Você está na página 1de 18

A TEMÁTICA AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR:

CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DOS ANOS


INICIAIS  
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1526 
 
 
A TEMÁTICA AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR: CONCEPÇÕES DE
PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS
 
Marcos Alexandre Alves
Doutor em Educação e Professor Adjunto do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS -
UNIFRA. E-mail: maralexalves@gmail.com
 
Carla Regina Salau da Rocha Alves
Esp. em Supervisão Educacional - UNIFRA. Professora da Escola Estadual Dr. Antonio Xavier da Rocha,
Santa Maria, RS. E-mail: caia2000@hotmail.com
 
Resumo: O artigo examina as concepções de meio ambiente e educação
ambiental por parte de professores de escolas públicas de Santa Maria, RS, no
intuito de aprofundar a reflexão teórico-prática da temática ambiental. Os
participantes formam um grupo heterogêneo quanto à formação e ao tempo de
magistério. Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de entrevista semi-
estruturada. Optou-se, metodologicamente, por uma abordagem qualitativa e
análise de conteúdo. Os resultados obtidos mostram que a educação ambiental
é apenas mais um item na lista de conteúdos de Ciências, predomina a
concepção de educação ambiental conservacionista e recursista, e prevalece o
uso de concepções e metodologias centradas em uma tendência de educação
tradicional.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Políticas, Ética, Concepções,
Metodologias.
 
The thematic environmental education in context: conceptions by
teachers of early years
 
Abstract: The article examines the concepts of environment and environmental
education by teachers in public schools inSanta Maria, RS, in order to deepen
the reflection theory and practice of environmental issues. Participants form a
heterogeneous group regarding training and time of teaching. For data
collection, we used the technique of semi-structured interview. It was
decided, methodologically, a qualitative approach and content analysis. The
results show that environmental education is just another item in the list of
contents of Science, the predominant conception of environmental
education andconservation recursista, and supersedes the use of concepts
and methodologies focused on a trend of traditional education.
 
Keywords: Environmental Education, Policy, Ethics, Conceptions,
Methodologies.
 
 
1. Introdução
 
Diante da seriedade e do crescente aumento dos problemas ambientais,
a educação ambiental é apontada pelas políticas públicas educacionais como
uma variável que poderá auxiliar na resolução desta crise. Por essa razão, as
políticas educacionais para a Educação Básica do país destacam a
necessidade de se trabalharem as questões ambientais, como um tema
transversal aos demais conteúdos do currículo escolar e em todos os níveis e
graus de ensino. Essa abordagem educacional exige, portanto, preparação
profissional dos professores para o exercício de um trabalho coletivo em que o
ensino deve ser centrado no aluno. Para isso, pressupõem-se princípios
construtivistas em que o aluno é incentivado a reconstruir os conhecimentos
trabalhados pela escola.
 
A educação construtivista rompeu com o significado de concepções
tradicionais e introduziu, no cotidiano escolar, termos como competências,
habilidades, valores éticos, sociais e culturais. Assim, no contexto atual da
educação brasileira, consideramos pertinente investigar aspectos referentes à
temática ambiental, em escolas da rede pública de Santa Maria-RS, uma vez
que foi repassada à instituição escolar o desafio de trabalhar a educação
ambiental na perspectiva da sustentabilidade. Este é um momento em que o
planeta Terra pede socorro, principalmente devido ao aumento do aquecimento
global. Diante disso, um dos principais desafios relaciona-se a mudanças de
atitudes e conscientização dos indivíduos e dos grupos sociais.
 
Os indivíduos e os grupos devem compreender que a problemática
ambiental está interligada a eles e que o ser humano não é uma peça
dissociada do meio ambiente. Também devem perceber suas
responsabilidades e necessidades de ação imediata para a solução dos
problemas ambientais. Nesse contexto, fica clara a importância de se
educarem os estudantes para que desde cedo venham a agir de modo
responsável e com sensibilidade frente às questões ambientais, procurando
contribuir para a melhoria e conservação do meio ambiente.
 
Considera-se que a educação escolar, principalmente a dos anos
iniciais, é fundamental na formação de habilidades que permitem a aquisição
de conhecimentos e a compreensão da realidade. Nesse processo, a figura do
professor desempenha um importante papel, porque as experiências
vivenciadas na escola poderão marcar profundamente a vida dos estudantes a
ponto de influenciar em suas escolhas futuras.  Por isso, as concepções
elaboradas pelos estudantes podem ser influenciadas pelas concepções de
seus professores, reforçadas pelos livros didáticos e demais textos utilizados
em aula.
 
A partir dos argumentos acima mencionados, propôs-se como objetivo
de pesquisa investigar as concepções de meio ambiente e de educação
ambiental de professores de escolas públicas de ensino fundamental de Santa
Maria, RS.
 
 
2. Revisão da literatura
 
A partir das colocações iniciais sobre o tema, três pontos são
considerados na fundamentação teórica da educação ambiental. Inicialmente,
considera-se importante abordar aspectos referentes às políticas públicas de
educação ambiental. Na sequência, abordam-se aspectos referentes às quinze
correntes de educação ambiental descritas por Sauvé (2005), destacando-se a
corrente crítica.  Por último, apresentam-se aspectos éticos numa perspectiva
planetária.  
 
2.1. Educação ambiental nas políticas públicas
 
A inclusão da educação ambiental como direito de todos e dever do
Estado ficou determinada na Constituição Federal de 1988. Esta é a primeira
Constituição brasileira que destina um capítulo ao Meio Ambiente. Em seu
artigo 225, consta:
 
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à
saúde qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações (BRASIL, 2004, p. 141).
 
Nesse artigo, o inciso VI destaca a promoção da educação ambiental em
todos os níveis e modalidades de ensino. Além da Constituição, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) também contemplam a educação ambiental por
meio dos temas transversais e consideram “a educação como elemento
indispensável para a transformação da consciência ambiental” (BRASIL, 1998).
 
