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6° período, Semestre: 2020.

Pedagogia Noturno

Disciplina: Seminário Interdisciplinar II

Prof. Evaldo Santana

Aluna: Larissa Ester Neves

Reflexão proposta para a aula assíncrona do dia 30/11/2020, da disciplina de Seminário


Interdisciplinar II; com ênfase no tema: Formação e identidade docente

RETALHOS DA PRÁTICA DOCENTE

POR QUE O MUNDO PRECISA DE PROFESSORES?

Reflexões breves sobre a identidade docente no contexto atual....

Maurice Tardif, pesquisador canadense, preocupado com as questões sobre o trabalho do


professor, nos convida a refletir sobre o que vem ocorrendo com a carreira dos professores,
principalmente a partir dos anos 1980. Em um texto intitulado “A profissionalização do ensino
passados trinta anos: dois passos para a frente, três para trás” Tardif analisa os resultados do
movimento de profissionalização nos últimos trinta anos. Ele observa que a evolução do ensino
não é linear: na história da docência, não só do Brasil como no mundo, é possível verificar
momentos de continuidade, mas também de desvios e até de retrocessos. Ele afirma que a
educação não evolui no mesmo ritmo em todos os lugares do mundo e é comum encontrar o
convívio de formas antigas de ensinar e formas contemporâneas. Essas tensões, agravadas
pelos problemas típicos das políticas públicas de educação, o financiamento entre outros, nos
leva a questionar a possibilidade de uma real profissionalização. Parece que esse é o desafio
que mais nos afeta nos dias de hoje.
Veja e se atualize logo abaixo com algumas ideias sobre importante reflexão:

A identidade docente é construção contínua, começa muito antes de ingressar na faculdade e,


na maioria das vezes, não termina quando o professor pega o diploma. Um professor sempre
tem o que aprender, mesmo nos momentos mais dramáticos, nas crises pessoais e profissionais.
Mesmo na hora em que o desânimo incita a vontade de desistir. E faz parte desse aprendizado
saber diferenciar esses dois verbos fundantes da profissionalidade docente: educar e instruir.

O que vem a ser educar? E instruir? Educar ou instruir? Escolher um ou outro não é simples,
não basta ler e compreender o que o dicionário diz sobre cada uma delas. Na hora da atuação
profissional, de decidir por uma ou outra posição ou alternativa, nem sempre recorremos ao
que foi aprendido na faculdade ou nas teorias pedagógicas, mas sim às representações
construídas na trajetória da profissionalidade que se inicia muito antes do ingresso na
faculdade. No texto Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério, de Tardif em
coautoria com Danielle Raymond, os autores afirmam que a trajetória docente não se inicia
com o ingresso no curso superior ou mesmo na carreira, mas sim muito antes num período em
que ele mesmo foi aluno e conheceu o que significa ser professor a partir de outro ponto de
vista. A carreira teria, para esses autores, dois períodos: pré-profissional e profissional. É assim
que eles nos apresentam essa informação:

Em primeiro lugar, a trajetória pré-profissional. Como mostra uma


abundante literatura (ver sínteses em Carter e Doyle 1996; Raymond
1998a e 1998b; Wideen, Mayer-Smith e Moon 1998), uma boa parte
do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do
professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida,
principalmente de sua socialização enquanto alunos. Os professores
são trabalhadores que foram imersos em seu lugar de trabalho durante
aproximadamente 16 anos (em torno de 15.000 horas), antes mesmo de
começarem a trabalhar. Essa imersão se expressa em toda uma
bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças, de representações e
de certezas sobre a prática docente. Ora, o que se sabe hoje é que esse
legado da socialização escolar permanece forte e estável através do
tempo. Na América do Norte, percebe-se que a maioria dos dispositivos
de formação inicial dos professores não consegue mudá-los nem abalá-
los. Os alunos passam através da formação inicial para o magistério
sem modificar substancialmente suas crenças anteriores sobre o ensino.
E, tão logo começam a trabalhar como professores, sobretudo no
contexto de urgência e de adaptação intensa que vivem quando
começam a ensinar, são essas mesmas crenças e maneiras de fazer que
reativam para solucionar seus problemas profissionais.

