênquima prostático circunda a uretra e limita-se contra o colo vesical que deve
permanecer intacto para evitar uma incontinência pós-operatória. Utilizam-se um tampão de
gaze e uma dissecção simples para retirar o tecido prostático ao longo da superfície cranial a
partir do colo vesical, de forma que se possa identificar a uretra proximal. Rompe-se a próstata
desde a uretra imediatamente proximal à entrada do duto deferente na superfície dorsal. Rompe-
se a uretra tão próxima da borda caudal da próstata quanto possível para assegurar uma
anastomose com uma tensão mínima. Remove-se a próstata a partir do cateter, e reinsere-se o
cateter na bexiga.

Anastomosam-se os segmentos uretrais com uma sutura de polidioxanona 3-0 em um


padrão interrompido simples.

112
Coloca-se a primeira sutura interrompida através das superfícies dorsais da uretra
proximal e membranosa. Depositam o nó externamente à luz e deixam as extremidades longas.
Usam as extremidades da sutura para rotacionar a uretra, e colocar suturas adicionais entre elas
a intervalos de aproximadamente 2 mm.

Após se completar a anastomose, lava-se completamente e fecha-se rotineiramente o


abdome.

Bexiga

próstata

próstata
próstata

Fonte: Arquivo pessoal

Fig. 37 - A: visualização e identificação da próstata; B: próstata já sendo acessada; C: remoção da próstata após
sua separação da uretra.
9 SISTEMA URINÁRIO

9.1 Cálculos na bexiga

113

Os cálculos comuns da bexiga urinária de cães e gatos são:

 Oxalato de cálcio;
 Fosfato amoníaco magnesiano;
 Uratos de sódio e amônio;
 Cistina;
 Dióxido de silicone;
 Xantina.

Raça Urólito Ocorrência (%)

Dálmata Urato de sódio e amônio 98

Schnauzer Oxaláto de cálcio 28-67


miniatura
Estruvita

Bichon Frise Estruvita 90

Buldogue inglês Urato de sódio e amônio 35-42

Cistina

Yorkshire terrier Oxalato de cálcio 45

Composição de cálculo mais comum em cães e gatos:


 Cães: estruvita e oxalato de cálcio;
 Gatos: oxalato do cálcio e estruvita.
É importante conhecer os tipos de cálculos presentes por serem de diferentes
composições exigem manejo médico-cirúrgico também diferente. Assim, dietas de dissolução
usadas para alguns cálculos (por exemplo, estruvita) predispor a formação de outras (por
exemplo, oxalato de cálcio)
114
Os urólitos de estruvita estão mais comumente associados à infecção de trato.

Os diferentes tipos de urólitos em ordem de densidade radiográfica, do mais


radiodenso para o menos, são: - fosfato (apatita, estruvita), oxalato de cálcio, cistina e uratos.

Diagnósticos

 Análise de urina: inclui análise visual dos cristais presentes. Tal teste não é
específico.
 Estudo de imagens: radiografias, pneumocistografias radiografias de duplo
contraste e ultrassonografias. Esses exames fornecem informações sobre o tamanho, a forma, a
radiopacidade, a localização e o número de cálculos detectados, e indica a composição mineral.
 Remoção cirúrgica e envio para análise: é o único meio garantido de
determinação precisa sobre a composição mineral.

Complicações

Obstrução da pelve renal, ureter, trígono ou uretra.

Se a obstrução persiste, ocorrer hidronefrose, hidrouréter e mesmo ruptura uretral.


Infecções crônicas do trato urinário também pode ser uma sequela.

Urolitíase é uma emergência se o animal estiver com o trato urinário obstruído em


razão do alojamento do urólito em um ureter, no colo da bexiga ou na uretra.

Essa obstrução tem efeitos sistêmicos (uremia) e pode levar à ruptura ureteral, da
bexiga ou da uretra.
Quando a obstrução é total e persiste por vários dias.

Indicações para a cistostomia e para a remoção dos urólitos:

 Uropatia obstrutiva;
 Contraindicações ao tratamento médico (aspectos nutricionais); 115
 Defeitos anatômicos que predispõem à infecção do trato urinário (divertículo);
 Machos, porque a dissolução do cálculo urinário está associada ao maior risco
de obstrução da uretra.

9.2 Hidropropulsão retrógrada

É a técnica na qual se faz a tentativa de mover os cálculos presos à uretra de volta


para a bexiga com intuito de retirá-los por cistostomia, que é uma técnica muito mais benigna
quando comparada a ureterostomia.

Ela envolve a infusão pulsátil de solução salina estéril no cateter uretral distal à pedra.
A uretra é distendida, e o cálculo empurrado para a bexiga. Se necessário, exerce-se pressão
sobre a uretra proximal através do reto, o que aumenta a dilatação uretral. É necessária forte
sedação ou anestesia geral para realização da técnica. A anestesia da uretra pode ser feita com
Iidocaína para evitar espasmos uretrais.

9.3 Cistotomia
Conceito

A cistotomia consiste na abertura da bexiga para fins terapêuticos ou diagnósticos.

Indicações:

116
 Remover cálculos vesicais;
 Examinar a superfície interior da bexiga;
 Cateterizar os ureteres.

Pré-operatório

Antes de se empreender esse procedimento, devem-se realizar uma urinálise, uma


cultura urinária quantitativa, uma cistografia de contraste e uma avaliação da função renal.

Caso se suspeite de cálculos, deve-se avisar o proprietário acerca do potencial de


recorrência e da necessidade de uma terapia contínua após a cirurgia.

Técnica Cirúrgica

Após se induzir a anestesia geral e iniciar a fluidoterapia endovenosa, fazem à


tricotomia e prepara-se o abdome ventral para uma cirurgia asséptica (tricotomia ampla).

Faz-se uma incisão abdominal caudal em linha média nos gatos e cadelas.

Nos cães machos, faz-se uma incisão cutânea curva lateral ao prepúcio, retrai-se
lateralmente o mesmo e faz-se uma incisão abdominal na linha média através da linha alba.
A B

Fonte: arquivo pessoal. 117


Fig. 38. A: visualização da região a ser incisada já com tricotomia e pano de campo, delimitando a área;
B: incisão na linha média ventral com desvio lateral ao prepúcio do cão.

Recomendam-se uma cistotomia ventral por proporcionar um melhor acesso ao


trígono, às aberturas ureterais e à uretra.

E também uma incisão ventral apresenta menor risco de vazamentos ou aderências


que uma incisão dorsal.

Isola-se a bexiga a partir do abdome com tampões de laparotomia ou toalhas.

Coloca-se uma sutura de retenção na extremidade cranial da bexiga, e uma segunda


na extremidade caudal do plano incisado;

Esvazia-se então a bexiga por meio de uma cistocentese.

A
B

Pontos de Cistocentese
retenção

Fonte: arquivo pessoal.

Fig.39 - Demonstração de colação dos pontos de reparo para expor a bexiga e realização de cistotomia para
esvaziá-la antes de incisar. Faz-se uma incisão em estocada na bexiga com um bisturi. Estende-se cranial e
caudalmente a incisão com uma tesoura de Metzenbaum.
Incisão em
estocada na
bexiga

Estende- se cranial
e caudalmente a
incisão com uma
tesoura
118

Fonte: Bojrab - 1996

Fig.40 – Feitura da cistotomia.

Removem-se os cálculos com uma pinça ou uma lavagem e uma sucção.

Passa-se um cateter no interior da uretra, e lava-se a mesma com solução salina para
desalojar quaisquer cálculos na uretra proximal.

Fecha-se a bexiga em uma camada com uma sutura absorvível, utilizando um padrão
inversor (Cushing ou lambert) em uma parede vesical. A sutura não deve penetrar na luz da
bexiga.

A B

Fonte: a: Bojrab, 1996; b: Meca cirurgia on-line, 2008.

Figura 41 – A: sutura com ponto cushing; B: Bexiga já suturada em padrão invertido.

Pós-operatório
Deve-se permitir que o paciente urine frequentemente. Se isso não for possível, deve-
se manter a bexiga vazia por meio de uma cateterização intermitente ou de um cateter uretral
interno conectado em um sistema de coleta estéril por três dias.

Devem-se realizar uma cultura bacteriana urinária e testes de sensibilidade no


momento da remoção do cateter e administrar antibióticos apropriados. Os cálculos precisam ser
enviados para uma análise mineral quantitativa. 119

É indicada uma terapia profilática para reduzir a taxa de recorrência de urólitos.

Antibióticoterapia por cinco a sete dias.

Colar elizabetano.

Retirar pontos de 7 a 10 dias.

9.4 Uretrostomia

Definição

Consiste na criação de uma abertura permanente ou temporária em diferentes locais


na uretra.

Indicações:

 Cálculos que não podem ser removidos pela uretrostomia ou por lavagem
retrógrada para a bexiga;
 Produção de cálculos recorrentes que não são passíveis de controle médico;
 Estreitamentos uretrais distais ao escroto em razão aos cálculos, a traumatismos
ou retrostomias;
 Traumatismo peniano grave, neoplasia do prepúcio ou uretra, quando é
necessária a amputação do pênis;
 Doenças congênitas (hipospadias, deficiência no comprimento peniano
prepucial) que exige manipulação do pênis ou prepúcio (ou ambos) e forma de abertura uretral
mais proximal.

120
Tipos de uretrostomia:

 Pré-escrotal;
 Escrotal;
 Perineal;
 Pré-púbica ou antipúbica.

O local para a uretrostomia baseia-se no local da obstrução ou na preferência do


cirurgião. Caso sua escolha seja pela técnica escrotal e o paciente possa ser castrado faz então
a uretrostomia escrotal. Porém se a obstrução da uretra proximal for acima do escroto é exigida
a uretrostomia perineal ou pré-púbica.

A obstrução uretral por urólitos ocorre mais frequentemente em cães machos, mas
também ocorre em cadelas. Geralmente há uma história de estrangúria ou oligúria. Um cão
afetado pode exibir ansiedade, depressão ou fraqueza. A bexiga pode ficar enormemente
distendida. O cão pode parecer inicialmente normal e depois piorar rapidamente.

Pré-operatório

Um animal com obstrução uretral requer um tratamento imediato, pois essa afecção
resulta em uma uremia pós-renal e em desequilíbrios, hídrico, eletrolítico e ácido-básico
associado que constituem riscos de vida.

Se os resultados laboratoriais não forem disponíveis, deve-se presumir que o cão


esteja acidótico, hipercalêmico e azotêmico.
Coloca-se um cateter endovenoso e inicia-se uma fluidoterapia.

Alivia-se ou desvia-se a obstrução uretral com o menos possível de tranquilização ou


anestesia.

Descomprime-se inicialmente a bexiga por meio de uma cistocentese com uma seringa
de uma agulha de calibre 22.
121
Usa-se uma uroidropropulsão para mover os urólitos de volta na luz da bexiga. Pode-
se utilizar esse procedimento, que envolve a dilatação de uma porção da uretra com um fluido
sob pressão, em cães tanto machos como fêmeas.

Se a uroidropropulsão não obtiver sucesso, podem-se fazer tentativas para empurrar


os urólitos para o interior da bexiga com um cateter grande ou para desviar a obstrução com um
cateter pequeno.

Se não se puder avançar um cateter sem um traumatismo excessivo, devem-se


considerar métodos cirúrgicos de desviar a obstrução.

Técnicas Cirúrgicas

Utiliza-se uma uretrostomia pré-escrotal (que cria uma abertura temporária na uretra)
para trazer os urólitos da uretra pré-escrotal e/ou desviar dos urólitos alojados na uretra peniana.

Se possível, deve-se evitar a uretrostomia perineal, pois causa mais hemorragia e


queimadura urinária que a uretrostomia pré-escrotal.

Alternativamente, a cateterização e a lavagem da uretra a partir de uma incisão de


cistotomia e a abertura uretral, geralmente desalojarão os cálculos uretrais perineais sem a
necessidade de uma uretrostomia perineal.

Utiliza-se um cateter de cistotomia para drenar a urina em um animal urêmico com


cálculos uretrais que não possam ser facilmente removidos.
O uso de um cateter de cistotomia temporário é preferível a tentativas fúteis para aliviar
a obstrução, que podem traumatizar adicionalmente a uretra.

Uretrostomia Pré-escrotal

122

Faz-se uma incisão cutânea desde imediatamente caudal ao prepúcio até


imediatamente cranial ao escroto.

Se a incisão se estender por cima do escroto, torna-se mais provável que o cão escorie
o local e que haja um risco de que os testículos se prolapsem através da incisão.

Disseca-se o tecido subcutâneo até o nível do músculo retrator peniano.

Devem-se identificar o corpo esponjoso acinzentado e os corpos cavernosos pareados


e revestidos por tecido fibroso esbranquiçado.

Após se rebater lateralmente o músculo retratar peniano, faz-se uma incisão


longitudinal no interior do corpo esponjoso e da uretra.

Deve-se evitar o corpo cavernoso lateral à uretra.

Podem-se colocar suturas de retenção no corpo esponjoso para ajudar na identificação


e na exposição da mucosa uretral.

O revestimento esbranquiçado e brilhante da mucosa da uretra contrasta com o corpo


esponjoso circundante.

Removem-se e coletam-se os urólitos para uma análise mineral quantitativa. Avança-


se proximalmente um cateter para conferir urólitos adicionais e distalmente para desalojar
cálculos no interior da uretra peniana.

Pode-se fechar a incisão da uretrostomia com suturas absorvíveis sintéticas 4-0 em um


padrão disponível.
123

Fig. 42 - Fonte: Stone, E.A.: Urologic sllrgery-an update./n Contemporary Tsslles in Small Animal
Practice. Vol. 4: Nephrology and Urology. Editado por E.B. Breitschwerdt. New York. Churchill Livingstone. 1986.

Fig. Uretrostomia pré-escrotal. A) Local da incisão cutânea e dissecção do tecido subcutâneo até o
músculo retrator do pênis. B) Incisão longitudinal no interior do músculo do corpo esponjoso e da uretra após o
rebatimento lateral do músculo retrator do pênis. C) Suturas de retenção no corpo cavernoso e exposição do interior
uretral. Após a remoção dos urólitos pode-se deixar aberta ou fechar uma uretrostomia em um padrão interrompido
simples (inserção).

Uretrostomia Escrotal

A uretrostomia escrotal é o procedimento de escolha quando se torna necessário um


orifício uretral permanente distal à uretra pélvica. A uretrostomia escrotal apresenta várias
vantagens em relação à uretrostomia nas localizações pré-púbica e perineal.

A uretra membranosa na região do escroto é maior e mais propensa à distensão que a


uretra pré-púbica, reduzindo, portanto o risco de formação de estenose, permitindo uma
passagem mais fácil do cálculo. A uretra escrotal é mais superficial e encontra-se circundada por
menos tecido cavernoso que a uretra perineal, tornando a exposição cirúrgica mais fácil e
reduzindo o risco de hemorragia ou de extravasamento urinário nos tecidos periuretrais. Como a
urina é desviada diretamente para baixo no caso de uma uretrostomia escrotal, o contato da
urina com a pele circundante e a consequente queimadura urinária torna-se mínima. A maioria
dos cálculos uretrais é facilmente removida por meio de uma uretrostomia escrotal.

Indicações:
 Cálculos uretrais recorrentes;
 Obstruções agudas;
 Ferimentos uretrais distais severos no osso peniano ou no pênis;
 Estenose uretral distal ao escroto;
 Doenças que requeiram a amputação do pênis ou do prepúcio (neoplasia,
estrangulamento peniano, hipospadias e deficiência na extensão peniana ou prepucial).
124

Técnica Cirúrgica

Coloca-se o cão sob anestesia geral, posicionando o mesmo em decúbito dorsal com
os membros traseiros suavemente abduzidos e presos caudalmente.

Depila-se e higieniza-se rotineiramente o local cirúrgico.

Colocam-se panos de campo nessa área para cirurgia asséptica.

Faz-se uma incisão cutânea elíptica de espessura completa ao redor da base do


escroto.

Faz a hemostasia e descarta-se pele isolada.

Deve-se ter cuidado em deixar pele suficiente na face lateral da incisão para se evitar
uma tensão na uretrostomia durante fechamento.

Se o cão não for castrado isolam-se os testículos e os cordões espermáticos e castra-


se o cão da forma rotineira.

A dissecção cuidadosa do tecido conjuntivo revelará os músculos retratores penianos


pareados na superfície ventral do pênis.

Rebatem-se lateralmente esses músculos para expor a linha média ventral


esbranquiçada da uretra e a uretra do corpo cavernoso.

Se possível, insere-se um cateter de tamanho apropriado retrogradamente a partir da


abertura peniana normal, de forma que se destaque a uretra.
Incisa-se precisamente a linha média ventral da uretra com uma lâmina de bisturi.

A incisão deve ter 2,5 a 4 cm de comprimento para assegurar um tamanho de luz


uretral após a cicatrização.

Escolhe-se o limite caudal da incisão para se assegurar que a nova abertura uretral
permita que a urina seja desviada direta ventral a partir do arco isquiático.
125
Material de sutura não-absorvível 4-0 monofilamentar (náilon ou polipropileno).

Coloca-se a primeira sutura a partir do canto da incisão uretral caudal até o canto da
incisão cutânea caudal.

Prossegue-se a colocação de suturas interrompidas simples, com intervalos de 3 a 4


mm, ao longo de cada lado da uretrostomia, alternando-se os lados com cada sutura colocada.

Colocam-se as suturas começando-se a partir da mucosa uretral, e depois para o


interior da pele.

Devem-se aproximar a mucosa uretral e a pele sem a abertura de brechas, mas as


suturas não devem ser firmes.

Excisa-se qualquer pele sobressalente para se fazer um fechamento perfeito.

B
A

C Fonte: arquivo pessoal D


Fig.43- A - limitação do campo, visualização do saco escrotal;

B - remoção de testículos e saco escrotal; C- separação da uretra; D: novo ósteo uretral.


9.5 Tratamento da Obstrução Uretral no Gato

A síndrome urológica felina (SUF - que é sinônimo de doença do trato urinário inferior
no felino) pode resultar de vários fatores etiológicos únicos, múltiplos e interativos ou não- 126
relacionados. Os fatores que têm sido implicados como atuantes de um papel causador no
desenvolvimento da SUF são os agentes infecciosos (tais como os vírus e as bactérias, dieta e
as anomalias do úraco especialmente os divertículos vesicais).

A cristalúria é um achado clínico comum nos gatos e se caracteriza por precipitados


microscópicos na urina. O tipo de cristal mais prevalente é a estruvita (fosfato amônico de
magnésio). Nos gatos normais, esses cristais passam na urina durante a micção normal. A urina
proveniente dos gatos com SUF contém cristais que com a matriz de muco e os resíduos,
formando uma massa semissólida macroscópica. A formação de cristais é potencializada em um
pH alcalino e é inibida em pHs mais ácidos.

A obstrução uretral tem sido associada com concreções e tampões uretrais. As outras
causas de obstrução uretral são as estenoses, as lesões da próstata e as massas extraluminais
que comprimirem a luz uretral. A obstrução da uretra por meio de tampões ocorre comumente no
macho, mas raramente na fêmea. A explicação para isso reside nas diferenças anatômicas na
estrutura uretral entre os sexos. A uretra no macho é longa e estreita, enquanto que na fêmea é
curta e larga.

Os cristais que compõem uma concreção apresentam bordas bem afiadas, que se
estendem a partir das margens da concreção. No gato macho, na raiz do pênis imediatamente
proximal às glândulas bulbo uretrais, o diâmetro luminal uretral se estreita, criando um efeito de
afunilamento. À medida que a concreção desce pela uretra, ela pode se alojar nesse ponto.
Inicialmente, o gato pode geralmente forçar uma concreção através da uretra peniana por meio
de um esforço. No entanto, essa ação força as bordas afiadas dos cristais no interior da mucosa
uretral, resultando em microlacerações múltiplas. Esse traumatismo resulta em hemorragia,
inflamação uretral, edema e inchaço, que reduzem adicionalmente o diâmetro uretral. A
passagem de outra concreção através da uretra resultará em uma obstrução que não poderá ser
desalojada pelo animal. Essa situação requer um tratamento de emergência para desbloquear a
obstrução uretral.

Diagnóstico

127

O diagnóstico de um gato obstruído se baseia na história, nos sinais clínicos e na


palpação de uma bexiga grande, firme e tensa.

A história pode incluir uma micção em locais incomuns junto com um aumento na
frequência de tentativas de micção.

O cliente pode confundir esse aumento na frequência de micção com um tenesmo.


Também podem estar presentes uma lambedura frequente na área genital e uma hematúria
ocasional.

Com a progressão da afecção, o gato fica deprimido, apático ou comatoso.

A obstrução prolongada resulta em uma hipercalemia, que pode levar as


irregularidades cardíacas e a uma morte subsequente.

Tratamento Médico

O primeiro passo no tratamento de emergência da obstrução uretral consiste no alívio


da obstrução. Isso pode ser feito por meio da cateterização da uretra, que pode ser realizada
sem o uso de anestésicos no paciente.

Se as tentativas de se desalojar a obstrução forem prováveis de resultar em danos


uretrais adicionais ou de induzir uma infecção do trato urinário, deve-se considerar a contenção
farmacológica.
Para aliviar a obstrução, primeiro retiram-se as concreções alojadas no pênis distal,
rolando-se suavemente o mesmo entre o polegar e o dedo indicado.

Adicionalmente, uma massagem na uretra por meio do reto pode ajudar a desalojar as
concreções uretrais pélvicas ou abdominais.

Induz-se então o esvaziamento vesical por meio de uma palpação suave na bexiga. Se
128
não desobstruir tenta-se a lavagem uretral retrógrada para desalojar a concreção no interior da
bexiga por meio de uma hidropropulsão.

Se não se puder restaurar a desobstrução uretral por esse método, deve-se suspeitar
de uma lesão mural ou periuretral, com ou sem um tampão uretral associado.

Se a obstrução recidivar, indica-se uma uretrostomia perineal.

Anestesia

Recomenda-se a indução da anestesia com um barbitúrico de ação ultracurta, seguida


pela manutenção com um gás anestésico.

Técnica Cirúrgica

Prepara-se o animal para uma cirurgia asséptica.

Cortam-se os pelos em toda a área perineal, incluindo a base da cauda. Coloca-se


uma sutura de bolsa-de-fumo no ânus e cateteriza a uretra.

Posiciona-se o animal em decúbito ventral.

Prende-se a cauda com um esparadrapo por cima da linha média dorsal das costas, e
colocam-se panos de campo na área genital.

Faz-se uma incisão elíptica, começando a meio caminho entre o ânus e o escroto, ao
redor do escroto e do prepúcio.
Se o animal estiver intacto, realiza-se a castração.

Após se rebater dorsalmente o pênis com o prepúcio acompanhante e o escroto


remanescente, inicia-se a dissecção ventral com uma tesoura de Metzenbaum.

Faz-se toda a dissecção preliminar ventralmente até que se localizem os músculos


ísquios-cavernosos bilaterais e se cortem os mesmos com uma tesoura em seus ligamentos
129
uretrais, libertando o pênis e visualizando uma tira fibrosa peniana ventral proveniente do
diafragma pélvico que é localizado na linha média entre o pênis e o arco isquiático.

Corta-se então essa estrutura, liberando-se posteriormente o pênis.

Inicia-se a dissecção dorsal. Realiza-se toda a dissecção dorsal próxima a uretra.


Utiliza-se uma tesoura para cortar e dissecar os ligamentos, liberando posteriormente a uretra e
permitindo que se retraia a mesma caudalmente.

A B

C D
Fonte: Stone, E.A.: Urologic surgery-an update./n Contemporary Tsslles in Small Animal Practice. Vol. 4:
Nephrology and Urology. Editado por E.B. Breitschwerdt. New York. Churchill Livingstone. 1986.)

FIG. 44 - A - Identifica-se o músculo isquiocavernoso e corta-se o mesmo com uma tesoura próximo ao
ligamento peniano. B - Termina-se a dissecção uretral transeccionando-se o útero masculino em forma de "V"
próximo à uretra. C- Incisa-se a uretra no interior da luz com um bisturi.