Assim, fica evidente que há uma preocupação por parte das lideranças
brasileiras com a educação ambiental, pois é por meio das políticas públicas
que se podem aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação
sociedade/natureza e soluções para problemas ambientais (JACOBI, 2003).
Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do
planeta, mas certamente é condição necessária para isso.
 
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas
Transversais (BRASIL 1998), a transversalidade diz respeito ao aprender com
a realidade, e a interdisciplinaridade refere-se à desfragmentação dos
diferentes campos do conhecimento (GONZÁLES-GAUDIANO, 2005). Essas
duas características diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridade
se refere a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento,
enquanto a transversalidade diz respeito, principalmente, à dimensão da
didática.
 
Segundo esse documento, na prática pedagógica, interdisciplinaridade e
transversalidade alimentam-se mutuamente, pois os temas transversais
expõem a inter-relação entre os objetos do conhecimento, de forma que não é
possível fazer um trabalho pautado na transversalidade, tomando-se uma
perspectiva disciplinar rígida.
 
A transversalidade oportuniza uma compreensão abrangente dos
diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do
sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre eles.
Por essa mesma via, a transversalidade abre caminhos para a inclusão de
saberes extra-escolares, dando significado à realidade dos alunos. Portanto, os
temas transversais dão sentido social a procedimentos e conceitos
convencionais, superando o aprender apenas pela necessidade de “passar de
ano” (BRASIL, 1998, p. 30).
 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais têm como objetivo trabalhar o
Meio Ambiente de forma transversal, com o intuito de criar uma visão global e
abrangente da educação ambiental. Visualiza aspectos físicos e histórico-
sociais, em relação aos quais cada professor tem um papel importante quando
cria vínculos de sua área com as questões ambientais.
 
Reigota (2002) considera que a dimensão ambiental era contrária a uma
proposição que impregnava o currículo em seu conjunto para tentar fecundar o
conteúdo tradicional das cadeiras com uma ambientalização que, muito
frequentemente, consistia na adição de conteúdos e atividades didáticas sobre
algum problema ou fenômeno ambiental. Para Reigota (2007), a educação
ambiental deve estar presente em todos os espaços, sejam eles formais ou
informais, pois a educação acontece em qualquer um desses meios. Assim,
educação ambiental pode ser realizada na escola, nos parques, nas
associações de bairro, etc. Reigota (2006, p.35) diz que: “A educação
ambiental não deve estar baseada na transmissão de conteúdos específicos, já
que não existe um conteúdo único, mas sim vários, dependendo das faixas
etárias a que se destinam e dos contextos educativos em que se processam as
atividades”.
 
Cada local tem suas características e especificidades, mas a escola,
segundo Reigota (2008), é um dos lugares privilegiados para a realização da
educação ambiental, pois pode ser trabalhada em todas as disciplinas do
currículo, oportunizando ao aluno mais criatividade e um conhecimento
interdisciplinar e não somente o conhecimento específico.
 
A lei 9.795/99 que institui a Política Nacional da Educação Ambiental
menciona que a educação ambiental deve estar presente, de forma articulada,
em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não-formal. Como se pode observar, a atual Política Nacional prevê que os
professores em serviço devem receber formação em educação ambiental
(SORRENTINO, 2005). Esse aspecto torna-se relevante se considerarmos que
uma parcela expressiva de professores não teve, em sua formação acadêmica,
preparo para trabalhar com esse tema nas escolas.
                       
2.2. Correntes de educação ambiental
 
Conforme observa Sauvé (2005), pesquisadores, professores,
pedagogos, animadores, associações, organismos adotam diferentes discursos
sobre educação ambiental e propõem diversas maneiras de conceber e praticar
a ação educativa. A partir dessa diversidade de conceitos, surgiram “correntes”
que se referem a uma maneira geral de conceber e praticar a educação
ambiental.
 
Consoante com o ponto de vista de Sauvé (2005), existem quinze
correntes de educação ambiental. Algumas são mais antigas e foram
dominantes nas primeiras décadas da educação ambiental (os anos de 1970 a
1980); outras correspondem às preocupações mais recentes (AMARAL, 2001).
 
Fazem parte das mais antigas as seguintes correntes: naturalista,
conservacionista/recursista, resolutiva, sistêmica, científica, humanista, e
moral/ética. Entre as correntes mais recentes, a autora situou: holística,
biorregionalista, práxica, crítica, feminista, etnográfica, ecoeducação e
sustentabilidade. A este estudo interessam, particularmente, as correntes:
naturalista, conservacionista/recursista, da sustentabilidade e crítica, descritas
a seguir.
 
A corrente naturalista está centrada na relação com a natureza, com
relação ao enfoque educativo que pode ser cognitivo (aprender com coisas da
natureza) ou experiencial (viver na natureza e aprender com ela). Para
podermos resolver os problemas ambientais, devemos compreender como
“funciona” a natureza; devemos aprender a entrar em contato com ela, por
intermédio dos nossos sentidos e de outros meios sensíveis. Devemos,
inclusive, explorar nossa relação com a natureza e compreender que somos
parte dela.
 
Já a corrente conservacionista/recursista está centrada na
“conservação” dos recursos, no que diz respeito tanto à qualidade quanto à
quantidade. Quando se fala de “conservação da natureza”, como a
biodiversidade, trata-se, sobretudo, de uma natureza-recurso.
 
A corrente da sustentabilidade tem como foco central a utilização
racional dos recursos no momento atual, para que estes existam
suficientemente para todos, podendo-se assegurar o atendimento às
necessidades do amanhã. A educação ambiental torna-se uma ferramenta,
dentre outras, a serviço do desenvolvimento sustentável, pois o
desenvolvimento econômico, considerado como base do desenvolvimento
humano, é indissociável da conservação dos recursos naturais. A corrente da
sustentabilidade penetrou pouco a pouco o movimento da educação ambiental
e se impôs como uma perspectiva dominante.
 
