Texto publicado no Programa de Concerto da - OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de
São Paulo, Fevereiro de 2000. Projeto Criadores do Brasil.
Susana Cecilia Igayara
O Batuque está entre as obras mais populares de Nepomuceno. Assim como
Cauchemar, de Francisco Braga, e a Congada, de Mignone, não foi escrita no Brasil. Esta peça, que faz parte da Série Brasileira, foi composta enquanto o compositor estava na Alemanha, em 1891. Com o subtítulo Dança de Negros, adquiriu notoriedade separadamente da Suíte. Teve várias gravações, e certamente influenciou o aparecimento de outros tantos Batuques que fazem parte do repertório sinfônico e pianístico brasileiro. A característica do Batuque é a tendência ao acelerando frenético, apoiado sempre no elemento rítmico, que em sua forma popular dançada, era acompanhado por movimentos coreográficos de braços, cabeça e quadris. Abolicionista e republicano, Nepomuceno era um revolucionário. Por diversas vezes causou escândalos e enfrentou polêmicas, como a defesa do canto em português ou a incorporação do violão ao ambiente restrito das salas de espetáculo. Defensor da incorporação de elementos brasileiros na música de concerto, desta vez uniu o popular reco-reco à percussão orquestral, pela primeira vez na história e, como sempre, houve aqueles que não gostaram. Comparando-se esta peça com Cauchemar, de Francisco Braga, tem-se uma ideia do que significa privilegiar o ritmo e não a melodia, do efeito final que isto produz, e também se percebe por que razão a incorporação dos elementos negros, com a característica rítmica que esta música trouxe, fascinou tanto os nossos compositores, ansiosos por expandir suas possibilidades expressivas. Isso não significava, para os compositores que adotavam esses novos recursos, um abandono dos outros parâmetros, como a construção melódica e harmônica, e sim uma possibilidade de contraste e ampliação de meios. Para confirmar esta ideia, basta considerar a própria Série Brasileira, da qual o Batuque é a página final. Ela é formada pela Alvorada na Serra, Intermédio, A Sesta na Rede, e finalmente o Batuque, cada uma das partes com um caráter bastante diverso. O efeito principal desta obra sobre a plateia se faz pela reiteração. Ritmicamente, o Batuque é caracterizado pelo compasso binário, motivos secos, acentuações bruscas e pela presença do movimento sincopado. A repetição dos motivos vai contagiando o público, numa orquestração que permite que o conjunto sinfônico mostre todo o seu vigor. As surpresas ficam por conta das modulações, dos efeitos dinâmicos e daquela sensação de um crescendo e acelerando contínuo, levando a um clímax.