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ORGANIZADORAS:

Ana Patrícia Sá Martins

Aniele Carvalho de Araújo

Ana Beatriz Santiago

ILUSTRAÇÃO:
Thaís Cauane da Silva Brito

VirtualBooks Editora
Ana Patrícia Sá Martins
Aniele Carvalho de Araújo
Ana Beatriz Santiago
organizadoras

Construindo projetos
didáticos com as
tecnologias digitais
Universidade Estadual do Maranhão
UEMA Campus Balsas Curso de Letras Licenciatura

VirtualBooks Editora
AS ORGANIZADORAS

Ana Patrícia Sá Martins: Doutora em Linguística


Aplicada pela UNISINOSRS. Atua como professora
Adjunta no Departamento de Letras da
Universidade Estadual do Maranhão, e é
Professora do Mestrado em Educação
(PPGE/UEMA), dedicando-se, principalmente, à
pesquisas quanto a formação de professores e
metodologias de ensino de Língua Portuguesa e
Literatura, sobretudo, nos seguintes temas:
Tecnologias e mídias digitais, Gêneros digitais e
ensino, Formação de professores,
Multiculturalismo e Identidade docente. É líder do
grupo de pesquisa Multiletramentos no Ensino de
Línguas, registrado no Diretório do CNPq.

Aniele Carvalho de Araújo: Graduanda do Curso de


Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Língua
Inglesa e Respectivas Literaturas. Integrante do grupo
de pesquisa MULTILETRAMENTOS E ENSINO DE
LÍNGUA PORTUGUESA (MELP) e bolsista no projeto
de extensão 'FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
- multiletramentos e possibilidades para (re) desenhar o
futuro' (UEMA/Campus Balsas).

Ana Beatriz Santiago: Graduanda em Letras Português


e Inglês na Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA, campus de Balsas.
© Copyright 2022, organizadoras e autores.

1ª edição
1ª impressão
Ilustrações: Thaís Cauane da Silva Brito
(Publicado em janeiro de 2022)

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei no 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste
livro, sem autorização prévia por escrito do detentor dos direitos, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

MARTINS, Ana Patrícia Sá


ARAÚJO, Aniele Carvalho de
SANTIAGO, Ana Beatriz
BRITO, Thaís Cauane da Silva Brito

Construindo projetos didáticos com as tecnologias digitais. Organizadoras e autores. Pará de Minas,
MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2022. E-book formado em PDF

ISBN 978-65-5606-245-7

CDD - 370 Educação. formação de professores e metodologias de ensino. Gêneros digitais e


multiletramentos. Tecnologias e mídias digitais. Formação de professores. Multiculturalismo e
Identidade docente.. Brasil. Título.

CONSELHO EDITORIAL
Jaime Mendonça Fabrício Caetano Rios
editor Preparador de texto

Evane Machado Marcus Vinicius Marinho


Assistente editorial designer

Lívia Machado Adriano Correa Barros


Revisora Marcos Otávio Leite
Pré - impressores

VIRTUALBOOKS EDITORA – livros impressos e e-books.


http://www.virtualbooks.com.br
VirtualBooks Editora Fone / WhatsApp (37) 99173-3583 - capasvb@gmail.com
SUMÁRIO

Prefácio: Formação e(m) construção................................................................7


Ana Elisa Ribeiro

Construindo Letramentos Didático-digitais para uma educação além da


sala de aula...........................................................................................................10
Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 1: Desmistificando identidades Transfemininas em sala de aula:


tecnologias digitais para além do cistema......................................................15
Gustavo Barbosa Guimarães; Aniele Carvalho de Araújo; Ana
Júlia Nogueira Martins; Alanna Oliveira Moraes; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 2: Gênero textual Crônica e vozes verbais: minha leitura e


interpretação do mundo para além da sala de aula.....................................35
Ana Beatriz Santiago; Idelfonso Souza Jorge júnior; Luan Ribeiro
Costa; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 3: "Porque eu amo minha cidade!" As tecnologias digitais e o


ensino dos gêneros entrevista e portfólio.....................................................55
Elisane Da Silva Miranda; Railane Dos Santos Lima; Thauiny Brito
de Lima; Welder Coelho de Sousa; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 4: A valorização da cultura afro além do ambiente escolar......70


Adriele Neves da Silva Sousa; Maria Eduarda Nascimento Lima;
Guilherme Cordeiro da Silva; Maria do Espírito Santo de Carvalho Lopes;
Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 5: Poemas e e-portifólios: compartilhando nossos sentimentos..


.................................................................................................................................84
Juzileia Vale Souza Torres; Larissa Evangelista Sousa; Sara Pontes
Feitosa Sousa; Terezinha de Jesus Oliveira Araujo; Viviane Maria Araújo
França Gonçalves; Ana Patrícia Sá Martins
Capítulo 6: Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: o
caminho para o (não) fracasso na educação..................................................98
Maria Eduarda S. de Sousa; Adriele Santos Guida; Vitoria Lúcia
Ferreira Guimarães; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 7: A poesia falada em vídeo-poemas: A LITERATURA E A


EXPRESSÃO PELA VIDA.................................................................................115
Cleudiellen Sandes Rodrigues; Ellen Leite de Sousa; Sandryellen
Pimentel Saraiva; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 8: O cordel além da sala de aula...................................................132


Bruno dos Reis Miranda; Gustavo Nogueira Lopes; Maria Fernanda
Lopes Camilo; Ana Patrícia Sá Martins

Capítulo 9: A violência contra a mulher na literatura: discussões além da


sala de aula.........................................................................................................151
Ana Paula Correia da Silva; Denis Silveira Guedes; Érica Beatriz
Alves Vieira; Kaline dos Santos Soares; Rayganna Silva Gomes; Ana Patrícia
Sá Martins

Capítulo 10: A representatividade da mulher negra nas mídias


sociais..................................................................................................................172
Alexsandro dos Santos Coutinho; Antônia Paula Martins; Ana
Flávia Gomes de Andrade; Edileia da Silva Barbosa; Elza Vitoria Bezerra
Saraiva; Luciana dos Santos Oliveira; Samuel dos Santos da Cruz; Suzana da
Rocha Carvalho; Ana Patrícia Sá Martins
PREFÁCIO

FORMAÇÃO E(M) CONSTRUÇÃO


Ana Elisa Ribeiro*
CEFET-MG

Falar em formação de professores é como enxugar gelo: trabalho


infinito. E as razões disso são explícitas e interessantes. Trata-se de uma
profissão em eterna rolagem, atualização, discussão. O mundo muda
porque mudamos o mundo, o que exige reflexão, debate e experiência.
A angústia de estar sempre desatualizados é comum entre nós, mas
deve ser relativizada em uma sociedade acelerada, que mal nos dá
chance de discutir o que foi inventado ontem e que amanhã já será
passado. Sim, a relação entre os tempos é alucinante. E um dos itens
fundamentais para que possamos nos lançar aos debates importantes e
a pensar com colegas, coletivamente, é o livro. Um livro como este,
organizado pelas colegas Ana Patrícia Sá Martins, Aniele Carvalho de
Araújo e Ana Beatriz Santiago, pesquisadoras que reúnem futuros
professores e professoras em torno deste projeto relevante.
Esta obra é propositiva. Além de encorajar o debate, ela provoca as
práticas refletidas, experimentadas com tino de pesquisadores, e não
apenas a repetição robótica de instruções ou de receitas. Nada aqui vem
pronto. Os temas abordados podem ser espinhosos, os gêneros
discursivos são atuais, em conexão com o que já sabíamos antes de nos
tornarmos seres em contato com as digitalidades. Vejamos já no título:
Construindo projetos didáticos com as tecnologias; e atentemos para o
“construir” em processo, no gerúndio, em propostas que empregam
tecnologias, entenda-se, digitais, em sua maior parte, a começar pela
produção deste material mesmo, toda ela feita no Canva e
colaborativamente. São, então, duas camadas, ao menos, de
aprendizados: (1) enfrentar e usar uma ferramenta (2) em interação com
várias pessoas, unidas por um propósito e em torno do desejo de ser
professores e professoras alinhados ao nosso tempo e a uma educação
escolar contemporânea.

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Este livro digital tem 188 páginas coloridas, com diagramação dinâmica
e cheias de referências em imagens, links, hipertextos. Ele mesmo é uma
experiência de alta multimodalidade, ensejo para que outros e outras
professores/as adentrem esta trilha de leituras, escrituras,
possibilidades, todas passíveis de redesenho, como propõe a abordagem
multiletrada.
Além da apresentação escrita pela professora Ana Patrícia,
encontramos aqui dez capítulos que relatam e propõem o trabalho com
temas, textos e tecnologias, numa urdidura interessante, informada e
inteligente, capaz, aposto, de levar muitos e muitas colegas à ação, à
atividade, inspirados/as pela mão na massa destes/as estudantes e
docentes tão dispostos/as.
A abertura dos capítulos fica a cargo de um quinteto de estudantes-
docentes que pretendem desmistificar identidades trans em sala de aula,
discussão para lá de fundamental em tempos de homofobia explícita e
de moralismos doentes. Do ponto de vista dos temas, esta obra passa
ainda pelo amor às cidades, pela valorização da cultura afro, pelos
transtornos mentais e a família, pela violência contra a mulher e a
valorização da mulher negra em termos de representatividade nas
mídias. Incrível, não?
Já quanto aos gêneros discursivos estudados e propostos para a sala
de aula estão, entre os literários, a crônica, o poema, o videopoema e o
cordel, indo do popular ao cânone, numa bela coreografia entre nomes
menos e mais conhecidos. Outros gêneros, de outros domínios,
aparecem aqui, como a entrevista e as mídias sociais, o portfólio e uma
miríade de textos que nos circundam, que afetam nossa vida e nosso
cotidiano. É uma obra para pensar e fazer o que está dentro e o que está
fora da escola, mas evitando esse fosso geográfico e simbólico,
permitindo pontes inúmeras, passadiços constantes entre o que vivemos
em termos de linguagens e o que a escola pode fazer por nós, ampliando
e aprofundando conhecimentos e reflexões, além de aperfeiçoar nossas
práticas, tornando-as mais diligentes e políticas.

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Esta é uma obra construída coletivamente e que, sem dúvida, tem o
efeito de um convite para que todos e todas nós entremos no debate e
façamos parte desse conjunto de práticas e reflexões. Boa leitura!

*Professora titular do Departamento de Linguagem e Tecnologia do Centro Federal de


Educação Tecnológica de Minas Gerais, onde atua no ensino médio, no bacharelado em
Letras e no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens. Doutora em
Linguística Aplicada pela UFMG. Autora, entre outros, de Multimodalidade, textos e
tecnologias (Parábola Editorial, 2021).

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APRESENTAÇÃO

RE-EXISTIR NA EDUCAÇÃO É PRECISO!


Ana Patrícia Sá Martins

Existe um debate nas ciências sociais sobre se a


verdade e a qualidade das instituições de uma dada
sociedade se conhecem melhor em situações de
normalidade, de funcionamento corrente, ou em
situações excepcionais, de crise. Talvez os dois tipos de
situação sejam igualmente indutores de conhecimento,
mas certamente que nos permitem conhecer ou relevar
coisas diferentes. Que potenciais conhecimentos
decorrem da pandemia do coronavírus?
Boaventura de Sousa Santos (2020, p. 05)

A reflexão suscitada pelo sociólogo nos incita a (re) construir nossos


paradigmas, sejam eles educacionais, políticos, sociais, éticos,
econômicos e morais. As formas como (com) vivíamos com as pessoas,
com a natureza e com/nas instituições sociais têm sido transformadas
nos últimos anos em virtude de uma pandemia sanitária mundial que
impôs ações outras em nosso cotidiano.

Como professora formadora de (futuros) professores, tenho vivenciado


constantes exigências para a Educação, tais como a polivalência na
atuação docente, o domínio das tecnologias digitais, as necessárias
atitudes de sermos psicólogos motivacionais (para si, para os alunos e
para os demais colegas professores), etc. Tudo isso e muito mais para
continuar, ou ao menos tentar, re-existir no processo de
(trans)formAÇÃO como docente.

Nesse processo, uma temática se destaca em minhas práticas sociais


dentro e fora da universidade: a forte presença da tecnologia no
cotidiano dos alunos e a forma pela qual a prática da leitura e da escrita

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deles (e minha!) dialoga com o uso dos ambientes, dos recursos digitais e
da internet, uma vez que aqueles discentes e futuros professores
demostram uma dupla necessidade: aprender com o auxílio da internet e
das tecnologias digitais e apropriar-se criticamente das mesmas para
usos mais significativos em suas práticas sociais letradas, ou seja, são
urgentes perspectivas de formação que visem ao letramento acadêmico,
digital e didático.

O ano letivo de 2020, apesar de muitas tristezas em virtude das


milhares de vidas ceifadas, seja por falta de investimento do poder
público, seja pelo negacionismo que obscurece a sanidade da
humanidade, também foi um ano em que, junto com meus alunos,
aprendi muita coisa, afinal, ressignificamos e experenciamos (novas)
metodologias e nos reposicionamentos nas esferas de aprendizagem,
pois já não era tão simples dizer quem era a professora e quem era o
aluno.

Aprendizagens que, embora tateadas e desenhadas antes do que se


convencionou chamar de ensino remoto emergencial, tinham, agora,
maiores possibilidades de acontecer, sobretudo quando falamos em
pedagogias de projetos e tecnologias digitais. O que para muitos era
apenas momentos de “fazer o diferente”, “fazer o incomum” nas aulas,
dessa vez, pela imposição de uma realidade inesperada por todos, era o
urgentemente exigido e almejado.

Nessa perspectiva, pudemos, então, consolidar nossa base formativa


na/para pesquisa-formAÇÃO de (futuros) professores. O que
denominei, desde a pesquisa de doutoramento, de PROMULD, uma
pedagogia de projetos sistematizada a partir de uma rede de atividades
acadêmico-profissionais, organizadas sob a mediação colaborativa de
alunos e professores, que, por meio da escrita (auto)reflexiva, busca
desenvolver o ensino-aprendizagem da língua com os gêneros
multimodais num dado contexto social, oportunizando a construção de
letramentos didático-digitais. Esses, por sua vez, compreendemos como

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as capacidades individuais e sociais de mobilizar ações pedagógicas que
transformem artefatos digitais em instrumentos de ensino, visando às
práticas situadas de uso responsivo da leitura e da escrita nas diversas
instituições sociais.

Uma das principais peculiaridades do PROMULD reside na crença de


que é necessário oportunizarmos aos futuros professores a construção
do trabalho didático com os gêneros, inseparável dos contextos no e
para o local de trabalho; especialmente, com os gêneros multimodais
que circulam em suportes/ambientes digitais dentro e/ou fora do
ambiente acadêmico e escolar. Ademais, acreditamos que propor aos
futuros professores uma postura etnográfica sobre e com os contextos
escolares e fazê-los refletir sobre, por meio da escrita com gêneros da
esfera acadêmico profissional, lhes permitirá um maior agenciamento na
aprendizagem, ao construírem conhecimentos a parti de si e com os
outros.

A partir do PROMULD, diversos trabalhos foram produzidos


colaborativamente, como, por exemplo o e-book construído na
plataforma Canva, com licenciandos de Letras, durante um semestre
letivo de 2020, na disciplina de Literatura Africana. Intitulado
Descobrindo a literatura afro para além da escola, o livro foi publicado no
início de 2021 pela editora da Universidade Estadual do Maranhão e
está disponível para download em https://www.editorauema.uema.br/?
page_id=212&idBook=196

Essa experiência nos rendeu a possibilidade de compartilharmos com


professores e alunos de diferentes regiões do Brasil conhecimentos e
aprendizagens na pesquisa-formAÇÃO.

Um ano depois, no início de 2022, em nome dos licenciandos de Letras


da UEMA, convidamos você, amigo professor, para conhecer,
experenciar, sugerir e compartilhar uma outra grande aprendizagem
nossa: o e-book Construindo Projetos Didáticos com as tecnologias
digitais: aprender para além da sala de aula. Assim como o anterior, tam-

12
bém foi produzido de maneira totalmente colaborativa na plataforma
Canva, com o objetivo de apresentar capítulos didáticos aos professores
da rede básica de ensino que sugerissem a possibilidade do trabalho
pedagógico com projetos e com usos críticos e apropriados das
tecnologias e ambientes digitais na produção de gêneros multimodais
que transgredissem o espaço da sala de aula. Meus colaboradores e
protagonistas, co-autores desse e-book, foram os licenciandos que
estavam cursando comigo as disciplinas de Didática e de Avaliação
Educacional e Escolar, em turnos distintos – vespertino e noturno, no
primeiro semestre de 2021.

Temos observado que, ultimamente, professores, estudiosos, pais e


demais membros da comunidade escolar têm manifestado preocupação
com o advento e uso desenfreado das tecnologias digitais, que elas
possam afastar os estudantes dos livros, ou da leitura formal que eles
representam. Sabemos que o insuficiente e desigual acesso à internet
e/ou ao uso crítico e apropriado das tecnologias ainda são entraves para
a construção de currículos, na formação de professores e nas escolas da
rede básica, que lhes possibilitem integrar o uso social das tecnologias
às práticas escolares.

Sabemos que as imposições ao trabalho dos professores, ao uso


didático das tecnologias digitais, não irão cessar com o fim da pandemia
e do ensino remoto emergencial. Contudo, cobrar-lhes abordagens
pedagógicas, sem políticas públicas que incentivem e fomentem
formações de professores adequadas às distintas realidades brasileiras,
é cruel e inócuo.

No entanto, o que podemos afirmar, meu caro companheiro nessa


árdua caminhada da docência, é que as experiências em
desenvolvimento, visando essa integração, têm evidenciado que os
alunos, sejam eles universitários ou do ensino básico, valorizam essas
iniciativas, sentindo-se mais confortáveis ao desenvolverem atividades
que utilizam as linguagens próprias do contexto digital e os ambientes

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online que lhes são familiares, e muitos professores conseguem
perceber esse movimento. Nossas práticas evidenciam também que as
aprendizagens se tornam mais significativas quando os alunos se
envolvem com as atividades propostas e quando estas oportunizam a
colaboração, a comunicação e a partilha do conhecimento, o que
acontece prioritariamente quando estão em rede. Evidenciam ainda, mas
não menos importante, que essa integração provoca mudanças na
escola/na universidade, pois percebe-se que se mudam as práticas, as
concepções, os sujeitos, enfim, as aprendizagens para e com todos.

Nesse sentido que, após muito trabalho colaborativo, compartilhamos


nosso e-book com você, amigo professor, com o objetivo de que possa
ser uma dentre tantas mãos amigas que estão dispostas a dividir
aprendizagens. Afinal, a convivência em uma sociedade cujos
governantes não têm demonstrado vontade em priorizar a educação, a
ciência, sobretudo das/nas instituições públicas com o desmonte do
sistema educacional, trabalhar na formação educacional, com leituras e
aprendizagens que engajam nossos alunos na cidadania e na
humanidade passa a ser uma atitude revolucionária, através da qual
possamos re-existir.
Boa leitura e excelente trabalho!

14
1
CAPÍTULO Gustavo Barbosa Guimarães
Aniele Carvalho de Araújo
Ana Júlia Nogueira Martins
Alanna Oliveira Moraes
Ana Patrícia Sá Martins

DESMISTIFICANDO IDENTIDADES
TRANSFEMININAS EM SALA DE
AULA
Tecnologias digitais para além do cistema
15
1. Apresentação
Tendo em vista que a temática LGBTQI+ é um assunto pouco
discutido em sala de aula, o presente capítulo abordará acerca da
temática transfeminina em sala de aula. Propomos como atividade a
produção de dois gêneros: o cartaz com circulação no Instagram e o
relato de feedback, com o objetivo de saber sobre as impressões dos
alunos com relação ao assunto trabalhado e a atividade proposta. Com
este capítulo, temos como objetivo desconstruir preconceitos e
esclarecer com informações e dados sobre o universo transgênero,
tendo o foco principal em mulheres trans, visando desmistificar a visão
estereotipada deste grupo na sociedade. A partir desses gêneros
discursivos, propomos uma atividade didática acerca da temática, a fim
de desconstruir preconceitos que impedem a realização dos direitos
civis desse grupo. Também apresentaremos dados e reportagens acerca
da vida das mulheres trans.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 160


2. Gêneros Textuais para além do Cistema

Associação Centro de Apoio e Inclusão de Travesti e


Transexuais (CAIS) durante a Marcha da Visibilidade
Trans. Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

VOCÊ SABIA QUE O BRASIL É O PAÍS QUE MAIS


MATA PESSOAS TRANSGÊNEROS NO MUNDO?
Segundo a Associação Nacional de Simplificando
Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA), o
'Cis' é o termo utilizado para
Brasil teve 175 assassinatos de pessoas se referir ao indivíduo que se
transgêneros no ano de 2020, equivalente a identifica com o seu gênero de
nascença. O termo 'cistema' é
uma morte a cada dois dias. As vítimas eram
utilizado com a intenção de
todas mulheres trans/travestis, em sua denunciar a existência de
maioria pretas, pobres e trabalhavam como cissexismo e transfobia na
sociedade.
prostitutas na rua. O ano de 2020 foi
'Transgêneros' refere-se a
recorde no número de assassinatos contra pessoas que não se
essa população desde que o ANTRA identificam com o gênero ao
qual foi lhe atribuído no
começou a divulgar esses dados, em 2018. nascimento.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 17


Vale ressaltar a subnotificação gerada a partir dessa ausência de
dados governamentais sobre a violência física sofrida pela população
transgênero brasileira, tendo em vista que nas instituições de
atendimentos a essas vítimas constam somente o documento civil,
muitas vezes divergindo com sua identidade de gênero.

Figura 01. Assassinatos no Brasil entre 2008 e 2021

Fonte: DOSSIÊ ASSASSINATOS E VIOLÊNCIA CONTRA TRAVESTIS E TRANSEXUAIS


BRASILEIRAS EM 2020. (Publicação em 2021)

Com base na análise do gráfico acima, é possível afirmarmos que a


média das violências contra pessoas trans, entre os anos de 2008 a
2020, é de 122,5 assassinatos por ano. No ano de 2020, percebemos
que o número de assassinatos se encontrou acima da média em
números absolutos, revelando um aumento de 201%, comparado ao ano
de 2008 (ano que apresenta o número mais baixo de assassinatos
relatados). Ressaltamos também que, mesmo com a pandemia da Covid-
19, no ano de 2020, os números de casos apresentaram um aumento
significativo, segundo a publicação nos boletins bimestrais durante o
ano de 2020, considerando esse ano como o ano que mais matou
pessoas transgênero. (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2021)

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 18


Figura 02. Ciclo dos grupos responsáveis
pela exclusão e/ou violência das pessoas
trans

Fonte: DOSSIÊ ASSASSINATOS E VIOLÊNCIA CONTRA


TRAVESTIS E TRANSEXUAIS BRASILEIRAS EM 2020.
(Publicação em 2021)

Benevides e Nogueira (2021) relatam ainda que, no decorrer dos 4


anos em que elas realizam a pesquisa sobre a violência contra pessoas
trans no Brasil, foi possível observar um ciclo de exclusões/violências
como os principais responsáveis pelo processo de precariedade e
vulnerabilidade dessas pessoas. Esse ciclo tem, segundo as autoras,
como consequência a marginalização e, em muitos casos, a morte, em
virtude da falta de acesso a direitos fundamentais, sociais e políticos, e
ainda pela omissão da parte do Estado em garantir o bem-estar social
dessa população.
Os níveis de rejeição familiar para com pessoas trans são assustadores,
podendo ocasionar um impacto devastador sobre os indivíduos e fazer
com que eles se isolem dos espaços sociais que são fundamentais para o
seu bem-estar, além de afetar também a sua autoestima. Ademais,
conforme as pesquisadoras, essa atitude familiar ocasiona o aumento
das dificuldades ao acesso e continuidade na formação escolar,
estabilidade econômica, patrimonial e habitacional. Devido à falta de
suporte e apoio para com estas pessoas, a qualificação profissional se
torna impossível, elas são impedidas de exercerem a sua cidadania e
esses fatores causam impactos na saúde mental, altos níveis de
isolamento e suicídio. Contrário a isso, o acolhimento da família é um
fator que protege os jovens trans, contribui para a redução da baixa
escolaridade, da exclusão escolar, das taxas de depressão, ansiedade, do
uso excessivo de substâncias tóxicas, tentativas de suicídio e outros
agravamentos gerados pela exclusão (BENEVIDES;NOGUEIRA, 2021).

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 19


NÃO EXISTE CADEIA HUMANIZADA

Segundo a cartilha intitulada "Não existe cadeia humanizada" divulgada pelo


instituto ANTRA, quando mulheres trans e travestis ingressam em penitenciárias,
seus nomes e suas identidades femininas são ignorados. Esse fato ocasiona o
descumprimento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que garante a
inviolabilidade de suas identidades de gênero.
Vale constar também que a Constituição Federal Brasileira prevê como um de seus
objetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV), como
também, estabelece o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamento
do Estado Democrático de Direito.

Reportagem exibida no Fantástico, no dia 01 de Março de 2020,


apresentada pelo Dr. Dráuzio Varella, onde retrata a realidade de
mulheres trans confinadas em cadeias masculinas. Segundo o
programa, ao todo são cerca de 700 mulheres trans presas só no
estado de São Paulo.

Clique na imagem para assistir a reportagem

No ano de 2021, segundo os dados fornecidos pela Associação


Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Brasil registrou a morte
de 89 pessoas trans no 1° semestre do corrente ano. Entre esses
números, registrou-se: 80 assassinatos e 9 suicídios, além de 33
tentativas de assassinatos e 27 violações de direitos humanos. Se
realizarmos uma pesquisa simples na internet, podemos observar o
quanto a violência está direcionada às pessoas trans. Observamos, de
maneira assustadora, que 8, entre cada 10 notícias, com as palavras
“travesti” ou “mulher trans”, nas principais abas de noticias, encontram-
se resultados relacionados à violência e/ou às violações de direitos
humanos para com essas pessoas.
Perceber esses elementos durante a pesquisa não é apenas um
projeto institucional, mas um projeto de vida. Os resultados
encontrados nessas buscas são essenciais para pensarmos nas várias
formas de enfrentar o CIStema assassino e as tentativas de homicídios
contra pessoas trans no país.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 20


Figura 03. Assassinato de pessoas trans no Brasil por semestre

Fonte: BOLETIM Nº 002-2021 (Associação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA)

Observamos, no gráfico acima, que a média dos semestres dos


últimos anos é de 84 casos, sendo 14 casos/mês. No ano de 2021,
tivemos, até o momento, a média de 13,3 casos/mês, chamando-nos
atenção para a proximidade com a média de casos por ano, exigindo
atenção durante o ano (ANTRA, 2021).

Para saber mais...


Matéria sobre Roberta, uma
mulher trans, negra, moradora
de rua, que teve 40% do seu
corpo queimado por um
adolescente, em Recife (PE),
por motivo de transfobia. A
vítima teve ambos os braços
amputados e acabou falecendo
16 dias após sua internação (9
de julho).
Para ler a matéria completa, clique no botão
ao lado.

Destacamos ainda que a ANTRA, além de mapear os dados acerca da


violência contra pessoas trans, também realiza o mapeamento desse
grupo (Travestis, Mulheres Transexuais, Homens Trans e demais
pessoas trans) na política.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 21


O Brasil, esse mesmo país que é recorde em violência contra pessoas
trans, foi o país que teve uma representatividade significativa dessas
pessoas nas eleições para prefeitos e vereadores, em 2020, bem como
uma vitória importante nas urnas. A associação mapeou em 25 estados
do país a candidatura de 294 pessoas, sendo: 30 candidaturas coletivas
e apenas 2 para prefeitura e 1 para vice-prefeitura. Dentre esses
candidatos, encontravam-se 263 travestis e mulheres trans, 19 homens
trans e 12 candidates com outras identidades trans. Esses dados
representam um salto de 226% em comparação com as eleições de
2016, quando houve apenas 89 candidaturas e 8 pessoas eleitas. Com
isso, foram eleitas 30 candidaturas trans em 2020.
A figura 04 foi retirada do Saiba Mais!
site da ANTRA, e nos apresenta
Confira a lista
o percentual por região acerca dos candidatos
trans nas
da candidatura de pessoas trans eleições
municipais de
no Brasil, nas eleições de 2020. 2020.
O gráfico nos mostra um Acesse:
https://antrabrasil.org/eleicoes2020/
grande percentual na Região https://antrabrasil.org/2020/11/16/candidaturas-
trans-eleitas-em-2020/
Sudeste (41%) e em menor
percentual na Região Norte
(9%).
Figura 04. Candidatura trans por região do Brasil

Fonte: Mapeamento de Candidaturas de Travestis, Mulheres Transexuais, Homens Trans e


demais pessoas Trans em 2020 – (ANTRA)

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 22


Quanto ao perfil dessas candidaturas, constatou-se, em uma das
pesquisas realizadas pela ANTRA, que 69% dos candidatos
correspondiam a pessoas negras (pretas ou pardas) e 90%
correspondiam a pessoas que expressam o gênero feminino (travestis e
mulheres trans). Com relação a idade dessas, 29% estão entre a faixa
etária de 18 e 29 anos, 43% entre 30 e 39 anos, e 25% entre 40 e 49
anos. As demais idades, correspondentes a 50 anos ou mais,
representam 3%. A partir da discussão anterior, as candidatas trans
eleitas nas eleições do ano de 2020, também enfrentam a violência,
ameaças, preconceito, intolerância dentro da vida política, como
parlamentares eleitas democraticamente.
Essas parlamentares relatam, Saiba Mais!

em uma reportagem no Clique no botão abaixo e saiba


mais sobre mulheres trans
Fantástico, que sofrem transfobia parlamentares que lutam
diariamente dentro do congresso
dentro do próprio partido e no brasileiro.
local onde trabalham, além de
grupos reacionários que as atacam
de forma virtual, através de
mensagens de ódio e ameaças às Figura 5: Benny Briolly

suas vidas.
De forma presencial, esses grupos chegam a invadir seus locais de
trabalho e, sem que haja a proteção necessária, essas mulheres acabam
recorrendo à seguranças particulares para que possam se sentir seguras.
É o caso de Benny Briolly do partido PSOL, eleita a primeira vereadora
trans de Niterói no estado do Rio de Janeiro, que teve de deixar o país
em novembro do ano passado (2020), por causa de ameaças de morte
durante a campanha eleitoral e no seu mandato. A vereadora acionou a
polícia para sua proteção, mas não obteve respostas. Somente em Maio
de 2021, Benny Briolly conseguiu ser incluída no Programa de Proteção
aos Defensores dos Direitos Humanos e voltou ao Brasil.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 23


TRAVESTI E RESPEITO
Sabemos que o respeito aos direitos cíveis de pessoas
transgênero são negligenciados todos os dias, no entanto,
você leitor ou leitora, sabia que os direitos igualitários
constitucionais e a cidadania de pessoas trans foram
concebidos só recentemente?

Em 29 de janeiro de 2004, um grupo de mulheres e


homens trans e travestis realizaram uma caminhada em
Brasília, com a campanha "Travesti e Respeito". A caminhada
tinha como objetivo a reivindicação de direitos para a
comunidade transgênero e mostrar ao Congresso Nacional a
importância desse movimento. O Ministério da Saúde, no
mesmo dia da caminhada, lançou a campanha "Travesti e
Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos". A
campanha obteve grande repercussão em todo o país, o que
tornou essa data um grande marco para a luta e defesa da
população trans.

3. Conhecendo os Gêneros Textuais


Nesta seção, apresentaremos acerca dos gêneros "cartaz", mais
especificamente o cartaz expositivo e o "relato" que farão parte da nossa
proposta de atividade, a ser detalhada na seção 5 deste capítulo.

Gênero Textual: cartaz


O gênero textual cartaz faz parte dos diversos gêneros textuais
existentes com a finalidade de transmitir uma mensagem. É um gênero
curto, repleto de elementos que direcionam a um extenso campo de
interpretação, tendo como especial função a informação, bem como o
ato apelativo para com o seu interlocutor (SOUZA; CÂNDIDO;
CAVALCANTI, 2019; SILVA, 2020). Conforme Silva (2020), este gênero
constitui-se das seguintes características para que a mensagem seja
transmitida de forma eficaz:
Emprego dos verbos no modo imperativo;
Linguagem verbal e não verbal;
Texto curto, sugestivo e adequado ao público;
Criatividade do produtor;

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 24


Figuras de linguagem;
Clique no botão abaixo para
Preocupação com a estética do cartaz, saber mais sobre o gênero
ou seja, conformidade multissemiótica textual cartaz.
(tamanhos das letras, imagens,
espaçamento, utilização de cores etc).
Vejamos alguns exemplos deste
respectivo gênero:

Neste cartaz, observamos a presença de


recursos multissemióticos (coloração
vermelha à direita, demonstrando sangue; ao
fundo, na parte branca, percebemos frases
homofóbicas ainda bastante presentes na

Fonte: Nós do Sul

sociedade atual e a imagem de uma pessoa


negra, representando as vítimas da
homofobia); textos curtos que transmitem a
mensagem de forma objetiva.

