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3.

Estrutura do Cânone da Bíblia Católica


A Bíblia católica tem duas grandes secções, nomeadamente Antigo Testamento, com 46 livros e
Novo Testamento, com 27 livros, perfazendo 73 livros. Cada testamento tem também as suas
subdivisões.
A palavra testamento corresponde à palavra hebraica berit que significa aliança. Essa palavra foi
traduzida em grego como diatheké. Em latim, essa palavra foi traduzida como testamentum, de
onde derivou a palavra testamento em português.
Alegadamente, testamento não traduz correctamente a ideia principal do conceito hebraico de berit,
que sublinha o amor misericordioso de Deus por Israel, cuja garantia será a fidelidade à Palavra
de Deus e sobretudo aos seus mandamentos. O conceito de testamento sublinha sobretudo o
aspecto legal, deixando de lado o aspecto fundamental de berit, que é o amor misericordioso.
Tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento falam de Aliança como pacto e não como
livros: Jr 31-31-34; Lc 22,20. São Paulo fala de "Antigo Testamento" para se referir às Escrituras
hebraicas (cf. 2Cor 3,14).

3.1. Antigo Testamento


Na Bíblia Cristã católica o Antigo Testamento contém 46 livros distribuídos em quatro secções. O
Antigo Testamento da Bíblia católica corresponde a todos os livros da Bíblia hebraica, diferendo
no modo de contar os livros e nos livros extraídos da versão grega da Bíblia.
Modernamente, alguns estudiosos têm vindo a questionar a expressão "Antigo Testamento" por
considerá-la pejorativa. Segundo a sua argumentação, o adjectivo antigo refere-se a uma coisa
ultrapassada, desgastada e velha. Por isso, chamar antigas às escrituras dos hebreus não é
respeitoso. Em vez de antigo testamento, sugerem que se pode chamar primeiro testamento, ou
primeira Aliança. O Antigo Testamento divide-se me 4 partes.
3.1.1. Pentateuco
A palavra Pentateuco deriva do grego e significa 5 rolos. Na Bíblia hebraica, o Pentateuco
corresponde à Torah, também conhecida como Lei de Moisés ou simplesmente Lei. O Novo
Testamento usa muitas vezes a palavra Lei para falar não dos 10 mandamentos, mas de todo o
Pentateuco (cf. Mt 5,17; Lc 10,26; Jo 1,17; Rm). Algumas vezes, parece que "Lei" designa todas
as Escrituras hebraicas, chamando o todo pela parte, pois a Lei é o coração das Escrituras
hebraicas. Os cinco livros que compõem são Génesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronómio.

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3.1.2. Livros Históricos
Os livros históricos narram a história dos Israelitas a partir da conquista de Canaã até ao exílio da
Babilónia. Não se conta a história segundo os critérios da ciência histórica moderna. Os autores
desses livros, muito depois dos acontecimentos, procuram narrar os feitos de Deus nos
acontecimentos da história de Israel: nas lutas, derrotas, deportação, monarquia, exílio, etc.
Os livros de 1-2 Crónicas repetem e completam os livros de 1-2 Reis, por isso, são chamados
paralipómenos.
Os 16 livros históricos são Josué, Juízes, 1-2 Samuel, 1-2 Reis, 1-2 Crónicas, Esdras, Neemias,
Tobite, Judite, Ester, 1-2 Macabeus.

3.1.3. Livros Poéticos e Sapienciais


Estes livros são algumas vezes chamados apenas sapienciais. Mas para além dos livros sapienciais
(Job, Provérbios, Eclesiastes, também chamado Qohélet, eclesiástico, também conhecido por Ben
Sira e Sabedoria), cuja enfâse recai sobre a reflexão sobre a vida a partir da fé, existem os livros
poéticos, nomeadamente o livro dos Salmos e o Cântico dos Cânticos. Estes últimos dois são
poemas de oração e de amor.