Se segura o pênis dissecado na mão esquerda com o dedo indicador abaixo do


pedúnculo peniano. Utiliza-se um bisturi número 10 para fazer uma incisão por cima do cateter
na linha média dorsal da uretra. Aprofunda-se a incisão para o interior da luz. Estende-se a 130
incisão 1cm cranialmente e 2cm caudalmente ao pedúnculo peniano. A extensão da incisão
uretral pélvica por mais de 1cm cranialmente em direção ao pedúnculo lavará a uma severa
invaginação incisional quando se suturar a incisão. Uma incisão de 1 cm na uretra pélvica é
adequada para providenciar o necessário aumento da abertura. Remove-se o cateter e insere-se
uma pinça na uretra pélvica. A incisão está agora pronta para a sutura do tipo mucocutânea.

Após se suturar os lados da incisão cutânea, desliga-se o pênis com uma


tesoura no nível da incisão uretral caudal.

A
B

.
Fonte: Bojrab, 1996.

Fig. 45 - A - Corta-se o excesso peniano com uma tesoura no nível da incisão uretral caudal;

B - Demonstra-se a extremidade cortada do pênis revelando o pênis cavernoso.

Pós-operatórios
Remove-se a sutura bolsa-de-tabaco do ânus, utilizando uma pomada
impermeabilizante para evitar queimaduras pela urina (Hipoglós).

Coloca-se um colar elizabetano.

Inicia-se a mesma terapêutica médica como descrito anteriormente.

Remove o colar no quinto dia após a operação. 131

Removem suturas e o colar elisabetano no décimo dia após operação.

Complicações

As principais complicações associadas com a cirurgia de uretrostomia perineal são


hemorragias pós-operatórias, o vazamento urinário subcutâneo e as infecções, as estenoses, as
incontinências, fecais e urinárias e o prolapso retal.

Pode-se reduzir enormemente a hemorragia tendo-se cuidado em se incluir o tecido


cavernoso nas suturas cutâneas.

As infecções podem ser reduzidas eliminando-se a contaminação pós-operatória da


incisão com os dejetos e a lambedura, e por meio do uso de antibióticos profiláticos.
10 HÉRNIAS

10.1 Considerações gerais

132

Uma hérnia consiste na saída de conteúdo de uma cavidade através de sua parede
sendo diferenciadas pelo local anatômico (umbilical, inguinal, diafragmática e perineal). Podendo
ser do tipo congênita ou adquirida (traumática incisional ou por degeneração da musculatura
p.ex.: perineal).

As chamadas redutíveis são aquelas que com a palpação local ou trocando


posicionamento do animal faz com que o conteúdo herniário retorne a cavidade de origem, já as
encarceradas são aquelas que perdem a capacidade de reduzir e geralmente são as que se
encontram com agravamento em consequência da cronicidade, sendo chamadas de hérnias
estranguladas (anel herniário comprimindo as vísceras com dano circulatório local e necrose).

Partes da hérnia:

 Anel;
 Conteúdo;
 Saco – mesentério, peritônio.

Incidência:

Cão – idosos – perineal e jovens – umbilical;

Gato – diafragmática.
Fisiopatologia:

Alteração da função das cavidades corporais e dos conteúdos herniário;

Ocupação de espaço devido à restrição física;

Obstrução de víscera oca, p.ex., intestino e bexiga.

133

Sinais clínicos:

 Tumefação;
 Ausência de dor;
 Consistência variável;
 Alteração respiratória.

Diagnóstico:

 Exame clínico;
 Histórico;
 Palpação;
 Radiografia e ultrassonografia.

Tratamento cirúrgico - Herniorrafia

Retorno do conteúdo ao seu local original.

Oclusão segura para não ter recidiva obliteração do tecido do saco herniário.

Flap do próprio tecido ou com redes específicas ou membranas biológicas.


10.2 Hérnia umbilical

Etiologia

134

As hérnias umbilicais são quase sempre congênitas e geralmente resultam de um


defeito no desenvolvimento embrionário.

Uma hérnia umbilical ocorre se o anel umbilical não se formar apropriadamente, se for
demasiado grande para permitir uma contração completa no nascimento ou se não ocorrer
contração.

Como várias raças (incluindo o Pequinês, o Pointer e o Weimaraner) parecem ter um


risco maior, as causas primárias incluem provavelmente um defeito genético e teratogênico.

Sinais

A hérnia umbilical apresenta-se como uma massa no abdome ventral onde se deveria
localizar a cicatriz umbilical.

A palpação geralmente revela o tamanho do anel umbilical, o conteúdo do saco


umbilical e a redutibilidade do mesmo.

No caso de uma hérnia pequena, o conteúdo é mole e homogêneo, geralmente


representando a gordura falciforme ou o omento.

Complicações
Pode-se encontrar como conteúdo o intestino ou outras vísceras abdominais. Neste
caso pode ocorrer estrangulamento ou obstrução.

Os sinais presentes nesses animais incluem dor abdominal, vômitos depressão. O


saco umbilical fica quente, doloroso e firme à palpação.

Se um animal jovem apresentar sinais de distúrbio respiratório e tiver uma hérnia


135
umbilical intercorrente, deve-se considerar a possibilidade de uma hérnia diafragmática peritônio
pericárdica congênita, pois essas duas anomalias podem ocorrer simultaneamente.

Diagnóstico

O exame físico é geralmente suficiente para diagnosticar a hérnia umbilical, embora


um inchaço na área do umbigo não exclua uma neoplasia ou abscesso.

Quando um animal apresentar um distúrbio respiratório ou sinais de que há uma


obstrução intestinal e, se o exame físico revelar uma hérnia umbilical aparente indica-se
radiografias e frequentemente estudos de contraste para avaliar a patologia diafragmática e
umbilical.

Tratamento

As hérnias umbilicais pequenas frequentemente se resolvem espontaneamente nos


animais jovens, ficando tão pequenas que nunca causarão uma doença clínica, não exigindo,
portanto, tratamento cirúrgico.

As hérnias pequenas são facilmente corrigidas no momento de uma ovário-


histerectomia na fêmea. No entanto, se a hérnia umbilical contiver vísceras abdominais, deve-se
repará-la o mais rápido possível.
Devem-se considerar vísceras estranguladas e a presença de hérnia peritônio
pericárdica como situações emergenciais que requerem uma cirurgia imediata.

No reparo cirúrgico de uma hérnia abdominal complicada coloca-se o animal em


decúbito, preparando o mesmo de modo rotineiro.

136
Técnica cirúrgica

Palpar o anel hernial para determinar se o conteúdo abdominal permanece


externamente ao anel, e para determinar o tamanho do anel e a integridade da fáscia reta cranial
e caudal.

Faz-se uma incisão elíptica, levando-se em conta o tamanho da hérnia, a quantidade


de pele sobressalente e a pele remanescente para o fechamento. A extensão da incisão deve
ser quatro vezes maior que a largura.

Podem-se dissecar frequentemente as hérnias pequenas fora da pele e do tecido


subcutâneo e invertê-las no interior do abdome, corrigindo a hérnia de modo fechado.

Se a hérnia for grande ou caso possa palpar o conteúdo, deve-se abrir o saco herniário
e palpar o conteúdo, o anel hernial e, se possível, o diafragma ventral.

Deve-se retirar o saco herniário ou a gordura falciforme excessivos.

Não se deve debridar o anel hernial, pois isso privaria o cirurgião de um tecido
conjuntivo forte e viável, necessário para se fechar o defeito.

Quase todas as hérnias umbilicais podem ser fechadas sem implantes.

Devem-se utilizar suturas interrompidas simples de um material absorvível sintético ou


não-absorvível apropriado (tal como o náilon ou o aço inoxidável), começando-se a 1cm
cranialmente ao anel umbilical até 1cm caudalmente ao mesmo.

O tamanho do material de sutura deve ser o escolhido para o fechamento de rotina das
incisões abdominais com base no peso do animal.
Fecham-se rotineiramente o tecido subcutâneo e a pele.

Pós-operatório

Restrição da atividade por 7 a 10 dias

Devendo-se reconferir a incisão e retirar as suturas cutâneas após tal período. 137

10.3 Hérnia inguinal

As hérnias inguinais se formam quando um órgão ou um tecido protrai através do canal


inguinal. As hérnias inguinais indiretas (que são o tipo mais comum) ocorrem quando o tecido
protrai através da evaginação normal do processo vaginal nas fêmeas ou da túnica vaginal nos
machos. Uma hérnia inguinal direta ocorre quando a evaginação peritoneal separa-se e repousa
ao longo do processo ou das túnicas vaginais como uma formação de bolsa tecidual externa
separada.

Anatomia Cirúrgica

O canal inguinal é uma passagem através da parede abdominal. Costuma-se


considerar o canal inguinal como a passagem entre o anel interno e o anel inguinal externo. O
limite cranial do anel inguinal interno é formado pela borda caudal da inserção do músculo
oblíquo abdominal interno. É limitado ventro medialmente pelo músculo reto abdominal e pelo
tendão pré-púbico e caudal e lateralmente pela borda da pelve e pelo ligamento inguinal. O anel
inguinal externo se forma como um orifício em forma de fenda na inserção do músculo oblíquo
abdominal externo e se sobrepõe ao anel inguinal interno. A anatomia do canal inguinal varia
entre as espécies, dependendo da extensão caudal do ligamento do músculo oblíquo abdominal
interno.

Etiopatogênese
138

Desconhece-se a etiopatogênese exata das hérnias inguinais. Em determinadas raças,


têm-se observado hérnias inguinais congênitas. Demonstraram-se algumas raças com
predisposição a desenvolver hérnias inguinais, incluindo o Basset-hound, Terrier, Pequinês e o
West e White terrier. O pequinês também apresenta maior incidência de hérnia umbilical
intercorrente. Desconhece-se a causa das hérnias inguinais congênitas, mas elas têm sido
atribuídas a variações anatômicas normais, herança poligênica e doenças infecciosas.

As hérnias inguinais adquiridas são observadas mais frequentemente na cadela hígida


de meia idade. A maioria dos casos de herniação ocorre na cadela em cio ou prenhe, sugerindo
um envolvimento hormonal. Os outros fatores que podem estar envolvidos como o
enfraquecimento da parede abdominal, o traumatismo, a obesidade e o acúmulo de gordura no
processo vaginal.

Sinais Clínicos

A maioria dos cães com hérnias inguinais apresentará uma massa disforme e mole na
região inguinal que geralmente não é dolorosa à palpação. A massa pode se encontrar presente
por até um ano e pode ou não ser redutível à palpação. A elevação dos quartos traseiros pode
ajudar o examinador na redução da hérnia e permitir a palpação do defeito na parede abdominal.
A hérnia pode conter um útero gravídico ou infectado que seja incapaz de ser reduzido. Os
outros tecidos e órgãos que podem estar contidos na hérnia incluem o omento, o intestino, a
bexiga, a gordura prostática e o baço.
Diagnóstico

O diagnóstico se dá pelo exame físico, podendo ser auxiliado por uma radiografia que
demonstre alças intestinais preenchidas por gás ou o surgimento de um esqueleto fetal em
ossificação após 43 a 45 dias de gestação. A bexiga pode ser identificada por uma radiografia de
139
contraste após uma cateterização e uma aspiração do conteúdo vesical.

Deve-se diferenciar a hérnia inguinal do acúmulo de tecido gorduroso subcutâneo, do


abscesso, da formação de hematomas e da neoplasia da glândula mamária.

A hérnia pode surgir como um inchaço lateral à vulva e deve ser diferenciada de uma
hérnia perineal.

Fonte: arquivo pessoal

Fig.46 Cadela com hérnia inguinal unilateral.

Técnica Cirúrgica

Pode-se utilizar uma incisão na linha média ventral para todas as hérnias inguinais.
Essa abordagem permite a visualização de ambos os anéis inguinais e o reparo da herniação
bilateral por meio de uma incisão única. Isso também permite a extensão cranial da incisão,
quando for necessária, sem a invasão do tecido mamário ou de seu suprimento sanguíneo.

A incisão cirúrgica se estende da borda cranial da pelve até tão longe cranialmente
quanto for necessário para permitir a exposição do saco hernial. Prossegue-se essa incisão
através do tecido subcutâneo para baixo em direção à bainha reta ventral. Procede-se a
dissecção bruscamente sob o tecido mamário, remove-se e rebate-se lateralmente o tecido 140
mamário para expor o anel inguinal e o saco hernial.

Após dissecar o saco hernial a partir do tecido subcutâneo, abre-se o mesmo e


inspeciona-se seu conteúdo.

Rompem-se quaisquer aderências entre o saco e as vísceras e retorna-se o conteúdo


à cavidade abdominal.

Em alguns casos, pode ser necessário alargar o anel hernial cranialmente para facilitar
a redução da hérnia. Se a hérnia incluir a bexiga, a aspiração da urina facilita a redução.

Quando incluir um ou ambos os cornos uterinos e for realizada uma ovário-


histerectomia, a extensão da incisão em uma direção cranial e medial pode se tomar necessária
para completar o procedimento. Se a hérnia contiver um útero grávido, com até a sétima semana
de prenhez, pode-se reposicionar a hérnia no abdome e permitir que a prenhez continue até o
seu término. Após a sétima semana de prenhez, recomenda-se uma ovário-histerectomia,
dependendo da idade e do valor da cadela como animal reprodutor.

Após a recolocação das vísceras no interior do abdome, retira-se o saco sobressalente


nas margens do anel inguinal.

O retorcimento do saco sobressalente pode ajudar a manter a redução do conteúdo no


interior do abdome.

Sutura se o anel hernial com suturas interrompidas simples de material de sutura não-
absorvível 2-0.

Deve-se ter cuidado durante o fechamento para evitar os vasos pudendos externos e o
nervo genitofemoral, que saem da face caudomedial do anel.
Nos machos deve-se fechar o anel inguinal sem o comprometimento do cordão
espermático à medida que ele atravessa o canal inguinal.

Inspeciona-se o anel inguinal no outro lado.

Remove-se o processo vaginal, suturando o anel fechado.

Puxa-se então o tecido mamário de volta à linha média fecha-se o tecido subcutâneo, 141
utilizando suturas absorvíveis. Tendo o cuidado em se eliminar o espaço morto potencial.

Se for necessário, poderá ser colocado um dreno de Penrose antes do fechamento e


fazê-lo sair a partir de uma incisão em estocada ventral separada, caso se encontre uma grande
quantidade de espaço morto onde poderia se acumular fluido. Fecha-se rotineiramente a pele.

Pós-operatórios

Passam uma atadura no abdome caudal imediatamente após o procedimento. A


atadura ajuda a eliminar o espaço morto e aumenta o conforto do paciente. Se forem utilizados,
os drenos devem ser recobertos com um curativo e uma atadura absorventes e podem ser
removidos três a cinco dias após a cirurgia, antes da alta do paciente do hospital.

Antibióticoterapia e anti-inflamátorios por sete dias.


10.4 Hérnia diafragmática

Ruptura de diafragma por um trauma. Acredita-se que um aumento súbito na pressão


intra-abdominal (quando acompanhado por uma glote aberta) produza uma ruptura no 142
diafragmático.

Considerações gerais

Quando a glote se abre os pulmões se esvaziam, resultando em um grande gradiente


de pressão entre as cavidades abdominal e torácica, causando consequentemente a ruptura do
diafragma em seu ponto mais fraco. As mesmas alterações súbitas de pressão em um animal
com uma glote fechada são mais prováveis de criar um aumento uniforme na pressão através de
ambas as cavidades, abdominal e torácica, colocando o estresse máximo no parênquima
pulmonar e daí resultando em um pneumotórax. Se a glote estiver fechada ou aberta pode não
ser importante; um fator crítico é a criação de um aumento grande e abrupto de pressão com um
gradiente de pressão abdominal-torácico. A hérnia diafragmática e o pneumotórax ocorrem
simultaneamente em muitos pacientes traumatizados, e as lesões resultantes podem representar
o grau ou a rapidez das alterações de pressão transdiafragmáticas contra a dinâmica do fluxo
através das vias aéreas condutoras. A alteração de pressão abrupta geralmente se deve a um
impacto súbito.

A intervenção cirúrgica deve se basear na extensão da disfunção cardiopulmonar


inicial, na presença ou ausência de uma apreensão de órgão e no grau de comprometimento
pulmonar causado pelo preenchimento do espaço pleural. Os fatores mecânicos, tais como o
simples restabelecimento da continuidade diafragmática, possuem uma importância mínima.

A avaliação pré-operatória da função cardiopulmonar e a estabilização desses


parâmetros tomam-se imperativos.
Fisiopatologia

Animais com hérnias diafragmáticas têm dificuldade respiratória por várias alterações
intercorrentes.

A perda da continuidade do diafragma isolado raramente é responsável pela dispneia,


mais comumente, a dispneia é o resultado de um choque hipovolêmico, de um traumatismo na
143
parede torácica, de um preenchimento do espaço pleural, de contusões pulmonares e de uma
disfunção cardíaca.

A hipoventilação, que geralmente acompanha uma hérnia diafragmática, pode resultar


de:

 Restrição voluntária do movimento devido à dor secundária a uma contusão;


 Disfunção mecânica da parede torácica que inclua fraturas simples das costelas
e contusões;
 Expansão inadequada do tecido pulmonar causada pelo preenchimento do
espaço pleural com fluido, ar ou órgãos abdominais;
 Atelectasia ou alterações pulmonares causadas por hemorragia ou edema.
A capacidade pulmonar total, a capacidade vital e a capacidade residual funcional
podem se encontrar reduzidas, produzindo uma descombinação entre a ventilação e a perfusão
que pode resultar em hipóxia. Também pode ocorrer uma contusão no miocárdio, resultando em
várias disritmias, mais comumente em taquiarritmias ventriculares. Essas disritmias reduzem o
rendimento cardíaco, permitindo que se desenvolva uma hipóxia tecidual. A redução da perfusão
causada pela disfunção cardíaca (disritmia) pode agravar posteriormente as anormalidades
subjacentes nos pulmões e o quadro global de choque.

Diagnóstico

Como os pequenos animais que sofrem traumatismo por automóvel são geralmente
jovens (menos de dois anos) e machos, não é surpresa que uma população semelhante esteja
em maior risco de ocorrência de hérnias diafragmáticas. O único sinal clínico consistente é a
função respiratória comprometida exacerbada pelo estresse.

A hérnia diafragmática pode ser difícil de identificar em razão dos sinais clínicos
abertos poderem estar ausentes, muitos sinais clínicos comumente descritos (tais como um
abdome "forçado", ruídos pulmonares e cardíacos abafados, e presença de sons abdominais no
peito) constituem métodos não-confiáveis de diagnóstico. O sinal clínico mais comum é a 144
dispneia.

A hérnia pode ser identificada algum tempo depois do evento traumático. Não é
incomum que um animal que tenha sobrevivido ao episódio traumático original seja apresentado
meses mais tarde por razões não-relacionadas, no momento em que a auscultação pode revelar
uma anormalidade.

A avaliação radiográfica do tórax é obrigatória em qualquer animal suspeito de ter um


traumatismo torácico.

A silhueta diafragmática fica incompleta na maioria dos casos, embora outras doenças
(hidrotórax e hemotórax) resultem semelhantemente na perda do contorno da silhueta
diafragmática, complicando o diagnóstico diferencial. A presença de alças intestinais
preenchidas por gás na cavidade torácica permite a confirmação do diagnóstico. A toracocentese
e a subsequente citologia de qualquer fluido pleural ajudarão a caracterizar a efusão. A remoção
da efusão e a repetição das radiografias torácicas podem permitir uma melhor avaliação do tórax
e uma definição da silhueta diafragmática.

Em muitos casos, o diagnóstico ainda não é facilmente obtido com esses


procedimentos. Várias outras técnicas sugeridas incluem uma série de radiografias
gastrointestinais superiores, pneumoperitoneografia e uma peritoneografia de contraste positivo.
Podem ocorrer resultados falso-positivos ou falso-negativos. Além disso, algumas dessas
técnicas consomem tempo e podem ser perigosas em um paciente comprometido.

A avaliação da silhueta diafragmática por meio de uma ultrassonografia é garantida


como uma técnica segura, confiável e útil.

A avaliação radiográfica do parênquima pulmonar pode permitir uma avaliação


grosseira da função respiratória, embora as semelhanças na aparência radiográfica da contusão
pulmonar e do acúmulo de fluido pleural com uma atelectasia resultante tornem essa estimativa
grosseira na melhor das hipóteses.

Anestesia

145

Deve-se estabilizar o paciente antes de se considerar uma anestesia e uma cirurgia.

A remoção do ar ou do fluido do espaço pleural e a pré-oxigenação do paciente são


importantes antes da cirurgia.

Utilizar agentes anestésicos adequados que não sejam depressores vasculares e


respiratórios.

Geralmente utilizam-se fenotiazínico antes da indução da anestesia.

Não são recomendados xilazina, narcóticos ou combinar narcóticos tranquilizantes e


anticolinérgicos em pacientes com função cardiopulmonar comprometida.

Aconselha-se uma indução rápida utilizando-se qualquer barbitúrico de ação ultracurta


para permitir uma intubação e controle da ventilação. Deve-se evitar a máscara. Utilizam-se
anestésicos inalatórios para a anestesia.

Institui-se uma respiração assistida após a indução com pressões positivas não
excedam 20 cm de H20. O controle da respiração assegura uma oxigenação adequada e
durante procedimento cirúrgico.

Administram-se glicocorticoides e anti-histamínicos pré-operatórios nas hérnias


diafragmáticas crônicas em que se suspeita de lobos pulmonares atelectásicos em uma tentativa
de se evitar problemas associados com um barotrauma e edema pulmonar de reexpansão,
embora o seu valor terapêutico real seja controverso. A sua administração se baseia na
evidência experimental de seu efeito inibitório nos mediadores da permeabilidade vascular
pulmonar, que podem ser ativados pela lesão pulmonar.
Técnica Cirúrgica

No caso do acesso a cavidade torácica pode-se escolher entre um acesso abdominal


por meio de uma celiotomia em linha média permite ver todo o diafragma e simultaneamente
permite o exame e a avaliação de todas as vísceras abdominais, ou a utilização de uma
146
toracotomia lateral que principalmente, nas hérnias crônicas permite uma melhor visualização e,
portanto uma maior facilidade de manipulações cirúrgicas para romper as aderências; no
entanto, geralmente uma toracotomia lateral requer um conhecimento pré-operatório da
localização da hérnia, incluindo o conhecimento de que a hérnia não seja bilateral e de que não
permite de modo efetivo a avaliação das vísceras abdominais.

A ruptura do diafragma é geralmente intramuscular ventral ao hiato esofágico. Os


costomusculares no lado direito são mais comuns. A ruptura também pode incluir as origens
costais diafragmáticas.

Os órgãos mais comumente encontrados na cavidade torácica são o fígado, o intestino


delgado, o estômago, o baço e o omento, em ordem de frequência decrescente. O hidrotórax
ocorre mais comumente após a apreensão do fígado e é secundário a uma obstrução e uma
congestão venosas e linfáticas.

O tamanho e a localização da hérnia determinam que vísceras se encontrem presentes


no tórax, e se elas se encontram móveis ou encarceradas.

Pode ser necessário aumentar na ruptura diafragmática para reduzir mais facilmente o
conteúdo herniário.

Para que vísceras estranguladas retornem ao abdome, devem-se resseccionar


localmente as estruturas severamente comprometidas (tais como o intestino e o fígado) sem a
permissão do restabelecimento da circulação da estrutura comprometida. Tal ressecção pode
evitar uma toxêmia, que pode resultar de endotoxinas, exotoxinas bacterianas e produtos de
autólise tecidual (aminas polipeptídios vasoativos) quando se restabelece o acesso à circulação.

Quando se suturar o diafragmático com menos de 72h, deve-se avaliar a força de


sustentação da margem do ferimento. A sutura a certa distância da margem do ferimento pode
ser necessária para se obter uma força de sustentação adequada. Quando a ruptura for crônica,
presente por mais de duas semanas, as margens do ferimento possuem uma maior força devido
ao aumento de colágeno e de tecido cicatricial. Não é necessário debridar as bordas do
ferimento.

Nos casos de contratura, pode-se avançar cranialmente o diafragma para se


compensar a redução de tecido muscular diafragmático disponível. Podem-se utilizar flapes 147
musculares, enxertos de omento ou sintéticos para facilitar o fechamento do defeito, embora
sejam raramente necessários.

