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História para

vestibular medicina
5ª edição • São Paulo
2019

C H
6
CIÊNCIAS HUMANAS
HISTÓRIA
e suas tecnologias
Eduardo Antônio Dimas e Tiago Rozante
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Eduardo Antônio Dimas
Tiago Rozante

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Eder Carlos Bastos de Lima
Felipe Lopes Santos
Iago Kaveckis
Letícia de Brito
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
PSP Digital Gráfica e Editora LTDA

ISBN: 978-85-9542-183-7

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum
texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos
todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de
crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos
principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 105 livros e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno realmente
necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Todo livro é
iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos principais
vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção "Aplicação no Cotidiano". Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2018 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
HISTÓRIA
HISTÓRIA GERAL
Aulas 45 e 46: Nazismo e guerra civil espanhola 7
Aulas 47 e 48: Segunda Guerra Mundial 25
Aulas 49 e 50: Guerra Fria 45
Aulas 51 e 52: Descolonizações na África e na Ásia e revolução chinesa 75

HISTÓRIA DO BRASIL
Aulas 45 e 46: Ditadura militar: governos Médici e Geisel 91
Aulas 47 e 48: Ditadura militar: governo Figueiredo e regimes militares sul-americanos 115
Aulas 49 e 50: Nova república: governos Sarney e Collor 145
Aulas 51 e 52: Nova república: governos Itamar, FHC, Lula e Dilma 169
Abordagem de HISTÓRIA GERAL nos principais vestibulares.

FUVEST
O vestibular da USP exige amplo conhecimento conceitual de seus candidatos. A prova apresenta textos,
mapas e obras de arte para estruturar suas questões. O aluno deve focar nos principais eventos políticos
e econômicos dos períodos abordados. É preciso dar atenção em como as mudanças econômicas engen-
dram novas realidades políticas e sociais.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC

É um vestibular que dá um enfoque muito grande nas questões contemporâneas do pós-Segunda Guerra
FAC

INA

1963

Mundial. É necessário estudar os diversos movimentos emancipacionistas da África e da Ásia e fazer


BO
T U C AT U

contrastes com a realidade política atual.

UNICAMP
A Comvest recorre ao uso de textos e imagens em suas questões. O candidato deve estar atento em
suas interpretações. No geral, não exige profundidade conceitual, embora seja fundamental que o aluno
domine todos os principais eventos dos períodos estudados.

ENEM/UFMG/UFRJ
O vestibular da Uerj aborda questões de cunho interpretativo, principalmente em relação às obras de arte,
charges, filmes e fragmentos de textos acadêmicos. O enfoque se dá principalmente em Guerra Fria e nos
movimentos políticos pós-1968.

UERJ
As questões são de caráter interpretativo. Textos de grandes intelectuais são expostos para a leitura dos
candidatos. Na maioria dos casos, a solução está contida no próprio enunciado, exigindo máxima aten-
ção. O foco se dá sobre o tema do totalitarismo, tanto na sua expressão nazifascista, quanto na stalinista.
4 6
5 4 Nazismo e
guerra civil espanhola

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 2, 3, 4, 5 ,6, 7,
8, 9, 10, 11, 13,
14, 15, 16, 19, 20,
21, 22, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Nazismo

“Vida longa à Alemanha”, cartaz de propaganda nazista.

Introdução
A Primeira Guerra Mundial gerou uma grande crise no sistema capitalista europeu, que foi se tornando
crônica. Grandes impérios, como o austro-húngaro e o turco-otomano, desapareceram e as economias europeias
ficaram totalmente arruinadas. A Alemanha, maior potência industrial antes da guerra, foi arrasada pelo Tratado
de Versalhes. Não só os países perdedores estavam arruinados: a Europa inteira conhecia recessão, inflação e
desemprego.
Com o fermento produzido pela crise econômica, ganhou força o socialismo na Rússia e os partidos de
esquerda cresceram na Europa, assustando os burgueses. Na Itália e na Alemanha, por exemplo, insurreições e
agitações de trabalhadores obrigaram as burguesias desses países a fazer certas concessões.
A crise de 1929 – iniciada nos Estados Unidos e rapidamente espalhada na Europa – aprofundou a crise do
capitalismo europeu. Nesse contexto veio o declínio das democracias parlamentares, permitindo o surgimento de
Estados totalitários, como a Alemanha nazista.

A Alemanha pós-guerra
Nos últimos dias da Primeira Guerra Mundial, uma revolução derrubou o governo imperial alemão e levou
à criação de uma república democrática. O novo governo, chefiado pelo chanceler Friedrich Ebert, um social-
-democrata, assinou em 11 de novembro de 1918 o armistício que pôs fim à guerra. Pouco depois, o humilhante
Tratado de Versalhes impunha à Alemanha cláusulas que reduziram sua área territorial e arrasaram sua economia.

9
O Levante Espartaquista as leis, submetê-las a uma aprovação popular, dissolver
o Parlamento e adotar medidas excepcionais em caso
de crise.
Em 1918, a economia alemã estava arruinada.
O Parlamento foi dividido em duas câmaras: o
Se comparado a 1913, a produção industrial diminuíra
Reichstag, formado por deputados eleitos, e o Reichsrat,
57% e a agrícola, 50%. Tal situação propiciava a ins-
formado pelos representantes dos estados federados.
tauração do caos político e social. No final de 1918, o O presidente eleito Ebert organizou a nova Re-
setor mais radical do Partido Social-Democrata, a Liga pública e governou com uma frágil composição partidá-
Espartaquista, rompeu com o setor moderado e fun- ria formada por social-democratas, representantes dos
dou o Partido Comunista. Em janeiro de 1919 ocorreu operários sindicalizados das regiões protestantes, pelo
o primeiro levante armado contra a recém-instaurada Partido de Centro Católico – defensor dos pequenos
República. Conhecido como o Levante Espartaquis- proprietários do Sul e do Oeste Alemanha – e pelo Par-
ta, esse movimento revolucionário comunista, liderado tido Democrata, representante da alta burguesia.
por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, eclodiu em
Berlim e irradiou-se para outros centros, como Hambur- A crise econômica
go, Baviera, Bremen, Magdeburgo, Saxônia e Sarre. A
Terminada a Primeira Guerra Mundial, a eco-
repressão foi imediata e brutal. O Exército e setores vo-
nomia alemã estava arruinada. Durante a guerra, sem
luntários monarquistas nacionalistas lideraram a repres-
poder aumentar os impostos sobre os ganhos de capi-
são. Oficiais de direita assassinaram Rosa Luxemburgo
tal, as finanças foram equilibradas através da emissão
e Karl Liebknecht, deixando seus corpos nos esgotos da
monetária. O grande volume de dinheiro em circulação
cidade. Os mesmos militares incumbiram-se de eliminar
provocou a desvalorização do marco (moeda alemã):
os focos comunistas em outras cidades da Alemanha,
em 1914, um dólar valia 4,2 marcos e, no início de
inclusive na Baviera, onde Kurt Eisner foi assassinado.
1922, 182 marcos.

Levante Espartaquista de 1919


Crianças brincam com o dinheiro alemão durante a hiperinflação.

A República de Weimar (1919–1933)


Em fevereiro de 1919, a Assembleia Nacional re-
centemente eleita reuniu-se em Weimar para preparar a
constituição do novo Estado. Nascia assim a República
de Weimar (1919–1933). Uma nova constituição – a Nota de 10 milhões de marcos, em 1923, na Alemanha.

Constituição de Weimar –, redigida por Hugo Preuss, Em 1923, a situação complicou-se. A ocupação
foi aprovada pela Assembleia Nacional e assinada pelo pela França da região industrial do Ruhr, com a finali-
presidente Ebert. A Constituição definia a República dade de garantir o pagamento das indenizações estipu-
como federativa, parlamentar e democrática. O presi- ladas pelo Tratado de Versalhes, elevou a crise a níveis
dente seria eleito pelo voto direto universal, pelo perío- insustentáveis. O número de desempregados chegou a
do de sete anos. Indicaria um chanceler, a quem caberia cinco milhões de pessoas; a inflação desvalorizou ainda
efetivamente o exercício do governo. Ele poderia aplicar mais o marco a ponto de um dólar valer oito bilhões de

10
marcos! A confusão instalou-se. Cidades e empresas fo- pátria: judeus, socialistas e liberais. Hitler considerou o
ram autorizadas a emitirem moedas auxiliares. O salário Tratado de Versalhes uma humilhação, que não deve-
variava no decurso do mesmo dia, enquanto os cam- ria ser aceito pela liberal República de Weimar. Passou
poneses recusavam-se a ceder a produção em troca de a apoiar o antigo militarismo mitológico dos bárbaros
papel-moeda, fazendo ressurgir o sistema de escambo. germânicos, o autoritarismo do Kaiser, a perseguição
contra socialistas, judeus, ciganos, testemunhas de Jeo-
vá, eslavos, poloneses, homossexuais e deficientes físi-
Hitler e as origens do cos e mentais.
Partido Nazista Como Mussolini, Hitler levou atitudes e técnicas
militares para a política. Uniformes, saudações, emble-
A derrota na guerra, a humilhação e as dificulda- mas, bandeiras e outros símbolos davam aos membros
des impostas pelo Tratado de Versalhes, a consequente do partido uma sensação de solidariedade e camarada-
crise econômico-financeira, o temor gerado pelas agita-
gem. Nos comícios de massa, Hitler era um orador fas-
ções sociais colocavam o governo social-democrata em
cinante, com desempenhos espantosos. Com os punhos
uma incômoda situação, pressionado pelos mais varia-
cerrados, gestos agressivos, olhos hipnóticos e rosto
dos segmentos da sociedade.
conturbado pelo ódio, criticava repetida e furiosamente
Nessas condições, em 1919 foi fundado em uma
o Tratado de Versalhes, o marxismo, a República de Wei-
cervejaria de Munique um partido semelhante ao fas-
cista da Itália. Um ano depois, ele assumia o nome de mar e os judeus, inflamando e hipnotizando o público.
Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Hitler percebia instintivamente os sentimentos, ressenti-
Alemães ou Partido Nazista. mentos e anseios mais íntimos da multidão.
Em setembro de 1919, o ex-cabo do Exército Em 1923, aproveitando-se do clima geral de in-
alemão, Adolf Hitler, aderiu ao então minúsculo Parti- segurança e crise que dominava a República de Weimar,
do Nazista. Mostrando uma fantástica energia e uma Hitler liderou uma tentativa de golpe na Baviera, o Puts-
extraordinária capacidade como orador demagógico, ch de Munique, apoiado por Ludendorff. O golpe fracas-
propagandista e organizador, tornou-se rapidamente o sou, foi preso e condenado a cinco anos de prisão. Mas
líder do partido. Líder, Hitler insistiu na autoridade ab- foi libertado oito meses depois. Na prisão, aproveitou o
soluta e total fidelidade, exigência que coincidia com tempo para escrever a primeira parte de seu livro Mein
o anseio popular de um líder forte que consertasse a Kampf (Minha luta), obra que contém os fundamentos
nação em ruínas. da ideologia nazista: repúdio ao Tratado de Versalhes,
antissemitismo, anticomunismo, nacionalismo exacer-
bado, Estado totalitário, unipartidarismo, superioridade
da raça alemã (raça ariana), expansionismo (“espaço
vital”) e militarismo.

Adolf Hitler, o primeiro sentado a esquerda, durante a Primeira Guerra


Mundial.

A filosofia fascista foi difundida na Alemanha


por Hitler, que nasceu na Áustria e lutou na Primeira “As massas são despertadas pela palavra falada, não pela escrita – por
uma onda de paixão cálida proveniente do orador que como golpes de aríe-
Guerra Mundial pelas tropas germânicas, sem aceitar te pode abrir os portões do coração do povo” (Adolf Hitler, Mein Kampf).
que a derrota fora causada pela superioridade bélica
dos inimigos (Entente), mas pelos traidores internos da

11
A ascensão de Hitler milhões de trabalhadores. Ressurgiu a agitação social e
com ela o temor de uma revolução socialista nos mol-
des do que ocorrera na Rússia.
O período de 1924 a 1929 caracterizou-se pela
recuperação econômica da Alemanha e pelo refluxo do A incapacidade de o governo parlamentar solu-
movimento nazista. A recuperação contou com a ajuda cionar a crise contribuiu para a polarização das forças
políticas e para o fortalecimento dos partidos comunista
do capital norte-americano, através do Plano Dawes1,
e nazista – financiado por industriais e banqueiros, te-
que consistia em consideráveis empréstimos para auxi-
merosos com o crescimento do comunismo.
liar o ressurgimento industrial alemão.
Nas eleições de 1930, os nazistas elegeram 107
Após o Putsch de Munique, o prestígio dos na-
deputados para o Reichstag (Parlamento), com 6,5 mi-
zistas estava bastante abalado. Nas eleições de 1924
lhões de votos. Em 1932, conquistaram 280 cadeiras,
obtiveram apenas 3% dos votos e 14 cadeiras no Par-
com 13,5 milhões de votos, seguidos do Partido Social-
lamento. Já os comunistas contaram com uma votação
-Democrata, com oito milhões de votos. Assim fortale-
maior, 9%, e o centro e os social-democratas domina-
cido, o partido com um milhão de membros passou a
vam o cenário político, com 26% dos votos. Com isso,
atacar o adversário com as SA (tropas de choque) e as
os socialistas necessitavam do apoio conservador para
SS, que somavam 400 mil homens e compunham um
se manter no poder.
exército particular nazista. Hitler exigiu e recebeu o car-
Mas em 1925, a direita apoiou a candidatura go de chanceler em 30 de janeiro de 1933. Consumava-
do marechal Hindenburg, que foi eleito presidente com -se assim a ascensão do nazismo ao poder.
uma pequena vantagem sobre o candidato socialista.
Monarquista convicto, o novo presidente sonhava em
restaurar o Império e imprimiu ao seu governo um ca- O Terceiro Reich alemão
ráter ultraconservador. Entretanto, o ministério encon-
trava muita dificuldade para se manter no poder, dada
a fragilidade das alianças entre moderados e direitistas
conservadores.
Enquanto isso, depois que Hitler saiu da prisão, o
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães
reestruturou-se. Organizaram-se grupos paramilitares,
como as SA (seções de assalto), cuja incumbência era
disseminar a violência contra os opositores da ideologia
nazista.
Em 1929, no entanto, a Alemanha sofreu violen- Hitler ao lado do presidente Hindenburg, em agosto de 1933.
tamente os reflexos da crise que havia começado em
Nova Iorque. Os norte-americanos retiraram seus capi- Com a autorização do presidente Hindenburg,
tais e não renovaram os empréstimos de curto prazo. O foram convocadas novas eleições após a dissolução do
Parlamento. A campanha eleitoral foi um verdadeiro ter-
mercado mundial fechou-se e provocou o fechamento
ror: reuniões invadidas, jornais depredados, assassina-
de fábricas alemãs e desemprego em massa. As expor-
tos de líderes rivais. Em 27 de fevereiro de 1933, os na-
tações, que em 1929 atingiram a cifra de 113,7 bilhões
zistas incendiaram o Parlamento alemão e culparam os
de dólares, baixaram para 98,7 bilhões, em 1933; a pro-
comunistas, que foram presos junto com os socialistas e
dução industrial caiu 39%; a fundição de aço, de 16,1
os liberais hostis ao nazismo. Restabeleceu-se a pena de
milhões toneladas em 1929, estava reduzida a 5,6 mi-
morte e foram suspensas as garantias individuais e civis.
lhões em 1932. Nesse ano, o desemprego atingiu sete
A pretensa conspiração comunista tinha a finali-
dade de levar os eleitores a votar no Partido Nazista. Os
1 O Plano Dawes foi elaborado por um comitê dirigido Charles G. Dawes
para viabilizar o pagamento das dívidas contraídas pela Alemanha no final nazistas tiveram 44% dos votos e os comunistas eleitos
da Primeira Guerra Mundial, decorrentes do Tratado de Versalhes. (81 deputados) foram excluídos do Parlamento, o que

12
deu aos nazistas maioria absoluta. A 23 de março, Hitler
conseguiu do Parlamento o voto que lhe dava plenos
poderes.
Começou a aplicar alguns pontos do progra-
ma nazista: todos os partidos políticos foram suspen-
sos (exceto o nazista), os sindicatos foram extintos, os
privilégios dos Estados foram diminuídos em favor do
poder central, o direito de greve foi cassado, os jornais
Soldados nazistas colam um cartaz na vitrine de uma
da oposição foram fechados, a censura à imprensa foi loja, em Berlim, com os dizeres:
“Alemães! Defendam-se! Não comprem de judeus”.
estabelecida e as primeiras medidas antissemitas foram
postas em prática.
Outros adversários não foram poupados. Milha-
A principal oposição a Hitler surgiu dentro do
res de obras foram destruídas ou excluídas dos museus,
próprio partido. Em 30 de junho de 1934, centenas de consideradas arte degenerada: abstracionismo, impres-
oponentes da SA foram massacrados, metralhados de sionismo e cubismo.
surpresa em uma reunião. Foi a Noite dos Longos Pu- O Estado nazista realizava uma intervenção
nhais. Ao todo foram mortas três mil pessoas em toda moderada na economia. Procurava controlar o mundo
a Alemanha sem contar os que foram juntar-se aos co- do trabalho e orientar a produção sem alterar basica-
munistas e judeus nos campos de concentração recen- mente a estrutura capitalista. Todas as atividades eco-
nômicas foram integradas de modo a harmonizarem
temente abertos.
a produção. O Estado fixava a jornada de trabalho, os
Com a morte do presidente Hindenburg, Hitler
salários e os lucros dos empresários, bem como vela-
assumiu o título de führer (guia), acumulando as fun-
va pela formação profissional e pelo lazer dos traba-
ções de chanceler e presidente. Nessas condições, anun- lhadores. No campo foi criado o Erbhof, domínio fami-
ciou ao mundo a fundação do Terceiro Reich (Terceiro liar com menos de 25 acres, inalienável, indivisível e
Império) alemão. transferível a um só herdeiro. Realizava-se uma frente
O membros do Partido Nazista ocuparam todos de trabalhadores, operários e camponeses e uma fren-
te de patrões, em estilo corporativo, supervisionadas
os cargos da administração pública e a política reduziu-
pelo führer. As grandes empresas foram protegidas,
-se às manifestações anuais do partido, os congressos
impondo-se a formação de cartéis e acelerando a
realizados em Nuremberg. O Parlamento, cem por cento concentração industrial.
nazista, reunia-se intermitentemente, dependendo da Buscou-se o desenvolvimento econômico com
vontade de Hitler de convocá-lo. base nos planos quadrienais. No primeiro plano, em
Os judeus foram duramente perseguidos e exclu- 1933, foram realizados numerosos empreendimen-
tos públicos para absorver a mão de obra: aeroportos,
ídos da administração, do ensino, do jornalismo, das ati-
autoestradas e ferrovias. O desemprego praticamente
vidades artísticas e literárias. Pelas leis de Nuremberg,
desapareceu em 1937, mas o grande trunfo foi o de-
de 1935, passavam à condição de súditos e perdiam senvolvimento da indústria bélica, que provocou a reto-
direitos civis, acesso a lugares públicos, casamento com mada industrial. Uma inflação disfarçada e empréstimos
“arianos”, punido como crime de profanação racial. O forçados financiaram essas atividades. Foi determinada
antissemitismo nazista chegou ao auge durante a Se- também a obrigatoriedade de pagamento das impor-
tações alemãs com produtos da indústria alemã, o que
gunda Guerra Mundial, com a solução final. Estima-se
correspondia às necessidades dos países da Europa
que aproximadamente seis milhões de judeus tenham Central exportadores de produtos primários.
sido mortos ao longo de todo Terceiro Reich (1933–
1945)

13
O segundo plano quadrienal, 1936, já sob a di-
reção do marechal Goering, tinha por finalidade libertar A Guerra Civil Espanhola
ao máximo a Alemanha das matérias-primas importa-
das. Retomou-se a exploração de minérios, avançou-se (1936–1939)
na pesquisa têxtil, na produção de borracha, de carbu-
rantes e de petróleo. Um fato colaborou com as tensas relações que
Em 1939, a indústria alemã era a segunda mais antecederam a Segunda Guerra Mundial: a guerra civil
poderosa do mundo. Faltavam, entretanto, minerais deflagrada entre fascistas e republicanos na Espanha.
para desenvolver totalmente a indústria siderúrgica. A Como toda a Península Ibérica, esse país era atrasado e
agricultura supria as necessidades do país em cerca de predominantemente agrário até o início do século XX,
75%. O fantástico desenvolvimento da indústria bélica quando teve início seu processo de industrialização. Nos
exigia grande quantidade de matéria-prima o que, por primeiros anos da década de 1930, a Espanha já pos-
sua vez, alimentava pretensões expansionistas. Todo o suía nas cidades uma parcela de sua população vincula-
esforço de produção bélica tinha por alvo a expansão da ao desenvolvimento industrial, que exigia mudanças
militarista sobre outros países, contribuindo diretamen-
no antigo regime.
te para a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Em 1931, o rei Afonso XIII, pressionado pelas
camadas urbanas que exigiam a República, abdicou.
Estabeleceu-se então um governo comandado pela
burguesia liberal. O crescimento das reivindicações po-
pulares, o anticlericalismo, o autonomismo das regiões
economicamente mais adiantadas (Catalunha e provín-
cias bascas), a reação dos antigos setores dominantes
na sociedade espanhola levaram o país a um impasse.
Surgiu nessa época um pequeno partido de característi-
cas fascistas, denominado Falange.
Para as eleições gerais de 1936, anarquistas,
O Ministério do Esclarecimento Popular, dirigido comunistas, socialistas radicais, socialistas moderados,
por Joseph Goebbels, controlava a imprensa, a publica- empresários liberais e minorias nacionais da Catalunha
ção de livros, o rádio, o teatro e o cinema. A propagan- e províncias bascas formaram a Frente Popular. Vitorio-
da nazista buscava condicionar a mente a reverenciar sos nas eleições, os partidos da Frente procuraram efeti-
o Führer e a obedecer ao regime. Concentrando-se no var várias reformas sociais prometidas em campanha. O
mito da raça e na infalibilidade do Führer, a propaganda presidente eleito, Manuel Azaña, anistiou 30 mil presos
nazista tentava desorientar a mente racional e dar ao
políticos, retomou a reforma agrária, deu autonomia à
indivíduo novos modelos nos quais acreditar e obedecer.
Catalunha e implementou a reforma da educação.
A propaganda visava moldar toda a nação a pensar e
Em 18 de julho de 1936, o general Francisco
responder de acordo com os comandos do Estado líder.
Franco deu início a um levante contra o governo repu-
“(...) Em maio de 1933, professores e alunos blicano. Recebeu a adesão da Falange, de latifundiários,
queimavam orgulhosamente livros considerados
dos banqueiros, dos industriais, da maior parte da classe
como uma ameaça à ideologia nazista. Muitos aca-
dêmicos elogiavam Hitler e o novo regime. Cerca média e de amplos setores da Igreja, à exceção do clero
de 10% dos professores universitários, principal- catalão e basco. Ao lado do governo republicano lega-
mente judeus, social-democratas e liberais, foram lista estavam operários, camponeses, catalães, bascos,
demitidos, muitas vezes com a aprovação de seus
pequenos industriais, enfim, todos que acreditavam na
colegas.”
democracia. Como tentativa de se defender, em outubro
Marvin Perry Civilização ocidental: uma história concisa. de 1936 o governo republicano decretou a formação de
São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 582. (Adaptado)
um exército popular. Começava assim a Guerra Civil
Espanhola.

14
Como a ditadura de Franco era extremamente
centralizadora, catalães e bascos passaram a utilizar o
esporte como trincheira nacionalista – clube do Atlético
de Bilbao, onde só jogam atletas bascos ou de ascen-
dência basca; parte da torcida do Barcelona (Catalunha)
considera seu clube um símbolo do ideal da autonomia
catalã. Durante a Segunda Guerra Mudial, o governo
fascista de Franco não inseriu oficialmente a Espanha
ao Eixo e à Alemanha, mas apenas como simpatizante,
bem como durante a Guerra Fria, associou-se aos Esta-
dos Unidos na luta contra o socialismo soviético. Esse
governo manteve-se no poder até a década de 1970.

Adolf Hitler e Francisco Franco

Essa guerra tornou-se rapidamente um foco de


tensão internacional. Os republicanos contavam com
um pequeno apoio material dos soviéticos e com o au-
xílio das Brigadas Internacionais, batalhões formados PICASSO, P. Guernica. Pintura-mural. Dis-
por operários, estudantes, intelectuais e militantes de ponível em: www.museoreinasofia.es
esquerda dos mais diversos países. Alguns escritores fa-
mosos participaram dessas brigadas, como Ernest Hem-
mingway e George Orwell.
Os falangistas, por sua vez, comandados por
Francisco Franco, contaram com amplo apoio da Alema-
nha e da Itália. Fascistas e nazistas auxiliaram as forças
nacionalistas – como ficaram conhecidos os comanda-
dos por Franco –, por meio de homens e de ajuda ma-
Disponível em: http://mrzine.monthlyreview.org.
terial e bélica.
Quando estoura a Guerra Civil Espanhola, em
A partir de fevereiro de 1937, o avanço das tro-
julho de 1936, Pablo Picasso torna-se um ardente de-
pas nacionalistas, auxiliadas pelos nazistas e fascistas, foi
fensor da causa republicana (...). E como instrumen-
mais violento. Tropas italianas tomaram Málaga. Em mar- to de guerra ele usou o pincel: em branco e preto e
ço de 1937, a aviação alemã, a famosa Legião Condor, retratou todo o horror de homens, mulheres e crian-
bombardeou a pequena cidade de Guernica, na região ças, mutilados, de forma magistralmente trágica. E
basca. A intervenção da Itália e da Alemanha foi decisiva, criou Guernica. Conta-se que Abetz, embaixador de
alterando a correlação de forças da luta e transformando Hitler em Paris, ficou tão impressionado com a obra,
a Espanha em um campo de testes dos novos armamen- que teria perguntado a Picasso, aparentando desin-
teresse:
tos.
– É obra sua?
A guerra civil terminou em 1939, quando os
– Não. Sua. – replicou o artista com frieza.
rebeldes conquistaram Madri, restabeleceram a monar- CARRASCO, Walcir. Picasso. São Paulo: Abril, 1977, p. 20.
Coleção Mestres da Pintura.
quia e impuseram um governo de tendências fascistas
liderado por Franco. Em três anos de guerra civil, o saldo
de morte chegou a um milhão. Surgia assim mais um
país totalitário na Europa.
15
Portugal
Salazar foi outro ditador fascista ibérico que no entreguerras, a partir de 1932, governou com o apoio de
Hitler, mas na Segunda Guerra Mundial manteve neutralidade oficial, que o manteve no poder, mesmo após o
conflito, porque soube se tornar aliado dos EUA na Guerra Fria. Vale salientar que essa perpetuação de Salazar no
poder manteve a repressão sobre as colônias portuguesas, notadamente na África, como Angola e Moçambique,
que tiveram dificuldade em promover a independência com a descolonização. Mesmo após a saída física de Salazar
do poder, o Estado português manteve a ditadura e a colonização. As independências das colônias somente ocor-
reram em 1974, após a Revolução dos Cravos, que democratizou Portugal.