Neste outro exemplo, observamos os


recursos multissemióticos (fotos de pessoas
e o uso das cores - tanto no design como nos
textos); também notamos a objetividade dos
textos para transmitir a mensagem acerca do Fonte: Observatório G
uso do nome social por Travestis, Mulheres
Transexuais e Homens Trans, que é
garantido por meio da Lei 6.329, de 23 de
Março de 2018, do Rio de Janeiro.

Nestes cartazes, é possível identificar


características próprias de manifestações, nas
quais a elaboração deles não envolve tantos

Fonte: Brasil de Fato

fatores quanto os dos anteriormente expostos. No


entanto, notamos uma preocupação com o
discurso utilizado (frases marcantes e imperativas)
e a estética (o primeiro, traz as cores da bandeira
LGBTQIA+ ao fundo e o segundo dá destaque a
palavra "Amor" ao utilizar uma cor diferente).

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 25


Exemplificando!

O vídeo a seguir retrata o processo de


construção de uma campanha publicitária
da marca de cosméticos "Lola Cosmetics".
Ao assistir, é possível notar como a
construção da estética de um cartaz de Making Off - oH!Maria by Lola Cosmetics
publicidade leva em conta diversos Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?
v=IJov_Mvi2UA&t=25s&ab_channel=LolaTV
aspectos.

O gênero cartaz apresenta várias funcionalidades e se encontra em


diferentes meios de circulação, aborda diversas temáticas, como
observamos nos exemplos apresentados acima. Neles, percebemos o
uso deste em campanhas acerca da luta contra a homofobia, o uso do
nome social por pessoas trans, propaganda de uma marca de cosmético
protagonizada por pessoas trans e o uso em manifestações contra a
homofobia. Para cada objetivo, este gênero constituiu-se de elementos
que são específicos para que a mensagem seja transmitida com eficácia
ao interlocutor.
Diante disso, a nossa proposta de
Exemplificando a proposta!
produção de cartazes terá como meio
Clique no botão abaixo para
de circulação a rede social Instagram,
saber mais sobre como é a
proposta. como as publicações nesta mesma rede
social apresentada na caixinha ao lado.
Consideramos este gênero relevante
por ele apresentar características
multissemióticas, a possibilidade de abor
dar diversos assuntos, por ser uma produção que alcança um grande
número de leitores e por permitir aliar as tecnologias, tanto na
produção como na circulação do gênero.

Gênero Textual: relato (feedback)


O gênero relato aqui proposto é um instrumento que permite a
socialização das experiências vivenciadas, reformulando teorias e
práticas. Durante a sua produção, o escritor precisa voltar-se para si, e
tornar-se a sua maior referência para a produção do seu texto.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 26


O autor coloca em destaque a descrição e
Para Saber Mais!
a análise dos acontecimentos que ele
Clique no botão abaixo
vivenciou, suas interações, observações, ou para saber mais sobre o
seja, todo o processo vivenciado, sendo um gênero textual relato.
sujeito ativo na prática que lhe foi
proporcionado (FERREIRA, 2017). Neste
capítulo, iremos sugerir como produção final
da atividade que será proposta na seção 5, o gênero textual relato de
feedback, que é um texto no qual o indivíduo descreve, informa de
maneira pessoal, sobre a sua percepção relacionada a uma pergunta
instrucional, permitindo também que o indivíduo compare seu
desempenho atual de algo determinado com o desempenho padrão ou
esperado. Além disso, o feedback apresenta informações do indivíduo
após a construção de algo com o propósito de modelar suas
compressões acerca do assunto. Alves e Abreu-e-Lima (2011 apud
MORY, 2004).
O relato tem como características a narração de forma breve sobre
um fato específico que foi vivenciado por uma pessoa, suas
consequências e reflexões; e a apresentação dos elementos básicos da
narrativa tais como: sequência de fatos, pessoas, tempo, espaço. Além
disso, este gênero é constituído pelos seguintes elementos gramaticais
e de linguagem:
O protagonista é o narrador, ou participante da ação relatada;
Os verbos e os pronomes são empregados na 1ª pessoa do singular
ou do plural (Eu/Nós);
Os verbos empregados variam entre o pretérito imperfeito e
pretérito perfeito (o tempo verbal é passado);
A linguagem utilizada é a norma não-padrão da língua;
São priorizadas as ações e a descrição do lugar, nos quais os fatos
ocorreram, ou seja, o leitor precisa “visualizar” mentalmente o
espaço e todos os envolvidos no relato;
A utilização de advérbios para realizar a marcação das sequências
das ações;

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 27


A seguir, vejamos trechos de um exemplo deste gênero, produzido
por uma das autoras deste capítulo, durante a disciplina de Tecnologias
Aplicadas ao Ensino de Línguas (4° Período). O relato foi produzido com o
propósito de refletirmos acerca da atividade, dos desafios que
encontramos durante o desenvolvimento de uma tecnobiografia (uma
das atividades propostas nesta disciplina). No relatos, colocamos os
nossos sentimentos com relação a atividade, impressões e contribuições
para a nossa formação acadêmica.
[...] a princípio me causou receio, pois tenho enorme dificuldade de escrever algo sobre mim,
então, não sei ao certo se ficou a altura do esperado. No entanto, mesmo diante de receios,
esperava transpor meus gostos, afinidades e vivências com as tecnologias, mostrando, mesmo
que minimamente, traços da minha personalidade. E como nossas tecnobiografias foram
compartilhadas entre a turma, me influenciou a produzir algo mais descontraído, pois penso que
talvez, meus colegas tenham uma imagem muito séria de mim. [...]

[...] como lido com as tecnologias digitais, como cidadã e principalmente como professora em
formação, pois com a imprevisível pandemia da covid19, ficou evidente a necessidade de
termos um letramento digital para que possamos dar continuidade ao que a pandemia
parcialmente deixou estagnado. Por isso, penso que o exercício de produção da tecnobiografia,
além de possuir sentido em sua prática, diante do contexto em que estamos vivendo, foi algo
divertido e para alguns colegas, foi emocionante, o que será de grande benefício para levarmos
para a sala de aula, de nossos futuros alunos.

Nos trechos do relato acima, podemos observar a predominância da


1° pessoa do singular (Eu), o emprego dos verbos no pretérito imperfeito
(esperava) e no pretérito perfeito (causou). É possivel notar também os
sentimentos da autora com relação a atividade e também as suas
reflexões acerca desta (segundo trecho). A autora relata a importância do
letramento digital e a necessidade do uso das TDIC (Tecnologias Digitais
da Informação e Comunicação) tanto na sua formação acadêmica como
a sua inserção no ensino-aprendizado.
Diante disso, consideramos este gênero relevante pela possibilidade do
autor mostrar, através da escrita, o seu desempenho com determinada
atividade desenvolvida, podendo descrever desde o seu primeiro
impacto com a proposição, sentimentos, interções, vivências, ou seja,
todo o processo minuncioso de determinada proposição.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 28


4. Leitura, Debate e Ação

INTERPRETANDO TEXTOS REAIS

1. Leia o relato de Manuella Cortez, no qual são relatados os


preconceitos e transfobia que viveu e vive durante sua vida. Em
seguida, analise e identifique as marcas da linguagem oral presentes
no texto.
Texto 1: Relato de Manuella Cortez

"[...] Minha luta diária é por respeito e igualdade, é transmitir informações e quebrar tabus
com relação a transexualidade. Mulheres trans e travestis são marginalizadas, são vistas
como vulgares, sem educação por muitas pessoas, e minha missão é vir quebrando essa visão
[...] Meu maior desafio é ter que viver explicando e dando aula pras pessoas sobre o que é ser
trans, e ouvir comentários como "mas você até parece uma mulher de verdade", "nossa é
trans com essa voz", "a gente fica mas ninguém pode saber", mulheres trans são sim, vistas
como fetiche e objeto sexual, maioria dos homens procuram a gente na madrugada pra saciar
a sede de desejo reprimido que eles tem, muitos ficam com uma trans na noite e no dia zuam,
riem, fazem chacota [...] Outra questão que eu ouço muito é "nossa você é tão inteligente,
fala super bem nem parece que é trans", como se pessoas trans não pudessem ser inteligentes
e estudadas, muitas pessoas também me chamam de homem, colocam em pauta a questão
da religião, que é outro pólo que engatinha muito preconceito em cima de nós, e de toda
comunidade LGBTQIA+, a religiosidade, já fui muito humilhada dentro de igrejas, por pessoas
que se diziam "servas de Deus [...]"

2. Os textos a seguir apresentam a mesma temática do texto 1, mas de


maneira diferente. O texto 2 é o trecho de uma reportagem do jornal
Edição do Brasil e o texto 3 é o trecho de uma música da cantora e atriz
brasileira Linn da Quebrada. Apesar de abordarem o mesmo assunto, os
textos fazem isso de maneiras diferentes. Aponte as características que
diferem o gênero musical do jornalístico.
Texto 2
"[...] De acordo com o ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Brasil conta
com 90% da população trans tem como fonte de renda a prostituição. Esse alto índice é
causado por diversos fatores, dentre eles estão a falta de oportunidades no mercado de
trabalho, ausência de qualificação profissional e exclusão social. A associação diz ainda que a
média de idade de pessoas trans que são expulsas de casa é de 13 anos, o que indica que o
provável caminho que essas crianças irão percorrer para sobreviver

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 29


nas ruas, é o da prostituição." Disponível em
<http://edicaodobrasil.com.br/2021/05/28/90-da-populacao-trans-no-brasil-tem-
prostituicao-como-fonte-de-renda/>. Acesso em: 21 de jul. 2021.

clique aqui para ouvir Mulher

Nas ruas pelas surdinas é onde faz o seu salário


Aluga o corpo a pobre, rico, endividado, milionário
Não tem Deus
Nem pátria amada
Nem marido
Texto 3: Trecho da
Nem patrão
música "Mulher" da
Mc Linn da Quebrada O medo aqui não faz parte do seu vil vocabulário"

5. Produzindo o gênero cartaz e relato.


Recursos
Siga os passos:

Divida a sua turma em 5 equipes (ou Você vai precisar de:


mais, conforme achar necessário); uma conta no Canva
Após a divisão, proponha a elaboração uma conta no
de um cartaz divulgativo para ser Instagram
publicado no Instagram no qual os alunos
produzirão acerca de Mulheres
Transfemininas. Nessas produções, os Após a produção, os alunos deverão
alunos deverão colocar todas as postar na conta do Instagram criada
informações que acharem pertinente por eles.
sobre a pessoa que escolheram Após a produção do cartaz, as equipes
(biografia, profissão, produções, ou seja, produzirão um relato de feedback
aquilo que acharem mais relevante); contando sobre a sua experiência com
relação a atividade, seguindo o roteiro
da página seguinte.
Para entender melhor
Veja um exemplo de cartaz adaptado ao formato de postagem de Instagram, feito por
uma das autoras deste capítulo.

Clique na imagem para


acessar o exemplo.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 30


Para o relato, sugerimos que considere os seguintes
questionamentos:
Como você reagiu com a proposição da atividade e com a temática sugerida? Quais os
primeiros pensamentos? Quais os receios? Quais as expectativas?
Essa temática já havia sido trabalhada em sala de aula? Se sim, como ela foi abordada?
Quais fatores influenciaram seu grupo na seleção do conteúdo, elaboração e
organização do cartaz?
Vocês encontraram algum obstáculo durante a produção? Se sim, como resolveram?
O gênero cartaz é multimodal. Considerando isso, quais fatores influenciaram o seu
grupo na escolha dos recursos presente em seu cartaz? (Cores, imagens, design etc...)
Descreva as etapas que o grupo selecionou e desenvolveu para a elaboração e
postagem do cartaz.
Qual a opinião do grupo sobre a atividade e a temática proposta? Você acha que essa
atividade contribuiu para o seu ensino-aprendizado? Quais transformações ela
proporcionou ao grupo?

6. Divulgando Nossa Proposta


Caro colega professor,
Chegamos ao final do capítulo deste e-book e esperamos que a nossa
proposta possa contribuir significativamente com as sua aulas de Língua
Portuguesa. Atualmente, a temática LGBTQI+ gera muita polêmica na
dita sociedade do século XXI e é pouco debatida (ou nunca se trabalhou
sobre esse assunto) em nossas escolas. Diante disso, sendo a instituição
escolar um lugar de formação, transformação, debate e
desenvolvimento do pensamento crítico de nossos educandos,
acreditamos que, ao trabalhar essa temática em nossas aulas, podemos
contribuir com a transformação da realidade na qual vivemos.
Infelizmente, na nossa sociedade ainda predominam exacerbadamente a
intolerância, o preconceito, a descriminação, exclusão e, sobretudo, a
violência extrema para com esse grupo.
Portanto, colocamos a sua disposição, caro colega professor, uma
proposta que visa ressignificar a concepção de nossos alunos acerca
desta temática, visto que pouco se trabalha sobre esse tema em nossas
escolas e que possa colaborar com o seu planejamento de aula.

Um abraço dos autores deste capítulo!

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 31


AUTORES
Gustavo Barbosa Guimarães: Graduando do Curso de
Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e
Respectivas Literaturas. Integrante do grupo de pesquisa
ATLAS TOPONÍMICO DO ESTADO DO MARANHÃO -
ATEMA: Mesorregião Centro Maranhense, Microrregiões
de Presidente Dutra e do Médio Mearim e bolsista no
projeto de extensão 'TOPONÍMIA DA MICRORREGIÃO
DO MÉDIO MEARIM: Polo Pedreiras' (UEMA/Campus
Balsas).

Aniele Carvalho de Araújo: Graduanda do Curso de


Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e
Respectivas Literaturas. Integrante do grupo de pesquisa
MULTILETRAMENTOS E ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA (MELP) e bolsista no projeto de extensão
'FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES -
multiletramentos e possibilidades para (re) desenhar o
futuro' (UEMA/Campus Balsas).

Ana Júlia Nogueira Martins: Graduanda do Curso de


Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e
Respectivas Literaturas. Integrante do grupo de pesquisa
ATLAS TOPONÍMICO DO ESTADO DO MARANHÃO -
ATEMA: Mesorregião Centro Maranhense, Microrregiões
de Presidente Dutra e do Médio Mearim (UEMA/Campus
Balsas).

Alanna Oliveira Moraes: Graduanda do Curso de


Licenciatura em Letras, Língua Portuguesa, Língua Inglesa
e Respectivas Literaturas (UEMA/Campus Balsas).

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 32


7. Referências
ALVES, M. N.; ABREU-E-LIMA, D. M. O feedback e sua importância no
processo de tutoria a distância. Pro-Posições, Campinas, v. 22, n. 2 (65),
p. 189-205, maio/ago. 2011. Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/pp/a/jDXs9WTMdTsvNVYxVQCKcsP/?
format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 22 de jul. 2021.
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Disponível
em: <https://antrabrasil.org/>. Acesso em: 15 jul. 2021.
BENEVIDES, B. G.; NOGUEIRA, S. N. B. Dossiê dos assassinatos e da
violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. São Paulo:
Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021. Disponível em: <
https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/12/nao-existe-cadeia-
humanizada-nf.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2021.
CCJ – CENTRO CULTURAL DA JUVENTUDE. Linn da Quebrada -
Mulher (Ao Vivo no CCJ). YouTube, 5 out. 2017. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=nc65dQtVANg>. Acesso em: 23
jul. 2021.
Canal Bely Cordy. Gênero Textual Cartaz. Youtube. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?
v=eIx5GMzgYlA&ab_channel=BelyCordy>. Acesso em: 14 jul. 2021
Canal Educa Play. Gêneros Textuais - Relato. Youtube, 2 dez. 2020.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LRj8N5rX1sc>.
Acesso em: 22 de jul. 2021.
CANDIDATURA Trans Forma Eleitas em 2020. Associação Nacional de
Travestis e Transexuais (ANTRA). Disponível em:
<https://antrabrasil.org/2020/11/16/candidaturas-trans-eleitas-em-
2020/>. Acesso em: 16 jul. 2021

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 33


FERREIRA, E. C. A. Escrita na Universidade: apontamentos sobre o
gênero relato. In: Simpósio Nacional de Linguagens e Gêneros. 4., 2017,
Campina Grande (PB). Anais SINALGE. Campina Grande: Editora Realize,
2017. p. 1-13. Disponível em: <
https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/27334. Acesso em: 22 jul
2021>.
LOLA COSMESTICS. Making Off - oH!Maria by Lola Cosmetics. 2018.
36 seg. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=IJov_Mvi2UA>. Acesso em: 14 jul. 2021.
MARINS, M. S. Gênero textual – Relato Pessoal e suas características.
Escrever é prática. Disponível em:
<https://escreverepraticar.com.br/genero-textual-relato-pessoal-e-
suas-caracteristicas/> Acesso em: 22 de jul. 2021.
MACEDO, N. 90% da população trans no Brasil tem prostituição como
fonte de renda. Edição do Brasil. 28 de mai. 2021. Disponível em:
<http://edicaodobrasil.com.br/2021/05/28/90-da-populacao-trans-no-
brasil-tem-prostituicao-como-fonte-de-renda/>. Acesso em: 21 de jul.
2021.
MULHERES trans presas enfrentam preconceito, abandono e violência.
Produção e Reportagem: Elaine Camili. Imagens: Marconi Matos. Edição
e Finalização: Juvenal Vieira. Edição e Roteiro: Bruno Della Latta.
Fantástico, 2020. Disponível em:
<https://globoplay.globo.com/v/8364420/?s=0s>. Acesso em: 15 de jul.
2021.
MULHER trans que foi queimada no Recife corre risco de perder os dois
braços | VISÃO CNN. Repórter: Diego Barros. Jornal CNN Brasil. 28 jun.
2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iyPBOLL-
YCc&ab_channel=CNNBrasil> Acesso em: 13 jul. 2021
TAG LIVROS. Toni Morrison foi a primeira mulher negra vencedora do
prêmio Nobel de Literatura. 9 fev. 2021. Instagram: @taglivros.
Disponível em: <https://www.instagram.com/p/CLFtKaAhWLq/>
Acesso em 08 jul. 2021.

Capítulo 1 - Desmistificando Identidades Transfemininas em Sala de Aula 34


2
CAPÍTULO Ana Beatriz Santiago
Idelfonso de Sousa Jorge Junior
Luan Ribeiro Costa
Ana Patrícia Sá Martins

GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA

E VOZES VERBAIS

Minha leitura e interpretação do mundo


para além da sala de aula

1. Apresentação
O presente capítulo abordará o
gênero textual crônica, a partir de
suas peculiaridades linguístico-
discursivas e estéticas, visando
propor uma abordagem didática ao
estudo desse gênero, relacionando-o
às leituras da realidade social dos
alunos.
Entendemos que o estudo do gênero textual crônica possa exercitar a
criatividade e as habilidades de narração e construção textual, além de
atrelar tudo isso a identificação e conhecimento a respeito das vozes
verbais ou vozes do verbo dentro da estrutura do gênero, pois a
habilidade de reconhecer as diferentes vozes verbais e o que significam é
fundamental não só para o compreensão do texto escrito, mas de
elementos da própria realidade.

35
2. Gênero Textual Crônica: vozes verbais
e produção textual

A produção textual perpassa todo componente pedagógico de Língua


Portuguesa no currículo escolar. Entendemos que ler e escrever
verificam-se como ações extremamente importantes devido a “serem
competências que facilitam a inserção do sujeito nas diferentes esferas
sociais” (KÖCHE, BOFF, MARINELLO, 2010) já que vivemos em
sociedade, e ao viver em sociedade é necessária a comunicação que por
sua vez necessita de vários outros elementos e se dá através de distintas
modalidades, dentre elas, a leitura e a escrita.
Mas, afinal, em que consiste o ato de produzir um texto? Segundo
Beaugrande (1997 apud Marcuschi, 2008 p. 72), texto é um evento
comunicativo em que convergem atos linguísticos, sociais e cognitivos, ou
seja, produzir um texto vai além de construir um sistema de palavras,
frases e parágrafos, é preciso também levar em consideração aspectos
sociais como para quem e por que se escreve. Para a ótica bakhtiniana, a
esfera comunicativa comporta um repertório de gêneros do discurso que
vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa (BAKHTIN, [1979], 2000). Nesse
sentido, pois, há diferença entre os gêneros porque há diferenças em suas
funções sociais

Saiba mais!
Genêro e Tipo textual não são a mesma coisa!
https://www.portugues.com.br/redacao/g
enerostextuais.html

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 36


Neste capítulo, vamos nos concentrar na modalidade escrita do texto,
a qual, diferentemente do texto falado, requer mais monitoramento em
sua produção, por isso é um ótimo exercício para aperfeiçoarmos a forma
como nos expressamos em uma conversa simples do dia-a-dia ou até
mesmo em um debate a favor da democracia por exemplo, tendo em vista
que o que é ensinado na escola deve contribuir para a formação
intelectual e social dos indivíduos, para que pensem, reflitam e entendam
o mundo a sua volta.
O gênero textual crônica, devido a sua estrutura e funções, funciona
como uma ferramenta cognitiva para treinar a forma como se observam
fatos simples de maneira reflexiva e argumentativa de acordo com o
olhar de quem observa. Por isso, chega ser mais que uma mera narração,
ao produzir uma crônica, o aluno precisa ser um observador da
sociedade, atentar-se a detalhes e a forma como expressá-los de acordo
com o tipo de crônica que deseja escrever. Em uma Crônica jornalística,
por exemplo, o aluno pode aprender como desenvolver teses e
argumentar.

Indicação de leitura

"A metamorfose", de Erico Verissimo:


https://www.universodosleitores.com/2017/03
/cronica-metamorfose-de-luis-fernando.html

Quanto às vozes do verbo, dizem respeito a aspectos gramaticais


que também influem na leitura quanto à semântica e às relações que o
sujeito estabelece com o verbo que está ligado, além de o domínio
desse assunto servir como recurso expressivo, para dar mais ou
menos foco a uma determinada ação ou evento. Essa temática, em
geral, é abordada no oitavo do ensino fundamental, às vezes de forma
isolada e restrita a orações e frases descontextualizadas acerca dos
sujeitos que as enuncia.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 37


Observemos os verbos destacados no seguinte fragmento da Crônica
“Metamorfose” do escritor e cronista Erico Verissimo, inspirada na
novela de Kafka:

“Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu
instinto. Agora precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina
da sala para cobrir sua nudez. Saiu pela casa e encontrou um armário num
quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se
bonita. Para uma ex-barata. "
Note que a maioria dos verbos estão na voz ativa
(seguia, precisava, fez, saiu, encontrou) pois o autor
quis enfatizar a ordem de ações feitas pelo sujeito,,
no caso, a barata que virou uma pessoa. Os verbos
restantes, olhou-se e achou-se, estão na voz
reflexiva, ou seja, a própria ação reflete no sujeito.
Logo, cada um desses conteúdos
isolados e
conjuntos são necessários para desenvolver

habilidades comunicativas, criticidade, criatividade e A Metamorfose,


novela escrita por
habilidades discursivas, lembrando que para avaliar a
Franz Kafka, 1915.
aprendizagem e forma eficaz, como nos ressalva
Luckesi , na obra Avaliação da aprendizagem escolar - em sua obra
estudos e proposições.
O autor destaca que, além de trabalhar com o mínimo necessário de
aprendizagem em cada conteúdo, é preciso utilizar a avaliação não para
classificar o aluno como “bom” ou “ruim” , mas sim para diagnosticar em
que estágio está para dar continuidade ao seu processo de aprendizagem
sempre reorientando o aluno.
Link disponivel para o livro do Lukesi:
aqui

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 38


3. Gênero Textual Crônica: uma forma de ler o
mundo
Os gêneros são fundamentais para
estabelecer a comunicação social e, segundo
Fiorin (2016), são heterogêneos, dinâmicos e
estão em constante mudança, principalmente Considerando que
considerando os novos meios de comunicação os limites entre os
social que vêm interseccionando cada vez mais gêneros estão se
os gêneros e estreitando os limites entre um e estreitando,
outro, mas sem perder sua intenção primária. observe a diferença
Além do mais, bebendo também em fontes entre os gêneros
bakhtinianas, Marcuschi (2008) considera que é conto e crônica em
impossível não se comunicar verbalmente um vídeo.
através de algum gênero ou texto, considerando
seu viés interdisciplinar, com atenção especial https://www.youtu
para o funcionamento da língua, atividades be.com/watch?v=f-
sociais e culturais, pois os gêneros não são como DMBudcpXo
modelos estanques e servem para limitar nossa
ação na escrita.
Dessa forma, a crônica é um gênero para ser visitado e revisitado
em aula, considerando seu teor criativo, tem sua temática voltada para o
cotidiano com foco na visão particular do cronista, com liberdade de
abordar fatos sociais de forma crítica, humorada e irônica. Segundo
Köch e Marinello (2013 apud Moisés 2004, p. 110), a palavra crônica
deriva do latim chronica – relato de fatos, narração – e do grego
khronikós, de khronós – tempo, ou seja, caracterizando-se como um
relato situado no tempo, além de ser um texto curto e objetivo, com
poucos personagens e linguagem simples.
Veja como produzir uma
crônica:
https://www.todamateria.com.b
r/como-fazer-uma-cronica/

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 39


O gênero textual crônica tem grande circulação social, principalmente
em livros, jornais, revistas, portais de internet e blogs. Dessa forma, o
autor pode buscar atingir o público de várias maneiras, seja para propor
uma reflexão social ou divertir o leitor a partir do factual.
O professor e os alunos podem explorar os recursos literários, estilo, a
linguagem e a época que a crônica foi escrita, podendo traçar um paralelo
com a atualidade, incentivando a interpretação e produção textual.
Abaixo, disponibilizamos duas crônicas, uma humorística e outra
jornalística, ambas de caráter narrativo. A crônica jornalística do Jornal
Opção, um especial escrito por Geraldo Lima, apresenta uma linguagem
simples e por ser pensada para atingir o grande público de forma mais
imediata busca provocar reflexões sobre os acontecimentos obedecendo
a uma ordem cronológica e trabalhando com cotidiano de forma mais
perceptível. Enquanto que a crônica humorística promove reflexões
sobre vários aspectos da sociedade, desde política a economia, utilizando
do humor como ferramenta. Observamos um tom humorístico no trecho
da crônica de Mário Quintana, Como não ler um poema, disponível no site
cultura genial.

Como não ler um poema, Mário Quintana.


“Há tempos me perguntaram umas menininhas, numa dessas
pesquisas, quantos diminutivos eu empregara no meu livro A rua
dos Cataventos. Espantadíssimo, disse-lhes que não sabia. Nem
tentaria saber, porque poderiam escapar-me alguns na contagem.
Que essas estatísticas, aliás, só poderiam ser feitas eficientemente
com o auxílio de robôs. Não sei se as menininhas sabiam ao certo
o que era um robô. Mas a professora delas, que mandara fazer as
perguntas, devia ser um deles.”
Disponível em: https: //www.culturagenial.com/cronicas-curtas-com-interpretacao/

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 40


Tempo de covid: é melhor ficar em casa, do Jornal Opção.
[...] “Com máscara no rosto e óculos preparados contra embaçamento, você
se lança à missão do dia. Já na porta, quase transpondo a soleira, lembra-se
de que não pegou o frasco de álcool em gel, e volta meio irritado para
pegá-lo! Sim, mesmo tendo uma infinidade de recipientes e de totens
contendo álcool em gel 70% em todos os estabelecimentos comerciais,
clínicas médicas, clínicas veterinárias, hospitais, bancos etc., você, como
cidadão prevenido, leva o seu. E faz muito bem, vai que o seu seja de
melhor qualidade que os disponibilizados nesses ambientes, né? Eu,
particularmente, sempre levo um vidrinho de álcool em gel no bolso ou
dentro do carro. Um homem prevenido vale por dois, não é o que dizem?”
[...]
Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/tempo-de-covid-e-
melhor-ficar-em-casa-315233/

Assim, buscamos o desenvolvimento da leitura reflexiva e


argumentativa e produção escrita, que segundo Fiorin (2016 p. 77),
Bakhtin classifica como gêneros secundários (escrita) e apresenta uma
construção mais complexa, desenvolvido e organizado e que incorporam
no seu processo de formação gêneros primários (orais) que são mais
simples e de caráter mais imediato.
A crônica é um gênero que se faz das
relações imediatas, fundamental para que os
alunos explorem aspectos do seu cotidiano
para retratar em suas produções,
principalmente considerando o período atípico
Vale a pena conferir!
de pandemia. Ademais, o caráter

interdisciplinar e a multimodalidade da

linguagem da crônica permite sempre a https://www.instagra


retextualização, tornando-se fundamental para m.com/cronicasnabag
alcançar o objetivo de exercitar a criatividade e agem/?hl=pt-br

às habilidades de narração e construção


textual, buscando colaborar para construção
de reflexões do mundo em sua volta.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 41


4. Procedimentos para desenvolvimento
do projeto
Trabalhar com um gênero de tipologia narrativa desenvolve consigo
determinados eixos. Assim, a percepção de mundo e reflexão da
realidade se tornam mais fáceis na produção desse gênero, o que implica
de forma significativa na noção de letramento, principalmente em outras
vertentes que se fazem necessárias no uso da linguagem
Os caminhos percorridos pelo gênero crônica tem consigo o poder de
facilitar as perspectivas multimodais, um largo passo para para se
trabalhar com esse gênero textual, tendo em vista que os textos
multimodais estão cada vez mais presentes no cotidiano dos indivíduos
favorecidos pelo uso das novas tecnologias.
Tratando-se de qualquer gênero, objetivando uma futura produção, é
necessário explaná-lo nos mínimos detalhes, ou seja, ressaltar as
principais características linguísticas e funcionais de um gênero textual
sempre será o fator crucial na identificação do mesmo. Neste sentido, a
principal característica da crônica se localiza na temática, isto é, o
cotidiano, dado que o tem como assunto central. Dessa forma, a maioria
dos acontecimentos cotidianos, de alguma forma, é significativamente
importante para se refletir/dialogar com/sobre a sociedade, podendo
ser inspiração para uma crônica.
Desse modo, propomos neste capítulo enfatizar como o gênero textual
crônica é construído, levando em consideração as práticas sociais dos
alunos e a sua relevância na construção do conhecimento e habilidade de
observar a sociedade e acontecimentos cotidianos. Estes aspectos serão
distribuídos a seguir em um cronograma dividido em quatro etapas:
Apresentar, Exercitar, Reforçar e Produzir, com intuito de nortear uma
aprendizagem significativa do gênero.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 42


A conclusão do processo, além de oportunizar a produção da crônica,
independentemente do tipo, o aluno deverá ser capaz de identificar o
passo a passo na produção textual de uma crônica, o meio em que ela
pode circular e os aspectos gramaticais, com foco especial na
identificação e interpretação das vozes verbais.