A restauração do diafragma se inicia nas porções mais profundas (mais dorsais) e


inacessíveis do abdome e prossegue para a área mais facilmente acessível e superficial
(ventral). A pré-colocação de suturas pode facilitar o fechamento. Os padrões e o material de
sutura são polipropilenos monofilamentar 2-0 ou 1-O para reaproximar o defeito, seguido por um
padrão contínuo simples de polipropileno monofilamentar 3-0 ou 2-0 na borda do ferimento.
Geralmente recomendam-se materiais não-absorvíveis devido à sua força tênsil mais
prolongada.

A B C D

Fonte: Arquivo pessoal. Fig.47 - A– Toracotomia lateral; B-demonstração da ruptura diafragmática; C- visualização
das vísceras abdominais dentro da cavidade torácica; D: herniorrafia diafragmática.
Deve-se colocar uma sonda de toracotomia antes de se fechar o defeito inteiro. A
sonda é facilmente colocada através da parede lateral do peito antes de se fechar o diafragma.
Esse método permite a avaliação completa do ar a partir do espaço pleural e é preferível ao uso
mais comum de uma ventilação de pressão positiva que permita o escape de ar intratorácico por
meio de um espaço deixado no fechamento do ferimento diafragmático, ajudando
consequentemente a evitar um barotrauma pulmonar. Esse método também é superior à
148
aspiração com agulha repetida da cavidade do peito, que acarreta o risco de lacerar o pulmão.
Pode-se remover a sonda dentro de poucas horas após a evacuação do ar da cavidade torácica
ou deixá-la no local por um período variável de tempo, dependendo da sua utilidade no manejo
pós-operatório.

A E

Fonte: Fossum, 2002.

Fig. 48 - A: demonstração da reconstituição de pressão negativa dentro da cavidade torácica por meio de uma
sonda; B: sucção com uma seringa acoplada ao dreno.

Pós-operatório

Recomenda-se radiografia torácica pós-operatória imediata para se avaliar quanto à


efusão pleural, pneumotórax e colocação de sonda torácica (se isso for parte do manejo pós-
operatório), e esta deve se tornar uma referência quando quaisquer radiografias torácicas se
tornarem necessárias.

Assim como colocar o paciente em um ambiente rico em oxigênio (40%) e com


temperatura controlada.
Deve-se monitorar intimamente a frequência cardíaca, a coloração da membrana
mucosa, o pulso e a frequência respiratória.

Devem-se evitar drogas analgésicas com propriedades depressoras respiratórias.

Após o reparo de uma hérnia diafragmática crônica em que se encontrem presentes,


lobos pulmonares atelectásicos, devem-se manter uma sonda torácica por um período pós-
149
operatório inicial. Deve-se aplicar uma sucção de não mais que -1 O cm de H20 na sonda de
drenagem. Essa taxa permite uma reinflação lenta dos pulmões atelectásicos, evitando
problemas tais como o edema pulmonar de reexpansão. No entanto, os drenos requerem uma
supervisão constante.

Complicações

Têm-se calculado as taxas de mortalidade para os cães e gatos que sofrerem uma
herniorrafia diafragmática. Esses números indicam uma taxa de mortalidade global de
aproximadamente 20%. Observaram-se taxas de mortalidade significativamente mais altas em
animais que sofreram uma cirurgia dentro das primeiras 24h após o traumatismo devido à
incapacidade de estabilizar de forma efetiva o paciente no pré-operatório.

10.5 Hérnia perineal

Conceito
Hérnia perineal resulta do enfraquecimento e separação dos músculos e fáscias do
diafragma pélvico, promovendo deslocamento caudal de órgãos abdominais ou pélvicos para a
região do períneo.

A hérnia perineal é mais comum em cães machos intactos sendo mais raros em
cadelas e gatos. Podendo ser uni ou bilaterais.

150

Etiologia

Associada à atrofia neurogênica do músculo elevador do ânus em cães.

Nos gatos surgem como complicação secundária à uretrostomia perineal, megacólon


idiopático, doença do trato urinário inferior, colite crônica e tumores perineais. Alguns são
considerados idiopáticos por não apresentarem correlação com nenhuma outra enfermidade.

Principais causas e fatores de risco:

 Prevalência maior em animais do sexo masculino e idosos (mais de seis anos).


 Megacólon idiopático: Principalmente uma patologia felina, embora
ocasionalmente acometida em cães. São fatores de risco definido para a ocorrência de hérnia
perineal devido à obstipação crônica que se origina.
 Patologias prostáticas: prostatites, cistos prostáticos e paraprostáticos,
hipertrofia prostática benigna e tumores.
 Tumores anais tumores perineais, retopatias intercorrentes e diverticulites.
 Predisposição genética: em consequência à fraqueza dos músculos que
compõem o diafragma pélvico, em especial do músculo elevador do ânus e dos músculos
coccígeos, ocasionados por uma falha genética.
 Lesões nervosas: estudos histopatológicos evidenciaram lesões nos nervos
sacrais e/ou pudendos em cães com hérnias perineais.
 Inflamação do trato urinário inferior dos felinos: desordens do trato urinário
inferior dos felinos (bexiga, ureteres e uretra), caracterizada por um ou mais dos sinais clínicos:
polaciúria, hematúria, disúria, estrangúria e obstrução parcial ou completa da uretra.
 Obesidade: Os animais obesos são mais propensos a desencadear essa
síndrome.
 Uretrostomia perineal: Relevante no caso de felinos, pelo rompimento das
fáscias existentes entre o esfíncter anal externo e músculo coccígeo medial. 151

Anatomia da região perineal

O períneo é a parte da parede corporal que recobre a abertura caudal da pelve e


circunda os canais anais e urogenitais. O diafragma pélvico é composto pelos músculos elevador
do ânus e coccígeo, pelo ligamento sacrotuberoso (ausente nos felinos) pelo músculo glúteo
superficial, pelo músculo obturador interno e pelo músculo esfíncter anal externo. Os músculos
do diafragma pélvico formam uma abertura em funil caudalmente para passagem do reto e do
ânus.

Músculos coccígeos: Originam-se na espinha isquiática no piso pélvico e se inserem


ventralmente na segunda a quinta vértebras caudais. Os músculos coccígeos pareados são
músculos espessos, que repousam lateralmente aos músculos elevadores anais finos.

Músculo obturador interno: Origina-se a partir da tábua isquiática e bordas, cranial e


medial do forame obturador. A inserção ocorre através das fibras que convergem lateralmente e
avançam sobre a pequena incisura isquiática até um tendão achatado e robusto inserido nos
músculos gêmeos. Este tendão insere-se na fossa trocantérica do fêmur.

A irrigação vascular ocorre através da artéria femoral circunflexa medial que remete
ramos e penetram na superfície ventral do músculo que reveste o forame obturador e os ramos
da artéria glútea caudal proporcionam irrigação colateral. Ao passar sobre a grande incisura
isquiática, o nervo isquiático remete um ramo caudalmente na direção da parede do músculo que
reveste a pequena incisura isquiática.
Músculo glúteo superficial: É originado cranialmente pela fáscia glútea, a parte lateral
do sacro, a primeira vértebra caudal, e a metade cranial do ligamento sacrotuberoso (ausente
nos felinos). Sua inserção ocorre através de um tendão largo e achatado avançando sobre a
superfície lateral do trocanter maior indo inserir no terceiro trocanter. A irrigação vascular ocorre
através dos ramos da artéria glútea caudal e penetram na superfície dorso medial do músculo, o
nervo glúteo caudal, que pode originar tanto do nervo isquiático quanto do primeiro e segundo
152
nervos sacrais, penetram na superfície medial da parte dorsocaudal do músculo.

Músculo esfíncter anal externo: É um músculo voluntário estriado que circunda o canal
anal. Este esfíncter pode ser dividido em três partes. A parte cutânea situa-se diretamente sob a
pele, no tecido subcutâneo. As fibras superficiais, que direta ou indiretamente se inserem na
terceira ou quarta vértebra caudal, avançam sobre a superfície lateral do canal anal e sacos
anais e inserem-se no músculo constritor da vulva. As fibras profundas circundam o canal anal,
avançando medialmente aos sacos anais. As fibras superficiais podem cruzar ventralmente ao
ânus, ou podem intercambiar com fibras profundas. A irrigação vascular ocorre através de um
ramo da artéria glútea caudal e a única inervação é o nervo retal caudal, que deixa o nervo
pudendo ao nível da borda caudal do músculo elevador do ânus e penetra a parte caudodorsal
do esfíncter anal externo na região da fossa isquiorretal.

Músculo retococcígeo: Se origina da camada muscular longitudinal do reto, avança


caudalmente através de um arco formado pelo esfíncter anal externo até um canal anal. Este
músculo insere-se na superfície ventral da quarta ou quinta vértebra caudal, fixando firmemente
o reto ao esqueleto axial. É responsável pelo encurtamento do reto quando se levanta a cauda
durante a defecação.

Elevador do ânus: Os músculos elevadores anais pareados originam-se o piso na


pelve e na haste medial do ílio, se abrem ao redor dos lados do reto e, depois, se estreitam e se
inserem ventralmente na última vértebra caudal.

Nervo pudendo: O nervo pudendo, a artéria e veia pudendas internas avançam até a
fossa isquiorretal na superfície ventrolateral do músculo coccígeo, e em seguida evoluem
caudomedialmente através da superfície dorsal do músculo obturador interno. Ramos do nervo
pudendo inerva o esfíncter anal externo e a pele perineal antes que o nervo termine, o nervo
pudendo e os vasos sanguíneos pudendos estão reunidos por tecido conjuntivo, e geralmente
estão relacionados a parte ventral do saco herniário perineal.

Nervos perineais e nervo retal caudal: Seus ramos são originados do nervo pudendo,
os nervos perineais originam-se da superfície dorsal do nervo pudendo e são responsáveis pelo
suprimento do períneo e a pele do ânus, o nervo retal caudal pode originar-se de nervos sacrais,
ou deixar o nervo pudendo na borda caudal do músculo levantador do ânus e é responsável pela 153
inervação do esfíncter anal externo.

Ligamento sacrotuberoso: É uma fita fibrosa que corre do processo transverso da


última vértebra sacral e da primeira vértebra caudal até o ângulo lateral da tuberosidade
isquiática rostralmente ao diafragma pélvico. Os gatos não apresentam o ligamento
sacrotuberoso, porém está presente nos cães.

Tipos de Hérnia perineal

As hérnias podem ser uni ou bilaterais, sendo as bilaterais mais frequentes nos felinos
com uma predominância inexplicada pelo lado esquerdo.

Tem-se descrito as hérnias perineais como dorsais, entre o músculo elevador do ânus
e coccígeo, ou ventrais que ocorre entre o elevador do ânus e o esfíncter anal externo.
Recentemente, descreveram-se dois tipos adicionais de hérnias, uma hérnia ciática, entre o
músculo coccígeo e o ligamento sacrotuberoso (ausente em gatos) e também ventralmente ao
músculo isquiouretral.

O tipo mais comum de hérnia em cães e gatos é a hérnia perineal ventral que ocorre
entre o elevador do ânus e o esfíncter anal externo.

Partes da hérnia Perineal


As hérnias podem conter saculação retal, fluido seroso, gordura retroperitoneal ou
pélvica, vesícula urinária, próstata ou intestino delgado.

Quando o conteúdo herniário são vísceras e estas são comprimidas, há uma rápida
deterioração do quadro, podendo ocorrer choque e morte se a hérnia não for corrigida
rapidamente.

154

Sinais clínicos

Anorexia, vômito, constipação (defecação difícil ou com intervalos prolongados),


obstipação (constipação intratável), tenesmo (esforço para defecar ou urinar, sem que ocorra
eliminação de fezes ou urina), e disquezia (defecação dolorosa), prolapso retal, aumento do
volume da região perineal em casos que o conteúdo é a vesícula urinária, observa-se anúria,
disúria e estrangúria em associação com afecção prostática ou com retroflexão da bexiga e
próstata. Comumente tem-se a tumefação, que se situa em posição ventrolateral ao ânus
embora em alguns casos bilaterais fique evidenciada a tumefação ventral, com projeção caudal
ao ânus.

A incontinência fecal, flatulência e incontinência urinária são sintomas clínicos que


ocorrem subsequente à formação de hérnia perineal ou herniorrafia.

Diagnóstico:

 Histórico clínico;
 Sinais clínicos;
 Exames radiográficos;
 Ultrassonografias.

No histórico clínico o proprietário normalmente relata que o animal apresenta


dificuldade de urinar e defecar e um aumento significativo na região perineal.
A palpação retal é um dos exames mais importantes visto possibilitar a determinação
das estruturas que formam o aumento do volume, deve revelar desvio retal ausência da
musculatura de suporte e/ou divertículo retal. O clínico deve procurar pela retroflexão da bexiga
no processo herniário. Se houver dúvida, a área perineal deve ser aspirada para verificar se a
bexiga está presente. Quando se observa retroflexão vesícula urinária, um uretrograma ou
cistograma deve ser realizado.
155
Avaliar a textura e tamanho da próstata se estiver envolvida.

A alteração radiográfica demonstrada no exame simples é o aumento anormal de


tecidos moles na região perineal. A não-visualização da próstata e da bexiga pode indicar o
deslocamento destes órgãos. Além disso, material fecal ou ingesta pode ser visualizado em
alças intestinais deslocadas.

No exame ultrassonográfico ocorre à visualização de uma imagem de área circular de


conteúdo hipoecoíco, localizada na região perineal, sugestivo de herniação perineal. Os rins
apresentam o tamanho normal, arquitetura preservada, relação cortiço-medular inalterada e
ecotextura dentro dos padrões ultrassonográficos normais.

Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico diferencial quanto à tumefação perineal inclui abscesso perineal,


neoplasias perineais, hiperplasia de glândula perineal, saculite anal, neoplasias de saco anal,
atresia anal e tumores vaginais.

Terapia conservadora

A terapia conservadora consiste no tratamento clínico e nutricional. São meios


adjuvantes aos procedimentos cirúrgicos, são terapias utilizadas quando o esforço para
defecação é infrequente. No entanto, é contraindicado o uso desse tratamento em longo prazo,
pois podem ocorrer aprisionamento e estrangulamento das vísceras e risco de vida.

Os regimes dietéticos e medicamentosos devem ser ajustados para que sejam obtidas
fezes moles e defecação regular, uma dieta deve ser oferecida rica em fibra com laxantes
formadores de volume. Estes medicamentos são a metilcelulose que mediante suas
propriedades hidrofílicas e osmóticas, estes agentes retêm água e eletrólitos no lúmem intestinal, 156
amolecem e aumentam o volume fecal.

Remoção digital das fezes é feita em casos intensamente compactados.

Realizações de enemas com água morna aos quais pode ser adicionado emoliente
fecal. Devem ser administradas a todos os animais constipados, aproximadamente 12 a 18 horas
antes da cirurgia. Este intervalo se faz necessário para que permita a total evacuação de líquidos
no intestino grosso, e para que seja evitada contaminação do local cirúrgico.

Se ocorrer retroflexão da bexiga deve-se tentar a cateterização imediatamente, caso


isso não seja bem-sucedido, torna-se necessário a cistocentese. Nesses casos são emergências
clínicas e devem ser corrigidos imediatamente com a cirurgia.

Tratamento cirúrgico:

No dia do procedimento cirúrgico o animal deverá estar em jejum prévio de 12 horas,


tricotomia local incluindo virilha, porção caudal dos membros posteriores e a base da cauda.

O paciente é posicionado em decúbito ventral com a região posterior elevada e com a


cauda tracionada no sentido cranial, e é mantida nesta posição com uma fita adesiva que deve
ser fixada a vários centímetros acima da base da cauda e em cada lado da mesa. Deve-se
observar para que o animal não fique em posição muito inclinada a fim de evitar o
comprometimento da função respiratória.

Antes da antissepsia, uma sutura em bolsa de fumo é realizada ao redor do ânus.


Quando o conteúdo é a vesícula urinária, deve-se drenar a urina por cistocentese
antes de iniciar a cirurgia, para facilitar a entrada da bexiga na cavidade abdominal. Entre os
tratamentos mais frequentemente utilizados na reconstrução do diafragma pélvico estão o
método tradicional de sutura; a transposição do músculo obturador interno, com ou sem secção
do tendão muscular; a transposição do músculo glúteo superficial; e a transposição do músculo
obturador interno aliado à transposição do músculo glúteo superficial.
157

Método tradicional de suturas

Realiza-se a incisão de pele sobre o aumento de volume perineal iniciando lateral à


base da cauda até o ângulo medial da tuberosidade isquiática. Após a abertura do saco
herniário, os conteúdos pélvicos e abdominais são identificados e recolocados na posição
original ou removidos, se necessário. O método tradicional inclui basicamente suturas entre os
músculos, esfíncter externo do ânus e coccígeo, e entre os músculos esfíncter externo do ânus e
abturador interno. Também podem ser incluídos os músculos coccígeo e elevador do ânus, mas
este último muitas vezes se encontra atrofiado e não pode ser utilizado para ancorar pontos de
sutura. Após o fechamento do defeito, a fáscia perineal superficial pode ser usada para reforçar
a sutura.

Utiliza-se com frequência material de sutura não absorvível monofilamento (náilon 2-0 -
0).

Transposição do músculo obturador interno

A técnica de transposição do músculo obturador interno tem por objetivo o reforço na


porção ventral da hérnia. O procedimento também permite uma sutura sem tensão e promove
mínima distorção do músculo esfíncter externo do ânus. Após acessar a hérnia de forma similar
à técnica anterior, a porção caudal do músculo é elevada subperiostealmente do assoalho
isquiático e o seu tendão pode ou não ser seccionado.
Quando o tendão não é seccionado, o músculo é apenas deslocado dorsalmente para
fechar o defeito e estabilizado por suturas com o músculo esfíncter externo do ânus medialmente
e ligamento sacrotuberoso (inexistente em gatos) e músculo coccígeo.

Transposição do músculo obturador interno com a secção do tendão


158

Se realizada a secção do tendão. Deve-se tomar cuidado para não lesar o nervo
pudendo que se localiza dorsalmente a ele. O músculo coccígeo é suturado ao músculo esfíncter
externo do ânus em pontos isolados simples. Em seguida, aplica-se um ponto U separado
incluindo o músculo obturador interno, coccígeo e esfíncter externo do ânus. O procedimento é
finalizado aproximando-se o músculo obturador interno e esfíncter externo do ânus com pontos
simples isolados.

Transposição do músculo glúteo superficial

A transposição do músculo glúteo superficial pode ser utilizada nos casos em que o
tratamento tradicional falhou.

O animal deve ser posicionado em decúbito lateral.

O procedimento consiste em dissecar a borda cranial do músculo e seccionar sua


inserção no terceiro trocanter do fêmur.

O retalho muscular é refletido em ângulo de 90º e suturado ao músculo esfíncter


externo do ânus caudalmente e ao tecido subjacente dorsal e ventral. Para obtenção de um
diafragma mais resistente, recomendou a associação desta técnica com a transposição do
músculo obturador interno.

A transposição do músculo glúteo superficial promove o suporte seguro e duradouro


para o diafragma pélvico.
Apesar de não induzir uma ferida cirúrgica muito extensa, o procedimento requer maior
tempo cirúrgico, o que possibilita uma maior susceptibilidade à infecção.

Transposição do músculo semitendinoso

159

Particularmente utilizada quando a face ventral do períneo está severamente afetada


(hérnias crônicas, recidivantes), assim como as hérnias perineais bilaterais.

Quando a hérnia for unilateral utiliza-se o músculo semitendinoso contralateral na


reconstrução.

A incisão de pele utilizada na herniorrafia tradicional é prolongada através da linha


mediana em direção a tuberosidade isquiática, onde é curvada e progride distalmente no aspecto
caudal do membro pélvico contralateral até a altura do linfonodo poplíteo.

O músculo semitendinoso é dissecado das estruturas adjacentes e seu pedículo


proximal, vascular (artéria glútea caudal e veia glútea caudal) e nervoso, é identificado e
preservado.

Tratamento cirúrgico da hérnia perineal no gato

As hérnias perineais são umas patologias extremamente raras no gato. São


geralmente bilaterais, com maior incidência do lado esquerdo e secundário a uretrostomias ou a
tenesmo devido à colite, massas perineais ou megacólon.

É sempre necessária a correção da etiologia.

O tratamento cirúrgico é semelhante ao descrito para o cão, com a exceção de que no


caso da herniorrafia clássica não se pode incorporar o ligamento sacrotuberal nas suturas,
porque ele não existe.
De um modo geral, os autores referem taxas de recorrência inferiores às da espécie
canina.

Utilização de redes prostéticas

160

Quando o anel herniário tem uma dimensão que torna impossível a aproximação dos
tecidos sem criar uma tensão excessiva, pode utilizar-se um implante prostético.

Os materiais mais utilizados são as redes monofilamentosas de polipropileno ou


polietileno.

Estes materiais são bem tolerados em feridas, são extensíveis e não são reabsorvidos.
A rede deve estender-se 1,5 a 3 cm para além das margens do defeito e é ancorada a estruturas
resistentes com pontos isolados de fio monofilamento não-absorvível. O tecido de granulação e a
rede de capilares invadem a rede, formando uma camada de tecido conjuntivo em quatro a seis
semanas.

As desvantagens incluem a possibilidade de rejeição do material e irritação dos tecidos


subjacentes. Existem relatos de utilização de colágeno de suíno para encerramento da hérnia
perineal.

A B C D

Fonte: Meca cirurgia on-line. Acesso 07/01/08.

Fig. 49 - A: visualização de uma hérnia perineal (tumefação perineal unilateral); B:incisão sobre o defeito;
visualização do conteúdo incluindo bexiga urinária; D: sutura com pontos simples separados.
Cuidados pós-operatórios e complicações

Devem ser administrados analgésicos para diminuir as hipóteses de ocorrência de


prolapso retal.

Nos pacientes urêmicos deve-se manter a fluidoterapia. 161

No local da sutura podem aplicar-se compressas quentes, para diminuir o edema e a


irritação na região perianal.

Deve manter-se a administração de um antibiótico de largo espectro e eficaz contra


Escherichia coli.

Os emolientes fecais devem ser administrados em média durante dois meses, pois
diminuem as possibilidades de recorrência.

A infecção e a consequente deiscência da sutura podem ser prevenidas pela


administração de antibiótico.

No caso de existir dor marcada e claudicação do membro posterior, devemos suspeitar


de incorporação do nervo ciático numa das suturas e proceder a uma intervenção cirúrgica para
remover essa sutura por intermédio de um acesso lateral ao quadril.

Poderá também ocorrer incontinência fecal devido à dor, inflamação local ou à


incorporação do nervo pudendo ou nervo caudal retal numa das suturas, e esta incontinência
resolve-se após a reinervação da zona pelo nervo contralateral.

Outras complicações possíveis são: hemorragia, depressão, anorexia, tenesmo,


disquezia, flatulência, hematoquezia, prolapso retal, dano uretral, disúria, estrangúria, atonia da
bexiga, necrose da bexiga e incontinência urinária.
11 PATOLOGIAS ORTOPÉDICAS

11.1 Ostectomia ou ablação da cabeça e colo femoral

162

A disfunção da articulação coxofemoral pode resultar de trauma, necrose isquêmica da


cabeça femoral, displasia coxofemoral ou de uma artropatia degenerativa.

A ostectomia da cabeça e do colo femoral é um procedimento relativamente simples


que tem sido utilizado para eliminar a dor e restaurar a função nos animais afetados. O
desenvolvimento de outros procedimentos reconstrutivos femorais e pélvicos e a refinação das
técnicas para a substituição total do quadril nos cães expandiram as opções cirúrgicas e
modificaram significativamente as indicações da ostectomia da cabeça e do colo femoral (OCF).

Deve-se considerar a OCF uma cirurgia de resgate para aliviar a dor e restaurar uma
função razoável. Como o procedimento não reconstrói a articulação coxofemoral, não se
recupera uma função articular normal.

