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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL

ANDRESSA MACHADO DA SILVA – RGM 091.1106

RESENHA CRÍTICA DA PALESTRA “COMO AS ÁRVORES


CONVERSAM ENTRE SI?”

Campo Grande
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIGRAN CAPITAL

ANDRESSA MACHADO DA SILVA – RGM 091.1106

RESENHA CRÍTICA DA PALESTRA “COMO AS ÁRVORES


CONVERSAM ENTRE SI?”

Trabalho apresentado na Disciplina de


Metodologia Científica do Curso de
Psicologia.

Professora Nilce Lucchese.

Campo Grande
2021
A cientista e professora de Ecologia Florestal na Universidade da Colúmbia
Britânica (Canadá), Suzanne Simard, é uma pioneira nos estudos de inteligência e
comunicação no reino vegetal. A paixão da Suzanne por árvores começou na infância,
quando ela ia para a floresta com o seu avô que, apesar de ser um lenhador, cortava
seletivamente o cedro nos bosques e lhe ensinava sobre a magnitude da natureza.

Na sua palestra “Como as árvores conversam entre si?”, proferida em junho de


2016 no evento TEDSummit, ela explana em aproximadamente dezoito minutos mais de
trinta anos de pesquisas científicas nas florestas do Canadá.

O pontapé inicial para o que se tornaria o trabalho de uma vida aconteceu quando
ainda era criança em um passeio na floresta com o seu avô e o cão de estimação da família.
Neste dia, ela conta, que o cão caiu em uma fossa sanitária na floresta e o seu avô correu
com uma pá para resgatá-lo; conforme o chão da floresta ia sendo descoberto e as raízes
das árvores sendo expostas, ela ficou fascinada com todo esse universo – de raízes
interligadas – que ia se abrindo diante dos seus olhos.

Anos mais tarde ela se torna estudante e inicia a pesquisa que dá nome à palestra.
Ela já sabia que os cientistas haviam descoberto no laboratório in vitro que a raiz da muda
de um pinheiro poderia transmitir carbono para outra muda e ficou intrigada se isso
poderia ocorrer em florestas reais.

Nessa linha, o objetivo da pesquisa da Suzanne era descobrir se as árvores de uma


floresta se comunicavam e, em caso positivo, como que essa comunicação ocorreria. De
forma mais específica, o experimento deveria confirmar uma suspeita que ela tinha, de
que a bétula e o abeto se conectariam na rede subterrânea, mas não o cedro.

O primeiro passo foi, portanto, cultivar as mudas das três espécies de interesse:
bétula papilífera, abeto de Douglas e cedro vermelho do Oeste. Foram cultivadas oitenta
(80) mudas.

Como a pesquisa não tinha financiamento, as próximas etapas do trabalho


ocorreram de forma relativamente arcaica: os sacos plásticos, fita adesiva, telas,
cronometro, traje de proteção e respirador foram comprados em uma loja de departamento
local; os itens de alta tecnologia, tais como o contador Geiger, o contador de cintilação,

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espectrômetro de massa, microscópios, bem como seringas com dióxido de carbono
gasoso contendo o carbono-14 (um gás radiativo) e alguns frascos de alta pressão com o
gás dióxido de carbono formado por carbono-13 (um isótopo estável), foram empréstimos
da Universidade onde a Suzanne estudava.

Com todo o material em mãos, a próxima etapa foi iniciar os trabalhos in loco. O
ponto de partida foi posicionar as árvores lado a lado e colocar os sacos plásticos por cima
dessas mudas cultivadas, formando uma espécie de estufa, e injetar dentro dos sacos o
isótopo rastreador de dióxido de carbono – na bétula ela injetou carbono-14, enquanto no
saco do abeto ela injetou o carbono-13.

Um fato curioso contado na palestra é que quando ela estava caminhando para a
octogésima árvore apareceram ursos e os trabalhos tiveram que ser interrompidos por
aproximadamente uma hora, o que seria tempo suficiente para as árvores absorverem o
CO2 e, pela fotossíntese, transformá-lo em açúcar, enviando-o às raízes e transportando
o carbono por baixo da terra às árvores vizinhas.

Decorrido esse tempo e com os ursos devidamente longe, a Suzanne foi até a
primeira bétula e retirou o saco. Passou o contador Geiger sobre suas folhas e ele apitou
um barulho indicando que a muda havia absorvido o carbono-14.

Na sequência, retirou o saco da árvore abeto e obteve o apito do contador Geiger,


ou seja, essa era a indicação de que as duas árvores estavam trocando carbonos entre si.
Por fim, foi até o cedro, passou o contador Geiger sobre as folhas, mas o mesmo não
apitou.