A corrente crítica inspira-se no campo da “teoria crítica”, que foi
inicialmente desenvolvida em ciências sociais e integrou o campo da educação,
para finalmente encontrar-se com o da educação ambiental nos anos de 1980.
Essa corrente está centrada na análise das dinâmicas sociais que se
encontram na base das realidades e problemáticas ambientais.
 
Consequentemente, pode-se observar que cada corrente de educação
ambiental se distingue por características particulares, mas podem se observar
zonas de convergências entre elas. Neste mesmo sentido, a análise de
proposições específicas (programas, modelos, atividades, etc.) ou de relatos de
intervenção nos leva amiúde a constatar que integram características de duas
ou três correntes de educação ambiental. Muitos educadores consideram que o
fundamento da relação com o meio ambiente é de ordem ética, pois, nesse
nível, deve-se intervir de maneira prioritária. É necessário saber analisar os
valores dos protagonistas de uma situação, antes de qualquer ação.
 
Para Jacobi (2005), a construção de uma educação ambiental crítica
implica a explicitação de algumas posições teórico-metodológicas. A primeira
delas diz respeito à visão da educação como um processo de humanização
socialmente situado. Neste mesmo sentido, segundo Carvalho (2004), esse
processo educativo tem raízes nos ideais emancipadores da educação popular,
a qual rompe com uma visão de educação determinante da difusão e do
repasse de conhecimentos, convocando-a a assumir sua função de prática
mediadora na construção social de conhecimentos implicados na vida dos
sujeitos. Paulo Freire (2001), uma das referências fundadoras da Educação
crítica no Brasil, insiste, em toda a sua obra, na defesa da educação como
instância formativa de sujeitos sociais emancipados, isto é, autores da própria
história.
 
Apesar de, na atualidade, todos concordarem que é preciso fazer algo a
respeito da crise ambiental, há uma dicotomia sobre o que fazer e como gerir
as questões ambientais, sobre que interesses devem prevalecer na complexa
negociação entre os diversos grupos sociais, envolvendo seus projetos e
visões de mundo.
 
Por conseguinte, a educação ambiental tem sido expressão cada vez
mais utilizada nos textos das políticas e dos programas de Educação e de meio
ambiente, bem como nos projetos comunitários de extensão, gestão e ação.
Uma crítica nesse sentido é feita por Carvalho (2004, p. 153) referente ao
emprego da expressão “Educação Ambiental”, que passou a ser usada como
termo genérico para algo que se aproximaria de tudo que pudesse ser acolhido
sob a visão de “boas práticas ambientais”. Numa palavra, o projeto político-
pedagógico de uma educação ambiental crítica poderia ser sintetizado na
intenção de contribuir para a mudança de valores e atitudes, formando
um sujeito ecológico capaz de identificar e problematizar as questões
socioambientais e agir sobre elas.
 
2.3. Ética ambiental
           
A partir do século XIX, época da chamada Revolução Industrial, o ser
humano experimentou uma explosão desenvolvimentista, jamais ocorrida em
sua história, passando a ter um quase ilimitado domínio da natureza, alterando
os fatores naturais da terra, ante a necessidade crescente de utilização de seus
recursos em prol da realização de seus objetivos de crescimento. Isto está
trazendo um grande problema que é a degradação do meio ambiente, devido
ainda a uma exploração desordenada dos recursos naturais e ao acúmulo de
dejetos da civilização humana que toma quase todos os espaços do globo,
atingindo entre outros a hidrosfera, caminhando assim para um futuro colapso.
 
            Segundo dados levantados ultimamente em diversas pesquisas e áreas
relacionadas à questão ambiental, o planeta Terra vem passando por um
processo de degradação sem precedentes.
 
Estudos científicos promovidos pelo Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma) constatam a gravidade da situação em que se
encontram os recursos naturais, mostrando, entre outros, que metade das
terras úmidas do planeta foi perdida no último século, a degradação dos solos
afeta 2/3 das terras mundiais de agricultura nos últimos 50 anos, 33% das
florestas originais do planeta foram convertidas para uso agrícola, desde 1989
a economia global triplicou de tamanho e a população aumentou, atingindo 7
bilhões de pessoas, 25% dos peixes de águas limpas no mundo estão extintos,
ameaçados ou em perigo de extinção.
 
Com relação aos recursos hídricos o problema é dos mais graves, pois a
escassez de água já atinge cerca de 40% da população mundial, faltando este
recurso permanente em 22 países. Aliás, o racionamento de água já vem
tornando-se necessário em grandes cidades, como acontece atualmente em
São Paulo, do próprio Brasil. Como se sabe, o crescimento demográfico, a
expansão econômica com os impactos que produz através principalmente das
indústrias, o aumento das fronteiras agrícolas, o uso irregular de agrotóxicos, a
ocupação irregular do solo, tratamento sanitário irregular do lixo e a falta de
conscientização do problema estão entre as causas principais da degradação
crescente dos recursos hídricos.
 
Quanto às florestas, sua devastação chega a números alarmantes,
calcula-se que cerca de 16 milhões de hectaresde florestas tropicais são
derrubadas e queimadas anualmente em todo o mundo. Isso contribui para o
aquecimento global, já que a decomposição libera dióxido de carbono, metano
e oxido de nitrogênio. Além disso, a morte de milhões de animais e plantas e a
perda da biodiversidade representam um imensurável prejuízo ecológico e
econômico.
 
A qualidade atmosférica também vem sendo comprometida pelos gases
emanados principalmente das indústrias e automóveis, chegando em certas
cidades como em Santiago do Chile, Cidade do México, São Paulo e Milão a
atingir com óbitos relacionados direta ou indiretamente à poluição do ar.
 