Japão
O totalitarismo contemporâneo japonês teve início na segunda metade do século XIX, quando ocorreu uma
centralização excessiva do poder político e ideológico em torno do imperador, com o apoio do Exército. Essa cen-
tralização destruiu o Japão feudal do shogunato. A Revolução Meiji modernizou o Japão nos aspectos industriais,
uma vez que a elite ditatorial notou o atraso tecnológico japonês quando a esquadra norte-americana, liderada
por Perry, mostrou-se, em 1854, infinitamente superior ao Japão dos samurais, cavaleiros dos Shoguns. A solução
foi aniquilar a economia agrícola e descentralizada do Japão e inspirar-se na economia tecnológica do Ocidente,
implantando uma divinização do imperador, juntamente com excessiva militarização. Esse processo foi notado
quando, em 1905, o Japão derrotou a Rússia czarista, bem como quando invadiu a Manchúria chinesa em busca
de mercado consumidor e de matéria-prima para seu parque industrial.

16
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme O grande ditador

Adenoid Hynkel (Charles Chaplin) assume o governo de Tomainia.


Ele acredita em uma nação puramente ariana e passa a discriminar
os judeus locais. Esta situação é desconhecida por um barbeiro judeu
(Charles Chaplin), que está hospitalizado devido à participação em uma
batalha na Primeira Guerra Mundial. Ele recebe alta, mesmo sofrendo
de amnésia sobre o que aconteceu na guerra. Por ser judeu, passa a ser
perseguido e precisa viver no gueto.

Filme A onda

A escola onde o professor Rainer Wenger leciona começa a oferecer cursos


voltados a temas políticos, e ele fica responsável por ministrar o de autocracia.
Durante o mesmo, o professor percebe que os alunos, parte da terceira geração
após a Segunda Guerra Mundial, não acreditam que uma ditadura poderia surgir na
Alemanha moderna, então ele começa um experimento para mostrar o quão fácil é
manipular as massas.

Filme 1984

Embora não retrate especificamente a ascensão do nazismo, o livro consegue


abordar uma série de elementos importantes a se observar sobre regimes totalitários
e suas práticas.

Filme Terra e liberdade

Após a morte de seu avô, uma adolescente decide vasculhar seus documentos e
descobre que ele era um veterano da guerra civil espanhola. Durante sua juventude,
David se juntou ao Partido Comunista e logo se aliou ao POUM (Partido Obrero
de Unificación Marxista). Ele deixou a Inglaterra para lutar contra os fascistas na
Espanha, em 1936, vendo seus sonhos e ideologias serem postos à prova.

18
ASSISTIR

Filme O labirinto do fauno

Oficialmente, a guerra civil espanhola já terminou, mas um grupo de re-


beldes ainda luta nas montanhas ao norte de Navarra. Ofelia, uma menina de
10 anos, muda-se para a região com sua mãe, Carmen. Lá, seu novo padrasto as
espera, um oficial fascista que luta para exterminar os guerrilheiros da localidade.
Solitária, a menina logo descobre a amizade de Mercedes, jovem cozinheira da
casa, que serve de contato secreto dos rebeldes.

Filme A língua das mariposas

Enquanto a Espanha se aproxima da guerra civil, o garoto Moncho precisa se


preparar para o maior desafio de sua vida, a apenas algumas horas de seu primeiro dia
de aula. Ele tinha medo de ir à escola porque ficou sabendo que os professores batiam
nas crianças. Mas quando seu novo professor começa a dar aulas ao garoto em sua
casa, o menino tem uma oportunidade de conhecer melhor seu mestre, ficando fascina-
do por sua bondade e sabedoria, aspecto contrastante com a maioria dos professores
rígidos e autoritários da época.

LER

Livros
Soldados de Salamina – Javier Cercas

Uma reflexão sobre o que é memória e o que é história diante de


um dos episódios mais sangrentos da história universal: a guerra civil
espanhola. É o que oferece o romance de Javier Cercas, ao revisitar a
guerra civil espanhola e um de seus mais importantes personagens, o
líder da falange espanhola Ráfael Sanches Mazas.

19
INTERDISCIPLINARIDADE

George Orwell, escritor inglês conhecido pelos clássicos 1984 e A revolução dos bichos, participou da guerra
civil espanhola, batalhando ao lado dos republicanos. Seu livro Lutando na Espanha é tido como um dos melhores
relatos de guerra já escritos. O autor relata as tramas políticas entre stalinistas e anarquistas durante o desenrolar
do conflito, emitindo duras críticas ao governo soviético, que minava a atuação dos republicanos por meio de frau-
des e boicotes aos demais grupos políticos.
Apesar de ser escrito em linguagem simples, o livro contém inúmeras reflexões sociológicas e filosóficas,
dialogando com a realidade histórica e sociológica do período, isto é, sobre a ascensão e manutenção de governos
autoritários no ocidente.

20
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças
ou rupturas em processos de disputa pelo poder.

A habilidade 13 contempla diversos aspectos relacionados ao caráter e ao papel que di-


versos movimentos sociais assumiram durante a história. Significa dizer que, para além da
pauta reivindicatória de cada movimento, o estudante deve ater-se à composição social
do mesmo. Cabe lembrarmos de que a existência moderna dos movimentos sociais ga-
nhou força a partir da industrialização (séculos XVIII e XIX) e assumiu papel fundamental
durante o século XX.
Por vezes, também, esses movimentos se institucionalizam, ganhando contornos burocrá-
ticos e profissionais, transformando-se em partidos políticos. Dessa forma, o candidato
deve compreender o funcionamento, a composição social e os objetivos desses movi-
mentos sociais durante cada período histórico, seja na história brasileira e na chamada
história geral.

Modelo
(Enem) As Brigadas Internacionais foram unidades de combatentes formadas por voluntários de
53 nacionalidades dispostos a lutar em defesa da República espanhola. Estima-se que cerca de
60 mil cidadãos de várias partes do mundo – incluindo 40 brasileiros – tenham se incorporado
a essas unidades. Apesar de coordenadas pelos comunistas, as Brigadas contaram com membros
socialistas, liberais e de outras correntes político-ideológicas.
SOUZA, I.I. A guerra civil europeia. História Viva, n. 70, 2009 (fragmento).

A guerra civil espanhola expressou as disputas em curso na Europa na década de 1930. A perspectiva
política comum que promoveu a mobilização descrita foi o(a):
a) crítica ao stalinismo.
b) combate ao fascismo.
c) rejeição ao federalismo.
d) apoio ao corporativismo.
e) adesão ao anarquismo.

21
Análise Expositiva

Habilidade 13
O movimento fascista – incorporado pela Itália e pela Alemanha, onde ficou conhecido como
nazismo – ganhou corpo na Europa a partir da década de 1930. Sistematizado a partir de atitudes
autoritárias (como o unipartidarismo, a censura e o racismo), o fascismo foi responsável por alguns
episódios violentos no velho continente, o que fez surgir uma série de movimentos contrários a ele.
Alternativa B

Estrutura Conceitual
NAZISMO

A Contexto B Ideologia nazista


§§ Fascismo
§§ Derrota na Primeira Guerra Mundial: Tratado de Versalhes
§§ Repúdio ao Tratado de Versalhes
§§ Levante espartaquista (1919): força do marxismo/leninismo
§§ Antissemitismo
§§ República de Weimar (1919-1933): república federativa,
§§ Anticomunismo
parlamentar e democrática
§§ Nacionalismo exacerbado
§§ Crise econômica e inflação
§§ Estado totalitário
§§ Crise de 1929
§§ Unipartidarismo
§§ Militarismo
§§ Superioridade da raça ariana
§§ Expansionismo (“espaço vital”)
C Ascensão do nazismo §§ Grupos paramilitares (SA e SS)

1919 1923 1932 1933 1934


§§ Criação do Partido Nacional- §§ Putsch de Munique §§ Eleição de maioria §§ Hitler se torna chanceler §§ Hitler se torna
-Socialista dos Trabalhadores (golpe fracassado) Nazista no Parlamento (primeiro-ministro) Führer (guia)
Alemães ou Partido Nazista
§§ Líder: Adolf Hitler

D Governo nazista
1933 1935
§§ Incêndio do Parlamento §§ Perseguição a judeus
§§ Sociais-democratas expulsos Retomada econômica
1934 §§ Desenvolvimento industrial
§§ SA assassina opositores §§ Aliança entre Estado e capital privado
§§ Hitler se torna Führer §§ Estímulo a obras públicas (fim do desemprego)
§§ Criação do III Reich §§ Desenvolvimento da indústria bélica
22
GUERRA CIVIL ESPANHOLA (1936-1939)

A Contexto B Antecedentes
§§ Desenvolvimento industrial acelerado (séc. XX)
§§ País agrícola
§§ Necessidade de mudanças políticas
§§ Baixa industrialização
§§ 1931
§§ Força do catolicismo
§§ Abdicação do rei
§§ Concentração do poder real
§§ Proclamação de república liberal
§§ Força das reivindicações populares
§§ Luta por autonomias locais (Ex.: Catalunha)
§§ Formação da Falange (Partido Fascista)

C Guerra civil

Eleição de 1936 Setores e apoio internacional


§§ Vitória da Frente Popular (anarquistas, §§ Republicanos: apoio da URSS e brigadas populares
comunistas, socialistas, democratas e §§ Franquistas: apoio da Itália e da Alemanha
republicanos liberais) Fim da guerra civil
§§ Levante militar (general Franco, Falange, §§ Vitória dos franquistas
banqueiros e latifundiários) §§ Governo do general Franco até 1975

PORTUGAL
Salazarismo
§§ 1932 – golpe de Antonio Salazar
§§ Governo de inspiração fascista
§§ Neutralidade na Segunda Guerra Mundial
§§ Apoio aos EUA na Guerra Fria
§§ Manutenção das colônias africanas
§§ Fim da ditadura e independência com a
Revolução dos Cravos (1974)

JAPÃO

Revolução Meiji
§§ Meados do século XIX
§§ Centralização política no imperador
§§ Modernização da indústria e do exército
§§ Expansionismo no século XX

23
4 8
7 4 Segunda Guerra Mundial

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 2, 3, 4, 5 ,6, 7,
8, 9, 10, 11, 13,
14, 15, 16, 19, 20,
21, 22, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Soldados alemães invadem a Polônia, em 1º de setembro de 1939: começava a Segunda Guerra Mundial.

Introdução
Entre os anos de 1939 e 1945, o mundo foi envolvido por um conflito de grandes proporções que ultrapas-
sou as fronteiras da Europa, tendo como pano de fundo a concorrência imperialista entre o capitalismo industrial
monopolista inglês e francês em contraposição ao alemão, japonês e italiano, acrescido da óbvia divergência
entre o capitalismo e o socialismo da recém-criada URSS. É possível afirmar que a Segunda Guerra Mundial é uma
continuação da Primeira, pois as disputas por mercado consumidor entre a burguesia da antiga Entente contra a
burguesia do extinto II Reich alemão não foram solucionadas com o término do conflito militar em 1918. Em 1939,
os blocos militares eram os Aliados, formados pela Inglaterra e a França, acrescidos pelos Estados Unidos e pela
União Soviética, em 1941; e o outro bloco bélico era o Eixo, formado pela Alemanha, Itália e Japão. A Inglaterra
e a França representavam ideologicamente a democracia burguesa ocidental, que valorizava a política pela via
parlamentar e o exercício da cidadania, seja por intermédio da Monarquia Constitucional, no curso inglês, ou da
República, no francês. O Eixo se orientava pelo fascismo de Estados totalitários, pois a Alemanha era comandada
por Hitler com o III Reich, a Itália era dirigida por Benito Mussolini e o Japão pelo imperador divinizado Hirohito. No
início da guerra, o governo estadunidense adotou uma política de distanciamento dos problemas europeus. Apesar
de ser próximo da Inglaterra, relutou até 1941 em participar diretamente do conflito; a União Soviética stalinista
e socialista estava isolada da conjuntura internacional e inimiga dos capitalistas, tanto dos Aliados, como do Eixo,
embora uma exceção desse “cordão sanitário” tenha ocorrido quando a diplomacia aproximou Berlim de Moscou
para firmar um singular pacto de paz que vigorou até 1941.

Antecedentes
Hitler se aproveitava das questões internacionais para ampliar seu sistema de alianças. Aproximou-se da Itália
em 1935, prestando-lhe ajuda econômica durante o embargo econômico aplicado pela Liga das Nações por causa da
invasão da Etiópia. Juntamente com Mussolini, apoiou Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939,
aproveitando para testar a eficiência de seus tanques e aviões. Assinou com o Japão o Pacto Anti-Komintern, em
novembro de 1936, destinado a conter a União Soviética e a ação da Internacional Comunista. A Itália, a Hungria e
a Espanha aderiram ao pacto. Ao mesmo tempo, Hitler se aproximava da Itália e Mussolini proclamava o Eixo Roma–
Berlim, uma manifestação de solidariedade, que o Duce lembraria durante a visita do Führer a Roma, em 1938.

27
O potencial de guerra alemão cresceu enorme-
mente com a integração da indústria tcheca. Mussolini
aproveitou para invadir e conquistar a Albânia. A apro-
ximação entre os dois Estados totalitários foi consagra-
da na aliança ofensiva entre Itália e Alemanha, o Pacto
de Aço, firmado em maio de 1939.
Para posterior desespero dos Aliados, Hitler e
Stalin resolveram criar o Pacto de não agressão ger-
mano-soviético. Esse acordo permitiria que, no futu-
Benito Mussolini e Adolf Hitler, em 28 de setembro de 1938. ro, a Alemanha pudesse invadir seus inimigos europeus
ocidentais (a oeste) sem dividir seu exército, pois estaria
O III Reich germânico não aceitava as imposi-
em “harmonia” com sua inimiga URSS (a leste). Tam-
ções do Tratado de Versalhes e passou a ambicionar um
bém conhecido como Ribbentrop-Molotov, esse pacto
crescimento bélico e territorial, principalmente sobre o
ajudaria o governo de Stalin, pois a União Soviética não
corredor polonês, embora o próprio Tratado de Versa-
tinha estrutura militar que pudesse protegê-la de um
lhes proibisse o militarismo alemão.
ataque nazista. Com isso, a URSS ganharia tempo para
Foi nesse contexto que o parlamento britânico
implantar uma política armamentista. Havia, também,
elaborou um plano diplomático chamado de Política de
outros acordos firmados entre as duas potências, como
Apaziguamento, que se caracterizava pela “permissão”
o da invasão e divisão da Polônia por tropas alemãs e
de um relativo crescimento bélico alemão, que teria o
soviéticas. Além disso, os soviéticos receberam secreta-
intuito de barrar um possível avanço do socialismo so-
mente o controle sobre a Finlândia, a Letônia, a Estônia
viético, ou seja, o Estado inglês queria que o nazismo
e a Bessarábia.1 Os alemães ficaram com a Lituânia.
defendesse a civilização ocidental da “barbárie” comu-
nista. Como resultado, Hitler conseguiu fortalecer-se e
passou a buscar o controle territorial de parte da Europa
central, que ele chamava de “espaço vital”, apoiado ve-
ladamente pela Inglaterra e pela França na formação do
III Reich. Antes da Segunda Guerra Mundial começar,
a Alemanha já tinha anexado a Áustria e a Tchecoslo-
váquia, cuja invasão foi legalizada pela Conferência de
Munique, em setembro de 1938.

Cerimônia de assinatura do Pacto de não agressão Germano-Soviético.


Molotov está assinando.
Da esquerda para direita: Chamberlain (Inglaterra), Daladier (França), Atrás, Ribbentrop (com os olhos fechados) ao lado de Stalin.
Hitler (Alemanha), Mussolini (Itália) e
Ciano (ministro de Assuntos Exteriores da Itália), quando da assinatura
do Acordo de Munique.
1 A Bessarábia é o nome de uma região histórica da Eu-
ropa oriental, cujo território se divide entre a Moldávia e a Ucrânia.

28
Fatores da guerra objetivo manter a paz e a ordem entre os diver-
sos países. No entanto, Inglaterra e França do-
minaram o organismo, direcionando as decisões
A esperança de uma paz duradoura, após o fim de acordo com seus interesses. Quando algum
da Primeira Guerra Mundial, foi mera ilusão. Vários fa- país menos importante era agredido, as decisões
tores criaram as condições para que um novo conflito da Liga das Nações eram quase sempre brandas
surgisse, envolvendo as nações europeias e a maior par- em relação aos agressores. França e Inglaterra
te dos países do mundo, no período de 1939 a 1945. temiam gerar conflitos com as potências expan-
§§ O comportamento revanchista das nações per- sionistas. Dessa forma, em inúmeras vezes, as
dedoras da Primeira Guerra Mundial, especial-
pequenas nações foram sacrificadas.
mente da Alemanha em relação à França, contou
com vencidos desgastados pela guerra e sobre-
carregados com seus compromissos financeiros
para com os vencedores (indenizações e repa-
As fases da guerra
rações). Cresciam seus problemas econômicos e
sociais. Na Itália e na Alemanha, o desconten-
Avanço do Eixo (1939–1941)
tamento da população deu oportunidade ao
surgimento de partidos totalitários – fascista Nesse contexto, o cenário da guerra já estava
e nazista –, culminando com a implantação de criado e, em 1º de setembro de 1939, as forças béli-
Estados militaristas e expansionistas, com forte cas de Hitler invadiram o corredor polonês da cidade
apelo nacionalista. de Danzig, hoje Gdánsk. Em resposta, o governo inglês,
§§ A crise de 1929 e suas graves consequências mais bem preparado, decretou guerra à Alemanha; em
políticas e sociais em quase todos os países da 1940, com a blitzkrieg (guerra relâmpago), as tropas
Europa. Em razão de sua amplitude internacio- nazistas invadiram a Dinamarca, a Noruega, a Holanda,
nal, reduziu o mercado consumidor de todas a Bélgica e a França. Diante dessa inusitada realidade,
as nações capitalistas. Os países atingidos pela os exércitos francês e inglês foram obrigados à Retirada
grande depressão procuraram defender seus de Dunquerque e a fugirem para a Grã-Bretanha.
mercados internos da concorrência estrangeira
através da elevação das tarifas alfandegárias.
Esse nacionalismo econômico intensificou as lu-
tas pelo domínio dos mercados entre as várias
potências imperialistas.
§§ O surgimento de governos totalitários, militaris-
tas e expansionistas. A partir de 1930, quando
os efeitos da recessão econômica repercutiram
em todo o mundo, iniciou-se o expansionismo
de alguns países imperialistas. A Itália ocupou a Tropas nazistas invadem Paris, durante a Segunda Guerra Mundial.
Etiópia, em 1935, situada no Nordeste da Áfri-
ca. A Alemanha, desrespeitando o Tratado de A França foi dividida em duas áreas. O Sul con-
Versalhes, remilitarizou a região da Renânia, em tinuou supostamente independente, nomeada de Re-
1936, e anexou a Áustria e a Tchecoslováquia, pública de Vichy e liderada pelo general francês Pétain,
em 1938. O Japão, no segundo semestre de que não demonstrou resistência à ascensão de Hitler, por
1931, partiu para a conquista da Manchúria – isso mesmo foi considerado seu colaborador; já o Norte
que pertencia à China –, começando, assim, a foi completamente ocupado pelas tropas nazistas, que
penetração naquele país dominado pelo gover- passaram a administrá-lo. Vale salientar que o acervo ar-
no de Chiang Kai-shek. quitetônico de Paris foi deliberadamente protegido por
§§ O fracasso da Liga das Nações. Ao longo da Hitler, pois ele queria, numa suposta vitória alemã, no
década de 1930, o mundo contava com a Liga pós-guerra, embelezar Berlim e superar a cidade das lu-
das Nações, órgão internacional que tinha por zes. Parte considerável da população francesa humilhada,

29
sem poder lutar abertamente contra o poderoso exército germânico, criou o Movimento da Resistência, que, mediante
atos de sabotagem, espionagem e atentados, ajudou a minar a ocupação hitlerista. As tropas francesas fixadas em
solo inglês foram lideradas pelo general Charles de Gaulle, que as manteve unidas e com a chama da esperança acesa
de que era viável, num futuro não muito remoto, voltar para sua pátria e libertá-la do jugo nazista. É importante salien-
tar que de Gaulle também utilizava emissoras inglesas de rádio de ondas curtas para ser ouvido, reservadamente, por
membros da Resistência e, com isso, articular ações contra o domínio germânico. Ao final da Segunda Guerra Mundial,
a população francesa elegeu de Gaulle presidente da República.

General Charles de Gaulle discursa na BBC, em Londres, em 30 de outubro de 1941.

Após vencer a França, a Alemanha preparou-se para invadir a Inglaterra pelo canal da Mancha. Contudo,
a força naval britânica mostrou-se eficiente e conseguiu afundar o encouraçado Bismarck, evitando, assim, ser
invadida por mar. Em vista disso, Hitler fustigou a marinha de guerra e comercial britânica com seus submarinos,
denominados “lobos do mar”, e lançou mão da tática de derrotar o reino britânico pelo ar, com gigantescos ata-
ques aéreos da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), dando início, em setembro de 1940, à Batalha da Inglaterra. Essa
tática alemã arruinou a economia britânica. Contudo, a Inglaterra não se rendeu graças à valentia dos pilotos da
RAF (Força Aérea Real), do apoio moral da coroa inglesa, na pessoa da rainha-mãe, e à magnífica ajuda econômica
dos EUA. A derrota da Alemanha nessa batalha obrigou Hitler a adiar indefinidamente a Operação Leão do Mar,
cujo objetivo era invadir a Inglaterra. Referindo-se ao heroico desempenho dos pilotos da RAF nessa batalha, o
primeiro-ministro inglês Winston Churchill afirmou: “Nunca na história dos grandes conflitos humanos, tantos
deveram tanto a tão poucos”.

Londres, após oito semanas de violentos bombardeios alemães, em 1940,


quando foram despejadas mais de 20 mil toneladas de bombas sobre a cidade.

30
Em fevereiro de 1941, após o fracasso da ofensiva italiana no Norte da África, a Alemanha desembarcou na
Líbia, com o Afrikakorps, comandado pelo general Rommel. Seu objetivo era conquistar o canal de Suez, cortando,
assim, as rotas vitais da Inglaterra e isolando-a de seu império colonial. Ao mesmo tempo, ocorreu a adesão da
Hungria, da Romênia e da Bulgária às forças do Eixo. Em maio de 1941, a ocupação da Iugoslávia e da Grécia
completou o isolamento da Inglaterra.
Com o fracasso na Batalha da Inglaterra, a Alemanha colocou-se diante da perspectiva de uma guerra de
longa duração na Europa. Com a finalidade de assegurar suprimentos vitais à continuação da guerra, Hitler rasgou
o Pacto de não agressão germano-soviético, ordenou a invasão da União Soviética e deu início à Operação Barba-
rossa. A invasão estendeu-se por uma frente de quase três mil quilômetros com vistas às conquistas simultâneas
de Leningrado, ao norte, Moscou, ao centro, e Ucrânia e Cáucaso, ao sul.

Paralelamente, agravavam-se as tensões entre os Estados Unidos e o Japão, na Ásia e no Pacífico. Em 1941,
prosseguia a Guerra Sino-japonesa. Com a queda da França, o Japão promoveu a ocupação da Indochina Francesa.
Em novembro, o governo estadunidense decretou o embargo comercial ao Japão e exigiu a imediata evacuação da
China e da Indochina. Em 7 de dezembro de 1941, enquanto prosseguiam as negociações diplomáticas entre os
dois países, o Japão atacou sem prévia declaração de guerra a base naval estadunidense de Pearl Harbor, no Havaí.
Logo depois, a Alemanha e a Itália declaravam guerra aos Estados Unidos.

31
Operação Barbarossa (Barba Ruiva). Pretendia tam-
bém destruir o comunismo representado pelo gover-
no de Stalin. Apesar de socialista, a URSS foi recebida
de braços abertos pelas combalidas forças capitalistas
inglesas e francesas, cujos exércitos tinham sido divi-
didos para penetrar o Leste europeu. Hitler acreditava
que venceria a União Soviética em semanas ou meses,
mas experientes generais alemães, como Rommel, sa-
biam que seu exército possivelmente seria derrotado.
O encouraçado USS West Virginia (BB-48) em chamas, atingido por um
bombardeio japonês durante o ataque a Pearl Harbor. Hitler estava cometendo os mesmos erros de Napoleão
Bonaparte. Foi o que realmente ocorreu, uma vez que,
O bombardeio a Pearl Harbor foi seguido de uma utilizando a tática da terra arrasada e do extremo frio, o
ofensiva japonesa na Ásia meridional e no Pacífico. A Exército Vermelho aniquilou as forças alemãs, em 1943,
Malásia Britânica, o porto de Cingapura, a Birmânia, a e passou a atacar a Alemanha. Por isso, considera-se
Indonésia e as Filipinas sucumbiram aos ataques japo- a Batalha de Stalingrado “o começo do fim da Alema-
neses. No litoral da China, foi ocupado o porto de Hong nha”.
Kong. No Pacífico, foram conquistadas ilhas pertencen-
tes aos EUA e à Inglaterra. A ocupação japonesa dessas
áreas foi recheada de atitudes de genocídio, semelhan-
tes às dos nazistas nos campos de concentração na
Europa.

Ataque do Exército Vermelho em Stalingrado, em fe-


vereiro de 1943, que deteve a ofensiva alemã e
obrigou o exército nazista a se render, pondo fim ao mito da invencibili-
dade alemã.
Quando o Japão atacou os EUA em Pearl Har-
bor, avaliou que não teria dificuldade em controlar de-
finitivamente o Pacífico e o extremo Oriente. Contudo,
o governo Roosevelt passou a fortalecer os Aliados e
Área sob domínio japonês, durante a Segunda Guerra Mundial.
a economia estadunidense mostrou sua pujança. Em
pouquíssimo tempo, construiu navios, aviões e fuzis,
oxigenando os Aliados e, paulatinamente, enviando
Ascensão dos Aliados (1941–1945) armamentos e tropas para a Europa ocidental e para
o Pacífico. Também paulatinamente, o Japão teve suas
O ano de 1941 marcou a mudança do curso da forças armadas, notadamente a marinha, arrasada em
guerra. O Eixo, até então imbatível, tomou duas deci- batalhas como a de Midway e Iwojima. Apesar de os
sões nefastas para a continuidade do seu domínio: in- ditadores Franco, na Espanha, e Salazar, em Portugal,
vadir a União Soviética e atacar a base estadunidense pertencerem à área de influência de Hitler, eles não en-
de Pearl Harbor, no Pacífico, pelo Japão. traram diretamente na guerra, o que rendeu-lhes a não
Após o fracasso na Batalha da Inglaterra, a Ale- perseguição por parte dos Aliados. Hitler sofreu derrotas
manha resolveu ocupar a URSS em busca de reservas na Iugoslávia pelos guerrilheiros partisans, liderados por
de matéria-prima e de petróleo, no Cáucaso, e aniquilar Tito. Mesmo com o socorro alemão às tropas de Mus-
o que os nazistas consideravam a suposta raça inferior solini, os partisans atacaram o belicismo nazista e se
dos eslavos. Em razão disso, a invasão foi chamada de refugiaram eficazmente nas montanhas.