Em segundo lugar, a trajetória profissional. Os saberes dos professores


são temporais, pois são utilizados e se desenvolvem no âmbito de uma
carreira, isto é, ao longo de um processo temporal de vida profissional
de longa duração no qual intervêm dimensões identitárias, dimensões
de socialização profissional e também fases e mudanças. A carreira é
também um processo de socialização, isto é, um processo de marcação
e de incorporação dos indivíduos às práticas e rotinas
institucionalizadas das equipes de trabalho. Ora, essas equipes de
trabalho exigem que os indivíduos se adaptem a essas práticas e rotinas,
e não o inverso. Do ponto de vista profissional e da carreira, saber como
viver numa escola é tão importante quanto saber ensinar na sala de aula.
Nesse sentido, a inserção numa carreira e o seu desenrolar exigem que
os professores assimilem também saberes práticos específicos aos
lugares de trabalho, com suas rotinas, valores, regras etc.

A experiência de vida na fase pré-profissional e a experiência de vida na fase profissional são


tão importantes quanto a formação acadêmica do professor, e muito do que ele compreende
que significa educar foi construído nessas passagens entre o momento de ingressar na carreira
e o momento de sentir-se um professor, de fato.

Educar é uma tarefa complexa que pressupõe a ação de sujeitos. Não se instrui, muito menos
se educa sem sujeitos em interação. E sobre isso, ninguém mais inspirador que Paulo Freire.
Veja o que ele diz:

“Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência


e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade
sem educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só

transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica,


mas também formam pessoas.” (FREIRE, 1997, p. 65)
Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para
ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por
outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles
conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica.
Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu
testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faço. É a
preparação científica revelada sem arrogância, pelo contrário, com
humildade. É o respeito jamais negado ao educando, a seu saber de
‘experiência feito’ que busco superar com ele. Tão importante quanto
o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe. A coerência entre
o que digo, o que escrevo e o que faço. (FREIRE, 1997, p. 116)

Referências do texto:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 1997

TARDIF, Maurice e Raymond Danielle. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no


magistério. Educação & Sociedade, ano XXI, n o 73, Dezembro/00 p. 209 a 244

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Tendo como referência a reflexão apresentada, assim como a sua percepção sobre a
docência, responda as questões que aparecem logo a seguir:

1) Por que poderíamos afirmar que a trajetória pré-profissional do professor seria talvez
o momento mais importante na construção de sua identidade docente?

A trajetória pré-profissional corresponde ao período em que o docente se encontra antes mesmo


de ingressar na faculdade, ou seja, essa trajetória se inicia quando ele foi aluno e conheceu a
profissão docente, com um olhar de discente. Essa trajetória se torna de suma importância na
construção da identidade do docente, pois é nessa experiência que ele adquire práticas, crenças
e representações de como deve ser sua atuação na área. Portanto, vemos a importância do nosso
papel como docentes dentro da sala de aula, se estamos formando cidadãos críticos e pensantes,
ou se estamos apenas reproduzindo a opressão e o autoritarismo. São destas práticas que se
absorve a identidade que estamos construindo como professores.
2) O que o autor quis afirmar quando revela que “do ponto de vista profissional e da
carreira, saber como viver numa escola é tão importante quanto saber ensinar na sala de
aula?”

Quando o autor faz essa afirmação ele pretende afirmar que o docente não deve apenas saber
ensinar, mas deve também saber lidar com novas situações; saber se modificar e ampliar
conhecimentos; ter estratégias para resolver problemas; conviver em grupo e saber se
relacionar; apontar sugestões; saber seguir regras e respeitar a todos. Se torna de suma
importância pensar em tudo isso, não somente dentro da sala de aula, mas em todo âmbito
escolar, quando se quer ser um bom educador e pensar no seu papel dentro da sociedade.

3) Qual a relação existente entre “transformação da informação”, “conhecimento” e


“consciência crítica”, em Paulo Freire?

Paulo Freire faz a relação entre “transformação da informação”, “conhecimento e “consciência


crítica” mostrando que o docente é de suma importância para o futuro da humanidade. O
professor se torna capaz de transformar qualquer informação em um conhecimento novo,
formando alunos com um pensamento crítico, investigativo, com autonomia, sempre em busca
de novos conhecimentos.

4) O que vem a ser a coerência no ato de educar segundo a perspectiva apresentada na


reflexão do texto?

A busca da coerência no ato de educar se torna indispensável que não tenhamos verdades
absolutas ou certezas inquestionáveis. A abertura à transformação é necessária e o movimento
deve ser constante. Para educar deve haver uma coerência não somente na fala, mas também
nas ações dentro e fora da sala de aula, pois nos tornamos exemplos para os alunos e cabe
somente a nós a construção de maneira positiva, do futuro de crianças, jovens e adultos que
estiverem em nossas mãos.

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