4.1 Apresentar

Introduzir um conteúdo em uma sala é sempre um desafio, o processo


de apresentar algo novo nos torna criativos quando tem-se um objetivo a
atingir, por isso é bastante interessante que usemos recursos
multimodais para facilitar ainda mais o processo de aprendizagem, tendo
em vista a vasta quantidade de informações e possibilidades que temos
através das novas tecnologias. Nesse sentido, é pertinente atentarmos
para a realidade da sociedade em que se insere essa tecnologia, partindo
de uma perspectiva dos (multi) letramentos.
Assim, apresentar o gênero crônica por meio de recursos multimodais
da linguagem, abordando suas características discursivas, suas condições
de produção e circulação, reconhecendo elementos da linguagem
ficcional, pode ser uma excelente oportunidade para darmos voz aos
nossos alunos ao exporem seus pontos de vistas acerca do cotidiano e
das temáticas multifacetadas que o perfazem.
Para isso, entendemos ser crucial a abordagem desse gênero por parte
do professor em relação a turma, sobretudo, ao instigar os alunos,
provocando-os, com indagações, acerca de suas perspectivas quanto ao
cotidiano.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 43


Dentre várias possibilidades, para facilitar o diálogo e a aprendizagem
cooperativa, sugerimos, a você professor, que disponha as carteiras em
círculo, semicírculo ou em forma de U; isso deixará um ambiente mais
dinâmico, podendo oportunizá-los às conversas face a face. Dispostos
dessa maneira, peça a eles que sugiram temas sobre o cotidiano, a partir
dos quais gostariam de produzir o gênero crônica. Liste-os e, em seguida,
junto com os alunos eleja os temais mais recorrentes para que norteie a
produção deles.
Compartilhamos com você professor a leitura de um material
pedagógico que pode auxiliá-lo na construção e desenvolvimento do
projeto: A crônica numa abordagem multimodal, artigo escrito por
Rosalice Aparecida Entreportes (UFMG). A autora discute acerca da
produção textual e foca em problemáticas encontradas por professores
na maioria das escolas brasileiras, como a defasagem de grande parte dos
alunos no que concerne à leitura.
Outra sugestão pertinente é um site que dispõe de crônicas antigas até a
contemporaneidade, Portal da Crônica Brasileira. Além de disponibilizar
várias crônicas de grandes escritores, o site ainda dispõe de uma
ferramenta chamada "crônica do dia", uma espécie de competição, a
melhor crônica ganha um destaque especial na página por 24 horas,
dando visibilidade ao autor e atualizando o leitor da crítica social do
momento através do gênero crônica.

4.2 Exercitar

Nesta etapa, é de suma importância que reforcemos o que já foi


explanado: estrutura, aspectos do gênero, gramática (vozes verbais), e
crônicas mencionadas. Todos esses pontos são importantes para uma
adequada compreensão das características linguísticos-enunciativas do
gênero crônica. Tudo isso pode ser feito em poucos minutos, provocando
os alunos com perguntas claras e objetivas, com o intuito de uma mini
discussão a respeito do assunto estudado.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 44


Vale lembrar que as críticas sociais é um ponto bastante argumentativo
para se trabalhar com os alunos. Assim, sugerimos ainda a leitura coletiva
das crônicas A metamorfose, de Luís Fernando Veríssimo e O escrete de
loucos, de Nelson Rodrigues.
A metamorfose, de Luís Fernando Veríssimo, é uma crônica literária,
escrita em terceira pessoa, na qual o autor faz com que suas palavras
adquiram maior subjetividade. O autor não quer mostrar que para barata
é novidade pensar, mas sim, para o ser humano, o qual, muitas vezes, age
por instinto e não raciocina. Uma característica presente no ser humano
principalmente na adolescência, um ponto que pode ser levantado em
uma discussão a respeito com os alunos.
Por outro lado, a crônica O escrete de loucos, de Nelson Rodrigues, é do
tipo jornalístico, a qual foi publicada no Jornal O Globo. A crônica faz
referência ao Mundial de 1962, no qual Nelson Rodrigues exalta como os
brasileiros são apaixonados pelo futebol e como tem uma boa relação
com o esporte. A importância de trazer essa crônica para a sala de aula
dá-se por tratar de uma paixão que é coletiva em um país conhecido
como o país do futebol, pela a paixão dos torcedores e por se tratar de um
país que surge a todo tempo grandes fenômenos nessa modalidade
esportiva. A discussão desta com os alunos pode suscitar reflexões
acerca da temática do nacionalismo na realidade contemporânea.

https://manoelafonso.com.br/
artigos/o-escrete-de-loucos-
nelson-rodrigues/

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 45


Após discussão a respeito das crônicas sugeridas, o professor pode
elaborar um questionário on line no Google Form, com perguntas
multimodais, com imagens, trechos de crônicas, hiperlinks, etc, levando
em consideração todos aspectos estudados desde a primeira etapa,
correlacionado as produções mencionadas na segunda etapa, atentando-
se para a tipologia narrativa a fim de eles possam ser capazes de
distinguir um gênero do outra.
Atentando-se também para as questões de relevância que elas trazem
para o meio social e as vozes verbais presentes nos textos, a avaliação
nessa etapa pode ser subdivida em duas etapas: a primeira será a
participação dos alunos a respeito das discussão levantada no início desta
etapa, numa roda de conversa. Vale a pena lembrar que há alunos que
não costumam ter uma grande habilidade oral, sendo assim, é preciso
atentar para motivá-los a querer se inserir no processo.
Na segunda etapa, o questionário produzido no Forms em colaboração
com os alunos, pode ser compartilhado com toda a turma para ser
respondido e discutido.

4.3 Reforçar

Desfocar do método "aula tradicional" é um dos principais aspectos


nesse ponto, toda e qualquer dinâmica é bem vinda, pois deixar a aula
mais prazerosa instiga os alunos a produzirem sem ao menos perceber
que está passando por mais um processo de aprendizagem. Envolver a
tecnologia e um formato novo de lecionar é a sugestão que pode ser
seguida. As aulas de leitura, muitas vezes, não privilegiam práticas
leitoras diferenciadas, dificultando o desenvolvimento das competências
e habilidades necessárias para a compreensão e apreciação do texto,
sendo a leitura realizada, às vezes, de maneira superficial, o que pode
comprometer a compreensão e o interesse do aluno pelo texto.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 46


Para tanto, a leitura visual ganha espaço neste ponto, apresentar
crônicas em formato de vídeo pode ser um caminho que abra a visão do
aluno desempenhando e habilitando o melhor para um dos principais
objetivos desse projeto: a produção de uma crônica.
Nesse sentido, a atividade a seguir tem o objetivo de ressaltar tudo que
já foi estudado durante todo esse processo, além disso pode-se
relacionar com outro gênero textual abordado, o gênero resumo, a fim
de fomentar a produção textual por parte dos alunos.
Para iniciar, sugerimos ao professor que apresente crônicas em vídeo
com o auxílio de um projetor, no início seria bastante interessante
provocar com perguntas relacionadas ao título do texto, essa atitude fará
com eles tenham uma maior atenção para certificar se argumentos
apresentados a partir do título é verídicos ou não. Às escolas em que não
houver projetor, sugerimos que o professor compartilhe o link do vídeo
através de um grupo no Whatsapp criado para a disciplina.
Exposta a crônica em vídeo, o professor inicia a discussão da temática
abordada, a partir de um roteiro previamente elaborado, com questões
que suscitem a interpretação, diálogo e postura crítica do aluno em
relação ao abordado. Como exemplo, sugerimos O primeiro beijo, de
Clarice Lispector, e versa sobre a história de um casal de namorados que
recentemente estavam juntos e, inebriados pelo amor, andavam tontos.
É um das crônicas reunidas no livro “Felicidade Clandestina”. ​Esta
narrativa reafirma a genialidade da autora diante de um fato corriqueiro
que, sob seu olhar, torna-se maravilhoso e extremamente relevante para
uma análise.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 47


Na mesma plataforma que está disponível
a crônica sugerida acima, é possível
encontrar também outras crônicas de
diferentes tipos em formato de vídeo e em
várias versões produzidas por autores
distintos. Uma grande ferramenta didática
que pode engajar professores na produção Vamos assistir?
do material didático. vídeo 1

Vídeo 2

4.4 Produzir

Podemos começar esta etapa lembrando-lhes as diversas situações de


comunicação em que este gênero textual costuma ser produzido, ou seja,
com que finalidade, para quem, onde circula e em quais suportes (livros,
jornais, revistas, internet) são encontrados. O objetivo é mostrar para os
futuros cronistas (os alunos) que eles têm como missão, daqui por diante,
desempenhar uma característica dos criadores desse gênero, serem
observadores das situações corriqueiras, atentos e sensíveis aos fatos do
dia a dia: um morador de rua solitário na calçada, a forma de o feirante
atrair os compradores, um encontro no ônibus, o futebol dos meninos na
pracinha, uma notícia de jornal que desperta curiosidade. Tudo isso é
material para que eles possam, primeiro, refletir criticamente sobre
questões sociais, ações, emoções e comportamento das pessoas que o
cercam e, depois, usarem ao escrever suas crônicas, trazendo à tona a
vida da cidade.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 48


Outra dica que você pode dar aos seus alunos cronistas é escolher de
forma precisa as palavras. Sua linguagem é simples, espontânea, quase
uma conversa que deixa o leitor com sensação papo do dia com escritor.
Envolver as situações do dia a dia com humor, ironia ou emoção,
revelando peculiaridades que as pessoas têm em sua correria.
Pensar no leitor como o pilar no resultado da produção faz-se
extremamente necessário, por isso é importante levar os alunos a
refletirem acerca das questões relacionadas às produções das crônicas,
enfatizando que, ao lermos um texto, não basta identificar letras, sílabas
e palavras, é preciso buscarmos o sentido, compreender, interpretar,
relacionar e reter o que for mais relevante. Quando lemos algo, temos
sempre um objetivo: buscar informação, ampliar conhecimento, meditar,
entreter-nos.
Desse modo, acreditamos que as crônicas produzidas pelos alunos
deverão conter os seguintes aspectos: marcas de identificação política,
religiosa, ideológica ou interesses do seu produtor, devem apresentar
também a integração de linguagem verbal e não verbal na e produção de
textos, produtiva e autonomamente.
A avaliação nessa etapa é um processo rigoroso, para tanto é necessário
e de fundamental importância retomar a ideia de que precisamos ter uma
visão voltada para três vertentes, a avaliação diagnóstica (atrelada à
checagem de conhecimentos prévios, já internalizados pelos alunos), a
avaliação processual (foco da observação do professor de vivências dos
alunos nas diferentes etapas desse projeto) e a avaliação final (voltada a
produção do crônica e dos aspectos seguidos para a produção do mesma).
Concluída a versão inicial de suas crônicas, sugerimos ao professor que
solicite aos alunos o acesso às produções, através do compartilhamento
via Google drive, via link, ou simplesmente impressa. Assim, o professor
poderá ter acesso e sugerir algumas adequações, caso necessário. Após
essa etapa, é importante que os alunos tenham um tempo estipulado para
refletirem novamente sobre sua produção. Posterior a esse momento,
todos os alunos devem compartilhar suas produções no grupo do
whatsapp e acordarem na seleção de uma mídia social para fazerem
circular suas crônicas e dá voz às suas reflexões.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 49


5. Colocando em ação
Conforme foi mencionado nas etapas desse projeto: Apresentar,
Exercitar, Reforçar e Produzir, cada uma delas dispõe de atividades
pensadas de acordo a dificuldade que cada etapa apresenta. Assim
como a dificuldade de cada atividade presente nas etapas, o
aprendizado por elas é gradativo no intuito de percorrer o caminho da
produção de uma crônica, a sua relevância para sociedade e seus
principais aspectos. As atividades foram pensadas desde debates,
questionários, relação com outros gêneros até produção principal.
O desenvolvimento de cada etapa nas atividades possui aspectos
avaliativos particulares, mas todos visam oportunizar os alunos a
reflexões acerca de temáticas que versem sobre seus cotidianos, a
partir de seu olhar, único e, por isso, tão valioso em seu processo de
aprendizagem.
O compartilhamento de todas as crônicas pode ser realizado nas
redes sociais em que todos os alunos tenha acesso, como exemplo a
rede social Instagram, a qual dispõe de uma grande facilidade de acesso
e manuseio de suas ferramentas. Nela é possível fazer publicações com
livre acesso, que podem ser vistas com ou sem conta de perfil na
plataforma, apenas acessando o link individual de cada publicação.
A sugestão é que o professor crie um perfil exclusivo para as
publicações das crônicas, e faça as publicações na página para uma
melhor organização, e disponibilize o link para que todos tenham
acesso a essa publicações.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 50


6. Algumas reflexões

Esperamos contribuir de forma significativa nas aulas de língua


portuguesa e produção textual destinadas ao trabalho com o gênero
textual crônica, incentivando a leitura, interpretação e produção de
textos. É importante que compreendam as principais características
predominantes no gênero, sua função social e a linguagem. Ademais,
tendo em vista a indiscutível importância da leitura sobre a sociedade, a
abordagem do professor deve transbordar aos limites de estrutura e
aspectos gramaticais do gênero crônica, principalmente devido a
velocidade em que as informações circulam e a facilidade de acesso dos
alunos aos variados espaços de escrita.
Observe que buscamos destacar a função das vozes verbais e seu
impacto sobre a leitura e interpretação do aluno em relação ao texto e,
consequentemente, sobre o meio. Para uma avaliação de qualidade dos
alunos, ver-se a necessidade da adoção de uma visão dos gêneros
textuais como fundamentais para as relações sociais e que o professor
procure estabelecer um paralelo entre assunto abordado na crônica,
independente da época, e a realidade dos alunos ao mesmo tempo em
que fertiliza a criação de novas narrativas, aguçando as habilidades
argumentativas, criatividade, bons observadores e seja a porta de
entrada para elencar reflexões da realidade em que vivem.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 51


Autores

Ana Beatriz Santiago, graduanda em Letras


Português e Inglês na Universidade Estadual
do Maranhão - UEMA, campus de Balsas.

Idelfonso de Sousa Jorge Júnior, graduando


em Letras Português e Inglês Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA, Campus de
Balsas.

Luan Ribeiro Costa, graduando em Letras


Português e Inglês Universidade Estadual do
Maranhão - UEMA, Campus de Balsas.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 52


7. Referências
BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: ___. Estética da criação
verbal, São Paulo: Martins Fontes, 2000.
CRÔNICAS NA BAGAGEM. Rodamos a América de Sandero 1.0 e em
03/05/21 iniciamos uma expedição por todo o Brasil. Mato Grosso
03.maio.2021. Instagram: @cronicanabagagem. Disponível em:
https://www.instagram.com/cronicasnabagagem/. Acesso em: 21 de
julho de 2021.
ENTREPORTES, R. A. A crônica numa abordagem multimodal.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Letras. Belo Horizonte, 2015. Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/LETR-A46NQQ. Acesso em: 18
de julho de 2021.
FERNADES, M. Como fazer uma crônica. Toda Matéria. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/como-fazer-uma-cronica/. Acesso em:
22 de julho de 2021.
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2ª ed. São Paulo:
Contexto, 2016.
JUNIOR, P. C. Qual a diferença entre conto e crônica. Youtube. 26 de Set.
de 2019. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=f-
DMBudcpXo> . Acesso em: 21 de julho de 2021.
KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; MARINELLO, A. F. Leitura e produção
textual. 6ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
KÖCHE, S. V.; MARINELLO, F. A. O gênero textual crônica: uma
sequência didática voltada ao ensino da leitura e escrita. E-scrita: Revista
do curso de letras da UNIABEU, Nilópolis, v. 4, n. 3, p. 258, maio/agosto,
2013. Disponível em:
https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/RE/article/view/762/pdf_115.
Acesso em: 18 de julho de 2021.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 530


LIMA, G. Tempo de covid: é melhor ficar em casa. Jornal Opção, 2021.
Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/tempo-
de-covid-e-melhor-ficar-em-casa-315233/. Acesso em: 21 de julho de
2021.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e
proposições. 22ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/4837/colecao-pensadores-na-
pratica-avaliacao-da-aprendizagem-escolar-estudos-e-proposicoes-de-
cipriano-luckesi. Acesso em 18 de julho de 2021.
MARCELLO, C. Seis crônicas com interpretação. Cultura Genial.
Disponível em: https://www.culturagenial.com/cronicas-curtas-com-
interpretacao/. Acesso em: 22 de julho de 2021.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2008.
MATOS, T. Gêneros Textuais. Português. Disponível em:
https://www.portugues.com.br/redacao/generostextuais.html. Acesso
em; 18 de julho de 2021.
PAVÃO, K. Crônica: A metamorfose, de Luis Fernando Veríssimo.
Universo dos Leitores. Disponível em:
https://www.universodosleitores.com/2017/03/cronica-metamorfose-
de-luis-fernando.html. Acesso em: 22 de julho de 2021.

Capítulo 2 - Gênero textual crônica: vozes verbais e produção textual 54


C A P Í T U L O ''PORQUE EU AMO MINHA CIDADE!": AS

3
TECNOLOGIAS DIGITAIS E O ENSINO COM
OS GÊNEROS ENTREVISTA E PORTFOLIO

Elisane da Silva Miranda


Railane dos Santos Lima
Thauiny Brito de Lima
Welder Coelho de Sousa
Ana Patrícia Sá Martins

55
1. Apresentação
Neste capítulo, objetivamos compartilhar com você uma proposta pedagógica
ao estudo com os gêneros entrevista e portfólio, pensando o diálogo com as
tecnologias digitais para o fomento ao engajamento crítico e criativo dos alunos.
Nesse sentido, intitulamos o projeto "Porque eu amo minha cidade!'', numa
referência ao desenvolvimento de atividades didáticas visando ampliar a escrita
e o senso crítico por meio de avaliações pessoais sobre a cidade de Balsas-
Maranhão. Com toda certeza, você professor pode adaptar essa proposta à
cidade em que atua e convive com seus alunos.
Assim, este capítulo terá como temática "Porque eu amo minha cidade",
trazendo um enredo composto por uma variedade de questões, como a cultura,
pontos turísticos, história e sua riqueza natural e econômica que marcam a
cidade de Balsas-Ma.
Tendo em vista que devemos conhecer e valorizar o lugar em que vivemos,
essa temática foi escolhida com o propósito de, além de ensinar com os gêneros
entrevista e portfólio, oportunizar aprendizagens que incentivem os alunos a
cuidar, valorizar e conservar a cultura local, julgando que a cultura ameaça
desaparecer com o passar do tempo e que muitos locais de turismo acabam se
deteriorando com a falta de cuidado dos indivíduos.
Nosso objetivo é utilizar dos gêneros textuais entrevista e portfolio para
mostrar o quão rica é a cidade de Balsas, além de conhecer as suas principais
características.
Figura 1 - Rio Balsas e a ponte

Fonte: Página do Facebook @balsasma

Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as


tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio 56
2. Mídias didático-visuais na educação
A educação é, antes de tudo, um processo de comunicação, interação
aluno e professor, tendo como base o material didático, seja ele
audiovisual, multimídia ou impresso. Os meios proporcionados pela
mídia para a comunicação entre aluno e professor agem de uma forma
para captar a atenção do aluno ao que está sendo passado. No nosso
atual contexto, podemos notar o quão a tecnologia está sendo muito
mais utilizada na introdução das metodologias de ensino, o que antes
era usada apenas como um apoio aos professores em sala de aula, e que
poderia até ser substituída dependendo da estratégia pedagógica
adotada.

Neste período em que passamos a utilizar as tecnologias de forma


mais apropriada, notamos o quão isentos estávamos de conhecimentos
tecnológicos. Nesse sentido, Gianotto (2008, p.56) argumenta que
[…] cabe ao professor fazer da escola um local provocador
de interações e vivências interpessoais distintas,
estabelecendo um palco de negociações, onde os alunos
vivenciem conflitos e discordâncias, buscando acordos
sempre mediados por outros parceiros. No processo
interativo, o mais importante não é a figura do professor ou
do aluno, mas o campo interativo criado.

570
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Desse modo, o professor enquanto intermediário do ensino deve pré-
estabelecer objetivos a serem alcançados frente aquilo que ele deseja.
As atividades que devem ser proporcionadas são aquelas que possuem
conteúdos significativos que possibilitem a aprendizagem do aluno.
Nesse sentido, acreditamos que as tecnologias digitais de comunicação
e informação possuem um importante papel para que as práticas
pedagógicas alcancem resultados significativos às práticas sociais dos
alunos, dentro e fora da escola. Afinal, quando oportunizados usos
didáticos, críticos e mediados pelo professor, os alunos podem utilizar
dessas ferramentas com propriedade, autoria e criatividade.
Os recursos tecnológicos que temos disponíveis são muitos, o que
torna fundamental realizar uma pesquisa antes, avaliando sua
efetividade, diante dos objetivos que os docentes traçam para chegar a
um resultado eficiente com os alunos. Não podemos nos esquecer que
as tecnologias auxiliam os professores em diversos setores, como por
exemplo na otimização do tempo, na ação didática, no resultado que
traz para com o aluno.
Apesar de já utilizarmos os recursos tecnológicos em sala para fazer
trabalhos, responder questionários, programas para escrever textos,
dentre outros, muitos de nós, professores e alunos, por vezes, nos
sentimos um pouco perdidos quanto às potencialidades de tais
ferramentas. Acabamos, em geral, utilizando das ferramentas digitais
como mera diversão. No entanto, entendemos que, se estes recursos
fossem trabalhados a favor da educação, seria transformador o papel da
escola e das aprendizagens proporcionadas através dela.

Luiz Carlos Pais, em seu livro “A educação escolar e as tecnologias da


informática”, destaca que algumas tecnologias favorecem de forma
direta a condição de elaboração do conhecimento. Indicando que
quanto mais interativa a relação for, maior será o significado do
conhecimento para o sujeito, ou seja, para o aluno.

580
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Logo abaixo, colocamos alguns pros e contras, em relação à inserção
das tecnologias em sala de aula.
Pró: as tecnologias na educação ajudam a aproximar os alunos com
o conteúdo abordado. Crianças jovens e adolescentes entram em
contato com o mundo digital ainda muito cedo, celulares,
computador e tablet, os que mais fazem parte desse processo,
adquirindo a atenção deles com um simples jogo, redes sociais,
desenhos entre outros.

Contra: pode trazer distrações. O uso destas tecnologias deve


sempre ser supervisionado, além de exigir um planejamento
especifico e eficaz.
Pró: Preparação para o mundo. Principalmente as crianças, por
estarem na face inicial da vida. A educação deve ser aliada do
cotidiano dos alunos, pois só assim poderá adquirir a atenção deles.
As tecnologias fazem parte do mundo, afinal, se olharmos à nossa
volta, perceberemos que tudo tem tecnologia. Portanto, estas
ferramentas podem ajudar na interação das crianças com mundo,
ativando a criatividade, por exemplo, podendo torná-las chave para
transformações no futuro.
Contra: pode diminuir os momentos de interação presencial. Com o
uso demasiado dos celulares, por exemplo, passamos muito tempo
sem socializarmos com as pessoas presencialmente. Por isso, os
usos dessas ferramentas nas escolas carece de uma mediação do
docente.
Pró: colabora para metodologias ativas e para o protagonismo dos
alunos. Aguçar a curiosidade e autonomia com pesquisas em mídias
digitais para a produção de atividades é um exemplo.
Contra: pode interferir, negativamente, na relação professor - aluno,
se não mediado e ponderado o uso das tecnologias digitais no
processo de construção de conhecimento. Um exemplo é o aluno
acostumar-se com pesquisas em sites da internet, assistir à
vídeoaulas no Youtube, plagiar textos, etc. Situações como essas
acabam afastando o aluno do contexto real do espaço de
aprendizagem na escola.

590
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Com tudo isso notamos que o equilíbrio é a resposta. Assim sendo, os
alunos podem usufruir dos benefícios das tecnologias sem que precisem
abandonar as atividades fora deste ambiente virtual. Além de trazer
também muito benefícios a saúde mental dos estudantes e maior índice
de aprendizagem.

3. Gêneros: Entrevista e E-portfólio


A partir do prisma bakhtiniano, entendemos que os gêneros
discursivos são entidades de natureza sociocultural que materializam a
língua em situações comunicativas diversas. É um campo de estudo que
tem recebido uma maior atenção nos últimos anos, devido à percepção
de sua relevância para o ensino de língua portuguesa e funcionalidade
na vida cotidiana, nas incontáveis áreas que esta abrange.
Podemos exemplificar com o gênero diário, cuja característica
principal é a forma como é escrito, com um perfil de escrita que relata a
vida e coisas cotidianas, como: experiências, ideias, frustrações,
sentimentos, acontecimentos e etc, sob a ótica e voz de quem o produz.
Próximo à essa perspectiva, apresentamos aqui o gênero E-portfolio
ou portfólio digital. Entendemos o referido gênero, produzido e
ambientado dentro das esferas digitais, com um conjunto de
possibilidades e ferramentas, incluindo processamento de texto, ficheiro
em Word e Pdf, imagens, blogs, links, etc. Acreditamos que o e-portfolio
pode ser proposto para a produção de diários da vida, diários de aula,
guardar recordações e o que o aluno escolher escrever. A produção de
e-portfólios oportuniza ao aluno explorar a criatividade e dá visibilidade
às suas percepções, à sua voz sobre a vida, sobre o mundo, com a
variedade de recursos multimodais e multissemióticos.
Considerando a nossa proposta de projeto apresentada no início
desse capítulo, além do gênero e-portfólio, sugerimos a produção de
entrevistas pelos alunos, possibilitando, assim, uma interação com a
comunidade dentro e fora da escola.

600
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
É possível apresentar alguns meios que fazem uso do gênero
entrevista, dentre eles estão jornais, sites, rádios, tv's, revistas e mídias
sociais, geralmente com a finalidade de transmitir algum conhecimento
ou notícia para o telespectador /ouvinte.
Uma característica relevante deste gênero é quanto à oralidade.
Tendo em vista que a interação pela qual se dá a entrevista ocorre na
modalidade oral é importante que o entrevistador conduza essa
interação com alguma sistematização ou roteiro acerca do quê, para
quê, com quem e onde essa entrevista será realidade.
Esses aspectos têm implicação no objetivo pelo qual a entrevista
esteja acontecendo. Por isso, é importante que o professor possa
desenvolver oficinas linguísticas e mesmo técnicas, a fim de coordenar,
mediar e orientar a atividade com o objetivo visado no e para o projeto.
Sugerimos que acesse o tutorial, disponível no Canal de Eric
Andrada, no Youtube , sobre Como gravar entrevistas

610
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
4. Recursos e Procedimentos
Visando à produção de e-portfólios e entrevistas para nossa
proposição do projeto "Porque eu amo minha cidade”, sugerimos que os
alunos tenham uma aula em formato de minicurso, na qual aprenderão a
utilizar a plataforma do Google drive onde serão produzidos e
armazenados seus relatos digitais em formato de e-portfólio. Assim
também, entendemos ser oportuna uma oficina sobre o aplicativo
Anchor, o qual pode ser indicado aos alunos para gravação e edição das
entrevistas em formato de podcast's.
A esse respeito, sugerimos que assistam ao tutorial, disponível no
Canal Me ajuda, Nick, no You tube, sobre como COMO gravar UM
PODCAST remoto COM CONVIDADO | Anchor by Spotify

Após os alunos terem domínio dessas ferramentas, o professor irá


dividir a turma em duplas e deixá-los escolher quais pontos da cidade
eles irão tratar em seus trabalhos. Tendo sido selecionados os locais,
cada dupla deverá ir em busca do contexto histórico do local
(perguntando para seus avós, tios, vizinhos, pessoas mais antigas da
cidade...) e relatando tudo de forma escrita e em áudio para serem
usados mais tarde em seus podcast.
Com esse material reunido, as duplas organizarão suas ideias sobre o
que querem passar em seus diários digitais (memorias em família, lazer,
festividades culturais...) sempre tendo em vista que a versão final de seu
trabalho será disponibilizadas nas redes sociais da escola para que outras
pessoas tenham acesso a esse material.

620
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Os alunos podem inserir em seus relatos imagens de antes e depois de seus
locais escolhidos e relatar sobre o que mudou com a passagem do tempo,
porque escolheram aquele local e qual a importância que ele tem em sua vida.
Para a versão final, sugerimos que eles insiram os podcasts com os áudios das
entrevistas. Espera-se que na versão final dos trabalhos os alunos consigam
transmitir com facilidade os sentimentos e importância que aquele momento
teve em suas vidas e de seus familiares, como também seu senso crítico tenha
se aprimorado a respeito de como sua cidade e cultura é vista. E que com isso
sua escrita se aperfeiçoe e sua desenvoltura na oralidade também.

E-portfólio:
Link's de tutoriais e exemplos: https://sites.google.com/s/140
78cW2Pt6EMz6ztECn_cTvx0nS
DofOC/edit?
userId=102474789598320304
865
Criação de e-portfólio:
https://youtu.be/3yq8k3uZOB
w

5. Colocando em Ação Archor:


https://youtu.be/42yXedSd5C0

Na etapa de produção dos E-portfólio e entrevistas, sugerimos que


os alunos escolham 1 ou 2 locais sobre os quais irão falar. A partir daí,
numa roda de conversa, o professor pode mediar momentos de reflexão
acerca das memórias e significações desses locais para os alunos,
refletindo acerca de suas vivências, histórias de sua família no local,
eventos culturais...Coisas que tenham marcado suas vidas.
Tendo em vista que os relatos serão em forma digital, sugerimos que
o professor incentive a curadoria, autonomia e criatividade dos alunos
ao produzirem seus E-portfólios, os quais podem ser escritos em 1°
pessoa, e conter trechos de relatos retirados das entrevistas.
As perguntas que serão feitas nas entrevistas devem ser preparadas
antecipadamente e aprovadas pelo professor. A entrevista deverá ser
realizada com avós, tios, conhecidos dos alunos, acerca de o quanto a
cidade mudou, em que aspectos ela mudou e quais as diferenças de
frequentar esses lugares antigamente e hoje em dia.

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Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Sugerimos que esse projeto seja desenvolvido ao longo de um
bimestre letivo, com momentos de visitas e interações nos locais
escolhidos pelos alunos, para fotografarem, filmarem e entrevistarem
pessoas.

O que se espera com esse trabalho é que os alunos desenvolvam


familiaridade com essas ferramentas que será de grande ajuda no seu

desempenho acadêmico, enquanto isso seu senso crítico e fala serão


também aperfeiçoados através do exercício, e ainda a cidade e a cultura
serem valorizadas através dos relatos.

Com seus trabalhos já em sua versão final e corrigidos pelo professor


poderão ser compartilhados nas redes sociais da escola como site,
Instagram e Facebook. Todos os trabalhos deverão está em um único
documento, no qual cada dupla deverá incluir o link de seu podcast e
assim ser postado na rede social disponibilizada pela escola.
Recomendamos que para facilitar o compartilhamento nas redes
sociais os trabalhos estejam todos juntos. Por isso, sugerimos que
representantes dos grupos se reúnam e montem um e-portfólio geral da
turma, no qual constarão todos os links de acesso aos produzidos pela
turma. O e-portfólio da turma pode ser dividido em pastas, e em cada
pasta será de um grupo/dupla, na qual constará o link de seu podcast,
com quaisquer outros documentos que desejem inserir: fotos, músicas,
informações históricas, fotos dos produtores dos e-portfólios, etc. Após
todos os trabalhos estarem no mesmo documento, o link do mesmo
deve ser disponibilizado nas redes sociais da escola.

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Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
6. Um pouco sobre nossa
cidade, Balsas-MA

O porto das Caraíbas, no rio Balsas,


era o ponto de melhor acesso às
fazendas do município de Riachão. O
grande movimento de viajantes
despertou interesse pelo local,
fazendo com que surgisse, ali
pequena casa de comércio.
.https://www.diariodebalsas.com.br/noticias/a
-historiade-balsas-parabens-cidade-querida-
19794.html

Seguiram-se outras moradas, hoje com o avanço dos meios de


transporte o uso do porto não é mais necessário o uso do porto, mas
configura-se como um dos principais pontos turísticos da cidade de
Balsas

V O C Ê SA B IA ?
A CI DA DE JÁ FO I CH
AM AD A DE
VI LA NO VA E SA NT
O AN TÔ NI O
DE BA LS AS , AN TE
S DA SU A
FU ND AÇ ÃO EM 22
DE M AR ÇO
DE 19 18 .
https://pt.wikipedia.org/wiki/Balsas

650
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Autores

Elisane da Silva Miranda, 19 anos. Graduanda


em Letras Português e Inglês Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA, Campus de
Balsas.

Thauiny Brito de Lima, 19 anos. Graduanda


em Letras Português e Inglês Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA, Campus de
Balsas.

Welder Coelho de Sousa, 21 anos. Graduando


em Letras Português e Inglês Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA, Campus de
Balsas.

Railane dos Santos Lima, 21 anos. Graduanda


em Letras Português e Inglês Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA, Campus de
Balsas.

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Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
7. Nosso desejo

Desejamos que com a leitura deste capítulo os docentes da rede


pública de ensino tenham em mente que as tecnologias digitais são
importantes na introdução de conteúdos e na inserção da metodologia
de ensino. Como explicitado ao longo do capítulo, além de sugestões ao
uso crítico das tecnologias digitais, nossa proposta de projeto intitulada
"Porque eu amo minha cidade!" pode oportunizar aulas e interações
entre professores e alunos, alunos e alunos, alunos e seus familiares e a
escola e a comunidade, ao incentivar pesquisas sobre aspectos culturais
e históricos da cidade, assim como sobre memórias das pessoas sobre
aquele determinado lugar.
Além dos gêneros e-portfólio e entrevistas, muitos outros podem ser
desenvolvidos pelos professores, de modo interdisciplinar, e
favorecendo o ensino-aprendizagem de forma divertida, criativa e com
protagonismo.
Sendo assim, desejamos também que todos os alunos vejam o quão
incrível e o patrimônio em que eles moram, e que aprendam a zelar
desde de sempre. Esperamos que os alunos possam usar a criatividade
para a produção do trabalho proposto!

