Informações e evidências científicas ao seu alcance
Microbiota intestinal, imunidade e prebióticos Dan L. Waitzberg A microbiota intestinal (MI) humana é adquirida pelo bebê ao entrar em contato com secreções vaginais e anais maternas e é reforçada pelo aleitamento. A introdução de dieta sólida adequada e balanceada molda a MI que se estabelece de forma resiliente entre 18 e 36 meses de idade1. A interação entre a MI e o trato digestivo é fundamental para o desenvolvimento do sistema imunológico, já comprovado experimentalmente.
O trato gastrintestinal é um importante órgão com
função imunológica que nos separa e protege do ambiente externo (luz intestinal) e dos trilhões de bactérias que nele habitam. O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) é composto por células do sistema imune inato (neutrófilos, células linfoides inatas) e adaptativo (macrófagos, células dendríticas, linfócitos intraepiteliais e subgrupos de células T).
As células dendríticas dispõem de sensores
(receptores do tipo Toll) capazes de identificar características intrínsecas e específicas de microrganismos na luz intestinal2. Existe uma conversação cruzada permanente entre intestino, imunidade e microbiota. Uma vez ativadas, as células dendríticas, entre outras, transmitem informações para as células apresentadoras de antígenos e macrófagos. Essas, por sua vez, estimulam os linfócitos T a desenvolver resposta imunológica e inflamatória em maior ou menor grau, que variam de acordo com o tipo de microbiota e/ou microrganismos prevalentes. Perante uma microbiota adequada, se estabelece, com o equilíbrio de respostas imunes inatas e adaptativas, um estado de tolerância, resposta do tipo Th13. Mas ele pode rapidamente se modificar na presença de microbiota alterada (disbiose) e passar para estado inflamatório com liberação de interleucinas e outras moléculas inflamatórias comandadas por subtipos linfocitários específicos, resposta Th2 e Th174.
Torna-se, portanto, de interesse manter a MI a
mais adequada possível. No entanto, ela pode ser alterada, em nosso dia a dia, em função de diferentes condições climáticas, hábitos e estilo de vida, uso de medicamentos, enfermidades e hábitos dietéticos. A dieta, por si só, é responsável por 20 a 30% das modificações da microbiota. Uma dieta rica em fibras dietéticas se associa a MI saudável e produtora de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), enquanto o consumo exagerado de gordura e carnes vermelhas pode conduzir ao desbalanceamento da MI. O butirato, um dos AGCC, é fonte energética para colonócitos em adição a sua função moduladora imunológica e anti- inflamatória ao modificar a expressão gênica e epigenética.
Entre as fibras disponíveis, está a goma guar
parcialmente hidrolisada (GGPH), com boas propriedades físicas e químicas, como possuir alta solubilidade em água e ser insípida. A GGPH, na condição de prebiótico, aumenta a concentração de espécies de bifidobactérias, de lactobacilos e de AGCC na luz do cólon.
Neste sentido, o consumo de GGPH pode
indiretamente contribuir para a manutenção da imunidade. Microrganismos como lactobacilos e bifidobactérias podem contribuir para reequilibrar a microbiota intestinal e recuperar as funções de atividade imunomoduladora e antibacteriana, como competição por substratos, produção de moléculas benéficas, entre as quais ácidos graxos de cadeia curta, e produção de bacteriocinas5-7. A adição de prebióticos com probióticos em uma mesma formulação configura os simbióticos.
Em resumo, uma microbiota intestinal
alterada pode estar associada a alterações do sistema imunológico e influenciar a ocorrência de eventuais enfermidades. Torna-se de interesse dispender esforços para a manutenção de uma MI adequada, em que se salientam dieta e hábitos de vida saudáveis e, quando pertinente, a adição de prebióticos, probióticos ou simbióticos. Referências: 1. Macpherson AJ, de Agüero MG, Ganal-Vonarburg SC. How nutrition and the maternal microbiota shape the neonatal immune system. Nat Reb Immunol. 2017;17(8): 508-517. 2. Stagg AJ. Intestinal Dendritic Cells in Health and Gut Inflammation. Front Immunol. 2018; 9: 2883. 3. Hooper LV, Littman DR, Macpherson AJ. Interactions between the microbiota and the immune system. Science. 2012;336: 1268-73. 4. Cianci R, Pagliari D, Piccirillo CA, Fritz JH, Gambassi G. The Microbiota and Immune System Crosstalk in Health and Disease. Mediators Inflamm. 2018;2018:2912539. 5. O’Flaherty SB, Pot DMS, Versalovic J. How can probiotics and prebiotics impact mucosal immunity? Gut Microbes. 2010;1(5):1-8.
6. Osborn DA, Sinn JK. Prebiotics in infants for prevention of allergy. Cochrane Database Syst Rev. 2013;3:CD006474. 7. Cuello-Garcia CA, et al. Prebiotics for the prevention of allergies: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Clin Exp Allergy. 2017;47:1468-77.