Fatores Gerais

Os resultados da OCF são variáveis e dependem de vários fatores:

 Tamanho do corpo - Os cães pequenos e os gatos geralmente se dão muito


bem após uma OCF. Nos cães maiores (com peso acima de 20 kg) não são tão previsíveis. A
interposição de tecido mole entre o acetábulo e a superfície de corte do fêmur pode melhorar os
resultados após uma OCF nos cães maiores.
 Temperamento - Os cães agressivos e ativos usarão o membro operado mais
cedo e geralmente apresentam um melhor resultado do que os animais letárgicos e menos
ativos.
 Obesidade - Os animais acima do peso apresentam um período muito mais
difícil com a reabilitação após uma OCF, pois são menos aptos ao exercício. A obesidade
também potencializa os problemas no pós-operatório (ferimentos de decúbito e queimaduras por
urina). 163
 Técnica cirúrgica - Uma dissecção minimamente traumática e uma osteotomia
uniforme facilitarão uma sustentação do peso e uma reabilitação precoce. As pequenas
irregularidades ósseas não são importantes, mas devem-se evitar as projeções maiores que
resultam em crepitação.
 Distúrbios ortopédicos coexistentes e cronicidade da patologia primária - Um
animal saudável que tenha sido agudamente lesionado terá uma recuperação mais precoce e
um resultado frequentemente mais definitivo após uma OCF. Em paciente, com envolvimento de
articulações múltiplas ou com atrofia e fibrose muscular ao redor do quadril tem um resultado
menos satisfatório.
 Expectativa funcional - Embora a OCF obtenha o alívio da dor não se pode
esperar um retorno completo da função normal. Podem ser necessários 6 a 12 meses para que o
animal atinja um resultado ideal após uma OCF, e o cliente deve estar ciente do tempo de
recuperação prolongado.

Indicações:

 Necrose isquêmica da cabeça femoral;


 Fraturas que envolvam o acetábulo ou a cabeça e o colo femoral;
 Luxações recorrentes;
 Artropatia degenerativa;
 Displasia coxofemoral.

Técnica Cirúrgica
Para abordagem e exposição da Articulação Coxofemoral, pode-se fazer uma
abordagem craniolateral modificada incluindo a elevação das origens da musculatura do vasto
para se obter uma maior exposição do colofemoral.

Com o animal anestesiado preferencialmente sob anestesia inalatória e após


tricotomizado o membro desde um ponto acima do jarrete até a linha média dorsal e ventral,
preparando-se rotineiramente o mesmo para uma cirurgia asséptica. 164

Coloca-se o paciente em decúbito lateral com o mesmo suspenso. O membro é


envolvido em panos de campo e usa-se uma compressa estéril para a manipulação do membro
durante a cirurgia.

Inicia-se uma incisão ligeiramente curva cranial e dorsalmente de forma leve ao


trocanter maior, estendendo-se a partir de imediatamente próximo à linha média dorsal e
prosseguindo ao longo da borda cranial do eixo femoral proximal. Prossegue-se a incisão
através do tecido subcutâneo.

Deve-se limpar a subcutânea a partir da fáscia lata para expor suficientemente o


músculo tensor da fáscia lata em forma de leque e a borda cranial do músculo glúteo superficial.

Faz-se uma incisão na fáscia lata ao longo da borda cranial do músculo bíceps femoral
e prossegue-se proximal e cranialmente ao longo da borda do músculo glúteo superficial.

Estende o corte distalmente para que se possam rebater facilmente o músculo tensor
da fáscia lata e bíceps femoral.

O rebatimento cranial do tensor da fáscia lata e o rebatimento caudal do bíceps femoral


exporão o trocanter maior.

Os afastadores autorretentores (Gelpi ou Weitlaner) são muito úteis na manutenção


desse afastamento. Deve-se ter cuidado em não se danificar o nervo ciático quando se rebater o
bíceps femoral.

Retira-se o tecido conjuntivo frouxo ao redor do trocanter e rebate-se dorsal e


caudalmente o músculo glúteo médio para facilitar a identificação do tendão glúteo profundo (que
é um tendão largo e chato, com uma aparência brilhante). Nesse ponto, eleva-se o tendão do
músculo glúteo profundo a partir de seus ligamentos na cápsula articular, uma rugina afiada
pode facilitar essa separação. No caso dos cães com fibrose periarticular extensa, a separação
pode não ser clara e pode-se entrar na articulação inadvertidamente durante essa manobra.
Uma tenotomia parcial do tendão glúteo profundo frequentemente ajuda a aumentar a exposição,
corta-se aproximadamente um terço do tendão, deixando-se porções adequadas em cada lado
para um fechamento seguro.

Corta-se a cápsula articular em linha com o colo femoral e procede-se a incisão 165
lateralmente através das origens da musculatura do vasto. Com a incisão desses músculos,
encontra-se um sangramento moderado; uma pressão aplicada com um tampão de gaze é
geralmente adequada para se obter uma hemostasia.

Elevam-se a cápsula e os músculos vastos a partir do colo com uma rugina afiada. No
caso dos animais com fibrose extensa, um bisturi será útil para limpar esses tecidos densos.

Palpar o trocanter menor medialmente para preservá-Io. Ele serve como inserção do
músculo íliopsoas, um importante flexor e rotador externo do quadril.

Excisão da Cabeça e do Colofemorais

Se o quadril estiver luxado, torna-se útil obter uma redução antes ou durante o
procedimento. Isso restaura as relações anatômicas normais e estabiliza a cabeça femoral no
acetábulo durante a ostectomia. Se não se puder reduzir a luxação, deve-se colocar um
afastador manual abaixo da cabeça e do colo femorais para proporcionar uma estabilização e
proteger os tecidos moles circundantes.

Um osteótomo de largura suficiente permite um rompimento limpo do colo sem a


repetição do corte. Coloca-se o osteótomo na superfície lateral do colo femoral, se segura o cabo
cranialmente, e direciona-se o corte caudal e medialmente. Um erro comum consiste em se
direcionar o osteótomo diretamente medial (ou seja, perpendicularmente a mesa). Isso
geralmente resulta na excisão incompleta de uma porção do colo femoral caudal, dependendo
da posição do fêmur durante a ostectomia.

Após se cortar o colo, prende-se a cabeça femoral com uma pinça óssea uma pinça de
campo, rompe-se o ligamento da cabeça femoral (se estiver intacto) com uma tesoura curva e
forte e cortam-se quaisquer ligamentos capsulares remanescentes. Remove-se então a porção
da cabeça e do colo.
Removem-se quaisquer projeções ou irregularidades ósseas que permanecerem na
superfície de corte do fêmur com um desgastador ou um raspador ósseo. Se a hemorragia
proveniente da superfície medular for persistente, utiliza-se uma cera óssea para se obter uma
hemostasia. Lava-se completamente o ferimento com solução salina, controlando qualquer
hemorragia remanescente.

Caso se corte o tendão glúteo profundo, repara-se o mesmo com uma ou duas suturas 166
com polidioxanona.

Suturam-se os músculos vastos no tendão de inserção do músculo glúteo profundo


com suturas horizontais, também de polidioxanona.

Suturam-se a fáscia lata e os músculos tensores da fáscia lata ao bíceps femoral em


uma camada com uma camada interrompida de sutura de polidioxanona.

Fecha-se a camada subcutânea com poliglactina 910 em um padrão contínuo, e fecha-


se a pele com suturas interrompidas de náilon monofilamentar 3-0.

Procedimentos Interposicionais Auxiliares

Têm-se utilizado vários tecidos (incluindo a cápsula articular, gordura, fáscias e os


músculos bíceps femoral e glúteo profundo) para evitar o contato ósseo entre o acetábulo e a
superfície de corte do colofemoral.
A B C D

167

Fonte: cortesia Prof. André Lacerda Abreu Oliveira

Fig.50. A: incisão em pele e visualização de tecido subcutâneo; B visualização do glúteo


superficial; C: incisão na cápsula articular; D: exposição de cabeça e colofemoral e
posicionamento do osteótomo para ablação de cabeça e colofemoral.

11.2 Luxação patelar

As lesões e disfunções da patela são causas frequentes de claudicação do membro


posterior nos pequenos animais. Embora a luxação patelar mediaI e, em menor extensão, a
luxação patelar lateral constituam a maioria das lesões associadas à patela.

Anatomia Funcional
Pode-se descrever a patela como a porção ossificada do tendão do quadríceps.
Embora a própria patela seja uma estrutura passiva no corpo, ela exerce um papel importante
em um sistema dinâmico denominado como o mecanismo extensor da soldra.

O grupo extensor primário de músculos da soldra é o quadríceps femoral. Três dos


quatro músculos desse grupo - o vasto lateral, o vasto medial e o vasto intermédio se originam
do fêmur proximal, enquanto que o reto femoral se origina do ílio; todos os quatro convergem 168
para formar o tendão do quadríceps. Esse tendão se prende primariamente à porção proximal da
pateIa, no entanto, uma porção fina atravessa a superfície craniaI da patela para se misturar com
o ligamento patelar.

O ligamento patelar é uma faixa forte de tecido conjuntivo fibroso que corre da patela
até a tuberosidade tibial. Quando o grupo de músculos do quadríceps se contrai, a força
resultante puxa a patela, o ligamento patelar e a tuberosidade tibial, causando a extensão da
soldra. Durante esse movimento, a patela corre no sulco troclear. Um corte transversal da pateIa
revela uma superfície articular convexa. O sulco troclear é côncavo e permite uma articulação
íntima entre o fêmur e a patela. As fibrocartilagens para-patelares encontram-se em ambos os
lados da pateIa e se prendem à cápsula articular. Essas estruturas se articulam com as cristas
trocleares e aumentam a área de superfície, e consequentemente dispersam a força dos
músculos do quadríceps.

O alinhamento normal do mecanismo extensor é necessário para a estabilidade da


articulação da soldra. A disfunção desse mecanismo resulta numa instabilidade articular
anormal. Tal instabilidade não só causa uma artropatia degenerativa, mas também coloca um
estresse aumentado nas outras estruturas de suporte (tais como o ligamento cruzado cranial, os
ligamentos colaterais e os meniscos).

Luxações Patelares Mediais

Etiologia
Esse distúrbio pode ser ou congênito ou traumático. A forma congênita é mais comum
e é geralmente observada em cães de raças pequenas e pode causar anormalidades mínimas a
severas na movimentação do animal (claudicação).

Sinais clínicos
169
O quadro clínico é frequentemente o de um animal obeso com uma deformidade para
fora dos membros posteriores.

O animal frequentemente se agacha, devido à incapacidade de estender


completamente as soldras, com os dedos apontados para dentro.

Frequentemente, o proprietário descreve um tipo de andadura em "saltos" ou em


"pulos" no qual o animal salta um ou mais passos no membro envolvido. Essa andadura (que é
geralmente transitória) é causada pelo corrimento da pateIa para cima e por cima da crista
troclear mediaI e pela "apreensão" da mesma na face mediaI da articulação.

A luxação patelar medial, a menos que seja traumática, raramente causa uma
claudicação aguda.

Luxações patelares mediais com claudicação aguda podem estar associadas a outras
causas. Deve-se investigar se há uma lesão do ligamento cruzado.

Os sinais clínicos variam com a severidade da lesão:

Luxações de Grau I – a articulação da soldra fica quase normal e a patela se luxa


somente quando estende a articulação, aplicando uma pressão digital. Os animais com luxação
patelar medial de grau I frequentemente não têm sinais clínicos quando apresentados.

Deve-se pesar cuidadosamente as indicações para o tratamento cirúrgico. Porém


esses animais assintomáticos podem ser propensos a futuras anormalidades de ligamentos ou
ósseas, podendo então fazer a indicação cirúrgica, como um tratamento preventivo para
afecção.
Abordagem e avaliação cirúrgica

Faz-se uma incisão parapatelar lateral, e visualiza-se o mecanismo extensor. Antes da


abertura da cápsula articular, deve-se examinar o alinhamento da tuberosidade tibial e da patela.

Essa estrutura deve se encontrar em uma linha reta paralela ao eixo longitudinal do 170
membro quando vistas a partir de uma direção craniocaudal. No caso da luxação patelar medial
de grau I, essas estruturas geralmente estão bem alinhadas.

Abre-se então a cápsula articular, e rebate-se medialmente a patela para permitir a


visualização do sulco troclear.

Examina-se o sulco quanto à profundidade e a quaisquer alterações degenerativas.

Se o sulco estiver normal em aparência, não será necessário nenhum procedimento


reconstrutivo.

Na maioria dos casos o único reparo exigido é a criação de uma contenção lateral para
impedir o deslocamento medial da patela. Isso pode ser obtido sobrepondo-se a cápsula articular
lateral com um padrão de sutura de Lambert interrompido. Nos animais menores (15 kg ou
menos).

Outra técnica que funciona bem é o uso de uma sutura única de náilon 1-O ou 2-0
passada ao redor da fabela lateral e através do tendão de quadríceps imediatamente proximal à
patela. Direciona-se então a sutura distalmente, amarra-se então a estrutura na face lateral da
articulação e isto serve para restringir o deslocamento medial da patela. Essa técnica funciona
especialmente bem nos cães grandes.

Examina-se depois a patela colocando-se o estresse de deformação para fora na


soldra e rotacionando-se internamente a tíbia. Se a patela não luxar por intermédio de vários
movimentos com o membro nessa posição e com uma pressão digital aplicada na patela, o
reparo é suficiente.

Luxações de Grau II
A patela geralmente repousa em sua posição normal no caso de uma luxação de grau
II, mas se luxa com a flexão da articulação e permanece luxada até ser reposicionada por meio
de uma compressão manual ou da extensão da articulação. Os animais geralmente apresentam
alguma forma de distúrbio de andadura. Eles também são mais prováveis de desenvolver
alterações degenerativas devido ao maior grau de má-articulação.

171

Trocleoplastia

No caso do sulco troclear estar raso, o mesmo deverá ser corrigido.

Realiza-se uma trocleopIastia fazendo-se inicialmente duas incisões paraleIas no


interior da cartilagem troclear com uma lâmina de bisturi. Essas incisões delineiam estes limites,
medial e lateral do novo sulco troclear. O sulco deve ser suficientemente largo para permitir um
assentamento apropriado da patela, enquanto se mantém uma crista troclear lateral e,
especialmente, medial adequada. Remove-se a cartilagem, entre as incisões com um
desgastador ósseo.

Esse tipo de trocleoplastia formará um tecido fibrocartilaginoso sobre a superfície de


articulação do sulco troclear aprofundado. Embora essa superfície não possua as mesmas
propriedades físicas da cartilagem articular, acredita-se que seja suficientemente semelhante
para ser clinicamente efetiva.

Técnica de retrocesso de cunha troclear

Nessa técnica, remove-se uma cunha osteocondral a partir do sulco troclear. Iniciam-
se os cortes no ponto mais alto das cristas troclear medial e lateral.

Direcionam-se então os cortes para se cruzarem em um ponto imediatamente proximal


à origem femoral do ligamento cruzado caudal. Deve-se ter cuidado em não se estender a cunha
osteocondral no interior da chanfradura intercondilar. Remove-se então a cunha osteocondral
para revelar um leito troclear em forma de "V". Caso necessário pode-se aprofundar o sulco em
cunha.

172

A B C

D E F

Fonte: www.google.com.Acesso dia 04/12/2007.

Fig.51 - A; demonstração de como se deve esculpir o sulco intertroclear para aprofundá-lo; B: realização da
osteotomia em cunha; C: curetagem do leito osteotomizado; D: Perfuração da crista tibial para estabelecer sutura
antirrotacional; E: visualização da colocação das suturas antirrotacionais; F: Patela suturada com pontos simples
separados.

11.3 Osteocondrite dissecante


Definição

A osteocondrite dissecante (OCD) é um distúrbio da ossificação endocondral que


acarreta na retenção de tecido cartilaginoso.

Fisiopatologia 173

Há um espessamento da cartilagem subcondral nos cães de raças grandes e pesadas,


quando esses têm mais ou menos seis meses de idade. Ocorre um comprometimento da
nutrição da cartilagem, necrose de condrócitos e fissuras na cartilagem, formando um flape que
fica em muitos casos livre na articulação degenerando-a e causando dor

Etiologia

Etiologia exata é desconhecida, porém sabe-se que manejo, nutrição e fatores


genéticos estão associados OCD.

Podem ocorrer em várias articulações, ombro, joelho, cotovelo e tarso. Geralmente em


cães jovens com acometimento uni ou bilateral

O flape causa dor intensa, pois fica solto na articulação, outras vezes pequenos flapes
se tornam calcificados e podem se alojar nas extremidades e poderão ser absorvidos
lentamente.

Sinais Clínicos e diagnósticos:

Raro em cães pequenos e gatos;

Machos mais acometidos que as fêmeas;


Idade: 4 – 8 meses;

Claudicação Palpação – exame físico;

Avaliação Radiográfica.

Tratamento Cirúrgico 174

A B C

D E
F

Fonte: Prof. Cortesia dos Professores: Hélia Zamprogne e André Lacerda.

Aula de Patologia cirúrgica. FAA- RJ, 2005.

Fig 52 - A: Incisão em pele; B: dissecção do subcutâneo para visualização do músculo a ser seccionado; C: local da
secção muscular; D: afastamento da musculatura e visualização da cápsula articular; E: cápsula articular aberta
para remoção do flape intra-articular; F: Flape sendo removido de dentro da articulação.
Complicações e cuidados pós-operatórios

Pode haver formação de seroma como complicação pós-operatória.

O repouso durante um mês, aproximadamente, com caminhadas com guia e


controlada. 175

Retorno deverá ser de forma gradual às atividades normais. Prognóstico é excelente.


12 EMERGÊNCIAS OFTÁLMICAS

12.1 Trauma Ocular em Cães e Gatos

176

Ferimentos oculares infelizmente são ocorrências comuns em animais. Muitos tipos de


ferimentos ocorrem, como lacerações da pálpebra, proptose (em que o olho é forçado para fora
do lugar), ferimento direto ao olho e/ou pálpebras, espinhos e outros ferimentos por corpos
estranhos, ferimentos de unhas de gato, ferimentos de mordidas caninas, lacerações da córnea,
tiros e ferimento grave quando do prolapso do olho por ser chutado ou atropelado por um
automóvel. Outros ferimentos podem ser induzidos quimicamente, como spray de pimenta ou
queimaduras de sabões ou tinta na córnea.

Um ferimento de garra de gato frequentemente é bem sério, as unhas de gatos são


sujas, e coloca uma grande quantidade de bactérias na ferida. Infecção secundária pode se
desenvolver, e se a lente for rompida pela garra a sua ruptura pode levar a remoção cirúrgica do
olho, a menos que a lente ferida seja removida assim que possível pelo oftalmologista
veterinário. Mesmo se a lente é removida, o olho ainda está sob alto risco de não-retorno da
visão.

Se a unha do gato lacerou apenas a córnea, a sutura fechada da ferida feita por um
oftalmologista pode ter sucesso em salvar o olho.

Outro ferimento ocular frequente é de mordidas caninas. Frequentemente o olho sofre


proptose ou pelo menos fica muito machucado e contundido. Se o olho é “espremido” pela
mordida, pode parecer relativamente bem, imediatamente após os ferimentos, mas na verdade
está gravemente ferido internamente podendo haver desligamento retinal, hemorragia e/ou
glaucoma, para não mencionar catarata e/ou ruptura da lente.
Pense no olho como uma bola macia, se a bola recebe um soco forte, ela se entortaria
profunda e rapidamente, e então retornaria rapidamente à sua forma normal. Olhos são muito
sensíveis, e se feridos desta maneira, danos irreparáveis podem ocorrer.

177

Figura 52 – animal com trauma ocular e posterior miiase, foi retirado todo o globo e também pálpebra.

Fonte: arquivo pessoal

Prolapso de globo ocular

Definição

A proptose traumática resulta do deslocamento súbito do globo ocular para fora de sua
órbita. Um globo ocular prolapsado torna-se uma emergência, uma vez que, a correção de um
prolapso em até 30 minutos, pode salvar o olho ou diminuir muito o período de reabilitação.

Predisposição
Raças braquicefálicas como o Pequinês, Bull Dog e Pug são predispostas para a
ocorrência da proptose ocular traumática, principalmente pelas características da proeminência
dos olhos e das órbitas pouco profundas. O tratamento de emergência para proptose envolve o
reposicionamento do globo ocular na órbita e a tarsorrafia (sutura das pálpebras) temporária. A
enucleação (remoção cirúrgica do olho) do globo ocular deve ser considerada se o grau de lesão
do olho for acentuado.
178

Avaliação da gravidade da lesão

1. Danificação dos músculos extrínsecos – a ruptura de um ou dois músculos


extrínsecos não impede a recolocação do globo ocular. Somente a ruptura da maioria dos
músculos não deixa escolha a não ser a enucleação (remoção cirúrgica do globo ocular);

2. Hifema – é a presença de sangue na câmara anterior do olho. Um hifema acentuado


é uma condição desfavorável, porque geralmente resulta em intensa danificação do corpo ciliar,
assim como em casos de luxação anterior do cristalino. O hifema decorre geralmente de
traumas, uveítes, coagulopatias, neoplasias, anormalidades congênitas, hipertensão sistêmica,
glaucoma crônico e do descolamento da retina;

3. Tamanho pupilar:

A. Miose – é a diminuição do tamanho da pupila, sinal favorável;

B. Midríase – ocorre quando a inervação simpática não é lesada, porém pode existir
lesão do nervo óculo-motor e gânglio ciliar. O prognóstico é reservado à desfavorável;

C. Tamanho normal – ocorre normalmente quando ambos, simpático e parassimpático,


foram lesionados e o nervo ótico está provavelmente lesado permanentemente. O prognóstico é
desfavorável.
4. Reflexo pupilar – o reflexo pupilar direto não é de muita valia em prolapso de olho,
porém o reflexo pupilar consensual ou indireto, quando presente, é um sinal favorável, pois
indica que não houve lesão do nervo óptico. A ausência do reflexo pupilar não indica uma lesão
permanente do nervo óptico, se este reflexo não retornar em um período aproximado de sete
dias, a perda da visão poderá ser permanente.

Recolocação do globo ocular: 179

Com a utilização do bom senso, deve-se sempre tentar recolocar o globo ocular na
órbita, a não ser naqueles casos de ruptura da túnica fibrosa ou da perda de todo o tecido de
sustentação. Comete-se um erro de menor gravidade recolocando-se um globo ocular que mais
tarde deverá ser removido, do que removendo um globo ocular que poderia ter ficado.

Técnica

A anestesia deve ser geral e necessita-se colocar três a quatro pontos isolados simples
com fio não-absorvível, envolvendo as pálpebras e lubrificar o olho com pomada oftálmica.

As pálpebras devem ser tracionadas pelos fios dos pontos, ainda sem os nós é feito
um movimento oposto de introdução do globo ocular com o cabo de bisturi ou com o dedo.

Após a recolocação do globo ocular, completamos os pontos com os nós, promovendo


uma tarsorrafia. Os pontos devem ser removidos com uma a três semanas.
180

Figura 53: Demonstração de cão com prolapso do globo ocular, que teve como tratamento somente
reposicionamento do mesmo e pálpebras suturadas por sete dias. Fonte: Arquivo pessoal

12.2 Enucleação do globo ocular

Definição

Envolve a remoção cirúrgica do globo ocular como um todo, incluindo o seu


revestimento fibroso interno.

Indicações:
A. Microftalmia congênita complicada: associado à ceratites, ceratoconjuntivites e
entrópio;

B. Processos infecciosos crônicos: ceratoconjuntivites crônicas que não respondem


mais aos tratamentos clínicos;

C. Neoplasias intraoculares;
181
D. Traumas graves;

E. Desconforto ocular que não seja solucionado por outra terapia clínica ou cirúrgica.

Técnica cirúrgica

As margens das pálpebras são aproximadas por meio de uma sutura isolada ou
contínua. As incisões são realizadas paralelamente às margens das pálpebras e a distância deve
ser suficiente para evitar as glândulas de meibomian (4 a 6 mm). Essas incisões são estendidas
medial e lateralmente, até a intersecção palpebral, deste modo circundando a fissura palpebral
fechada. Continua-se a dissecação aprofundando essa incisão até o encontro da subconjuntiva.
A tração para frente das pálpebras facilita essa dissecação. Continua-se a dissecação posterior
e externamente, até o encontro com a esclera, procede-se a dissecação posteriormente para
promover a separação da esclera dos tecidos subjacentes. Após a secção dos músculos
extraoculares, o globo fica ligado apenas pelo nervo óptico, pelas bainhas nervosas e fáscias,
que contém os vasos do globo ocular. Uma pinça hemostática curva é colocada sobre o feixe do
nervo óptico e o globo é liberado e removido com tesoura. É feita uma ligadura mais
profundamente à pinça hemostática (categute 3.0 ou 2.0 para pequenos animais e nº 1 para os
grandes animais). As bordas das pálpebras são suturadas com pontos isolados simples wolff ou
Donatti (nylon 0,20 ou 0,30 para pequenos animais, e 0,50 a 0,70 para grandes animais),
podendo ou não deixar dreno no canto medial do olho.
182

Figura 54 - incisão inicial da enucleação; Figura 55 – dissecção posterior para separar a


esclera e fascia excessiva que se choca com as inserções do músculo extraocular.