670
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
REFERÊNCIAS
BARROS, de Jussara. Educação e recursos tecnológicos. Canal do
professor. Disponível em: <
https://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes/educacao-
recursos-tecnologicos.htm>

CHAMPAGNANTTE, Dostoiwski Mariatt de Oliveira. NUNES, Lina


Cardoso. A inserção das mídias audiovisuais no contexto escolar.
Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/edur/a/GPF6zTjDHXQ885Vmtm48BPD/?
lang=pt>

DIAS, Fabiana. Gêneros textuais. Educa +Brasil. Disponível em:<


https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-
portuguesa/generos-textuais>

DOMINGUES, João Paulo Espindola. O Uso das mídias na Educação


Básica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento.
Ano 04, Ed. 01, Vol. 02, pp. 135-148 . Janeiro de 2019.

Mundo Educação. Gêneros textuais. Disponível em:


https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/genero-textual.htm

PAIS, L. C. Educação Escolar e as Tecnologias da Informática. Belo


Horizonte, MG: Autêntica, 2002.

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Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
TEZANI, Thaís Cristina Rodrigues. A educação escolar no contexto das
tecnologias de comunicação e informação: desafios e possibilidades
para a prÁtica pedagógica curricular. Revistafaac, Bauru, v. 1, n. 1, p.
35-45, abr./set. 2011.

GIANOTTO, D. E. P. Formação inicial de professores de biologia e o


uso de computadores: análise de uma proposta de prática
colaborativa. 2008. p. 52-71. Dissertação (Doutorado em Educação
para a Ciências) – Universidade Estadual Paulista, Bauru – SP, 2008.
http://www.athena.biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/bba/33004056079
P0/2008/gianotto_dep_dr_bauru.pdf.

690
Capítulo 3 - ''Porque eu amo minha cidade!": as
tecnologias digitais e o ensino com os gêneros
entrevista e portfolio
Adriele Neves da Silva Sousa

4
CAPÍTULO
Maria Eduarda Nascimento Lima
Guilherme Cordeiro da Silva
Maria do Espírito Santo de Carvalho Lopes
Ana Patrícia Sá Martins

A VALORIZAÇÃO DA CULTURA
AFRO ALÉM DO AMBIENTE
ESCOLAR

70

1. APRESENTAÇÃO

Neste capítulo, será abordada a valorização da cultura Afro-


brasileira, uma vez que a relevância da influência da cultura Africana
presente na formação histórica brasileira. Sabemos que ao serem
trazidos para o Brasil, os africanos trouxeram consigo a própria África,
apresentando um patrimônio cultural imaterial e material nos seus
objetos, rituais, hábitos, textos e os diversos saberes que se encontram
presentes nas diversas áreas.
Dessa forma, o capítulo tem como propósito observar o papel da
escola como órgão educador e formador de cidadãos, no que concerne a
preservação da herança histórica cultural. A temática será abordada com
o intuito da valorização e respeito à cultura Afro-brasileira, conhecendo
sua diversidade.
Ao longo do capítulo buscamos valorizar, mostrar e principalmente
transformar o olhar dos alunos. O gênero abordado será o cartaz, por se
tratar da exposição de ideias/planos, já que é uma temática que precisa
ser reconhecida não só pela escola, mas também pela sociedade.
Fonte: Google imagens

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 71


2. Os desafios da escola com as mudanças
atuais
Os tempos mudaram, principalmente, em decorrência de uma
pandemia, onde todos tivemos que mudar o modo como levávamos à
vida; tivemos que nos adaptar com o novo normal, e muitas foram as
mudanças acometidas a nós. Assim, grandes foram os impactos trazidos
pelo vírus da Covid-19, sequelas que nunca vão ser esquecidas e
transtornos imensuráveis.
Percebemos que a educação, além de outras áreas, vem sofrendo
bastante com variadas transformações em seu contexto, problemas que
antes da pandemia já não eram solucionados, hoje apenas têm se
intensificado. Além do mais, os tempos mudaram e, as exigências
educacionais também.
Algumas metodologias de ensino já não são suficientes para atender às
práticas sociais letradas da contemporaneidade. É preciso, portanto,
considerar que as informações se tornaram mais rápidas e acessíveis, e
que os estudantes estão cada vez mais autônomos e conectados, bem
como, as novas tecnologias e mídias sociais que estão cada vez mais
revolucionando a forma de ensinar e aprender.
Contudo, neste cenário atual, temos visto muita dificuldade da gestão
escolar para manter os alunos na escola durante o ensino remoto
emergencial, e quão árduo tem sido o papel do professor em um
momento difícil como esse.
É nesse contexto que a importância da formação continuada, com a
finalidade de manter a equipe escolar sempre atualizada, inovando e
aprimorando as práticas pedagógicas, faz ainda mais sentido.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 72


3. Cultura Afro: uma riqueza que contribuiu
para formação da cultura brasileira
A princípio, é importante falar acerca da cultura afro e quão rica e
diversificada ela é. Inúmeros são os povos que habitam o continente e
que possuem uma enorme quantidade de línguas, religiões, tribos e
costumes diferentes. Toda essa diversidade teve um papel fundamental
na formação da identidade cultural afro-brasileira.
Durante o período colonial e imperial, povos de diferentes regiões da
África como os bantus, nagôs, jejes e malês foram escravizados e trazidos
para o Brasil, trazendo consigo os hábitos tradicionais de suas terras.
Como se sabe, os mesmos foram forçados a negar suas origens, a
aprender uma língua diferente (português) e se converter ao catolicismo,
pois eles eram impedidos de cultuar suas crenças/religiões já que eram
proibidas.
Embora perseguidos, e ainda atualmente vítimas de discriminações e
todos os tipos, as influências da cultura afro não estão presentes só na
nossa cultura, costume, arte, linguagem e religião, mas também nos
traços físicos e marcas genéticas da população.

De acordo com Macedo (2008, p.91),


“cultura não é só arte, cultura são
valores, posturas, hábitos, lugares,
conhecimentos, técnicas, identidades
comuns e diversas, conceitos, saberes e
fazeres múltiplos.”.
Fonte: Google imagens

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 73


Ou seja, o autor enfatiza que a cultura é algo complexo, abrange
varias definições, que possuímos ao socializar-se com o outro. Assim, é
pela diversidade cultural que compõe nosso país, a sociedade brasileira,
tendo como observação a peculiaridade manifestada no componente
histórico, que reconhecemos a atuação social como forma de valorizar
essa existência.
Segundo Nunes (2008, p. 254), o estudo sobre a cultura afro no
sistema escolar busca “revalorizar a história e culturas africanas e afro-
brasileiras como forma de construção de uma identidade positiva”.
Através da declaração de Nunes, é possível compreender a importância
da revalorização cultural, vivência e o contato com a história, bem
como as habilidades instrutivas no decorrer das ações desenvolvidas.
Para a realização desses desenvolvimentos são necessários desafios,
suporte para interações e experiências, que contribuirão para a
formação, equilíbrio e edificação das informações, bem como a
valorização da diversidade cultural, quebrando padrões existentes,
trazendo um novo olhar e temática para que se possa abordar
acontecimentos e conhecimentos prévios, visando assim a
transformação do olhar educacional e estudantil.

De acordo com a Lei nº 10.639 de


2003 – artigo 26 A, é obrigatório o
ensino da história afro-brasileira em
todo o currículo escolar, por
conseguinte, todos os educadores
devem incluir em suas aulas a temática
da histórica e cultural afro.
Fonte: Google imagens

Uma das mais populares manifestações culturais da cultura afro é a


capoeira - representação cultural que mistura esporte, dança, cultura
popular, música e brincadeira. A capoeira é símbolo da conservação da
cultura afro, bem como é algo interativo que trabalha a coordenação
motora e proporciona criatividade.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 740


Além de ser um símbolo da cultura afro-brasileira, da miscigenação
de etnias, da resistência à escravidão, a mesma está presente em
dezenas de países por todos os continentes. É Patrimônio Cultural
Imaterial do Brasil.
Todavia, essas práticas culturais estão sendo cada
vez menos implementadas no ambiente escolar,
quase não se houve falar da cultura afro-brasileira,
da sua importância, e quão valorizada ela deve ser.
Com isso, notamos que o tema afrodescendência
muitas vezes só é abordado na semana em que se
comemora o dia da consciência negra, dia em que
esta data é dedicada à reflexão sobre a inserção do
negro na sociedade brasileira, sendo que durante
todo o ano letivo esta questão é negligenciada.
A escola, como órgão fundamental na formação de cidadãos, saber
e identidade, não pode deixar que uma temática relevante como esta
seja esquecida e desvalorizada.
A proposta de se trabalhar as especificidades da cultura Afro-
brasileira e seus conteúdos no ensino fundamental tem como foco
elencar a significância de se conhecer as origens do povo brasileiro e
exemplificar aos estudantes um olhar diferenciado aos trabalhos
exercidos nas atividades escolares e seus impactos sociais, capazes de
transformar a vida estudantil, bem como a sociedade, já que o objetivo
trata-se de algo amplo, além do espaço interno escolar.
Portanto, envolverá tanto os integrantes do meio
interno escolar, como também o público externo,
levando além da mensagem, uma pequena
representação artística da cultura, bem como a Cultura Afro-
brasileira além da
exposição de falas à respeito da experiência escola
obtida através do projeto.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 750


4. Representatividade negra nas mídias
digitais: influenciadoras da autoestima
Segundo informações, no Brasil, as mulheres negras estão
condicionadas às piores condições de emprego, aos menores salários e a
postos de trabalho precarizados, por outro, é um grupo que consome e
movimenta, por ano, bilhões em diversas áreas artísticas e publicitárias,
por exemplo. Em conformidade com a produtora cultural e publicitária
Marta Carvalho, os dados deixam claro que existe uma população que era
colocada em segundo plano nas campanhas publicitárias, mas não por
consumir menos, e, sim, por preconceito racial.
Marta afirma ainda que as mulheres negras sempre estiveram nas
redes sociais, mas, agora, elas estão sendo mais enxergadas. A mesma
ainda cita:
Clique aqui e conheça a o Instagram
da Iyabáagencia, coordenada pela
Marta Carvalho. A Iyabá é uma “Em 2020, ficou mais evidente que era necessário trabalhar a
agência de gestão, de comunicação e diversidade nas marcas e nas publicidades, a partir da
comunidade de conteúdo criativo de inclusão. Não dá mais para contar uma história excluindo
suporte para mulheres criativas não- essa parcela da população”.
brancas.

As influenciadoras digitais negras são mulheres que servem de


referência e trazem representatividade nas redes sociais — plataformas
que influenciam na autoestima e na saúde mental de tanta gente.
Além disso, é através da história de vida e superação dessas vozes nas
mídias que muitas pessoas podem se identificar, se aceitar e gostar do
seu próprio ser. Desta forma, ocupar esse espaço nas mídias digitais é
uma questão de representação, e de resistência, principalmente, quando
se é mulher negra.
Assim, as personalidades negras estão cada vez mais conquistando o
seu lugar de destaque na sociedade, bem como nas mídias,
incentivando, ajudando outras pessoas a encontrarem o seu espaço de
glória e aceitação física. E com a era digital hoje, é possível ir bem mais
longe, e alcançar mais e mais indivíduos.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 76


4.1 Representação na mídia e comunicação

Glória Maria Matta da Silva, conhecida como Glória Maria, é


apresentadora, jornalista e repórter de programa televisivo. A mesma já
entrevistou astros do cinema e da música, fez várias viagens para gravar
matérias, ela também apresentou o Fantástico por uma década.
Ela é sinônimo de inspiração,
principalmente para as mulheres
negras, e isso mostra que onde você
quer chegar, é diferente de onde
querem que você esteja. Portanto, a
protagonista da sua carreira, da sua
história deve ser sua pessoa.

ens
Fonte: Google Imag
Você sabia
a
o rn alis ta G ló ria Maria foi
A J da
a pe ss o a a u sar do direito
primeir ação
fo ns o A ri n o s em uma situ
Lei A LEI AFONSO
s o frid a n a d écada de 70, ARINOS
de racismo
J an e iro , o n de foi barrada -Lei de nº 1.390
no Rio de l - Escrita em 19
n te n a p o rta de um hote 49 e aprovada em
pelo gere 1951 - sancionad
a pelo presidente
r negra. Getúlio Vargas.
de luxo, por se
- Primeira lei
brasileira aprova
ey pelo Congresso da
ento black mon contra o racismo
Fonte: Movim .
Ela estabelece qu
e qualquer prátic
de preconceito a
por cor ou raça
contravenção pen é
al.
Fonte: Wikipéd
ia

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 770


5. Conhecendo o gênero cartaz
O cartaz é um gênero textual marcado pela função informativa, bem
como pela função apelativa. Existe uma série de gêneros textuais
utilizados para transmitir mensagens, dentre eles o cartaz é um dos
mais comuns, pois frequentemente nos depararmos com eles em
nosso cotidiano. Podemos nos deparar com esse gênero nas ruas,
como, por exemplo, nas campanhas eleitorais, no anúncio de eventos,
na divulgação de produtos, nas manifestações, nas campanhas de
conscientização em hospitais e escolas.
O gênero cartaz tem a função de ser
informativo, quando apenas informa
as pessoas de algo, como por
exemplo, um evento. Ou apelativo,
quando merece a atenção do leitor
para algum tema que precisa de uma
atenção maior. De todo modo, a
mensagem é apresentada de forma
clara e objetiva alcançar o maior
fonte: Google imagens
número de pessoas possível.
A linguagem não verbal é composta por
imagens criativas referente ao conteúdo,
que deseja chamar a atenção do leitor.
Algumas características são importantes
para a criação do cartaz, dentre elas, estão:
utilização dos verbos no imperativo;
utilização da linguagem verbal e não verbal;
texto curto e sugestivo; criatividade;
Fonte: preocupação estética (harmonia entre
https://www.todamateria.com.br/lingu
agem-verbal-e-nao-verbal/ tamanhos das letras e imagens,
espaçamento, utilização das cores).

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 780


Com a pandemia, o uso dos ambientes e dispositivos digitais tornou-
se frequente no ambiente escolar, em que professores e alunos tiveram
que se adaptar aos novos métodos de ensino. Dessa forma, propomos a
produção do gênero cartaz através da plataforma Canva, a fim de
possam ser compartilhados pelos alunos em redes sociais, como por
exemplo no Instagram, ou mesmo impressos, divulgados na escola ou em
locais públicos, como em praças, para conscientizar não só os alunos,
mas também toda a comunidade.
Acreditamos que essa proposta de
atividade incentiva os alunos a terem
mais habilidades em diversas
ferramentas, já que o uso das
tecnologias está se tornando cada vez
mais frequente.

Ao lado, vemos um cartaz feito


por um dos autores desse capítulo, o
Guilherme, utilizando recursos do
Canva. Para produzir esse cartaz,
primeiramente, é preciso que se
tenha o tema, logo em seguida,
procure um layout adequado ao
tema que você deseja, imagens
relacionadas, cores legais e um texto
informativo/comunicativo.

Para entender melhor

Assista como fazer


um cartaz no canva!

Fonte: Acadêmico - Guilherme Cordeiro da Silva


Link:
https://youtu.be/YwwzuyDSrDg

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 790


6. Sugestões de atividades

1- Observe temas da atualidade que merecem a atenção da


sociedade, procure imagens referentes ao assunto e produza
um cartaz. Pode ser usado o aplicativo Canva como ferramenta
para o desenvolvimento do cartaz.
2- Sugerimos que os alunos formem grupos de mobilização e
produzam posts, chamando a atenção das pessoas a não
deixarem morrerem as raízes dessa cultura afro que é tão
importante para a identidade do nosso Brasil, a fim de que o
negro não seja lembrado apenas no dia da Consciência Negra,
20 de novembro. Ainda nessa perspectiva, acreditamos que
essa proposta seja uma forma de levar esse olhar de valorização
além dos muros da escola, que sejam produzidos cartazes e
sejam expostos em praças motivando as pessoas a se
aprofundarem nessa cultura cada vez mais.
3- É interessante que cada grupo busque representar uma voz
negra, bem como, procure saber qual é o papel desta pessoa na
sociedade. Ou seja, um aluno de cada grupo vai se caracterizar
conforme, por exemplo, um advogado, jornalista, jogador, etc.
4- Por último, propomos que após os alunos realizarem os
trabalhos, eles façam uma pequena avaliação acerca dos
conhecimentos adquiridos a partir do projeto, apontando os
pontos fortes e as dificuldades dos grupos.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 800


7. Divulgando nossa proposta

Conforme apresentado ao longo deste capítulo, nosso foco foi a


valorização da cultura afro-brasileira, não só no contexto escolar, mas
também fora dele. Ou seja, a valorização da cultura além dos muros da
escola.
Por isso, sugerimos a você, professor, um projeto mediado com sua
ajuda, feito pelos alunos, visando que estes possam ter uma visão
diferenciada da herança africana deixada a nós, fomentando uma prática
pedagógica que abre espaço para e com pessoas além da sala de aula,
envolvendo não só a comunidade escolar, mas também os outros de
fora, para que estes vejam o quão importante e rico é a cultura do Brasil.
Com isso, buscamos instigar a criatividade dos estudantes, ao passo
que propomos o uso de ferramentas digitais de maneira crítica, ética, e
de responsabilidade social.
Portanto, esperamos não só a valorização, mas o respeito em relação
a todas as culturas. Sendo assim, os alunos verão que a cultura Afro-
brasileira é a história de um povo, e um povo sem cultura não é um povo
sem história.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 810


Autores

Adriele Neves da Silva Sousa Guilherme Cordeiro da Silva


Graduanda no curso de Graduando no curso de
Licenciatura em Letras, Língua Licenciatura em Letras, Língua
Portuguesa, Língua Inglesa e Portuguesa, Língua Inglesa e
Respectivas Literaturas. Respectivas Literaturas. UEMA,
UEMA, Campus de Balsas. Campus de Balsas.

Maria do Espírito Santo de Carvalho


Maria Eduarda Nascimento Lima
Lopes
Graduanda no curso de
Graduanda no curso de Licenciatura Licenciatura em Letras, Língua
em Letras, Língua Portuguesa, Língua Portuguesa, Língua Inglesa e
Inglesa e Respectivas Literaturas. Respectivas Literaturas. UEMA,
UEMA, Campus de Balsas. Campus de Balsas.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 820


Referências

CONCEIÇÃO, Antônio Carlos Lima da. CONCEIÇÃO, Helenise da Cruz.


A construção da identidade afrodescendente. Revista África e
africanidades - ano 2; n 8, fev. 2010.

GOMES, Nilma Lino. Movimento negro e educação: Ressignificando e


politizando a raça. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 120, p. 727-744.

MACEDO, C. A. Programa Cultural para o Desenvolvimento do Brasil.


In: BARROS, J. M. (Org.). Diversidade Cultural: da proteção a
promoção. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. pp. 90-91.

MOVIMENTO BLACK MONEY. Representatividade importa sim!


Personalidades negras, de ontem, hoje e sempre. Disponível em:
<https://movimentoblackmoney.com.br/representatividade-importa-
sim-personalidades-negras-de-ontem-hoje-e-sempre/>. Acesso em: 04
de Ago. 2021.

NUNES PEREIRA, Luena Nascimento. O ensino e a pesquisa sobre a


África no Brasil e a Lei 10.639. Ciencias sociales, Buenos Aires, 2008, p.
253-255.

Toda Matéria. O Cartaz como gênero textual. Disponível em:


<https://www.todamateria.com.br/o-cartaz-como-genero-textual/>
Acesso em: 20 Jul. 2021.

Capítulo 4 - A valorização da cultura afro além do ambiente escolar 830


CAPÍTULO

5
POEMAS E E-
PORTFÓLIOS:
compartilhando
nossos sentimentos

Juzileia Vale Souza Torres


Larissa Evangelista Sousa
Sara Pontes Feitosa Sousa
Terezinha de Jesus Oliveira Araújo
Viviane Maria Araújo França Gonçalves
Ana Patrícia Sá Martins

84
1. Apresentação

O presente capítulo traz uma proposta destinada ao aperfeiçoamento


da competência leitora e escrita dos educandos. Visando o
desenvolvimento dessas competências, optamos pelo campo da
literatura e conduziremos com inovações metodológicas os poemas da
autora Cecília Meireles por meio da produção de e-portfólios. Deste
modo, apresentaremos uma didática alicerçada no uso crítico das
tecnologias, objetivando aguçar nos aprendizes o desejo pelo hábito da
leitura e proporcionar uma aprendizagem significativa na construção de
seus letramento literário e digital.
Partindo desse pressuposto, é essencial atentarmos para pontos
fundamentais para eficácia desta temática, como: texto com linguagem
de fácil entendimento, inovação metodológica e o engajamento do
aluno neste processo, visto que as multimodalidades desse gênero
abrem um leque de oportunidades que possibilitam ao aluno autonomia
mediante a leveza na transmissão das mensagens, a coerência e a
manifestação do pensamento nelas contidos. Em suma, a leitura em
junção à prática no contexto da sala de aula amplia de maneira
satisfatória o olhar reflexivo do leitor, possibilitando com sutileza a
percepção da realidade da qual faz parte, e produzi-los é a
representatividade desta, por meio dos sentimentos.

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 85


2. Nossa autora
Nascida no Rio de Janeiro, Cecilia Benevides de
Carvalho Meireles, órfã de pai e mãe foi criada pela
avó num ambiente conservador e sem muito
contato com outras crianças. Dedicou-se aos
estudos, destacando-se como uma aluna exemplar.
No auge de seus 18 anos, ela publicou uma
coletânea de poemas.
No decorrer de sua aclamada carreira, foi jornalista,
pintora, professora e escritora, publicando várias
poesias, livros, peças teatrais, dentre outras obras
importante para a literatura brasileira. Além de ser
Cecília Meireles
uma das maiores escritoras modernistas, a mesma
Fonte: Google
imagens foi a primeira a fundar uma biblioteca infantil no
ano de 1934.

2.1DOS LIVROS PARA ALÉM DA SALA DE AULA: o


gênero e-portfólio no viés do letramento Literário.

Sabemos que adquirir o hábito da leitura é um processo árduo e


contínuo, e isso nos remete aos seguintes questionamentos: O que
impossibilita uma pessoa a apreciar a leitura? Nossos professores estão
deixando essa habilidade de lado ao longo da trajetória escolar?
Nesta ótica, acreditamos que a construção de e-portfólios pode
estimular e aperfeiçoar a consciência cognitiva no viés do letramento
digital e literário dos aprendizes, bem como favorecer o
desenvolvimento da escrita. Ademais, entendemos que, atualmente,
incorporar as tecnologias no sistema educacional é crucial, haja em
vista que suas multimodalidades propiciam interatividade,
interdependência e pluralidade por meio de recursos de dados,
animações, links, e etc.

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 86


Deste modo, o uso do suporte e-portfólio favorece tanto ao
letramento digital, quanto à competência leitura e escrita dos discentes
e docentes, uma vez que esse processo engloba todos os envolvidos.
Assim, o uso dos poemas da referida autora evidenciará a relevância das
didáticas utilizadas dentro e fora do contexto escolar, pois, quando
trabalhadas satisfatoriamente, resulta em interação com o mundo e,
ainda gera influência para além dos muros da escola por meio de
produções e compartilhamentos das atividades propostas.
Fortalecemos ainda que o letramento é relevante para o
entendimento de uma sociedade justa e igualitária, visto que esta práxis
possibilita ao leitor uma maior criticidade, posicionamento e, por
conseguinte, capacidade de transformar sua realidade, pois, como afirma
Grossi (2008), a leitura possibilita novos horizontes e posicionamentos,
"Pessoas que não são leitoras têm a vida restrita à comunicação oral e
dificilmente ampliam seus horizontes, por ter contato com ideias
próximas das suas, nas conversas com amigos". Assim, acreditamos que
incentivar a formação de leitores é não apenas fundamental no mundo
globalizado em que vivemos, é também trabalhar pela sustentabilidade
do planeta, ao garantir a convivência pacífica entre todos e o respeito à
diversidade". (GROSSI, 2008, pg.13 apud ARANA; KLEDI, 2015).
Portanto, é primordial desenvolver metodologias eficazes no
processo, estimulando o letramento literário dos educandos, pois o
referido é essencial para formação de seres reflexivos, visto que
vivemos em uma sociedade globalizada e carente de sensibilidade sobre
seus posicionamentos. Atentando ainda para a diversidade de suportes
tecnológicos que possibilitam de modo gratuito o contato com os livros
e similares, indicaremos uma didática concernente ao uso desses
suportes no intuito de suprir essa necessidade, pondo em evidência que
a proficiência contribui para a formação do indivíduo como ser
ponderado socialmente na contemporaneidade integrada em que
vivemos.

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 87


Poema, conhecendo esse gênero textual.
O poema é um gênero textual breve, em estilo, extensão e
temática. Apresenta uma linguagem que pode ser usada no aspecto
sonoro ou visual, sendo não somente um instrumento para a
comunicação, mas também um objeto artístico.
Em sua estrutura, estão os versos, estrofes, rimas, métrica,
aliteração, assonância e musicalidade. Alguns desses recursos que
estão presentes na estrutura, como a aliteração, assonância e rimas,
são responsáveis pelo ritmo de repetição no poema.
Entendemos que o gênero poema é uma
arte que precisa ser mais inserida no
Você sabia?
A palavra "poema" contexto escolar. Dado esse propósito,
deriva do verbo podemos observar que é possível um
grego "poiéo" que
alargamento do aprendizado e
tem o significado
"fazer, criar, consequentemente o fortalecimento do
compor" ensino. Em vista disso, é necessário
recorrer ao poema no sentido textual,
gerando oportunidade de o aluno
encontrar-se consigo mesmo por meio
das especificidades do gênero. Em razão
disso, há uma contribuição na
competência de leitura e escrita, e ainda
favorece habilidade de interpretação
dos textos mediante ao afloramento da
sensibilidade do leitor.

Vídeo explicando a
estrutura do poema

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?


v=UpZ-SiBZRXU

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 88


Sugestão de poema da autora Cecília
Meirelles
Reinvenção
A vida só é possível
reinventada
Reflexão sobre o poema:
Anda o sol pelas campinas Sugerimos esse poema para que o
e passeia a mão dourada professor possa trabalhar com os
pelas águas, pelas folhas... alunos. O poema Reinvenção
Ah! tudo bolhas possui vinte e seis versos, rimas e
que vem de fundas piscinas três estrofes, desde o inicio até o
de ilusionismo... — mais nada. final.
Podemos ver nos versos a
Mas a vida, a vida, a vida, importância de ter um olhar mais
a vida só é possível sensível as coisas que está a
reinventada. nossa volta, de maneira que
possamos nos reinventar no
Vem a lua, vem, retira nosso dia-a-dia. Por outro lado, a
as algemas dos meus braços. autora Cecília Meireles traz a
Projeto-me por espaços solidão no ponto negativo da vida
cheios da tua Figura. e se encerra o poema trazendo a
Tudo mentira! Mentira perspectiva de esperança.
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...


Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.
Ouça aqui a declamação do poema
Porque a vida, a vida, a vida, Reinvenção, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?
a vida só é possível
v=VbvlCSlxzkU
reinventada.

Capítulo
Capítulo 5
5 -- POEMAS
POEMAS E
E E-PORTFÓLIOS:
E-PORTFÓLIOS: compartilhando
compartilhando nossos
nossos sentimentos
sentimentos 890
4. Desenvolvendo nossa proposta de Projeto

Considerando o gênero poema e suas peculiaridades no que diz


respeito à representatividade dos sentimentos por meio de versos,
propomos a produção de e - portfólio como megainstrumento para
impulsionar a expressividade, a criatividade e autonomia dos alunos, a
partir do qual poderá expressar seus desejos e anseios por meio da
leitura e escrita.

Você já ouviu falar em E- portfólio?

E- Portfólio: um instrumento didático-digital

O e-portfólio é um gênero produzido em suporte tecnológico que


auxilia na construção de textos e exposições das reflexões acerca
de temáticas abordadas pelo professor, possibilitando um estudo
mais dinâmico e inovador facultando aos alunos um ensino
diferenciado. A construção paulatina do gênero no ambiente digital
permite aos alunos personalizar sua interface segundo suas
preferências, e essa acessibilidade assegura sua edição em qualquer
hora e lugar, pois é utilizado tanto no computador quanto no celular
ou tablet.
Para uma melhor compreensão, sugerimos que acesse o link
abaixo e veja uma sugestão de como produzir um portfólio digital:

https://youtu.be/bDpgWOdfMNM

Capítulo
Capítulo55- - POEMAS
POEMASEEE-PORTFÓLIOS:
E-PORTFÓLIOS:compartilhando
compartilhandonossos
nossossentimentos
sentimentos 900
Sugestões de etapas para o
desenvolvimento do projeto:
Planejar é essencial para a eficácia da aquisição do conhecimento.

Veja as etapas a serem seguidas pelo professor:

Apresentar o gênero poema e suas


características;
Exibir vídeos didáticos que o enfatizem;
Exibir vídeos de pessoas recitando poemas;
Explicar características e funcionalidades
do e- portfólio;
Disponibilizar o Roteiro para produção do
e-Portfólio;
Mostrar um e- Portfólio pronto para turma.

As etapas acima destacadas devem ser consideradas, devido à


necessidade de compreensão por parte dos alunos. Neste processo, o
aluno deverá entender o real sentido da aprendizagem e o professor
tem papel fundamental para eficácia do ensino-aprendizagem dos
mesmos, tornando-a significativa.

Este é o momento de tirar as primeiras


dúvidas da turma, visto que no decorrer
do trabalho surgirão outras. Neste
sentido, o professor deve elaborar
LEMBRE-SE!! questionamentos que desperte a
curiosidade da turma e aproveitar o
ensejo para distinguir quem já teve
acesso ao gênero textual e à
metodologia.

Capítulo 5 - POEMAS
Capítulo E E-PORTFÓLIOS:
5 - POEMAS compartilhando
E E-PORTFÓLIOS: nossosnossos
compartilhando sentimentos
sentimentos 910
Assistência aos Professores
Disponibilizamos aqui o material de apoio aos professores com intuito
de auxilia-los no decorrer de suas atividades e colaborar para uma aula
diversificada aspirando o que há de melhor para o letramento do
educador e educando.

Como criar E-portfólio digital

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?


v=3yq8k3uZOBw

Roteiro para produção do e-portfólios:

Após o aluno assistir o vídeo, cada um irá


criar seu portfólio;
Inserindo informações, materiais e
observações sobre a temática exposta
pelo professor na aula.
Cada estudante construirá seu e-portfólio
como um diário, expondo as
aprendizagens e reflexões apreendidas.

Logo abaixo um link de e-portfólio como exemplo:


Disponível em:
https://issuu.com/nataliafor/docs/avrilportfoliodepoemas__1_

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 920


Acesse o link a seguir,
para melhor compreensão
da proposta!
https://app.animaker.com/animo/wRfUENHdP3
OQlGrg/

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 930


Da teoria à Prática
Considerando o gênero Poema suas particularidades e o recurso didático digital
E-portfólio, faça a atividade proposta.

Após o docente expor as características dos gêneros poema e e-


portfólio, sugerimos que faça uma roda de conversa com os alunos no
intuito de escutar quais as percepções destes em relação aos dois
gêneros e como podemos desenvolver e aprimorar a escrita, a leitura
literária e nossas reflexões sobre os sentimentos a partir do projeto.
Ressaltamos a importância de, durante essa conversa, o professor
enfatize acerca dos usos apropriados dos recursos digitais, para que os
alunos sintam-se motivados e compreendam que são inúmeros os
meios literários e tecnológicos que contribuem positivamente para
produção textual.

Vamos produzir?
Na particularidade desta proposta, incentivamos que cada aluno
possa construir seu e-portfólio, o qual vai ser "alimentado" com as
reflexões e sentimentos ao longo de um determinado período: um
bimestre, um semestre, ou até um ano letivo. Sempre pensando o
diálogo com a leitura de poemas/poesias e a representações e sentidos
dessas na vida de cada um.
O objetivo é que ao longo das rodas de conversas, em algumas aulas,
os alunos possam compartilhar experiências, reflexões, autores, obras,
recursos digitais, a partir dos usos que estejam fazendo na construção
de seus e-portfólios, os quais, ao final, podem ter seus links divulgados
entre si e nas redes sociais.