A desertificação é outro problema grave que vem acentuando-se nas
últimas décadas. Segundo a ONU, esse processo vem colocando fora de
produção cerca de 60.000 km2 de terras férteis por ano, com perdas
econômicas mundiais de bilhões de dólares por ano. No Brasil, a mancha de
desertificação já se estende pelo Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba,
Alagoas, Pernambuco, Sergipe e Bahia, calculando-se em 181.000 km2 com
prejuízos de 100 milhões de dólares anuais.
 
A pobreza também vem alastrando-se por todo o globo. Conforme
estatística de organismos mundiais, cerca de 1,2 bilhão de pessoas vivem em
condições de absoluta pobreza, mais de 1 bilhão são analfabetas, mais de 1,2
bilhão não têm acesso a água potável e milhões de crianças morrem
anualmente por problemas de desidratação ou outros relacionados à falta de
saneamento. Além disso, somos mais de 2 bilhões sem acesso à tecnologia,
desde a mais complexa à mais simples. Tudo isso dificulta a implantação de
políticas ambientais preservacionistas concretas, já que a luta pela
sobrevivência é um óbice a preservar a flora e fauna, por se traduzirem em
potenciais alimentos.
 
Portanto, os problemas ambientais não serão solucionados ou
minimizados se não tomarmos medidas urgentes e concretas.  Mas, para isso,
é necessária vontade política de todos os segmentos da sociedade, bem como
implementação de políticas ambientais amplas, contundentes e eficazes, além
de aplicação efetiva da legislação ambiental, sob pena de continuar
ameaçando o futuro da terra, e, consequentemente, nosso futuro enquanto
humanidade.
 
            Essa degradação ambiental vem sendo sentida mais efetivamente a
partir da metade do século XX, o que está preocupando os cientistas e as
pessoas mais conscientes da sociedade moderna, propiciando estudos
direcionados a obter a diminuição dos impactos ambientais, com o objetivo de
se conseguir uma sociedade mais harmônica com a natureza, para uma
melhora da qualidade de vida em sua totalidade (JACOBI, 2003). Em virtude
dessa preocupação com a necessidade de proteção do meio ambiente, vem
tomando corpo uma nova racionalidade filosófica chamada Ética Ambiental, a
qual se destina à conscientização do individuo sobre o seu papel social, qual
seja, impedir a degradação da natureza e, consequentemente, preserva a vida
global (LENCASTRE, 2008). Ou seja, na história da vida no planeta Terra
chegamos, na atualidade, a uma diversidade de vida nunca antes atingida, daí
a necessidade da conscientização do ser humano de sua responsabilidade
para a preservação dessa riqueza que atingiu seu ápice nessa época
moderna. 
  
Diante deste quadro Reigota (2008) considera que a educação
ambiental deve ser entendida como educação política, no sentido de preparar o
ser humano ao exercício da cidadania, exigindo justiça social, ética nas
relações sociais e com a natureza. Entende-se que a ética ocupa um papel de
grande importância na educação ambiental; passa a ser também, nesse caso,
um estudo extra-social e extrapola os limites inter-sociais do homem, surgindo
uma nova ética, diversa da ética tradicional. Surge a ética ambiental
(LENCASTRE, 2008).
 
Ética é a forma de proceder ou de se comportar do ser humano em seu
meio social, sendo, portanto, uma relação inter-social do homem. Em seus
parâmetros, são as condutas aceitas no meio social. Portanto, a ética é uma
ciência da moral e pode ser definida como a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade (VASQUEZ, 2002).
 
 Com a crise ambiental instalada, o ser humano começou a se preocupar
com suas ações em relação à natureza. Mesmo as suas ações inter-sociais
passaram a ser direcionadas à causa da preservação da vida global. Então,
está ele desenvolvendo cada vez mais uma visão “holística” do mundo, ou seja,
uma visão global. Essa nova consciência e visão global trazem-lhe a
necessidade de desenvolver uma linha de conduta entre ele e a natureza,
formando uma nova interligação ética: homem-natureza.
 
Assim, a ética ambiental, aqui exposta, passa a ser o início de uma nova
ordem mundial; é uma nova filosofia de vida do ser humano alicerçada em
novos valores extra-sociais humanos (LENCASTRE, 2008). A prática dessa
nova forma de comportamento ético propiciará uma enorme satisfação íntima
em cada indivíduo e, consequentemente, de toda a sociedade humana, uma
vez que estará contribuindo com responsabilidade para a prevenção do maior
bem que existe, que é a natureza.
 
Nesta perspectiva, Boff (1999) defende que uma nova ética surgirá a
partir do momento em que tivermos uma nova ótica, ou seja, devemos mudar a
nossa maneira de olhar o mundo. Todos nós podemos ensinar e aprender; o
que importa é construirmos uma nova maneira de convivência entre os seres
humanos e os demais seres da comunidade biótica, planetária e cósmica, que
propicie uma nova relação entre todos os seres. Assim, para o autor “temos
que reconstruir a casa humana comum, ou seja, a Terra para que nela todos
possam caber” (BOFF, 1999, p. 27).
Enfim, temos urgência de um novo “ethos” (no sentido de casa humana)
e para que isso ocorra, é necessária uma grande mudança na mentalidade e
nas atitudes dos seres humanos. O homem deve compreender que ele não
vive sozinho e que, acima de tudo, ele faz parte do meio ambiente, tendo,
assim, a responsabilidade de cuidar do nosso habitat para que outros,
futuramente, possam desfrutar de forma sustentável da nossa casa – o planeta
Terra.
 
