Homem, sociedade, história e educação perante o capitalismo:
Uma visão tomista
Questiona-se o que é o homem, a sociedade, a história e educação, e qual a
importância do educador na sociedade capitalista. Esse texto visa responder essa questão se utilizando da cosmovisão aristotélica-tomista e seu desenvolvimento no séc. XX. É de fundamental importância para responder o que é educação e sociedade, segundo a luz natural, saber definir bem o que é o homem, e a partir disso determinar suas partes essenciais, potencias e lógicas. Assim, a partir da análise daquilo que o homem é, devemos buscar conhecer aquilo que ele deve ser, agir e fazer, rumo ao fim para o qual se destina. Percebemos que tudo se ordena para um fim, pois todo agente age em vista de um fim, do contrário seu agir não possui razão de ser. Vemos que mesmo entre os entes sem inteligência eles se dirigem ao seu fim natural, visto que toda potência se dirige ao ato como ao seu fim. Ora, aquilo que não possui inteligência só pode ser ordenado para um fim por uma inteligência, pois não pode por si mesmo determinar seu fim. Além disso, deve haver uma Inteligência Primeira, já que toda potência se dirigi ao ato, é necessário que um Ato Puro e Primeiro tenha ordenado todos os entes mistos de potência e ato. Pois a potência de qualquer ente misto perderia sua razão de ser. A história, então, se dirige para o fim determinado pelo Intelecto Primeiro, assim como o homem. Vemos que o homem é capaz e conhecer, mas não simplesmente sensivelmente, mas também inteligivelmente. Pois pode conhecer ideias imateriais, como a noção de pessoa, verdade, bem, razão e ser; pode construir raciocínios lógicos, sejam ele moldais ou necessários; e planejar os meios proporcionais e convenientes para a aquisição de um fim determinado. Todas essas capacidades devem decorrer de uma potência da mente humana que chamamos de intelecto. Aquela faculdade que visa a verdade, ou seja, o ser enquanto objeto conhecido; Além disso, o homem após conhecer o ser, pode desejá-lo não por meio meramente de uma inclinação do corpo que deseja tal e tal bem para sua sobrevivência, nutrição, etc., mas, por meio de uma determinação consciente, voluntária e livre, busca o bem que aperfeiçoa sua própria pessoa. Essa faculdade que permite ao homem esse tipo de intencionalidade é o que chamamos de vontade. Assim sendo, o homem é um animal composto de inteligência e vontade, portanto, racional. Como todo e qualquer ente contingente, o homem está destinado ao fim das operações em vista da perfeição de seu próprio ser, que é a atualização de suas potências e plenitude de seu ser. Podemos dizer que, por ser a plenitude de seu ser, também, a satisfação de sua vontade, pois não poderá desejar outra coisa, perfeição no homem é sua felicidade, ao menos do ponto de vista natural. Em seu escrito De Regno, Tomás de Aquino esboça como é necessário ao homem viver em sociedade e para isso elenca alguns motivos: O primeiro é o fato de que o homem, diferente dos animais, não possui em si a preparação da natureza para a sobrevivência, como pelos, garras, velocidade para fuga, etc. Mas deu-lhe a razão para que pudesse por meio das próprias mãos granjear o necessário para a vida, algo que é insuficiente para um só homem, por isso sua natureza exige a vivência em uma sociedade. O segundo fato é que os outros animais possuem um discernimento inato do que é útil e nocivo para si por extinto, como a ovelha que vê o lobo e naturalmente foge dele. Ou conhecem aquilo que é necessário para a vida, ervas medicinais, etc. Ora, o homens só possuem o conhecimento daquilo que é mais universal para sua vida e necessita aplicar aos casos particulares, mas isso é impossível em todos os casos para o homem, o que necessita da educação de outros e, para isso, viver em sociedade. De onde vem o motivo do homem ser o animal mais comunicativo, por sua rica capacidade de linguagem. Através desses dois motivos elencados por Tomás de Aquino, vemos como é necessário ao homem viver em sociedade e isso faz parte de seu próprio ser natural. Sendo o homem um animal racional, possui sua dignidade própria e o direito de agir em vista de sua perfeição. O argentino Carlos Sacheri, em seu livro A Ordem Natural, nos mostra como essa dignidade humana traz três consequências fundamentais com respeito à ordem social: a primeira é que a sociedade política deve se ordenar à perfeição das pessoas; a segunda consequência consiste na condição de sujeito de direitos que o homem possui; e por último, que o homem, em uma reta noção de bem comum político, deve ser entendido como um agente ativo da vida social. O capitalismo é um termo que possui diversas noções. Se for considerado o capitalismo enquanto regime assalariado, onde o dono do meio de produção se distingue do operário, não há em si mesmo uma violação da dignidade humana, algo inaceitável em uma sociedade que preze pelo bem comum. Desde que se respeite a dignidade humana do trabalho, dando um salário justo e familiar (ou seja, um salário que sustente uma família), humanas condições de trabalho, etc. Mas há outra noção de capitalismo, o chamado capitalismo liberal. Esse capitalismo toma o lucro como motor essencial do progresso econômico, a concorrência como a maior lei da economia, a propriedade privada como um direito absoluto, sem limites ou função social. Tal capitalismo viola a dignidade humana, corrompe a sociedade e parte de uma noção falsa da realidade da ordem natural. O homem feito para a plenitude da Verdade e do Ser deve ter sua educação voltada para esse fim. Dando ao homem o conhecimento dos entes sensíveis pode ele se elevar à contemplação da plenitude mesmo do Ser e enxergando as exigências deve ser guiado pelo educado à assentir os meios pelo qual ele atinja seu fim. Havendo assim no educador um papel de instrução especulativa e moral. Contribuindo para a educação do homem, ele poderá agir conformidade a ordem natural na sociedade, assim buscando consertar e evitar os desastres do capitalismo liberal e outros sistemas que atentem contra a dignidade humana.