Figura 56 - o coto do nervo óptico é preso, ligado e cortado para completar a enucleação. A conjuntiva,
membrana nictitante e as margens palpebrais são removidas.

Figura 57 - Fechamento palpebral. Fonte Bojrab, 1996.


Pós-operatório:

Limpeza e curativo local;

Antibioticoterapia e Anti-inflamatório;

Retirada dos pontos aos 10 dias de pós-operatório. 183

Complicações:

Deiscência da sutura – tratar a ferida aberta, deixando cicatrizar por segunda intenção.
13 APARELHO REPRODUTOR FEMININO

13.1 Parto Distócico

184

Parto anormal (distocia)

O parto anormal (distocia) ocorre quando há falha em iniciar o parto no momento


correto, ou quando há problema na expulsão normal dos fetos, uma vez que o parto tenha
iniciado. Vários fatores maternos e fetais podem contribuir para a distocia em cadelas e 75% das
distocias em cadelas são de origem materna e 25% de origem fetal.

Fatores maternos

a) Inércia uterina primária: é caracterizada pela falha em expulsar fetos de tamanho


normal pelo canal do parto, o qual não apresenta irregularidades, exceto pela incompleta
dilatação da cérvix.

b) Inércia uterina secundária: ocorre depois de prolongada contração uterina sem êxito
em expulsar um feto que obstrui o canal do parto, ou todos os fetos ainda retidos no útero face à
obstrução. Desta forma, ocorre fadiga da musculatura uterina após as sucessivas contrações
improdutivas. Tanto na inércia uterina primária quanto na secundária, a musculatura uterina
normalmente falha em responder à administração de ocitocina.

c) Raça e conformação: fêmeas de algumas raças de cadelas apresentam maior


predisposição à distocia, como cadelas de raças braquicefálicas.
Além disso, algumas alterações na conformação do sistema genital podem influenciar
dramaticamente a expulsão fetal. Dentre essas, destacam-se a fratura prévia de pelve, obstrução
do canal vaginal, prolapso vaginal e uterino e persistência do hímen.

d) Tônus muscular abdominal: cadelas idosas ou obesas podem ter dificuldade em


produzir contrações uterinas, principalmente no 2º estágio do parto.

185
e) Torção ou ruptura uterina: torções uterinas de diferentes graus podem ocorrer,
predispondo à distocia. Os casos de ruptura uterina são mais frequentes após a administração
de ocitocina em dose excessiva, feita por leigos, sem prescrição.

f) Outras causas maternas: as estenoses vaginais, vagina hipoplásica, vagina dupla,


hiperplasia de assoalho vaginal, vulva infantil, vulvovaginites, presença de septos vaginais,
ruptura diafragmática, perfuração de traqueia, dor, medo (inibição voluntária do parto), excesso
de gordura perivaginal, histerocele gravídica e placentites.

Fatores fetais

a) Estática fetal anômala: alterações na apresentação, posição e/ou na postura do feto


durante o parto podem predispor à distocia. Sessenta por cento dos filhotes de cães nascidos de
parto normal nascem em apresentação longitudinal anterior, e os 40% restantes em
apresentação longitudinal posterior. Apesar de a apresentação longitudinal posterior ser
considerada uma variante normal do parto em cadelas, partos prolongados e distocias tem sido
associado a esse tipo de apresentação.

b) Desenvolvimento fetal anormal: o desenvolvimento de monstros fetais, como fetos


com hidrocefalia, Schistosomus reflexus ou fetos edematosos podem resultar em distocia
obstrutiva. O diagnóstico dessas alterações deve ser feito por meio de exames radiográficos ou
ultrassonográficos, no período pré-natal.

Exame da paciente em distocia


a) Histórico: é importante realizar uma boa anamnese, para saber o histórico de
gestações anteriores, se o animal sofreu distocia anteriormente, há quanto tempo o parto iniciou,
se a fêmea recebeu contraceptivos no período do estro, se houve expulsão fetal e há quanto
tempo o último filhote foi expulso.

b) Exame físico: inicialmente deve-se certificar de que a fêmea realmente está


gestante, por palpação abdominal, exame digital vaginal, e exames radiológicos e/ou 186
ultrassonográficos. É necessário avaliar se há comprometimento sistêmico da mãe e se há
viabilidade dos fetos retidos intraútero. Deve-se proceder a exame digital do canal do parto para
saber se há dilatação cervical.

c) Exame radiológico: quando há suspeita de fetos em estática anômala, podem-se


realizar radiografias abdominais, nas posições laterolateral e ventrodorsal. Além da estática fetal,
tem-se com este exame informações sobre o número total de fetos. No caso de morte fetal há
vários dias, pode-se detectar a presença de gás no interior do útero, além de sobreposição dos
ossos do crânio fetal, denominado de sinal de Spalding.

d) Exame ultrassonográfico: várias mensurações fetais podem ser realizadas por meio
da ultrassonografia para se determinar a idade gestacional em cadelas, como o diâmetro das
vesículas embrionárias, o diâmetro biparietal e o diâmetro abdominal fetal. Entretanto, embora
essas mensurações sejam amplamente utilizadas, é importante lembrar que a acurácia desse
exame pode ser inferior a 50% quando as mensurações fetais são realizadas após o dia 39 da
gestação. Além disso, como as fórmulas para cálculo da idade gestacional são adaptadas para
cadelas de várias raças, normalmente o resultado é apresentado com variação de ± 3 dias.
Como já existem dados para cálculo de idade gestacional para algumas raças diferentes, como
para beagles ou retrievers, é importante que sejam realizadas mensurações de acordo com a
raça. Existe também variação quando se comparam dados de cadelas pequenas (menos de 9
kg) e gigantes (mais de 40 kg).

De acordo com tempo de gestação pode-se também avaliar a viabilidade fetal por meio
de exame ultrassonográfico, utilizando critérios como a frequência cardíaca, a movimentação
espontânea e o peristaltismo intestinal fetal. Durante uma gestação canina, os batimentos
cardíacos fetais estão acima de 220 por minuto (bpm), e os fetos no terço final da gestação
apresentam movimentação espontânea. Frequência cardíaca entre 180 e 220 bpm em fetos
caninos é indicativa de discreto sofrimento fetal, e abaixo de 180 bpm tem-se severo sofrimento
fetal. Além disso, a detecção de peristaltismo intestinal fetal parece estar relacionada com
sofrimento fetal e risco perinatal acentuado, sendo necessária intervenção cirúrgica imediata. O
exame ultrassonográfico também é útil no diagnóstico de malformações fetais.

e) Outros exames complementares: de acordo com a condição clínica da parturiente, a


avaliação laboratorial deve incluir a realização de hemograma e dosagens de cálcio, glicose, 187
ureia e creatinina, embora apenas a realização de hemograma seja rotina em nossa experiência.
Sugere-se que seja realizado hemograma quando a paciente for submetida à cesariana ou
quando apresentar comprometimento sistêmico. A dosagem de cálcio e glicose pode ser
solicitada quando a paciente apresentar sinais clínicos sugestivos de hipocalcemia ou
hipoglicemia, como tetanias, fraqueza, hipertermia ou mesmo convulsões. Ureia e creatinina
devem ser dosadas quando houver comprometimento sistêmico da paciente.

Tratamento das distocias

Como formas de tratar uma cadela em distocia têm-se as opções do tratamento


manipulativo, medicamentoso e cirúrgico. Caso um dos dois primeiros tratamentos não resulte
em êxito, ou caso haja comprometimento materno, a cesariana deve ser imediatamente
realizada, associada à terapêutica complementar.

a) Tratamento manipulativo: consiste na realização de manobras obstétricas digitais


para a retirada de fetos que estejam obstruindo o canal do parto. Em casos de distocia branda,
com fetos de tamanho normal, ocasionalmente esta manipulação pode resolver o problema com
mínimos riscos à mãe. Em casos de fetos em estática anômala, pode ser possível a correção
manual e a desobstrução do canal do parto em alguns casos. Porém, devido ao pequeno
diâmetro do canal do parto de cadelas, nem sempre se tem sucesso com este tratamento.

Recomenda-se o uso de lubrificantes vaginais e de luvas estéreis durante o


procedimento. A introdução do lubrificante no lúmen vaginal pode ser facilitada com o uso de
sondas uretrais acopladas a seringas. O uso de instrumentos, como fórceps e pinças cirúrgicas,
não são recomendados, exceto quando o feto a ser retirado já está morto, face ao risco de
injúrias aos filhotes e traumas aos tecidos maternos. Caso o feto que obstrui o canal esteja
pouco insinuado, ele deve ser mais facilmente retirado pela cesariana.

b) Tratamento medicamentoso: é indicado se a fêmea estiver em boas condições


clínicas, se houver dilatação do canal do parto, se o tamanho dos fetos for proporcional ao
diâmetro desse canal e se não houver estática fetal anômala. Quando apenas um ou dois fetos
permaneceram no útero, o tratamento medicamentoso é adequado e pode resultar em expulsão 188
fetal. Entretanto, se ocorreu à expulsão de apenas um ou dois fetos, e vários outros
permaneceram no útero, a realização de cesariana provavelmente será o procedimento mais
rápido e seguro, tanto para a mãe quanto para os fetos remanescentes. Nesse caso, mesmo que
o tratamento medicamentoso seja eficaz, a demora na expulsão de todos os fetos restantes pode
ser suficiente para que os últimos a nascer venham a óbito antes de serem expulsos. Porém,
quando se opta pelo tratamento medicamentoso e a fêmea não responde ou a resposta é fraca e
demorada, a realização da cesariana está indicada. Para o tratamento medicamentoso, utilizam-
se drogas que promovem contração uterina, isoladamente ou em associações, como:

- Ocitocina: normalmente é o primeiro fármaco de escolha, já que a ocitocina sintética é


capaz de estimular e aumentar a frequência das contrações uterinas e favorecer a expulsão
fetal. Sua meia-vida é curta, entre um e dois minutos, mas sua capacidade de promover
contração é acentuada.

Embora o uso de ocitocina seja considerado seguro, alguns pesquisadores acreditam


que altas e repetidas doses podem resultar em estímulo uterino acentuado e angústia fetal. Tal
fármaco deve ser utilizado na dose de 5-20 UI por via intramuscular (IM) ou subcutânea (SC), em
intervalos de 30 a 40 minutos. Pode ser observado que a resposta à ocitocina diminua a cada
nova aplicação. Doses superiores às recomendadas podem causar tetania uterina, comprometer
a oxigenação fetal e ocasionar ruptura uterina. Se usada durante a gestação, pode provocar
descolamento placentário precoce, constrição dos vasos umbilicais, vasodilatação materna e
hipertensão arterial. Se a cadela está em trabalho de parto há poucas horas, e após três ou
quatro aplicações de ocitocina, com intervalo de 15 a 20 minutos, não há expulsão fetal ou
apenas um ou dois fetos são expulsos, o procedimento que tem sido adotado é o de encaminhá-
la imediatamente à cesariana.
- Gluconato de cálcio: o gluconato de cálcio a 10% pode ser utilizado para promover
aumento da força de contração uterina. Pode ser utilizado isoladamente ou concomitantemente à
ocitocina. Deve ser utilizado na dose de 0,2 ml/kg por via intravenosa (IV) ou 1,0 a 5,0 ml/SC em
cadelas. Quando usado por via IV, deve ser aplicado lentamente, durante três a cinco minutos.
Em geral, as doses totais utilizadas são de 2,0 a 20,0 ml. A administração deve ser lenta, sendo
1,0 ml/minuto, e necessita monitoração cardíaca durante todo o período de infusão. Caso a
189
fêmea apresente alterações da frequência ou do ritmo cardíaco, ou fique inquieta, a
administração é imediatamente suspensa.

- Glicose: embora seja recomendada por alguns autores, são raros os casos de
cadelas em distocia com hipoglicemia. Porém, caso seja diagnosticada a hipoglicemia ou quando
ocorre toxemia da gestação, pode-se utilizar glicose oral ou solução de glicose a 5,0 ou 10%, por
via IV.

- Tranquilizantes e sedativos: os tranquilizantes fenotiazínicos, como, por exemplo, a


acepromazina, pode produzir hipotensão grave por bloqueio adrenérgico, bem como depressão
respiratória central e descontrole da termorregulação. Entretanto, em razão ao eficaz efeito
tranquilizante, podem ser usados em cadelas gestantes agitadas, desde que se reduza a dose
em 30 a 50%. O diazepam, um agente benzodiazepínico, cruza a barreira placentária
rapidamente e acumula-se no feto, persistindo no neonato por vários dias.

Doses pequenas, quando utilizadas em cadelas gestantes, não acarretam alterações


importantes, podendo ser usadas para a sedação de cadelas gestantes. Contudo, o uso repetido
pode culminar em sérios problemas, como hipotonia, alimentação deficiente, termogênese
insuficiente para resposta ao frio e hipotermia neonatal. O procedimento adotado para aliviar a
dor e causar leve sedação de cadelas agitadas em distocia, facilitando as manobras obstétricas,
é o uso de opioides, como o tramadol ou a meperidina.

Esses opioides podem também ser associados aos tranquilizantes, proporcionando


melhor conforto à paciente. A xilazina, um agente alfa-2 agonista, é contraindicada em
gestantes, pois, além de cruzar a barreira placentária, causando depressão cardiopulmonar
intensa aos fetos, é lentamente eliminada. O uso da associação xilazina-quetamina também
pode causar alterações cardiopulmonares importantes.
c) Tratamento cirúrgico: nos casos em que a correção da estática fetal não é possível,
quando o uso de drogas ecbólicas (que aumentam contração uterina) não resulta em contrações
produtivas, a cesariana é a única forma de salvar os filhotes. Essa intervenção deve ser
realizada também antes que ocorra fadiga da fêmea em trabalho de parto ou haja sofrimento
fetal. Está indicada também para pacientes com parto excessivamente longo, sinais de
endotoxemia ou septicemia, em casos de morte fetal com putrefação, ou quando há
190
antecedentes de distocia. A cirurgia deve ser rápida para que ocorra mínimo comprometimento
fetal. A realização de OSH concomitantemente à cesariana está indicada quando há
comprometimento da integridade uterina, em casos de fetos macerados ou pútridos, ou quando o
proprietário deseja esterilizar de forma permanente o animal.

Como consequência da distocia ou mesmo do tratamento realizado por meio de


cesariana, algumas cadelas podem apresentar agalactia (agalactasia) transitória ou permanente.
A agalactia pode ocorrer por várias razões, como parto prematuro, estresse ou cirurgia,
debilidade da cadela ou estado nutricional ruim, por mastite ou metrite. Parece haver
envolvimento familiar em alguns casos. Como métodos preventivos, devem-se prover à cadela
adequada nutrição na gestação e na lactação, evitando a superalimentação, prevenir situações
de estresse e tratar problemas como mastite ou metrite.

Em cadelas muito estressadas, o uso de tranquilizantes fenotiazínicos, como a


acepromazina, pode promover aumento das concentrações de prolactina e melhorar a lactação.
É importante ressaltar que, se o problema inicial tratar-se de mastite ou metrite, deve-se efetuar
tratamento específico para essas afecções. Outra opção terapêutica eficiente, barata e segura
para a agalactia canina é a metoclopramida, a qual age sobre a dopamina com consequente
elevação das concentrações plasmáticas de prolactina. Deve ser usada na dose de 0,2-0,5
mg/kg, por via oral, SC ou IM, a cada oito horas, até que haja secreção de leite.
191
Figura 58 – Apresentação de corrimento vaginal discreto evidenciado como intercorrência clínica.

Figura 59 - Incisão paramediana e drenagem de secreção esverdeada fétida, contida na cavidade


abdominal e (à direita) visualização de um corno uterino de cor esverdeada.
192

Figura 60 - Exposição lenta e gradual do corno uterino desvitalizado, a fim de evitar descompensação
cardiocirculatória e ruptura do órgão.

Figura 61- Após ressecção do corno uterino necrosado (à esquerda), observar a integridade do corno contralateral
que também foi extirpado de uma cadela.
193

Figura 62– Apresentação dos fetos enfisematosos, removidos do corno uterino desvitalizado. Fonte:
www.cirurgiaonline.com.br. Acesso em: janeiro de 2008.

13.2 Cesariana

A cirurgia cesariana é geralmente um procedimento de emergência e deve contar com


técnicas anestésicas seguras para a mãe e os fetos.

Considerações sobre anestesia para cesarianas

Deve-se ter uma anestesia e analgesia adequadas para a realização da cirurgia em


tempo hábil, liberando os filhotes em estado vigoroso. Durante a gestação, ocorrem alterações
fisiológicas que são relevantes para os procedimentos anestésicos. Entre elas, pode-se observar
um aumento da frequência respiratória da mãe e do volume corrente, que podem ocasionar
alcalose respiratória. Além disso, essa alteração deve ser levada em consideração durante a
anestesia volátil, pois pode aumentar a concentração alveolar, podendo ser fatal tanto para a
mãe como para o feto. Alterações cardiovasculares, como aumento do débito e frequência
cardíaca, também são observadas, podendo ocasionar aumento do fluxo sanguíneo cerebral,
proporcionando, assim, menor tempo de indução anestésica. No período transoperatório, a
fêmea fica em decúbito, e, portanto, ocorre compressão da veia cava pelo útero gravídico, o que
194
pode implicar diminuição do retorno venoso com quedas bruscas de pressão sanguínea. Devido
às características físico-químicas da maior parte dos agentes anestésicos, estes cruzam em
maior ou menor grau a barreira placentária e afetam os fetos. Em razão à menor espessura da
placenta endoteliocorial, em cadelas há uma maior difusão dos fármacos na placenta dessa
espécie.

Como medicações pré-anestésicas seguras, pode-se ressaltar os opioides butorfanol


(0,1 a 0,2 mg/Kg/IM), tramadol (2,0 mg/Kg/IM ou IV) e meperidina (2,0 mg/Kg/IM).
Tranquilizantes como a acepromazina (0,05 mg/Kg/IM) devem ser utilizados apenas para fêmeas
muito agitadas.

Já a levopromazina é segura na dose de 0,3 mg/Kg/IV, como também o diazepam (0,3


mg/Kg/IV) e o midazolam (0,2 mg/Kg/IM). Dentre os agentes para indução anestésica, tem-se o
propofol (4,0-6,0 mg/Kg/IV), o tiopental (8,0-12,0 mg/Kg/IV), a cetamina (2,0 mg/Kg/IV ou 10
mg/Kg/IM) e tiletamina-zolazepam (6,0 a 10,0 mg/Kg/IM).

Deve-se associar a cetamina aos benzodiazepínicos (diazepam ou midazolam), para


minimizar a rigidez muscular e possíveis convulsões.

A indução anestésica também pode ser realizada com o auxílio de máscara, com a
administração de isofluorano.

A manutenção da anestesia pode ser realizada com os agentes inalatórios isofluorano


e halotano, ou fármacos dissociativos, como a quetamina (2,0 mg/Kg/IV ou 10 mg/Kg/IM) ou
tiletamina-zolazepam (6,0 a 10 mg/Kg/IM).

Entretanto, o isofluorano resulta em recuperação mais rápida para as mães e os


neonatos. Comparada às técnicas de anestesia parenteral e inalatória, a anestesia regional
(epidural) provavelmente é a que menos produz depressão fetal induzida pelo fármaco. Para
tanto, pode-se utilizar lidocaína a 2% sem vasoconstritor (5,0 mg/Kg) ou bupivacaína 0,5% sem
vasoconstritor (1,5 mg/Kg), ambas por via epidural lombrossacra.

A anestesia epidural é considerada uma boa opção, principalmente para fêmeas


menos agitadas, já que os filhotes nascem vigorosos e rapidamente apresentam reflexo de
sucção.

195
A cesariana na cadela e na gata é geralmente um procedimento de emergência, pois a
distocia prolongada coloca em risco as vidas da mãe e/ou neonato.

A cirurgia pode ser planejada e realizada antes do início do trabalho de parto, se


houver a ocorrência de distocias devido à presença de lesões ou anormalidades preexistentes
que comprometam o canal do nascimento.

A cirurgia é indicada quando a distocia resulta de uma inércia uterina primária, ou


inércia uterina secundária decorrente de distocia de mais de 24 horas, distocia obstrutiva (feto
muito grande).

Anatomia cirúrgica

O útero gravídico repousa no assoalho abdominal durante a última metade da prenhez.


Os cornos uterinos pesadamente gravídicos encontram-se paralelos e em contato entre si, ao
contrário dos cornos divergentes no animal não-prenhe.

Ao se fazer a incisão abdominal durante uma cirurgia cesariana, o cirurgião deve estar
ciente de que o útero se encontra próximo à parede abdominal fina e distendida.

O útero é composto de três camadas: túnica serosa (perimétrio), túnica muscular


(miométrio) e túnica mucosa (endométrio). A túnica serosa é uma camada de peritônio que
recobre todo o útero.

A camada muscular é composta de uma camada externa longitudinal fina e uma


camada interna grossa. O miométrio mais profundo contém vasos sanguíneos, nervos e fibras
musculares circulares e oblíquas. A túnica muscular é a camada de maior força tensil. A túnica
mucosa é a mais grossa das três camadas.

Técnica cirúrgica

196

Realiza-se tricotomia na fêmea desde a cartilagem xifoide até o púbis, e prepara-se


inicialmente o abdome com uma limpeza cirúrgica antes da indução da anestesia para reduzir o
tempo de anestesia total.

Realizam-se a indução e a intubação em mesa de operação. Geralmente a fêmea não


está em jejum antes da anestesia, portanto, deve-se intubá-la rapidamente para minimizar o
risco de aspiração, pois ela deve vomitar durante a indução.

A velocidade da operação também é importante nas cirurgias cesarianas, pois o longo


período “incisão – retirada” se associa com um aumento da asfixia e depressão fetais.

Após a indução da anestesia, amarram-se os membros da paciente para baixo e


completa-se rapidamente a preparação cirúrgica final do abdome.

Colocam-se panos de campo em quatro quadrantes no abdome, desde a cartilagem


xifoide até a borda pélvica, para abrir espaço para a extensão da incisão abdominal se
necessário.

Faz-se uma incisão na linha média ventral começando-se no umbigo. A extensão da


incisão é determinada pelo tamanho estimado do útero. As glândulas mamárias ficam
frequentemente hipertrofiadas, e o cirurgião não deve invadir o tecido mamário quando fizer a
incisão cutânea.

O cirurgião deve também lembrar de que o útero se encontra aumentado e não deve
ser lacerado ao se entrar na cavidade abdominal.

Uma vez terminada a incisão abdominal de extensão adequada, protegem-se as


bordas do ferimento com tampões de laparotomia umedecidos com solução salina estéril.
Exterioriza-se o primeiro corno uterino e depois o segundo por meio de uma elevação
cuidadosa através da incisão.

197

Figura 63 – exposição do útero gravídico após abertura da cavidade abdominal. Fonte:


www.google.com. Acesso em: fev. 2008.

Envolvem-se as vísceras circundantes e subjacentes com tampões de laparotomia


umedecidos adicionais, para impedir a contaminação abdominal com fluído fetal.

Faz-se então uma pequena incisão com um bisturi em uma área relativamente
avascular na face ventral ou dorsal do corpo uterino, deve-se ter cuidado em não lacerar
inadivertidamente um feto com bisturi. Estende-se então a incisão uterina com uma tesoura até
um comprimento suficiente para remoção dos fetos.

Figura 64 – local da incisão para retirada dos fetos. Fonte: www.google.com. Acesso em: fev. 2008.
No caso de uma distocia deve-se remover primeiro o feto que se encontra parado no
corpo uterino, conduzindo cada feto à incisão por meio de uma compressão suave do corno
uterino. Isso é feito espremendo-se o corno cranialmente ao aumento de volume. Uma vez que o
feto encontre-se perto da incisão pode-se segurá-lo e aplicar uma tração suave para facilitar uma
remoção rápida a partir do útero. À medida que se remove cada feto, rompe-se o saco amniótico
para permitir que se inicie a respiração.
198

Figura 65 – demonstração do feto já retirado do útero com cordão umbilical pinçado para ser ligado.
Fonte: www.google.com.