 
3. Metodologia
 
 A pesquisa é de abordagem qualitativa, fundamentada em Triviños
(2010). Os participantes são 18 professores de três escolas públicas de Ensino
Fundamental de Santa Maria, RS, que atuam do 3º ao 5º ano. Dos 18
participantes, 17 são do sexo feminino e 1 do sexo masculino, com idade
compreendida entre 30 e 40 anos. Para a coleta de dados, foi utilizada a
técnica de entrevista semi-estruturada, a partir de um roteiro pré-elaborado,
composto de seis questões.  As entrevistas foram gravadas em fitas cassetes e
transcritas posteriormente. Foi garantido aos participantes da pesquisa que,
após a transcrição, as fitas seriam desgravadas, garantindo-lhes a privacidade
e o sigilo das informações, com uso dos dados apenas para fins de estudo. Os
aspectos éticos preconizados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde foram observados na elaboração do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, assinado pelos professores participantes. Para a análise dos
dados, foi utilizada a técnica de Análise de Conteúdo, que Bardin (2010) define
como um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter, por
meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/ recepção (variáveis
inferidas) dessas mensagens.
 
 
 4. Análise e discussão dos resultados
 
Nesta seção são apresentados os resultados levantados a partir de
entrevistas realizadas com os dezoito professores de três escolas públicas de
Santa Maria, RS. Inicialmente são apresentadas as características pessoais
dos entrevistados, como formação acadêmica e tempo de serviço no magistério
e, na sequência, são apresentadas as respostas obtidas com as entrevistas.
 
Quanto à formação acadêmica, onze (11) professores são formados no
curso de Pedagogia, um (1) em Letras Português, dois (2) em Educação Física,
dois (2) em Ciências Biológicas, um (1) em Geografia e um (1) em História.
Registra-se também que dois (2) professores informaram que possuem curso
de pós-graduação, sendo um em Ciências Biológicas e outro em Informática.
 
No que se refere ao tempo de serviço no magistério, sete (7) professores
têm mais de 20 anos de serviço; dois (2) entre 15 e 20 anos; dois (2) entre 10 e
15 anos; seis (6) professores têm entre 5 a 10 anos, e um (1) tem menos de
cinco anos.
Como se pode observar, os professores participantes da pesquisa
formam um grupo heterogêneo quanto à formação acadêmica e também
quanto ao tempo de magistério. Esses dados podem ser importantes para
explicar possíveis dificuldades referentes ao tema em estudo.
 
A questão número um teve por objetivo verificar se os professores
trabalham com o tema meio ambiente em suas aulas e com que frequência.
Observou-se que os dezoito (18) professores entrevistados trabalham com a
temática ambiental, isto é, todas as semanas. Essa questão permitiu identificar
também que quatro (4) professores trabalham o tema associado aos conteúdos
de Ciências, como é possível verificar-se nos seguintes depoimentos:
 
Eu trabalho sempre porque meu conteúdo é Ciências (P9-
5ºano).
Eu costumo trabalhar meio ambiente nas aulas,
principalmente porque eu trabalho Ciências [...] (P5- 5ª
série).
 
Possivelmente, devido à natureza dos conteúdos trabalhados na
disciplina de Ciências Naturais e na educação ambiental, os professores
estabeleceram essa relação. Nesse caso, a educação ambiental é mais um
item da lista de conteúdos de Ciências Naturais. Todavia, a educação
ambiental transcende esses conteúdos, porque envolve um conjunto de valores
e práticas sociais (AMARAL, 2001).
 
 Resultados similares são apontados por Boer (2007b). A autora analisa
trabalhos de pesquisa em educação ambiental que fazem referências ao
ensino de Ciências Naturais e Biologia e constata que, nestes casos, a
educação ambiental está associada ao estudo de conceitos, de componentes
ou problemas do meio ambiente.
A questão número um permitiu identificar, ainda, que dois participantes
trabalham o tema meio ambiente de uma forma interdisciplinar (GONZÁLES-
GAUDIANO, 2005). Isto pode ser constatado no seguinte depoimento:
 
Sempre nós fizemos [trabalho] interdisciplinar, em todo o
assunto se fala no meio ambiente, aquecimento global,
(...) em cada assunto se fala no meio ambiente não solto,
mas conforme o assunto e o estudo (P4-3ª série).
 
 A educação ambiental é trabalhada de maneira sistemática e
interdisciplinar, como se constata nesta fala: “Costumamos trabalhar o tema
meio ambiente totalmente integrado com as disciplinas trabalhadas” (P1-
4ªsérie). Observa-se que esses professores seguem as orientações dos PCN,
já que, segundo esse documento, “cada professor dentro da especificidade de
sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o Tema
Meio Ambiente, assim como os demais temas transversais” (BRASIL, 1998,
p.193).
 
A segunda questão possibilitou identificar as razões pelas quais os
professores participantes consideram importante trabalhar o tema meio
ambiente com os alunos. Inicialmente, observa-se que, pelo número de
respostas categorizadas, alguns professores emitiram mais de uma opinião
para essa questão. As respostas dos dezoito participantes foram agrupadas em
três categorias, quais sejam:
 
a) Preservação ambiental (17 participantes), exemplificada no seguinte
depoimento:
 
É importante, pois como eu já falei, eles [os estudantes]
convivem no dia a dia com o meio ambiente, eles têm que
procurar fazer a conservação do meio ambiente (P10-3ª
série).
 
As respostas incluídas nessa categoria revelam preocupação com a
preservação e o futuro do nosso planeta, demarcando um entrelaçamento entre
educação ambiental, cidadania e sustentabilidade (JACOBI, 2003) . Por isso,
esses professores julgam ser importante trabalhar a temática ambiental em
suas aulas. Nestes discursos, observam-se marcas da corrente de educação
ambiental conservacionista/recursista, que, para Sauvé (2005), está centrada
na conservação dos recursos da natureza, no que concerne tanto à sua
qualidade como à sua quantidade. 
 
b) Educação e conscientização (04 participantes). O depoimento a
seguir, ilustra a situação em que o professor participante da pesquisa manifesta
a necessidade de educar para uma conscientização ambiental.
 