32
No Norte da África, o Afrikakorps alemão, com
Derrota do Eixo
seus tanques panzers, liderados pelo general Rommel,
foi derrotado fragorosamente pelas forças anglo-france- Com a derrota da Itália, fechou-se o cerco à Ale-
sas do general britânico Montgomery e pelos blindados manha. A leste, a ofensiva soviética culminou, em 1944,
estadunidenses do general Patton, que aniquilou os ale- com a libertação da Romênia, da Bulgária, da Tchecos-
mães, em maio de 1943, e partiu para derrotar as tropas lováquia e da Hungria pelo Exército Vermelho.
de Mussolini, na Itália. Após a Batalha de Stalingrado, a Alemanha foi
Em julho de 1943, as forças aliadas desembarca- perdendo grande contingente de tropas no Leste em ra-
ram na Sicília. Logo depois, Mussolini foi destituído pelo zão do incisivo avanço soviético, que fez diminuir o po-
rei Vitor Emanuel III. Foi nesse momento que o Brasil der germânico no canal da Mancha. Como consequên-
entrou na guerra ao lado dos Aliados e o governo dita- cia, o alto comando aliado europeu ocidental, nas mãos
torial do Estado Novo de Vargas criou a Força Expedicio- do general estadunidense Eisenhower, reuniu tropas
nária Brasileira, FEB. Ao lado da Força Aérea Brasileira, dos EUA, inglesas e francesas e penetrou no território
FAB, os pracinhas brasileiros conseguiram grandes vitó- europeu, libertando a França no episódio que se tornou
rias em Monte Castelo e Montese. conhecido como o Dia D, 6 de junho de 1944, quando
as tropas aliadas desembarcaram na Normandia.

Desembarque das forças aliadas na Normandia, França: o Dia D.

Enquanto isso, em janeiro de 1945, a Polônia


fora libertada pelos russos, que logo depois realizaram
a junção de suas tropas com as estadunidenses às mar-
gens do rio Elba. Com o suicídio de Hitler, a conquista
de Berlim pelo Exército Vermelho e a queda do III Reich,
em maio de 1945, terminava a guerra na Europa.
Soldado brasileiro estampado no jornal Cruzeiro do Sul. Apesar da
expressão popular,
“é mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”, não foi
bem o que ocorreu.

Em setembro de 1943, o novo governo italiano


firmou um armistício com os Aliados, retirando a Itália
da guerra. Libertado por um comando nazista, Mussoli-
ni fundou, ao norte do país, a efêmera República Social
Italiana. Em outubro, a Itália uniu-se aos Aliados e de-
O Exército Vermelho conquista Berlim. Era o fim da Segunda Guerra na
clarou guerra à Alemanha e, em abril de 1945, ocorreu Europa.
a capitulação das forças nazistas na Itália. Mussolini foi
detido ao tentar fugir para a Suíça e, em seguida, foi No Pacífico, apesar do inequívoco recuo, o Japão
fuzilado por um comando da Resistência Italiana Anti- relutava em render-se, pois acreditava que a derrota seria
fascista. um martírio religioso, já que o imperador Hirohito era con-
siderado Deus. Em razão disso, muitos pilotos japoneses

33
transformaram-se em kamikazes e praticaram o suicídio
bélico, utilizando seus aviões como mísseis para melhor
se chocar contra os navios dos EUA. Foi nesse contexto
que o presidente estadunidenses Harry Truman autori-
zou o bombardeio atômico em Hiroshima (6 de agosto
de 1945), cuja bomba foi intitulada de Little boy, e em
Nagazaki (9 de agosto de 1945). É curioso notar que a
bomba atômica chamada de Fat man, composta por plu-
tônio-239, foi detonada em Nagazaki, mas tinha como
principal alvo a antiga cidade de Kokura, que deixou de
Explosão nuclear em Nagasaki, Império do Japão, em 9 de agosto de 1945.
ser bombardeada porque a tripulação do bombardeiro
B-29 não conseguiu localizar o centro dela e, por isso, As conferências
rumou para Nagazaki.
As bombas nucleares foram concebidas pelo dis- Ao longo do conflito, as potências aliadas reali-
pendioso Projeto Manhattan, liderado pelo físico Oppe- zaram inúmeras conferências, cujas decisões diplomáti-
nheimer, no deserto do Novo México. No seu início, esse cas refletiram-se política e militarmente no mundo do
projeto teve o apoio do físico pacifista Albert Einstein, pós-guerra.
que, apesar de não participar diretamente da confec-
ção dos artefatos, acreditava que sua concepção teria o Conferência do Cairo (novembro de 1943)
propósito de aniquilar a expansão do nazismo, ou seja,
Após o início da contraofensiva estadunidense
seria uma bomba da “cidadania”. Por isso, muitos cien-
na guerra do Pacífico e a capitulação da Itália, realizou-
tistas, inclusive Einstein, criticaram o bombardeio sobre
-se no Cairo, capital do Egito, a primeira conferência
o Japão, pois tinham medo de que o uso de armas nu-
dos Aliados. Dela participaram Roosevelt, Churchill e
cleares em guerras ficasse sem controle. Ressalte-se que Chiang Kai-shek, presidente da China, com o objetivo
o uso das bombas nucleares teve como pretexto oficial de discutir o destino político da Ásia oriental, após a
a aceleração da rendição japonesa; contudo, muitos his- derrota do Japão. Nela, os Aliados decidiram devolver à
toriadores acreditam que a real causa das detonações China todos os territórios tomados pelo Japão, durante
esteja relacionada à antecipação da Guerra Fria, já que a Guerra Sino-japonesa. Foi decidido ainda o restabe-
os EUA queriam anular a ascensão das forças socialistas lecimento da independência da Coreia e de todos os
soviéticas. países conquistados pelo Japão.
Com a rendição japonesa, em 2 de setembro de
1945, a Segunda Guerra Mundial terminava e, com ela, Conferência de Teerã (dezembro de 1943)
a hegemonia europeia sobre o mundo, que assistiu ao
surgimento de uma nova ordem mundial dominada pela Os “três grandes” – Roosevelt, Churchill e Stalin
Guerra Fria. – reuniram-se pela primeira vez em Teerã, capital do Irã.
A ofensiva soviética no Leste europeu e a capitulação
da Itália haviam alterado de forma irreversível o curso
da guerra a favor dos Aliados e selado definitivamen-
te o destino da Alemanha nazista. Nessa conferência
decidiu-se a abertura de uma segunda frente de guer-
ra na Europa ocidental e foi escolhida a costa france-
sa como local de desembarque das forças aliadas. Os
Estados Unidos e a Inglaterra também reconheceram
oficialmente a anexação pela União Soviética dos pa-
íses bálticos – Lituânia, Letônia e Estônia – e o Leste
Destruição de Hiroshima causada pela bomba atômica, em 6 de agosto
de 1945. da Polônia.

34
Conferência de Ialta (fevereiro de 1945) Foi decidido ainda suprimir a indústria de guerra
alemã, reduzir sua produção de aço, transferir a maior
parte de suas fábricas para os países aliados e promover
o julgamento dos líderes do regime nazista. Esse jul-
gamento foi realizado pelo Tribunal de Nuremberg, do
qual resultou a condenação à morte de 12 líderes na-
zistas. Finalmente, a Conferência de Potsdam confirmou
a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação
dos países aliados – Estados Unidos, Inglaterra, França
e União Soviética.
Churchill, Roosevelt e Stalin: os “três grandes” reunidos em Ialta, 1945.

Quando já era iminente a derrota do III Reich, Consequências da Segunda


os “três grandes” voltaram a se reunir em Ialta, na Cri-
meia, às margens do mar Negro. Nesse encontro, foi Guerra Mundial
fixada oficialmente a Linha Curzon como fronteira en-
tre a União soviética e a Polônia, e foram cedidas aos Perdas humanas
soviéticos as regiões ocupadas quando da partilha, em
1939; em compensação, a Polônia receberia, a leste, os Os números relativos às perdas humanas são
territórios alemães até as margens do rio Oder. Decidiu- dificilmente calculáveis. No mínimo, chegaram a 50 mi-
-se também que os Estados Unidos, a União Soviética e lhões, dentre os quais 20 milhões de russos, que sacrifi-
a Inglaterra manteriam controle sobre os países liberta- caram, em população e recursos materiais, mais do que
dos da Europa oriental e que a Alemanha seria dividida os outros participantes. Morreram, proporcionalmente,
em zonas de ocupação sob a direção de um Conselho muito mais civis que militares. A guerra mecanizada, de
Aliado. movimentos rápidos, fez mais mortos do que prisionei-
Outra decisão importante, com a anuência do ros. Bombardeios aéreos dizimaram populações inteiras
presidente Roosevelt, foi transformar os países da Eu- de civis. Em Berlim, fizeram 50 mil vítimas; em Dresden,
ropa oriental em área de influência da União Soviética. 200 mil.
Finalmente, estabeleceu-se a intervenção da União So-
viética na guerra contra o Japão em troca de Port Arthur,
ao sul de Sacalina e das ilhas Kurilas. Pela relevância Genocídio
de suas decisões e pelas consequências que produziu
no pós-guerra, a Conferência de Ialta foi considerada a Com a penetração de soldados aliados em terri-
mais importante da Segunda Guerra Mundial. tórios anteriormente controlados pelas forças do Eixo,
como a Polônia, constatou-se a nefasta política nazista
de extermínio de minorias e de pessoas que se distan-
Conferência de Potsdam (julho de 1945)
ciassem do padrão de raça “pura” proposto pelos na-
Após a derrota alemã, os Aliados se reuniram zistas. As tropas aliadas encontraram campos de con-
para uma nova conferência em Potsdam, subúrbio de centração, o mais conhecido deles foi o de Auschwitz.
Berlim. Dos “três grandes”, apenas Stalin participou Judeus, ciganos, eslavos, homossexuais, germânicos
dessa conferência, uma vez que Churchill havia perdido com deficiências mentais sucumbiram numa dor atroz
as eleições na Inglaterra e fora substituído por Clement que ainda repercute entre os homens e as ideias de li-
Attlee, e Roosevelt falecera pouco antes do fim da guer- berdade e tolerância. Os judeus chamaram-na de Holo-
ra e fora substituído por Harry Truman. Em Potsdam, causto; Hitler, de “solução final”.
foi fixado em 20 bilhões de dólares o montante que a
Alemanha pagaria como reparações de guerra. Dessa
importância, caberiam 50% à União soviética, 14% à
Inglaterra, 12,5% aos Estados Unidos e 10% à França.

35
oriental foi ocupada pela Polônia. Milhões de alemães
fugiram ou foram expulsos da Prússia, da Tchecoslo-
váquia, da Romênia, da Iugoslávia e da Hungria, onde
seus ancestrais haviam vivido durante séculos. Os cus-
tos materiais foram espantosos. Por toda parte, cidades
estavam em ruínas: pontes, sistemas ferroviários, vias
fluviais e portos destruídos; terras agrícolas devastadas,
Campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. gado morto e minas de carvão desabadas. Pessoas sem
lar e famintas vagavam pelas ruas e estradas. A Europa
Para apressar a “solução final”, os campos de enfrentou uma gigantesca tarefa de reconstrução.
concentração, que originalmente se destinavam a presos
A guerra provocou alterações nas estruturas de
políticos, foram transformados em centros de execução,
poder. Os Estados Unidos e a União Soviética surgi-
e novos campos foram construídos com esse objetivo. Ju-
ram como os dois mais poderosos Estados do mundo.
deus de toda Europa eram presos, amontoados em vagões
As grandes potências tradicionais – Inglaterra, França
fechados de transportar gado e enviados para Treblinka,
e Alemanha – foram obscurecidas por essas superpo-
Auschwitz, Dachau, Buchenwald e outros campos de
tências. Os Estados Unidos tinham a bomba atômica e
extermínio. Utilizando a tecnologia e a burocracia de
um imenso poderio industrial; a União Soviética tinha
um Estado moderno, os nazistas mataram cerca de seis
o maior exército do mundo e estendia seu domínio à
milhões de judeus, dois terços da população judaica da
Europa oriental, além de dominar também a tecnologia
Europa. Cerca de 1,5 milhão dos assassinados eram
da energia atômica. Com a Alemanha derrotada, o prin-
crianças; quase 90% das crianças judias em terras ocu-
cipal incentivo para a cooperação soviético-americana
padas pelos nazistas morreram. Dezenas de milhares
desaparecera.
de famílias inteiras desapareceram sem deixar traço.
A Segunda Guerra Mundial acelerou a desinte-
Comunidades judaicas com centenas de anos desapa-
gração dos impérios europeus de além-mar. Os Esta-
receram para jamais serem restabelecidas. Muitos dos
dos europeus não puderam mais justificar o domínio
criminosos de guerra alemães foram julgados pelo Tri-
de africanos e asiáticos, depois de terem lutado para
bunal de Nuremberg e alguns deles condenados à mor-
libertar terras europeias do imperialismo alemão. A Grã-
te. Com o avanço da discussão sobre as garantias dos
-Bretanha abriu mão da Índia; a França, do Líbano e da
direitos humanos, o Tribunal de Nuremberg tornou-se
Síria; e os holandeses, da Indonésia. Nas décadas de
a semente para o surgimento do Tribunal Internacional
1950 e 1960, praticamente todos os territórios coloniais
de Haia, na Holanda, que tem a finalidade de julgar os
conquistaram a independência – a descolonização afro-
atuais criminosos de guerra.
-asiática. Nos casos em que a potência colonial resistiu
à independência desejada pela colônia, o preço foi o
derramamento de sangue.
Sob o ponto de vista econômico, os grandes be-
neficiários foram os Estados Unidos, que perderam no
conflito em torno de 400 mil homens, mas dobraram sua
produção industrial entre 1939 e 1945. A aeronáutica
passou a liderar a indústria estadunidense; os setores
Os líderes nazistas Hermann Goering (de ócu-
los escuros) e Rudolph Hess, no Tribunal de Nuremberg. têxtil e químico livraram-se da concorrência europeia.
A defesa clássica de ambos foi que “só estavam seguindo ordens”. Com o gasto de 300 milhões de dólares, os estaduni-
A guerra provocou uma enorme migração de po- denses viram crescer sua produção industrial em 75%;
vos sem paralelo na história humana. A União Soviética no setor agrícola, a produção de trigo cresceu 25%. No
anexou o Leste da Prússia e as terras bálticas da Letônia, final da guerra, os Estados Unidos contavam com su-
Lituânia e Estônia, deportando pela força muitos habi- perávit na balança comercial de 11 bilhões de dólares,
tantes para a Rússia central. A maior parte da Prússia concentrando 80% das reservas mundiais de ouro.

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INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Rio 42 - Chico Buarque


Fonte:Youtube

Filme Roma, cidade aberta

Um dos líderes da resistência, Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), é procurado


pelos nazistas. Giorgio planeja entregar um milhão de liras para seus compatriotas.
Ele se esconde no apartamento de Francesco (Francesco Grandjacquet) e pede ajuda
à noiva de Francesco, Pina (Anna Magnani), que está grávida. Giorgio planeja deixar
um padre católico, Don Pietro (Aldo Fabrizi), fazer a entrega do dinheiro.

Filme A lista de Schindler

O filme conta a história de Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida
de mais de mil judeus durante o Holocausto ao empregá-los em sua fábrica.

Filme A vida é bela

Durante a Segunda Guerra Mundial na Itália, o judeu Guido (Roberto Benigni) e


seu filho Giosué são levados para um campo de concentração nazista. Afastado da
mulher, ele tem que usar sua imaginação para fazer o menino acreditar que estão
participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da
violência que os cercam.

38
LER

Livros
A rosa do povo – Carlos Drummond de Andrade

Foi escrito quando os horrores da Segunda Guerra Mundial


angustiavam a humanidade e o exército nazista recuava,
especialmente na então União Soviética. As mais importantes
divisões alemãs haviam sido derrotadas no leste europeu pelos
russos, prenunciando a capitulação do III Reich.

O diário de Anne Frank – Otto H. Frank, Mirjam Pressler

Publicado originalmente em 1947, tornou-se um dos relatos mais


impressionantes das atrocidades e horrores cometidos contra os
judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A força da narrativa
desta adolescente – que mesmo com sua pouca experiência
de vida foi capaz de escrever um testemunho de humanidade
e tolerância – a tornaria uma das figuras mais conhecidas do
século XX.

39
39
INTERDISCIPLINARIDADE

Durante o governo nazista de Adolf Hitler, diversas empresas alemãs ampliaram seus capitais e participaram
ativamente das políticas de governo. Gigantes como a Siemens, Volkswagen, BMW e Bayer são alguns exemplos. A
Bayer, uma das maiores empresas do setor químico do mundo, produziu o gás Zyklon B, utilizado nas câmaras de
gás para o extermínio de judeus e inimigos de Hitler.
Atualmente, há provas documentais de que o regime nazista promoveu uma série de experimentos médicos
desumanos contra seus adversários. Um dos principais agentes dessa barbárie, o médico Josef Mengele, faleceu em
Bertioga/SP. Chamado de “anjo da morte”, promovia uma série de experimentos com gêmeos e anões.
Os experimentos realizados por Mengele em gêmeos incluíam a amputação desnecessária de membros, a
infecção intencional de um gêmeo com tifo ou outras doenças e transfusão de sangue de um gêmeo no outro. Mui-
tas das vítimas morreram ao passar por esses procedimentos. Depois que um experimento terminava, os gêmeos
às vezes eram mortos e seus corpos dissecados.
Seus experimentos em anões e pessoas com anormalidades físicas incluíam medidas físicas, extração de
sangue, extração de dentes saudáveis e tratamento com drogas desnecessárias e raios-X. Muitas das vítimas eram
enviadas para as câmaras de gás após cerca de duas semanas e seus esqueletos eram enviados para Berlim para
estudo posterior. Mengele também procurava por mulheres grávidas, nas quais realizaria experimentos antes de
enviá-las para as câmaras de gás.

40
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 1 - Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca


de aspectos da cultura.

Como frisamos diversas vezes durante nossos livros de História, o Enem exige frequen-
temente sua habilidade 1. Cabe ressaltar que os organizadores da prova têm uma no-
ção ampla do que significa uma fonte documental. Alguns poderiam argumentar, por
exemplo, que um quadrinho ou uma arte infanto-juvenil não representariam uma fonte
histórica, meramente por sua representação na vida social.
Contudo, hoje vemos diversas pesquisas nas ciências humanas que levam em conside-
ração o teor desse tipo de arte e como elas moldaram o imaginário coletivo acerca de
outras nacionalidades, costumes sociais ou organizações políticas. Durante a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria, por exemplo, boa parte da arte – tanto estadunidense
quanto soviética ou nazista – assumiam o discurso de suas nações, gerando caricaturas
dos inimigos reais.
Diante disso, o estudante deve interpretar os materiais apresentados, bem como frag-
mentos de texto, com o intuito de buscar a alternativa correta.

Modelo
(Enem)

Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitão chegaria para apaziguar a agonia, o autoritaris-
mo militar e combater a tirania. Claro que, em tempos de guerra, um gibi de um herói com uma
bandeira americana no peito aplicando um sopapo no Fürer só poderia ganhar destaque, e o suces-
so não demoraria muito a chegar.
COSTA, C. Capitão América, o primeiro vingador: crítica. Disponível em: <www.
revistastart.com.br>. Acesso em: 27 jan. 2012 (adaptado).

41
A capa da primeira edição norte-americana da revista do Capitão América demonstra sua associa-
ção com a participação dos Estados Unidos na luta contra:
a) a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial.
b) os regimes totalitários, na Segunda Guerra Mundial.
c) o poder soviético, durante a Guerra Fria.
d) o movimento comunista, na Segunda Guerra do Vietnã.
e) o terrorismo internacional, após 11 de setembro de 2001.

Análise Expositiva

Habilidade 1
Questão de resolução mais objetiva, a imagem e o texto destacam a figura de Hitler, e cabe
ao estudante associá-la ao nazismo e à liderança da Alemanha durante a Segunda Guerra
Mundial.
Alternativa B

42
Estrutura Conceitual

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Contexto B Antecedentes
§§ Política de alianças entre Estados totalitários
§§ Continuidade da Primeira Guerra §§ 1936: Alemanha e Japão – Pacto Antikomintern
§§ Concorrência imperialista §§ 1939: Alemanha e Itália – Pacto de Aço
§§ Formação de blocos de interesse §§ 1938:
§§ Política de apaziguamento
§§ Conferência de Munique
§§ 1939: Pacto Molotov-Ribbentrop – Alemanha e URSS

C Fatores
Eixo Aliados
§§ Revanchismo pós-Primeira Guerra
§§ Formação de Estados totalitários
§§ Crise de 1929 e nacionalismo econômico
§§ Expansionismo
§§ Ineficácia da Liga das Nações

D Fases da guerra E Conferências


Avanço do Eixo (1939-1941) §§ Conferência do Cairo (1943)
§§ Alemanha avança sobre Europa (blitzkrieg) §§ Conferência de Teerã (1944)
§§ Ocupação da França (República de Vichy) §§ Conferência de Ialta (1945)
§§ Avanço alemão para o leste europeu e URSS §§ Conferência de Potsdam (1945)
§§ Avanço italiano e alemão na Áfica (afrikakorps) §§ Divisão da Alemanha
§§ Alemanha Ocidental (capitalista)
§§ Tensões entre Japão e EUA no Pacífico: ataque a Pearl Harbor §§ Alemanha Oriental (socialista)
Ascensão dos Aliados (1941-1945) §§ Tribunal de Nuremberg
§§ 1941: EUA entram na guerra
§§ 1943: F Consequências
§§ Derrota alemã na URSS
§§ Derrota na África §§ Alta mortaldiade de civis
§§ Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB) lutam na Itália §§ Genocídio de judeus (Holocausto)
§§ Partisans iugoslavos e antifascistas italianos derrotam Mussolini §§ Destruição de infraestrutura,
indústrias e campos europeus
Derrota do Eixo
§§ Independência das colônias europeias
§§ 1944: nos anos seguintes
§§ Dia D: liberação da França §§ Formação de duas potências mundiais
§§ URSS ocupa Berlim
§§ 1945: EUA vencem Japão com bombas atômicas

43
4 0
9 5 Guerra Fria

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 2, 3, 4, 5 ,6, 7,
8, 9, 10, 11, 13,
14, 15, 16, 19, 20,
21, 22, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Em 1946, os Estados Unidos executaram a chamada Operação Crossroads, que consistiu em testes nucleares
no atol de Bikini, na Micronésia. Se de um lado ela fez ferver os ânimos do mundo em plena Guerra Fria,
também rendeu fotografias belíssimas e até influenciou a moda.

Introdução
Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa ocidental perdeu o poder hegemônico sobre as re-
lações internacionais. Sua política imperialista entrou em decadência e o mundo foi submetido a uma nova ordem
mundial baseada na expansão e na disputa pela hegemonia econômica, militar e política das novas superpotências:
Estados Unidos e União Soviética, chamada Guerra Fria. Contudo, esse novo modelo de relacionamento internacio-
nal se diferenciava dos anteriores, porque o embate não se dava somente por controle de territórios e riqueza, mas
também pela confrontação ideológica entre capitalismo e socialismo, acrescida por uma monstruosa construção de
arsenais nucleares que colocaria em risco a existência da humanidade.
Os Estados Unidos tornaram-se o Estado líder do capitalismo. Por intermédio de uma eficaz política externa,
interferiram decisivamente para expandir seus domínios, seja por métodos “pacíficos”, como o Plano Marshall, ou
violentos, como a Guerra da Coreia.

Organização das Nações Unidas – ONU

Bandeira das Nações Unidas

A ONU (Organização das Nações Unidas) foi criada em 1945 com o objetivo de reorganizar as relações
internacionais, de modo a superar os acordos militares secretos entre os países e instaurar reuniões que abran-
gessem os interesses das nações, onde fossem discutidos livremente entre todos os Estados membros. Com isso,
as soluções de caráter pacífico nasceriam democraticamente e com mais viabilidade. Já em 1941, ainda durante

47
a Segunda Guerra, o presidente Roosevelt e o primeiro- No processo de descolonização do pós-guerra
-ministro inglês Winston Churchill idealizaram um tra- quando nações da África e da Ásia lutaram pela inde-
balho conjunto de países através da Carta do Atlântico, pendência, a ONU se mostrou solidária às suas lutas e
que destruísse as forças do Eixo, mas que possuísse o consolidou seu apoio ao reconhecer a soberania desses
ideal de manter a união dos países no pós-guerra para
países. Contudo, a ONU mantém-se atrelada aos inte-
evitar novos conflitos internacionais. Em abril de 1945,
resses dos Estados Unidos e da Rússia, como pode ser
vários representantes de países se reuniram na cidade
observado com a invasão estadunidense, no governo de
estadunidense de São Francisco e, evitando os erros da
George W. Bush, ao Iraque e à intromissão militar russa
antiga Liga das Nações, resolveram criar uma instituição
que viabilizasse a paz mundial e, ao mesmo tempo, se na Ossétia do Sul (Geórgia) sem a permissão da ONU.
preocupasse com os problemas sociais e de cidadania. Atualmente, existe uma significativa discussão
A partir dessa conferência, a ONU passou a contar com acerca da influência e do papel da ONU nas relações
192 países membros, da qual o Vaticano participaria internacionais. Com o fim da Guerra Fria e o surgimento
apenas como observador. de uma nova ordem num mundo globalizado, as fron-
Apesar do suposto aspecto democrático da ONU, teiras entre os países estão sendo rediscutidas, bem
uma vez que ela representa quase todos os países do como a ascensão de países emergentes como o Brasil
mundo, transmitindo a impressão de que é comanda- e a Índia. A ONU também tem sido criticada por sua
da segundo os interesses dessas nações, na realidade o
submissão aos interesses dos EUA e da Rússia e por não
poder de decisão está concentrado nas mãos dos cinco
oferecer uma resposta concreta, profunda e viável aos
Estados fixos do Conselho de Segurança. Esse conselho
problemas sociais do Planeta.
constitui-se como autoridade máxima, pois, ao ter o po-
der de veto, possibilita que a decisão de um único país
tenha o poder de anular as decisões da Assembleia Ge-
ral. Os cinco países fixos do Conselho são EUA, Rússia
Guerra Fria (1945–1991)
(antiga URSS), Inglaterra, França e China.