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 940


Nosso desejo
Este capítulo foi idealizado na perspectiva de colaborar para com
uma didática criativa e que oportunizasse aos alunos expressarem suas
reflexões e sentimentos, a partir da leitura de poesias e poemas.
Apontamos o gênero poema junto a criação do e-Portfólio como
instrumentos no processo de desenvolvimento da competência leitora,
escrita e linguística, bem como para proporcionar interatividade com as
inúmeras possibilidades que o gênero disponibiliza, aprimorando a
criatividade e expressões dos sentimentos. A referida metodologia
oportuniza aos aprendizes acesso à informação, socialização, integração
e renovação no anseio pela busca de novos conhecimentos,
contribuindo em outros contextos, para além dos muros da escola.
Assim, caro professor, desejamos que a presente proposta possa
motivá-lo e influenciá-lo em prática docente, diante dos inúmeros
desafios educacionais. Acreditamos que a proposta em dialogar a leitura
e estudo de poemas com a construção de e-portfólios possa favorecer a
autonomia de pensamento e o posicionamento na contemporaneidade,
privilegiando um ensino-aprendizagem significativo.
Saiba que cada detalhe neste capítulo foi pensado com muito
carinho, almejando contribuir de modo satisfatório para a construção de
leitores proficientes e consequentemente letrados.

"Deixamos o nosso agradecimento por sua colaboração na sociedade!!!

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 950


Carinhosamente, as autoras:

Larissa Evangelista Sousa.


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão ( UEMA).

Juzileia Vale Souza Torres.


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão ( UEMA).

Sara Pontes Feitosa Sousa


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão ( UEMA).

Viviane Maria Araújo França Gonçalves


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão
( UEMA).

Terezinha de Jesus Oliveira Araújo.


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão ( UEMA).

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 960


REFERÊNCIAS:

ARANA, Alba Regina de Azevedo; KLEBIS, Augusta Boa Sorte Oliveira: A


importância do incentivo à leitura para o processo de formação do
aluno. 2015. Disponível
em:https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/17264_7813.pdf.
Acessado em: 21/07/2021.

GUBERT, Rhaphaela; PASSOLLi, Grabriela Eyng. Portfólio como


ferramenta metodológica e avaliativa. Disponível em:
https://www.agrinho.com.br/site/wpcontent/uploads/2014/09/2_17_Po
rtifolio-como-ferramenta.pdf. Acesso em: 07/08/2021.

RIBEIRO, Ana Elisa. et al. orgs. Linguagem, tecnologia e educação; São


Paulo: Ed. Peirópolis, 2012. Disponível em:
https://mediacaotecnologica.files.wordpress.com/2012/08/ribeiro-et-al-
2010.pdf

SIGNIFICADOS. O que é Poema e suas principais características-


significados, 2011. Disponível em:
<https://www.significados.com.br/poema/>. Acesso em: 16/07/2021.

Capítulo 5 - POEMAS E E-PORTFÓLIOS: compartilhando nossos sentimentos 970


6
CAPÍTULO Maria Eduarda S. de Sousa
Adriele Santos Guida
Vitoria Lúcia Ferreira Guimarães
Ana Patrícia Sá Martins

Pressões sociais, transtornos mentais e o

papel da família: caminhos para o (não)

fracasso na educação

98
1 . Apresentação

“Ó Romeu, Romeu! Por que és Romeu? Renegai teu pai e recusa teu
nome; ou, se não quiseres, jura-me somente que me amas e não mais
serei uma Capuleto ”

O presente capítulo tem como referência a obra Romeu e Julieta, de


Willian Shakespeare, uma tragédia renascentista escrita no final do
século XVI. A obra narra a história de dois jovens cujas famílias eram
rivais, que acabam se apaixonando e vivem um romance proibido. A
trama gira em torno de conflitos familiares, rivalidade, amor, dualidade,
sorte e azar.
Romeu e Julieta é o reflexo da diferença entre as classes sociais, das
relações intrafamiliares e do impacto das relações interpessoais quando
não se tem conhecimento das suas fraquezas, deixando se influenciar
pelos seus impulsos e posteriormente não conseguindo defender seus
ideais. Ao utilizarmos a obra de William Shakespeare, temos como
intuito instigar a reflexão acerca das pressões sociais e como elas podem
interferir no ensino-aprendizagem, com casos de depressão e de
ansiedade, por exemplo, nas escolas e como a instituição lida com esses
alunos nesses casos.

Curiosidades

https://www.pensador.com
/curiosidades_sobre_shake
speare/

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação 99
2 . Conhecendo o autor

Shakespeare (William Shakespeare) nasceu


no dia 03 de abril de 1565, em uma pequena
cidade da Inglaterra. Após anos se dedicando,
ele se torna escritor e ator, sendo um dos mais
importantes dramaturgo e poeta renascentista.
Quando criança, foi contemplado com uma
boa educação, a qual estimulou seu talento
artístico. Aos 18 anos, conheceu a mulher que
Fonte: imagens do Google
se tornaria sua esposa, Anne Hathaway, com a
qual teve três filhos: Susanna, Judith e
Hamnet. Ele criou aproximadamente 40 peças,
que se dividem em comédia, tragédia,
Você sabia ?
sonetos, peças históricas e poemas
Após a publicação de uma foto nas
redes sociais, internautas notaram a narrativos. Em 1609, seus sonetos foram
semelhança entre Adam Shulman, publicados. Romeu e Julieta é a obra mais
marido de Anne Hathaway e
Shakespeare.E por coincidência a
conhecida de Shakespeare a nível
esposa de William Shakespeare mundial, sendo uma das obras mais
também se chamava Anne Hathaway .
apresentadas em palcos de teatros e
https://revistaglamour.globo.com/Celebridades/notici
a/2018/07/internet-descobriu-que-o-marido-de-anne- adaptada em filmes, e muito popular pelo
hathaway-e-cara-do-shakespeare.html
seu final fatídico.
A linguagem popular é predominante na tragédia, sendo marcada por
expressões complexas. O conto foi baseado em uma história popular da
Itália, sendo adaptada por Arthur Brooke e posteriormente por
Shakespeare, a qual foi dividida em 5 atos.

as máscaras que
simbolizam o teatro

https://escoladearteiros.com.
br/2020/10/22/o-que-
significa-as-duas-mascaras-
que-representam-o-teatro/

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
0
100
3 .Temática
Romeu e Julieta pertenciam a diferentes classes sociais, suas famílias
eram rivais e consequentemente a relação entre os dois não era
permitida, o que gerou a tragédia. No contexto da atualidade, persiste a
desigualdade social na qual muitos jovens e crianças são impedidas de
ter acesso às atividades escolares por pertencerem a classes
divergentes. A educação seria uma forma de minimizar esse cenário,
porém a realidade não condiz com as expectativas que temos em
relação ao ensino, justamente porque é muito mais fácil dar entrada no
ensino, do que um indivíduo chegar a concluir os estudos, como Priscilla
Bonini Ribeiro afirma em sua produção A educação e as desigualdades
sociais:
“No ensino fundamental, a dificuldade é terminar a primeira e a
segunda etapa. São gargalos diferenciados. Entretanto, muitas
crianças não conseguem acompanhar o ritmo escolar devido às
condições sociais em que vivem. Já está mais do que provado que a
alimentação, o ambiente domiciliar, a participação da família, entre
outros, são fatores determinantes na vida de uma criança. Quando
esses fatores são debilitados pela condição social da família o
resultado é percebido nas salas de aulas onde as dificuldades
aparecem e persistem.”

Na narrativa, podemos perceber o quanto a relação familiar tem


influência e importância na formação do indivíduo entre outros fatores.
O primeiro contato que temos com a educação é feito através do meio
familiar, na qual é subordinado a aprendizagem na educação informal.
Desde o nascimento de uma criança, a forma como ela deve se
comportar lhe é mostrado, com um simples olhar até mesmo uma
advertência, assim a personalidade do indivíduo é moldada conforme os
princípios dos pais, pois o comportamento é reflexo do que se é
vivenciado no ambiente familiar.
- O que é? Um rumor? Preciso então me apressar. Oh! Bendita
adaga! Esta é tua bainha! Enferruja-te aqui e deixa-me morrer!
( Julieta em “Romeu e Julieta”)

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos


fracasso na educação
caminhospara
paraoo(não)
(não)
0
101
A frase dita por Julieta no ato de seu suicídio foi consequência das
privações de sua família. Se a contextualizarmos para o ambiente
educacional, é perceptível a dificuldade dos pais e familiares em manter
um diálogo saudável com jovem/adolescente, que, na maioria das vezes,
tem seus sonhos e planos frustrados por falta de apoio familiar. Em
parte, acreditamos que isso ocorre porque os pais materializam nos
filhos uma versão deles mesmos quando jovens e impõe a eles a tarefa
de conquistar o que não conseguiram, mantendo-os assim incapazes de
aprender com os próprios passos e ter seus próprios ideais.
Diálogo entre família e escola deve começar

antes de surgirem os problemas!

https://educacaointegral.org.br/reporta
gens/dialogo-da-familia-escola-tem-
comecar-antes-dos-problemas-
aparecerem/ Fonte: Google Imagens

3. 1 A garota de ouro

Simone Biles Simone Arianne Biles é uma ginasta dos


Estados Unidos da América, um dos maiores
nomes da ginástica olímpica mundial. Até as
Olimpíadas de 2020, era conhecida apenas
por suas inúmeras vitórias e medalhas,
sobretudo, de ouro. Porém, após desistir de
participar de algumas competições, tem sido
Fonte:imagem da internet alvo da mídia e das redes sociais.

"Acho que a saúde mental é mais importante nos esportes nesse


momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e
não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos", afirmou
a atleta durante uma entrevista a BBC.
https://www.bbc.com/portuguese/geral-57990804

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
0
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Desde a nossa infância, muitos de nós somos controlados pelas
expectativas que nos são impostas pela sociedade e, às vezes, o pior é
que isso é visto como "normal". Somos coagidos a sermos "perfeitos", o
modelo de cidadão exemplar: concluir o ensino médio e já ingressar em
uma universidade, ser um bom filho, ter boas notas, estabilidade
financeira e etc. Com certeza você conhece alguém que ainda não
encontrou a sua vocação, mas que mesmo assim está na faculdade,
alguns até começam a gostar e decidem que era aquilo que procuravam,
porém isso é raro! Na maioria das vezes, se formam e seguem uma
carreira que não tem afinidade só para "não ficar sem opção". Além
disso, quando não seguimos o padrão de vida que nos é imposto como o
melhor, somos alvos de críticas, comentários destrutivos e julgamentos.
Essas pressões sociais desencadeiam vários distúrbios mentais que
futuramente podem nos escravizar ou até mesmo levar a morte.

A tira a seguir é um exemplo de pressão exercida pela sociedade:

Fonte: http://lokaz-tirinhas.blogspot.com/search/label/cobran%C3%A7as

Até onde essas cobranças podem nos levar? Ao fracasso? À


desistência? Vale a pena mesmo seguir um caminho que não é nosso?
Na trama, Romeu e Julieta, após se sentirem pressionados pelas
decisões tomadas pelas famílias de ambos, acabam recorrendo ao
suicídio. Em contra partida, a atleta Simone Biles desiste de participar
das finais olímpicas para preservar a saúde mental. Nos dois casos, na
ficção e na vida real, podemos observar o quão frustrante e devastador
pode ser quando nos sentimos desmotivados por não suprirmos as
expectativas das pessoas que admiramos.

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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103
“Tenho que colocar minha saúde mental como prioridade. Não vejo
problema em desistir de grandes competições para focar em você, porque

mostra força como competidora e como pessoa ”


- Simone Biles

Um olhar, até mesmo uma palavra faz com que fiquemos apreensivos
"desconsertados", principalmente vindo de uma pessoa que exerce
algum tipo de influência, seja ela um professor, treinador, mãe ou chefe.
Ser pressionado é ser colocada em questão a nossa capacidade, um
errinho qualquer e todos os seus acertos são esquecidos; é como se
fosse um "defeito de fábrica".
Muitos professores já ouviram a seguinte frase: "eu não consigo
aprender, sou burro!" e é nesse momento que procuramos uma forma
de dizer que aquilo não é verdade, que ele é capaz, só precisa se
esforçar. A frase citada pelo aluno reflete outras situações em que se
sentiu incapaz, humilhado e muitas vezes isso é feito pela própria
família, pois de tanto as suas imperfeições serem lembradas, o aluno
passa a acreditar, e o que acaba acontecendo é a desistência do âmbito
escolar.
C O "chapéu de burro"
u Uma das práticas de punição ostensiva
utilizada pelas escolas arcaicas era o
r
chamado "chapéu de burro", que no
i princípio fazia referência aos magos,
o significando inteligência.
Aqueles que não prestassem atenção,
s possuíssem dificuldade de aprendizado,
i fossem distraídos ou fizessem bagunça
eram colocados no canto da sala com um
d Fonte: Imagens da internet
chapéu no formato de cone, como uma
a Dunce=BURRO forma de exemplo para aqueles que não
cumprissem as normas. O que gerava
d
constrangimento e humilhação, onde
e surge o estereótipo do favoritismo .

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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Desistir é um ato de fraqueza ou força? Quando desistimos de algo ou
pensamos em abrir mão daquilo que almejamos com fervor é porque de
alguma forma nos desiludimos, deixamos de acreditar na nossa
capacidade, no nosso eu.
A História do Nós mudemo A evasão escolar está ligada a diversos fatores.
Tendo em vista nosso foco no capítulo,
https://www.youtube.c focaremos nos aspectos psicológicos e sociais,
om/watch? como, por exemplo, as comparações quanto ao
v=rev03FJLbVo
rendimento dos alunos .
Muitas vezes, alguns alunos são rotulados de “burros”, isto não se
limita à sala de aula, pode vir de berço familiar também, o que
infelizmente gera uma insegurança no aluno e a autoaceitação do rótulo
que lhe foi dado, fazendo assim com que o mesmo desista, já que ele
não consegue o mesmo rendimento que seus colegas.
Um levantamento geral feito pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) mostra que o índice de
desistentes é persistente entre homens
de cor parda/preta e baixa renda. A

maioria opta por trabalhar ao invés de


estudar, uma pequena minoria consegue
conciliar os estudos com o trabalho e isso
é um de vários fatores que contribuem Fonte: Imagens da internet
para o que o ciclo de analfabetismo não
seja quebrado.
No ano de 2019, quase 100% dos alunos
entre 6 e 14 anos estavam na escola,
comparando com dados anteriores temos tido
um avanço, mas está bem longe do desejável. A
proporção de brasileiros de 25 anos ou mais
com ensino médio completo cresceu. Mas, ainda https://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2020/07/15/i
têm 11 milhões de analfabetos, mais da metade bge-mede-o-problema-
nacional-da-evasao-
na Região Nordeste, segundo a publicação do escolar.ghtml

G1.

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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3.2 Depressão e ansiedade no ambiente escolar
A depressão e a ansiedade são transtornos psicológicos que trazem
tristeza, desesperança, pessimismo, solidão e podem até mesmo se
manifestar em sintomas físicos, são problemas sérios, sendo muitas
vezes interpretados como "frescura". Existem muitos motivos que
podem levar uma pessoa a isso, as pressões mentais com certeza é um
deles.
A frustação de não se tornar alguém perfeito, dos brasileiros
segundo os padrões da sociedade, pode se tornar 30% entre 12 e 17 anos
tem transtornos
um gatilho para alguém, assim como não ter a vida mentais comuns
seguida no tempo das outras pessoas, como não
conquistar as coisas tão rápido quanto os demais,
por exemplo. Tudo isso gera uma comparação, um
sentimento de insuficiência e de baixa Fonte: https://www.paho.org/pt/topicos/saude-
mental-dos-adolescentes
autoestima, se transformando em frustação, Organização Pan-americana da Saúde

ansiedade e depressão.
Trazendo isso para o âmbito escolar, percebemos que muitos dos
alunos jovens e adolescentes enfrentam tamanha luta contra esses
transtornos, causados pela pressão, pelas "piadinhas" feitas sobre as
mudanças corporais, problemas familiares, e tendo como consequência
o abandono dos estudos, a falta nas aulas e o afastamento dos colegas
de classe. Os alunos passam a maior parte da adolescência na escola, o
que resulta em conhecer novos colegas e fazer amigos no âmbito
escolar, então qualquer mudança mental que tenham afetará sua área
educacional e social tanto positivamente, quanto negativamente.
dos docentes com
59% depressão não tem
acompanhamento
médico regular

Fonte: https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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Ao analisar a série "13 reasons why",
disponível na Netflix, na qual uma
aluna sofre suicídio após uma
sequência de bullying, percebemos o
Hannah Baker
quão presente isso é em meio a escola,
17 anos
Estudante do ensino alunos com transtornos psicológicos
médio que afetam sua aprendizagem, se
Uma garota gentil, tornando pessoas problemáticas e
inteligente e bem
introvertidas e muitas vezes com
humorada.
pensamentos suicidas.

Na série, a jovem que sofre suicídio deixa treze fitas, sendo que em
cada fita há um motivo do por que de tal ato. Em uma das fitas, a jovem
pede ajuda ao psicólogo da escola, mas não a recebe, isso também
mostra que muitas escolas não estão preparadas para atender a esses
alunos, tendo ela a capacidade de ajudar no apoio emocional e
assistência às famílias, que muitas vezes não sabem como ajudar os
jovens e adolescentes.
O momento em que Hannah pede ajuda:

Psicólogo - O que você quis dizer quando falou que


precisava que a vida acabasse ?
Hannah - Não sei...( começa a chorar)
Psicólogo - Parece algo muito sério a se dizer.
Hannah - Eu sei. Eu... sinto muito. Eu não quis dizer isso,
eu acho.

Segundo os especialistas, existem comportamentos que dão sinais de


que a pessoa esteja enfrentando esses problemas, assim como: a
mudança de humor, a automutilação, o isolamento social, a perda de
interesse ou prazer em atividades que eram frequentes, entre muitas
outras coisas.
Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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4. A leitura literária: conhecendo a literatura
dramática (tragédia )

Fonte : https://www.dreamstime.com/photos-images/feather-
quill-mask.html

Através dos gêneros literários experimentamos sensações


únicas, nosso intelectual e sensibilidade entram em deleite com as
emoções é quando surge o sentimento de compaixão, empatia,
felicidade ou até mesmo indignação. E todas essas emoções são
possíveis de serem despertadas pelas estruturas narrativas.
" Eu acho que a literatura... quando se lê um livro você é
transportado para um mundo fictício, onde se entra em contato
com a história de alguém e passamos a conhecer e a entender
aquele personagem. Somos críticos com as situações, de alguma
forma somos induzidos a refletir, aprendemos mais sobre nós
mesmos, é terapêutico!"
Quando se conhece esse universo fascinante, você começa a
entender o por que de darmos tanta importância para os gêneros. O
contato com os mesmos pode ocorrer de diversas formas, não se limita
a estrutura física (o livro), as novelas, peças teatrais, séries, longas
metragens e adaptações cinematográficas são baseadas em algum
gênero textual, permitindo, assim, o contato visual. Há quem diga:
"gostei mais do livro", e é aceitável , não se pode comparar a sensação
de ler um livro onde somos nós que controlamos tudo com um roteiro
pronto, em que há grandes chances dos detalhes serem comprimidos.

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos


fracasso na educação
O caminhopara
parao o(não)
(não)
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As narrativas dramáticas surgiram na Grécia no contexto religioso. No
princípio, as peças eram encenadas como uma forma de louvar os
deuses antigos (Dionísio), com o tempo foram se distanciando da
religião, passando a englobar diversos temas. O fato de ter sido feita
para ser atuada, não significa que essas composições não podem ser
lidas. Romeu e Julieta é um clássico do teatro e da literatura inglesa.
Os textos dramáticos têm como característica as falas (monólogos) em
que cada cena estão presentes os nomes dos protagonistas que
correspondem a um diálogo. Podemos encontrar nesses diálogos
descrições de personagens, ambiente e expressões faciais, possuem
divisões que podem ser em atos/cenas como uma forma de se
comunicar com o público. A tragédia é um dos principais estilos
dramáticos que predomina na obra de Shakespeare, sendo marcado
pelo "terror".
Quando se sabe de alguma notícia ruim, costumamos dizer: "nossa,
que triste uma tragédia dessas...'' usamos o termo para enfatizar
piedade, surpresa e o sentimento de pavor; nem todos têm o
conhecimento de que essas sensações são transmitidas pelo gênero.

"A Tragédia é a expressão desesperada do homem que luta


contra todas as adversidades, mas não consegue evitar a
desgraça. O gênero tem como característica fundamental a
polarização, isto é, a constante oposição de duas forças. Há,
ainda, outras características como os planos humanos e divinos,
entendidos como morais, espirituais, que se distinguem. Por
último, cabe dizer sobre o erro trágico. Este é o responsável pela
falência do herói, fazendo com que ele, o herói, mergulhe no
território escorregadio dos valores. Assim, a Tragédia não
permite uma solução ou uma resposta."
(LIRA; PAULILLO, 2009, p. 136)

A literatura e o teatro sempre estiveram entrelaçados, não se pode


falar de literatura sem citar grandes escritores como Shakespeare(1564-
1613), Moliére (1622-1673), Samuel Beckett (1906-1989), Nelson
Rodrigues (1912-1980) e etc.

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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O gênero dramático presente nas obras
literárias brasileiras:

Capitães de Areia, de Jorge Amado:


Capitães de Areia tem contraste com os
meninos de rua de Salvador, menores
desfavorecidos, e que têm a vida marginal
explicada/baseada por tragédias familiares
ou relacionadas à condição de pobreza.

Vidas secas, de Graciliano Ramos: O


romance apresenta de forma sucinta a
sociedade brasileira e seus padrões sociais,
incluindo a exploração e opressão política. A
obra retrata a psicologia da repressão, o que
faz surgir uma análise reflexiva sobre os
personagens e a experiência que eles
vivenciam. A obra também possui uma
dimensão natural e seca do nordeste
brasileiro

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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Nossa proposição de projeto
Propomos a produção de cartazes colaborativos no Canva, a fim de
sejam divulgados nos grupos de redes sociais dos alunos e/ou impressos
para circularem dentro e fora da escola. Pode ser desenvolvido com
alunos do ensino fundamental ou do ensino médio.
O objetivo é oportunizar espaços de
discussão, reflexão, escuta e partilha
entre os alunos e professores, acerca de
questões/situações que lhes afetam
psico/socialmente.
Inicialmente, sugerimos que o professor
exiba a todos o filme O Substituto,
disponível em:
https://youtu.be/SRvJrxsrtsE.
Fonte: Imagens do Google

Em seguida, é interessante que o


professor faça uma roda de conversa
com os alunos, e os incentive a falar
sobre suas impressões acerca do filme
e como ele dialoga com suas próprias
vidas. Para a semana seguinte, o
professor pode solicitar que cada
aluno produza um podcast, relatando Apps para gravar
podcasts no
alguma experiência que tenha lhe
celular:
causado sofrimento, ansiedade, https://youtu.be/j
bulling, etc, em casa ou na escola e KDmo1xMJls
que gostaria de compartilhar.

O intuito é que os alunos possam compartilhar seus sentimentos


através dos relatos em podcasts, usando de maneira crítica e consciente
os recursos dos aplicativos sugeridos: sonoplastia, efeitos sonoros, etc.
Posterior ao momento da partilha, sugerimos que, se possível o
professor solicite da gestão o apoio para conseguir uma palestra, uma
roda de conversa com algum psicólogo que possa apresentar melhores
instruções aos alunos acerca de temas como o suicídio e depressão.
Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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Como promover a saúde mental?
Empodere-se Quebre o tabu
Por mais que a formação de
professor não permita que Falar sobre saúde mental e sua
diagnostiquemos alunos com importância não tem que ser
depressão e ansiedade, proibido , é um assunto que deve
podemos observar o ser falado abertamente, sem
limitações.
comportamento de nossos
alunos.

Informe-se a única forma de


quebrar as barreiras é através
da informação. Existem
palestras gratuitas e cursos que
abordam de forma clara e
atual.

Projeto Cuca Legal da UNIFESP oferece


cursos, pesquisas e eventos
http://cucalegal.org.br/

Na próxima etapa, peça aos alunos que


pesquisem casos de suicídio e depressão
entre crianças e adolescentes em sites, a
fim de que possam, ao final, produzir
cartazes colaborativamente no Canva, e
divulgá-los nas mídias digitais, visando
conscientizar a todos da importância do
respeito e a repressão às pressões sociais

Para produzir posts colaborativos


no Canva, veja o tutorial em
https://youtu.be/-nqGhCL88nA

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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Autoras:

Maria Eduarda Silva de Sousa


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas
Respectivas Literaturas pela Universidade
Estadual do Maranhão ( UEMA)

Adriele Dos Santos Guida


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas
Respectivas Literaturas pela Universidade
Estadual do Maranhão ( UEMA)

Vitoria Lúcia Ferreira Guimarães


Graduanda em Letras Português e Inglês e suas
Respectivas Literaturas pela Universidade
Estadual do Maranhão ( UEMA)

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
Capítulo
fracasso na educação
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113
8 . Referências:
ARRUDA, Ma. Lúcia. Filosofia da Educação, Editora Moderna.
Disponível em: file:///C:/Users/Adriele/Desktop/59407821-ARANHA-
Maria-Lucia-de-A-Filosofia-da-educacao.pdf.
Acesso em 24 de julho de 2021

CEBULSKI, Márcia Cristina. Introdução à história do teatro no ocidente:


dos gregos aos nossos dias. Guarapuava: Editora Unicentro, 2013.

DIANA, Daniela. Romeu e Julieta. Toda Matéria. Disponível em:


https://www.todamateria.com.br/romeu-e-julieta/.
Acesso em 24 de julho de 2021.

DIANA, Daniela. William Shakespeare. Toda Matéria. Disponível em:


https://www.todamateria.com.br/william-shakespeare/.
Acesso em 24 de julho de 2021.

FLORY, Alexandre Villibor. Literatura e teatro: encontros e


desencontros formais e históricos. Maringá: Departamento de Letras
Editora, 2010.

KARINA, Ana. Jogos de linguagem de conotação obscena em Romeu e


Julieta, 2017. Fonte www.seer.ufrgs.brs. Disponível em:
file:///C:/Users/Adriele/Downloads/75616-313724-1-SM%20(1).pdf.
Acesso em 24 de julho de 2021.

Capitulo 6 - Pressões sociais, transtornos mentais e o papel da família: caminhos para o (não)
fracasso na educação
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7
CAPÍTULO
A POESIA FALADA EM
VÍDEO-POEMAS: A
LITERATURA E A
EXPRESSÃO PELA VIDA

Cleudiellen Sandes Rodrigues


Ellen Leite de Sousa
Sandryellen Pimentel Saraiva
Ana Patrícia Sá Martins

BRANDILI. As aventuras de ler. 2012. Disponível em: <https://blog.brandili.com.br/as-


aventuras-de-ler/>. Acesso em: 20 jul. 2021.
115
1. Apresentação

A leitura e a escrita fazem parte de todo o período escolar. Na


alfabetização, o educando começa a desenvolver as habilidades da
leitura e da escrita e seus usos como forma de socialização, pois
aprender a ler e escrever é fundamental para todos os indivíduos. Por
essa perspectiva, a leitura e escrita são indispensáveis para a vida, mas
para tornar-se um bom leitor é importante ir além da decodificação de
palavras, isto é, sem a obtenção do sentido do texto. Sendo necessário
pensar sobre todas as questões em nossa volta, tentar criar
intertextualidades, pensar criticamente. A falta dessas competências
pode ocasionar problemas como o bloqueio do desenvolvimento de
aprendizagens posteriores.

Dessa maneira, esse capítulo pretende apresentar uma proposta de


projeto intitulada A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura
e a expressão pela vida, buscando auxiliar os professores em suas
práticas pedagógicas para o desempenho dos educandos no processo
de ensino-aprendizagem da leitura e escrita. Abordará como é
importante as diversas práticas de leitura para construção de identidade
dos estudantes e a sua relevância para aprendizagem em sala de aula e
fora dos muros da escola. Afinal, é importante ressaltar que ler e
escrever contribuem para a construção do pensamento crítico,
comunicação, escrita competente, além de ser crucial para a
constituição identitária e representativa dos indivíduos.

Deste modo, o capítulo tem como objetivos: reconhecer a relevância


da leitura para o desenvolvimento do saber crítico e escrita competente,
abordar a importância da representatividade identitária para os
educandos, buscando mostrar os contextos sociais e culturais presentes
nos poemas através do diálogo as atividades de produção de gêneros
multimodais que circulam nos ambientes digitais da sociedade
contemporênea.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 116


2.Temática do projeto didático- digital
A leitura e escrita influenciam em todos os aspectos da vida, sendo
essenciais para o pensamento crítico de cada indivíduo, pois através da
leitura as pessoas conseguem estabelecer uma comunicação com
outros, enriquecer seu vocabulário e obter uma escrita eficiente. Além
do mais, a leitura está presente em todos âmbitos da nossa vida, porém
ainda é perceptível práticas de ensino que não ultrapassam a etapa da
decodificação de palavras dos textos, sem enfatizar a importância da
construção de sentido da leitura em relação ao mundo, deixando de ser
reflexivo para as pessoas. Por esses e outros fatores, acreditamos que,
infelizmente, muitos educandos não sentem apreço pela leitura, não
utilizam seu pensamento crítico, não se sentem pertencentes no meio
escolar, e acabam apenas absorvendo o que ouvem, não conseguindo
desenvolver uma aprendizagem significativa.
Partindo desse pressuposto, é necessário propor estratégias que
chamem a atenção do aluno para a leitura, construindo um pensamento
crítico e reflexivo que vá além dos muros da escola, pois o ato de ler e
compreender torna-se político e será necessário em todas as ocasiões.
De acordo com Paulo Freire, "a leitura de maneira crítica resulta na
percepção crítica das diversas culturas e transforma o mundo."

Fhttp://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/0
3/criancas-e-adolescentes-estao-lendo-menos-
indica-pesquisa.html

Conforme a reportagem no site do G1, disponível no link acima,


crianças e adolescentes estão lendo menos, e a maior motivação é a
obrigatoriedade em ler somente nas Instituições de ensino, ou seja, em
seu meio social não elas têm incentivo para a leitura e na escola leem,
não por prazer, mas por serem obrigadas a cumprir uma regra. Segundo
os dados apresentados, o baixo índice de leitura também se dá em
virtude da pouca diversidade de gêneros textuais nas escolas.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 117


"Entre as crianças, os livros infantis predominam como gênero preferido com
66%, seguido pelos livros didáticos (47%) e as histórias em quadrinhos (36%).
Na faixa dos 11 aos 13 anos, os livros didáticos repetem a marca de 47%,
seguidos pelos infantis (34%), quadrinhos (33%) e contos (30%). Na faixa
etária de 14 a 17 anos, cresce a influência dos livros didáticos (55%), e
aparecem os romances com 41%, contos (30%), livros de poesia (28%) e
livros juvenis (26%)".

Com o decorrer da faixa etária e


dos anos, os índices de leitura vão
cada vez mais diminuindo, estes
dados são preocupantes para a
vida escolar dessas crianças e
adolescentes, e para seu futuro
acadêmico e profissional.

Fonte:
http://g1.globo.com/educacao/noticia/201
2/03/criancas-e-adolescentes-estao-lendo-
menos-indica-pesquisa.html

E para que essa realidade mude, entendemos que seja fundamental o


papel do professor como um mediador para que os alunos consigam
aprender de fato e ter gosto pela leitura e escrita. De acordo com
Sandra Thomé, "a docência implica num desempenho que se constrói no
tramado das diversas experiências das pessoas. Na especificidade de sua
tarefa se entrelaçam saberes, práticas e rituais que, transmitidos de
geração a geração e recriados diariamente pelos sujeitos, expressam as
opiniões, atitudes, expectativas, valorações, imagens e significações dos
próprios docentes sobre os aspectos substantivos de sua atividade e do
contexto na qual esta se realiza, além de expressar a pertinência a
determinado grupo social."

