Você está na página 1de 6

A IMPORTÂNCIA DAS LIGAS

ACADÊMICAS NA FORMAÇÃO
PROFISSIONAL E PROMOÇÃO
DE SAÚDE*

SILVIO JOSÉ DE QUEIROZ**, RODRIGO LIMA


DE OLIVEIRA AZEVEDO***, KÉZIA PORTO LIMA****,
MARIA MADALENA DEL DUQUE LEMES*****,
MONICA ANDRADE******

Resumo: trata-se de uma revisão da literatura com o objetivo de levantar dados acerca da
importância das Ligas Acadêmicas (LA) na formação profissional e a sua contribuição na
promoção de saúde. O estudo evidenciou que essas ligas possuem papel importante no desen-
volvimento e aprendizagem do aluno, na promoção de saúde, bem como na contribuição da
inserção do profissional no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Currículo. Educação. Educação em enfermagem.

A
 s Ligas Acadêmicas (LA) foram idealizadas no Brasil durante o período da ditadura
militar, contexto que favoreceu o despertar dos questionamentos relacionados à essência
dos ensinamentos realizados pelas universidades, o seu direcionamento e aplicabilidade
da expansão do conhecimento intelectual teórico-prático (TORRES et al., 2008). A primeira,
na área da saúde foi a Liga de Combate a Sífilis, entidade pertencente ao Centro Acadêmico
Oswaldo Cruz, criada em 1920, que até hoje desenvolve projetos para melhoria no tratamento
e prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) na Faculdade de Medicina da

* Recebido em: 04.11.2014. Aprovado em: 24.11.2014.


** Doutorando em Promoção de Saúde pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Professor Assistente do
Curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Enfermeiro. E-mail:
silvio.resgate@gmail.com.
*** Bacharel em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Ex membro da
Liga Acadêmica. E-mail: rodrigolimaenf@yahoo.com.br.
**** Bacharel em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Ex membro da
Liga Acadêmica. E-mail: keziaporto@hotmail.com.
***** Doutoranda em Enfermagem Pela Universidade Federal de Goiás. Professora Assistente do Curso de
Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC
Goiás). Enfermeira. E-mail: mdelduqui@gmail.com.
****** Doutora em Ciências Biológicas pela USP. Professora do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu da
Universidade de Franca - SP. Bióloga. E-mail: mmonicandrade@gmail.com.

FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014. 73


Universidade de São Paulo. Historicamente proporcionou grandes mudanças no tratamento
às doenças infecto contagiosas na cidade de São Paulo (COSTA et al., 2012).
Estas são entidades de grande abrangência, que proporcionam ao acadêmico maior
contato com a sociedade e/ou comunidades promovendo saúde e transformação social, de-
senvolvendo os conhecimentos teórico-práticos com intuito benéfico para a população, am-
pliação do senso crítico e do raciocínio científico. Não se limita apenas em aprofundar o
conhecimento, procurando agregar valores à formação acadêmica e pessoal, representando
uma contribuição para a sociedade (TORRES et al., 2008).
Reconhecendo essa prática aplicada há décadas, as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) para os cursos da área da saúde, passaram a sugerir a utilização de metodologias que
privilegiasse a interação entre ensino, pesquisa, extensão e a assistência, atividades que devem
ser voltadas para a cidadania, fundamentos estes que ocorrem nas LA (BASTOS et al., 2012).
A sugestão pode ter ocorrido pela insuficiência da grade curricular dos cursos de
graduação na área da saúde no preparo do acadêmico, incentivando os universitários a busca-
rem uma formação diferenciada dos demais, através do currículo informal, pois assim estarão
diferenciados na disputa pelo mercado de trabalho (COSTA et al., 2012).
As ligas passaram a ser uma opção adotada pelos acadêmicos para constituir um
currículo diferenciado e são formadas por estudantes, geralmente, do mesmo curso, onde
ocorre o aprofundamento do aprendizado em determinado tema, visando o aperfeiçoamento
do conhecimento pessoal em prol da sociedade, sendo assim vale ressaltar que o caminho de
percurso escolhido pela liga é definido pelos alunos com orientações realizadas por um ou
mais professores (HAMAMOTO FILHO, 2011).
Seguindo o mesmo raciocínio e para que o direcionamento criado por essas enti-
dades seja satisfatório, é necessário a supervisão e acompanhamento adequado de instruto-
res capacitados para proporcionar o aprendizado de conceitos e técnicas corretas, mantendo
sempre a ética e a boa prática profissional, prevenindo para que estas não se transformem em
meras atividades assistenciais, afastando sua função principal de extensão curricular, ativida-
des de prevenção e promoção da saúde.
Nas últimas décadas detectou-se o aumento, considerável, de novas ligas, o desen-
volvimento e o aprimoramento das já existentes, o que motivou a criação de organizações re-
gionais, estaduais e nacionais referentes a essas entidades, como o Comitê das Ligas Acadêmi-
cas da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, o Comitê Brasileiro das Ligas do Trauma,
a Sociedade Brasileira das Ligas Acadêmicas de Clínica Médica, Associação Brasileira de Ligas
Acadêmicas de Medicina, entre outras que contribuem para o incentivo do relacionamento,
da integração e mobilidade entre elas (COSTA et al., 2012).
Na maioria das universidades a criação de novas LA depende exclusivamente do
interesse e motivação por parte dos alunos, destacando a necessidade de regras claras e bem
estabelecidas para direcionar a sua criação (PEGO-FERNANDES;  MARIANI, 2010). Estas
atendem, também, a proposta de promoção da saúde, como modelo institucionalizado pelo
Ministério da Saúde em meados de 1998 a 1999, que tem por objetivo, além de promover a
saúde da população, trabalhar na prevenção, recuperação, reabilitação e manutenção da saúde
da comunidade (BUSS, 2009).
Vale ressaltar a necessidade iminente de parcerias com diversas instituições esco-
lares, desde o Ensino Fundamental até as universidades, como forma de promover a saúde
através de uma rede compartilhada entre Governo Federal, Estados e Municípios.
74 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014.
Este é um estudo descritivo exploratório de revisão da literatura, que permite ao
investigador um contato direto com o que foi escrito e publicado sobre o assunto, o que para
Lakatos e Marconi (2008) se refere ao fato do pesquisador desenvolver “conceitos, ideias e en-
tendimentos” a partir de padrões encontrados ao invés da coleta de dados para a comprovação
destas teorias, hipóteses e modelos pré-estabelecidos.
Foram utilizados artigos publicados nas bases de dados virtuais: Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), Revista Eletrônica - Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), com os seguintes
descritores: currículo, educação, educação em enfermagem, publicados no período de 2003 a
2012, em Português e Espanhol e excluídos teses de doutorado, textos jornalísticos e disserta-
ções. De 168 artigos selecionados, apenas 70 atendiam, parcialmente, os objetivos propostos.
A partir de então, todos foram submetidos à leitura e apenas 11 foram utilizados para a ela-
boração deste trabalho, por atenderem aos objetivos da pesquisa.
Atualmente, as grades curriculares dos cursos de graduação já não são suficientes
para o preparo do acadêmico, sendo assim os universitários que não buscarem a formação
através do currículo informal estarão diferentes daqueles que se baseiam somente na grade
normal estabelecida pelas instituições de ensino superior (COSTA et al., 2012).
O mesmo autor destaca que a partir do momento de ingresso em uma liga, o aluno
amplia o seu senso crítico e raciocínio científico, agregando valores à formação acadêmica
e pessoal, foram relacionados vários outros aspectos benéficos, tais como a atuação junto à
comunidade na promoção de saúde, transformação social, ampliação de atividades práticas,
aspectos psicossociais, culturais, ambientais e biológicos em um mesmo patamar (SANTA-
NA, 2012).