Para conscientizar, porque eles sabem que cada vez a
coisa esta piorando a natureza e muitas vezes eles são
responsáveis, por colocar lixo no chão, mostrar para eles
o quanto estão com hábitos culturais errados (P4-3ª
Série).
 
 
Com base nesse depoimento, pode-se constatar que o professor
acredita que a educação ambiental se dá a partir da sensibilização das
crianças e que por meio dos valores e da ética se educa para o presente e para
um futuro melhor (TOZONI-REIS, 2006). Os depoimentos incluídos nessa
categoria identificam-se com a corrente ética/moral descrita por Sauvé (2005),
como um conjunto de valores mais ou menos coerentes e conscientes entre
eles. Assim, diversas proposições de educação ambiental enfatizam o
desenvolvimento dos valores ambientais. Algumas proposições convidam para
a adoção de uma “moral” ambiental, prescrevendo um código de
comportamentos socialmente desejáveis. Mas, fundamentalmente, pode-se
desenvolver uma verdadeira competência ética e construir seu próprio sistema
de valores.
 
c) Meio ambiente como tema de relevância na mídia (03 participantes)
está exemplificado neste depoimento:
 
 
Porque é o futuro nosso, deles [estudantes], e dos seus
filhos e netos e não tem como eles [estudantes] estarem
alienados porque esta discussão está toda hora presente
na televisão (P2-4ª série).
 
 Os depoimentos incluídos na categoria c deixam explícito que os
participantes da pesquisa acreditam ser importante trabalhar a educação
ambiental em suas aulas porque é um tema da atualidade e está na mídia a
todo o momento (REIGOTA, 2002). Percebe-se, então, que estes professores
consideram importante trabalhar o tema meio ambiente com os seus alunos
devido à preocupação com a preservação e futuro do nosso planeta
(LOUREIRO, 2006).
 
A terceira questão formulada aos professores entrevistados foi: “Para
você, o que é meio ambiente?”. As respostas foram agrupadas em duas
categorias, descritas e exemplificadas a seguir.
 
        a) Meio ambiente é tudo o que nos cerca, áreas construídas pelo homem
e áreas naturais, e o homem faz parte dele (13 participantes), como mostram
os depoimentos:
 
 
Para mim tudo o que nos cerca é meio ambiente e a
gente faz parte dele também (P1-4 série).
Acho que é tudo, a nossa escola, as florestas, o nosso
bairro, o nosso planeta, eu acho que são todos os
espaços que nós ocupamos (P5-5ª série).
 
                 Nessa categoria, percebe-se que os participantes fazem referências
explícitas à inclusão do homem como elemento do meio ambiente. Essa
concepção de meio ambiente, aproxima-se da concepção globalizante de meio
ambiente definida por Reigota (2006). Para esse autor, meio ambiente é um
lugar determinado ou percebido, onde estão em relações dinâmicas e em
constante interação os aspectos naturais e sociais. O meio ambiente, nessa
definição, não é visto só como sinônimo de meio natural, porque inclui o
ambiente de relações sociais e de produção de bens (REIGOTA, 2002).
 
b) Concepção naturalista de meio ambiente (06 participantes). As
respostas incluídas nessa categoria não fazem referência explícita à inclusão
do homem como parte integrante do meio ambiente, como se destaca neste
depoimento: “meio ambiente é tudo, qualquer lugar para mim é meio ambiente”
(P8-4º ano). Pode-se inferir que esse professor tem uma visão totalmente
naturalista de meio ambiente, ou seja, para ele meio ambiente está relacionado
somente à natureza ou a aspectos físicos. Neste sentido, constata-se uma
grande dificuldade na construção de um pensamento crítico, complexo e
reflexivo, quando o tema envolve a educação ambiental (JACOBI, 2005).
 
A questão de número quatro teve por intuito analisar, nas práticas
pedagógicas, os temas e as metodologias utilizadas, no trabalho com
educação, pelos professores entrevistados (TOMAZELLO; FERREIRA, 2001).
Os temas e a frequência de indicação são: água (cuidado e poluição) - (07);
lixo (coleta, reciclagem, destino e problemas) - (07); atmosfera (aquecimento
global, camada de ozônio e efeito estufa) - (06); preservação ambiental e
relevo - (03); solo (degradação) - (03); questões sociais (assuntos variados) -
(02); meio ambiente e saúde - (01); cuidados com a sala de aula - (01); estudo
de plantas - (01).
 
As metodologias de educação ambiental referidas pelos professores
participantes foram agrupadas em duas categorias com base em Boer (2007a):
metodologias de sala de aula e metodologias ao ar livre.
 
Foram citadas como metodologias de sala de aula: elaboração de
cartazes/painéis (05); conscientização (04); estudo de texto (03); produção
textual (02); trabalhos em grupos (02); análise de documentários, filmes e
reportagens (02); análise de histórias em quadrinhos (01); leitura e análise de
fábulas infantil (01); pesquisa (01); questionamentos (01); debates (01);
confecção de desenhos (01).
 
  Com relação às metodologias utilizadas em salas de aula, no ensino
fundamental, percebe-se que há uma predominância de técnicas tradicionais
de ensino. Apenas os debates e a pesquisa não estão ligados aos padrões
tradicionais. No entendimento de Boer (2007a), os professores encontram
dificuldade para fundamentar práticas pedagógicas e transcender os modelos
tradicionais de ensino. Neste estudo, destaca-se que o método de elaboração
de cartazes e painéis é predominante entre os professores.
 
Quanto às metodologias ao ar livre, foram mencionadas: visitas ao
Arroio Cadena (03); ajardinamentos e plantação de mudas (02); visitas ao
morro e ao centro da cidade (01); projeto minhocário (01). Considerando-se
que as metodologias utilizadas nas práticas de educação ambiental ao ar livre
são em menor número do que as de sala de aula, essa informação sugere uma
abordagem tradicional de ensino.
 