3.1.4. Livros Proféticos


Existem profetas a quem se atribuem livros (Isaías, Jeremias, Jonas, Oseias e outros) e existem
outros profetas de quem a Bíblia fala, mas não tem livros atribuídos, como Natã, Gad, Elias e
Eliseu, entre outros.
Os livros proféticos têm extensões diferentes. Tradicionalmente, os livros com mais de 14
capítulos foram chamados profetas maiores (Isaías, Jeremias em que se incluem Lamentações e
Jeremias, Daniel e Ezequiel) e aqueles com menos (Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias,
Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias), foram chamados profetas menores.
Os profetas desenvolveram os seus temas a partir da situação concreta em que o povo se encontra.
Em tempos de dificuldades anunciavam uma mensagem de esperança. Em tempos de corrupção
denunciavam as injustiças, apelando à fidelidade a Javé.

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3.2. Novo Testamento
Ao contrário do Antigo Testamento, em que se encontram várias ordens de Deus para escrever
tanto a Moisés como aos profetas, no Novo Testamento Jesus não deu ordens para que a sua palavra
fosse escrita. Ele mandou aos seus discípulos que pregassem a todas as nações (cf. Mt 28,19-20).
Mesmo assim, há no Novo Testamento, algumas indicações sobre a escritura: o autor do evangelho
segundo São João, os sinais de Jesus foram escritos para suscitar a fé de que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus (cf. Jo 20,30-31). O autor do Apocalipse, como já visto no livro do Êxodo, recebe
o mandato de escrever a sua visão num livro e enviá-lo às sete Igrejas (cf. Ap 1,9-11).
A redacção dos escritos do Novo Testamento surgiu quando as comunidades cristãs começaram a
multiplicar-se e começaram a morrer as testemunhas oculares de Jesus. Mas inicialmente, eram
contadas oralmente as memórias das obras e palavras de Jesus.
Contudo, no livro do Apocalipse, existem, como no Antigo Testamento, uma ordem para escrever.
A expressão "O novo testamento" para além de se referir ao conjunto de livros inspirados que
foram escritos a partir da fé de que Jesus de Nazaré é o Cristo de Deus, também se refere à Nova
Aliança, também se pode dizer Novo Testamento, que Jesus selou com a sua paixão, morte e
ressurreição. O Novo Testamento, mas do que escrito, é a redenção realizada por Cristo através do
seu mistério pascal. O novo testamento, como colectânea, contém 27 livros.

3.2.1. Evangelhos e Actos


Evangelho essencialmente é a Boa Notícia do advento do Reino de Deus, trazida pela encarnação
de Jesus, a sua vida, palavras e obras e sobretudo pela sua paixão, morte e ressurreição.
Extensivamente, chama-se evangelho a cada uma das narrações inspiradas que contam a vida de
Jesus, nomeadamente Mateus, Marcos, Lucas e João. Dois dos evangelistas eram apóstolos:
Mateus e João e os outros dois eram discípulos dos Apóstolos: Marcos e Lucas. Pode-se dizer que
existe um único Evangelho em quatro evangelhos.
Os evangelhos segundo São Mateus, Marcos e Lucas chamam-se evangelhos sinópticos por causa
das muitas semelhanças dos factos que eles contam. Esses evangelhos seguem um esquema de
base comum ao qual foram acrescentados outros elementos segundo as fontes que cada autor tinha.
Os episódios que são narrados nos três evangelistas chamam-se narrações de tripla tradição, por
exemplo, a narração do jovem rico (Mt 19, 16-22//Mc 10,17-22//Lc 18,18-22); aqueles que se
encontram em dois evangelistas Mt e Mc ou Lc e Mc ou Mt e Lc, chamam-se narrações de dupla