Torres (2008) e Costa (2012) defendem a necessidade do currículo formal como
tarefa constituinte na participação da assistência aos pacientes do Sistema Único de Saúde
(SUS), somado com as atividades das ligas, o que reforça a contribuição social com as diversas
atividades, sendo uma delas a promoção da saúde. Portanto, é necessário a curiosidade e in-
teresse do estudante direcionando o conhecimento e o aprendizado para uma área específica.
Com o mesmo raciocínio, Hamamoto Filho (2010), relata que os alunos além
de tentarem preencher as carências do currículo formal, proporcionalmente, aumentam a
interação entre colegas e profissionais que já atuam na mesma área de foco abordado, poten-
cializando o aprendizado teórico-prático. Essa interação entre áreas do conhecimento, como
ensino, pesquisa, extensão e a assistência são atividades voltadas para a cidadania, benéficas a
sociedade em geral (BASTOS et al., 2012; BONIN et al., 2011).
Reforçando as posições, já citadas, quanto à permanência dos estudantes em LA,
Ramalho (2012) defende que após participações de atividades na mesma, é possível observar
o crescimento e o desenvolvimento dos alunos em testes cognitivos, mostrando correlação
diretamente proporcional a frequência nas atividades propostas. Da mesma forma vê a apro-
ximação com a prática clínica como um grande momento para o estudante refletir sobre o
reconhecimento pessoal e profissional, na tentativa de consolidação da autoestima, o que
pode ser adquirido durante o desenvolvimento das suas atividades.
O reflexo de tudo isso fica evidente ao final de cada semestre letivo, onde um con-
junto de profissionais é diplomado, e que, em sua grande maioria, obtiveram a mesma for-
mação acadêmica, com exceção daqueles que buscaram potencializar a sua formação partici-
pando de LA.
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014. 75
Neves (2008) relata que os integrantes, ao vivenciar áreas de pesquisa distintas ao
currículo formal, tornam-se potencialmente melhores profissionais, devido à ampliação da
visão crítica e aumento do poder reflexivo, afetando positivamente no posterior desempenho
profissional, destacando a tendência de se tornar líderes locais ou regionais devido ao aprendi-
zado de se expressar baseado em informações sólidas. Fatores estes reforçados por Melo e Bor-
ges (2007), que destacam entre as perspectivas pessoais, o rendimento acadêmico, formação
complementar, a exploração de uma carreira profissional, além de outros aspectos observados
e exigidos pelo mercado de trabalho.
Além das características citadas anteriormente, podemos destacar outros elementos
importantes para se inserir no mercado de trabalho, tais como a qualidade da instituição for-
madora, a dinâmica particular desses mercados, gênero, classe social, procedência geográfica,
imagem do papel profissional, a construção da identidade ocupacional e o significado sub-
jetivo atribuído ao mercado de trabalho, fatores que colocam o graduado como sujeito ativo
em sua inserção. Porém, a busca pela aprovação do mercado de trabalho não deve ser o único
elemento priorizado para a construção de um perfil profissional, mas também transformar as
condições impostas por esse mercado.
Para tanto, Silva e Sena (2006) enfatizam a necessidade do processo de formação do
acadêmico em atender as necessidades futuras, no campo de saúde e de educação, direcionan-
do para áreas de competências onde as demandas do mercado sejam consideradas.
Por fim, as instituições de ensino superior possuem como desafio constante a re-
construção da grade curricular, a fim de compatibilizá-la com as prioridades desse mercado,
que necessita de profissionais críticos, reflexivos, competentes, com base científica, capacida-
de de inovação e poder de ação (SOUZA, 2011).
A saúde no Brasil sofre constantes mudanças que influenciam proporcionalmente
a grade curricular estabelecida por instituições de ensino, buscando oferecer ao acadêmico,
conhecimento necessário para atuação em unidades de saúde.
Evidencia-se o consenso entre os autores de que as LA são entidades importantes
para o crescimento e desenvolvimento do aluno, com maior ênfase na aquisição do conheci-
mento, ampliação do senso crítico e raciocínio científico.
Foi notória, também, a opção por criar e participar de LA como forma de melhorar
o processo de aprendizado onde existe a oportunidade de absorção de conteúdo específico e
aprofundado, além de conviver com profissionais que atuam rotineiramente na área abordada,
proporcionando o aprendizado e experiências importantes para a consolidação profissional.
Todos são favoráveis às LA, porém, existem divergências, quanto a possíveis vícios
por parte dos integrantes, devido algumas entidades desviarem dos objetivos, tornando-se
uma especialização precoce, sem orientação e supervisão adequada, além de conceitos e téc-
nicas erradas, o que eleva a importância de padrões a serem seguidos durante a sua criação.
Outro fator de grande relevância observado foi o amadurecimento dos membros
integrantes das LA, o conhecimento adquirido através do trabalho realizado de forma dedi-
cada e eficaz, além da grande responsabilidade que os mesmos carregam, principalmente se
tratando do cuidado direto a um paciente.
Por fim as Ligas Acadêmicas indiscutivelmente são benéficas tanto para o aluno
quanto para a sociedade no geral, pois potencializa a prevalência da disseminação do conhe-
cimento adquirido pelo acadêmico durante sua vida profissional, gerando ações que propor-
cionam melhorias para seus pacientes, utilizando o conhecimento sempre em prol do bem.
76 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014.
THE IMPORTANCE OF THE ACADEMIC LEAGUES ON THE PROFESSIONAL
FORMATION AND HEALTH PROMOTION