Neste sentido, Boer (2007a) argumenta que as metodologias ao ar livre
representam uma ruptura com a ideia de que a educação deve restringir-se à
sala de aula. Para essa autora, determinadas atividades de educação
ambiental resgatam o “estudo do meio”, metodologia usada em Geografia e
Ciências Naturais. O estudo do meio compreende a interação da paisagem
humana como meio físico por intermédio de práticas pedagógicas que
valorizam a educação ao ar livre, o trabalho de campo e outras ações do
contexto físico e humano no ambiente (TRISTÃO, 2005).
 
            A questão cinco teve como objetivo verificar se, na opinião dos
professores, os alunos se interessam pela temática ambiental, quando ela é
trabalhada em sala de aula. Os depoimentos levantados foram classificados
em duas categorias de análises, quais sejam:
 
a)    Os alunos gostam e estão bem interessados. Nessa categoria, fica
claro que a maioria dos professores participantes, ou seja, quinze (15), vêem
os alunos interessados e motivados com relação à temática ambiental, como
ilustra este depoimento: “Eles gostam bastante, inclusive dá aquela discussão
em sala de aula” (P12-5ª série); “Sim eles gostam bastante desse tema” (P9-5ª
série).
 
                 Observa-se no discurso dos professores que a temática ambiental
aparece, em praticamente todos os casos, como algo agradável, que desperta
o interesse dos alunos, e que, portanto, é motivadora de uma postura crítica,
transformadora e emancipatória (TOZONI-REIS, 2006). Ou seja, os
depoimentos incluídos nessa categoria mostram que os alunos, ao se
interessarem pelas questões ambientais, assumem uma postura de
executores, ou seja, são ativos e motivados e pode-se inferir que há
comprometimento tanto por parte dos alunos como dos professores.
 
            b) Eles têm interesse, mas não fazem muito para mudar. É o que três
professores participantes deixam claro, como mostra o depoimento: “eu noto
que eles [alunos] têm interesse, mas não fazem muita coisa para mudar para
melhorar; no dia a dia, percebe-se que falta um pouco de conscientização” (P5-
5ª série).
 
Pelo conteúdo dos depoimentos dos professores, incluídos nessa
categoria, pode-se inferir que os alunos são passivos, desmotivados e,
consequentemente, desinteressados. Destaca-se que falta o professor motivar
os alunos por meio de novas alternativas, como metodologias variadas, para
despertar o interesse pelo tema ambiental (TOZONI-REIS, 2006).
 
O que é educação ambiental para você? Foi a sexta e última pergunta
feita aos professores participantes do estudo. As respostas convergem com a
ideia de que a educação ambiental é entendida como conscientização e
preservação do meio ambiente, associadas ao cuidado e respeito com a
natureza e com os outros, como mostram os depoimentos a seguir:
 
 
Eu acho que conscientizar os alunos sobre a importância
do meio ambiente, fornece discernimento sobre o que
eles podem ou não fazer, do que resulta se eles
colocarem lixo no chão e, consequentemente, se eles
cuidarem bem do nosso planeta (P12-5º ano).
 
Educação ambiental é cuidar do lugar onde nós vivemos
que pode ser: a escola, nossa casa, os lugares onde a
gente anda, respeitar os animais, principalmente, o nosso
irmão, a pessoa humana, porque se não nos respeitamos,
não vamos ter condição de assumir essa educação (P1-4ª
série).
 
Pelos depoimentos dos participantes, evidencia-se que professores
entrevistados compreendem a educação ambiental de forma quase
generalizada, pois ter cuidado e respeito envolve também conscientização para
que se construam valores e atitudes corretas (REIGOTA, 2008). Por um lado,
os professores se identificam com a corrente conservasionista-recursista, ou
seja, suas concepções de educação ambiental estão centradas na
“conservação” dos recursos naturais. Segundo Sauvé (2005), nessa corrente,
encontra-se a preocupação com a “administração do meio ambiente”. Por outro
lado, os professores, também, se identificam com a corrente moral/ética, pois
entendem educação ambiental como um conjunto de atitudes e valores mais ou
menos conscientes e coerentes entre si. Essa compreensão dá provas de um
ecocivismo (SAUVÉ, 2005).
 
 A corrente naturalista também faz parte das concepções dos
professores participantes. No entendimento de Sauvé (2005), essa corrente
está centrada na relação com a natureza, com enfoque na experiência que se
vive na natureza e se aprende com ela. Portanto, percebe-se que há várias
maneiras de conceber e praticar a ação educativa no campo da educação
ambiental, não havendo como identificar o programa ou método mais
adequado.
 
 
5. Considerações finais
 
Ao término desta pesquisa que teve como intuito investigar as
concepções de meio ambiente e de educação ambiental de professores do
Ensino Fundamental de três escolas públicas de Santa Maria, RS, para
aprofundar as reflexões teórico-práticas acerca da temática ambiental é
possível fazer as seguintes considerações:
 
a) Consta-se que todos os participantes da pesquisa trabalham em suas
aulas a temática ambiental. Alguns professores trabalham de forma transversal
e interdisciplinar, outros não. A razão pela qual os professores julgam ser
importante trabalhar com esse tema em suas aulas é a grande preocupação
com a preservação e o futuro do planeta.
 
b) Percebeu-se que existe, em alguns casos, um equívoco com relação
à educação ambiental e o ensino de Ciências, pois a educação ambiental é
vista como apenas mais um conteúdo da lista de Ciências. Embora esses
temas possam ser distintos, nota-se que da parte de alguns professores ainda
falta um conhecimento mais aprofundado de educação ambiental.
 
c) Pode-se concluir que, a partir da leitura dos autores que
fundamentaram teoricamente esta pesquisa, a escola é um dos locais mais
privilegiados para a realização da educação ambiental, desde que dê
oportunidade e estimule à criatividade.
 