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 118


Nesse sentido, é necessário que a escola se aproprie de textos que
trazem representatividade, seja cultural, racial ou social, para que assim
todos os educandos sintam-se representados, como também explorar o
senso crítico dos discentes por meio da leitura e interpretação.
Marisa Lajolo conceitua leitor como
aquele que "[...] diante de um texto Saiba mais:
escrito, tenha a autonomia suficiente
para atuar, desde a decodificação da
mensagem no seu aspecto literal até o
estabelecimento de um conjunto mínimo
de relações estruturais, contextuais que
ampliem a significação do texto, a tal
ponto que se possa considerar ter
havido, efetivamente, apropriação da Disponível em:
mensagem, do significado na https://youtu.be/bErqa0
multiplicidade de relações estabelecidas 0ImWc
entre texto e leitor, entre textos, com o
mundo " ( LAJOLO, 1999, p.105).

Percebemos, pois, que o ato de ler é muito mais do que

decodificações de palavras e de uma mera atividade escolar. A leitura é


cultura, conhecimento, representatividade. O papel da leitura na escola
direciona-se a inserir os educandos na sociedade letrada, para isso é
necessário a compreensão da relevância dessas competências.
Segundo Ziraldo (1988, p.27), “... a tônica da escola deveria ser a
leitura, num trabalho que fizesse do hábito de ler uma coisa tão
importante como respirar", tornando-se imprescindível para a
construção do pensar crítico, pois é essencial os estudantes
expressarem suas opiniões acerca do mundo em que vivem.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 119


3. Conhecendo o gênero poema
A leitura e escrita sempre foram relevantes para a construção do
saber, sendo as mesmas indispensáveis para a interpretação de mundo,
tanto quanto para a representatividade identitária que está presente nos
diversos gêneros textuais, literários ou não, o que os torna essenciais
para os indivíduos, pois neles estão inseridos as diversas culturas e
identidades.
Deste modo, vamos conhecer o gênero literário poema, que abordam
em suas linhas traços de seus contextos sociais, culturais e identitários.
O gênero literário poema, às vezes, é considerado sinônimo de poesia.
Contudo, eles possuem características distintas, pois o poema concerne
a uma estrutura textual em versos, estrofes e rimas e está inserido
apenas na literatura, sendo expresso somente por palavras, enquanto a
poesia é mais abrangente, não necessariamente textual, apesar de
também possuir uma linguagem estilística, porém pode está presente
em pinturas, esculturas e outras formas de arte. Ainda que existam
diferenças, em ambos percebemos uma linguagem subjetiva, que incita
o leitor a refletir e expressar seus sentimentos, emoções e opiniões.
Por essa perspectiva, trouxemos o poeta nordestino, cordelista,
Bráulio Bessa que mostra em seus poemas suas características regionais
e o amor pelo nordeste, algo que traz uma representatividade
identitária para os educandos dessas regiões, sendo fundamental para
a valorização da cultura.
Segundo o autor Bruno Fernandes (2011, p. 2), "A poesia é um tipo
de obra literária que oferece a oportunidade de se encontrar
representações diversificadas sobre a realidade e sobre a sociedade. "
Diante do exposto, convidamos você a vamos conhecer algumas
poesias de escritores que viveram e escreveram em épocas diferentes:
Bráulio Bessa e Cecília Meireles

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 120


Bráulio Bessa Uchoa é um poeta
contemporâneo, cordelista, declamador e
palestrante brasileiro, conhecido por suas
poesias populares com assuntos relacionados
à amizade, recomeços e esperança, deixando
evidente suas inspirações em Patativa do
Assaré e sua cultura nordestina. Também é
fundador do Instituto Beleza interior, cujo
objetivo é promover o desenvolvimento
humano em crianças e adolescentes
Instituto Beleza interior:
https://www.instagram.com/i utilizando a arte. Um de seus poemas mais
nstitutobelezainterior/?hl=pt conhecidos é A corrida da vida:

Na corrida dessa vida é preciso entender que


você vai rastejar, que vai cair, vai sofrer e a
vida vai lhe ensinar
que se aprende a caminhar
e só depois a correr.

A vida é uma corrida que não se corre


sozinho. E vencer não é chegar, é aproveitar
o caminho
sentindo o cheiro das flores
e aprendendo com as dores
causadas por cada espinho.

Aprenda com cada dor,


com cada decepção,
com cada vez que alguém
lhe partir o coração.

Aprender é um grande dom.


Aprenda que até o bom vai aprender com a
maldade.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida.


Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 121

Aprender a desviar das pedras da ingratidão,


dos buracos da inveja, das curvas da solidão,
expandindo o pensamento
fazendo do sofrimento a sua maior lição.

Sem parar de aprender,


aproveite cada flor,
cada cheiro no cangote,
cada gesto de amor,
cada música dançada
e também cada risada,
silenciando o rancor.
O
Pare, não tenha pressa,
não carece acelerar, a vida já é tão curta, é preciso
aproveitar essa estranha corrida
que a chegada é a partida
e ninguém pode evitar!
Por isso é que o caminho
tem que ser aproveitado,
deixando pela estrada algo bom pra ser lembrado,
vivendo uma vida plena,
fazendo valer a pena
cada passo que foi dado

-Bráulio Bessa

Ouça aqui a declamação do poema:


https://youtu.be/-ZTYAyr1dU4

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 122


O poema A corrida da vida nos mostra o quanto é necessário
aproveitar cada momento da vida, e aprender com os erros. Com uma
linguagem popular, traz beleza e simplicidade.

De acordo com a autora Suelly Braga, “viver


a poesia é viver o mundo, é se comunicar por
meio dos sentidos com os acontecimentos que
se passam ao nosso redor, além de propiciar-
lhe uma ampla crítica dos valores vigentes na
sociedade".

Escritora mundialmente conhecida por


seus belos e profundos poemas é a brasileira
Cecília Meireles. Poetisa modernista,
professora, jornalista e pintora, que trouxe
uma representatividade identitária para as
mulheres, sendo a primeira voz feminina na
literatura brasileira, uma conquista notável Conheça um pouco mais da
para as mulheres que antes não podiam ter Biografia da autora
em:https://youtu.be/C6ZV
independência, Cecília Meireles traz uma 3Ek26G0
representatividade às mulheres e marca seus
posicionamentos em questões sociais e
políticas, o que foi revolucionário para as
mulheres na época.
Ela cultivou uma poesia reflexiva, filosófica, que aborda temas como a
transitoriedade da vida, do amor, do tempo e a natureza. Foi uma
escritora que sempre procurou questionar e compreender o mundo a
partir de suas experiências. Acreditamos que oportunizar a leitura de
seus poemas aos alunos, podemos contribuir para que, através da leitura
literária, eles possam relacionar com suas experiências no meio social
em que vivem.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 123


Abaixo irá mostrar um dos poemas de Cecília sobre a vida.

Reinvenção
A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas


e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,


a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira


as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...


Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada. Ouça aqui a
declamação do

poema:
Porque a vida, a vida, a vida, https://youtu.be/5n4i
a vida só é possível pETIf9s
reinventada

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 124


O poema aborda uma reflexão sobre a vida. A partir do tema, é
enfatizada a necessidade de reformularmos as coisas na vida; que esta
"vida só é possível reinventada". E, quando cita "a vida, a vida, a vida",
remete ao peso do cotidiano, das dificuldades; quando fala: "é
mentira...", remete a recobrir a razão e voltar à realidade.
Nos dois poemas mostrados, é notável a presença de uma linguagem
subjetiva que dialoga com o leitor sobre o sentido da vida, apesar de
serem escritos em épocas diferentes. Essa perspectiva comparada pode
ser uma estratégia para incentivar a leitura literária aos educandos,
provocando-os a um posicionamento crítico e reflexivo.

4. Nossa Proposição didática


Até aqui, foram abordados os diversos benefícios que a leitura
literária, sobretudo de poemas, pode oportunizar ao aluno refletir acerca
do mundo a sua volta e sobre sua própria vida. Nesse sentido,
apresentamos nesse tópico uma proposição de projeto que busque
incentivar o diálogo entre a prática da leitura literária entre os
adolescentes com suas práticas letradas sociais com usos situados e
significativos de tecnologias digitais.

Assim, propomos uma sequência didática que visa à produção de


vídeo-poemas no Canva, a partir dos quais os educandos podem criar
suas próprias interpretações em declamações de poesias, e compartilhá-
los para toda a comunidade, dentro e fora da escola. O objetivo é ainda
propiciar leituras e escritas multimodais que representem suas
identidades, de modo criativo, autoral e significativo.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 125


Inicialmente, propomos que o professor possa partir das leituras dos
poemas que apresentamos no presente capítulo. A partir de rodas de
conversa, o professor pode fazer a primeira leitura dos poemas,
enfatizando as rimas, as pausas, as pontuações. Ao final das leituras,
oportunize aos alunos momentos para comentarem acerca de suas
impressões sobre os poemas e autores lidos, incentivando-os sempre a
refletirem acerca de suas vidas. Para a semana seguinte, peça aos alunos
que ouçam as declamações dos poemas lidos e que pesquisem outros
poemas e declamações no You tube.
Crie um documento no Google drive, no modo de edição
compartilhada, para que todos os alunos possam ir inserindo links de
vídeos de poesias declamadas. Para criar um doc compartilhado no
drive, acesse o link: https://youtu.be/Jos1BsGaQCc
Nessa segunda etapa, organize uma roda de conversa e peça aos
alunos que desejarem para compartilhar a declamação escolhida e
justificar oralmente por que essa foi a selecionada. O objetivo aqui é
deixá-los ainda mais à vontade para expressarem seus sentimentos e
terem contato com o maior número de poemas que puderem. Essa
estratégia pode ser desenvolvida uma vez por semana, caso desejem.
Num terceiro momento, sugerimos que o professor faça uma oficina
sobre leitura e produção de poemas. A ideia é que sejam explicitadas aos
alunos as características dos textos em poema. Por isso, é interessante
que sejam selecionados poemas de distintas épocas e autores.

Em uma quarta etapa, propomos a leitura e estudo do poema O


Tempo, de Mário Quintana. Conhecido popularmente como "O Tempo",
o poema de Mario Quintana tem como título original "Seiscentos e
Sessenta e Seis". Foi publicado pela primeira vez na obra Esconderijos
do Tempo, em 1980. Para esse momento, sugerimos ao professor que
organize os alunos em dupla, e distribua o poema para ser lido, assim
como ouvido, através do link https://youtu.be/m7NECWxPEDc. Em
seguida, compartilhe o roteiro que produzimos no Google Forms, o qual
contém alguns questionamentos que podem incentivar o diálogo em
sala acerca da leitura do referido poema.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 126


Link de acesso ao Roteiro de
perguntas:
https://docs.google.com/forms/d/e/1F
AIpQLSeILTbQysjuhKg03dMxJSMdgI
21-
zXPgXnrqlkuDryqUUdVgA/viewform

Enquanto se dão as perguntas, é importante que todas as duplas


tenham oportunidade para verbalizar suas respostas aos
questionamentos, entendendo que o mais relevante é dividirem suas
interpretações e sentimentos a partir da leitura do poema.
A próxima etapa do projeto pode ser desenvolvida durante umas
duas semanas, a fim de que os alunos tenham tempo para catalogarem,
discutirem e selecionarem os poemas de modo consciente e que
produza sentido. Por isso, sugerimos que essa pesquisa ocorra de
maneira colaborativa, com os alunos organizados em dupla ou em trio,
de modo que se contemple uma diversidade de poemas, sendo
necessário, também, que não se repitam entre as equipes.
Oriente os alunos a pesquisar em livros, sites e blogs literários um
poema, o qual será reapropriado por eles no formato de vídeos-
poemas, ou seja, eles irão selecionar um poema que lhes chamem
atenção, o qual deverá ser retextualizado no formato de vídeo, com o
texto do poema, música, imagens, etc.
Enquanto os alunos fazem sua curadoria, sugerimos que o professor
faça uma oficina de produção de vídeos no Canva. Para tal,
disponibilizamos um tutorial, no qual pode se basear:
https://youtu.be/j3PDRMHS-p4

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 127


Posterior à oficina de produção de vídeos no Canva, ressaltamos
que é preciso orientar os alunos à produção de um roteiro para a
construção dos seus vídeo-poemas. Esse roteiro pode ser elaborado
junto com os alunos, de modo que eles também elegem os aspectos e
características necessários à suas produções. É importante que os links
selecionados pelos alunos com as declamações das poesias sejam
revisitados nesse momento, a fim de possam melhor entender e
visualizar exemplos dessas produções.
Passadas as duas semanas para seleção dos poemas e
desenvolvimento das oficinas, pedimos ao professor que oportunize um
tempo maior às equipes para, enfim, produzirem seus vídeo-poemas
(duas a três semanas, por exemplo).
Após esse prazo, solicite aos alunos que compartilhem os links de
seus vídeo-poemas em um grupo do whatsapp, criado para essa
finalidade. O objetivo é que todos assistam a essa primeira versão e
discutam, avaliem e adequem possíveis aspectos. A partir dessas
revisões, agende um novo prazo para compartilharem a versão final dos
vídeo-poemas.
Para socialização das produções, sugerimos a produção de um
festival on line de declamações, o qual pode ser exibido em um canal do
Youtube e compartilhado com a comunidade em geral.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 128


O Tempo (Mário Quintana)
A vida é uns deveres que nós trouxemos para
fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…


Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra
oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…

O objetivo desse capítulo foi propor uma estratégia didática ao


ensino-aprendizagem da literatura em diálogo com as tecnologias
digitais. A partir da leitura e estudo da produção de poemas e vídeo-
poemas, visamos que professores e alunos reconheçam a importância de
repensarmos as práticas de leitura dentro e fora do ambiente escolar.
Por fim, que essa leitura tenha ampliado seus conceitos e
contribuído positivamente na direção de um pensamento critico e
aprendizagem significativa e que eles possam se sentirem representados
de acordo com as suas experiências, sociais e culturais por meio das
obras estudadas em sala de aula.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 129


Cleudiellen Sandes Rodrigues
Graduanda em Letras português
inglês e suas respectivas literaturas
pela Universidade Estadual do
Maranhão(UEMA)

Ellen Leite de Sousa


Graduanda em Letras português
inglês e suas respectivas
literaturas pela Universidade
Estadual do Maranhão(UEMA)

Sandryellen Pimentel Saraiva


Graduanda em Letras português
inglês e suas respectivas
literaturas pela Universidade
Estadual do Maranhão(UEMA)

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 130


Referências
BRAGA, SUELY. A importância da poesia na formação do leitor. Escrita
Criativa, 2020. Disponível em:<https://www.escritacriativa.com.br/?
cid=5426&wd=Reflex%F5es#:~:text=A%20poesia%20tem%20uma%20i
mport%C3%A2ncia,dos%20valores%20vigentes%20na%20sociedade>.
15, Jul, 2021.

DE AZEVEDO ARANA, Alba Regina. A importância do incentivo à


leitura para o processo de formação do aluno. EDUCARE, São Paulo. P.
1-18, out, 2015.

DIANA, Daniela. Diferença entre poema e poesia. Toda Matéria.


Disponível em:<https://www.todamateria.com.br/diferenca-entre-
poema-e-poesia/>. Acesso em: 04, agosto, 2021.

FERNANDES, Bruno. Literatura e identidade: poesia de representação


em busca de uma cidadania negada. Centro de Estudos Sociais,
faculdade de Economia da universidade de Coimbra. P. 1-30, 2011.

ORLANDI CUNHA, Vera Lúcia; CAPELLINI, Simone Aparecida. Leitura:


decodificação ou obtenção do sentido?. Marília - SP, p.1-21.

THOMÉ, Sandra. Construção identitária e prática docente: reflexões a


partir da teoria das representações sociais. PUCPR, Curitiba-PR. 1-11,
2011.

WOLF DE AMARAL, Cíntia. A alfabetização numa perspectiva crítica.


Análise de práticas pedagógicas. UNICAMP, Campinas - SP, p.1-212,
2002.

Capítulo 7 - A POESIA FALADA EM VÍDEO-POEMAS: a literatura e a expressão pela vida. 131


CAPÍTULO

8
Bruno dos Reis Miranda
Gustavo Nogueira Lopes
Maria Fernanda Lopes Camilo
Ana Patrícia Sá Martins

O CORDEL ALÉM DA
SALA DE AULA

132
1. Apresentação
O cordel, gênero literário popular, mostra-se como uma fonte de
informação relevante em vários aspectos, por isso o selecionamos como
instrumento didático para um projeto que visa incentivar a valorização
da cultura regional (nordestina), além de aguçar a criatividade dos alunos
como forma de manifestação cultural. A proposta desse trabalho busca
retomar a literatura de cordel, que vem sendo esquecida, com a
finalidade de resgatar e manter viva a cultura de um povo.
No que tange às competências exigidas pela BNCC (Base Nacional
Comum Curricular) referente à Língua Portuguesa, o uso do cordel
abrange os quatro eixos requisitados: leitura/escuta; produção escrita e
multissemiótica); oralidade e análise linguística/semiótica (reflexão sobre
a língua norma-padrão e sistema de escrita). A conjuntura do cordel com
a contemporaneidade permite ao docente trabalhar temáticas variadas,

e relevantes à sociedade, com os educandos, despertando a criticidade e


autonomia dos mesmos.
Ao decorrer deste projeto, aliado ao cordel, serão trabalhados
gêneros multimodais como podcasts, infográficos e IGTV's.

Neste capítulo, temos como objetivo:


Refletir acerca da importância da valorização do cordel para a
literatura nordestina;
Desenvolver atividades que despertem nos alunos um olhar crítico e
simultaneamente poético sobre a realidade sertaneja;
Demonstrar potencialidades didáticas com gêneros multimodais em
diálogo com a literatura cordelista.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 133


2. O gênero Cordel: cultura e identidade em
sala de aula
A existência deste gênero se dá há mais de um século, utilizado
como expressão ligada intimamente à sua origem trovadoresca advinda
dos portugueses medievais que se estabeleceu no Nordeste do Brasil, se
mantendo até os dias de hoje em nossa literatura local.
Esta manifestação típica da literatura tem a cara do Nordeste, e foi
tombada com Patrimônio Cultural Imaterial do país, se dissipou com o
tempo e foi gradativamente acolhida pelo seio nordestino. Vejamos
agora um texto rimado, criado escritor Patativa do Assaré.
Assista ao vídeo e conheça um
pouco mais da Literatura de cordel:
https://youtu.be/ZqNAzDR2Ul4

O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão Não tenho sabença, pois nunca
grosa estudei
Trabaio na roça, de inverno e de Apenas eu seio o meu nome assiná
estio Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre
A minha chupana é tapada de barro E o fio do pobre não pode estudá
Só fumo cigarro de paia de mio Meu verso rastero, singelo e sem
Sou poeta das brenha, não faço
o graça
papé Não entra na praça, no rico salão
De argum menestrê, ou errante Meu verso só entra no campo da roça
cantô e dos eito
Que veve vagando, com sua viola E às vezes, recordando feliz mocidade
Canto uma sodade que mora em meu
Cantando, pachola, à percura de
peito
amô

Capítulo
Capítulo 8-O8 -cordel
O cordel
alémalém da sala
da sala de aula
de aula 0
134
A literatura e as tradições tornaram textos como este uma identidade
cultural, valorizando e enraizando o cultivo de versos cantados, além de
persistirem como meio de propagação para o conhecimento de outras
sabedorias populares. O nordeste brasileiro possui sua cultura emanada
de materialização e prosa distribuídas em uma estrema geográfica.
Concedida a sua longevidade é mais que válido indagar sobre seu
funcionamento na visão de João Bosco, que diz:
"É possível, igualmente, verificar que valores são negociados (que
crenças, que moral, que costumes são aceitos ou rejeitados). É possível
verificar, ainda, com as pessoas são recontextualizadas e o valor que
tem (ou deixam de ter) nesse mundo.” (O GÊNERO DO CORDEL SOB A
PERSPECTIVA CRÍTICA DO DISCURSO, 2009, p. 08)
A noção do regionalismo se tornou algo valoroso para um
entendimento completo da literatura brasileira, e, por isso, ainda
polêmico devido às injustiças sociais, como o preconceito que o cordel
sofre até mesmo quando se trata de sua abordagem em sala de aula,
“seja por preconceito, seja por desconhecimento”, conforme afirma a
obra de João Bosco e Bezerra Bonfim.

A valorização de algo se dá devido o contato com qualquer coisa,


seja material ou não. A definição mais próxima do termo, ainda
relacionada à nossa conjuntura, torna-se que a valorização é o apreço
em faculdade, essência e sua natureza prestigiada didaticamente em
sala de aula. A importância em adicionar essa expressão literária é o seu
valor entre o passado e o contemporâneo que o ato trará para a sala de
aula. Quando a metodologia se “humaniza”, os resultados de uma boa
didática tornam nítidas a suas riquezas letradas.
O ensino da literatura em sala de aula tem sido objeto de reflexão de
vários pesquisadores, como Lajolo (2002), e no tocante à literatura
popular, a qual é o objeto desse capítulo, podemos mencionar Ayala
(2003), Pinheiro e Marinho (2012).

Capítulo
Capítulo 8-O8 -cordel
O cordel
alémalém da sala
da sala de aula
de aula 0
135
Como argumentam os pesquisadores, o gênero cordel se destaca
pela forma como apresenta, numa linguagem popular e simples,
temáticas de cunho regionalistas com abordagens sobre as injustiças
sociais, situações cotidianas e diversas realidades populares. Em virtude
destes e outros aspectos, acreditamos que o referido gênero tem
grande potencialidade para incentivar a leitura e reflexão por parte dos
alunos acerca de realidades e temáticas geralmente marginais ao ensino
canônico de literatura nas escolas.

SOBRE A VIDA:

“Só eu sei cada passo por mim dado


nessa estrada esburacada que é a vida,
passei coisas que até mesmo Deus duvida,
fiquei triste, capiongo, aperreado,

porém nunca me senti desmotivado,


me agarrava sempre numa mão amiga,
e de forças minha alma era munida
pois do céu a voz de Deus dizia assim:
-Suba o queixo, meta os pés, confie em mim,
vá pra luta que eu cuido das feridas.”
(Bráulio Bessa)

Poemas como este, possuem palavras simples que ocupam grande


espaço, reportando os valores e comportamentos coletivos. O escritor
Bráulio Bessa tem sido um dos grandes responsáveis pela popularização
da poesia cordelista nas mídias digitais. Uma das bandeiras defendidas
pelo Bessa e enfatizada na literatura de cordel é a escrita, a qual é
também uma manifestação linguística e social. A esse respeito,
sugerimos que assistam ao vídeo publicado no You Tube pelo Bráulio
Bessa acerca do 'Dialeto nordestino - uma resposta ao preconceito".

https://youtu.be/npErliDE1xg

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 136


3. O Gênero Literário Cordel e suas
características
Segundo Gaudêncio e Borba (2010, p.2), “entende-se por literatura
de cordel como sendo uma manifestação artístico-cultural da cultura
popular que registra a história e a trajetória de um povo, assim como
caracteriza-se por uma ação poética que dá vida à sociedade”.
O nome “cordel” faz referência às cordas onde os folhetos ficavam
expostos. Seu formato foi inspirado nos cordéis lusitanos, trazidos ao
Brasil pelos colonizadores portugueses. Esses folhetos retratavam
histórias de reis e rainhas e eram populares também em outros países
europeus, como a Inglaterra, a França e a Espanha.
Embora tenha recebido influências do cordel português, nossos
folhetos adquiriram autonomia e originalidade com os poetas brasileiros,
e ganharam força por tratar de temáticas que atendiam ao gosto popular
como a vida no sertão, as histórias de amor, as catástrofes naturais, os
fatos políticos, muitas vezes carregando um tom de humor e crítica em
seus versos.

De início, devido às altas taxas de analfabetismo na região, as poesias


cordelistas eram marcadas pela oralidade. Com o surgimento da
imprensa e o aumento nos índices de alfabetização, os cordéis passaram
a ser impressos em papel. No entanto, as rimas faladas e cantadas
sempre de forma melódica, continuaram sendo marcas essenciais do
cordel.

O primeiro cordelista a imprimir seus


versos foi Leandro Gomes de Barros
(1865-1918), um dos maiores nomes
desse estilo literário. Seu folheto foi
impresso em 1907 e nas décadas
seguintes várias editoras de cordel
foram surgindo. O autor chegou a
produzir mais de 240 obras campeãs de
vendas.
Fonte:https://images.app.goo.gl/VgPhkHjFcLCH9PvY9

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 137


3.1 O jornal do Sertão
Além de divertir o leitor com suas histórias fantásticas sobre temas
diversos, outra característica do cordel é informar. A linguagem utilizada
nos poemas, sempre acessível e rítmica, confere aos leitores e ouvintes
maior facilidade em assimilar os conteúdos abordados.
Devido à falta de veículos de informação para população nordestina
no século passado, o folheto tinha a função de levar às pessoas os
acontecimentos locais. Reunidos ao redor de alguém que fosse
alfabetizado, familiares e conhecidos contavam tudo o que acontecia
pelas redondezas e pelos meios políticos, e esse, com função de orador,
transcrevia os acontecimentos em rimas cordelísticas, que eram depois
vendidos por um valor simbólico em feiras e povoados. Assim, segundo
os estudiosos, o cordel servia como uma espécie de jornal do sertão, e
muita gente aprendeu a ler com essa literatura.
Atualmente, devido ao avanço das tecnologias, o cordel precisou se

adaptar para não cair no esquecimento,



e vem ganhando espaço na
internet. Os famosos folhetos imprimidos em papel deram lugar aos
“cordéis digitais”. É possível encontrá-los em diversas plataformas,
sejam eles digitalizados, em forma de vídeos ou podcasts, abordando em
seus versos, além do humor e entretenimento, assuntos pertinentes à
sociedade atual e muitas vezes temáticas pedagógicas.
Embora tenha ganhado uma nova “capa”, sua essência e estrutura
continuam as mesmas, a presença de rimas e as famosas xilogravuras se
fazem presente nas obras atuais. Ainda que tenha crescido nos meios
digitais, é possível encontrá-los impressos em papel, “à moda antiga”,
principalmente, nos estados da região Nordeste em feiras culturais e
livrarias.

Xilogravura é uma técnica de impressão muito antiga que consiste


numa gravura na qual se utiliza uma madeira como matriz,

possibilitando a reprodução da imagem gravada sobre papel ou


outro suporte adequado.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 138


José Francisco Borges é um dos mais famosos
Clique aqui e conheça um
xilógrafos de Pernambucano e é reconhecido pouco mais sobre José Borges
internacionalmente por sua arte. Confira a e sua arte:
https://youtu.be/f1XrCCiqyhc
reportagem sobre ele exibida no telejornal Hoje,
da Rede Globo.

3.2 Quanto à linguagem no Cordel


A literatura de cordel é rica em aspectos constituintes da Língua
Portuguesa. Sua estrutura é composta por: versos, que possuem métrica
(número de sílabas poéticas) fixa e presença de rima. Os versos mais
comuns são as sextilhas setessilábicas (estrofes de seis versos com
versos de sete sílabas poéticas. Atualmente, a estrutura formal é menos
rígida. O conjunto de versos formam a estrofe. As rimas são
imprescindíveis ao se produzir um cordel e a musicalidade é traço que se
faz presente em sua oralidade.
Observe a seguir, na primeira estrofe do cordel O pavão misterioso, de
José Camelo de Melo Rezende, os elementos citados acima:
1º Eu/ vou/ cont/ar uma/ his/tó/ ria
2º De um pavão misterioso
3º Que levantou voo na Gréci
4ºCom um rapaz corajoso

Leia o texto na íntegra em


5ºRaptando uma condessa https://repositorio.ufc.br/b
itstream/riufc/51118/1/197
6ºFilha de um conde orgulhoso 4_art_ltavaresjunior.pdf

Devido às temáticas variadas presentes na literatura de cordel, é


possível trabalhar com as funções da linguagem nessas obras. Segundo
Roman Jakobson, um dos mais importantes linguistas do século XX, o
processo comunicativo é composto por seis componentes estruturais
que desempenham seis respectivas funções
Emissor: Função emotiva ou expressiva. Tem por objetivo central
expressar emoções, sentimentos, estados de espírito, visando uma
expressão direta de quem fala em relação àquilo que está falando.

Predominante em entrevistas, cartas pessoais, poemas e etc...

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 139


Assista ao vídeo disponibilizado no link abaixo, no qual Bráulio Bessa,


cordelista brasileiro, declama um poema sobre a dor. Atente para a
maneira com que o poeta declama os versos e a tentativa de transmitir
seus sentimentos através da oralidade. Presenciamos neste cordel o uso
da função emotiva. Link: https://youtu.be/QFIQFpZd3Nw

Receptor: Função Conativa ou Apelativa. Tem sua atenção centrada


no destinatário. Essa função “encontra sua expressão gramatical mais
pura no vocativo e no imperativo” (JAKOBON, 2010, p. 159). Presente
em anúncios publicitários, receitas, propagandas...

Observe a cartilha educativa Pelejando por uma eleição mais justa, feita
pelo Ministério Público Eleitoral de Pernambuco, em forma de literatura
de cordel. O uso dos verbos “Corra”, “Avise”, “Denuncie”, todos no
Imperativo, faz um apelo ao público eleitor e aos candidatos, para que
ambos tenham atitudes honestas no período de campanha eleitoral. A
campanha faz uso da linguagem conativa para alcançar o objetivo
proposto:

Veja em: https://www.facebook.com/watch/?v=327587888548654

Código: Na função metalinguística, o foco está no próprio código.


Relativo à metalinguagem, é o tipo de linguagem que descreve a própria
ou outras linguagens. Confira o fragmento da obra Um cordel sobre o
cordel, presente no livro "Desafios de Cordel," de César Obeid, (2009),
que é um exemplo claro da função metalinguística.

Um cordel sobre o cordel São as rimas de cordel


Eu pretendo apresentar. Encaixadas nas sextilhas
É uma arte versejada Nos martelos e galopes
Da cultura popular Nas oitavas e setilhas
Que nasceu lá no Nordeste Que encantam muito mais
Para o mundo apreciar. Do que as sete maravilhas.
[...] [...]

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 140


Referente: Função Referencial ou Denotativa. É empregada quando


o remetente tem por finalidade traduzir a realidade para o destinatário.
Assim, ela centra-se no contexto, referindo-se a algo, a alguém ou a um
acontecimento, de maneira clara e objetiva, sem manifestar opiniões
explícitas ao receptor. Presente em notícias, textos científicos, materiais
didáticos...
A seguir você encontra várias notícias no formato de cordel, observe
o uso da função referencial:
https://www.slideshare.net/PortalIraraense/o-cordel-03.

Canal: Função Fática. Jakobson a considera como aquela cujo foco é


o contato/canal e seu único propósito é prolongar a comunicação. Seu
uso se dá em diálogos, cumprimentos...
Observe a função fática nos diálogos de trechos retirados do cordel A
chegada de Lampião no Inferno, de José Pachêco:

[...] - Moleque não sou, sou vigia!


Vamos tratar da chegada

E não sou seu "pariceiro"


Quando Lampião bateu E você aqui não entra
Um moleque ainda moço Sem dizer quem é primeiro
No portão apareceu -Moleque, abra o portão
- Quem é você, cavaleiro Saiba que eu sou Lampião
- Moleque eu sou cangaceiro Assombro do mundo inteiro
Lampião lhe respondeu [...]

Mensagem: Função Poética. Nesta função, a ênfase recai sobre o


processo de elaboração da própria mensagem. Essa linguagem valoriza a
escolha de palavras, rimas e sentimentos. Essa função tem tudo a ver
com o cordel, pois a poesia e estrutura ritmada são características que
sempre marcam presença nos folhetos.

Capítulo
Capítulo 8-O8 -cordel
O cordel
alémalém da sala
da sala de aula
de aula 141

Outros recursos que são facilmente encontrados na literatura de


cordel são as figuras de linguagem, recursos linguísticos muito comuns
na linguagem literária. Os autores recorrem a essa estratégia estilística
sempre que desejam tornar a linguagem mais rica e expressiva. Essas
figuras exprimem o pensamento de modo original e criativo, explorando
o sentido não literal das palavras, conotação.
Veremos, em trechos do cordel As proezas de um namorado Mofino, o
uso de quatro figuras de linguagem, embora existam outras.

[...]
Zé- Pitada era um rapaz Vivia o rapaz sofrendo
Que em tempos idos havia Grande contrariedade
Amava muito uma moça Chorava ao romper da aurora
O pai dela não queria Gemia ao virar da tarde
O desastre é um diabo A moça era como um pássaro
Que persegue a simpatia

Privada da liberdade
[...]