Abstract: it talks about a literature review with aim of collect data on the importance of the aca-
demic leagues on the professional formation and its contribution in health promoting. The study
showed that league have an important role on the development and student learning, on the health
promotion as well as the insertion of the professional on the labor market.

Keywords: Curriculum. Education. Nursing education.

Referências

BASTOS, M. L. S. et al. O papel das ligas acadêmicas na formação profissional. Jornal Brasi-


leiro de Pneumologia [online], Brasília, v. 38, n. 6, p. 803- 805, nov./dez. 2012.
BONIN, J. E. Liga Acadêmica de Medicina de Família e Comunidade: instrumento de com-
plementação curricular. Revista da Associação Portuguesa de Sociologia, Lisboa, v. 14, n. 1, p.
50-57, jan./mar. 2011.
BUSS, P. M.; CARVALHO, A. I. Desenvolvimento da promoção da saúde no Brasil nos
últimos vinte anos (1988-2008). Revista Ciência e Saúde Coletiva,  Rio de Janeiro,  v. 14, n.
6, dez. 2009.
COSTA, B. E. P. et al. Reflexões sobre a importância do currículo informal do estudante de
medicina. Revista Scientia Medica, Porto Alegre, v. 22, n. 3, p. 162-168, jul./set. 2012.
HAMAMOTO FILHO, P. T. et al. Ligas Acadêmicas: Motivações e Críticas a Propósito de
um Repensar Necessário. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 35, n. 4, p. 535-543,
out./dez. 2011.
HAMAMOTO FILHO, P. T. et al. Normatização da abertura de ligas acadêmicas: a experi-
ência da Faculdade de Medicina de Botucatu. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 1, p. 160-167, jan./mar. 2010.
MELO, S. L.; BORGES, L. O. A transição da universidade ao mercado de trabalho na ótica
do jovem. Psicologia: Ciência e Profissão [online], v. 27, n. 3, p. 376-395, 2007. ISSN 1414-
9893. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932007000300002>.
NEVES, F. B. C. S. et al. Inquérito nacional sobre as ligas acadêmicas de medicina intensi-
va. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online], São Paulo, v. 20, n. 1, p. 43-48, jan./mar.
2008.
PEGO-FERNANDES, P. M.; MARIANI, A. W. Medical teaching beyond graduation: un-
dergraduate study groups.  São Paulo Medical Journal [online], São Paulo, v. 128, n. 5, p.
257-258, jun. 2010.
RAMALHO, A. S. et al. Ensino de anestesiologia durante a graduação por meio de uma
liga acadêmica: qual o impacto no aprendizado dos alunos? Revista Brasileira de Anestesiolo-
gia [online], Rio de Janeiro, v. 62, n. 1, p. 68-73, jan./fev. 2012.
SANTANA, ACDA. Ligas acadêmicas estudantis: o mérito e a realidade. Revista Medicina
Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, v. 45, n. 1, p. 96-98, 2012.
SILVA, K. L.; SENA, R. R. Nursing education: seeking critical-reflexive education and pro-

FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014. 77


fessional competencies. Revista Latino-Americana de Enfermagem [online]. Ribeirão Preto, v.
14, n. 5, p. 755-761, set./out. 2006.
SILVEIRA, C. A.; PAIVA, S. M. A. A evolução do ensino de enfermagem no Brasil: uma
revisão histórica. Revista Ciência, Cuidado e Saúde, Maringá-PR, v. 10, n. 1, p. 176-183, jan./
mar. 2011.
SOUZA, N. V. D. O. et al. O egresso de enfermagem da FENF/UERJ no mundo do traba-
lho. Revista da Escola de Enfermagem da USP [ online], São Paulo, v. 45, n. 1, p. 250-257,
mar. 2011.
TORRES, A. R. et al. Academic Leagues and medical formation: contributions and chal-
lenges. Translated by Philip Sidney Pacheco Badiz. Interface. Comunicação, Saúde e Educação
[online], Botucatu-SP, v. 4, 2008. Selected edition.

78 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 24, especial, p. 73-78, dez. 2014.

Você também pode gostar