Reunião do Conselho de Segurança da ONU

A ONU também é constituída por importantes


A charge mostra o Premiê da União Soviética, Nikita Khrushchev, e o presi-
agências especializadas. As principais são: Unesco (Or- dente John F. Kennedy, dos Estados Unidos, durante a Guerra Fria.
ganização das Nações Unidas para a Educação, Ciên- Ambos estão sentados em mísseis e têm seus dedos junto ao botão de
detonação, que levaria a uma guerra nuclear. 1962.
cia e Cultura), a FAO (Organização de Alimentação e
Agricultura), a OMS (Organização Mundial da Saúde),
a OIT (Organização Internacional do Trabalho), a Iaea
Definição
(Agência Internacional de Energia Atômica), o Bird
Guerra Fria é a designação atribuída ao perí-
(Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvi-
odo histórico de disputas políticas, econômicas, ideo-
mento), o FMI (Fundo Monetário Internacional), entre
outras. A sede principal da ONU fica na cidade de Nova lógicas, tecnológicas, estratégicas e conflitos indire-
Iorque, nos Estados Unidos, e o prédio administrativo foi tos entre os Estados Unidos e a União Soviética,
projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, com compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial
colaboração de Corbusier. (1945) e a extinção da União Soviética (1991).

48
Antecedentes
Antes da Segunda Guerra Mundial eclodir, as divergências ideológicas entre o socialismo soviético e o ca-
pitalismo já eram visíveis, razão pela qual a URSS era isolada da diplomacia internacional pelo chamado “cordão
sanitário”1; contudo, a invasão pela Alemanha governada por Hitler sobre o território eslavo fez com que a URSS
ingressasse nas fileiras dos aliados, quando passou a ser “bem-vista” e a ocupar papel crucial na bancarrota do
Eixo; entretanto, ainda no transcurso final da guerra, já se percebia que os Estados Unidos (“Tio Sam”) e a Rússia
(“Tio Joe”) se distanciariam radicalmente e se tornariam inimigos mortais.
Na Conferência de Ialta, apoiou-se a política de que o território europeu ficaria orientado pelas forças mili-
tares que o tivesse libertado, o que foi positivo para Stalin, pois a URSS, antes isolada, agora interferiria diretamente
no Leste europeu, criando condições para o que Winston Churchill a chamasse de “Cortina de Ferro”.2

A Europa após a segunda Guerra Mundial

1
Essa expressão foi supostamente utilizada pelo ex-primeiro ministro francês Georges Clemenceau para descrever o isolamento da Rússia a ser
promovido por uma aliança dos países fronteiriços a ela, os quais se haviam tornado independentes após a Guerra Civil Russa. Em março de 1919, ele exortou
os Estados fronteiriços recém-independentes (também chamados de Estados limítrofes) que tinham se separado do Império Russo e da Rússia Soviética, para
formar uma união defensiva e, assim, barrar o avanço do comunismo na Europa ocidental, chamando essa aliança de cordon sanitaire. Essa denominação tem
um claro sentido pejorativo e discriminatório, pois sugere isolar uma região “doente” ou “suja”.
2
Expressão usada para designar a divisão da Europa em duas partes, a Europa oriental e a Europa ocidental como áreas de influência político-
-econômica distintas, no pós-Segunda Guerra, conhecido como Guerra Fria. A designação “Cortina de Ferro” também tem o sentido de estigmatizar a Rússia
e o Leste europeu.

49
A divisão da Alemanha Doutrina Truman

Harry Truman

A Conferência de Potsdam dividiu a Alemanha


em quatro zonas de administração, das quais três fi- Temendo a penetração soviética no Mediterrâ-
cariam sob o controle do capitalismo representado neo oriental e ciente da fragilidade da Inglaterra nessa
pelos EUA, Inglaterra e França; a quarta seria domi- região, em março de 1947 o presidente Harry Truman
nada pela URSS (comunista). Na prática, em 1949, a promulgou a Doutrina Truman: “Os Estados Unidos de-
Alemanha foi dividida em duas: República Federal vem ter como política apoiar os povos livres que este-
Alemã (Alemanha Ocidental, RFA), subordinada aos jam resistindo às tentativas de subjugação por parte de
três países capitalistas, e a República Democrática Ale- minorias armadas ou de pressões externas”. Essa dou-
mã (Alemanha Oriental, RDA), socialista, subordinada trina foi a peça central da nova política de contenção
aos interesses de Moscou. Ressalte-se que o símbolo – de manter o poder soviético dentro de suas fronteiras.
da Guerra Fria surgiu nesse contexto, já que a cidade Os Estados Unidos logo forneceram apoio militar e eco-
de Berlim se situava no território da Alemanha socia- nômico à Grécia e à Turquia, e a política externa esta-
lista (oriental); contudo, segundo a Conferência de
dunidense sofreu uma profunda inversão: o isolamento
Potsdam, ela também seria dividida entre capitalistas e
anterior à grande guerra deu lugar a uma vigilância
socialistas. Devido ao acirramento da Guerra Fria, no-
tadamente o Plano Marshall e a espionagem da CIA mundial contra qualquer esforço soviético de expansão.
e da KGB, a União Soviética resolveu isolar totalmen-
te Berlim Oriental da Alemanha Ocidental, quando, em
1961, construiu o criticado Muro de Berlim. Os berli-
Guerra da Coreia (1950–1953)
nenses ocidentais passaram a receber mantimento por
A Doutrina Truman tornou-se real quando, em
intermédio de uma gigantesca ponte aérea que durou
junho de 1950, eclodiu uma guerra entre as duas Co-
vários meses.
reias. O Norte, socialista e governado por Kim II Sung,
apoiado pela URSS e pela China maoísta, não aceitou
a divisão da península e atacou a Coreia do Sul, que
foi defendida pelas tropas dos EUA lideradas pelo ge-
neral Douglas McArthur. Para evitar que o conflito de-
sembocasse numa Terceira Guerra Mundial, em 1953,
foi declarado o cessar-fogo de Panmunjon, mantendo
o paralelo 38 como linha divisória dos dois países. Seul
tornou-se, anos depois, capital de um Tigre Asiático, e
Pyongyang tornou-se uma ditadura de economia pobre
governada por Kim Jong-un, colocando em risco a frágil
Foto do Muro de Berlim
paz da região através de um belicismo atômico no início
do século XXI.

50
Evolução da Guerra da Coreia 1950/1953:

05/1950 09/1950 11/1950 01/1951 07/1953

Em verde: Nações Unidas e Coreia do Sul; em vermelho: Coreia do Norte e China.


Imagem: Wikipédia

Com o decorrer da Guerra Fria, surgiram nitidamente dois blocos díspares, que simbolicamente tiveram
início em 1949, quando os Estados Unidos criaram a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), reunindo
militarmente os países capitalistas, ou seja, uma gigantesca força militar que a União Soviética isoladamente não
teria como enfrentar. Em contrapartida, em 1955, a URSS criou o Pacto de Varsóvia. Coordenando os exércitos
dos países satélites com o Exército Vermelho, essa aliança tinha como objetivo servir de instrumento militar para
preservar a unidade político-ideológica do bloco socialista e contrabalançar a força da Otan.

OTAN
OTAN
Outros
Outrosaliados
aliadosdo
doE.E.U.U
E.E.U.U
Pacto
Pactode
deVarsovia
Varsovia
Países
PaísesSocialistas
Socialistasaliados
aliadoscom
comaaURSS
URSS
Outros
Outrospaíses
paísessocialistas
socialistasou
oualiados
aliadosaaURSS
URSS
Nações
Naçõesnão-alinhadas
não-alinhadas

Guerrilheiros
Guerrilheiroscomunistas
comunistas
Guerrilheiros
Guerrilheirosanti-comunistas
anti-comunistas

O Plano Marshall e o Comecon


Em junho de 1947, os Estados Unidos deram um importante passo rumo ao fortalecimento de seu poder so-
bre o Ocidente. O secretário de Estado George Marshall anunciou um formidável programa de auxílio econômico à
Europa, cujo nome formal era Programa de Recuperação Europeia, mundialmente conhecido como Plano Marshall.
Entre 1947 e 1951, a Europa recebeu uma ajuda de mais de 12 bilhões de dólares – um modesto inves-
timento, se comparado com o índice subsequente de aumento da prosperidade dos EUA e do ocidente europeu.
O Plano Marshall surgiu para proteger os interesses do capitalismo, principalmente na Europa ocidental e no
Japão, pois essas áreas estavam com seus parques produtivos destruídos devido à Segunda Guerra Mundial; conse-
quentemente, o desemprego era muito grande ao lado de todos os problemas gerados por essa situação, criando,
assim, condições para que movimentos dissidentes surgissem, particularmente para a difusão dos de esquerda.
Com o Plano Marshall financiado pelos EUA, a entrada de capitais nessas regiões, a revitalização econômica, o
programa do Estado de bem-estar social3 e criação pelos EUA de um mercado para os seus insumos e máquinas
enfraqueceram naturalmente os movimentos da esquerda.

3
O Estado de bem-estar social também é conhecido por sua denominação em inglês Welfare State. Os termos servem basicamente para designar o
Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos.

51
como a Segunda Guerra Mundial destruiu a infraestru-
A rápida reconstrução do Japão, tura soviética, o Comecon não suplantou o dinamismo
após a Segunda Guerra Mundial
do Plano Marshall.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, as relações en-
tre os Estados Unidos e o Japão foram norteadas pelo
Plano Colombo, cuja intenção era manter o Extremo
KGB, CIA e a “caça às bruxas”
Oriente sob a esfera de influência estadunidense e
que se baseou em empréstimos voltados para a re-
Para encontrar parceiros estratégicos, as duas
construção do capitalismo japonês. Naquela época, os superpotências promoviam alianças sem nenhum es-
Estados Unidos impuseram ao Japão condições bas- crúpulo ideológico. Os Estados Unidos aproximaram-se
tante duras, como a proibição de militarizar-se. Mas as das ditaduras fascistas de Franco, na Espanha, e de Sa-
imposições não transformaram o país numa economia
lazar, em Portugal, ambas anticomunistas; a União So-
periférica do capitalismo mundial. Pelo contrário, per-
viética, por sua vez, defendeu a ditadura de Ceausescu,
mitiram uma política de desenvolvimento econômico
muito bem-sucedida. na Romênia. Nos aspectos relacionados à inteligência,
Entre os princípios dessa política, podem ser à espionagem, os Estados Unidos e a União Soviética
destacados: dinamizaram, respectivamente, a CIA (Agência de Inte-
§§ elevada qualificação profissional da mão de ligência dos EUA) e a KGB (Comitê de Segurança do
obra;
Estado Soviético) a ponto de se criar um clima de “caça
§§ rigorosos programas de controle de qualida-
às bruxas” tanto nos assuntos externos como internos.
de dos produtos industrializados, baseados
Nos Estados Unidos, essa caça às bruxas deu
em cálculos estatísticos;
§§ direcionamento de grande parte da produção
origem ao macarthismo, cujo autor, o senador Joseph
industrial para o mercado externo, estimula- McCarthy, disseminou perseguições sem provas de su-
do por uma forte desvalorização da moeda postos inimigos internos dos EUA. Inúmeros cidadãos
japonesa, o iene; passaram a ser considerados espiões, principalmente
§§ construção de grandes e modernos navios, artistas de Hollywood, como Charles Chaplin, entre ou-
que baratearam o frete para os distantes tros. Na União Soviética, a “caça às bruxas” consolidou
mercados consumidores do Ocidente;
o stalinismo, a estrutura estatal burocrática e policia-
§§ maciços investimentos em pesquisa e desen-
lesca através dos gulags, campos de trabalho forçado
volvimento, que resultaram na robotização e
criados após a Revolução Bolchevique de 1917 para
na miniaturização de suas mercadorias alta-
abrigar criminosos e “inimigos” do Estado.
mente sofisticadas, como os microeletrônicos
e a nanotecnologia.
Em poucas décadas, uma notável expansão in-
dustrial conduziu o Japão à terceira posição entre as
maiores economias do mundo.

Comecon (Council for Mutual


Economic Assistance)
Para revitalizar os países socialistas, a URSS criou
o Comecon, que se estruturou através de planos esta-
tais quinquenais, foi integrado à economia dos Estados O casal Etbel e Julius Rosemberg foi preso e condenado pelo macartis-
mo. Foram executados e, alguns meses depois,
socialistas e serviu como máquina política para perse- constatou-se que a acusação contra eles, de venda de segredos militares
guir oposicionistas dentro do Leste europeu; entretanto, para a União Soviética, era infundada.

52
A criação da CIA para os estadunidenses foi uma necessidade estratégica devido ao início da Guerra Fria e ao
avanço do comunismo.
A espionagem foi um dos aspectos da Guerra Fria mais explorados pelo cinema. O espião mais famoso das
telas, James Bond, criado por um ex-agente do serviço secreto britânico, Ian Fleming, vivia aventuras glamorosas
e bem distantes da realidade. No mundo real, as duas grandes agências de espionagem, a KGB soviética e a CIA
estadunidenses, treinavam agentes para atos de sabotagem, assassinatos, chantagens e coleta de informações.
Nos dois lados se criou um clima de histeria coletiva, em que qualquer cidadão poderia ser acusado de espiona-
gem a serviço do inimigo. Na União Soviética, Stalin contribuiu para esse clima, confinando muitos de seus ad-
versários em campos de concentração na Sibéria. Nos Estados Unidos, o senador anticomunista Joseph McCarthy
promoveu uma verdadeira “caça às bruxas”, levando ao desespero inúmeros intelectuais e artistas de Hollywood,
acusados de colaborar com Moscou.
Um dos momentos dramáticos da história da espionagem na Guerra Fria aconteceu em 1962. O presidente
dos EUA John Kennedy reagiu duramente contra a iniciativa soviética de instalar uma plataforma de mísseis em
Cuba. Chegou a advertir o líder soviético Nikita Khruschev de que usaria armas nucleares se fosse necessário.
Depois de três semanas, a União Soviética recuou. Durante esse tempo, o mundo viveu o pavor de um confronto
nuclear entre as superpotências.
A CIA, Central Intelligence Agency (em português, Agência Central da Inteligência) é um serviço de inteligên-
cia dos Estados Unidos da América. Está proibida por lei de coletar informações sobre as atividades domésticas
de cidadãos do seu país, o que é feito pelo FBI.
No momento, a CIA perdeu muito da importância que teve no passado, pois a relevância das informações
obtidas através de fontes humanas é muito menor que as obtidas por meio da captura de sinais de comunicação
(Sigint), que é tarefa da NSA.

A corrida espacial
Esse foi um capítulo especial, porque a propaganda oficial estava imbuída de amor à aventura e à glamo-
rização do desbravamento das fronteiras do universo. No entanto, os projetos de viagem ao cosmo representavam
a real disputa ideológica de que a tecnologia de uma superpotência era superior a da outra, além do fato de que
o foguete que se desloca ao espaço aperfeiçoa a tecnologia usada nos mísseis balísticos que transportam ogivas
nucleares de um continente a outro.
No primeiro momento, a corrida espacial foi vencida pela URSS, pioneira ao lançar com sucesso o primeiro
satélite artificial chamado Sputnik, em 1957, enviar a cadela Laika como primeiro ser vivo a viajar pelo espaço e,
principalmente, por promover a primeira viagem sideral de um cosmonauta, Yuri Gagarin, em 1961, na nave Vostok I.
Em 1963, levou ao espaço a primeira mulher, a cosmonauta Valentina Tereshkova.


Yuri Gagarin Neil Armstrong, em solo lunar

53
Os Estados Unidos somente conseguiram me-
lhorar sua performance quando a Nasa passou a ser
assessorada por Wernher Von Braun, ex-chefe do órgão
militar alemão criador de bombas voadoras V-2, que
destruíram grande parte de Londres na Segunda Guerra
Mundial. Von Braun liderou a criação dos foguetes Sa-
Truman e Eisenhower
turno e, em 1969, à frente da Apollo 11, o astronauta
estadunidense Neil Armstrong foi o primeiro homem a
De Kennedy a Reagan
pisar na Lua.
A China é a terceira força na conquista espacial.
(presidentes dos EUA)
Inicialmente apoiada pela ex-aliada URSS, conseguiu
O próximo presidente eleito foi o democrata
receber tecnologia e bem desenvolvê-la com a nave John Kennedy (1961-1963), que derrotou o republicano
Shenzhou 5, que, em 2003, levou o primeiro taikonauta, Nixon e iniciou um governo marcado pelo propagan-
Yang Liwei, ao espaço, com tecnologia chinesa. dismo da figura presidencial e da nação estadunidense.
Aperfeiçoou o marketing político, promoveu um perso-
nalismo festivo em torno do casal presidencial, particu-
Estados Unidos larmente em torno da primeira-dama, Jacqueline Ken-
nedy, incentivou a corrida espacial, enfim, investiu no
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados nacionalismo. Entretanto, foi figura central de fatos que
Unidos tiveram um surto de desenvolvimento em vá- mostram sua prepotência e autoritarismo, como a ten-
rias áreas, como o baby boom populacional; entretan- tativa fracassada de invadir a baía dos Porcos, em Cuba,
em 1961, provocando um dos momentos mais tensos
to, vários problemas afloraram e foram exaustivamente
da Guerra Fria: a crise dos mísseis atômicos. O mundo
discutidos, principalmente na década de 1960. Os pre-
ficou muito próximo de uma guerra nuclear. Também
sidentes continuavam a ser livremente eleitos, sejam
pesa sobre os ombros desse governo o início do acir-
do partido Democrata ou do Republicano, mas todos ramento dos atritos que geraram a Guerra do Vietnã.
sempre administravam numa óptica imperialista de con-
firmação do poderio estadunidense, como grande nação
capitalista do mundo.
Ainda no final da guerra e após a morte de cau-
sas naturais de Roosevelt, o vice-presidente Harry Tru-
man (1945-1953) assumiu a faixa presidencial e ofere-
ceu um esboço do que seria a Guerra Fria, ao autorizar
o bombardeio atômico sobre o Japão e a aumentar o
militarismo ao formular a Doutrina Truman. O próximo
presidente eleito foi o republicano general Dwight Eise- John Kennedy
nhower (1953-1961), que manteve o conservadorismo
de Truman, a Guerra Fria; entretanto, iniciou timidamen- Em 1961, após o fracasso da invasão de Cuba
por uma força de exilados cubanos apoiados pela CIA,
te o questionamento acerca da severa segregação racial
o governo Kennedy formulou as bases de uma nova
nos estados do Sul, se bem que existisse em todo os
política para a América latina, conhecida como Alian-
EUA, ao autorizar o estudo de negros ao lado dos bran-
ça para o Progresso. Segundo essa política, os Estados
cos em algumas escolas, o que revoltou agremiações Unidos forneceriam uma substancial ajuda econômi-
racistas como a Ku Klux Klan.

54
ca e financeira aos países latino-americanos, que, em e ilegal promovida pelo presidente, que usou a máquina
contrapartida, deveriam realizar reformas internas com de inteligência governamental para espionar as reuni-
vistas à superação de seu crônico subdesenvolvimento. ões do Partido Democrata, durante a campanha para
Essa política de reformas fracassou em consequência da a Presidência da República. Após a renúncia de Nixon,
obstinada resistência imposta pelas oligarquias locais. a Presidência foi entregue ao parlamentar republicano
Kennedy não chegou a completar o mandato, pois foi Gerald Ford (1974-1977) numa espécie de mandato
morto em um atentado, em 1963, na cidade de Dallas, tampão, pois Ford foi derrotado na eleição presidencial
Texas. Com essa política sobressaem os pontos iniciais seguinte pelo democrata Jimmy Carter (1977-1981),
do seu intervencionismo na América latina e sua pos- que praticou uma política externa voltada para o não
terior participação nos governos ditatoriais aqui insta- financiamento de algumas ditaduras na América latina,
lados, comprovada por farta documentação, que tem como a de Somoza, na Nicarágua, anteriormente apoia-
sido liberada pelo governo dos EUA e pelos governos da pelos Estados Unidos. Carter também buscou a paz
latino-americanos. no Oriente Médio, conseguindo aproximar, na memo-
O vice-presidente Lyndon Johnson (1963-1969) rável reunião de Camp David, o israelense Begin e o
assumiu o governo após o assassinato de Kennedy. Du- egípcio Sadat. Esse acordo de paz perdura na atualida-
rante seu governo, o envolvimento estadunidense na de. Outro fato importante, mas criticado, foi o boicote
Guerra do Vietnã atingiu o ponto culminante: dos 55 estadunidense à Olimpíada de Moscou, em 1980, pois
mil soldados no campo de luta, em 1965, passou a 550 a URSS tinha invadido o Afeganistão no ano anterior,
mil em, 1968. Mesmo assim, tornou-se evidente a im- sendo que os EUA apoiaram o guerrilheiro Mujahedin
possibilidade de uma vitória militar decisiva dos EUA no Osama Bin Laden na guerra para expulsar a URSS do
conflito do sudeste asiático. Afeganistão. Porém, o fato que desgastou excessiva-
mente o governo Carter foi sua política ineficaz em so-
lucionar a crise dos reféns.
Em 1979, o Irã tinha promovido uma revolução
liderada pelo sectário aiatolá Khomeini e havia destru-
ído o governo pró-Estados Unidos do xá Reza Pahlev,
além de ter feito o embaixador dos EUA refém. As de-
cisões de Carter foram consideradas lentas pelo eleito-
rado; somadas à crise econômica interna, Carter perdeu
a reeleição.

Richard Nixon
O próximo presidente da República foi o repu-
blicano Richard Nixon (1969-1974), que manteve a
inimizade política com a URSS. Entretanto, iniciou uma
série de conversações, promovendo então uma disten-
são militar que foi amenizando as relações da Guerra
Fria e gerou um tímido sinal verde à busca pela paz.
Em seu governo, teve início a retirada gradual das tro-
pas estadunidenses do Vietnã, houve o reconhecimento
Carter e Reagan
diplomático da China e a busca de um entendimento
global com a União Soviética. Contudo, a trajetória do O ex-ator de Hollywood Ronald Reagan foi eleito
presidente Nixon ficou irremediavelmente manchada para o mandato de 1981 a 1989. Anticomunista feroz,
devido ao escândalo Watergate, que provocou sua re- Reagan ocupou a Casa Branca com intenção de acelerar
núncia, em 1974. O escândalo, investigado por jornalis- a contenção do comunismo mundial e posicionou-se con-
tas do Washigton Post consistiu numa operação secreta trário à política de desarmamento nuclear, que governos

55
anteriores haviam negociado nos anos 1970. Propôs um Ainda nos chamados anos rebeldes, surgiu nos
ambicioso programa chamado “Guerra nas Estrelas” – EUA o movimento hippie, formado na sua maioria por
uso de lasers e satélites para proteger os Estados Unidos jovens. Ficou mundialmente conhecido por suas reivin-
de mísseis soviéticos. A oposição massiva de europeus dicações de caráter social, pela luta contra a Guerra do
e estadunidenses ao acirramento das relações entre os Vietnã, suas manifestações culturais, principalmente
dois superpoderes resultou na retomada de negociações, na música, e pela sua maior expressão no festival de
em 1983. Reagan administrou os Estados Unidos no mo- Woodstock. Apesar da sua importância ao reivindicar
mento em que a Guerra Fria chegava ao fim, com a desa- uma sociedade alternativa, fraternal e comunitária, com
gregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. mais liberdade sexual e de pregar a descriminalização
Na política interna, Reagan introduziu o neoli- do uso de drogas etc., o movimento hippie sucumbiu às
beralismo. Impostos foram cortados em 25% e regula- suas próprias contradições e foi “engolido” pelo capita-
mentações da economia, do meio ambiente e do direito lismo. Jimi Hendrix e Janis Joplin, alguns dos seus ído-
do consumidor foram desmanteladas. Cortes sucessivos los, morreram prematuramente de overdose de drogas.
nos programas sociais voltados à população carente Entretanto, o rock’n roll idealizou canções de protesto
caminharam ao lado de acordos de livre comércio ne- belíssimas, como Blowin’ in the wind, de Bob Dylan, em-
gociados em nível internacional para abolir restrições à
bora haja a tentativa de despolitizá-las na atualidade.
expansão de mercados internacionais.