Metáfora: palavra com o significado diferente do habitual, com base


numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido
figurado.
Personificação: ato de conferir características humanas aos objetos
inanimados ou ao que é abstrato.
Hipérbole: Exagera uma ideia com finalidade enfática.
Comparação: Aproximação entre dois elementos que se identificam,
ligados por nexos comparativos explícitos.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 142


4. Cordel e suas

manifestações artísticas
É bem verdade que muitas foram as áreas que o cordel influenciou.
Inúmeras são as obras que carregam em sua essência traços inspirados
no gênero do folheto, talvez pelo fato de carregar características que
acabam por conquistar o gosto do público com seu tom de humor e
certa crítica ao contar histórias do povo e das mazelas do interior do
sertão nordestino.
Diversos autores de grande importância para a literatura nacional
tiveram várias de suas publicações marcadas pelas características do
gênero. Guimarães Rosa com “Grande Sertão: Veredas”, Jorge Amado
com “Capitães de Areia”, José Lins do Rêgo com “Cangaceiros”, e
inúmeros outros.
A música popular brasileira também contou com artistas que
carregavam nas letras de suas canções versos com essa temática. O
principal e sem dúvidas o mais conhecido, Luiz Gonzaga, que recebeu o

título de “Rei do Baião”, foi responsável



pela valorização dos ritmos
nordestinos, levando histórias sertanejas nas composições de sua
autoria. A vida e trajetória musical do artista foram levadas às telas em
diferentes produções.
A cinematografia manteve forte relação com o cordel, com a produção
de obras marcantes como “O homem que virou Suco” (1981) de João
Batista de Andrade, “Porta de fogo” (1985) de Edgard Navarro entre
outras. A mais famosa delas, a adaptação cinematográfica de Ariano
Suassuna, “O auto da Compadecida”, foi baseada especificamente em O
dinheiro ou O Testamento do Cachorro e o Cavalo que Defecava
Dinheiro, ambos de Leandro Gomes de Barros, e apresentou o famoso e
caricata personagem João Grilo (consagrado, por exemplo, no folheto
Proezas de João Grilo, de João Martins de Athayde).

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 143


Assim como o cordel serviu de inspiração ao cinema, e tornou-se


sucesso garantido na TV, os próprios filmes viraram temas de livros em
cordel, como “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Os
Fuzis”.
Na teledramaturgia nacional, na obra cordel encantado, telenovela de
grande sucesso produzida pela TV globo e transmitida no ano de 2011,
as autoras Duca Rachid e Thelma Guedes abordaram em sua narrativa
traços e histórias baseadas na vida no sertão, o cangaço e a realeza
europeia. A obra contava ainda com uma abertura, que tinha como trilha
sonora a música com forte presença de rimas, “Minha princesa cordel”
de Gilberto Gil e Roberta Sá, associada a uma pequena narrativa que
usava imagens semelhantes às xilogravuras dos antigos folhetos.

5. Nossa proposta de Projeto com gêneros


multimodais
Segundo a autora Roxane Rojo, podemos definir multimodalidade
como o uso de diversos modos semióticos na concepção de um produto
ou evento semiótico, juntamente com


o modo particular segundo o qual
esses modos combinados podem, por exemplo, reforçar-se mutuamente
(“dizer a mesma coisa de formas diferentes”), desempenhar papéis
complementares.
Assim, o uso de multimodalidades em sala de aula pode tornar o
papel mediador do professor mais efetivo e o ensino mais atrativo,
sobretudo, quando permitem estudos sobre a linguagem na/com a
produção de gêneros que circulam em ambientes digitais como tweets,
podcasts, memes, entre outros. Para nossa proposta de projeto,
selecionamos os gêneros Podcast, Infográfico e IGTVS.
Os podcasts são muito utilizados por programas informativos,
constituindo-se como áudios sonorizados e temáticos que podem ser
ouvidos através de várias plataformas digitais, a qualquer hora, por meio
do celular ou do computador. “É uma ferramenta com infinitas
possiblidades”, diz Amélia Gomes, que é jornalista e podcaster. Ela é a
profissional responsável pelo programa de rádio do Brasil de Fato MG.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 144


O infográfico, por sua vez, é um gênero multimodal, constituído por


imagens, gráficos, texto escrito, etc, a fim de fornecer informações
sobre determinada temática de forma criativa, clara e objetiva. Como no
exemplo abaixo, os infográficos usam recursos visuais impressionantes
e envolventes para comunicar informações de maneira rápida e clara.

(Abra a câmera do seu celular e


aponte para este QR code para
ver um exemplo de infográfico)

Quanto ao IGTV (Instagram tv), se deu a partir de uma nova


funcionalidade da rede social Instagram, na qual é permitido aos usuários
compartilhar seus vídeos com durações maiores e de fácil acesso, além
disso podem contar com todos os recursos que o Instagram já oferece.
Como vimos, a multimodalidade está relacionada a uma relação de
complementaridade, logo os gêneros

citados e vários outros são


importantes porque eles podem ser instrumentos auxiliares à didática do
professor de modo que aproxime mais o aluno do aprendizado.
Nesse sentido, propomos uma sequência didática que oportuniza o
desenvolvimento da criatividade e autonomia dos alunos, a partir da
produção desses três gêneros nas aulas de língua e literatura, por exemplo.

5.1. Colocando em prática:


1. Inicialmente, sugerimos que a leitura do presente capítulo possa
adentrar uma aula de literatura, enfatizando a regionalidade e identidade
da região Nordeste do Brasil, mais especificamente, do sertão. Pedimos
que incentive os alunos a acessarem os links disponibilizados, bem como
a pesquisar mais sobre a literatura de cordel nas diversas mídias digitais.
1.1. Propomos que os alunos possam produzir podcasts através de uma
plataforma digital, de modo a enfatizar os traços linguísticos e
identitários presentes no gênero. Os alunos podem selecionar cordéis e
fazer a declamação destes a partir dos
podcasts, os quais podem ser

compartilhados nas redes sociais disponibilizados no link abaixo:

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 145


Roteiro:

Os alunos podem selecionar os cordéis no link


http://www.ablc.com.br/o-cordel/cordeis-digitalizados/, do Acervo
da Academia Brasileira de Literatura de Cordel;
Em seguida, através do aplicativo Anchor, os alunos poderão iniciar a
gravação de seus podcasts. Mas, lembre-se que, assim como os
cordelistas, você precisará usar a entonação típica desse gênero. Dê
emoção aos versos.
Por fim, os alunos podem compartilhar suas produções no grupo do
whatsapp da turma e/ou outras mídias digitais.

2. Dando continuidade à proposição didática, sugerimos que os alunos


produzam colaborativamente infográficos na plataforma Canva, acerca
da literatura de cordel e sua identidade regional. O objetivo é que os
alunos interajam na pesquisa de dados e ao explorarem a
multimodalidade do gênero no Canva. Roteiro:
Primeiramente, o professor deverá


a turma em grupos.
dividir
Em seguida, os grupos irão debater
sobre quais estratégias utilizarão neste
infográfico que será feito na plataforma
Canva. Abusem da criatividade,
utilizando recursos gratuitos do
programa.
É importante lembrar que os
infográficos devem conter aspectos
como: conceito, características,
instruções básicas de construção,
principais autores e obras.
Os cartazes produzidos podem ser
compartilhados no formato digital ou
impressos para a comunidade dentro e
fora da escola
Ao lado, um QR code como exemplo de
infográfico.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 146


3. Complementando e indo mais além em nossa proposta didática,


sugerimos ainda que os alunos possam evidenciar sua criatividade
literária e artística, produzindo cordéis a partir da temática “Orgulho da
minha região" e construir vídeos curtos para o IGTV com suas artes.

Roteiro:

Assista aos vídeos “Orgulho de ser nordestino” de autoria de Bráulio


Bessa e “Tutorial de como fazer um cordel” disponíveis abaixo:
1. https://www.youtube.com/watch?v=jUNhJeOesG0
2. https://www.youtube.com/watch?v=IG7XU7B_8K4

Organizados em grupos, os alunos assistirão aos vídeos


disponibilizados, pontuando anotações necessárias às suas
produções. Discutam a respeito do que mais gostam na região de
vocês para adicionar ao cordel.

Em seguida, deverão produzir os cordéis em sextilhas. Lembrem-se


de usar figuras de linguagem para enriquecer os versos.
Após a produção dos folhetos, os alunos irão produzir vídeos curtos,
de 2 a 3, nos quais declamarão seus cordéis, colocando as legendas
e imagens e sons para compor o vídeo. Se preferirem, podem ou não
se caracterizar com roupas típicas de sua região.
O professor juntamente da escola irá organizar uma data para
exibição dos vídeos produzidos, onde os alunos e seus responsáveis
serão convidados para prestigiar o trabalho dos estudantes,
posteriormente os alunos poderão publicar seus vídeos na
plataforma Intagram, em formato de IGTV, para que este conteúdo
vá além dos muros da escola.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 147


Ao decorrer deste capítulo, abordamos a temática da literatura de


cordel e suas potencialidades pedagógicas e identitárias para além da
sala de aula, dialogando com gêneros multimodais que fazem parte das
práticas letradas de muitos de nós, alunos e professores. Esperamos ter
convencido você professor acerca dos benefícios que o trabalho com
essa literatura proporciona aos alunos.
Um problema que enfrentamos como sociedade atualmente é que a
cultura está cada vez mais desvalorizada por conta dos constantes
avanços no processo de globalização que apesar de trazerem benefícios,
como a diminuição das fronteiras geográficas eles unificam hábitos que
fazem parte da cultura de cada país.
Segundo Carvalho (2005), um fato positivo da globalização é a
diminuição das distâncias entre os povos. Porém, ao mesmo tempo, está
sendo criado outro fato que pode se tornar perigoso, que é a perda da
identidade cultural dos povos e a massificação dos hábitos e costumes.
Para Carvalho (2005), é imprescindível que as nações não se
esqueçam de seu passado histórico,


não correndo assim o risco de
negligenciar sua cultura. É necessário respeitar hábitos e costumes de
cada nação e evitar a homogeneização de seus valores
Portanto, além de todos os benefícios didáticos de se trabalhar a
literatura de cordel em sala de aula, o principal motivo para o uso da
mesma em âmbito escolar é reforçar e valorizar as raízes culturais nas
novas gerações de modo que o processo de perda de cultura nao
chegue a acontecer com nosso alunos
Autores: Maria Fernanda Lopes Camilo, Gustavo Nogueira Lopes e Bruno dos Reis Miranda

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 148


8. Referências
ALENCAR. Importância da literatura de cordel: como preservação da
cultura nordestina. Revista Brasileira de Biblioteconomia, Rio Grande do
Norte, volume 15, número 1°. Disponível em:
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/1148. Acesso em
16/07/2021.

ÁRVORE.O que eu preciso saber sobre BNCC Língua Portuguesa? 2018.


Disponível em: https://arvore.com.br/blog/educacao/o-que-eu-preciso-
saber-sobre-bncc-lingua-portuguesa/ . Acesso em:17/07/2021.

BOSCO, João; BONFIM, Bezerra. O gênero cordel sob a perspectiva


crítica do discurso, 2009. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/4931/1/2009_Jo%C3%A3o
BoscoBezerraBonfim_Tese.PDF.

CONTAINER, Silvana S. N. ; WINCH, Paula Gaida. A teoria da


comunicação de Jakobson: suas marcas no ensino de Língua Portuguesa.
2012. Disponível em:
https://www.ufjf.br/projetodeoralidade/files/2018/06/LD-A-teoria-da-
comunica%C3%A7%C3%A3o-de-Jakobson.pdf

GIMENES. Cordel: O jornalismo do sertão. Disponível em:


http://www.diaadiarevista.com.br/Noticia/6577/cordel-o-jornalismo-do-
sertao,

HERMES, Leal. Cordel x Cinema. São Paulo, 2015. Disponível em:


http://revistadecinema.com.br/2015/04/cordel-x-cinema/.

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 149


NEDIGER, Midori. Oque e um infográfico: e para que serve. 2021.


Disponível em: https://pt.venngage.com/blog/o-que-e-um-
infografico/#:~:text=Um%20infogr%C3%A1fico%20%C3%A9%20uma%
20cole%C3%A7%C3%A3o,de%20maneira%20r%C3%A1pida%20e%20
clara.

Podcast para que serve: conheca-algumas-sugestões de programas.


Minas gerais, 2021. Disponível em:
https://www.brasildefatomg.com.br/2021/02/10/o-que-e-um-podcast-
para-que-serve-conheca-algumas-sugestoes-de-programas.

RAMALHO, Elba ; SILVA, D. CORDEL: uma experiência em sala de aula,


2013. Disponível em:
<http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/4529/1/P
DF%20-%20Elba%20Ramalho%20da%20Silva.pdf

ROJO, Roxane. A teoria dos gêneros



discursivos do Círculo de Bakhtin
e os multiletramentos: desafios do texto contemporâneo:
textos/enunciados multissemióticos. 2014. Disponível em:
<https://poslp135.files.wordpress.com/2014/10/rojo_gc3aanero-
bakhtin-multiletramentos.pdf>.

SIGNIFICADOS. Literatura de cordel:origens e exemplos de história em


cordel. 2021. Disponível em:
https://www.significados.com.br/literatura-de-cordel/

Capítulo 8 - O cordel além da sala de aula 150


9
CAPÍTULO

A VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER NA LITERATURA:
DISCUSSÕES ALÉM DA SALA
DE AULA

Ana Paula Correia da Silva


Denis Silveira Guedes
Érica Beatriz Alves Vieira
Kaline dos Santos Soares
Rayganna Silva Gomes
Ana Patrícia Sá Martins

151
O PAPEL DA ESCOLA NO
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA
CONTRA A MULHER

1 . Apresentação
Neste capítulo, você encontrará sugestões de metodologias didáticas
acerca da temática "Violência contra mulher na literatura: discussões
além da sala de aula", as quais podem ser trabalhadas com os alunos da
educação básica. Através dos contos literários brasileiros, foram
selecionados dois autores que já abordaram sobre esta temática em suas
obras, como a autora Lygia Fagundes Telles, com seu conto “Venha ver o
pôr-do-sol”, e o autor Dalton Trevisan com “Morre Desgraçado”. Estes
contos relatam sobre as violências psicológica e física que as mulheres
sofrem diariamente.
Considerando a nova Lei 14.164/21, que cria a Semana Escolar de
Combate à Violência contra a Mulher e incentiva os alunos a refletirem a
respeito dessa problemática, temos como objetivos: (1) apresentar
propostas didáticas a partir da leitura de contos literários; (2) incentivar
a leitura literária, como instrumento de criticidade e cidadania no
combate às violências física e psicológica que as mulheres sofrem; (4)
Produzir cartas abertas em vídeo como instrumento didático para além
da escola.
A seguir, você irá se aprofundar sobre os contos escolhidos e seus
autores, dados sobre a violência contra a mulher na sociedade, análise
sobre o gênero literário exposto e sua relevância, propostas de
atividades didáticas, seguindo de pautas reflexivas no decorrer do
trabalho.
Esperamos que o conteúdo deste capítulo possa ser útil e que
contribua e enriqueça ainda mais sua prática profissional e voluntária na
luta contra a violência.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 152
2. Conhecendo os autores e suas obras
Dalton Jérson Trevisan, mais conhecido como Trevisan, nasceu em
Curitiba no estado do Paraná, no dia 14 de Junho de 1925. Trevisan
quando jovem trabalhou na fábrica de vidros de sua família e atuou na
advocacia por 7 anos, depois de formar-se pela Faculdade de Direito do
Paraná (atual UFPR). Quando estudante de Direito, Trevisan divulgava
seus contos por meio de simples folhetos. Trevisan cria contos breves,
escritos em linguagem sucinta.

Sua forma de escrita é explícita e Dalton Trevisan


eficiente e suas explanações retratam
os dramas de pessoas que se
movimentam entre as perspectivas de
alegria e execução que aprenderam a
alimentar a vivência dura e insensível,
que as reprime e destrói. As
convivências humanas que mostra,
testemunham que a realidade é
corrompida e desumana: as pessoas se
atormentam e se machucam em vez de
conservarem no dia a dia relações de
afeto e respeito.

Dessa forma, marido e mulher


sempre estão em enfrentamento, pais
Imagem: arquivo Cid Destefani
e mães coagindo os filhos, amigos se
enfrentam e competem entre si.

ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA E


OBRA DE DALTON TREVISAN:

https://youtu.be/sTkzOqoiZVs

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 153
2. 1 Resumo de "Morre Desgraçado"
O conto de Dalton Trevisan foi retirado do livro Pães e Sangue,
publicado em 1988, e exprime uma circunstância de agressão
doméstica. Esse exemplo de violência, mais exclusivamente contra a
mulher, é uma realidade social. Trevisan procurou descrever essa
violência com o típico agressor alcoólatra, que espanca a mulher sem
preocupar-se com a presença dos filhos ou não. Ainda assim, o escritor
preponderou por conceder à personagem (vítima) atitude e reação em
determinado momento.
Trevisan publicou esse conto anos depois de um noticiário que
ocupou as páginas do antigo jornal O Estado do Paraná, nos anos de
1980. O jornal expôs sobre a história de um casal que discutia com
frequência. Até que um dia, o marido chega bêbado em casa e vê sua
esposa ouvindo a missa pelo rádio e logo pensa que ela estaria rezando
em prol de que ele parasse de ingerir bebidas alcoólicas. A partir daí,
começa a agredir sua esposa na presença dos filhos, como pode ser
observado no trecho abaixo:

[...] " Chorando, a Rosa abraçou as pernas do pai.


- Não surre a mãe. Paizinho, não surre mais" (p. 8).

Podemos observar que o conto não


retrata somente as agressões sofridas por
mulheres naquela época, mas como reflete
situações vividas por muitas ainda nos dias Clique aqui para
atuais. download do conto.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


154

Lygia Fagundes Telles nasceu no dia 19 de abril de 1923, no estado


de São Paulo. Seu interesse pela literatura se desenvolveu aos 15 anos
de idade, e, com a ajuda do seu pai, publicou o seu primeiro conto,
Porão e Sobrado, no ano de 1938.
A escritora cursou a Faculdade de Direito e Educação Física na
Universidade de São Paulo. Durante o tempo de faculdade, frequentava
locais em que reuniam-se diversos escritores. Assim, conheceu Mário e
Oswald de Andrade. Telles é uma das maiores representantes do
movimento pós-modernista no Brasil.
O estilo literário da autora é
caracterizado por explorar, intimamente, a psicologia feminina, por
representar a vida nos centros urbanos e também os problemas sociais
como drogas, amor e adultério.

Lygia escreveu romances conceituados Lygia Fagundes Telles


como Ciranda de Pedra e As Meninas, mas
sua grande especialidade é a escrita de
contos. Através deles, ela consegue
captar e expressar em cada palavra as
mudanças na sociedade, os detalhes de
objetos, os trajes dos personagens e as
emoções que vão surgindo sutilmente nos
pensamentos e ações de cada um. Para o
crítico Antonio Dimas, Lygia Fagundes
escreve suas obras como uma gata, que
chega devagar e vai conquistando seu
espaço e de repente nos assusta, seja
através de suas garras, carinho ou um Imagem: Adriana Vichi

pulo. Isto é, através da elegância e clareza


das palavras, vamos nos envolvendo na
história e descobrindo de forma
misteriosa as intenções dos personagens. ASSISTA AO VÍDEO SOBRE LYGIA
FAGUNDES TELLES:

https://youtu.be/gj3AOlailgo

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 155
2. 1 Resumo de "Venha ver o pôr do sol"
1º Capa, de 1988
Venha ver o pôr-do-sol conta a história de um
ex-casal de namorados, Raquel e Ricardo. O
conto foi publicado no 1988, pela editora Ática.
Ricardo, mesmo após o término, continuava
declarando seu amor para Raquel, que já se
encontrava em outro relacionamento. Mas, pela
insistência e por gostar ainda de Ricardo, ela
acaba aceitando o convite feito por ele para um
passeio bem diferente.
Ricardo levou Raquel para conhecer o pôr-do-
sol em um ambiente diferente, no cemitério.
Segundo ele, é um dos mais belos e encantadores
Fonte: Google Imagem que ela teria o prazer de conhecer.

Raquel seguiu os passos de Ricardo, por meio das sepulturas antigas


e cheias de arbustos. Ele lhe contava que naquele cemitério estava
sepultada sua família e uma prima que ele amava muito, a qual teria os
olhos parecidos com os de Raquel. Durante o passeio, Raquel acha
estranha a história dessa prima ter falecido tão jovem e em pouco
tempo e ter sido enterrada em um cemitério abandonado. Ricardo
complementa, explicando que era por isso que gostava de passear nesse
lugar, porque, além de estar perto de sua família, estava também em um
lugar silencioso e longe de qualquer barulho.

Capítulo
Capítulo 9 -9A-violência
A violência contra
contra a mulher
a mulher na na literatura:
literatura: discussões
discussões além
além da da
salasala
de de aula
aula 0
156
Chegando em uma capelinha, Ricardo disse que ali que estava a
sepultura de sua prima. Curiosa, Raquel olha os detalhes da lápide e
descobre que a sepultura era de uma moça que havia nascido nos anos
de 1800, e que era impossível ser a prima de Ricardo.
Diante daquele cenário, Raquel discutia com Ricardo por conta da
mentira criada. Ele sorriu e trancou o portão que dava acesso à capela,
deixando Raquel presa aos gritos de socorro, enquanto dizia que através
da pequena passagem de luz que tinha na capela, ela poderia ver o mais
belo pôr-do-sol. Enquanto isso, sai caminhando tranquilamente até a
porta do cemitério.

Podemos perceber que o casal protagonista do conto retrata uma


relação que era movida por ciúmes do personagem Ricardo, que não
aceitava o fim do relacionamento com Raquel. E, como forma de
vingança, a deixou presa em um cemitério para morrer aos poucos.
Raquel é apenas uma personagem fictícia, que retrata a verdadeira
e triste história de muitas "Raquel", vítimas de agressões e morte por
ciúmes de seus companheiros em nossa sociedade.

Saiba mais:

Clique para o download


do conto

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


157
3.Conhecendo o gênero Conto
O gênero narrativo "conto" é bastante famoso por novelas, contos
de fadas e também pela sua forma de discorrer um acontecido. Muitos
teóricos e autores têm seus conceitos sobre esse gênero literário, tais
como: Mário de Andrade, Alfredo Bosi e Edgar Allan. Como podemos
observar a seguir:
Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira, explica:
"O conto cumpre a seu modo o destino da ficção contemporânea. Posto
entre as exigências da narração realista, os apelos da fantasia e as seduções
do jogo verbal, ele tem assumido formas de surpreendente variedade. Ora é
quase-documento folclórico, ora quase-crônica da vida urbana, ora quase-
drama do cotidiano burguês, ora quase-poema do imaginário às voltas, ora,
enfim, grafia brilhante e preciosa voltada às festas da linguagem."

Edgar Allan Poe



(1809–1849), o primeiro teórico
do gênero, argumentava que:
“Temos necessidade de uma literatura curta,
concentrada, penetrante, concisa, ao invés de extensa e
pormenorizada... É um sinal dos tempos... A indicação de
uma época na qual o homem é forçado a escolher o curto,
o condensado, o resumido, em lugar do volumoso”.

O gênero narrativo o conto apresenta: narrador, enredo, personagens,


espaço, tempo, conflito, clímax, resolução do conflito e conclusão dos
fatos. Assim como os contos, as novelas, romances e fábulas também
fazem parte dessa tipologia literária.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


158
O conto é formado por uma narrativa breve que ocorre centrada em
um único conflito, conta com poucos personagens e relata apenas uma
situação, sendo muito comum na tradição literária brasileira e se faz
presente nas obras de grandes escritores como: Lygia Fagundes Telles,
Dalton Trevisan, Machado de Assis e Mário de Andrade.

Estrutura da narrativa:

O gênero conto possui uma estrutura narrativa com apenas um


conflito, poucos personagens, espaço limitado e tempo reduzido.
Clímax: o momento de maior tensão presente na história.
Enredo: é definido pela sequência das ações que compõem a
história.
Elementos: corresponde aos seres que executam e sofrem ações
durante o enredo das narrativas. Podem ser personagens tanto
seres humanos quanto outros seres viventes, como animais, plantas
ou até objetos humanizados.
Tempo: elemento da narrativa, que se caracteriza por expressões
constituídas através do dia, mês, ano e estações.
Espaço: o espaço de um conto é, em linhas gerais, o cenário no qual
as personagens executam e sofrem ações que constrói o enredo.
O narrador: é aquele que conta a história ao leitor, possui tipos,
conforme se explica a seguir.

OS TIPOS DE NARRADOR

Narrador em 1ª pessoa: também conhecido como narrador personagem,


é aquele que participa do enredo que narra. Os verbos utilizados são
flexionados na 1ª pessoa do discurso.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


159
Narrador observador: não participa da história, é alguém externo a
ela, desconhecido das personagens e irrelevante ao conflito. Os
verbos usados são flexionados na 3ª pessoa do discurso. É
importante dizer: esse narrador conta apenas o que vê,
desconhecendo o futuro ou os pensamentos das personagens.
Narrador onisciente: também não participa da história. No entanto,
diferentemente do observador, é um tipo que conhece o passado, o
futuro e os pensamentos das personagens.

Análise dos contos:

"Morre Desgraçado":
Conflito e personagens: esposa religiosa e marido bêbado (João);
Espaço e tempo: residência do casal;
Narrador 1ª: participa do enredo;
Clímax: [...] "Me mate mulher, se não você morre"...

"Venha ver o pôr-do-sol:"


Conflito e personagens: Ricardo, apaixonado por Raquel, que está em
outro relacionamento;
Espaço e tempo: Cemitério;
Narrador 1ª: participa do enredo;
Clímax: [...] "Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta tem uma
frincha na porta. Depois vai se afastanto devagarinho, bem devagarinho.
Você terá o pôr-do-sol mais belo do mundo. Ela sacudia a portinhola."

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 160
Tipos de contos:

Os contos podem ser classificados como:

Fantástico: são contos que são impossíveis de terem


acontecidos na realidade. É inspirado em narrativas
clássicas como a obra Odisseia, Homero.
Infantil-juvenil: possui linguagem simples e é
destinado para as crianças e adolescentes.
De Fadas: o conto se inicia com a frase " Era uma vez" ,
e no decorrer da história, personagens tramam alguma
maldade contra os protagonistas.
De Ficção Científica: seu enredo conta com elementos
fora do comum, para uma sociedade e se fundamenta
em percepções científicas.

SAIBA MAIS SOBRE O GÊNERO CONTO:


https://youtu.be/fjqv4-Wg8G0

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 161
4. A violência na atualidade
Segundo a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência Contra a Mulher, adotada pela OEA em 1994, a violência
contra a mulher é qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que
cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto no âmbito público como no privado. É estrutural e está presente
na sociedade patriarcal que determina papéis sociais que acabam
atribuindo às mulheres a função de submissão ao homem.
A violência doméstica na maioria das vezes é causada por alguém
próximo. Pesquisas revelam que 78% das mulheres que sofreram
violência doméstica foram agredidas pelos atuais ou pretéritos maridos,
companheiros ou namorados (DATASENADO, 2019).
Devido ao aparecimento do novo coronavírus (Sars-CoV2), foi
recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que
todos permanecessem em casa como forma de conter a disseminação
do vírus, mas isso acabou potencializando fatores que contribuem com o
aumento da violência contra as mulheres. Em virtude da quarentena, os
números de boletins de ocorrência caíram e os casos de feminicídio
aumentaram, pois muitas vítimas não conseguem chegar ao local para
registrar o boletim. A Polícia Militar do estado de São Paulo relatou que
o número de assassinatos de mulheres aumentou 44,9% em março de
2020, em comparação com março de 2019. Como o exame imediato de
corpo delito é exigido nos casos de violência sexual, a redução nas
notificações deste crime é provada com a dificuldade da presença da
vítima na delegacia. Os registros de ocorrência relacionados à violência
sexual tiveram redução média de 28,2%, conforme relatado pelo FBSP.

Saiba mais sobre a Violência


Contra a Mulher em tempos de
Pandemia
https://youtu.be/AQLztaUJY1E

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 162
4.1 Analisando os tipos de violências
presentes nos contos
Violência contra mulher refere-se aos vários tipos de violências que
acontecem diariamente no Brasil e no mundo. Mulheres sofrem
agressões pelo simples fato de serem mulheres. Debater sobre essa
tema nas salas de aula pode ajudar na conscientização e denúncias de
possíveis casos, pois os alunos saberão o que fazer e como agir se em
algum momento da sua vida se deparar com esse tipo de violência.

Nos contos Venha ver o pôr do sol, de Lygia Fagundes Telles,


observamos o tipo de violência psicológica. No conto Morre, Desgraçado,
de Dalton Trevisan, é possível identificarmos a violência física que a
personagem passa. Notamos que as personagens dos contos não tinham
acesso às informações necessárias para denunciar os seus agressores.

A violência física consiste em


qualquer ato ou conduta que pode ferir
a integridade e a saúde corporal da
mulher. Como por exemplo,
espancamento, estrangulamento,
tortura, atirar e lesionar objetos contra
a vítima.
Imagem: iStock/Getty Images

A violência psicológica consiste nos


danos emocionais que são causados as

vítimas diminuindo sua auto estima e


prejudicando no seu desenvolvimento
como mulher. São exemplos dessa
agressão:ameaças, insultos, chantagens,
exploração.
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na


presente
literatura:
nas discussões
obras literárias
além da sala de aula 163

algum-tipo-de-violencia-na-pandemia-no-brasil-diz-datafolha.ghtmlr um pouquinho de texto


Inserihttps://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/06/07/1-em-cada-4-mulheres-foi-vitima-de-
Além da violência física e mental, há também a violência sexual, moral
e patrimonial.
Atualmente, existem várias maneiras de denunciar agressões contra
as mulheres, e é importante que a escola seja um espaço que ajude a
divulgar essas maneiras, passando para os alunos às informações
necessárias, de forma didática. Como por exemplo:
Denunciando o agressor para o número 180
180
Acessando o site da Ouvidoria do Ministério
Conscientizando crianças e adolescentes para ajudarem
e denunciarem

Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006 pelo


presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com 46 artigos distribuídos em sete
títulos, ela cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal
(art. 226, § 8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado
brasileiro (Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa
Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher).
Maria da Penha Maia Fernandes
Maria da Penha Maia Fernandes nasceu
em Fortaleza-CE, em 1º de fevereiro de
1945. É farmacêutica bioquímica pela
Faculdade de Farmácia e Bioquímica da
Universidade Federal do Ceará.
https://www.institu
to
mariadapenha.org.br
/
quem-e-maria-da- Clique e conheça a
penha.html história de Maria da
Penha:

Imagem :@institutomariadapenh

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 164
Resumo da Lei
A Lei Maria da Penha garante que toda mulher que sofreu ou sofre
agressão possa ter seus direitos defendidos e garantidos:

https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-
11340/resumo-da-lei-maria-da-penha.html
O Título I determina em
Já o Título II vem dividido em
quatro artigos a quem a lei é
dois capítulos e três artigos: além
direcionada, ressaltando
ainda a responsabilidade da de configurar os espaços em que
família, da sociedade e do as agressões são qualificadas
poder público para que todas como violência doméstica, traz
as mulheres possam ter o as definições de todas as suas
exercício pleno dos seus formas (física, psicológica,
direitos. sexual, patrimonial e moral).

Além da Lei Maria da Penha, foi aprovada no Código Penal a Lei


14.188/2021, acerca do crime de violência psicológica contra a mulher,
caracterizado como aquele que causa dano emocional, prejudicando e
perturbando o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou
controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões das mulheres.
Esse tipo de violência pode ocorrer por meio de ameaça,
constrangimento, ridicularização, humilhação, manipulação, isolamento,
chantagem, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro método.