d) Entende-se que, partindo do pressuposto teórico da transversalidade
como perspectiva educativa, a temática ambiental, pode estar presente em
todas as disciplinas, permitindo enfocar as relações entre a humanidade, o
meio natural e as relações sociais sem que a disciplina perca suas
especificidades.
 
e) Observa-se que, nas práticas metodologias, utilizadas pelos
professores participantes da pesquisa, há predominância de uma abordagem
tradicional, pois as metodologias de sala de aula são mais exploradas
didaticamente do que as atividades ao ar livre. Isso pode ser constatado
mediante os depoimentos dos participantes. Dessa maneira, pode-se também
inferir que é predominante entre os participantes a concepção de educação
ambiental conservacionista, cuja concepção está centrada na conservação dos
recursos e na preocupação com a administração do meio ambiente.
 
d) visualiza-se, com esta pesquisa, que a educação ambiental pode ser
mais e melhor explorada no contexto escolar e que, para tal, os professores
precisam ter um conhecimento mais consistente e elaborado sobre o tema
ambiental. Acredita-se, neste sentido, por um lado, que a educação ambiental
precisa ainda ser melhor trabalhada, junto aos futuros professores, durante a
graduação e investir no processo aprimoramento, em nível de especialização,
para deste preencher as lacunas na formação e prática pedagógica; por outro
lado, seria muito interessante que essa temática fosse adotada como disciplina
dos cursos de licenciatura.
 
e) entende-se, portanto, que a educação ambiental deve ser entendida
como educação política, no sentido de que ela prepare cidadãos para exigir e
promover justiça social, cidadania (não só nacional como também planetária),
autogestão e ética nas relações com a sociedade e com a natureza, visando à
participação ativa de professores e alunos na discussão e, se possível, na
resolução dos problemas, para uma melhor qualidade de vida para todos no
planeta.
 
 
Referências bibliográficas
 
AMARAL, I. M. do. Educação Ambiental e ensino de ciências: uma história de
controvérsias. Pro-posições [online]. 2001, v. 12, n. 1 (34). p. 73-93.
 
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luis Antero Reto e
Augusto Pinheiro. 4ª ed. Lisboa: Edições 70, 2010.
 
BOER, Noemi. Abordagens metodológicas em educação ambiental: um
olhar a partir de práticas escolares. In: SIMPÓSIO GAÚCHO DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 4, Anais... Erechim, RS: URI, 2007a.
 
BOER, Noemi. Inserção da educação ambiental nas disciplinas Ciências
Naturais e Biologia: Uma análise a partir de pesquisas em anais de
eventos. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E
CIÊNCIAS, 6, 2007b. Florianópolis, SC: UFSC, 2007b.
 
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. Petrópolis, Vozes, 1999.
 
BRASIL, Constituição Federativa. 39ª ed. atual. e amp. São Paulo: Saraiva,
2012.
 
BRASIL, Congresso Nacional. Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, dispõe
sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional Educação Ambiental e
dá outras providências.
 
BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/
Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
           
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do
sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.
 
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 24ª. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
 
GONZÁLES-GAUDIANO, Edgar. Interdisciplinaridade e educação ambiental:
explorando novos territórios epistêmicos. In:SATO, Michele; CARVALHO;
Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
 
JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos
de Pesquisa [online]. 2003, n. 118, p. 189-205.
 
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental: o desafio da construção de um
pensamento crítico, complexo e reflexivo. Educação e
Pesquisa [online]. 2005, v. 31, n. 2, p. 233-250.
 
LENCASTRE, Marina Prieto Afonso. Ética ambiental e educação nos novos
contextos da ecologia humana. Rev. Lusófona de Educação [online]. 2006,
no.8, p.29-52.
 
LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Complexidade e dialética:
contribuições à práxis política e emancipatória em educação ambiental. Educ.
Soc. [online]. 2006, vol. 27, n. 94, p. 131-152.

OLIVEIRA, Flávia de Paiva de Medeiros de; GUIMARÃES, Flávio


Romero. Direito, meio ambiente e cidadania: uma abordagem interdisciplinar.
São Paulo: Medras, 2004.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense,


2006.
 
REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. 5ª. ed. São
Paulo, SP: Cortez, 2002.
REIGOTA, Marcos. Cidadania e educação ambiental. Psicol. Soc. [online].
2008, vol. 20, n.spe, pp. 61-69.
REIGOTA, Marcos. O estado da arte da pesquisa em educação ambiental no
Brasil. Pesq. Educ. Ambient. [online]. 2007, vol.2, n.1, pp. 33-66.
 
SAUVÉ, Lucie. Uma das cartografias em correntes em educação ambiental.
In: SATO, Michele; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação
ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.
 
SORRENTINO, Marcos; et al. Educação ambiental como política
pública. Educação e Pesquisa [online]. 2005, v. 31, n. 2, p. 285-299.
 
TOMAZELLO, Maria Guiomar Carneiro; FERREIRA, Tereza Raquel das
Chagas. Educação ambiental: que critérios adotar para avaliar a adequação
pedagógica de seus projetos? Ciência & Educação [online]. 2001, v.7, n.2,
p.199-207.

TOZONI-REIS, Marília Freitas de Campos. Temas ambientais como "temas


geradores": contribuições para uma metodologia educativa ambiental crítica,
transformadora e emancipatória. Educ. rev. [online]. 2006, n.27, pp. 93-110.

TRISTÃO, Martha. Tecendo os fios da educação ambiental: o subjetivo e o


coletivo, o pensado e o vivido. Educação e Pesquisa [online]. 2005, v. 31, n. 2,
p. 251-264.
 
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências
sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 1. ed., 19. reimpr. São Paulo:
Atlas, 2010.
           
VASQUEZ, Adolfo Sanches. Ética. 14. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002.

Você também pode gostar