Movimentos sociais e culturais União Soviética e o


na década de 1960 bloco socialista
Na década de 1960, a sociedade estadunidense,
oriunda do conservadorismo puritano anglo-saxão, foi
União Soviética
sacudida pelo movimento Black Power, que passou a O socialismo implantado na União Soviética con-
reivindicar direitos de cidadania para a população afro- solidou-se no pós-guerra e conseguiu polarizar com os
descendente, ou seja, para os negros. Na música, sur- Estados Unidos o poder sobre as relações internacionais
giram grupos de artistas na gravadora Motown, como na chamada Guerra Fria. É importante observar que o
The Supremes e Stevie Wonder. Na estética, o penteado socialismo russo possui um viés político autoritário, mas
afro, intitulado black, fez sucesso. Mas foi na luta pela
melhorou o padrão de vida de grande parte da popula-
cidadania, liderada, entre outros, pelo pacifista Martin
ção russa, influenciando a Europa ocidental através da
Luther King, que o movimento negro amadureceu e exi-
social-democracia, uma espécie de capitalismo humani-
giu que os direitos constitucionais à cidadania fossem
zado, e alimentou as reivindicações trabalhistas ociden-
estendidos a todos. No Sul, ainda havia a segregação
tais. A estrutura do socialismo real ruiu entre as décadas
racial em diversas instituições públicas. Diante disso,
de 1980 e 1990, com o sepultamento da URSS, na era
uma parcela do movimento negro defendia o recurso à
Gorbachev, iniciando sua adesão ao neoliberalismo.
violência, se necessário, na defesa das suas reivindica-
ções, como os Panteras Negras liderados por Malcom X. O socialismo foi implantado na Rússia, em outu-
bro de 1917, por meio da Revolução Bolchevique lidera-
da por Lênin, Stalin e Trotsky, que implantou uma vasta
estatização da economia. Contudo, os países capitalis-
tas isolaram a Rússia no cenário internacional e finan-
ciaram uma contrarrevolução dos “brancos” burgueses
contra os vermelhos socialistas, que a venceram. Após a
guerra civil, Lênin instaurou a NEP, que ainda continha
Martin Luther King e Malcolm X

56
traços da economia capitalista para revitalizar a comba- foi atrelada ao esforço de guerra para poder enfrentar
lida estrutura produtiva soviética. Contudo, após a mor- o III Reich. Já os territórios mais a oeste foram devas-
te de Lênin, Stalin aniquilou a influência de Trotsky, que tados pelos próprios soviéticos na campanha da terra
foi assassinado no México pelo agente stalinista Ramón devastada contra os alemães. Após a Segunda Guerra, a
Mercader, em 1940, e implantou um sistema político economia estatizante conseguiu o desenvolvimento das
que acelerou o autoritarismo do Partido Comunista da indústrias de base e a produção de bens de consumo
União Soviética. A figura principal da política soviética aumentou, melhorando a situação do homem comum
tornou-se a do secretário-geral do partido, que rivalizou soviético. Contudo, grande parte da riqueza era drena-
com o poder autocrático dos antigos czares. da para a indústria bélica, devido à Guerra Fria e para
beneficiar os privilégios da nomenklatura.
Stalin morreu, em 1953, e foi sucedido por Nikita
Kruschev (1953-1964), que obteve a confiança do parti-
do ao liderar a batalha de Stalingrado. Contudo, o novo
governo, apesar da manutenção da ditadura, criticou a
figura de Stalin no XX Congresso do PCUS, em 1956.
Kruschev buscou implantar a desestalinização através
de tímidas reformas políticas e do aumento na produ-
ção de bens de consumo, o que prejudicava os interes-
ses da nomenklatura e dos altos militares. É importante
Joseph Stalin ressaltar que o governo de Kruschev não sedimentou
os direitos humanos, pois, para manter o domínio da
Na economia, a gosplan4 instituiu uma inter-
União Soviética sobre o leste europeu, Krushev ordenou
venção exagerada do Estado voltada para alavancar a
a invasão da Hungria, destruindo o levante reformista,
indústria de base, desmerecendo a produção de con-
sumo e implantando uma fome desenfreada, mas sem em 1956.
repercutir decisivamente no crescimento da oposição,
pois Stalin tinha aumentado o poder da polícia secreta
NKVD, Comissariado do Povo para Assuntos Internos,
que era liderada pelo famigerado Béria. Ela prendeu,
torturou e expurgou supostos opositores para os cam-
pos de concentração, os gulags.
O clima de paranoia foi tão elevado entre os
apadrinhados de Stalin, que grandes nomes do movi-
mento socialista, que lutaram em 1917, foram expur-
gados do comitê central e mortos. Como consequência,
surgiu um pequeno grupo que controlou a máquina es- Kruschev (à esquerda) ao lado do presidente dos EUA John Kennedy

tatal, não por suas qualidades, mas porque era formado


Um problema externo que afligiu a diplomacia
por pessoas de confiança de Stalin. Essa elite, chamada
de nomenklatura, instituiu um regime que a oposição da URSS foi o início de profundos atritos com a China,
chamou de “capitalismo de Estado” ou “socialismo de Mao Tsé-Tung, que de aliada tornou-se sua inimi-
burocrático”. Nas áreas rurais, o stalinismo implantou ga, provocando uma divisão no bloco socialista. Apesar
fazendas dirigidas pelo governo, as sovkhozes, total- de incentivar a coexistência pacífica, Kruschev teve pa-
mente estatais, e kolkhozes, cooperativas. Durante a Se- pel marcante na crise dos mísseis atômicos, em Cuba,
gunda Guerra Mundial, toda a força produtiva soviética que colocou o governo de Kennedy em dificuldades. É
interessante notar que essa crise foi solucionada com
4
Gosplan era o nome coloquial da política de economia planejada a retirada dos mísseis soviéticos da ilha cubana e, em
na União Soviética. A palavra gosplan é uma aglutinação de Gossudars- contrapartida, com a retirada, pelos Estados Unidos, de
tvênnîi Komitet póPlanirovâniu (Comitê Estatal de Planejamento), órgão cuja
principal função era estabelecer os planos quinquenais soviéticos. seus mísseis nucleares da Turquia. Essa solução foi vista

57
pelo Politburo5 soviético como um fracasso, que, somado Sobre o Afeganistão, é importante ressaltar que
à oposição da nomenklatura e dos militares, provocou a o domínio soviético não foi eficaz, pois a oposição afegã
queda de Kruschev, num golpe branco, em 1964. foi incentivada pela entrada dos mujahedins, guerrilhei-
O secretário-geral escolhido foi Leonid Brejnev ros do islã fundamentalista, que, apoiados pela CIA e
(1964-1982), que revitalizou muitos aspectos do stali- liderados pelo saudita Osama Bin Laden, entrincheira-
nismo, manteve a coexistência pacífica implantando a ram-se nas montanhas e passaram a atacar os com-
détente, que abriu caminho para a salutar negociação boios soviéticos.
sobre armas nucleares com a criação do plano Salt6 com Em 1982, Brejnev faleceu e foi sucedido por Yuri
o governo dos EUA. Andropov (1982-1984), dirigente da KGB. Naquele mo-
É bom frisar que a oposição gerada pela Guerra mento, a economia soviética estava em declínio devido
Fria se manteve. Para consolidar o poder soviético no à burocratização dos planos quinquenais, aos privilé-
leste europeu, Brejnev instituiu na teoria da soberania gios da nomenklatura e ao militarismo exagerado da
limitada, inspirada na ideologia ufanista e nacionalis- Guerra Fria, à defasagem na criação de novas tecnolo-
ta stalinista do “socialismo num só país”, por força da gias do parque industrial e do campo. Andropov não
qual reprimiu inúmeros movimentos reformistas, como resolveu esses problemas estruturais, nem seu sucessor
o da Primavera de Praga, liderada por Dubcek, na Tche- Konstantin Chernenko (1984-1985). Mikhail Gorbachev
coslováquia, com tanques de guerra do Pacto de Varsó- (1985-1991) governou a União Soviética tentando revi-
via, em 1968. Ainda no plano externo, a União Soviética talizar sua estrutura econômica através da Perestroika
invadiu o Afeganistão, em 1979, provocando o boicote (reconstrução), utilizando-se de elementos de caráter
estadunidense à Olimpíada de Moscou, em 1980. Em liberal com a gradativa diminuição do poder estatal so-
retaliação, Brejnev liderou o boicote à Olimpíada de bre a economia, permitindo a implantação de empresas
1984, em Los Angeles (EUA). Essas atitudes foram du- privadas, e da Glasnost (transparência), aceitando uma
ramente criticadas pelo Comitê Olímpico Internacional, relativa liberdade de imprensa e partidária. Gorbachev
pois as Olimpíadas foram ressuscitadas para unir, inte- passou a sofrer a oposição da nomenklatura e dos al-
grar e harmonizar as nações, e não como instrumento tos oficiais das Forças Armadas, que tentaram promover
de domínio de algum Estado. um golpe branco, mantendo-o numa prisão domiciliar;
entretanto, a população russa reagiu a essa tentativa
de golpe.

Misha, o ursinho mascote dos Jogos de Moscou, tornou-


-se muito popular. Na cerimônia de encerramento do evento, Mikhail Gorbachev
ele aparece derramando uma lágrima, numa das mais ternas e emocio-
nantes imagens daqueles Jogos.
Bóris Yeltsin não apoiou a queda de Gorbachev,
pois tinha interesses pessoais de poder, usando a soli-
dariedade à parcela da população que era contrária à
queda de Gorbachev em seu próprio benefício. Com su-
5
Comitê central do Partido Comunista da antiga URSS.
6
O Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (Salt I), assinado
cesso, isolou politicamente a nomenklatura e os gene-
entre o presidente dos EUA Richard Nixon e o líder soviético Leonid Brejnev, rais. Yeltsin considerava a Perestroika e a Glasnost mui-
em Moscou, em 26 de maio de 1972, foi o primeiro tratado de controle de
armas que limitou expressamente a construção de novas armas nucleares. to lentas e não aceitou a autoridade do secretário-geral

58
Gorbachev, passando a tomar decisões governamentais
Alemanha Oriental
na Rússia, tornando-a independente da URSS e aproxi-
mando-se do ideal de separação das repúblicas bálti- A República Democrática Alemã (RDA) tinha
cas da Letônia, Estônia e Lituânia. Quando Gorbachev como capital a cidade de Berlim Oriental. Cerca de 75%
da cidade situava-se na parte ocidental e era capita-
percebeu que não possuía mais nenhum poder, restou
lista, ou seja, a área era um enclave capitalista num
somente a tarefa de assinar o documento que selou o
país socialista. No intuito de impedir o grande fluxo de
fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 8 pessoas para o lado ocidental (capitalista), em 1961 foi
de dezembro de 1991. levantado um muro que dividia a cidade, isolando os
Após a morte da URSS, tentou-se manter uma dois blocos: ocidental e oriental. A construção do Muro
integração entre as nações com a criação da CEI (Co- de Berlim recebeu duras críticas de todo o mundo oci-
munidade dos Estados Independentes). Contudo, diver- dental, pois era um assombroso desrespeito aos direitos
gências étnicas, econômicas, territoriais e históricas difi- humanos. Ele representou a Guerra Fria, por isso sua
queda, em 1989, simbolizou o fim da Guerra Fria e do
cultaram a manutenção da integração e alguns Estados
mundo “comunista”.
tornaram-se inimigos. Mesmo antes, com a queda do
muro de Berlim, em 1989, já era claro que o modelo
econômico e político do bloco socialista estava em de-
cadência.

O Muro de Berlim, que dividia a Alemanha em Ociden-


tal e Oriental, foi derrubado em 9 de novembro de 1989.
A queda foi um dos marcos do fim da Guerra Fria e reunificou a Alemanha.

Iugoslávia
Boris Yeltsin

Bóris Yeltsin (1991-1999) procurou governar a


Rússia segundo os paradigmas do capitalismo neolibe-
ral. Contudo, o parque produtivo não possuía suporte
para concorrer com os produtos importados do mundo
capitalista e a economia estava arrasada. Viu-se obriga-
do a pedir socorro ao FMI (praticante da teoria neolibe-
ral), que promoveu uma vasta desestatização. Parte da
antiga nomenklatura adquiriu parcela do parque fabril.
Atualmente, a Rússia mantém um gigantesco poder nu-
clear, por isso quando os grandes países capitalistas (G- Mapa da extinta Iugoslávia
7) reúnem-se, convocam a Rússia, criando o G-8, com
As Repúblicas da Sérvia, Croácia, Eslovênia, Ma-
o objetivo de não desencadear com suas decisões uma
cedônia, Bósnia-Herzegovina (capital Sarajevo) e Mon-
crise e uma instabilidade política ou prejudicar os inte-
tenegro mantiveram uma união que foi fundamental na
resses estratégicos do G-7. Um grande problema que
luta contra os exércitos nazifascistas. Quando Hitler e
aflige a Rússia é a guerrilha fundamentalista e nacio- Mussolini invadiram os Bálcãs, na Segunda Guerra Mun-
nalista na Chechênia, que busca a independência dessa dial, através da guerrilha socialista dos Partisans, lidera-
região do Cáucaso. da por Tito, a Iugoslávia conseguiu sua libertação sem

59
a ajuda direta da União Soviética. Devido a esse fato, a
Iugoslávia não se sentia obrigada a ser subalterna aos Em fevereiro de 1992, a República Socialista da
interesses do Kremlin, por isso manteve sua estrutura Bósnia e Herzegovina (habitada por bósnios mu-
çulmanos e minorias de sérvios ortodoxos e croatas
socialista, mas ligada nos assuntos internacionais aos
católicos) aprovou em plebiscito uma declaração
não alinhados. Apesar dessa autonomia diplomática, a
de independência, ratificada mais tarde pela União
Iugoslávia representava uma grande quantidade de et-
Europeia e pelas Nações Unidas. Oficiais bósnios
nias que a enfraquecia. Para evitar que uma etnia se sen-
de origem sérvia, apoiados pelo governo sérvio de
tisse prejudicada ou marginalizada por outra e para evitar Slobodan Milosevic, ordenaram um ataque militar
que surgisse alguma liderança que pudesse rivalizar com contra a província da Bósnia com o objetivo de ga-
seu poder, o marechal Tito implantou uma ditadura pes- rantir a integridade de seu território.
soal em que o cargo de primeiro-ministro, subordinado O episódio logo degenerou em um conflito
ao seu de presidente, seria preenchido numa espécie de sangrento de caráter genocida. Os sérvios cercaram
rodízio entre as etnias. Contudo, após a morte de Tito, a capital da Bósnia, Sarajevo, e perseguiram mu-
a Sérvia, liderada por Slobodan Milosevic, pretendeu im- çulmanos e croatas. Apesar de representar apenas
plantar sua hegemonia, mas foi contestada pelos outros 33% da população da Bósnia, os bósnios de origem
povos, gerando uma guerra civil que chegou somente ao sérvia passaram a controlar 70% do território da
Bósnia-Herzegovina. Milhares de bósnios muçul-
fim com a intervenção da ONU, na década de 1990, com
manos foram assassinados pelas forças sérvias na
a desagregação do país em vários Estados.
província, enquanto dezenas de milhares foram
A região que representou a maior intensidade
obrigados a deixar o país. As campanhas milita-
de genocídio foi a Bósnia-Herzegovina. Devido a esse
res contaram com crimes contra a população civil,
fato, Slobodan Milosevic foi preso pela ONU no Tribu- como estupro, tortura e espancamentos. As Forças
nal Internacional em Haia, com a acusação de crimes de Proteção das Nações Unidas, criadas durante a
de guerra. Essa acusação foi acrescida também quando guerra da independência croata, passaram a atuar
forças sérvias massacraram a população de Kosovo, de em “zonas de segurança” para ajuda humanitária,
origem muçulmana, que desejava sua separação. mas obtiveram pouco sucesso.
No começo da guerra, a República da Croá-
Guerra da Bósnia cia, que almejava territórios da Bósnia-Herzegovi-
na, entrou em guerra contra os bósnios e assinou
Conflito internacional na região da um acordo de repartição das terras da província
antiga Iugoslávia com os líderes sérvios. Esse conflito, conhecido
(abril/1992 a dezembro/1995) como “a guerra dentro da guerra”, foi encerrado
No período em que os Bálcãs estiveram unidos em com o Acordo de Washington, em 1994. Seguiu-se
uma federação socialista, o país manteve coesão e a formação da Federação da Bósnia-Herzegovina,
as disputas nacionalistas permaneceram sob con- uma aliança entre bósnios e croatas contra os
trole. A coesão começou a se desgastar na década sérvios e bósnios de origem sérvia. Nesse mesmo
de 1980, com o surgimento de partidos múltiplos, ano, a Organização do Tratado do Atlântico Norte
a morte do presidente Tito e a maior autonomia (Otan), após as fracassadas tentativas de mediar o
das províncias dentro da Federação. A Iugoslávia conflito por parte das grandes potências, investiu
dissolveu-se gradativamente. Seguindo uma ten- contra tropas bósnias de origem sérvia. A presen-
dência existente entre os países comunistas após o ça da Otan e a aliança bósnio-croata enfraqueceu
colapso da União Soviética, a Eslovênia e a Croácia os sérvios e foi essencial para o encerramento do
garantiram a autonomia em 1991. Como consequ- conflito em 1995.No dia 14 de dezembro de 1995,
ência, as minorias de origem sérvia nesses países em Paris, foi assinado um acordo geral de paz. Ne-
organizaram movimentos de resistência contrários gociações de paz foram conduzidas em Dayton,
à separação, o que culminou com a “Guerra dos Ohio. No dia 21 de dezembro, foram assinados
Dez Dias” e a “Guerra Croata de Independência”. acordos que definiam os limites da soberania sérvia.

60
volução de Veludo. Já em 1993, também pacificamente,
Os crimes de guerra foram julgados pelo Tribunal a Tchecoslováquia foi desmembrada em dois Estados ir-
Internacional Penal da antiga Iugoslávia, que con- mãos: a Eslováquia e a República Tcheca, numa aula de
denou 45 sérvios, 12 croatas e 4 bósnios. A guerra cidadania para o mundo, pois não houve derramamento
foi descrita como o evento mais devastador da his- de sangue, em contraposição ao ocorrido na Iugoslávia.
tória da Europa, desde a Segunda Guerra Mundial,
tendo resultado na morte de cerca de 100 mil pes-
soas. Polônia
(Disponível em: <acervo.estadao.com.br>. Acesso em:
30 ago. 2015).

Tchecoslováquia

Lech Walesa

Após a Segunda Guerra Mundial, a Polônia, li-


derada por Gomulka e Jaruzeslki, ficou atrelada aos
interesses soviéticos, por isso o debate a respeito do
genocídio de Katyn (março de 1940), em que cerca de
Tanques soviéticos invadem a Tchecoslováquia, durante a Primavera de
Praga, em 1968. 20 mil poloneses foram executados pelos alemães com
o consentimento de Stalin e parte do aparato político
Em 1968, o Estado tchecoslovaco iniciou a im- russo, foi censurado. No final da década de 1980, em
plantação de um tipo de socialismo que possuía ele- busca de melhorias salariais e de liberdade política, os
mentos liberais, sob a orientação de Alexander Dubcek, trabalhadores dos estaleiros de Gdansk (antiga Dant-
secretário-geral do Partido Comunista da Tchecoslová- zig), liderados pelo proletário Lech Walesa e apoiados
quia, em um processo político chamado de Primavera pelo papa João Paulo II, antigo cardeal Karol Wojtyla,
de Praga. criou o sindicato Solidarnosc (Solidariedade), que ca-
Dubcek estimulou a discussão dos problemas pitaneou o processo de democratização polonês. É
econômicos e sociais na imprensa e recebeu reivindi-
importante notar que a trajetória política de Walesa é
cações de agricultores. Em março, nomeou para pre-
parecida com a do líder metalúrgico brasileiro Lula, pois
sidente o general Svoboda, conhecido por suas ideias
ambos eram trabalhadores metalúrgicos sindicalizados,
reformistas. Em abril de 1968, adotou um programa de
que lutaram contra a ditadura em seus países e chega-
reformas que incluiu a descentralização das decisões, a
criação de conselhos de trabalhadores nas indústrias, a ram à Presidência da República.
ampliação de direitos sindicais, a criação de coopera-
tivas independentes e a garantia dos direitos políticos
individuais e da liberdade de reunião e de expressão.
A Revolução Cubana (1959)
Entretanto, a URSS, liderada por Brejnev, temeu
No século XIX, a ilha de Cuba foi uma área ex-
perder o controle sobre o leste europeu e determinou a
tremamente explorada pelo imperialismo estaduniden-
invasão da Tchecoslováquia pelas forças do Pacto de Var-
sóvia, pondo fim ao movimento reformista, em agosto se, seja através de invasões militares patrocinadas pelo
de 1968. Big Stick ou por pressões diplomáticas, como a Emen-
Em 1989, a Tchecoslováquia distanciou-se da da Platt. Outro fato que prejudicou a população pobre
União Soviética e com a liderança de Havel e Dubcek cubana foi a manutenção dos latifúndios, que se estru-
implantou, pacificamente, reformas democráticas, a Re- turavam na monocultura do açúcar e do fumo.

61
Em 1952, Cuba conheceu a ditadura de Fulgên- As forças conservadoras, sob o auspício do go-
cio Batista, que simbolizou os interesses da aristocracia verno de John Kennedy, tentaram invadir Cuba, mas
dos Estados Unidos, bem como da máfia italiana, ao foram derrotadas na baía dos Porcos, em 1961; a partir
disseminar a prostituição ao lado da exploração dos desse momento, os EUA determinaram o bloqueio eco-
cassinos em Havana. Na busca de destruir a ditadura de nômico à ilha, o que selou a aproximação entre Cuba
Fulgêncio, um pequeno grupo de estudantes, liderados e a URSS, dando início a uma das maiores crises da
pelos irmãos Castro, Raúl e Fidel, tentaram invadir o pa- Guerra Fria, quando Nikita Kruschev, da União Soviéti-
lácio La Moncada, amadoristicamente, num completo ca, a pedido de Fidel Castro, colocou mísseis atômicos
fracasso e foram exilados. em Cuba. Após as negociações de paz, a URSS retirou
No México, Fidel Castro, Raul e Camilo Cienfue- seus mísseis e os EUA deixariam de realizar incursões
gos uniram-se ao argentino Che Guevara e fundaram o militares na ilha, apesar de manter o bloqueio econômi-
MR-26 (Movimento Revolucionário 26 de Julho), com co. Enquanto a União Soviética foi um grande Estado, a
o objetivo de derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista. economia cubana mantinha um grande relacionamento
Voltaram à Cuba para liderar uma guerrilha rural em econômico com os eslavos; contudo, com o governo de
Sierra Maestra inspirados na revolução chinesa de Mao. Gorbachev, a economia cubana ruiu e, atualmente, pas-
sa por dificuldades.

Che Guevara e Fidel Castro Fotos aéreas mostram instalações militares e soviéticas em Cuba. Tudo
estava pronto para o ataque atômico.
Em 1959, a revolução foi vitoriosa e os guerri-
lheiros, agora no governo, implantaram uma estrutura Che Guevara merece uma análise especial, uma
baseada na reforma agrária em toda a ilha e no dis- vez que, após se consolidar no grupo dirigente cubano,
tanciamento em relação ao imperialismo estaduniden- resolveu abandonar os privilégios pessoais adquiridos
se. Além disso, o governo de Fidel Castro promoveu a na ilha e penetrou na selva africana no intuito de forta-
nacionalização das empresas estrangeiras e, em 1961, lecer a guerrilha socialista no Congo e destruir o gover-
oficialmente instaurou um regime socialista em Cuba. no entreguista de Mobutu. Posteriormente, rumou para
Por meio do estreitamento das relações com a União o meio rural da América do Sul, onde foi derrotado pelo
Soviética, Cuba obteve os recursos necessários para re- exército da Bolívia, que tinha o apoio logístico da CIA,
alizar melhorias significativas em áreas como a saúde e tornou-se seu prisioneiro, em 1967, para logo depois
e a educação. Após a chegada dos socialistas ao poder ser fuzilado. Essa trajetória pelo mundo nos países do
com a revolução de 1959, os índices de melhoria so- Terceiro Mundo transformou Che Guevara em um mito,
cial atingiram patamares espetaculares, pois o serviço a ponto de sua foto, tirada em 1960 por Alberto Korda,
de medicina foi expandido para toda a população, num ter se tornado um ícone.
padrão que nenhum país da América latina sonhou em
atingir; o analfabetismo foi praticamente erradicado e
a distribuição de alimentos bem planejada. Contudo,
a ilha implantou uma ditadura política, inspirada no
modelo stalinista, centralizada em Fidel Castro e tendo
como heróis as figuras emblemáticas dos guerrilheiros
Che Guevara e Camilo Cienfuegos.

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63
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Ponte dos espiões

Em plena Guerra Fria, um advogado especializado em seguros aceita


uma tarefa muito diferente do seu trabalho habitual: defender Rudolf
Abel, um espião soviético capturado pelos estadunidenses.

Filme Dr. Fantástico

Um general estadunidense acredita que os soviéticos estão sabotando os


reservatórios de água dos Estados Unidos e resolve fazer um ataque anticomunista,
bombardeando a União Soviética para se livrar dos “vermelhos”. Com as
comunicações interrompidas, ele é o único que possui os códigos para parar as
bombas e evitar o que, provavelmente, seria o início da Terceira Guerra Mundial.

Filme Forrest Gump

Quarenta anos da história dos Estados Unidos visto pelos olhos de Forrest Gump,
um rapaz com QI abaixo da média e boas intenções. Por obra do acaso, ele consegue
participar de momentos cruciais, como a guerra do Vietnã e o caso Watergate, mas
continua pensando no seu amor de infância.

Filme Selma

A história da luta de Martin Luther King Jr. para garantir o direito de voto dos
afrodescendentes – uma campanha perigosa e aterrorizante que culminou na
marcha épica de Selma a Montgomery, Alabama, e que estimulou a opinião pública
estadunidense e convenceu o presidente Johnson a implementar a Lei dos Direitos
de Voto, em 1965.

64
ASSISTIR

Filme Libertem Angela Davis

O documentário conta como a militante de direitos humanos Angela Davis,


professora de Filosofia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, foi demitida
da universidade por pressão do então governador Ronald Reagan e injustamente
acusada de terrorismo, e a consequente campanha de solidariedade internacional
que foi constituída para defender sua inocência e libertação.

65
INTERDISCIPLINARIDADE

Embora não tenha havido confronto militar direto entre os EUA e os líderes do bloco comunista (URSS e
China), inúmeras guerras foram travadas indiretamente entre os dois lados. Trata-se, por exemplo, da guerra do
Vietnã. Nesse conflito, os EUA utilizaram um potente herbicida, chamado de ”agente laranja”, para desfolhar as
densas matas vietnamitas e, assim, facilitar a visualização das tropas inimigas.
No entanto, o composto químico desse herbicida é extremamente nocivo à saúde humana, causando inú-
meros distúrbios neurológicos, pulmonares e epidérmicos, além de ser extremamente cancerígeno. Os dois princi-
pais compostos do agente laranja são o ácido diclorofenoxiacético e o ácido 2,4,5-triclorofenoxiacético. Estima-se
que cerca de 4,8 milhões de vietnamitas se expuseram ao veneno, o que explica, até hoje, os altos índices de câncer
e de má formação em crianças no país.

Ácido diclorofenoxiacético

Ácido 2,4,5-triclorofenoxiacético

66
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as


nações.

As relações entre nações, por vezes, desembocam em conflitos não necessariamente de


caráter militar, mas ideológicos, diplomáticos e econômicos. Uma disputa frequentemente
velada sobre projetos geopolíticos e a busca de hegemonia ideológica ganhou força a
partir do século XX, principalmente após os traumas da guerra aberta vividos durante as
duas grandes guerras mundiais.
A questão a seguir versa sobre a Guerra Fria. O estudante deve ser capaz de compreender
as dinâmicas e os conflitos gerados pelas duas superpotências do período: os Estados
Unidos – representantes máximos do capitalismo ocidental – e a União Soviética – líder
do bloco socialista.
Vê-se, como neste caso, que as questões do Enem lançam mão de diversos fragmentos
de textos acadêmicos e jornalísticos sobre os fenômenos a serem abordados. Cabe ao
estudante, juntamente com seus conhecimentos prévios, lê-los atentamente em busca
da resposta, o que torna a prova extremamente interpretativa.

Modelo
(Enem) A Guerra Fria foi, acima de tudo, um produto da heterogeneidade no sistema interna-
cional – para repetir, da heterogeneidade da organização interna e da prática internacional – e
somente poderia ser encerrada pela obtenção de uma nova homogeneidade. O resultado disto foi
que, enquanto os dois sistemas distintos existiram, o conflito da Guerra Fria estava destinado a
continuar: a Guerra Fria não poderia terminar com o compromisso ou a convergência, mas somente
com a prevalência de um destes sistemas sobre o outro.
HALLIDAY, F. Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: Editora da Ufrgs, 1999.

A caracterização da Guerra Fria apresentada pelo texto implica interpretá-la como um(a):
a) esforço de homogeneização do sistema internacional negociado entre Estados Unidos e União Soviética.
b) guerra, visando o estabelecimento de um renovado sistema social, híbrido de socialismo e capitalismo.
c) conflito intersistêmico em que países capitalistas e socialistas competiriam até o fim pelo poder de
influência em escala mundial.
d) compromisso capitalista de transformar as sociedades homogêneas dos países socialistas em democra-
cias liberais.
e) enfrentamento bélico entre capitalismo e socialismo pela homogeneização social de suas respectivas
áreas de influência política.