Figura 66 - remoção das membranas placentárias. Fonte: www.google.com. Acessado fev.2008.

Devem-se remover os fluídos fetais do campo operatório por meio de sucção para
minimizar a contaminação. Pinçam-se então os vasos umbilicais e rompem-se os mesmos
aproximadamente 2 a 3 cm da parede abdominal fetal.
Remove-se então lentamente a placenta associada a partir do endométrio por meio de
uma tração suave para minimizar a hemorragia.

Repete-se esse procedimento até a retirada de todos os fetos. Caso encontre


dificuldade em mobilizar os fetos para baixo, podem-se realizar incisões adicionais nos cornos.
Antes do fechamento palpa-se o útero a partir do canal pélvico até os ovários para se certificar
de que todos os fetos e placentas tenham sido removidos. 199

Figura 67: demonstrando novo feto o qual é removido pela incisão e abaixo as membranas fetais.
www.google.com. Acesso em: fev.2008.

Uma vez que se tenham removido todos os fetos, o útero começa a se contrair
rapidamente, essa contração é importante no cessamento da hemorragia. Se o útero não iniciar
a contração no momento do fechamento, pode-se administrar ocitocina (1a 2 unidades / Kg IM
ou EV) ou maleato de ergonovina (0,02 a 0,1 mg/Kg IM).

O útero pode ser suturado com fio absorvível, utilizando-se agulhas sem corte.
Aproximam-se cuidadosamente as bordas da incisão uterina com padrão de Cushing contínuo,
inversor e de camada dupla, seguido por uma sobressutura de Lembert contínua.
200

Figura 69: Sutura do útero em padrão invertido. Fonte: www.google.com.br. Acesso em: fev 2008.

Antes de retornar o útero ao abdome, deve-se inspecionar o fechamento e lavar o


útero com uma solução salina estéril morna.

Se ocorrer uma contaminação abdominal durante a manipulação cirúrgica, deve-se


lavar o abdome com solução salina estéril morna.

Recoloca-se o omento sobre o útero e as outras vísceras abdominais antes do


fechamento abdominal.

Fecha-se a linha Alba com suturas interrompidas simples de um material de sutura


absorvível de tamanho apropriado.

Também pode se utilizar material de sutura não absorvível para fechar a linha Alba.
Fecha-se o tecido subcutâneo com fio de sutura absorvível 3-0 ou 2-0, e a pele com fio não-
absorvível.
14 EMERGÊNCIAS GASTROINTESTINAIS

14.1 Torção gástrica - Volvodilatação gástrica

201

Conceito

É uma emergência médica e cirúrgica aguda que ameaça a sobrevida e afeta


primariamente raças de cães grandes e gigantes, onde o estômago dos cães afetados fica
distendido com gás e mal posicionado, uma síndrome onde ocorre a dilatação e vólvulo gástrico,
concomitantemente ela é acompanhada por uma síndrome da reperfusão devido ao
envolvimento de vasos sanguíneos importantes da região abdominal, levando ao choque e à
rápida deterioração local. É de ocorrência comum, porém desconhecida pelos proprietários.

A torção de estômago é definida como "alteração anatômica no posicionamento dos


órgãos digestivos, que ocorre com mais frequência em cães de peito profundo - entre as idades
de 2 a l0 anos - e raramente em cães de raças pequenas".

Numa colocação mais simples, é a rotação do estômago sobre si mesmo. Acontece,


muitas vezes, devido a uma dilatação gástrica que pode ser causada por aerofagia (deglutição
exagerada de ar, resultante da ingestão apressada de alimentos; o sintoma é a eructação).

Se não for tratada imediatamente, a dilatação pode evoluir para torção gástrica.

Fatores de risco:

 Idade: cães em meia-idade e mais velhos;


 Massa corporal: maior massa corporal, obesidade não é um fator de risco;
 Conformação corporal: conformação torácica estreita;
 Dieta: poucas refeições por dia;
 Genética: raças puras;
 Histórico: cães com história familiar;
 Animais com dificuldade de esvaziamento ou Aerofagia.

Predisposição:

 Racial: Raças grandes como, Dobermann, Dog Alemão, Fila Brasileiro, 202
Pastor Alemão, Rottweiler, São Bernardo, Seter Irlandês, Weimaraner e outras;
 Genética: levar em consideração o histórico familiar para desenvolvimento;
 Predisposição anatômica: tamanho do animal e tipo corporal;
 Manejo alimentar: alimento muito seco associado ao fato de beber água de
forma excessiva e posterior exercitação pós-alimentação.

Movimento Fatal

A rotação do estômago dá-se inicialmente no piloro e antro pilórico. Ela passa do lado
ventral direito do abdômen - rotacionando sob o estômago - e repousa dorsalmente sobre a
cárdia no lado esquerdo.

Essa torção pode bloquear parcial ou totalmente a drenagem estomacal (saída de


alimentos do estômago).

Em seu grau máximo de gravidade, chega a provocar obstrução dos gazes,


aumentando o volume do órgão.

O resultado é necrose (morte de tecido) por estrangulamento da parede estomacal e


órgãos vizinhos.

Mais importante que essa explicação é saber que se trata, acima de tudo, de uma
emergência veterinária e cirúrgica com alto índice de mortalidade.

Normalmente a dilatação precede à rotação do estômago, esta ocorre em geral, no


sentido horário (a 270 graus).
203

Figura 70 – Exemplificação de como o estômago torce, repare o deslocamento do piloro.

Fonte Fossun, 2002.

Sinais clínicos

O proprietário irá notar um aumento de volume crescente do abdômen do cão, causado


pela fermentação do alimento e formação de gases. A respiração é ofegante e o animal sente
um grande desconforto com a dilatação do abdômen.

 Intranquilidade e dor;
 Vômitos repetidos (frequentemente não-produtivos); expulsão de líquido e
alimentos, misturados à substância monoide (muco) espumosa.
 Aumento da frequência respiratória; dificuldade respiratória;
 Hipersalivação (ptialismo);
 Distenção (timpanismo);
 Andar (caminhar) nervoso;
 Pulso fraco;
 Mucosas pálidas;
 Aumento da freqüência cardíaca.
Evolução

A evolução da enfermidade é extraordinariamente rápida, dolorida e fatal (morte em


menos de 3 horas após o início dos sintomas).

Por ser de extrema gravidade, a prevenção é a melhor medida de combate à torção 204
gástrica.

A dilatação gástrica pode ocorrer rapidamente; um cão pode morrer poucas horas
depois do inchaço estomacal. O óbito geralmente ocorre em decorrência de insuficiência
respiratória e choque.

Prevenção:

 Não dê alimentos em grandes quantidades, fracionando as refeições.


 Evitar rações com pouca fibra;
 Evitar rações com alta fermentação (ricas em carboidratos; por exemplo, amido
não degelatinado);
 Não permitir que o animal beba grandes quantidades de água de uma só vez,
inclusive durante as refeições;
 Evitar exercícios violentos após as refeições (tais como pulos);
 Programa de nutrição adequado.

Fisiopatologia

 Cardiovascular:
A dilatação gástrica comprime as veias cava caudal e porta, sequestrando sangue na
metade caudal do organismo levando a diminuição do retorno venoso ao coração e o animal
entra em choque hipovolêmico.

Vai ocorrer uma alteração cardiovascular, uma diminuição da pressão arterial e do


débito cardíaco que leva à hipoxia celular e isquemia miocárdica podendo diminuir a
contratilidade. 205

As arritmias contribuem para a disfunção cardíaca (choque cardiogênico).

Estase da circulação porta diminui sistema de defesa monócito-macrófago hepático de


eliminar bactérias e endotoxinas da circulação o que ocasionará o choque vasogênico (estase
vascular, hipóxia, acidose e endotoxinas circulantes coagulação intravascular disseminada).

 Respiratória:

O estômago muito distendido empurra o diafragma, diminuindo a complacência


pulmonar.

Redução adicional da oxigenação do sangue e agravamento da hipóxia tecidual.

 Gástrica:

Aumento da pressão luminal e o giro do estômago no seu eixo mesentérico


comprimem as veias gástricas, o que causa uma estase vascular e edema da parede gástrica.

Avulsão dos vasos gástricos curtos ao longo da grande curvatura do estômago tem
como consequência à isquemia da parede gástrica, necrose de toda ou de uma parte da mesma.
Normalmente do lado esquerdo da grande curvatura e o fundo gástrico.

Diagnóstico:
 Sinais clínicos;
 Exame físico;
 Radiografias;
 Decúbito lateral direito é de escolha.

206

Figura 71 - Radiografia de abdome normal em cão Projeção lateral. Fonte:


www.veterinariaonline.com.br.

Figura 72 – Rx evidenciando estômago cheio de gás. Fonte: Dilatação Gástrica. Redação Veterinária
On-line disponível em: www.veterinariaonline.com.br. Acesso em: 25 jan.2004.

Tratamento clínico:

 Reposição de volume (fluidoterapia);


 Tratamento do choque;
 Descompressão gástrica com tubo orogástrica ou trocaterização: retirar gases
(sonda orogástrica ou bloqueio anestésico do lado esquerdo, logo abaixo da costela, divulsiona
fibras musculares, suturar serosa a pele e abre para retirar o gás (lavar estômago com soro
fisiológico morno).

Tratamento cirúrgico
207

Descompressão gástrica:

 Métodos de descompressão gástrica intracirúrgica;


 Tubo orogástrico guiado pela junção gastroesofágica;
 Trocaterização com agulha de grande calibre;
 Tubo de gastrostomia temporária.

Gastropexia temporária
Figura 73 - A: Demonstração de animal com um tubo dentro do estômago; B: demonstração de como se retira o
tubo, observe no detalhe que na parte do tubo que fica do lado de fora tem um fio comprido enrolado tipo bailarina, e
no estômago esse mesmo fio está fazendo uma bolsa de tabaco na parede estomacal. Na hora de fechar essa
incisão e remoção do tubo não há necessidade de abrir novamente a cavidade, basta puxar o fio que ele vai fechar
a parede do estômago. Fonte: Fossun, 2002

Reposicionar o estômago

208
Cuidado para evitar trauma ao órgão;

O cirurgião de pé ao lado direito do cão. Sua mão direita será introduzida em direção à
parede dorsal esquerda para segurar o piloro e a mão esquerda empurra o estômago para baixo,
enquanto à direita, gentilmente, levanta e posiciona o piloro.

Em muitos dos casos se fazem necessários que após o reposicionamento do


estômago ele seja fixado à parede abdominal para que não aja reincidência.

As duas principais formas de gastropexia são:

Gastropexia circuncostal

Nada mais é que prender o estômago junto a costela, fazendo um túnel por baixo da
costela e um flape de serosa na parede abdominal que passara por esse túnel e será suturado a
parede estomacal, seu local de origem.
Figura 74 - Observe o flape e a seguir o túnel por baixo da costela e passagem do flape por baixo dela
para retornar ao estômago sendo devidamente suturado. Fonte: Fossun, 2002.

Gastropexia em alça de cinto

Procedimento muito similar ao anteriormente descrito, única diferença é que ele é


fixado junto a parede abdominal e não a costela. 209

Figura 75: na sequência tem-se o já estômago reposicionado, o estômago com flape de serosa, túnel
feito na parede abdominal e passagem do flape de serosa estomacal dentro dele e o mesmo sendo suturado a
parede estomacal. Fonte Fossun, 2002.

14.2 Corpos estranhos lineares

São linhas, barbantes, panos e outros que se fixam proximalmente no gastrintestinal e


estendem-se distalmente, causando obstrução gastrintestinal parcial.

Depois de o corpo estranho se fixar proximalmente, o intestino se torna pregueado,


devido à atividade peristáltica repetida e eventualmente começa a cortar a mucosa levando a
ruptura com peritonite localizada ou generalizada com aderências extensas no mesentérico.
Localização:

 Gatos: principalmente ao redor da base da língua;


 Cães: no piloro.
Fio preso na base da língua e começa a cortar o intestino e lesar a circulação.
Uma vez identificado a inspeção nunca se deve puxar o fio (corpo estranho), pois o
tratamento requer cirurgia, que consiste em fazer várias enterorafias em pontos para não haver 210
perda excessiva envolvida. Se houver grande perda de segmento intestinal haverá complicação
pós-cirúrgica, síndrome do intestino curto.

Diagnóstico:

 Sinais clínicos;
 Visualização do corpo estranho;
 RX simples ou contrastado.

Sinais clínicos:

 Vômito;
 Depressão;
 Desidratação;
 Febre;
 Anorexia;
 Dor abdominal.

Achados radiográficos:

Múltiplas alças do intestino delgado dilatadas, cheias de gás ou líquido.

Material estranho radiopaco no trato gastrintestinal.


Passagem retardada (ou retenção) do material de contraste.

Pregueamento do intestino, com curvas fechadas e bolhas irregulares de gás

Pequena perda da serosa ou gás livre na cavidade abdominal.

211

Figura 76 – demonstração de corpo estranho linear numa radiografia contrastada.

Fonte: www.google.com. Acesso em Fev 2008.

Técnica Cirúrgica

O tratamento cirúrgico consiste em fazer enterotomia (s) e enterorrafia (s).

A B C D
E F G H

212

I J

Figura 77– A- animal colocado em decúbito dorsal e sob anestesia geral; B- exploração das alças
intestinais para localizar parte acometida; C- realização da enterotomia; D - demonstração do tamanho e posição da
incisão na alça intestinal; E, F e G - remoção do corpo estranho linear da luz intestinal; H – enterorrafia (sutura do
local incisado); I - demonstração do tamanho e tipo de corpo estranho linear (barbante enovelado), J- parede
abdominal suturada. Fonte: www.redvet.com.br. Acesso em: 02 de fevereiro de 2008.
15 ESPLENECTOMIA

Anatomia cirúrgica

213

O baço situa-se no quadrante cranial esquerdo do abdômen, paralelamente à curvatura


maior do estômago rodeada por uma grande quantidade de epíplon. Possui uma cápsula
formada por fibras elásticas e por músculo liso.

O seu parênquima é composto pela polpa branca, de tecido linfoide, e pela polpa
vermelha, constituída por sinusoides venosos e por tecido celular.

O seu suprimento arterial faz-se pela artéria esplênica, um ramo da artéria celíaca. Os
animais que se apresentam com doenças do baço têm também esplenomegalia, seja ela difusa
ou focal.

A esplenomegalia difusa pode dever-se a congestão do órgão (como acontece após


uma torção do baço, na insuficiência cardíaca direita, na torção gástrica) ou devido à infiltração
do parênquima por neoplasias ou por células inflamatórias (nas respostas imunomediadas, nas
inflamações).

A esplenomegalia focal pode ser causada quer por processos neoplásicos benignos ou
malignos. O baço é um órgão de preferência para a metastização de tumores.

A anemia pode estar presente quando há hemorragia aguda devido a trauma ou à


ruptura de um hematoma ou ainda associada à doença subjacente à patologia do baço.

Esplenectomia parcial
A esplenectomia parcial está indicada em pacientes com lesões traumáticas ou focais,
de modo a preservar a função do baço. Depois de remover a porção afetada, a sutura poderá ser
com sutura automática (grampeador cirúrgico) ou com duas camadas de sutura contínua. As
suturas automáticas podem não ficar suficientemente fixas ao tecido esplênico e originar
hemorragias.

214

Esplenectomia total

A esplenectomia total é efetuada mais frequentemente em animais com neoplasia do


baço, com torção ou que sofreram trauma severo e ruptura do órgão.

B
C 215

Figura 78: A- visualização do baço depois de identificado e retirado da cavidade abdominal; B –


demonstração dos vasos ligados para iniciar a secção do baço; C- baço com remoção parcial e demonstração do
local onde houve a lesão causadora do sangramento; D – baço quase todo seccionado.

Fonte: arquivo pessoal.

Nos cães não há o risco que existe em Medicina Humana de ocorrer sépsis fatal
depois de retirar por completo o baço. Contudo, é preferível efetuar uma esplenectomia parcial,
quando é possível, pois a total traz desvantagens:

- Perda do reservatório sanguíneo; perda das funções de imunodefesa, de


hematopoiese e de filtração;

- No período pós-operatório se deve fazer antibioterapia prolongada; alertar o dono


para as diarreias e outras infecções, que no animal imunossuprimido podem trazer complicações
graves;
- Está contraindicada em pacientes com hipoplasia da medula.

O acesso faz-se pela linha branca.

Para remover o baço é necessário ligar todos os vasos ao nível do hilo, o que torna a
cirurgia muito trabalhosa, isto porque existem inúmeros vasos a ligar.

Depois de uma esplenectomia pode ser necessária uma transfusão sanguínea - o 216
animal deve ser observado por 24 horas, onde se deve avaliar o hematócrito até que estabilize.
16 EMERGÊNCIAS NO TÓRAX

16.1 Pneumotórax

217

Acúmulo de ar entre as pleuras visceral e parietal.

Deslocamento e atelectasia de lobos pulmonares ocasionando atelectasia e dificuldade


de expansão pulmonar.

Sinais clínicos:

Dispneia inspiratória;

Taquipneia;

Aumento da amplitude respiratória;

Movimento abdominal paradoxal;

Posição ortopneica.

Diagnóstico:

Histórico;

Exame físico: auscultação cuidadosa; Percussão - sons timpânicos;

Raio x: Imagem radioluscente entre o pulmão e a parede torácica.


218

Figura 79 - Radiografia dorsoventral diagnóstica de hérnia diafragmática. A linha diafragmática está


obliterada devido ao aumento da densidade intratorácica.

O pulmão está colapsado e sua sombra obliterada pelo deslocamento cranial e


abdominal dos órgãos. Pulmão com pneumotórax, a sombra da silhueta cardíaca direita está
mais visível. Na cavidade uma característica abdominal seria sombra de gás na localização
torácica. Fonte: Lourenço, 2007.

Figura 80 - Sinais radiográficos: Latero - lateral - densificação homogênea no tórax ventral, bordas
pulmonares separadas da parede torácica; obliteração completa ou parcial da imagem cardíaca; fissuras
interlobares; Fonte: Lourenço, 2007.

Nas radiografias VD ou DV visualiza-se fluido ou ar entre a parede e bordas pulmonares.


Pneumotórax

Presença de ar na cavidade pleural como resultado da perda do vácuo, normalmente é


secundário do trauma, ruptura de esôfago ou traqueia.

219

Classificação:

 Pneumotórax simples: lesão do parênquima pulmonar; Atelectasia pulmonar


com vasamento de ar;
 Pneumotórax aberto: Ferida torácica aspirativa; Lesão aberta da parede
torácica;
 Pneumotórax hipertensivo: O ar se acumula no tórax durante a inspiração e não
é eliminado na expiração. Pode ser originado do simples ou aberto.

Suporte ao paciente dispnéico:

 Oxigenoterapia;
 Fluidoterapia;
 Analgesia;
 Toracocentese;

Figura 81 – Animal com máscara de oxigênio recebendo suporte ventilatório com intuito de melhorar o
estado geral. Fonte: Arquivo pessoal.
16.2 Toracocentese

A toracocentese consiste em realizar uma punção intratorácica para remover por meio
de uma válvula de três vias acoplada a uma seringa ou a um sugador o conteúdo presente, seja 220
líquido ou ar.

É um método terapêutico ou diagnóstico.

Figura 82: Marcação do local onde será fixada a mangueira de três vias para drenar conteúdo torácico.
Fonte: arquivo pessoal

Toracotomia

Consiste na abertura do tórax para correção cirúrgica da lesão que está ocasionando o
hemotórax ou pneumotórax.

Normalmente o acesso é realizado por incisão lateral entre o quarto e quinto espaço
intercostal ou o mais próximo possível da lesão previamente identificada por exames
diagnósticos.

É importante ressaltar que se faz necessário a manutenção por anestesia inalatória e


ventilação mecânica para suporte de oxigênio.

Ao fim do procedimento cirúrgico, já com tórax fechado é necessário deixar um dreno


para refazer a pressão negativa intratorácica.
221

Figura 83 - Incisão cutânea sobre o local onde há ruptura da musculatura. Figura 30 - Exposição e
secção dos músculos superficiais torácicos. Fonte: http://www.redevet.com.br/cirurfot/pneumo.htm. Acesso em:
02/03/08.

Figuras 84 e 85 - Sutura do músculo intercostal que se encontrava lacerada. Fonte:


http://www.redevet.com.br/cirurfot/pneumo.htm. Acesso em: 02/03/08.

Figura 86– Após suturar musculatura torácica lacerada que estava ocasionando a patologia é colocada
uma última sutura para o fechamento da cavidade torácica.

Fonte: http://www.redevet.com.br/cirurfot/pneumo.htm. Acesso em: 02/03/08.


222
Figuras 87 e 88- Sutura da musculatura superficial. Fonte: http://www.redevet.com.br/cirurfot/pneumo.htm. Acesso
em: 02/03/08.

Figura 89 - Sutura do subcutâneo e pele. Fonte: http://www.redevet.com.br/cirurfot/pneumo.htm. Acesso


em: 02/03/08.
17 PATOLOGIA ORTOPÉDICA

17.1 Fraturas

223

Definição

A fratura pode ser definida como a solução de continuidade, completa ou incompleta,


de um osso ou cartilagem.

Considerações Gerais

Representa boa parte das cirurgias ortopédicas (50% ou mais), o resultado final não
acaba com a cirurgia e sim quando o animal consegue por meio de uma consolidação normal,
restabelecendo o funcionamento normal do membro.

Fratura exposta não deve ser tratada na hora devido a contaminação (contraindicação
para cirurgia imediata) nesses casos se deve imobilizar, suturar pele reposicionar o osso no local
anatômico e fazer uso de anti-inflamatórios e antibióticos durante sete dias.

Sendo considerada uma contraindicação relativa devido à chance de osteomielite se


realizar o procedimento cirúrgico imediato. Lembrar sempre que fratura não é uma emergência.

Na maioria das vezes é melhor operar um animal fraturado depois de estabilizado em


até 48 horas do que esperar quatro ou cinco dias. Porém, sempre levando em consideração o
estado geral do animal. Muitas vezes tem que esperar a melhora do quadro geral do animal ou
do local por estar contaminado, então se não fizer a cirurgia imediatamente ou em 48 horas o
melhor é esperar de oito a dez dias.

Não deixar para realizar cirurgia com mais de 21 dias. Nesse momento estará instalado
processo cicatricial, já tem calo ósseo e cirurgia será mais cruenta.
Diagnóstico:

 Histórico;
 Palpação;
 Radiografias.

224
Indicação cirúrgica

Indicações absolutas com redução aberta:

 Fraturas irredutíveis por método fechado;


 Fraturas intra-articulares com luxação;
 Fraturas epifisárias com luxação;
 Grandes fraturas com avulsão;
 Não consolidação;
 Fraturas completas instáveis (epifisárias ou intra-articulares);
 Fraturas onde redução fechada não funcionou;
 Casos de má união ou não união óssea.

Indicações questionáveis:

 Fraturas com lesão na inervação ou vascularização;


 Fraturas abertas.

Indicações relativas da redução aberta:

 Retardo na consolidação;
 Fraturas múltiplas;
 Considerações econômicas.

Contraindicações das reduções abertas:


 Osteomielite;
 Alterações na consolidação óssea;
 Grandes alterações nos tecidos moles adjacentes;
 Contraindicações gerais. Ex: problemas metabólicos ou muito descompensados.

Desvantagens da redução aberta: 225

 Infecção – contaminação;
 Consolidação retardada ou não-união – destruição da vascularização ou má-
fixação;
 Dispersão do hematoma da fratura – nesse hematoma já tem células para
cicatrização, não remover se for possível;
 Alterações vasculares – com relação ao acesso – preservar o Máximo que
puder, acesso bem delicado, seccionar próximo aos tendões para preservar funcionalidade do
músculo preservando o ventre do mesmo;
 Reação ao implante metálico – raro (metalose);
 Aderências da membrana do músculo um sobre o outro e sobre o osso.
Manipular o mínimo possível para não dificultar o pós-operatório;
 Formação de tecido cicatricial que pode prejudicar a função muscular.