Agosto Lilás

"Agosto Lilás” é uma campanha criada no ano de 2006, para defender


as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Ela foi idealizada
pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres (SPPM) e instituída
por meio da Lei Estadual nº 4.969/2016, com objetivo de intensificar a
divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade
sobre o necessário fim da violência contra a mulher, divulgar os serviços
especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência
e os mecanismos de denúncia existentes.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 165
Sempre reunindo diversos parceiros governamentais e não-
governamentais, prevendo ações de mobilização, palestras e rodas de
conversa – as campanhas de combate à violência contra as mulheres vêm
se fortalecendo e se consolidando como um grande movimento social. A
Campanha produziu material educativo sobre a Lei Maria da Penha,
direcionado às mulheres com deficiência visual, auditiva e mulheres das
etnias guarani e terena, disponibilizando cd’s em áudio com narração em
braile, DVD’s de libras para mulheres surdas e cartilhas traduzidas nas
línguas indígenas.
A Lei 4.969/2016 também criou o programa "Maria da Penha Vai à
Escola" e nos anos seguintes outras ações, como: "Maria da Penha vai à
Igreja, Maria da Penha vai ao Campo".
Para mais informações:

https://www.naosecale.ms.gov.br/agosto-lilas/

5. Ação além da escola: o gênero Carta


Aberta
Carta Aberta é um gênero textual cujo objetivo é informar, instruir,
alertar, protestar, reivindicar ou argumentar sobre determinado assunto.
Ela não é destinada apenas a uma pessoa, mas sim para toda a sociedade.
Possui a seguinte estrutura:
Título: indica a quem será destinada a carta (comunidade, associação,
instituição, organização, entidade, autoridade municipais, estaduais e
nacionais, etc. Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
Introdução: contextualiza brevemente a temática abordada.
Desenvolvimento: são apontados os principais argumentos e pontos de
vista referentes ao assunto abordado.
Conclusão: sugestão de possível resolução do problema posto em causa.
Despedida: com saudações cordiais e assinatura dos remetentes, a
despedida finaliza a carta aberta.
Nossa proposta didática prevê a produção de cartas abertas em vídeo,
visando engajar os alunos e toda comunidade a debater essa causa tão
necessária, a violência contra a mulher, como expansão do saber além da
sala de aula.

Capítulo99- -AAviolência
Capítulo violênciacontra
contraaamulher
mulherna
naliteratura:
literatura:discussões
discussõesalém
alémda
dasala
salade
deaula
aula 166
5.1 A leitura literária e as cartas abertas em vídeo
Após o estudo do gênero conto, como proposto no presente capítulo,
sugerimos ao professor que desenvolva a leitura de contos, como os
assinalados aqui, fomentando a discussão acerca dos tipos de violência
às mulheres. A partir de roteiros de leitura e interpretação dos contos, o
professor pode ainda solicitar a pesquisa de outras produções artísticas
que abordem essa temática: textos literários, músicas, artes plásticas,
filmes, documentários, trechos de novelas, etc.
O professor pode criar um grupo no Whatsapp para que todos os
alunos compartilhem o material encontrado entre si. A partir daí, podem
ser construídas colaborativamente as cartas abertas em vídeo,
conforme explicado a seguir:
Passo a passo de como produzir o gênero textual carta aberta:
https://www.youtube.com/watch?v=a3VtLr4vsuY
Com base no material pesquisado e compartilhado sobre a violência
contra as mulheres, o professor promoverá uma roda de conversa, a
fim de que seja debatida a temática com os alunos;
Após a roda de conversa, o professor pode desenvolver uma oficina
linguística sobre o gênero carta aberta, enfatizando as cartas
abertas em vídeo, com exemplos, inclusive;
Durante a oficina linguística, é importante explicitar os elementos
discursivos de uma carta aberta e sua funcionalidade social;
Em seguida, com a ajuda dos alunos, o professor
produzirá/pesquisará tutoriais de gravação e edição de vídeos
curtos, explicando que será nesse formato que as cartas abertas
serão produzidas;
Nas cartas, os alunos deverão se manifestar sobre a temática e
presentar sugestões para combater a violência às mulheres;
É importante que a produção seja compartilhada como versão
inicial e final, a fim de que professor e alunos avaliem se as
produções estão cumprindo a finalidade visada;
Finalizadas, incentive a circulação das cartas abertas em vídeo,
pedindo aos alunos que divulguem nas suas redes sociais e, se
possível também nas mídias da escola.
Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0
167
5.2 Conhecendo os autores do capítulo
Ana Paula Correia da Silva
Tecnóloga em Gestão Comercial - UEMANET,
Graduanda em Letras Licenciatura em Língua
Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas pela
Universidade Estadual do Maranhão(UEMA)

Denis Silveira Guedes


Graduando em Letras Licenciatura em Língua
Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas pela
Universidade Estadual do Maranhão(UEMA)

Érica Beatriz Alves Vieira


Graduanda em Letras Licenciatura em Língua
Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas pela
Universidade Estadual do Maranhão(UEMA)

Kaline dos Santos Soares


Graduanda em Letras Licenciatura em Língua
Portuguesa Língua Inglesa e Literaturas pela
Universidade Estadual do Maranhão(UEMA)

Rayganna Silva Gomes


Graduanda em Letras Licenciatura em Língua
Portuguesa, Língua Inglesa e Literaturas pela
Universidade Estadual do Maranhão(UEMA)

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


168
6. Referências:
AGOSTO lilás. Não se cale mais, Mato Grosso do Sul, 29 de abril de 2021.
Disponível em: https://www.naosecale.ms.gov.br/agosto-lilas/. Acesso
em: 02 de julho de 2021.

AGÊNCIA SENADO. Lei cria programa Sinal Vermelho e institui crime


de violência psicológica contra mulher. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/07/29/lei-cria-
programa-sinal-vermelho-e-institui-crime-de-violencia-psicologica-
contra-mulher. Acesso em 03 de Jul. de 2021.

BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo.


Disponível em:
https://www.academia.edu/31487161/BOSI_A_Hist%C3%B3ria_Concis
a_da_Literatura_Brasileira_pdf. Acesso em: 03 de Jul. de 2021.

BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 03 de jul. de 2021.

Carta aberta ao Meio Ambiente. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=a3VtLr4vsuY. Acesso em : 03 de Jul.
de 2021.

DATASENADO. Boletim Mulheres e seus Temas Emergentes: violência


doméstica em tempos de Covid-19, 2020. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/pdfs/violencia-
domestica-em-tempos-de-covid-19. Acesso em 20 de Jul. de 2021.

DALTON Trevisan. Morre Desgraçado. Disponível em


:https://www.academia.edu/36314468/Dalton_Trevisan_Morre_Desgra
cado_Conto. Acesso em 03 de Jul. de 2021.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na


presente
literatura:
nas discussões
obras literárias
além da sala de aula 0
169
DIANA, Daniela. Carta aberta. Toda Matéria. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/carta-aberta/ Acesso em: 15 de Jul de
2021

FAGUNDES, Lygia. Venha ver o pôr-do-sol, 1988. Disponível em:


https://www.google.com/url?
sa=t&source=web&rct=j&url=http://www.colegionomelini.com.br/midia
/arquivos/2013/1/5e445f1ad2a6ebc730b440466212ca38.pdf&ved=2
ahUKEwibh_ae757yAhVrH7kGHbbNBv4QFnoECAMQAg&usg=AOvVa
w2muiZeI72lYAWj4DKygGIS .Acesso em: 03 de Jul, de 2021.

FRAZÃO, Dilva. Lygia Fagundes Telles. E-Biografia. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/lygia_fagundes_telles/ Acesso em: 20 de
Jul. de 2021.

FRAZÃO, Dilva. Dalton Trevisa. E-Biografia. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/dalton_trevisan/ Acesso em: 20 de Jul. de
2021.

FOTO de capa. Violência contra a mulher. Disponível em:


<a href="https://br.freepik.com/fotos/mulher">Mulher foto criado por
wayhomestudio - br.freepik.com</a>

IMP (Instituto Maria da Penha). Quem é Maria da Penha. Disponível em:


https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-
penha.html Acesso em: 15 de Jul. de 2021.

MARINHO, Fernando. “Conto", Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-conto.htm Acesso em: 15 de
Jul. de 2021.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 170
NOGUEIRA, Sônia. A tristeza. Recanto das letras. Disponível em:
<https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/157619> Acesso
em: 03 de Jul. de 2021.

Núcleo de Estatística e Gestão Estratégica/TJAC; COMESP/TJSP; TJPA.


Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
http://estatisticas.forumseguranca.org.br/. Acesso em: 20 de Jul. de
2021.

PAIVA, Paula. Violência Contra a mulher na pandemia. G1 São Paulo.


Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2021/06/07/1-em-cada-4-mulheres-foi-vitima-de-
algum-tipo-de-violencia-na-pandemia-no-brasil-diz-datafolha.ghtml
Acesso em: 15 de Jul de 2021.

RESUMO da lei. Instituto Maria da Penha. Disponível em:


https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-
maria-da-penha.html. Acesso em: 02 de julho de 2021.

Tribunal de Justiça do Estado do Sergipe. Definição de Violência contra


a Mulher. Disponível em:
https://www.tjse.jus.br/portaldamulher/definicao-de-violencia-contra-
amulher. Acesso em: 20 de Jul. de 2021.

World Health Organization. Violence against women during COVID-19.


Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-
coronavirus-2019/question-and-answershub/q-a-detail/violence-
against-women-during-covid. Acesso em 20 de Jul. de 2021.

Capítulo 9 - A violência contra a mulher na literatura: discussões além da sala de aula 0


171
Alexsandro dos Santos Coutinho

10
CAPÍTULO
Antonia Paula Martins
Ana Flávia Gomes de Andrade
Edileia da Silva Barbosa
Elza Vitoria Bezerra Saraiva
Luciana dos Santos Oliveira
Samuel dos Santos da Cruz
Suzana da Rocha Carvalho
Ana Patrícia Sá Martins

A REPRESENTATIVIDADE
DA MULHER NEGRA NAS
MÍDIAS SOCIAIS
172
A representatividade da
mulher negra nas mídias sociais

1. Apresentação
Ao longo das décadas, a era digital tem tomado proporções
gigantescas, ocupando espaço em quase todas as áreas, tornando-se um
meio de distribuição e compartilhamento de informações, abrindo,
assim, espaços para debates sobre a inserção da representatividade
negra na sociedade brasileira, em especial das mulheres e o que elas
representas.
A partir de um pensamento reflexivo e discursivo em torno da
temática, o presente capítulo tem como finalidade abordar as vertentes
que circulam nesses espaços midiáticos e incentivar a desconstrução da
estigmatização da mulher preta na sociedade.
Partindo da necessidade da visibilidade feminina negra nas
plataformas digitais, decidimos apresentar a importância do ativismo
feminino e o que ele representa, colocando a mulher negra em lugar de
destaque, frisando o quanto a mídia tem papel importante nesse
crescimento e toda a dificuldade que mulheres negras enfrentam
diariamente nas plataformas sociais.
Temos como objetivo ainda problematizar a baixa representatividade
dessas mulheres na sociedade, instruindo os alunos a desenvolver
pensamentos críticos, e, a partir disso, buscarem meios de combate ao
preconceito, estimulando o consumo de conteúdos digitais de
empoderamento de mulheres negras.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 173


2. A Reprensatividade e a Mulher Negra
Para iniciar a discussão acerca dessa temática, é importante sabermos
o que é representatividade.
Representatividade é a representação social, cultural, política ou
outras de um determinado grupo em um determinado contexto, em que
são expressos seus direitos, deveres e identidades.
No que se refere à representatividade das mulheres negras, sabemos
que ainda é muito esteriotipada, como é possível se perceber nas mídias.
Nesse sentido, muitas mulheres não conseguem se sentir representadas
por aquilo que veem nas redes sociais e nas telas, pois, em geral, são
vistas como objetos sexuais e/ou ocupando lugares de subalternas, como
empregadas domésticas e escravas, por exemplo.
Contudo, apesar disso, temos observados mulheres negras nos mais
diferentes papéis sociais e assumindo outras representações,
consagrando-se como mulheres fortes e empoderadas, que ajudam a
outras tantas a se enxergarem de maneira mais positiva e com auto-
estima.

Assista ao Documentário sobre


Representatividade das mulheres
negras:
https://youtu.be/BTJZ5C5zXAQ

Daiane dos Santos foi a primeira


ginasta brasileira conquistar uma Daiane dos Santos Rebeca Andrade
medalha de ouro em uma edição do
Mundial de Ginástica e Rebecca
Andrade também brasileira, a
primeira a ganhar uma medalha
olímpica na ginástica artística.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais


Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 174
Em 2018, a atriz Neusa Borges Neusa Borges

revelou a sua vontade de trabalhar e


reclamou da ausência de convites para
novelas. A atriz questiona: “Qual o
papel do negro na TV ou na sociedade?
Segundo ela, o negro continua vivendo
na senzala e no tronco. "Ganhei
prêmios fazendo empregadas e babás
com orgulho. Mas quando vão me dar
um papel principal? O negro é o último
em tudo, mas não podemos e não
devemos jamais nos calar” Foto: Reprodução/ Instagram

O desabafo da atriz nos faz


problematizar acerca de como as Confira aqui a entrevista
mulheres negras devam se sentir, por
geralmente não se verem representadas
na mídia em papéis e posições que não
representem inferioridade.
Sobre esse assunto, outra mulher
negra de grande apelo midiático, a
cantora Iza, declarou em entrevista para
o canal Todas juntas, no You Tube. A
cantora fala sobre a reprensatividade da Você sabia?
mulher negra na mídia. Em um trecho
Maju Coutinho foi a 1ª
da entrevista, Iza declara ficar
mulher negra na TV
imensamente feliz quando recebe brasileira a apresentar o
mensagens do tipo: “Eu me aceitei Jornal Nacional
como eu sou por sua causa”, ou “Eu Veja aqui
amo meu cabelo porque você ama o seu
e eles são iguais”.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 175


Relatos como da experiente atriz Neuza Borges e da popular cantora
Iza evidenciam a importância da representatividade para a auto
aceitação de mulheres negras, usando de forma positiva o alcance da
mídia para que isso aconteça, dada a sua relevância de alcançar
mulheres de todo território brasileiro, ao ouvir uma música, ao assistir
uma novela, ou seja, a mulher e a mídia devem ser aliadas para que isso
aconteça.
Por isso, entendemos ser de suma importância o envolvimento de
toda a comunidade escolar em debates sobre questões de gênero e
identidade, uma vez que a educação é uma das principais ferramentas
de combate ao preconceito e para o rompimento de paradigmas que
cercam a sociedade, visando ao trabalho no e para o coletivo, ao
protagonizar o papel da mulher negra em sociedade.
Em palestra ao canal TEDx talks São Paulo, a ativista Djamila Ribeiro
fala sobre o seu pensamento em relação a situação da mulher no Brasil,
pontuando como é necessário irmos além ''de comunicar
representatividade'', ou seja, devemos estar presentes no processo
como um todo. Ao ser questionada sobre a participação da mulher em
especial no ambiente corporativo e na publicidade, ela acrescenta: ''é
uma questão que precisamos olhar com bastante seriedade, apesar dos
avanços nos últimos anos, de ter mais pessoas negras sendo
representadas, e mulheres também. Ainda tem uma questão, na
publicidade sobretudo, de sermos só representados como quem divulga
o produto. É importante também participar de toda a cadeia de
produção, de direção, estar por trás das câmeras. É algo que ainda
precisa ser discutido''. Confira a importante fala de Djamila Ribeiro em:
https://youtu.be/6JEdZQUmdbc
Nesse sentido, argumentamos ser necessário buscar meios de
combater os desafios, englobando todas as organizações, sendo elas
mídias sociais, a escola e a sociedade, "ninguém solta a mão de
ninguém'', levando pautas e debatendo sobre as lutas sociais, os
movimentos das mulheres negras e seus papéis com falas ativas nesses
espaços.
Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 176
2.1 Meu cabelo não diminui minha negritude
Mulheres negras sempre enfrentaram dificuldades para estar nos
padrões que impostos pela sociedade. Muitas vezes, a pressão social e
estética vivida por elas durante anos forçaram-nas a entrar e buscar um
padrão.
A empresária e influenciadora negra Lady Lace retrata um pouco
sobre esse assunto em uma entrevista para o site Todateen, explicando
como também sofreu com todo esse processo, e como o uso de laces
ajudou na autoestima de mulheres negras: “Eu, como toda mulher
negra, já sofri com a imposição de padrões e sei reconhecer como a
busca por esses padrões minam a nossa autoestima. Ouvíamos pessoas
falar que o nosso cabelo crespo e volumoso era feio, corríamos para
alisar com produtos químicos. Diziam que não podíamos ter fios claros,
porque não combinava com a pele. Além disso, falavam que o nosso
cabelo era ruim e não crescia, corríamos para alongar. Mas o maior
problema era que no final dessa corrida, você já não tem mais
autoestima, amor próprio, e possivelmente nem mais o próprio cabelo”,
contou.
Quando falamos sobre textura de cabelo, temos uma grande surpresa
nesse embate, os chamados “fiscais de textura” que pensam no
empoderamento feminino e autoaceitação como algo unicamente ligado
a exibição do cabelo natural a todo momento. A mulher negra não pode
falar sobre autoaceitação usando laces lisas, pois os fiscais a todo
momento questionam e apontam, sempre no intuito de oprimir e
diminuir a fala da mulher, tendo o preconceito e racismo impregnado em
suas falas.
Problematizamos: A mulher preta perde seu local de fala usando laces
ou estando de cabelo liso? Fica aí o questionamento. Mulheres negras
usam e continuaram usando o cabelo que quiserem sem diminuir sua
negritude, e um exemplo disso é a influencer brasileira e vice-campeã
BBB21 Camilla de Lucas, a qual foi atacada em suas redes sociais pelo
uso constante de laces e por não mostrar o seu cabelo natural.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 177


As redes sociais estão cheias de influencers, blogueiras, artistas, mas
você já se perguntou quantas são negras?
A realidade que muitas brasileiras enfrentam ao ingressarem nesse
mercado sendo negras tem demonstrado que já evoluímos, mas a luta
ainda não acabou, a busca por ser e ter representatividade continua.
As mulheres negras sempre foram condicionadas a péssimas condições
de trabalho, baixos salários e maior dificuldade em entrar e serem
aceitas no mercado. A ativista Djamila Ribeiro faz críticas ao mercado
brasileiro, principalmente ao que desrespeita a contratação de mulheres
negras na sociedade brasileira. Segundo ela, ''se você é diretora de RH e
só pede currículos de universidades como a USP, como você vai ter
profissionais negros na sua empresa se não entender que a maioria da
população negra foi afastada daquele espaço?''
Apesar da dura realidade, o mercado vem passando por mudanças, que
se dão a partir desses movimentos ativistas, do posicionamentos de
mulheres fazendo uso das redes sociais para compartilhar
conhecimentos, suas lutas, as famosas caixinhas de perguntas que
possibilitam a interação com o público, o que traz para as pessoas que
seguem e assistem mais familiaridade e permitem esse leque de
possibilidades de discussão, consequentemente conquistando o
mercado e seu espaço, mesmo que ainda não seja o suficiente.

A influenciadora digital e ex-


participante de um reality show
brasileiro (BBB), compartilhou em
uma rede social sobre seu processo
de transição capilar e o que isso
representa socialmente. Nos storys, a
influenciadora faz desabafos e conta
que sofreu muitos hates (mensagens
de difamação) relacionados a esse
assunto.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 178


A cantora e compositora Ludmila também conta sobre os ataques e
comentários que sofreu, ao questionarem sua negritude pelo uso de
laces (cabelos com aparência de naturais), ela rebateu os hates como
forma de posicionamento e desabafo: “O fato de eu estar usando uma
lace lisa não anula as minhas raízes, meu cabelo é crespo e meu local
de fala sobre o racismo que eu sofro continuam. Não sejam
ignorantes”.
Devemos compreender o racismo estrutural que está impregnado
em nossa sociedade, padrões que foram impostos a mulher negra, que
através de movimentos estamos tentando quebrar e mudar, mostrar
que o padrão é você ser você, não importa o que a sociedade diga
sobre isso, independentemente das analogias que infelizmente
caminharam e caminham há muito com mulheres negras de cabelo
crespo

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 179


3. Nossa proposta didática:
A representatividade das mulheres negras: o
ativismo como espaço de resistência
Considerando escola como um importante espaço para construção
e reflexão sobre cidadania, respeito e equidade social, nossa proposta
didática busca incentivar o debate com alunos acerca da
representatividade das mulheres negras, a partir de rodas de conversa,
curadoria em sites e redes sociais e a produção de scrapbooks.

3.1 Em Ação:

Inicialmente, sugerimos ao professor que convide os alunos para um


roda de conversa, que pode ser presencial ou se dá de maneira síncrona
on line, pelo Meet, Teams, ou qualquer outra plataforma digital. Como
ponto de partida, disponibilizamos abaixo alguns questionamentos que
podem servir de base para o roteiro de discussão na roda de conversa:
a) Por que a representatividade é importante?
b) Na sua opinião, o uso de lace diminui a negritude de uma mulher
preta? Justifique seu ponto de vista.
c) Há mulheres negras que você admira nas redes sociais e/ou na
grande mídia? Quais?
d) Qual a importância dos movimentos ativistas contra paradigmas de
preconceitos existentes na sociedade? Por quê?
e) Qual seu posicionamento acerca dos preconceitos existentes na
sociedade em relação às mulheres negras?
f) Qual (is) sua (s) sugestão (ões) para acabar com esses preconceitos?

Após a roda de conversa, propomos que os alunos tenham um


prazo, de aproximadamente uma semana, para produzirem cartazes
de divulgação no Canva, com temáticas sobre a representatividade
da mulher negra na sociedade contemporânea. As produções
podem ser feitas em duplas e divulgadas nas redes sociais dos
alunos e da escola

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 180


Inspirações para pretas

@todecrespa @nathaliagibson @budah

@cachoscarter @eusaholiveira @lourenaooficial

A IMPORTÂNCIA DA ESTÉTICA E AUTOESTIMA NEGRA:


Geração Tombamento é Política?

https://youtu.be/srKdoOEbjeg

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 181


O Gênero Scrapbook
S
Scrapbook é uma terminologia em inglês para definir um livro
de recortes, ou seja, é um álbum de recortes personalizado, que C
pode conter tanto recortes como fotografias, o que o torna um R
colecionador de memórias, sejam atuais ou antigas.
Para Hiratomi, "a atividade do scrapbook ou a decoração de
A
um álbum pelo o aluno pode melhorar a relação dele com o P
professor, tendo em vista a aprendizagem pelo contexto e
significado". Por isso, é recomendável que ao sugerir a produção
desse gênero aos seus alunos, o professor também confeccione o B
seu.
Nesse terceiro momento da proposta didática, convidamos o O
professor a propor a construção de scrapbooks em colaboração O
com seus alunos. O objetivo é que, embora cada um produza o
K
seu, todos possam criar uma rede de colaboração, discutindo e
compartilhando dicas e conteúdos.
Para tal fim, todos irão selecionar suas memórias, através de
recortes, imagens, fotografias, tornando assim a atividade divertida
e enriquecedora, além de ser uma ótima maneira para cada um se
expressar da sua forma.
Sugerimos possíveis temas para a elaboração dos scrapbooks:
representatividade, empoderamento feminino, ativismo feminista,
biografias de artistas, atrizes, ativistas, e de todas mulheres que
representam essa luta, mas não se limitem somente a estes temas,
usem a criatividade e vão além, pois as ferramentas para a
confecção são ilimitadas.
A atividade sera feita indivualmente, pois cada aluno irá se
expressar da sua forma, fazendo com que assim ao final das
produções todos conheçam novas muheres que até então não
conheciam.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais


Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 182
Ainda que os scrapbooks possam ser produzidos em plataformas
digitais, como o Canva, e serem compartilhados no Instagram, por
exemplo, vale destacar que incentivamos também que as produções
ocorram com materiais como: caderno de desenho capa dura, cola
branca, tesoura de cortar papel, fotos e recortes, canetas ou pinceis
para os títulos, e anotações, adesivos, eva, etc.
Quando todos os scrapbooks estiverem prontos, o professor junto
com os alunos, pode fazer a socialização das confecções. Como e
onde? Com a ajuda e permissão da equipe gestora da escola, irá
organizar um local na escola para expor os scrapbooks. Caso a escola
tenha uma área livre ou um pátio, são ótimos locais para tais
exposições. O objetivo é que o máximo de pessoas possa ter acesso às
produções, inclusive outros alunos e professores, funcionários da
escola e familiares dos alunos.
Dicas para produzir scrapbooks:
https://www.dicasdem
https://youtu.be/HJZWtafHHnU ulher.com.br/scrapbo
ok/
https://youtu.be/h
qmguYGaWsA

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 183


Mais Ações:
1. Observe os trechos de duas músicas, a primeira é "Triste, louca ou
má", da banda Francisco, el hombre e a segunda é "Descontruindo
Amélia", da cantora Pitty:

“Triste, louca ou má O ensejo a fez tão prendada


Será qualificada Ela quem Ela foi educada pra cuidar e
recusar servir
Seguir receita tal, A receita De costume, esquecia-se dela
cultural Sempre a última a sair
Do marido, da família Cuida,
cuida da rotina”

a) Na sua opinião, qual a temática dessas músicas? Elas têm pontos em


comuns? Se sim, quais?
b)De acordo com sua interpretação, Confira a música
"Desconstruindo
o que o título "triste, louca, ou má" significa? Amélia"
Aqui
2. Observe outro trecho da música
Confira a música
"triste, louca ou má"
"Triste, Louca, ou
má"
"Que um homem não te define, Aqui

sua casa não te define,


sua carne não te define, você é seu próprio lar"

Agora observe um trecho da música "Dona de Mim" da cantora Iza:


"Sempre dou o meu jeitinho, é bruto,
Confira a música
mas é com carinho,
"Dona de mim"
porque Deus me fez assim, Dona de mim" Aqui

a) Na sua opinião ,o que significa "eu sou o meu próprio lar" e


"Dona de mim", nas músicas ?
b) Pensando de um modo geral e fazendo paralelo com as músicas aqui
mostradas, você acha que a representatividade é importante?
///////////////////////////////////////////////////////////////
Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 184
6. Algumas reflexões
O objetivo desse capítulo foi falar sobre a mulher negra e como ela é
vista na mídia pelos telespectadores, de que forma o seu
comportamento pode influenciar outras mulheres a se sentirem
empoderadas e independentes. Abordamos também figuras conhecidas
e seus respectivos trabalhos de forma gradativa. Nosso intuito como
autores do capítulo é trazer um olhar mais crítico e desconstruído,
mostrar o tamanho da importância da figura feminina negra nesse
contexto, também tentar fazer com que possa ser vista e mostrar o
empoderamento mesmo com tanto preconceito ainda sofrido.
Almejamos que nosso capitulo possa contribuir de forma significava
para o ensino, mostrando a importância de falar dessa temática para
nossos jovens, pois o foco é o orgulho de si mesmo e sua raça.
Esperamos que você use desse capítulo instruindo seus alunos a irem
além dessas páginas, para que assim a luta e a valorização possam ser
de forma consciente.

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 185


Autores do capítulo

Antonia Paula Martins: Graduanda em Letras


Licenciatura Língua Portuguesa, Língua Inglesa e
Literaturas pela Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA).

Alexsandro dos santos Coutinho: Graduando em


Letras Licenciatura Língua Portuguesa, Língua
Inglesa E Literaturas pela Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA).

Ana Flávia Gomes de Andrade: Graduanda em


Letras Licenciatura Língua Portuguesa, Língua
Inglesa E Literaturas pela Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA).

Edileia da Silva Barbosa: Graduanda em Letras


Licenciatura Língua Portuguesa, Língua Inglesa E
Literaturas pela Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA).

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 186


Autores do capítulo

Elza Vitória Bezerra Saraiva: Graduanda em


Letras Licenciatura Língua Portuguesa, Língua
Inglesa e Literaturas pela Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA).

Luciana dos Santos Oliveira: Graduanda em


Letras Licenciatura Língua Portuguesa, Língua
Inglesa E Literaturas pela Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA).

Samuel dos Santos da Cruz : Graduando em


Letras Licenciatura Língua Portuguesa, Língua
Inglesa E Literaturas pela Universidade Estadual
do Maranhão (UEMA).

Suzana da Rocha Carvalho: Graduanda em Letras


Licenciatura Língua Portuguesa, Língua Inglesa E
Literaturas pela Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA).

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 187


7. Referências

AS MULHERES QUE TÊM SEUS NOMES MARCADOS NO ESPORTE


BRASILEIRO. Jornal Nacional. 08 de mar. 2019. Disponível em:
<https://www.lance.com.br/galeria-premium/mulheres-que-tem-seus-
nomes-marcados-esporte-brasileiro.html> Acesso em 14/Jul/2021

CANTIERI, Isabela. 20 ideias para fazer um scrapbook e eternizar lindas


memórias. Dicas de mulher, 2021. Disponível em
https://www.dicasdemulher.com.br/scrapbook/. Acesso em: 20 de jul.
de 2021

DUARTE, Sofia. CAMILLA DE LUCAS SOFRE RACISMO APÓS MUDAR


O CABELO: “NÃO AGUENTO MAIS”. Capricho. 24/junho/2021.
Disponível em: https://capricho.abril.com.br/beleza/camilla-de-lucas-
sofre-racismo-apos-mudar-o-cabelo-nao-aguento-mais/ Acesso em
17/Jul/2021

FINKLER, Ana. Scrapbook: resultado final. YouTube, 6 de jul. 2020.


Disponível em: https://youtu.be/ojtaXPQ91o8IZA.

IZA. Dona de mim. Warner Music Brasil,2017-18. Disponível em :


https://www.youtube.com/watch?v=FnGfgb_YNE8 Acesso em
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FUKS, Rebeca. Biografia de Djamila Ribeiro. Ebiografia, 2021. Disponível


em https://www.ebiografia.com/djamila_ribeiro/. Acesso em: 14 de jul.
2021

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 188


MAJU COUTINHO É A PRIMEIRA MULHER NEGRA A OCUPAR A
BANCADA DO JORNAL NACIONAL. Revista Vogue. 13/fev./2019.
Disponível em: < https://vogue.globo.com/moda/moda-
news/noticia/2019/02/maju-coutinho-e-primeira-mulher-negra-
ocupar-bancada-do-jornal-nacional.html > Acesso em 14/Jul/2021

JUNTAS, todas. Mulher negra na mídia. YouTube, 28 de mar. 2017.


Disponível em: https://youtu.be/aEol0cUdKZo

MENEZES, Ana Luiza. ATRIZ FALA SOBRE DESEMPREGO E FALTA DE


PAPÉIS PARA NEGROS. Pleno.news. 08/05/2018. Disponível em <
https://todateen.uol.com.br/lady-lace-fala-sobre-a-importancia-das-
perucas-para-a-autoestima-das-mulheres-negras/ > Acesso em
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POLTRONIERI, Julia. LADY LACE FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS


PERUCAS PARA A AUTOESTIMA DAS MULHERES NEGRAS. Todateen.
09/09/2020. Disponível em < https://todateen.uol.com.br/lady-lace-
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PRADO, Thais. DEBOCHADA LUDMILA BRINCA “TIRA A LACE E


GANHA LUGAR DE FALA.” Mundonegro. 09/04/2021. Disponível em <
https://mundonegro.inf.br/ludmilla-tira-a-lace-e-ganha-lugar-de-fala/ >
Acesso em 17/Jul/2021

PITTY. Descontruindo Amélia. Chiaroscuro,2009. Disponível em


https://www.youtube.com/watch?v=ygcrcRgVxMI . Acesso em
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Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 189


ROCHA, Roseani. DJAMILA: “É PRECISO IR ALÉM DE COMUNICAR
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https://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2021/03/08/d
jamila-ribeiro-e-preciso-ir-alem-somente-de-comunicar-
representatividade.html> Acesso em 10/Jul/2021

TANCREDI, Thamires. DJAMILA RIBEIRO: A FILÓSOFA QUE SE


TORNOU UMA DAS PRINCIPAIS VOZES NO COMBATE AO
RACISMO. Donnagente. 17/05/2019. Disponível em: <
https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/gente/noticia/2019/05/djamila-
ribeiro-a-filosofa-que-se-tornou-uma-das-principais-vozes-no-combate-
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VILELA, Isadora. Fazendo scrapbook+dicas. YouTube, 20 de jan. 2021.


Disponível em: https://youtu.be/hqmguYGaWsA

HOMBRE, Francisco El. Triste, Louca ou


Má. 2016. Disponível em<https://youtu.be/lKmYTHgBNoE>

REBECA ANDRADE CONQUISTA A PRIMEIRA MEDALHA FEMININA


DO BRASIL NA GINÁSTICA ARTÍSTICA EM OLIMPÍADAS. Jornal
Nacional. Disponível em<https://g1.globo.com/google/amp/jornal-
nacional/noticia/2021/07/29/rebeca-andrade-conquista-a-primeira-
medalha-feminina-do-brasil-na-ginastica-artistica-em-
olimpiadas.ghtml#aoh=16277039821168&referrer=https%3A%2F%2F
www.google.com&amp_tf=Fonte%3A%20%251%24s>

Capítulo 10 - A representatividade da mulher negra nas mídias sociais 190

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