67
Análise Expositiva

Habilidade 7
Como a Guerra Fria foi uma disputa ideológica pela hegemonia mundial, na qual EUA e URSS
competiam para provar qual sistema socioeconômico era melhor (capitalismo ou socialismo),
o desfecho do embate só poderia vir com a falência de um dos sistemas, o que se concretizou
em 1989, com a queda da URSS.
Alternativa C

Estrutura Conceitual
GUERRA FRIA (1945-1991)

A Contexto B Características
§§ Fim da Segunda Guerra Mundial §§ Período de disputas políticas
§§ Fim da hegemonia política da Europa ocidental §§ Disputa por hegemonia econômica
§§ Formação de dois blocos de interesse mundiais §§ Polarização ideológica
§§ Capitalista §§ Disputas tecnológicas (corrida espacial)
§§ Socialista §§ Conflitos indiretos (Ex.: Oriente Médio)
§§ Criação da ONU
§§ Criação do bloco de países não alinhados

C Blocos de interesse D Principais conflitos


§§ Pactos militares Alemanha
§§ Criação da Otan (1949) – capitalista §§ Divisão da Alemanha (1945)
§§ Pacto de Varsóvia (1955) – comunista §§ República Federal Alemã – capitalista
§§ Pactos econômicos §§ República Democrática Alemã – socialista
§§ Plano Marshal (1947) §§ Criação do Muro de Berlim (1945-1989)
§§ Comecom (1949) Guerra da Coreia (1950-1953)
§§ Agências especiais de informações §§ Divisão da Coreia
§§ CIA §§ Coreia do Norte – socialista
§§ KGB §§ Coreia do Sul – capitalista

§§ Organização dos países não alinhados Revolução cubana (1959)


(Exs.: Índia e Iugoslávia) §§ Implantação do socialismo via guerrilha
§§ Modelo stalinista
§§ Lideranças: Fidel Castro e Che Guevara
§§ Melhoria nas condições sociais
68 §§ Bloqueio econômico dos EUA
§§ Relação com a URSS
E Estados Unidos
Principais presidentes do período
John Kennedy (1961-1963)
§§ Guerra do Vietnã
§§ Invasão da baía dos Porcos, em Cuba
§§ Crise dos mísseis
§§ Aliança para o progresso
Richard Nixon (1969-1974) Década de 1960 – Movimentos
§§ Reata relações com a URSS sociais e contracultura
§§ Watergate
Movimento por direitos civis
Jimmy Carter (1977-1987) §§ Martin Luther King Jr.
§§ Reunião de Camp David §§ Malcom X
§§ Corta financiamento de ditaduras latino-americanas §§ Partido dos Panteras Negras
Ronald Reagan (1981-1989) Movimento hippie
§§ Reforço do anticomunismo §§ Fim da guerra do Vietnã
§§ Reformas neoliberais nos EUA §§ Contestação social

F União Soviética G Bloco socialista


Principais líderes Principais líderes
Stálin (1928-1953) Iugoslávia
§§ Gosplan e planos quinquenais §§ Governo de Tito (1945-1980)
§§ Industrialização acelerada §§ Socialista (bloco dos não alinhados)
§§ Coletivização forçada das terras (kholkozes) §§ Desintegração nos anos 1990
§§ Burocratização do aparelho de Estado §§ Guerra da Bósnia (1992-1995)
Krushev (1953-1964) Tchecoslováquia
§§ Desestalinização (XX Congresso PCUS) §§ Primavera de Praga (1968)
§§ Rompimento com a China §§ Revolução de Veludo (1989)
§§ Crise dos mísseis §§ Separação (1993)
Brejnev (1964-1982), Andropov (1982-1984)
e Chernenko (1984-1985)
§§ Repressão à Primavera de Praga (1968)
§§ Invasão do Afeganistão (1970)
República Tcheca Eslováquia
§§ Olimpíadas de Moscou (1984)
Mikhail Gorbachev (1985-1991)
§§ Perestroika
§§ Glasnost
§§ Queda do Muro de Berlim
§§ Fim da URSS
Boris Yeltsin (1991-1999) - “Coveiro da URSS”
§§ Abertura econômica da Rússia
§§ Desestatização das empresas
§§ Empréstimos ao FMI

69
5 2
1 5 Descolonizações na África e
na Ásia e revolução chinesa

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 2, 3, 4, 5 ,6, 7,
8, 9, 10, 11, 13,
14, 15, 16, 19, 20,
21, 22, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Descolonização afro-asiática
Desde o século XIX, o imperialismo, particularmente inglês e francês, fez dos continentes africano e asiático
seu alvo, transformando seus vastos territórios em colônias. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, os povos
africanos e asiáticos iniciaram um longo processo de descolonização com o objetivo de alcançarem as suas inde-
pendências. Contudo, em muitas regiões, a soberania não significou, necessariamente, uma melhoria no padrão de
vida da população, pois a exploração, agora, estava nas mãos de uma elite regional e das duas novas superpotên-
cias: Estados Unidos e União Soviética.

Fatores
Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças militares nazistas destruíram a estrutura bélica e econômica
da Inglaterra e da França; consequentemente, quando países da África e da Ásia iniciaram a luta pela independên-
cia, a repressão europeia já não tinha o poder anterior.
Outro fator importante no processo de descolonização é o fato de que tinha nascido uma nova ordem mun-
dial, a Guerra Fria, e os EUA e a URSS precisavam penetrar no território do Terceiro Mundo em busca de aumentar
suas influências; para tanto, era necessário minar a autoridade anglo-francesa. Também, no período da Segunda
Guerra, Inglaterra e França militarizaram tropas nativas para incorporar aos seus efetivos bélicos no intuito de
derrotar o Eixo, processo esse que fortaleceu belicamente os continentes nativos, que, após a guerra, voltaram-se
contra suas opressivas metrópoles europeias.
Por outro lado, a Carta de São Francisco que criou a ONU, ao proclamar o direito dos povos de se autogovernarem
(princípio da autodeterminação dos povos), consagrou o anseio de independência dos povos africanos e asiáticos.

Características gerais
Os caminhos para conseguir a independência variaram bastante, mas podem ser agrupados em dois: o
pacífico e o violento. No primeiro caso, a antiga colônia assumia progressivamente seus direitos de nação indepen-
dente, através de uma série de concessões feitas de modo gradual pela metrópole até atingir a independência com-
pleta. Nesse caso, a antiga colônia continuava a manter boas relações com a metrópole, a fazer parte do seu círculo
de influência e a receber sua ajuda econômica. Esse foi o caso da independência da Índia em relação à Inglaterra.
No segundo caso – a forma violenta –, a colônia rompia totalmente com a antiga metrópole, sem qualquer
tentativa de abolição progressiva do estatuto colonial. Pelo contrário, a metrópole procurava evitar, pela violência,
os movimentos de libertação, pressionando a colônia a procurar a solução armada para seus problemas. Esse foi o
caso da independência das colônias francesas da Indochina (atual Vietnã) e da Argélia.

73
A independência da Índia (1947) por mais de 1,7 mil quilômetros. A divisão foi seguida
por deslocamentos maciços de população e confrontos
sangrentos entre hindus e muçulmanos. A ilha do Cei-
lão, atual Sri Lanka, formou um terceiro Estado, budista.

Em 1971, o Paquistão Oriental separou-se do


Ocidental com o apoio da Índia e passou a se chamar
Bangladesh. Atualmente, Índia e Paquistão, que pos-
Gandhi
suem bombas atômicas, estão em estado de guerra por
“A não violência e a covardia não combinam. questões territoriais na Caxemira, entre outros fatores.
Posso imaginar um homem armado até os dentes que Vale salientar que a inspiração sobre a não vio-
no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um lência defendida por Gandhi originou-se do hinduísmo,
elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a
segundo o qual somente as ações nobres elevariam o
verdadeira não violência é uma impossibilidade sem a
posse de um destemor inflexível.” espírito humano para as castas superiores depois da
Gandhi ressurreição. Gandhi foi assassinado, em 1948, por um
fanático hindu que não concordava com sua política de
respeito aos interesses dos muçulmanos.
A independência da Índia representou um marco
no processo de descolonização. Dominada pelos ingle-
ses desde o século XVIII, somente no século XIX, por A independência da Indonésia (1949)
volta de 1885, teve início um movimento nacionalista,
impulsionado por minorias intelectualizadas, cuja edu-
cação fora propiciada pelos ingleses.
O grande líder do movimento de emancipação
foi Mahatma Gandhi, um advogado de formação eu-
ropeia, que tinha por princípio a não violência, a resis-
tência pacífica aos dominadores e a desobediência civil.
Após a Grande Guerra, o movimento intensificou-se e
ganhou a adesão das massas, nem sempre respeitando
os princípios pacifistas de Gandhi. Com o fim da Segun-
A Indonésia era controlada pela Holanda, des-
da Guerra Mundial, em 1947, a Inglaterra outorgou a
de o século XVIII. Com a ocupação japonesa durante
independência ao país, mas, diante da cisão entre os
a Segunda Guerra Mundial, surgiu o movimento de
hindus e os muçulmanos, repartiu o território, que foi
resistência organizado pelos nacionalistas islâmicos e
dividido em Índia e Paquistão, ficando a Índia no centro
socialistas. Quando o Japão capitulou, o exército da
e o Paquistão Oriental separado do Paquistão Ocidental

74
resistência, liderado por Sukarno, saiu das florestas e Posteriormente, as grandes nações imperialistas inter-
tomou o poder, proclamando a República da Indonésia. vieram nos países membros da Conferência de Bandung
A Holanda tentou restabelecer seu poder, mas a resis- e conseguiram mudar os governos, retirando os nacio-
tência nacionalista foi bastante forte. Chegou-se, então, nalistas do poder e implantando governos entreguistas,
a um acordo, que restabeleceu os Estados Unidos da que paulatinamente foram desfalcando a conferência,
Indonésia, ligados à Holanda. Em 1950, os laços com que perdeu sua força e legitimidade. Grandes líderes do
a Holanda foram desfeitos e Sukarno proclamou nova- Terceiro Mundo, como Nehru, da Índia, Nasser, do Egito,
mente a República. Ho Chi Min, do Vietnã do Norte, e Sukarno, da Indoné-
Essa República era nacionalista-progressista e sia, onde ocorreu a reunião, incentivaram a Conferência
esteve à frente do movimento pela descolonização. Or- de Bandung. A descolonização estruturou-se na auto-
ganizou em seu território a Conferência de Bandung. determinação dos povos e inspirou-se na Declaração
Sukarno fez uma política de colaboração com o Partido de Direitos da ONU, apesar das críticas aos vetos do
Comunista da Indonésia, que nos anos 1960 era pró- Conselho de Segurança aos interesses afro-asiáticos vi-
-chinês. toriosos na Assembleia Geral. No momento histórico da
Em 1966, o Partido Comunista tentou tomar o Guerra Fria, suas preocupações eram menosprezadas,
poder, o que resultou em verdadeiros massacres pelo uma vez que as divergências Leste versus Oeste lidera-
exército – mais de 300 mil indonésios foram mortos vam os debates.
e dois milhões, presos. Em 1967, Sukarno foi deposto
pelo general Suharto, que implantou uma ditadura pró-
-ocidental.
A independência da Indochina (1954)

Conferência de Bandung (1955)

Conferência de Bandung

A independência foi salutar para a África e Ásia;


contudo, a economia não conseguia crescer efetivamen-
te porque os Estados Unidos, em especial, implantaram A Indochina, formada por povos distintos, foi
uma grande exploração a partir das multinacionais, ocupada pelo segundo império francês, que, na época,
cujas dívida externa e balança comercial eram defici- não tinha uma política colonial para a Ásia. Com a apli-
tárias. No intuito de se livrar de qualquer exploração cação dos capitais excedentes, deram início à explora-
externa, muitos países participaram da Conferência de ção das jazidas minerais, à produção de chá em grandes
Bandung, em 1955. Essa conferência isolaria os agen-
plantações, exportada para a França, e à construção da
tes de exploração externos através de uma política de
rede telegráfica.
neutralidade diante da Guerra Fria, de certo modo até
O Vietminh, Movimento de Libertação Nacional
mesmo isolacionista, pois não seguiriam as regras do
da Indochina, nasceu em 1914, na região fronteiriça
imperialismo de nenhum país. Essa política foi intitula-
da de não alinhamento e provocou a insatisfação das entre a China e a Indochina, liderado por setores da
superpotências, principalmente dos Estados Unidos. burguesia e intelectuais.

75
Em 1930, o Partido Comunista Indochinês foi tirada das tropas francesas, a Independência do Laos e do
criado por Ho Chi Minh, que havia militado na França, Camboja e a divisão do Vietnã em duas partes, estabele-
na Rússia e, depois, na China, onde, em 1925, fundou o cendo o paralelo 17 como linha divisória. Nasciam, assim,
Partido da Juventude Revolucionária. O Partido Comu- a República Democrática do Vietnã (Norte), socialista e
nista Indochinês fez alianças com a burguesia dentro do governada por Ho Chi Minh, e o Vietnã do Sul, capitalista
Movimento de Libertação Nacional. e sob o controle de Ngo Dinh Diem. Ainda segundo o
Acordo de Genebra, a divisão do Vietnã era temporária e
A crise de 1929 fez estragos também na Indo-
a reunificação do país deveria ocorrer em 1956, através
china, com a queda dos preços dos metais e do chá,
da realização de um plebiscito.
deixando um saldo de operários desempregados, cam-
poneses arruinados, artesãos e comerciantes falidos.
A região, dominada pelos franceses, foi ocupada
pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Em
A Guerra do Vietnã
1945, depois da derrota japonesa, Ho Chi Minh, que em
1930 havia fundado o Partido Comunista da Indochina,
(1961–1975)
tomou o poder no Norte do país, criando a República
Democrática do Vietnã. Depois de uma breve ocupação
por tropas inglesas e chinesas, a França tentou recupe-
rar o controle da região, passando a negociar com o
Vietminh, partido de Ho Chi Minh.

Em 8 de junho de 1972, essa foto mostrou um pequeno grupo de crianças


fugindo das explosões
na vila de Trang Bang, no Vietnã. A imagem tornou-se símbolo da guerra.

A Guerra do Vietnã foi um prolongamento da


Guerra da Indochina. O Acordo de Genebra havia esta-
belecido que um plebiscito decidiria a reunificação do
Vietnã. Como a maioria dos vietnamitas era favorável
à reunificação e Ho Chi Minh, seu líder mais popular,
Ho Chi Minh
o governo do Sul, incentivado pelos EUA, adiava esse
plebiscito. O cancelamento do plebiscito por Ngo Dinh
Em 1946, eclodiu o conflito armado (Guerra da Diem, com o objetivo de perpetuar a divisão do país,
Indochina) e, após 1949, com a vitória da revolução co- desencadeou, no ano de 1961, a Guerra do Vietnã.
munista na China, o partido de Ho Chi Minh pôde con- A luta pela reunificação do país foi comandada
tar com o apoio chinês. Como a França não reconheceu pelo Vietcong, Frente de Libertação Nacional, de ten-
a independência, atacou o Norte do país e o governo de dências comunistas, nascida no Vietnã do Sul e apoiada
Ho Chi Minh entrou para a clandestinidade, dando iní- pelo Vietnã do Norte, enquanto a ditadura de Ngo Dinh
cio à guerra de guerrilhas. Em 1954, os franceses foram Diem, por sua vez, era apoiada pelos Estados Unidos
derrotados na Batalha de Dien Bien Phu, dando fim ao através de uma intervenção militar que, no auge da
período colonial da região. guerra, chegou a ter 550 mil estadunidenses comba-
tendo no Vietnã do Sul. Uma nova escalada na guerra
Acordo de Genebra (1954) ocorreu em 1965, quando o governo dos EUA iniciou
bombardeios aéreos sistemáticos sobre o Vietnã do
Em Genebra, na Suíça, realizou-se uma conferên- Norte. Em 1970, com a invasão do Camboja e a inter-
cia, da qual participaram EUA, França e República Popular venção no Laos pelas tropas estadunidenses, o conflito
da China, com a finalidade de pôr fim à Guerra da Indo- generalizou-se.
china (1946-1954). Nessa conferência, decidiram-se a re-

76
Em 1973, com a convocação da Conferência de Paris para iniciar as negociações de paz, os Estados Unidos
iniciaram a retirada gradual de suas tropas do Vietnã do Sul. Em 1975, a Guerra do Vietnã chegou ao fim com a
conquista de Saigon (capital do Vietnã do Sul) pelas forças do Vietcong e a reunificação do país, sob a denominação
de República Socialista do Vietnã. Apesar do gritante desequilíbrio de forças, os Estados Unidos perderam a guerra,
na qual morreram mais de 50 mil e foram feridos mais de 300 mil soldados estadunidenses. Ao menos 1,1 milhão
de vietnamitas morreram no conflito – algumas estimativas falam em três milhões de mortos.

Como os Estados Unidos perderam a Guerra do Vietnã?


Roberto Navarro

A “virada” que culminou com a derrota americana na Guerra do Vietnã (1954–1975) começou com uma série
de ataques dos inimigos comunistas em 1968. É o episódio conhecido como “Ofensiva do Tet”. O nome é uma
referência à data de início das batalhas, o feriado de ano novo lunar, chamado pelos vietnamitas de Tet Nguyen
Dan. A partir da madrugada de 31 de janeiro de 1968, o governo comunista do Vietnã do Norte e seus aliados, os
guerrilheiros da Frente de Libertação Nacional, mais conhecidos como vietcongues, iniciaram ataques simultâneos
contra várias cidades do Vietnã do Sul – um país capitalista defendido pelo exército sul-vietnamita e por nações
como Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e, principalmente, Estados Unidos. A ideia da invasão militar comu-
nista era lutar para “libertar” o povo do Sul da “opressão capitalista”. Eles achavam que a invasão provocaria uma
rebelião popular contra o governo do Vietnã do Sul, coisa que nunca aconteceu. No começo, o ataque surpresa deu
certo, mas os americanos e sul-vietnamitas reagiram rapidamente. Como o poderio militar do lado capitalista era
muito maior, os comunistas foram expulsos em poucos dias de quase todas as cidades que invadiram. Mas, apesar
da vitória militar americana, as imagens da invasão frustrada provocaram um bruto estrago nos Estados Unidos.
“A Ofensiva do Tet chocou a opinião pública americana. A cobertura dos combates feita pela TV deixou em muita
gente a impressão de que os Estados Unidos e seus aliados estavam em situação desesperadora”, diz o historia-
dor americano Ronald Spector, da Universidade George Washington. Dentro dos Estados Unidos, aumentaram os
protestos contra a guerra. Com o filme queimado, o governo americano ainda segurou seus soldados no Vietnã por
quatro anos, mas acabou retirando as tropas em 1972. Diante do abandono americano, o exército e os guerrilhei-
ros do Norte ganharam terreno. Acabaram tomando a capital Saigon em 1975, vencendo a guerra e unificando o
Vietnã sob o regime comunista.
(Disponível em: <mundoestranho.abril.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2015).

Descolonização da África
Em 1956, existiam na África negra apenas três Estados independentes: a Etiópia, a Libéria e a África do
Sul, este governado pela minoria branca de origem europeia. A quase totalidade do continente – 20 milhões de
quilômetros quadrados e 160 milhões de habitantes – estava dividida em colônias dos países europeus. Entretanto,
entre 1957 e 1962, com o processo de descolonização, 29 países conquistaram sua independência.

A independência da Argélia (1962)


Localizada no Norte da África, a Argélia foi conquistada pela França em 1830, durante o governo de Luís
Filipe I. A França manteve sobre esse território uma tutela colonial que se estendeu até o fim da Segunda Guerra
Mundial. Em 1950, cerca de um milhão de colonizadores de origem francesa – os pieds noirs, ou pés pretos – con-
trolavam um terço das melhores terras do país em detrimento dos oito milhões de argelinos.

77
A crise da França no pós-guerra e sua derrota na Guerra da Indochina contribuíram decisivamente para
o fortalecimento do nacionalismo argelino. Em 1954, surgia a Frente de Libertação Nacional, FLN, incitadora da
guerra de independência da Argélia, que foi o primeiro país africano a adotar táticas modernas de guerrilha (rural
e urbana) na luta contra o colonialismo europeu.
Na Batalha de Argel, em 1957, as forças francesas, que chegaram a contar com 500 mil soldados, consegui-
ram desmantelar a organização clandestina da FLN na capital do país. Uma sangrenta repressão à população civil
árabe, no entanto, consumou a divisão entre a minoria francesa e a maioria muçulmana.
Em 1958, a crise do governo francês, em consequência da Guerra da Argélia, levou à queda da IV República
e à ascensão ao poder do general Charles de Gaulle. Em 1961, um referendo popular concedeu a de Gaulle plenos
poderes para negociar a paz com o governo provisório republicano da Argélia, formado pela FLN e com sede no
Cairo. O setor mais reacionário do exército francês desfechou um golpe de Estado contra de Gaulle, cujo fracasso
foi seguido de uma campanha terrorista de direita empreendida pela Organização do Exército Secreto, OAS, tanto
na Argélia quanto na França.
Em 1962, as negociações de paz culminaram na assinatura do Acordo de Evian, que pôs fim às hostilidades
e reconheceu a independência da Argélia. A guerra de libertação estendera-se por oito anos e provocara o êxodo
de 900 mil colonos franceses, 500 mil refugiados e a morte de um milhão de argelinos.

Independência da Argélia

A independência de Moçambique (1975)


Moçambique está situada na África oriental, nas costas do oceano Índico. Em 1962, Eduardo Mondlane fundou a
Frelimo, Frente de Libertação de Moçambique, que, em 1964, desencadeou a resistência armada ao colonialismo português.
Em 1969, após o assassinato de Mondlane num atentado promovido por agentes portugueses, a liderança
da Frelimo passou a ser exercida por Samora Machel. Nessa época, as forças revolucionárias já controlavam um
quinto do território moçambicano, principalmente as regiões situadas ao norte do país. No início da década de
1970, as forças portuguesas sofreram inúmeras derrotas, o que se transformou, inclusive, num dos fatores decisivos
para a derrubada do regime fascista português pela Revolução dos Cravos, em 1974. No ano seguinte, o novo go-
verno português reconhecia a independência da República Popular de Moçambique presidida por Samora Machel.

78
Revolução dos Cravos (1974)

Foi o movimento que derrubou o regime salazarista em Portugal, em


1974, de forma a estabelecer as liberdades democráticas promoven-
do transformações sociais no país. Após o golpe militar de 1926, foi
estabelecida uma ditadura no país. No ano de 1932, Antônio de Oli-
veira Salazar tornou-se primeiro-ministro das finanças e virtual di-
tador. Salazar instalou um regime inspirado no fascismo italiano. As
liberdades de reunião, de organização e de expressão foram suprimi-
das com a Constituição de 1933.
Portugal manteve-se neutro durante a Segunda Guerra Mundial.
A recusa em conceder independência às colônias africanas estimu-
lou movimentos guerrilheiros de libertação em Moçambique, Guiné-
-Bissau e Angola. Em 1968, Salazar sofreu um derrame cerebral e foi
substituído por seu ex-ministro Marcelo Caetano, que prosseguiu com
sua política. A decadência econômica e o desgaste com a guerra co-
lonial provocaram descontentamento na população e nas forças armadas. Isso favoreceu a aparição de um movi-
mento contra a ditadura.
No dia 25 de abril de 1974, eclodiu a revolução. A senha para o início do movimento foi dada à meia-noite
por meio de uma emissora de rádio. Tratava-se da canção proibida pela censura, “Grândula Vila Morena”, de Zeca
Afonso. Os militares fizeram com que Marcelo Caetano fosse deposto, o que resultou na sua fuga para o Brasil. A
presidência de Portugal foi assumida pelo general António de Spínola. A população saiu às ruas para comemorar o
fim da ditadura e distribuiu cravos, a flor nacional, aos soldados rebeldes em forma de agradecimento.
(Disponível em: <historiadomundo.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2015).

A independência de Angola (1975)


Angola, a maior e mais rica das províncias ultramarinas portuguesas, está situada na África ocidental, nas
costas do oceano Atlântico. Em seu território há petróleo, diamantes, ferro, cobre, urânio e outros minerais.
Em 1956, foi fundado o MPLA, Movimento Popular pela Libertação de Angola, que, em 1961, sob a lideran-
ça de Agostinho Neto, deu início à guerrilha contra as forças colonialistas portuguesas. Surgiram, posteriormente, a
FNLA, Frente Nacional de Libertação de Angola, e a Unita, União Nacional para a Independência total de Angola,
movimentos de caráter regional e de base essencialmente tribais.

Agostinho Neto

79
Após a queda do fascismo português em 1974,
foi assinado o Acordo de Alvor, fixando a independência
de Angola para o final de 1975 e criando um governo
de transição formado por MPLA, FNLA e Unita. Pouco
antes da independência, o Zaire, atual Congo, apoiado
pela FNLA, invadiu Angola pelo Norte, enquanto a África
do Sul, apoiada pela Unita, invadia Angola pelo Sul. Essa
invasão de cunho neocolonialista foi apoiada pelos Esta-
dos Unidos.
Em novembro de 1975, o MPLA assumiu o poder
Sun Yat-sen
em Luanda, capital do país, e proclamou, unilateralmen-
te, a independência de Angola, que mergulhou numa Em 1921, foi fundado o Partido Comunista Chi-
sangrenta guerra civil. O novo governo, presidido por nês, inspirado na Revolução Russa de 1917, que lançou
Agostinho Neto, solicitou a ajuda de Cuba e do bloco imediatamente uma campanha militar contra os “se-
socialista para fazer frente à invasão estrangeira. As for- nhores da guerra”. Os comunistas aliaram-se ao Kuo-
ças do MPLA, apoiadas por tropas cubanas, iniciaram mintang, partido de cunho nacionalista, mas, em 1927,
a “segunda guerra de libertação”, que culminou, em o líder desse partido, general Chiang Kai-shek, rompeu
1976, na vitória sobre a Unita e a FNLA e na expulsão a aliança e massacrou milhares de comunistas em Xan-
dos mercenários sul-africanos e zairenses do território gai. Tinha início uma guerra civil que duraria 22 anos.
angolano. Em 1979, com a morte de Agostinho Neto, Derrotados no Sul, os comunistas, sob a lideran-
José Eduardo dos Santos assumiu a Presidência do país. ça de Mao Tsé-tung, realizam a chamada Longa Mar-
cha em direção ao Norte. Lá organizaram a República

Revolução chinesa Vermelha, resistindo aos ataques do Kuomintang e, ao


mesmo tempo, lutando contra a ocupação japonesa
desde 1937.
País com mais de 10 milhões de quilômetros
Terminadas a Segunda Guerra Mundial e a alian-
quadrados, a China teve seu território dividido em zonas
ça para expulsar os invasores japoneses, continuou a
de influência pelas potências europeias, pelos Estados
guerra civil. Os comunistas receberam a ajuda soviética
Unidos e pelo Japão, após a derrota chinesa nas Guer-
e os nacionalistas foram auxiliados pelos Estados Uni-
ras do Ópio (1840-1842, 1856-1860) e na Guerra dos
dos. Finalmente, em 1949, as forças lideradas por Mao
Boxers (1900).
Tsé-tung derrotam o Kuomintang e implantam a Repú-
Em 1911, nacionalistas liderados por Sun Yat-
blica Popular da China. Chiang Kai-shek fugiu para a
-sen promoveram uma rebelião, derrubaram a monar-
ilha de Formosa, onde organizou um governo dissiden-
quia – dinastia Manchu, que governava a China desde
te, recebendo pleno apoio dos EUA.
meados do século XVII – e criaram a República da Chi-
na. No entanto, as divergências e rivalidades entre os
“senhores da guerra”, chefes regionais influenciados
pela herança feudal, impediram o surgimento de uma
República autônoma e moderna. Além disso, foi um go-
verno que quase nada pôde fazer contra as potências
que dominavam o país.