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tradição, por exemplo a oração do Pai Nosso (Mt 19,3-9//Mc 10,2-12); chamam-se episódios de
tradição aqueles que só aparecem num único evangelista, por exemplo, o Bom Samaritano (Lc 10,
25-37), o filho pródigo (Lc 15,11-32), o fariseu e o publicano (Lc 18,9-14), Zaqueu (19,1-10),
todas essas narrações só se encontram no evangelho de Lucas; os dois cegos (Mt 9,27-31), o pedido
de um sinal (Mt 12,38-42), parábolas do tesouro (Mt 13,44-45), só se encontram no evangelho de
Mateus.
Os estudiosos da Bíblia costumam interrogar-se acerca das semelhanças e diferenças que os
evangelhos sinópticos apresentam. Eles perguntam-se qual dos três evangelistas teria escrito
primeiro e como se explicam as diferenças que existem sobre eles. A estes questionamentos sobre
as semelhanças e diferenças entre os evangelhos sinópticos, dá-se o nome de questão sinóptica.
O evangelho de João não segue o esquema dos sinópticos e preocupa-se por outras temáticas
diferentes. Alegadamente, teria sido escrito muito depois dos primeiros três.

3.2.2. Actos dos Apóstolos


Depois do evangelho, o livro dos Actos dos Apóstolos é a o segundo volume dos dois escritos de
Lucas. Percebe-se claramente a partir dos prólogos dos dois livros (Lc 1,1-4 e Act 1,1-2). No
primeiro livro, o autor, depois de acurada investigação, relata as obras e ensinamentos de Jesus.
No segundo livro, narra as obras e ensinamento que os Apóstolos, depois de Jesus ter sido
arrebatado ao Céu. O livro dos actos dos apóstolos apresenta-se como narração histórica do
surgimento e da expansão da Igreja.

3.2.2. Epístolas
No Novo Testamento, existem 21 cartas ou epístolas. 14 delas eram tradicionalmente atribuídas a
São Paulo, por isso fazem parte do grupo chamado corpus paulino. Hoje já se sabe que nem todas
foram escritas por São Paulo.
A carta ou epístola surge da necessidade de comunicar uma mensagem importante e da
impossibilidade de remetente estar presente. As cartas do NT eram circulares, quer dizer, que
mesma aquelas que se destinavam a uma determinada comunidade, acabavam por circular por
outras comunidades. Em geral, eram escritas para esclarecer ou resolver um específico problema
de uma determinada comunidade. De modo geral, as cartas da Bíblia seguem o modelo das cartas
sociais.

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Hoje os estudiosos concordam que nem todas as cartas atribuídas a São Paulo foram escritas por
ele. As cartas de que se tem certeza que foram escritas por ele são: Primeira aos Tessalonicenses,
Romanos, Primeira e Segunda aos Coríntios, Gálatas, Filipenses e Filémon. Esta conclusão saiu
do estudo do vocabulário, linguagem, teologia e estilo de escrever.
As cartas que são dirigidas a pastores são designadas pastorais. São Primeira e Segunda Carta a
Timóteo e a Carta a Tito. Outras cartas só têm remetente sem destinatário, são as cartas de Tiago,
Primeira e Segunda de Pedro, Primeira, Segunda e Terceira de João e a Carta de Judas. Algumas
cartas são chamadas cartas da prisão, porque nelas há referências de o autor está a escrever da
prisão. Essas cartas são Efésios (Ef 4,1), Filipenses (Fl 1,12-14), Colossenses (Cl 4,10), Filémon
(Fln 1,1)

3.2.3. Escritos Joaninos


Cinco escritos do NT são atribuídos a João, o evangelho segundo João, as três cartas de João e o
Apocalipse. Esses escritos, apesar de serem atribuídos ao mesmo autor, apresentam substanciais
diferenças de vocabulário, gramática, estilo e linguagem.

Perguntas de revisão
1. Elabora sobre as expressões "Antigo Testamento" e "Novo Testamento".
2. Quantos livros tem cada testamento e a Bíblia no total?
3. Em quantas secções se divide o Antigo Testamento e quais são?
4. Quais são os livros que compõem cada secção do Antigo Testamento?
5. Quais são os significados de "evangelho?
6. O que é a questão sinóptica? Quais são os evangelhos sinópticos e por que se chamam assim?
7. O que significa Corpus Paulino?
8. Quais são as cartas de que se tem certeza de que foram escritas por São Paulo?
9. Enumera as cartas da prisão?
10. Enumera os escritos joaninos?
11. O que significa a palavra Apocalipse?

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