Classificações

Quanto à estabilidade:

 Estável: A parte mole mantém uma parte coaptada à outra ou uma fratura
incompleta;
 Instável: As extremidades afastadas com mobilidade, movimentação dos
segmentos dos ossos envolvidos.

Quanto à comunicação com o meio externo:


 Aberta = Há ruptura na pele, ferida. Pode ter acontecido de dentro para fora (ex.
pela própria fratura) ou de fora para dentro (ex. projétil de fogo);
 Fechada = não apresenta ferida na pele.

Quanto à lesão em tecido mole:


226
 Tipo I = Pequena lesão em tecidos moles. Quase sem lesão;
 Tipo II = Lesões maiores em tecidos moles. Lesão moderada;
 Tipo III = Grandes lesões em tecidos moles.

Quanto à extensão da lesão:

 Completa;
 Incompleta (fissura).

Quanto à linha de fratura:

 Transversa;
 Oblíqua (em bisel);
 Espiral (uma linha de fratura);
 Cominutiva (várias linhas de fratura e fragmentos - esmagamento);
 Segmentar/Múltipla (várias fraturas no mesmo osso – vários segmentos –
segmentos maiores);
 Fiseal (na placa epifisária pode prejudicar o crescimento. Em animais jovens...);
 Fratura impactada (um osso entra no outro).
Classificação das fraturas epitisárias em animais jovens, de SALTER-HARRIS:

 Deslocamento completo da epífise (placa de crescimento);


 Linha de fratura só em uma parte da epífise e pedaço da metáfise (mais
comum);
 Intra-articular (epífise e parte da articulação, ou seja, superfície articular até a
placa epifisária e sua periferia).
Patogenia

O osso quebra quando uma força é exercida sobre ele até que sua resistência final
seja rompida. Ocorre quando o osso não consegue mais absorver a energia do impacto.

Tratamento 227

Considerações sobre o método de correção escolhido:

 Deve oferecer consolidação segura;


 Restaurar a função normal do membro;
 Deve ser rápida e segura.
O tratamento deve restabelecer a rigidez óssea de forma temporária até
cicatrizar.
Externos
Bandagens

Talas

Tipo de implante interno: placa, pino e fixador externo.

O que vai influenciar na escolha do tratamento:

 Tipo de fratura;
 Localização da fratura;
 Quantos membros foram afetados;
 Temperamento do animal;
 Cuidado pós-operatório do dono;
 Custo e experiência profissional.

Biomateriais

A sobrecarga pode levar a fratura do material.


Rigidez do material: titânio e menos rígido que o aço, um pouco mais flexível. Sendo
desse modo mais resistente que o aço ao longo do tempo.

O aço inox não é muito resistente ao estresse prolongado.

Padrão adequado – aço inoxidável com baixo teor de carbono.

Aço inox liga 316 L 228

- Cromo 17-20%

- Níquel - 10-14%

- Molibdênio - 2-4%

- Silício 0,75%

- Manganês - 2%

- Enxofre E Fósforo – 0,03%

- Ferro – 55 - 60%

- Chumbo A 2 Ppm

Resistência: Aguentar a carga repetida durante recuperação do animal é o mais


importante.

O Titânio: não provoca reação tecidual

Ductibilidade: Determinar até que grau a placa precisa ser moldada. Também nesse
caso o titânio é melhor.

Aparelho gessado cilíndrico completo

Quase não se usa mais.

Desvantagens: o animal não fica quieto, pisa na água; morde; come, etc.
O gesso, no entanto, é mais rígido que a tala. O importante é que ele acompanhe a
conformação do membro e inclua as duas articulações (proximal e distal). Ele vai impedir as
forças de flexão e cisalhamento (parcialmente porque há tecido mole no meio). O gesso, no
entanto, não impede as forças de rotação, tensão e compressão (na verdade, ele só está
impedindo a de tensão, se o cão não quebrar).

O gesso deve ser forte o suficiente para aguentar o peso do animal. 229

Fixação por pino intramedular

Pode ser único ou múltiplo.

Quando usamos dois pinos a chance de rodar dentro do canal medular é menor. O
pino deverá ter 1/3 do diâmetro do osso e sua colocação cruzada.

O pino vai impedir a flexão e o cisalhamento (se o pino for único, não. Se for mais de
um ou então mais grosso, impede o cisalhamento, mas também tem suas contraindicações:
duas irrigações, etc.).

A – Pino de Steinman

Ponta em : Trocater (triangular)/Bisel

Rosqueado / Circular.

B – Kirschner: Rosqueado com menor diâmetro (ponta em trocater).

C – Rush - Ponta dobrada como um “guarda-chuvas”.

D - Kuntscher - Triangular (como uma calha). Apoio em três pontos, evitando a rotação.

E – Interlocking - Apresentam furos por onde fixam parafusos.

Correção cirúrgica de fratura em Fêmur: Pino e fio de cerclagem


230
Figura 91 - Incisão lateral da pele. Figura 92 - Exposição do fêmur na região da fratura.

Figura 93 - Introdução de fio de aço nas extremidades opostas da fratura e introdução de pino de aço
intramedular. Figura 36 - Pino intramedular sendo colocado em posição para a fixação do foco de fratura.

Figura 94 - cerclagem ajustada com o fêmur no seu eixo. Figura 95 - Redução da fratura com fixação
interna com pino de aço para posterior ajuste da cerclagem. Fonte: WWW.redvet.com.br. Acessado em: 02 de
fevereiro de 2008.
231
Figura 96 - Fáscia suturada. Figura 97 - Pele suturada.

Fonte: WWW.redvet.com.br. Acesso em: 02 de fevereiro de 2008.

Placas ósseas

Inibem todas as forças, dão uma boa fixação.

A resistência do osso após a colocação é muito boa.

A – Placa de Compressão – traciona a placa ao osso

Coloca-se 1º os parafusos próximos ao local da fratura e a seguir na borda externa da


placa para aproximar os fragmentos.

Ao remover a placa três ou quatro meses após fica marcada no osso, pois ocorre uma
reabsorção óssea, levando a uma osteoporose temporária e quando retira os osteoclastos e a
neovascularização agem remodelando o osso tornando-o anatomicamente normal.

As placas de compressão não provocam reabsorção óssea (área de descalcificação).

B – Placa Neutralizadora – neutraliza as forças tracionando o osso de forma mais leve.


E reta indicada para osso irregular, mais facilmente moldada.

C – Placa Semitubular ou de sustentação - um pouco mais resistente que a placa reta.

D - Placa de reconstrução, usada principalmente para ossos irregulares, são vários


“gominhos” e quebra com facilidade está caindo em desuso. Ela é mais facilmente moldada
(melhor manipulação). Ex. fraturas de acetábulo.
F – Placas anatômicas (L, T ) – são usadas de acordo com a necessidade.

A fixação mais forte não é necessariamente ideal, dependerá do caso.

Ex. fratura cominutiva com vários segmentos a placa é ideal. Porém no caso de fratura
transversa não é necessário.

232

Fixação esquelética externa (Fixadores externos)

É o mais versátil e o mais adaptável também inibe todas as cinco forças. Com a fratura
inicia reações importantes – hematoma da fratura possui células importantes para cicatrização.
Se puder fazer redução fechada com fixador será melhor.

Conseguimos reduzir fratura usando somente o fixador externo ou abrindo somente o


local da fratura para colocar uma placa associada.

Colocação: inserção dos primeiros pinos tem que ser próximos ao foco de fratura para
permitir melhor estabilidade e o segundo colocar o mais distante possível do foco de fratura para
dar mais rigidez.

Pode-se instituir o seguinte: longe/próximo/longe/próximo.

Se estiver muito próximo da articulação: pode-se usar um pino em cima e um parafuso


e dois embaixo ou ultrapassar a articulação e fixar o 2º pino no outro osso.

Deixar fixador por dois meses.


Figura 98- Introdução de três pinos rosqueados em fêmur (terço proximal, medial e distal) através de sua
face lateral.

233

Figura 99 - Introdução de pinos lisos por meio da tíbia e união dos cinco pinos através de um pino
paralelo ao membro.

Figura 100- Sutura da pele, após o término da colocação do fixador externo.

Fonte: WWW.redvet.com.br. Acesso em: 02 de fevereiro de 2008.

Correção de fratura com pinos e resina acrílica em forma de fixação externa

A resina acrílica é de baixo custo, e dá uma boa fixação quando associada a três ou
quatro pinos fixados de forma transversal ao foco de fratura.

Promove uma boa resistência.

Pode ser mono ou bilateral.


Os pinos serão colocados obliquamente, com angulação para melhor fixação e terão
suas pontas entortadas e seladas por meio de resina acrílica autopolimerizável.

É importante dobrar as pontas dos pinos para firmar a resina e não haver
afrouxamento.

Para o pino não ficar torto durante, dificultando a colocação da resina deverá ser fixado
com pinça óssea. 234

Figura 101 - Incisão medial. Figura 102 - Exposição do local da fratura.

Figura 103 - Exposição do Rádio fraturado. Figura 104 - Introdução de pinos transversalmente ao
Rádio em terço proximal.
235

Figura 105 - Introdução de pinos transversalmente ao Rádio em terço distal. Figura 106 - Fixação dos
pinos com pino amarrado com fio de cerclagem.

Figura 107 - Todos os pinos fixados. Figura 108 - Aplicação da resina acrílica.
236

Figura 109 – Resultado final após a resina ter sido aplicada sobre os pinos, colocada de forma bilateral.

Figura 110 - Pele suturada na parte medial.

Fonte: WWW.redvet.com.br. Acesso em: 02 de fevereiro de 2008.

Fixação auxiliar:

 Cerclagem: usada para melhorar a coaptação. Aproximar os segmentos ósseos;


 Fios metálicos;
 Parafusos: Cortical – rosca em toda extensão;
Esponjoso – alta compressão/rosca após foco da fratura;

Parafuso de compressão: deverá formar angulação de 90º com a linha de fratura.


Usado antes da placa;

A 1º porção é lisa, sendo rosqueado somente na segunda porção para prender na


outra cortical;

Parafuso poderá ser colocado reto ou com angulação de acordo com a necessidade;

Auxilia a fixação primária;

Mais utilizado em fraturas cominutivas.


18VIDEOCIRURGIA

18.1 Definição

237

Procedimento de invasão mínima que permite a visualização direta das estruturas


intracavitárias normais ou com alterações patológicas.

18.2 Introdução

As abordagens minimamente invasivas estão transformando a cirurgia na medicina


humana e veterinária. Não substituem totalmente as cirurgias convencionais, mas estão se
incorporando ao arsenal cirúrgico moderno, por constituírem uma modalidade inovadora de
acesso muito vantajoso para procedimentos cirúrgicos diagnósticos e terapêuticos. A
videocirurgia apresenta vantagens tais como acesso por meio de pequenas incisões, menor
trauma aos tecidos, menos desconforto e dor no pós-operatório, menor tempo de hospitalização
do paciente, recuperação pós-cirúrgica mais rápida, menores custos e melhores resultados
estéticos.
Na medicina veterinária foi, inicialmente, utilizada para investigações reprodutivas, bem
como para visualizar, explorar e realizar biopsia em estruturas abdominais com finalidade
diagnóstica.
A videocirurgia, contudo, é limitada por fatores como custo elevado de equipamentos e
treinamento cirúrgico específico.
Mesmo considerando essas limitações, cirurgias minimamente invasivas têm sido
aplicadas na medicina veterinária.

18.3 Indicações 238

Destacam-se procedimentos cirúrgicos como: ovariectomia em cadelas e em éguas,


ovário-histerectomia em cadelas, criptorquidia em cães e em gastropexia, nefrectomia,
esplenectomia e também em herniorrafia diafragmática e algumas cirurgias torácicas.

Complicações:
 Perfuração das vísceras;
 Trauma de grandes vasos;
 Acidose respiratória;
 Compressão dos grandes vasos da corrente venosa de retorno ao coração.

Posição:

 Decúbito dorsal;
 Trendelemburg – leve inclinação da calha cirúrgica para melhor visualização
intra-abdominal, porém causa uma compressão mais acentuada ao diafragma.
Para realização de procedimentos laparoscópicos é necessário o estabelecimento do
pneumoperitônio, com a finalidade de proporcionar adequada exposição das estruturas
abdominais e manutenção de campo cirúrgico.

Técnica cirúrgica
Animais são devidamente anestesiados e mantidos com anestesia inalatória.
Posicionados em decúbito apropriado.
A cavidade abdominal é puncionada com agulha de Veress, na região umbilical ou
paracostal direita para instalação do pneumoperitônio com pressão máxima entre 10 e 12mm
Hg.
A seguir são realizadas quatro incisões de pele para introdução dos trocartes.
Estes quatro portais permitem a passagem da ótica (30 graus e 10 mm de diâmetro) e 239
também do instrumental cirúrgico, pinças e tesouras.
Inicialmente, realiza-se exploração da cavidade abdominal para verificar eventual lesão
de víscera por efeito da introdução da agulha de Veress ou do primeiro trocarte.
São então realizadas as seguintes manobras cirúrgicas: localização e individualização
da estrutura a ser avaliada ou removida do local acessado.
Após divulsão do órgão alvo, faz-se a identificação dos vasos a serem ligados com
clipes ou fios de sutura.
Por eletrocauterização, secciona-se a estrutura afetada ou a ser removida.
Aplicam-se dois ou três clipes de titânio médio-grande (dois proximais e um distal ao
órgão), mediante o uso de pinça aplicadora de clipes ou são ligados com fio de sutura.
Compressas de gaze são introduzidas na cavidade para remoção parcial de sangue.
Após liberação do órgão ou estrutura alvo faz-se a secção e pelo portal três, o mesmo
será retirado com auxílio de uma pinça de apreensão com dentes.
Quando necessária, amplia-se a incisão da parede abdominal para a saída das
estruturas citadas.
A cavidade abdominal é irrigada com solução Nacl 0,9%, seguida de aspiração. As
cânulas são retiradas sob visualização.
Finalizando-se o procedimento, o CO2 é removido abrindo-se a válvula de uma das
cânulas ao mesmo tempo em que se mantêm leve pressão sobre o abdômen.
A parede abdominal é suturada de modo rotineiro.
Instrumentos cirúrgicos especiais para videocirurgia

240

Figura 111 – Pinça para videolaparoscopia. Fonte: catalogo storz, 2004.

Figura 112 – Diferentes tipos de pontas da pinça de videocirurgia.


Fonte: catalogo storz, 2004.

Figura 113 – Trocarter utilizado para fazer os portais de acesso à cirurgia.


Fonte: Catálogo storz, 2004.

Figura 114 – Ótica – utilizada acoplada a uma fonte luminosa com intuito de visualizar as estruturas intracavitárias,
projetando-as em um monitor. Representa os “olhos” da videocirurgia.
Fonte: Catálogo storz, 2004.

Figura 115 - Cânula para pneumoperitônio segundo VERESS. Fonte: Folheto KARL STORZ (1992)
Equipamentos

241

Figura 116– Monitor e Endocâmera. Fonte: Oliveira, 2005.

Figura 117 – Fonte de luz fria com lâmpada de xénon, 175 Watts. Fonte: Catálogo storz, 2002
.

Figura 118 - Fonte de luz e insuflador. Fonte: Oliveira, 2005.

Figura 119– Todo o equipamento para videolaparoscopia montado, pronto para ser utilizado.
Fonte: Oliveira (2005).
Procedimento cirúrgico

242

Figura 120 A- punção com agulha de Veress, primeiro acesso a cavidade; B: Agulha aspirando a cavidade para
verificar se há hemorragia por perfuração de algum órgão; C: Insuflador acoplado para fazer o pneumoperitônio e
assim permitir melhor visualização dos órgãos na cavidade abdominal.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.

Figura 121: demonstração de como se faz o primeiro acesso (portal), demonstração do local e forma correta para se
introduzir o trocárter na cavidade abdominal.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.

Figura 122 - Depois de passado o condutor o mesmo é suturado a pele para que não aja perda do pneumoperitônio
e seguida é passada a ótica (endocamera). A partir deste momento todos os movimentos são monitorados na tela
da televisão ou computador acoplado ao equipamento.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.
Figura 123– por meio de iluminação intracavitária escolhem-se os outros portais, observe a iluminação, isso evita
que ocorra complicações como perfuração ou hemorragia. 243
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.

Figura 124 - Todos os portais de acesso já com as pinças cirúrgicas e, óticas acopladas, momento para se começar
o procedimento cirúrgico.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.

Figura 125 – A: visualizando imagem no monitor; B – Animal em decúbito dorsal e Trendelemburg C- destacando a
posição dos cirurgiões durante o procedimento cirúrgico.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.
Figura 126– A:Individualização de útero; B: individualização do ovário
Fonte: Oliveira, 2005. 244

Figura 127– A: Apreensão do pedículo ovariano e dissecção por eletrocauterização do ligamento suspensório do
ovário; B: Secção do ligamento.
Fonte: Oliveira, 2005.

Figura 128- Introdução do fio na cavidade para ligar o complexo arteriovenoso.


Fonte: Oliveira, 2005.
Figura 129 - secção do complexo arteriovenoso. 245
Fonte: Oliveira, 2005.

Figura 130 - A e B: Retirada do útero inteiro da cavidade por um dos portais; C: útero já extirpado.
Fonte: Arquivo pessoal. Cetrex – Brasília, setembro de 2006.
19 TRANSPLANTE RENAL

O Transplante renal está sendo executado com frequência crescente em cães e gatos
e é uma terapia que pode restabelecer a função renal e melhorar a qualidade de vida do animal.
246
Porém, deve-se considerar que um transplante de rim requer um compromisso do proprietário
devido ao investimento financeiro e esforço exigido para manter estes pacientes depois de
cirurgia.

Cada vez mais cães e gatos levam vidas mais longas e saudáveis após um transplante
renal. Existem relatos de gatos que recebem rins transplantados com sobrevivência de seis anos
ou mais depois de cirurgia. O rim implantado normalmente funciona e deve promover uma
melhor qualidade de vida pelo receptor do transplante. Porém, alívio da IRC, eliminação da
doença e terapia de manutenção terapêutica do paciente transplantado é de alto custo.
Pacientes de transplante exigirão medicamentos diariamente de forma vitalícia para prevenir a
rejeição.

O transplante deveria ser executado assim que a perda de peso progressiva fosse
identificada. Uma vez que, um é indicador muito importante para realização precoce do
transplante, e perda de peso progressivo apesar de terapia dietética adequada. Considera-se
que a perda de peso de maior que 20% leva a um prognóstico reduzido para o sucesso da
cirurgia de transplante renal.

19.1 Indicações para transplante renal

Para se realizar um transplante renal tem que haver a IRC diagnosticada


apropriadamente, valores de creatinina no soro (creatinina maior ou igual que 4.0 mg/dl), sinais
de descompensação, peso do animal, dificuldade de se manter (alimentação e hidratação),
dependentes de fluidos subcutâneos, ou problema secundário a IRC (anemia é a sequela mais
comum e mais cedo de acontecer) .

É importante lembrar que o transplante renal não é um tratamento de emergência para


tentar salvamento do paciente extremamente doente. Pacientes apresentados para transplante
na fase terminal de fracasso renal têm um prognóstico ruim para sucesso ou sobrevivência 247
durante a cirurgia.

O protocolo cirúrgico deverá ser organizado com tempo, deve-se ter e avaliar um
doador e preparar o receptor para cirurgia. Uma semana geralmente é o mínimo. Pode levar
mais tempo dependendo da disponibilidade do doador e compatibilidade com o receptor.

Convém que o proprietário juntamente com o veterinário planeje a cirurgia.

19.2 Candidatos para transplante renal

Existem certos critérios que candidatos de transplante renal em potencial têm que
cumprir antes de ser indicado para transplante.

Em geral, todos os candidatos, devem estar livres de qualquer doença sistêmica


diferente de IR.

Cães com infecções urinárias podem ser considerados quando tratados.

Qualquer cão ou gato com uma doença que poderia afetar o rim transplantado
potencialmente (como pielonefrite) não deveriam ser transplantados.

Doenças como nefrite intersticial idiopática crônica, glomérulo-esclerose, insulto tóxico


irreversível prévio, ou doença de rim policístico podem ser bons candidatos ao transplante.
O melhor candidato de transplante é o paciente que é exteriormente saudável. Estes
pacientes podem manter a própria alimentação e ingestão de água adequadamente.

Cães e gatos que requerem fluidos subcutâneos ou um tubo gástrico para alimentação
devem ter o transplante o mais cedo possível.

Não seria executado transplante renal em pacientes com doença cardíaca significante,
248
diabetes, infecção urinária bacteriana ativa, certos cânceres ou infecções viróticas como FIV, FIP
ou FeLV. Semelhantemente, doenças como oxalúria, hipertensão, doença inflamatória crônica
do intestino ou amiloidose aumentam as chances de um resultado ruim depois de cirurgia ou um
período de vida curto para o rim transplantado, podendo eliminar o candidato em questão.

Se os pacientes não podem ser estabilizados de forma medicamentosa é um indicativo


de risco cirúrgico.

Transplante nunca é uma cirurgia de emergência. Com IRA, o paciente pode ser
estabilizado com hemodiálise e em intoxicação, devem ser removidos os metabólicos tóxicos
(por excreção ou diálise) antes do transplante para evitar danos maiores, e cirurgia em uma a
duas semanas.

19.3 Pré-operatório

No período pré-operatório administram-se, ao paciente receptor, soluções


hidroeletrolíticas, ringer com lactato, num volume de 75 a 100mL/kg de peso, por via IV, por 24
horas, antes da intervenção.

Em alguns animais a transfusão sanguínea se faz necessária para a manutenção do


hematócrito entre 25 a 30% em cães e 15 a 20% em gatos.
Ao doador e ao receptor administra-se ampicilina ou amoxicilina, 30 minutos antes da
intervenção cirúrgica, como profilaxia de infecção.

19.4 Exames pré-operatórios 249

Deve-se fazer um hemograma completo (contagem de glóbulos completo), perfil


químico de soro, urinálise e cultura (urina obtida por cistocentese), testes para vírus felino (FeLV,
FIV, FIP) , avaliação cardíaca (auscultação, radiografia de tórax e eletrocardiograma e
ecocardiograma), radiografia abdominal – examinar a área urinária para presença de
mineralização, cálculos, tamanho do rim ou outras anormalidades, dosar hormônios da tiroide,
medida de pressão sanguínea (ultrassom de doppler), tipo sanguíneo.

Determinar o tipo sanguíneo do receptor é importante porque os cães gatos doadores


(SRD) uniformemente tem um tipo de sangue. Se o receptor tiver tipo B ou tipo sangue de AB, é
improvável achar um cão ou gato doador de rim para a cirurgia.

Felizmente, estes tipos sanguíneos não são frequentemente encontrados, são vistos
mais em certos animais de sangue puro exóticos. Se o cão ou gato tem tipo sanguíneo B ou de
AB, terá que achar um cão ou gato doador para a cirurgia, possivelmente cão ou gato puro
sangue.

Teste de compatibilidade sanguínea do sangue do receptor com doador. Embora cães


e gatos possam ter o mesmo tipo sanguíneo, existem receptores que não são compatíveis com o
cão ou gato doador. Isto também ocorre em cães e gatos que não tiveram uma transfusão prévia
ou qualquer razão para ter sido exposto aos antígenos do doador. Assim, a partida é um teste
essencial identificando um cão ou gato doador (tipo sanguíneo só não é adequado).

Avaliação de rim - em geral, se os rins forem pequenos em tamanho, não requer uma
biópsia renal antes de transplante porque a anestesia e procedimento de biópsia aumentam o
risco de induzir a perda da função renal residual propiciando uma crise de urêmia terminal.
Porém, se os rins são de tamanho normal ou grande (ou tem anormalidades isoladas não
identificadas) em radiografa ou ultrassom, eles devem ser biopsiados desde que o cão ou gato
pode ter uma condição, como linfoma renal que os desqualificaria como um candidato de
transplante.

250

19.5 Seleção do Doador

O doador renal deve ter porte similar ao receptor ou um pouco maior.

Apresentar compatibilidade sanguínea com o receptor e estar com a saúde perfeita. A


compatibilidade sanguínea entre o doador e o receptor é um fator importante, visto que o
antígeno, presente nas células vermelhas do sangue também estão presentes no endotélio
vascular do tecido transplantado e a produção de anticorpos para esses antígenos promove o
aparecimento de coágulos nos vasos do enxerto e enfarto do órgão no momento do transplante.