Mao Tsé-tung

80
O novo governo chinês implantou uma radical reforma agrária. Aboliu os privilégios feudais, tornou a edu-
cação obrigatória e criou as bases para uma rápida industrialização.
Inicialmente, os chineses seguiram, em linhas gerais, as diretrizes adotadas pela União Soviética, consi-
deradas adequadas, indiscriminadamente, a todos os países socialistas. Mas já no início da década de 1950, a
Revolução Chinesa começou a seguir caminhos próprios, justificados no fato de a China ser de origem camponesa.
Em 1958, Mao Tsé-tung lançou um ambicioso projeto denominado Grande Salto para a Frente. O plano
pretendia “queimar etapas” na construção do socialismo, ou seja, formar um parque industrial amplo e diversifica-
do. Em 1961, porém, os projetos de industrialização rápida entraram em colapso e, ainda nesse ano, em razão de
atritos com a União Soviética, foram retirados do país os técnicos soviéticos, agravando-se a situação.
Em 1966, teve início na China um período de grande turbulência política conhecido por Revolução Cultu-
ral. Diante da paulatina perda de controle sobre o Partido Comunista, Mao Tsé-tung estimulou principalmente os
jovens e o exército contra seus adversários internos. A Revolução Cultural foi, ao mesmo tempo, um extraordinário
esforço de transformação ideológica e uma violenta e gigantesca depuração partidária, que afetou toda a estrutura
política do país durante dez anos.

Cartaz da Revolução Cultural com a imagem de Mao Tsé-tung

Em 1976, com a morte de Mao Tsé-tung, teve início um processo de “desmaoização”, em que as ideias e
os adeptos da Revolução Cultural foram perdendo poder. A nova liderança do Partido Comunista e da nação, Deng
Xiaoping, pôs em prática um novo plano de reorganização política e econômica da China e aprovou uma nova
constituição, um novo plano decenal e um novo hino nacional.
O desenvolvimento da economia chinesa acelerou-se quando o governo comunista decidiu abri-la às na-
ções capitalistas. Esse processo de abertura econômica, todavia, não foi acompanhado de uma abertura política
nos moldes da que se verificou na Europa. Em 1989, estudantes chineses que lutavam por mais liberdade foram
violentamente reprimidos pelo exército na Praça da Paz Celestial.

81
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Gandhi

Os acontecimentos mais importantes da vida de Gandhi, o líder


indiano que enfrentou o domínio britânico sobre seu país. Dedicado
ao conceito de resistência não violenta, ele é inicialmente rejeitado por
autoridades inglesas, mas suas causas acabam se tornando reconhecidas
internacionalmente e seus protestos levam a Índia a conquistar sua
independência.

Filme A batalha de Argel

Entre os anos de 1954 e 1957, o povo da Argélia decidiu que não seria mais
explorado: assim teve início o conflito que levou o país à sua independência. No
entanto, a França, através de seu numeroso exército, não estava disposta a deixar
que a Argélia se tornasse independente. Começa aí uma verdadeira batalha em
Argel, capital do país, travada principalmente entre os métodos convencionais
da tropa francesa e as técnicas não convencionais da FLN, a Frente de Libertação
Nacional.

82
82
LER

Livros
Mayombe – Pepetela

O livro foi escrito durante a participação do escritor angolano,


Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela), na guerra de
libertação de Angola, na década de 1970. Recompõe o cotidiano
dos guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA) em luta contra as tropas portuguesas.

A chinesa – Jean Luc Godard

Veronique é uma estudante de Filosofia que forma um grupo com


mais quatro amigos da universidade para debater temas políticos
e sociais. Adeptos do maoísmo, os jovens se cansam de teorizar
e decidem partir para medidas mais extremas contra o que eles
consideram injusto.

83
83
INTERDISCIPLINARIDADE

Apesar das colônias africanas e asiáticas terem se emancipado das potências europeias após a Segunda
Guerra Mundial, a influência econômica sobre as antigas possessões continua presente. Países como Níger, Mauri-
tânia, Mali e Costa do Marfim, ex-colônias francesas, ainda têm suas riquezas naturais exploradas por corporações
multinacionais da antiga metrópole. No entanto, uma nova potência econômica emerge nesses países, causando
rivalidade sobre o domínio econômico desses países: trata-se da China, segunda maior economia do mundo. A
ideia dos chineses é de lenta aproximação, integrando seu mercado aos países africanos.
Em junho de 2017, uma missão diplomática chinesa passou por tais países, em busca de laços estratégicos.
Evidentemente, as empresas francesas se sentiram incomodadas com a presença da comitiva chinesa e não facilita-
ram a entrada desses novos concorrentes. A região, já afetada pela instabilidade política, pode viver novas páginas
de caos social, caso não haja diálogo entre as duas potências.
Como constatou o acadêmico Dmitri Bondarenko, em entrevista ao canal Sputnik News: “Na África ociden-
tal, os interesses da China colidem, de modo significativo, com os da França. Mauritânia, Mali, Costa do Marfim e
Níger são antigas colônias francesas. Nos últimos anos, a China tenta ativamente expulsar a França dessa região. A
zona é muito rica em recursos naturais, mas muito difícil em termos de estabilidade política”.
Disponível em: <https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/201705208438062-china-aumenta-presenca-na-africa>.

84
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 8 - Analisar a ação dos Estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos
populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.

Pela prerrogativa do uso exclusivo dos mecanismos de violência física, o Estado nacional
tem condições de agir na dinâmica de fluxos populacionais. São inúmeros os exemplos
desse tipo de política durante a história e, inclusive, casos contemporâneos perduram na
tentativa de organizar violentamente a população dentro de uma nação. Podemos citar o
caso da China, que controla rigorosamente o fluxo de sua população rural rumo às grandes
metrópoles, evitando, assim, superpopulações urbanas.
Contudo, há casos ainda mais severos que devem ser analisados, como o do apartheid sul-
-africano, abolido em 1994, que previa a segregação socioespacial da população por meio
de critérios raciais.
A habilidade 8 exige justamente esse tipo de percepção dos estudantes. É necessário captar
as motivações e as práticas que os Estados lançaram mão para objetivar a dinâmica demo-
gráfica e o fluxo migratório de suas populações; isso tudo torna as questões pertinentes a
essa habilidade bastante interdisciplinares, seja com a Geografia ou com a Sociologia.

Modelo
(Enem)

O regime do Apartheid, adotado de 1948 a 1994 na África do Sul, fundamentava-se em ações es-
tatais de segregacionismo racial.
Na imagem, fuzileiros navais fazem valer a “lei do passe”, que regulamentava o(a):
a) concentração fundiária, impedindo os negros de tomar posse legítima do uso da terra.
b) boicote econômico, proibindo os negros de consumir produtos ingleses sem resistência armada.
c) sincretismo religioso, vetando os ritos sagrados dos negros nas cerimônias oficiais do Estado.
d) controle sobre a movimentação, desautorizando os negros a transitar em determinadas áreas das
cidades.
e) exclusão do mercado de trabalho, negando à população negra o acesso aos bens de consumo.

85
Análise Expositiva

Habilidade 8
A minoria branca que governava a África do Sul instituiu o Apartheid, um regime de segre-
gação racial para submeter os negros aos brancos no país. Durante a vigência desse regime,
além de não poder frequentar os mesmos lugares que os brancos, os negros eram obrigados
a andar portando um passe para se deslocar pelas cidades.
Alternativa D

Estrutura Conceitual
DESCOLONIZAÇÕES NA ÁFRICA E NA ÁSIA

A Contexto B Fatores
§§ Imperialismo dos séculos XIX e XX §§ Destruição dos países europeus
§§ Fim da Segunda Guerra Mundial §§ Militarização das colônias na II Guerra
§§ Guerra Fria §§ Autodeterminação dos povos (ONU)

C Características
§§ Independência pacífica (ex.: Índia)
§§ Independência violenta (ex.: Argélia)

D Descolonizações na Ásia
Índia (1947) Indonésia (1949)
§§ Colonização inglesa (século XVIII) §§ Colonização holandesa (século XVIII)
§§ Movimentos nacionalistas (século XIX) §§ Ocupação japonesa na II Guerra
§§ Liderança: Mahatma Gandhi (princípio da não violência) §§ Independência tutelada e apoio dos EUA
§§ Independência negociada §§ 1960: comunistas tomam o poder
§§ Formação da Índia (hindu) e Paquistão (muçulmano) §§ 1967: golpe dos EUA
§§ Tensão militar e nuclear pela Caxemira Conferência de Bandung (1955)
§§ Endividamento dos países independentes
§§ Imperialismo dos EUA
§§ Criação do bloco dos países não alinhados

86
Independência da Indochina (1954) Guerra do Vietnã (1961-1975)
§§ Colonização francesa §§ Vietnã do Norte (comunista)
§§ 1914: Vietiminh §§ Vietnã do Sul (apoio dos EUA)
§§ 1930: Partido Comunista Indochinês 1970
§§ 1945: República Democrática do Vietnã §§ EUA ocupam Laos e Camboja
§§ 1954: Expulsão dos franceses do sul §§ Alta violência
§§ Acordo de Genebra §§ Opinião pública contra a guerra
§§ Divisão entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul 1971
§§ Formações do Laos e do Camboja §§ Retirada do exército
§§ Vitória do Vietnã do Norte

E Descolonizações na África
Formação de 29 países (1957-1962)
Argélia (1962) Moçambique (1975)
§§ 1830: colonização francesa §§ Colônia portuguesa
§§ 1950: Frente de Libertação Nacional §§ 1962: Frelimo
§§ 1962: independência §§ 1974: Revolução dos Cravos em Portugal
Angola (1975) §§ 1975: reconhecimento da independência
§§ Colonização portuguesa
§§ 1956: MPLA
§§ 1975: declaração de independência
§§ Oposição da FNLA e da UNITA
§§ Guerra civil até 1976

REVOLUÇÃO CHINESA (1949)


A Contexto D República Popular
§§ Força do socialismo após 1917 da China
§§ Guerra Fria §§ 1950: modelo soviético
§§ Independência das colônias asiáticas §§ 1958: “Grande Salto para a Frente”
§§ Industrialização forçada
B Antecedentes §§ Crise
§§ 1961: rompimento com a URSS
§§ Divisão imperialista do território chinês
§§ 1966: revolução cultural
(guerras do ópio dos boxers)
§§ 1976:
§§ 1911: queda da monarquia
§§ “Desmaoização”
§§ 1921: criação do Partido Comunista da China §§ Abertura do mercado para o capitalismo
§§ Líder: Deng Xiaoping
C Processo §§ 1989: massacre da Praça da Paz Celestial

§§ Aliança do Partido Comunista com o Kuomitang (Partido Nacionalista)


§§ 1927
§§ Traição do Kuomitang
§§ Resistência comunista ao norte
§§ Liderança: Mao Tse-Tung
§§ 1927-1949: guerra civil
§§ Norte apoiado pela URSS
§§ Sul apoiado pelos EUA
§§ 1949: formação da República Popular da China
87
Abordagem da HISTÓRIA DO BRASIL nos principais vestibulares.

FUVEST
Aborda temas relacionados às práticas políticas vigentes no regime militar brasileiro, dando uma atenção
maior ao “milagre econômico brasileiro” e às lutas pela restauração da democracia, além de todo o des-
gaste político-social do período. Ainda aborda as transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas
com o advento da nova república. Utiliza inúmeras fontes para elaborar suas questões, entre as quais
textos introdutórios, mapas, charges, fotografias, tabelas e gráficos.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Aborda as convulsões políticas presentes na queda do regime militar brasileiro, além das relações de
poder existentes entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Ainda aparecem com frequência as
transformações ocorridas por meio de movimentos e pressões populares pela redemocratização. Normal-
mente elabora questões com uso de textos médios e grandes como auxílio para a pergunta, propondo
como respostas alternativas concisas.

UNICAMP
Aborda temas relacionados às manifestações sociais existentes no regime militar e suas repercussões.
Também costuma analisar as práticas políticas e as relações de poder comuns no Brasil desse período,
assim como a crise do governo militar e o regresso de uma democracia. Utiliza textos breves ou pequenas
introduções, além de algumas imagens na elaboração de suas questões e coloca alternativas relativa-
mente longas.

ENEM/UFMG/UFRJ
Aborda as lutas sociais e as reações contra o governo militar no processo de reconquista de direitos so-
ciais. Atenção às questões relacionadas à promulgação da Constituição de 1988, pois o exame costuma
trabalhar os conceitos de cidadania. Utiliza textos, mapas, gráficos e imagens, de forma mesclada, na
elaboração de suas questões.

UERJ
Realiza abordagens históricas em suas questões que propõem aos candidatos uma reflexão sobre temas
com pertinência contemporânea, como as lutas por direitos e pelo fim do governo militar, a construção
da ideia de cidadão no Brasil na elaboração e aprovação da Constituição de 1988, além de analisar as
mudanças trazidas por essa nova carta constituinte. Utiliza textos, mapas, gráficos e imagens, de forma
mesclada, na elaboração de suas questões.
4 6
5 4 Ditadura militar: governos
Médici e Geisel

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 2, 8, 10, 11, 12,
13, 14, 15, 16, 17,
18, 21, 22, 23,
24 e 25

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Governo Médici (1969–1974)
Auge da repressão: os “anos de
chumbo”
O general Emílio Garrastazu Médici era um fiel representante da “linha
dura”. No seu governo, empenhou-se em combater toda e qualquer oposição
ao regime militar. Aquele período – conhecido como os “anos de chumbo”
– foi o mais cruel e de mais repressão do Estado sobre a sociedade civil e os
meios de comunicação. Em nome da segurança nacional, o governo promoveu
perseguições, torturas e assassinatos contra seus opositores e contra os meios
de comunicação, que foram bastante censurados. Só podiam ser veiculadas
notícias favoráveis ao regime militar. Jornais e revistas tiveram suas redações
ocupadas e as notícias eram “filtradas” antes de publicadas. Os grandes jor-
Médici
nais, no entanto, quase sempre apoiaram a ditadura conforme relatos do grupo
Tortura Nunca Mais e da Comissão da Verdade.

Censura da ditadura militar sobre o jornal O Estado de S. Paulo, que substituía textos proibidos por versos de
Os Lusíadas, de Camões (26 de julho de 1974).

Os grupos da luta armada – guerrilhas urbanas e rurais que enfrentavam o regime militar – declinaram e
praticamente desapareceram durante o governo, graças à violência e a eficácia da repressão. Carlos Marighella,
da Aliança de Libertação Nacional, ALN, foi assassinado em novembro de 1969, em uma emboscada policial,
resultado de informações obtidas via tortura aos freis Titos e Beto. A Vanguarda Popular Revolucionária, VPR, fora
inviabilizada no início de 1971. Aconselhado por seus companheiros a fugir do País, Lamarca, líder da VPR, insistiu
em ficar. Após vários deslocamentos, embrenhou-se no sertão da Bahia, onde foi descoberto e assassinado em
setembro de 1971.

O “milagre econômico brasileiro”


A base política e econômica do governo Costa e Silva foi mantida por Médici, bem como o ministro da
Fazenda, Antonio Delfim Netto, o que lhe permitiu colher os frutos da política econômica implantada no governo
anterior pelo Programa Estratégico de Desenvolvimento, PED.

93
11,2% e alcançou o pico em 1973, com uma variação
de 13%. A inflação média anual não passou de 18%,
índice baixo para a época.
Médici realizou grandes investimentos no setor
de infraestrutura e na construção de grandes e portento-
sas obras, chamadas “faraônicas”, em virtude do tama-
nho, como, por exemplo, a Ponte Rio–Niterói e a rodovia
Transamazônica, símbolos de um “Brasil grande”.

Delfim Netto com o presidente Médici

Com o intuito de elevar o Brasil às grandes po-


tências econômicas mundiais, foi criado o Plano Na-
cional de Desenvolvimento, (PND), cujas principais
metas eram manter os baixos índices inflacionários e
promover o desenvolvimento da economia nacional.
Houve grande estímulo às exportações, principal Construção da rodovia Transamazônica, 1970.
fonte de recursos da economia brasileira, bem como à
importação de máquinas e equipamentos industriais, Apesar desses indicadores positivos, no entan-
fundamentais para o desenvolvimento do País. As ex- to, o “milagre brasileiro” também apresentou pontos
portações diversificaram-se com os incentivos dados negativos. Um dos seus pontos vulneráveis estava em
pelo governo aos produtos industriais: créditos em con- sua excessiva dependência do sistema financeiro e do
dições favoráveis, isenção ou redução de tributos e ou- comércio internacional, responsáveis pela facilidade dos
empréstimos externos, pela inversão de capitais estran-
tras medidas semelhantes. Nas exportações agrícolas,
geiros, pela expansão das exportações etc. Outro ponto
destacou-se o avanço da soja, cujos preços no mercado
negativo era a necessidade cada vez maior de contar
internacional eram bastante favoráveis.
com determinados produtos importados, dos quais o
Um fator a ser destacado é o aumento da capa-
mais importante era o petróleo. Porém, o principal as-
cidade de arrecadar tributos por parte do governo. Esse pecto negativo do “milagre” foi de natureza social.
fato contribuiu para a redução do déficit público e da
inflação. A política econômica de Delfim Netto tinha o
Outra base importante do PND foi a grande propósito de fazer crescer o “bolo” para só depois pen-
abertura da economia para o capital e os investimentos sar em distribuí-lo. Alegava-se que, antes do crescimen-
estrangeiros. Além de vantagens oferecidas pelo gover- to, pouco ou nada deveria ser distribuído. Privilegiou-se
no a investidores internacionais, o Brasil recorreu aos assim a acumulação, graças às facilidades já apontadas
constantes empréstimos no exterior, especialmente jun- e da criação de um índice prévio de aumento dos salá-
to ao Fundo Monetário Internacional, (FMI), responsá- rios, em nível que subestimava a inflação. Do ponto de
veis por grande aumento da dívida externa do País. Em vista do consumo pessoal, a expansão da indústria, no-
1973, os ingressos de capital tinham alcançado o nível tadamente no caso dos automóveis, favoreceu as clas-
anual de 4,3 bilhões de dólares, quase o dobro do nível ses de renda alta e média. Os salários dos trabalhadores
de 1971 e mais de três vezes o de 1970. Um dos seto- de baixa qualificação foram comprimidos, enquanto os
res mais importantes do investimento estrangeiro foi o empregos administrativos de empresas e publicidade
da indústria automobilística, que liderou o crescimento valorizaram-se ao máximo. Tudo isso resultou na acele-
industrial com taxas anuais acima de 30%. ração da concentração de renda e riqueza.
Durante o período do chamado “milagre eco-
nômico” (1969–1973), o PIB cresceu na média anual

94
O Milagre econômico brasileiro

Médici e Carlos Alberto erguem a taça da Copa do Mundo em 1970.


A propaganda de caráter ufanista foi favorecida
pela conquista do tricampeonato mundial de futebol,
no México, pela Seleção Brasileira comandada por Pelé,
Jairzinho e Tostão. A ditadura Militar associou a con-
quista esportiva ao regime e aproveitou-se da euforia
da população para difundir a ideia com slogans de que
ser contrário ao governo era não amar o Brasil.

Afinal, que país é este? (Rio de Janeiro: DP&A, 1999). Char-


ge critica as consequências do “milagre econômico brasileiro”
(NOVAES, C. E.; RODRIGUES, V.; BOCAYUVA, P.C.; VEI-
GA, S. M. (orgs). Capitalismo para principiantes.
18 ed. São Paulo: Ática, 1989).
Outro aspecto negativo do “milagre” foi a des-
proporção entre o avanço econômico e o atraso, se não Slogans do regime militar:
abandono, dos problemas sociais pelo Estado. O Brasil
iria se notabilizar no contexto mundial por uma posição
relativamente destacada de seu potencial industrial e
por indicadores muito baixos de saúde, educação e ha-
bitação, que medem a qualidade de vida de um povo.

A propaganda do regime
Os altos índices de crescimento econômico, a
baixa inflação, as grandes obras e o crescimento do
Os cartunistas de O Pasquim ironizavam a euforia criada pela Copa do
poder aquisitivo da classe média foram usados pelo Mundo, contraposto à realidade miserável.
governo como propaganda do regime, que passou a
utilizar os meios de comunicação, especialmente o rá- §§ “Esse é um país que vai pra frente”
dio e a televisão, para divulgar a imagem de um Brasil §§ “Ninguém mais segura esse país”
potência. §§ “Brasil, conte comigo”
Nesse sentido, também contribuíram as vitórias §§ “Brasil, ame-o ou deixe-o”
no esporte, especialmente do futebol, que em 1970
sagrou-se tricampeão mundial no México, favorecendo
a consolidação da expressão “pátria de chuteiras”. En- Sucessão de Médici
tretanto, ainda ocorreram o título mundial de boxe, con-
quistado por Eder Jofre (1973) e o bicampeonato (1972- Em janeiro de 1974 foi realizada uma eleição
74) conquistado por Emerson Fittipaldi na Fórmula 1. indireta para escolha do sucessor do presidente Médici,

95
pelo Colégio Eleitoral, composto de membros do Con- No governo, Geisel iniciou um processo de dis-
gresso e delegados das Assembleias Legislativas dos tensão política “lenta, gradual e segura”, apesar de
Estados, como previa a emenda no 1 da Constituição alguns retrocessos observados. O governo foi marcado
de 1967. Outra vez o candidato militar, general Ernesto pela contradição de implementar medidas na direção
Geisel, que concorreria pela Arena, venceu com facilida- da abertura política e de fechar o regime, para evitar a
de o candidato do MDB, Ulysses Guimarães. perda do controle da situação e a ascensão política da
A indicação de Geisel representou um triunfo dos oposição.
“castelistas” e uma derrota da “linha dura”. Seria equivo- Já no início do mandato de Geisel, que tomou
cado pensar, porém, que ele tivesse recebido o mandato posse em março de 1974, as eleições parlamentares de
de uma corrente no interior das Forças Armadas favorável novembro do mesmo ano, contaram com a vitória do
à liberalização do regime. No âmbito da corporação, Gei- MDB, que obteve 16 das 22 cadeiras disputadas para o
sel foi escolhido pela sua capacidade de comando e suas senado e 160 para a Câmara dos Deputados. O avanço
qualidades administrativas. Pesou também na escolha o do MDB preocupava o governo. Para impedir novas vitó-
fato de o futuro presidente ser irmão do ministro do Exér- rias políticas da oposição, foi promulgada a Lei Falcão
cito, Orlando Geisel, embora ele tenha realizado a políti- (1976), criada pelo Ministro da Justiça Armando Falcão,
ca dos duros. De fato, os conceitos de “linha dura” em que limitava a propaganda eleitoral no rádio e na tele-
oposição aos “castelistas”, representantes de uma linha visão. Os candidatos não poderiam mais falar; portanto,
mais “branda”, não correspondem à verdade histórica é não mais atacariam o governo. Na televisão seria mos-
já foram devidamente desconstruídos pela documentação trada a imagem do candidato enquanto um narrador
editada no livro “Tortura nunca mais” e pelos relatórios da oficial expunha seu nome, número, partido e currículo.
Comissão Nacional da Verdade. Ressalte-se que Geisel não pretendia restaurar
imediatamente a democracia no Brasil, mas promover o

Governo Ernesto Geisel


início de um processo de liberalização política que de-
pois de algum tempo culminaria na redemocratização.

(1974–1979) Além disso, pretendia controlar a “linha dura” do Exér-


cito, impedindo novos atos de exceção ou ampliação do
autoritarismo.
Os atos de tortura e morte pelos meios de re-
pressão estavam se tornando públicos e a publicidade
dos atos da repressão e de suas consequências não in-
teressavam à ditadura militar. Era tarefa política e ad-
ministrativa de Geisel manter sob controle o aparelho
repressivo.
A crise econômica avizinhava-se e se agravaria
durante o governo Geisel, afetando militares que te-
miam suas consequências para a imagem que haviam
construído das Forças Armadas como grandes gover-
nantes.

Ernesto Geisel
Economia
No governo de Geisel, a economia sofria com os
O general Ernesto Geisel ocupava a presidên- sintomas do fim do “milagre econômico”, representa-
cia da Petrobrás pouco antes de ser eleito e já havia dos pela queda do PIB e pelo retorno da inflação, que
exercido o cargo de Chefe da Casa Militar no governo reduziriam o poder aquisitivo da população e o con-
Castello Branco. Sua posse representou o retorno da ala sumo, provocando aumento do desemprego e crises
dos militares considerada mais moderada, o grupo da no setor industrial e comercial. A dívida externa havia
Sorbonne, castelista, que passa a defender o início da crescido muito e representava aproximadamente 25%
transição para a democracia de forma “lenta, gradual e do PIB nacional, situação que retirava investidores e im-
segura”, nas suas palavras. pedia novos investimentos no País.
96
Em outubro de 1973, ainda no governo Médici,
ocorreu a primeira crise internacional do petróleo,
consequência da chamada Guerra do Yom Kippur, mo-
vida pelos Estados árabes contra Israel. Produtores de
petróleo, os países árabes articularam-se para reduzir a
oferta do produto e provocar forte aumento dos preços.
A crise afetou profundamente o Brasil, que importava
mais de 80% do total de seu consumo.
Com o objetivo de combater a crise e retomar
o crescimento econômico do País, a equipe econômica Complexo nuclear com Angra I e Angra II, no Rio de Janeiro.

liderada pelo ministro da Fazenda Mário Henrique Si-


monsen elaborou o II Plano Nacional de Desenvol- Os atritos com a “linha dura”
vimento, II PND. O plano elegia um novo setor priori-
tário para a economia nacional: a produção de bens de O processo de abertura do presidente Geisel
capital – máquinas, derivados de petróleo, eletricidade, sofria críticas constantes da “linha dura”, através de
ferro e aço. A equipe econômica acreditava que a crise panfletos distribuídos nos quartéis e nos bastidores, de-
do petróleo seria passageira e que novos capitais inter- notando haver “briga” interna entre os membros das
nacionais seriam disponibilizados para a execução do Forças Armadas quanto à forma de condução das polí-
plano, que requeria grandes investimentos. ticas governamentais. Por outro lado foram mantidas a
O II PND seria responsável por uma ampliação tortura, a repressão e até mesmo o assassinato de opo-
da atuação do Estado na economia, representado prin- sitores ao regime, embora Geisel deixasse ser difundida
cipalmente pelas empresas estatais responsáveis pela a versão de que tudo ocorria à sua revelia.
execução das medidas, com destaque para a Petrobrás Em outubro de 1975, o jornalista Wladimir Her-
e a Eletrobrás. O governo passou a estimular a pesquisa zog, diretor de jornalismo da TV Cultura, foi assassina-
em energias alternativas, reduzindo a dependência em
do sob tortura nas dependências do DOI-Codi, em São
relação ao petróleo. O Brasil assinou um acordo nuclear
Paulo. Como era de costume, os órgãos de segurança
com o governo da Alemanha Ocidental e criou o Progra-
argumentaram que o preso havia se suicidado. A morte
ma Nacional do Álcool, Proálcool.
do jornalista provocou grande comoção e mobilização
O acordo nuclear Brasil-Alemanha seria
da sociedade civil contra o governo, representada por
um acordo de cooperação nuclear entre os dois países,
um culto ecumênico na Catedral da Sé, que reuniu cer-
através do qual a Alemanha forneceria tecnologia para
ca de 10 mil pessoas, conduzido pelo cardeal católico
a construção de oito usinas nucleares a custo de 10 bi-
Dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino judeu Henry Sobel
lhões de dólares e urânio para abastecer suas centrais
nucleares. O acordo suscitou críticas, inclusive do gover- e pelo evangélico reverendo Wright.
no dos EUA, que acusou o Brasil de tentar construir uma
bomba atômica. Internamente, avolumaram-se críticas
ao elevado valor investido, e à ultrapassada tecnologia
a ser empregada, além do risco de acidentes nucleares.
Das oito usinas previstas, somente duas foram constru-
ídas.
O Proálcool foi anunciado também em 1975
e consistia no incentivo ao desenvolvimento de carros
movidos a álcool e na produção em larga escala de ál-
cool combustível e de seu uso como matéria-prima na
indústria química. Além disso, o álcool seria adicionado
à gasolina, visando diminuir a dependência do petróleo. Vladimir Herzog encontrado morto na sede do DOI-Codi.

