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(AD) Atividade Obrigatória a Distância

Questão - É possível suscitar matérias de ordem pública em sede de recurso extraordinário,


ainda que o tema não tenha sido ventilado em instâncias inferiores, nem mesmo tenha sido
objeto deste recurso excepcional?

As questões de ordem pública, como o próprio nome aduz, vão além dos
interesses particulares, versando sobre as condições da ação e aos processos de constituição e
desenvolvimento válido do processo, de interesse do próprio Estado e da sociedade, visando a
preservação e estabilidade do ordenamento jurídico para conferir segurança aos litigantes e o
acesso à ordem jurídica justa.
Tamanha é a importância das matérias de ordem pública que foi instituída pela
lei a possibilidade de o juiz ou tribunal conhecê-las de ofício a qualquer tempo do processo,
não operando a preclusão, conforme aufere-se da exegese dos artigos 301, § 4º e 303, II do
Código de Processo Civil e de princípios incrustados na própria Constituição Federal.
No entanto, requisito intrínseco do recurso extraordinário é o
prequestionamento, devendo o tema a ser analisado em sede do mencionado recurso, ter sido
argüido nas instâncias inferiores, sobre pena de tratar-se de matéria nova não sujeita a recurso,
exceto quando a questão federal ou constitucional surja no acórdão recorrido.
Aqui colidem o princípio do dispositivo, que institui que o âmbito de
devolutividade do recurso extraordinário, na perspectiva vertical, é bem restrita, e as garantias
sociais inseridas nas matérias de ordem pública, que podem ser apreciadas ex officio pelo
órgão julgador a qualquer tempo.
Ora, se a partir do ato processual inquinado de nulidade os demais se tornam
imprestáveis a gerarem efeitos, como pode o recurso extraordinário não ser recebido sob o
argumento de falta de prequestionamento, sendo que a nulidade absoluta deve ser reconhecida
de ofício?
Além do mais, se as questões de ordem pública devem ser apreciadas de ofício,
e o Tribunal recorrido não o fez, deve o STF apreciar o recurso extraordinário sob o
argumento de que há prequestionamento implícito, posto que houve omissão do órgão
julgador quanto a matéria da qual deveria ter decidido, qual seja, a matéria de ordem pública,
mesmo que não suscitada pela parte recorrente, tendo em vista o princípio constitucional da
motivação das decisões.
Portanto, apesar da posição predominante nos tribunais superiores de que é
imprescindível o prequestionamento para o recebimento do recurso extraordinário,
independentemente de haver matéria de ordem pública não decidida a ser analisada, sou
favorável à outra corrente, conforme ensinamento de Nelson Luiz Pinto, que diz:
“Relativamente às questões de ordem pública, que, por disposição legal, devem ser
conhecidas e decretadas até mesmo “ex officio” em qualquer tempo e grau de jurisdição (art.
267, § 3.°), que são, essencialmente, os vícios positivos de existência e de validade do
processo, bem como a presença dos pressupostos processuais negativos, deve ser dispensado
o requisito do prequestionamento, devendo o Superior Tribunal de Justiça, até mesmo de
ofício, conhecer dessas questões, evitando-se, assim, o trânsito em julgado da decisão
viciada, quepoderá ensejar a propositura de ação rescisória (art. 485, V, do CPC)". Mais
adiante, afirma: "As condições da ação e os pressupostos processuais devem, necessária e
obrigatoriamente, ser objeto de exame ex officio por qualquer juiz ou Tribunal, antes de se
adentrar o julgamento do mérito, independentemente de ter havido ou não requerimento das
partes. Assim, pode-se dizer que essas matérias de ordem pública estariam, por força de lei,
implicitamente prequestionadas em toda e qualquer decisão de mérito".1

BIBLIOGRAFIA

MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento. Fonte: O prequestionamento nos recursos


extraordinário e especial, e outras questões relativas a sua admissibilidade ao seu
processamento. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, 3ª ed., itens 3.2.2 e 3.2.3, p.
216-285. Material da 3ª aula da disciplina O Processo Civil nos Tribunais Superiores,
ministrada no curso de pós-graduação lato sensu televirtual em Direito Processual Civil –
IBDP e Anhanguera-Uniderp|Rede LFG.

MIRAGEM, Bruno Nubens Barbosa. Exigência de prequestionamento e preceitos de


ordem pública: aspectos da admissibilidade do Recurso Especial. Jus Navigandi,
Teresina, ano 5, n. 41, 1 maio 2000. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/859>.
Acesso em: 23 maio 2011.

1
MEDINA, José Miguel Garcia. Prequestionamento. Fonte: O prequestionamento nos recursos extraordinário e
especial, e outras questões relativas a sua admissibilidade ao seu processamento. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2002, 3ª ed., itens 3.2.2 e 3.2.3, p. 216-285. Material da 3ª aula da disciplina O Processo Civil nos
Tribunais Superiores, ministrada no curso de pós-graduação lato sensu televirtual em Direito Processual Civil –
IBDP e Anhanguera-Uniderp|Rede LFG, pp. 3-4.
MENDONÇA, Paulo Halfeld Furtado de. Questões de ordem pública e a competência
recursal dos tribunais de superposição. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1437, 8 jun.
2007. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/9992>. Acesso em: 24 maio 2011.

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