Para confirmação do estado de saúde do animal realiza-se hemograma, perfil


bioquímico, urinálise, urografia excretora e pielografia para verificar a forma e a vascularização
renal; e os gatos são testados para leucemia e imunodeficiência felina.

O doador deverá estar sem nenhum risco para problema renal e ter menos que seis
anos de idade.

Não tem que ser da mesma raça mais seria preferível.

A remoção de um rim não resultará em qualquer problema de saúde. O rim restante no


doador aumentará e eventualmente alcançará 75% da função total dos dois presentes.
O doador pode ser encontrado pelo cliente ou pelo veterinário, o cliente geralmente
adota aquele animal doador depois da cirurgia. Existem preocupações com o receptor em aceitar
um novo animal na casa, mas normalmente não desencadeia nenhum tipo de estresse.

251
19.6 Receptor

O candidato ao transplante deve ser internado dois a três dias antes de cirurgia para
preparação de pré-cirúrgica.

Antes do transplante, o receptor recebe fluidos e uma dieta com baixo índice proteico.

Anemia só é corrigida antes de cirurgia com transfusões e terapia de eritropoetina. Um


tubo no estômago pode ser cirurgicamente colocado em alguns cães e gatos para alimentar o
paciente anoréxico.

Porém, deve ser lembrado que o paciente debilitado com IRC terá limitado sucesso, o
transplante deveria ser feito antes de debilitação física generalizada estar presente.

Ciclosporina e imunossupressivos de prednisolona serão começados 24 a 48 horas


antes da cirurgia. Estas drogas são administradas duas vezes por dia, com ajustes eventuais nas
dosagens.

Um dia antes da cirurgia o receptor terá cateteres apropriados colocados e isso será
usado depois de cirurgia para administração de fluidos, retirando amostras de sangue. Além
disso, a maioria dos pacientes recebe uma transfusão de sangue neste momento.

No dia seguinte o paciente irá para cirurgia.


19.7 Protocolo Anestésico

Os protocolos anestésicos variam de acordo com os pacientes, mas em geral, a


medicação pré-anestésica utilizada para o transplante renal consiste em sulfato de atropina (0,01 252
a 0,04mg/kg) e oximorfina (0,05mg/ kg), ambos por via subcutânea. A indução e manutenção da
anestesia são obtidas com mistura de isoflurano e oxigênio em aparelho de anestesia inalatória.
Durante o procedimento cirúrgico são administrados, por via intravenosa, soluções
hidroeletrolíticas balanceadas (10 a 20mL/kg/hora) e/ou sangue para manutenção do
hematócrito = 30%. A pressão arterial sistêmica é monitorada diretamente por cateterização
arterial ou indiretamente com o auxílio do Doppler, sendo que se mensurada por cateterização
deve apresentar valores maiores que 60mmHg, enquanto a mensurada com o auxílio do Doppler
deve ser = 90mmHg . Para suporte da pressão arterial administra-se dopamina (3 a
5mg/kg/minuto) por infusão venosa. A gasometria venosa e arterial e os eletrólitos devem ser
mensurados com frequência para que, se necessário, seja feita a correção. Quando a
concentração de cálcio ionizado for < 0,7mmol/L faz-se necessário à administração de solução
de cloreto de cálcio IV, pelo período de 20 a 30 minutos e, se a concentração de potássio sérico
for <3mmol/L administra-se cloreto de potássio.

A analgesia intra e pós-operatória pode ser alcançada com a administração de morfina


epidural ou butorfanol, por via intramuscular (0,05 a 0,1mg/kg).

19.8 Técnica cirúrgica

O transplante renal envolve dois procedimentos cirúrgicos importantes: a nefrectomia


do animal doador e o transplante desse rim para o paciente portador de IRC.
O tempo do transplante não deve ultrapassar 60 minutos, com o intuito de minimizar a
isquemia do rim.

Ao paciente doador administra-se manitol (1 a 2g/kg) por via intravenosa, 15 a 20


minutos antes do início da nefrectomia, para reduzir a incidência e a duração da necrose tubular
aguda associada com a isquemia renal.

253
A nefrectomia do doador começa antes da preparação do paciente que receberá o
transplante.

O doador é posicionado em decúbito dorsal e inicia-se a laparotomia através da incisão


mediana pré-retroumbilical da pele, subcutâneo e linha Alba.

Lupas com aumento de duas a três vezes são recomendadas para a dissecação
vascular. Um rim saudável é removido do doador e transplantado para o cão ou gato receptor.

Durante o processo microcirúrgico, o ureter do rim do doador é ligado à bexiga do


receptor e o novo rim é ligado aos vasos sanguíneos do receptor.

Os rins afetados permanecem no cão ou gato doente. O novo rim é colocado próximo à
bexiga.

O cão ou gato receptor viverá com três rins e o doador com um. Na realidade, os dois
rins originais apesar de fracos ainda desempenham alguma função, e são vitais na maximização
das possibilidades de sobrevivência.

Os pedículos vasculares dos rins, esquerdo e direito são examinados, pois se


necessita de um segmento da artéria renal com comprimento mínimo de 0,5cm e, se houver
ramificações nos vasos renais, preservam-se a artéria e a veia de maior calibre para as
anastomoses. Normalmente, dá-se preferência à remoção do rim esquerdo, uma vez que este
apresenta maior comprimento do pedículo vascular que o rim direito.

Remove-se o máximo da camada adventícia que envolve a artéria e veia renal e o


tecido adiposo da região pélvica.

Na sequência, a veia ovariana ou testicular é ligada e todos os ramos menores


cauterizados, antes da secção da artéria e veia renais.
O ureter é liberado dos tecidos adjacentes em todo o seu comprimento até o ponto de
inserção à bexiga, sempre preservando o suprimento sanguíneo.

Quando a preparação do paciente que receberá o rim estiver concluída, a artéria e a


veia renal do doador são ligadas e seccionadas.

O rim do doador é lavado com solução contendo cloreto de sódio a 0,9% (500L),
254
lidocaína 2% sem epinefrina (6L) e heparina (2.000 Unidades), injetada através da artéria renal
até que a veia renal esteja livre de coágulos sanguíneos.

Enquanto o rim estiver em fase de preparo, o local de enxerto no receptor está


preparado. Uma vez que o rim é afastado do doador, é banhado com salina.

A veia renal é anastomosada à veia cava caudal e a artéria renal para a aorta sob uso
de um microscópio cirúrgico.

Quando ambos os locais de anastomose estiverem completos, as pinças vasculares


são libertadas para permitir fluxo venoso e fluxo arterial.

Realiza-se a laparotomia mediana pré-retroumbilical no paciente que receberá o órgão.


Para que as anastomoses dos vasos sejam obtidas com maior facilidade, o rim esquerdo é
transplantado na fossa ilíaca direita e vice-versa, estas devem ser feitas com o auxílio de lupa de
ampliação (2 a 10X), sendo que maiores ampliações são necessárias para a
ureteroneocistostomia.

A fossa ilíaca escolhida é preparada para a anastomose término terminal da artéria


renal com a artéria ilíaca, e término lateral da veia renal com a veia ilíaca. Em razão a maior
dificuldade de exposição da veia ilíaca e pela sua localização mais lateral e mais profunda
quando comparada com a artéria ilíaca, a anastomose da veia renal é realizada antes da artéria
renal.

A artéria ilíaca é isolada e sua oclusão é obtida com o auxílio de uma pinça vascular de
bulldog, que é posicionada próxima à bifurcação da aorta e à aplicação de ligadura, mais
distalmente, próximo ao anel femoral; na sequência, procede-se a incisão entre as pinças.

A porção livre da artéria é dilatada com o auxílio de fórceps e a adventícia é excisada


em torno de 0,25 a 1mm de comprimento, a partir da porção proximal da artéria.
A veia ilíaca é isolada e as veias tributárias são ligadas antes do posicionamento de
duas pinças vasculares bulldog. As pinças são colocadas na veia ilíaca com a máxima distância
entre elas; na sequência, promove-se um defeito na parede da veia, ligeiramente mais largo que
o diâmetro da veia renal do doador.

Para a anastomose da veia ilíaca à veia renal aplicam-se duas suturas interrompidas,
com fio de seda siliconizado ou prolene nº 6- 0, no aspecto cranial e caudal à veia. A 255
anastomose é concluída com a aplicação de duas suturas contínuas simples posicionadas lateral
e medial à veia.

Após a anastomose venosa, a artéria renal e a artéria ilíaca são alinhadas e se aplicam
duas suturas de reparo, com uma distância de 180º entre elas; na sequência, pontos
interrompidos simples com fio de náilon ou prolene nº 8-0 concluem a anastomose arterial.
Durante a anastomose arterial administra-se manitol (0,75mg/kg) por via intravenosa.

Para prevenir torções no pedículo vascular e consequente isquemia no tecido transplantado, o


rim é suturado na parede abdominal adjacente, com dois pontos interrompidos simples e fio
polipropileno nº 5-0, que são colocados ao longo da curvatura maior transfixando a cápsula renal
e o peritônio.

A B

Figura 131 – A: Relação anatômica entre a artéria ilíaca externa e a veia. Figura B - A artéria ilíaca foi preparada
para anastomose término-terminal com a artéria renal e a veia ilíaca preparada para anastomose laterolateral com a
veia renal. (Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery). Observe a figura acima e
logo após, a figura abaixo.
A B

256

2.a 2.b

Figura 132 a - Anastomose da veia ilíaca com a veia renal pela aplicação de dois pontos interrompidos posicionados
nos aspectos, cranial e caudal à veia. Figura 2b - Aplicação de duas suturas contínuas simples entre as veias ilíaca
e renal. (Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal Surgery).

Fig. 3

Figura 133 - A artéria renal e a artéria ilíaca são alinhadas e se aplicam dois pontos de reparo, a uma distância de
180º entre eles. Na sequência pontos interrompidos simples com fio de náilon ou polipropileno nº 8-0 concluem a
anastomose arterial. (Adaptado do GOURLEY, M.I.; GREGORY C.R. Atlas of Small Animal surgery).
A ureteroneocistostomia extravesicular justapõe a mucosa ureteral com a mucosa
intacta da bexiga. Esta técnica tem como função diminuir a incidência da obstrução ureteral, que
ocorre principalmente em gatos, devido ao pequeno diâmetro do ureter, aproximadamente
0,3mm.

Inicia-se com a cistotomia na face ventral da bexiga; na sequência, a porção livre do


ureter é passada por meio de um túnel, pela parede dorsal da bexiga, sendo que apenas 1 a 257
2cm do segmento livre do ureter penetra, para o interior da bexiga. Com o ureter inserido no
lume da bexiga remove-se sua porção final e 3 a 4mm do tecido periureteral. A artéria ureteral,
se possível, é isolada e ligada com fio absorvível sintético nº 5-0 ou 6-0, com o objetivo de
prevenir hemorragias.

O ureter é cateterizado com fio de polipropileno nº 5-0, que auxilia a sutura do ureter à
mucosa vesical que é realizada com a aplicação de dois pontos interrompidos simples com
náilon nº 8-0, distanciados um do outro em 120º. Realiza-se a síntese da parede da bexiga e o
ureter é ancorado na camada serosa por meio de dois pontos interrompidos simples e fio de
náilon nº 8-0.

Fig. 4

Fig. 134: O rim é transplantado no abdômen. Os rins nativos não são removidos assim o cão ou gato normalmente
termina com três rins. Ocasionalmente, podem ser removidos um ou ambos os rins nativos para tentar prevenir
problemas relacionados a estes rins.
258

Figura 135: Técnica cirúrgica conforme descrita anteriormente.


19.9 Pós-operatório

Em alguns casos, o novo rim não começa a funcionar imediatamente e então será
necessária a ajuda dos rins originais que só serão removidos em caso de desenvolverem uma 259
infecção ou tumores.

A taxa de sucesso para transplante renal canino é aproximadamente 40%. A causa


principal de morte não é nenhuma rejeição crônica mais outro problema associado com IR no
paciente.

A monitoração pós-operatória e o cuidado com paciente de transplante é muito intenso,


em termos de exames de sangue nos primeiros meses depois de cirurgia. Complicações
principais que podem acontecer depois do transplante incluem rejeição aguda do rim, infecções,
e complicações com drogas terápicas, hepatotoxicidade supressão de medula óssea, problemas
gastrointestinais, e neoplasias. Estas complicações podem requerer imediato e agressivo
tratamento de emergência e pode ser fatal.

O receptor normalmente fica no hospital por 10-14 dias pós-transplante, o doador pode
ser liberado dois dias depois de cirurgia.

Manutenção do apetite, nível de creatinina no soro é avaliada junto com a gravidade


específica da urina, contagem de células vermelhas e ciclosporina no sangue.

Os primeiros sinais de um episódio de rejeição será uma mudança de comportamento


do animal. Perda de apetite, atitude deprimida, apatia, perda de energia, vômito, etc. É possível
que o processo inicial de rejeição possa vir acompanhado por um aumento na creatinina ou
diminuição da densidade específica da urina.

Monitoração diária é feita enquanto o animal estiver no hospital. Depois é semanal


normalmente durante um mês. Então os intervalos são aumentados para quinzenal e
mensalmente. Eventualmente, dependendo do indivíduo a monitoração será feita a cada 2-3
meses.
Deve-se monitorar o peso, nível creatinina, compostos nitrogenados, ureia,
hematócrito, proteína total, densidade específica da urina e nível de ciclosporina no sangue
periodicamente. Em particular, é importante que a ciclosporina seja monitorada de perto.

Cães e Gatos mais saudáveis devido ao transplante parecem ficar mais capazes de
metabolizar ciclosporina (provavelmente o fígado está mais saudável também). O exame de
sangue é vital logo antes da próxima dose de ciclosporina para adquirir uma avaliação precisa 260
dos níveis de droga.
20 PRÓTESE TOTAL DE QUADRIL

Considerações gerais

O tratamento para doenças que acometem a articulação coxofemoral em cães e gatos 261

é variado, desde conservador até cirúrgico, de acordo com o grau de lesão. Porém ao se realizar
uma substituição total de quadril com emprego de prótese, o resultado obtido é cerca de 90%
satisfatório.

A primeira substituição total de quadril em humanos aconteceu em 1961, como um


método viável de tratamento de articulações humanas incapacitadas e em cães no ano de 1976,
no Brasil desde 2000 vem sendo realizado de forma cada vez mais rotineira.

20.1 Particularidades

 A nova articulação, prótese, para ser implantada necessita do auxílio de um


cimento ósseo.
 Os instrumentos utilizados para realizar esse procedimento são específicos e de
material que permitam durabilidade e esterilização. Da mesma forma que os componentes da
prótese.
 A experiência da técnica cirúrgica para substituição total do quadril vai sendo
adquirida com o passar do tempo de acordo com maior número de intervenções.
 Somente um dos quadris deve ser substituído. Entretanto, se ambos estiverem
debilitados, deve-se realizar a substituição dos dois.
 O momento ideal para cirurgia é quando a musculatura ainda não se apresenta
atrófica, mas quando a dor e fraqueza estão presentes.
 Cães com excisão da femoral não são bons candidatos.

20.2 Vantagens na substituição da articulação coxofemoral

262

Aumento na atividade, resistência, aumento da massa muscular do membro e


eliminação de sinais de dor.

20.3 Objetivo

 Aliviar a dor;
 Melhorar a função do quadril;
 Promover estilo de vida ativo;
 Correção do movimento reduzido da articulação artrítica, melhorando a
movimentação do membro.

20.4 Cão candidato


Um cão para poder receber uma prótese articular de quadril, deve ter no mínimo nove
meses de idade, ou seja, quando o crescimento longitudinal do osso esteja completo. Mas não
existe idade limite para realizar a cirurgia.

263
20.5 Prótese

A prótese é composta por três ou dois elementos:

 Haste femoral; cabeça femoral e corpo acetabular.


 Corpo acetabular, cabeça e haste femoral como um único elemento.
O implante a ser utilizado pode ser mais duro ou mais flexível de acordo com o tipo de
material que compõe a prótese

A haste femoral provoca algum grau de reabsorção óssea, podendo desta forma levar
a perda de sua estabilidade e comprometer o bom desempenho. Próteses com haste femoral
mais flexível diminuem a perda óssea induzida pela tensão, mas a durabilidade do implante
impede este tipo de modelo.

Figura 136 – prótese do quadril, dois componentes. Figura 137 – prótese do quadril, três componentes.

Fonte: Biomedtrix, 2000.


264

Figura 138– Técnica para prótese total de quadril, esquematização passo a passo.

Fonte: Biomedtrix, 2000.

Figura 139 – caixas específicas para realização do procedimento cirúrgico.

Fonte: Biometrix, 2000.


20.6 Treinamento da equipe cirúrgica

A técnica de substituição total de articulação coxofemoral é uma técnica muito exigente


sem permissão de erros. 265

A instrumentação e assistência adequadas devem estar disponíveis ao cirurgião e ao


assistente para permitir que o procedimento seja completado em duas horas. A velocidade de
cirurgia é necessária para minimizar complicações. Portanto requer um treinamento especial
antes da cirurgia.

Outro fator de fundamental importância é a máxima precaução asséptica, cuidadosa


preparação do paciente e cirurgiões para evitar qualquer tipo de infecção que constitui a principal
complicação pós-cirúrgica.

O campo cirúrgico deve estar completamente asséptico.

20.7 Indicações

 Doença incapacitante do quadril secundária à DCF;


 Doença articular degenerativa, necrose avascular da cabeça femoral;
 Má união de fraturas de fêmur proximal ou do acetábulo;
 Luxações crônicas do quadril;
 Fraturas cominutivas da cabeça femoral;
 Falha na artroplastia de excisão da cabeça femoral, mas não são bons
candidatos.
20.8 Contraindicação

Neoplasias, deficiências neurológicas, doenças sistêmicas;

Processo infeccioso, como: dermatites, otites, afecções do saco anal, afecção dentária, 266

cistite ou prostatite;

Animais displásicos com função normal da articulação livre de dor, não são candidatos
cirúrgicos;

20.9 Preparação do animal

Começa 24 horas antes da cirurgia com uso de antibiótico. A cefalosporina será usada
também no transoperatório e pós-operatório como auxílio à técnica cirúrgica boa e asséptica.

20.10 Pré-operatório

Os animais serão submetidos a exames laboratoriais pré-operatórios: hemograma,


perfil hepático; perfil renal e radiografia recente.
20.11 Anestesia

Pré-anestésica-clorpromazina (1,0 mg/kg)

Epidural - butorfanol (0,2 mg/kg) 267

Indução anestésica - propofol (5 mg/kg)

Manutenção - halotano

20.12 Acesso cirúrgico

Abordagem crânio lateral com ou sem osteotomia do trocanter maior;

Incisão de pele;

Incisão na fáscia lata ao longo da borda cranial do músculo bíceps femoral;

Tenotomia dos glúteos, expondo a articulação;

Incisão na cápsula articular;

Osteotomia da cabeça femoral, deixando a maior parte da porção distal do colo intacto.

Figura 140 – incisão em pele e fascia lata. Fonte: Bojrab, 1996 e Oliveira, 2004.
268

Figura 141– incisão na inserção de glúteo e fascia lata. Fonte: Bojrab, 1996 e Oliveira, 2004.

Figura 142: Incisão sobre os músculos glúteos, médio e profundo. Fonte: Oliveira, 2004.

Figura 143: Demonstração do local onde será realizada a osteotomia do trocanter maior para melhorar o campo
cirúrgico. Fonte: Oliveira, 2004 e Bojrab, 1996
269

Figura144 – Osteotomia do trocanter maior. Fonte: Oliveira, 2004 e Bojrab, 1996.

20.13 Técnica cirúrgica

Preparo do acetábulo

O acetábulo é debridado e escarificado com instrumento apropriado;

Furos com broca de 2,0 mm para penetração do cimento ósseo;

É importante o posicionamento correto do acetábulo, que deve ter uma angulação


cranial de aproximadamente 20 graus e dorsal de 30 graus.
Figura 145 - A: preparo com instrumento específico para receber a prótese acetabular. O antigo local do acetábulo
está sendo escarificado e para receber a prótese de polipropileno; B: Com outro instrumento são realizados furos no
acetábulo para que o cimento penetre e fixe bem o acetábulo novo. Fonte Oliveira, 2001.

270

Figura 146 - A: Teste da prótese de quadril com cabeça femoral para ver se estão adequados; B: Com outro
instrumento são realizados furos no acetábulo para que o cimento penetre e fixe bem o acetábulo novo. B: cimento
ósseo pronto para ser injetado.

Fonte Oliveira, 2001.

Preparo do canal femoral:

O canal femoral é dilatado - remoção do osso esponjoso;

Cureta para remover - do colo e borda;

Grosa para remover superfície do endósteo;

Raspador, do tamanho da prótese femoral, é usado para obter bom encaixe do


componente femoral;

E importante abrir bem o canal femoral, pois o espaço necessário é para aplicar uma
camada de cimento ósseo e também a prótese;

Primeiro coloca-se o cimento e a seguir a prótese, retirando o excesso de cimento


ósseo;
Posiciona o membro e reduz a cabeça femoral protética para dentro do acetábulo.
Verificando a taxa de movimentação e frouxidão de translação ventral ou lateral.

271

Figura 147 - cefalectomia para posterior preparo do canal femoral que deve ser dilatado o suficiente para caber a
prótese e uma camada de cimento ósseo.

Fonte-Oliveira, 2001.

Fixação da prótese

O acetábulo e o componente femoral são fixados com o auxílio do cimento ósseo. A


flexibilidade excessiva do talo pode colocar em risco a estabilidade da interface prótese e osso.

Uma vez satisfeito, a prótese definitiva é cimentada ao fêmur.

Reduz e começa a sutura começando pela cápsula, músculos, subcutâneo e a pele.

Não é necessário nenhum tipo de imobilização


20.14 Tempo cirúrgico

Quanto mais tempo demorar a realização cirúrgica, mais longa será sua reabilitação.

272

20.15 Pós-operatório

Avaliação radiográfica; incisão cirúrgica diariamente cuidada; colar elizabetano


antibioticoterapia com cefalexina.

Figura 145 -Rx de quadril imediatamente após colocação da prótese de quadril, unilateral. Oliveira, 2001.

Analgesia : carprofen – analgesia e síntese de glicosaminoglicanos


Maioria dos cães anda após a cirurgia – mas a função só se torna normal em 8-12
semanas.

Nível de atividade deve ser controlado:

 Primeiro mês: cão poderá caminhar para urinar e defecar;


 Evitar subir escadas e assoalhos lisos;
273
 Não é permitido que corra ou salte por dois meses animal deverá ficar confinado
em canil;
 Segundo mês já poderá fazer caminhadas mais longas;
 Fim de o segundo mês poderá voltar às atividades de rotina.

20.16 Avaliação pós-operatória

Um mês após a reação-força já é maior do que antes da cirurgia.

Entre 3-6 meses já há uma diferença significativa entre membro tratado e não tratado.

Impulsos verticais e de propulsão crânio caudal aumenta dentro de seis meses.

20.17 Complicações

 Deslocamento da cabeça endoprotética da cápsula do acetábulo de polietileno;


 Osteomielite crônica;
 Fratura femoral;
 Deslocamento da prótese;
 Luxação e a falha do implante;
 Infecção;
 Fratura do fêmur; afrouxamento asséptico;
 Embolia pulmonar gordurosa durante a preparação do canal medular.
 Neurapraxia ciática - lesão no nervo ciático em razão ao acesso.
274
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ANEXO I

Segundo a RESOLUÇÃO CFMV Nº 877, DE 15/02/2008, EM VIGOR A PARTIR DE


19/03/2008:

282
CAPÍTULO IV - CIRURGIAS ESTÉTICAS MUTILANTES EM PEQUENOS ANIMAIS

Art. 7° Ficam proibidas as cirurgias consideradas desnecessárias ou que possam impedir a


capacidade de expressão do comportamento natural da espécie, sendo permitidas apenas as
cirurgias que atendam as indicações clínicas.

§ 1° São considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: conchectomia e


cordectomia em cães e, onicectomia em felinos.

§ 2° A caudectomia é considerada um procedimento cirúrgico não recomendável na prática


médico-veterinária.

Para maiores informações:

http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resoluca_877.pdf

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