Nas palavras da Suzanne:

Era o som da bétula conversando com o abeto. A bétula


perguntava: "Ei, posso ajudá-lo?" E o abeto respondia: "Sim, pode
me emprestar um pouco do seu carbono? Porque alguém colocou
uma tela em cima de mim". [...] O cedro estava em seu próprio
mundo. Não estava conectado à rede que interligava a bétula e o
abeto.

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Ao longo do decorrer da pesquisa, constatou-se que o abeto e a bétula trocavam
carbono entre si conforme a necessidade de cada muda, confirmando que as duas espécies
eram interdependentes.

Constatou-se, ainda, que não era apenas carbono que as plantas trocavam no
mundo subterrâneo, mas também outros minerais, como nitrogênio, fósforo, H2O, isto é,
uma verdadeira rede de informações. De forma macro, as florestas se comportam como
um único organismo, não apenas como competidoras, mas como colaboradoras.

Avançando um pouco nas descobertas, a principal rede de comunicação entre


árvores e plantas está no chamado “micélio”, que é um fungo vegetal que forma uma rede
conectando as raízes do reino vegetal.

Farei um adendo em relação a essa temática para um documentário chamado


“Fungos Fantásticos”, atualmente disponível para exibição na plataforma de streaming
Netflix. De forma didática o documentário explica que a rede micelial é o maior
organismo da floresta, onde as pontas do micélio tocam as pontas das raízes das plantas e
árvores e esse tecido conjuntivo se expande como uma rodovia por quilômetros de
distância.

As árvores, plantas e fungos trocam entre si não apenas carbono e nutrientes, como
informações de defesa e ataques. Retornando à palestra, a Suzanne compara o micélio à
rede de internet, com nódulos e conexões.

Em um desdobramento da pesquisa inicial, foi realizado um experimento em que


se cultivou árvores da mesma família com estranhos e a descoberta foi de que as árvores
da mesma espécie se colonizam com redes de trocas mais densas, como se fosse a proteção
de uma mãe à um filho.

E essa troca é fundamental não apenas para o dia a dia das árvores e plantas, mas
também funciona como uma passagem de informações de sabedoria das árvores-mães
(árvores-núcleo) para as subespécies, analogamente como acontece no conhecimento de
senso-comum da comunidade humana.

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A conclusão da pesquisa é, portanto, de que sim, as árvores conversam entre si. E
que a multiplicidade e diversidade de espécies, genótipos e estruturas na floresta é
importante para a sobrevivência da mesma, de forma fortalecida.

O desmatamento constante e a substituição por mata secundária de poucas espécies


podem ruir todo um sistema florestal, desdobrando-se em crises hídricas, aumento do
efeito estufa, surtos de insetos, entre outras perturbações que afetam não só o reino vegetal
como a espécie humana. Então ao invés de enfraquecermos as nossas florestas, o
importante é preservar as florestas primárias, reduzindo o desmatamento. E não apenas,
ao cortar as árvores, é preciso preservar as árvores-mães e os micélios.

Por fim, a Suzanne encerra a palestra lembrando do ponto inicial descoberto na


pesquisa, de que as florestas não são só um conjunto de árvores competindo entre si; elas
são altamente colaboradoras e, destarte, tem uma inteligência autorregenerativa.

Como mencionamos no início do texto, foram anos de pesquisas e descobertas


condensadas em um curto discurso. Ainda assim, a Suzanne consegue transmitir com
clareza o ponto chave da sua pesquisa e o que devemos aprender com ela, que é a
importância da conservação das florestas (nativas) à medida que elas não são apenas
árvores e plantas avulsas e isoladas em um espaço de terra, mas sim um organismo vivo
interconectado.

Um dos pontos da pesquisa que não ficou muito claro para quem é leigo no assunto
foi respeito da participação do cedro e a sua não comunicação com as duas outras espécies,
mas não considero isso um ponto que prejudica a mensagem final da palestrante.

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Referências Bibliográficas

ABOUT SUZANNE. 2021. Disponível em <https://suzannesimard.com/about/>. Acesso em


08 Set 2021.

FUNGOS FANTÁSTICOS. Netflix, 2021. Disponível em


<https://www.netflix.com/br/title/81183477>. Acesso em 01 Set 2021.

SIMARD, Suzanne. How do Trees Talk to Each Other. TED, 2016. Disponível em
<https://www.ted.com/talks/suzanne_simard_how_trees_talk_to_each_other>. Acesso em
25 Ago 2021.

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