97
Pacote de abril
Em 1978, ocorreriam eleições para governado-
res estaduais, deputados e senadores. Havia uma clara
ameaça para o governo de uma expressiva vitória elei-
toral do MDB, vitória essa que impediria a aprovação no
Congresso de vários projetos do governo, especialmen-
te um de reforma do Judiciário, já derrotado por influ-
Missa de Vladimir Herzog https://www.google.com.br/-recebe-800- ência do MDB, mas que o governo insistia em aprovar.
-cantores-para-celebrar-historia-de-vladimir-herzog.
Usando os poderes especiais conferidos pelo AI-
Em janeiro de 1976 ocorreu outra morte na sede 5, em abril de 1977 o presidente Geisel determinou o
do DOI-Codi, a do operário Manuel Fiel Filho, acusado fechamento do Congresso Nacional e decretou o Pacote
de ser militante comunista, de novo sob o argumento de de Abril.
suicídio, que não foi aceito. Em represália, o presidente Com essa medida, foram alteradas as regras
Geisel demitiu o comandante do II Exército, general Ed- eleitorais e estabelecidas eleições indiretas para gover-
nardo D’Avila Melo. nador, criação dos senadores biônicos1 e ampliação do
A “linha dura” reagiu por meio da divulgação mandato presidencial para seis anos.
pela imprensa, à revelia do presidente Geisel, que o ge- O pacote determinava ainda que a escolha do
neral Sylvio Frota, Ministro do Exército, que procurava presidente não seria mais realizada pelo Congresso
reforçar sua candidatura nos meios militares, seria o Nacional, mas por um Colégio Eleitoral, composto pelo
próximo candidato à presidência. O grupo fazia seve- Congresso Nacional e mais seis representantes de cada
ras críticas à economia e à política externa do governo, Assembleia Legislativa Estadual.
além de acusar assessores do presidente de corrupção “Os grandes estados, que tinham Assembleias
e incompetência. Legislativas maiores, mandavam para o Colégio Elei-
Em outubro de 1977, Geisel demitiu Sylvio Frota toral o mesmo número de representes que os estados
do Ministério do Exército e nomeou para seu posto o menores. Essa reforma visava manter o Colégio Eleito-
Comandante do III Exército, general Bethlem. Frota ain- ral nas mãos do governo, já que a oposição era forte
da tentou reagir, mas não obteve o apoio necessário e no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas
acabou acatando a decisão, o que abriu caminho para a do Sul e Sudeste. Mantendo o mesmo número de re-
candidatura do chefe do SNI, general João Baptista de presentantes das Assembleias Legislativas Estaduais,
Oliveira Figueiredo, candidato preferido de Geisel. independentemente do seu tamanho, o regime militar
Deve ser lembrada ainda a proximidade das mor- continuava controlando o Colégio Eleitoral, graças ao
tes dos membros da Frente Ampla (JK, Jango e Lacerda), apoio das Assembleias Legislativas do Norte, Nordeste
os quais, num intervalo de 9 meses (agosto de 1976 a e Centro-Oeste, que eram governistas” (CÁCERES, Flo-
maio de 1977) faleceram, o que levantou dúvidas sobre rival. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1993. p.
a coincidência da proximidade das mortes. 348).

No fim do governo, a
anunciada abertura
A crise econômica que se abatia sobre o Brasil e
a inflação levaram segmentos da imprensa, da socieda-

1 Senadores indicados indiretamente, por meio de um colé-


http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/04/1443791-jk-morreu- gio eleitoral e sob o aval do presidente da República
-vitima-de-um-acidente-de-transito-diz-comissao.shtml

98
de civil e dos trabalhadores a pressionar o governo pela
abertura e a realizar manifestações.
Em maio de 1978, exigindo aumento de salá-
rios, os metalúrgicos da região do ABC Paulista entra-
ram em greve, liderados por Luís Inácio Lula da Silva,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Ber-
nardo e Diadema.
Em outubro de 1978, o governo anunciou a re-
vogação do AI-5, que deixaria de vigorar a partir de
1o de janeiro de 1979, iniciando de fato a desmonta-
gem do Estado militar autoritário. A medida agradava
setores da sociedade civil – Ordem dos Advogados do
Brasil, OAB, Associação Brasileira de Imprensa, ABI,
Igreja Católica, sindicatos, estudantes, bem como até
mesmo o governo estadunidense, comandado pelo
presidente Jimmy Carter – que pressionavam pela re-
democratização do Brasil.
Ainda em 1978, Geisel lançou a candidatura do
chefe do SNI, João Baptista de Oliveira Figueiredo, para
a presidência da República, e o vice Aureliano Chaves,
que venceram as eleições sem dificuldades.

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INTERATIVI
A DADE

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Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 25: Emílio Médici


Fonte: Youtube

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 26: Ernesto Geisel

Fonte: Youtube

Vídeo Governo Médici

Fonte: Youtube

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 26: Ernesto Geisel

Fonte: Youtube

100
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Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 25: Emílio Médici


Fonte: Youtube

Filme O que é isso, companheiro?

O jornalista Fernando (Pedro Cardoso) e seu amigo César (Selton Mello) abraçam a luta
armada contra a ditadura militar, no final da década de 1960. Os dois se alistam a um
grupo guerrilheiro de esquerda. Em uma das ações do grupo militante, César é ferido
e capturado pelos militares. Fernando então planeja o sequestro do embaixador dos
Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick (Alan Arkin), para negociar a liberdade
de César e de outros companheiros presos.

Filme O ano em que meus pais saíram de férias

Mauro (Michel Joelsas) é um garoto mineiro de 12 anos que adora futebol e jogo de
botão. Um dia, sua vida muda completamente, já que seus pais saem de férias, de forma
inesperada e sem motivo aparente para ele. Na verdade, os pais de Mauro foram obriga-
dos a fugir da perseguição política (1970), tendo que deixá-lo com o avô paterno (Paulo
Autran). Porém, o avô enfrenta problemas, o que faz com que Mauro tenha de ficar com
Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu solitário que é vizinho do avô de Mauro.

Filme Cidadão Boilesen

Com um título notoriamente inspirado no clássico “Cidadão Kane“, Chaim Litewski pro-
duziu, ao longo de 16 anos, um documento audiovisual de qualidade ímpar em termos
de pesquisa, impacto e apuro técnico. Em sua abertura, com uma levada diferente, o fil-
me revela o curriculum vitae de Boilesen (batido a máquina) e vai tecendo a sua história
através dos depoimentos de vítimas de tortura, diplomatas, militantes de organizações
de esquerda, políticos, militares da reserva, religiosos e até ex-presidentes.

101
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Filme Anos rebeldes (minissérie)

No auge da ditadura militar no Brasil, os jovens João Alfredo (Cássio Gabus


Mendes), um rapaz que liderava o movimento estudantil e era muito preocu-
pado com as questões sociais, e Maria Lúcia (Malu Mader), uma jovem indivi-
dualista que só queria ter uma vida tranquila, se apaixonam, apesar de terem
perfis muito diferentes um do outro. Ao lado de João Alfredo, estava Edgar
(Marcelo Serrado), grande amigo seu que era apaixonado por Maria Lúcia, mas
que nunca disputava o amor da jovem com seu amigo.

Filme Lamarca

Crônica dos últimos anos da vida do capitão do exército Carlos Lamarca (Paulo
Betti), que, nos anos da ditadura, desertou das forças armadas e passou a fazer
oposição, tornando-se um dos mais destacados líderes da luta armada.

Filme O velho: a história de Luiz Carlos Prestes

O documentário reúne 70 anos de imagens da História do Brasil: a épica marcha


de 25 mil km da Coluna Prestes nos anos 1920; passando pelo dramático roman-
ce com Olga Benário até a repressão política da ditadura militar. Depoimentos de
jornalistas, familiares, ex-membros do PCB e um raro material de arquivo formam
a mais completa cinebiografia de Prestes, Quixote obstinado que carregou durante
toda a sua vida o projeto de um mundo melhor.

Filme Ação entre amigos

Lutando contra o regime militar brasileiro, os amigos Miguel, Paulo, Elói e Osval-
do são presos pelas forças de repressão da ditadura, em 1971, e torturados du-
rante meses por Correia, responsável pela morte de Lúcia, namorada de Miguel.
25 anos depois, os quatro amigos se reúnem ao tomar conhecimento de que
o torturador, ao contrário da versão oficial, está vivo. Decidem então sequestrá-lo e
matá-lo. Todavia, ao ser capturado, Correia faz uma revelação surpreendente que
muda toda a história.

102
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Filme Cabra-cega

Dois jovens militantes da luta armada sonham com uma revolução social no Bra-
sil. Quando um deles precisa se esconder na casa de um amigo, simpatizante da
causa, conhece o comandante de um grupo de esquerda, que estuda um retorno
à luta política.

Filme Zuzu Angel

A ditadura militar faz o Brasil mergulhar em um dos momentos mais obscuros de sua
história. Alheia a tudo isto, Zuzu Angel (Patrícia Pillar), uma estilista de moda, fica cada
vez mais famosa no Brasil e no exterior. O desfile da sua coleção em Nova York conso-
lidou sua carreira, que estava em ascensão. Paralelamente, seu filho Stuart (Daniel de
Oliveira) ingressa na luta armada, que combatia as arbitrariedades dos militares.

Filme Batismo de sangue

O convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura


militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto
(Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon
Esteves) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado
por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e,
posteriormente, são presos, passando por terríveis torturas.

Filme Pra frente, Brasil

Em 1970, o Brasil inteiro torce e vibra com a seleção de futebol no México, enquanto
prisioneiros políticos são torturados nos porões da ditadura militar e inocentes são víti-
mas desta violência. Todos estes acontecimentos são vistos pela óptica de uma família,
quando um dos seus integrantes, um pacato trabalhador da classe média, é confundido
com um ativista político e “desaparece”.

103
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Filme Hércules 56

Na semana da independência de 1969, o embaixador dos EUA no Brasil,


Charles Burke Elbrick, foi sequestrado. Em sua troca, foi exigida a divulgação
de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos, que re-
presentavam diversas tendências políticas que se opunham à ditadura militar.
Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, eles são levados
ao México no avião da FAB Hércules 56. Através de entrevistas com os sobre-
viventes, os fatos desta época são relembrados.

Filme Carlos Marighella: quem samba fica, quem não samba (...)

O documentário foca o período da luta armada de resistência à ditadura militar, de


1964 até a morte de Carlos Marighella em dezembro de 1969. Montado a partir
de importantes depoimentos de militantes políticos, estudiosos e pesquisadores, o
título “quem samba fica, quem não samba vai embora” é uma referência à carta
homônima redigida por Marighella e endereçada aos revolucionários de São Paulo,
em dezembro de 1968: “O fundamental na organização são os grupos e a atuação
de baixo para cima.”

Filme Marighella (documentário)

Devido à ditadura militar, muito sobre os bastidores da época foi mantido em sigilo
ou, no máximo, pouco divulgado. Natural, afinal de contas o país vivia um período
em que a censura atuava com rigor, impedindo a publicação livre de notícias e
opiniões. Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem recuperado um pouco desta
história, seja devido à vivência dos diretores mais antigos ou pelo próprio interesse
da nova geração.

Filme O Sol: caminhando contra o vento

No Brasil pós-golpe militar e ainda antes do Ato Constitucional nº 5, mais


conhecido como AI-5, nasce no Rio de Janeiro o jornal O Sol. Mesmo tendo vida
curta, o jornal faz história representando o espírito da época. Através de material
de arquivo, músicas e depoimentos de pessoas que participaram do jornal é mos-
trada a história da chamada “geração 68”.

104
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Filme Perdão, mister Fiel

A morte do operário Manoel Fiel Filho, no DOI-Codi, em São Paulo, em 1976, é a


base desse documentário, cujo objetivo é mostrar a atuação dos Estados Unidos
na caça aos comunistas e nas ditaduras militares na América do Sul. A produção
traz revelações inéditas de personagens históricos que estiveram em lado opostos
durante o regime.

Filme Cidade de Deus

Buscapé (Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce
em um universo de muita violência. Ele vive na Cidade de Deus, uma favela carioca co-
nhecida por ser um dos locais mais violentos do Rio. Amedrontado com a possibilidade
de se tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu
talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu
olhar atrás da câmera que o jovem analisa o dia a dia da favela onde vive, na qual a
violência aparenta ser infinita.

ACESSAR

Sites Ditadura militar

www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/frente-ampla
www.memorialdaresistenciasp.org.br/memorial/default.aspx?mn=68&c=148&s
www.infograficos.estadao.com.br/especiais/confissoes-do-doi-codi/
www.forumverdade.ufpr.br/caminhosdaresistencia/a-repressao/departamento-de-ordem-
-politica-e-social-dops/
www.documentosrevelados.com.br/categoria/repressao/ditadura-reoressao/
www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/tortura-nunca-mais
www.cnv.gov.br/
www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia-america/operacao-condor.htm

105
LER

JK e a ditadura – Carlos Heitor Cony

JK e a ditadura começa três anos do exílio de Juscelino, narrando


sua trajetória política e pessoal, abrangendo o período anterior
e as consequências do regime ditatorial instaurado no país pelo
movimento militar de 1964, indo até a sua morte, em 1976.

Marighella: o guerrilheiro que incendiou o


mundo –
Mário Heitor Magalhães

“Cuidado, que o Marighella é valente”, disse Cecil


Borer, diretor do Dops do Rio, antes de despachar
uma equipe para capturá-lo em seguida ao golpe
de 1964. A narrativa percorre a vida, a obra e a
militância do controverso mulato baiano, que foi deputado federal,
poeta e estrategista da guerrilha no Brasil. Passagens pela prisão,
resistência à tortura, assaltos a bancos (e a um trem pagador),
tiroteios, espionagem internacional, tudo é apresentado em ritmo
de thriller, com revelações desconcertantes.

A ditadura derrotada – Elio Gaspari

Durante os últimos trinta anos, o jornalista Elio


Gaspari reuniu documentos até então inéditos
e fez uma exaustiva pesquisa sobre o governo
militar no Brasil. O resultado desse meticuloso
trabalho gerou um conjunto de quatro volumes
que compõe a obra mais importante sobre a história recente do
país. A obra é dividida em dois conjuntos: As ilusões armadas e O
sacerdote e o feiticeiro.

106
LER

Livros
A ditadura encurralada – Elio Gaspari

Quarto volume da série sobre os “anos de chumbo” escrita por Elio


Gaspari, narra como Geisel e o general Golbery do Couto e Silva,
ministro-chefe do Gabinete Civil, conseguiram vencer essa guerra,
que o marechal Castello Branco perdera e seu sucessor, Costa e
Silva, nela se rendera.

Operação Condor: o sequestro dos uruguaios –


Luiz Claudio Cunha

Este livro trata de um tempo em que adversários eram punidos


com a tortura, o desaparecimento e a morte. O sequestro dos uru-
guaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz, em 1978, numa ação dos
órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil, expôs as vísceras da
“Operação Condor“ à opinião pública brasileira e internacional. Fundada em 1975 no
Chile de Pinochet, a Condor era uma ação terrorista de Estado que atropelava fronteiras
nacionais e afrontava direitos humanos, forçando o desaparecimento de quem ousasse
contestar os regimes de força dos generais. Dissidentes políticos eram caçados por co-
mandos clandestinos militares e policiais.

A doutrina da segurança nacional e “milagre econômico”


(1969/1973) – Carlos Giannazi

O Brasil tem discutido cada vez mais as consequências danosas do


golpe civil-militar de 1964, que só teve o seu término oficial em
1985, com a eleição do presidente Tancredo Neves. Este livro apre-
senta uma contribuição significativa para todos aqueles que querem
aprofundar os conhecimentos sobre essa parte da história recente do país, ao colocar em
relevo a Doutrina de Segurança Nacional, responsável pela fundamentação ideológica
de sustentação ao regime militar que, por meio dela, procurava legitimar as ações auto-
ritárias do Estado brasileiro nas áreas política, econômica e social.

107
LER

Livros
Viagem à luta armada – Carlos Eugênio Paz

Uma viagem que nos leva ao mundo de Carlos Marighella,


Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, e Carlos Lamarca, na guerrilha
urbana contra a ditadura militar no final dos anos 1960 e início
dos anos 1970. Clemente, nome de guerra de Carlos Eugênio, é
o nosso guia nessa viagem. Ele entrou na luta com 17 anos e,
como tantos outros, conheceu a rebeldia, revoltou-se contra a miséria e a repressão
policial, fez opção por um dos lados − exigência da época − amou, guerreou, fugiu,
matou... E não morreu. No exílio, as dores da sobrevivência são anestesiadas em
suas fugas com as drogas, que não libertam, mas permitem o escape. Um processo
psicoterápico ensina-o a conviver com as marcas, atenua as culpas e o restitui à
vida. Um livro carregado de adrenalina, mas sem amargura. Nas palavras de Franklin
Martins, “convém afivelar o cinto de segurança“.

Meu tio Carlos Lacerda – Gabriel Lacerda

Com narrativa leve, em tom quase confessional, Gabriel Lacerda


faz aparecer a dimensão simplesmente humana de um persona-
gem histórico – seu tio, Carlos Lacerda. Não o polêmico político
que derruba presidentes, escreve artigos e faz discursos canden-
tes. Gabriel mostra simplesmente o tio Carlos, um homem como
tantos outros, que viaja e traz presentes para a família, gosta de conversar e plantar
rosas, sempre agitado e vibrante, algumas vezes teimoso, outras vezes aberto ao diá-
logo. De forma coloquial, o livro descreve episódios da relação entre tio e sobrinho, re-
lembrando alguns dos principais acontecimentos da história política do Brasil, desde a
derrubada de Vargas, em 1945, à cassação dos direitos políticos de Lacerda, em 1968.

Mata!: o major Curió e as guerrilhas no Araguaia –


Leonencio Nossa

Resultado de dez anos de pesquisas em arquivos públicos e par-


ticulares, além de diversas viagens à região do Bico do Papagaio
(confluência dos rios Araguaia e Tocantins) e de depoimentos de
mais de 150 pessoas, Mata! pode ser lido de diferentes maneiras.
Entre as numerosas facetas do livro − reportagem, relato histórico, pesquisa antropo-
lógica, reflexão política − a mais espetacular é, sem dúvida, seu conteúdo inédito de
documentos sobre a guerrilha do Araguaia (1966-1974).

108
LER

Livros
Operação Araguaia – Taís Moraes; Eumano Silva

As forças armadas sempre afirmaram que os arquivos da guerrilha


do Araguaia, comandada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B),
nos anos 1970, não existem e que, se existiram algum dia, foram
destruídos. Não é verdade. A partir de documentos secretos recolhi-
dos pela pesquisadora Taís Morais, ao longo de sete anos, junto a
militares − que os guardaram por cerca de 30 anos − ela própria e o jornalista Eumano
Silva escreveram este o livro.

No centro da engrenagem – Mariana Joffily

Mariana Jofilly aborda neste livro um ponto de vista ainda pouco ex-
plorado dentre os diversos estudos sobre o regime militar brasileiro.
Trata-se dos interrogatórios preliminares de militantes acusados de
subversão pela Operação Bandeirante e pelo DOI-Codi, realizados
em São Paulo, entre 1969 e 1975. A obra foi uma das ganhadoras
do Prêmio Memórias Reveladas 20, instituído pela Casa Civil da Presidência da República,
que tem o objetivo de incentivar a divulgação de trabalhos feitos com base nas fontes
documentais referentes ao regime militar no Brasil.

Mergulho no inferno – E.P. Cavalcante

Um dos mais corajosos militantes de esquerda que combateram a


ditadura imposta em 1964, Eunício Precílio Cavalcante lançou um
livro que busca reconstituir a violência e a barbárie que vigoraram
no Brasil durante 21 anos e cuja herança ainda nos castiga.

Memórias de uma guerra suja – Claudio Guerra

Memórias de uma guerra suja revela os bastidores de uma parte


do trabalho de destruição da esquerda brasileira durante os anos
1970 e início dos 1980. É o depoimento, em primeira pessoa, de
um ex-delegado do Dops, que foi o principal agente de um grupo
de militares fora da cadeia de comando oficial das forças armadas.

109
INTERDISCIPLINARIDADE

Durante o governo Geisel, o Brasil passou a investir em energias alternativas, tentando diminuir a enorme
dependência que vivia em relação ao petróleo e seus derivados. Neste contexto, passa a ser importante a utilização
de energia nuclear e o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
No caso da energia nuclear, o Brasil fez um acordo com o governo alemão para a construção de oito usinas
de energia nuclear, sendo que apenas duas tiveram suas obras iniciadas durante o governo militar. A tecnologia
seria importante para o Brasil, pois, apesar das estapafúrdias suspeitas estadunidenses de que o Brasil poderia ter
como objetivo nas usinas enriquecer urânio ou plutônio para construir uma bomba atômica, o país visava trans-
formar a energia nuclear em energia elétrica. Isso é possível porque as usinas nucleares funcionam como usinas
térmicas, e o calor produzido na fissão nuclear é utilizado para ferver a água que movimenta enormes turbinas, as
quais, por sua vez, produzem energia elétrica.

110
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.

A forma como uma sociedade constrói uma noção coletiva de seu passado é fundamental em
sua cultura e na formatação ideológica de seus partidos políticos. A habilidade 2 se preocupa
justamente em abordar este tema, em diferentes pontos de vista. No caso da questão a seguir,
vemos o caso da Comissão da Verdade, órgão criado para averiguar os mandos e desmandos
cometidos durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985). A tentativa da comissão era o de
desarquivar antigos documentos sobre o período e de coletar depoimentos das vítimas de abuso,
de alguns políticos e militares que viveram essa história.
Embora acusada de certo viés ideológico, o órgão assumiu um caráter objetivo nas suas investiga-
ções, procurando reconstruir fatos da maneira mais clara possível. Trata-se, portanto, de remexer
um passado obscuro, que existia velado após a Lei de Anistia (1979), que perdoou tanto os
perseguidos políticos quanto os torturadores e assassinos da ditadura.

Modelo
(Enem) A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reuniu representantes de comissões estaduais e de
várias instituições para apresentar um balanço dos trabalhos feitos e assinar termos de cooperação
com quatro organizações. O coordenador da CNV estima que, até o momento, a comissão examinou,
“por baixo”, cerca de 30 milhões de páginas de documentos e fez centenas de entrevistas.
Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: 2 mar. 2013 (adaptado).

A notícia descreve uma iniciativa do Estado que resultou da ação de diversos movimentos sociais
no Brasil diante de eventos ocorridos entre 1964 e 1988. O objetivo dessa iniciativa é:
a) anular a anistia concedida aos chefes militares.
b) rever as condenações judiciais aos presos políticos.
c) perdoar os crimes atribuídos aos militantes esquerdistas.
d) comprovar o apoio da sociedade aos golpistas anticomunistas.
e) esclarecer as circunstâncias de violações aos direitos humanos.

111
Análise Expositiva

Habilidade 2
A Comissão Nacional da Verdade foi criada para esclarecer os abusos cometidos contra os
direitos humanos, na época da ditadura militar brasileira.
Alternativa E

112
Estrutura Conceitual
DITADURA MILITAR:
GOVERNOS MÉDICI E GEISEL
Governo Médici
A (1969-1974) B Milagre econômico
§§ Plano Nacional de Desenvolvimento (PND)
Características §§ Ministro da Fazenda (Delfim Neto)
§§ Linha dura
§§ Estímulo à exportação (ex.: soja)
§§ Anos de chumbo: destruição da luta
§§ Desenvolvimento industrial
armada (morte de Lamarca, Marighela setor automobilístico
e fim da guerra do Araguaia) §§ Controle da inflação
§§ “Milagre econômico” §§ Empréstimo ao FMI
§§ Ufanismo §§ Obras faraônicas
vitória em modalidades esportivas §§ Concentração de renda
§§ Fortalecimento da classe média
propagandas midiáticas

Governo Geisel
A B
(1974-1979) Economia
§§ Fim do milagre econômico
Características §§ Aumento da inflação
§§ “Castelista” §§ Aumento da dívida externa
§§ “Abertura lenta, gradual e segura” §§ 1973: crise internacional do petróleo
§§ Conflitos com a linha dura §§ II PND
acordo nuclear Brasil–Alemanha
Proálcool
C Repressão ampliação das estatais
§§ Atritos com a linha dura (Petrobras e Eletrobras)
oposição à abertura
§§ Manutenção da tortura D Política
1975: assassinato de Vladimir
Herzog §§ 1974: MDB ganha maioria
1976: assassinato do operário na Câmara e no Senado
Manuel Filho §§ 1976: Lei Falcão
§§ Geisel apoia candidatura de João §§ 1977: Fechamento do Congresso
Batista Figueiredo (presidente do SNI) Pacotes de Abril
criação dos senadores biônicos
presidente eleito por colégio
eleitoral
§§ 1978: greve de metalúrgicos no ABC
líder: Luiz Inácio Lula da Silva
§§ Fim do AI-5
113
4 8
7 4 Ditadura militar: governo
Figueiredo e regimes
militares sul-americanos
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 7, 8, 10,
11, 12, 13, 14, 15,
21, 22, 23, 24 e 25

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Fim do regime militar e redemocratização

Manifestação por eleições diretas à Presidência.

A partir de 1973, o regime militar brasileiro começou a demonstrar sinais de desgaste, devido ao contexto
econômico internacional de crise, resultado de mais um episódio do conflito árabe-israelense (Guerra do Yom
Kippur) que repercutiu e provocou significativas alterações no cenário político e econômico no Brasil e no mundo.
A redução da oferta de petróleo pelos países árabes levou a uma grande alta no preço do produto, afetando,
particularmente, os EUA, que se viram obrigados, diante do quadro recessivo, a repatriar capitais, ocasionando o
fechamento de muitas de suas empresas multinacionais espalhadas mundialmente. O modelo econômico implanta-
do pelos militares, comandado pelo economista e ministro Antonio Delfim Netto, dependia muito dos investimentos
estrangeiros para manter os altos índices de crescimento econômico. Sem a oferta de crédito para os investimentos
em infraestrutura e com os cortes de gastos dos EUA, a economia brasileira seria seriamente afetada. Nesse caso,
mais uma vez percebemos os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Fragilizado em sua política econômica, as diversas formas de oposição ao regime militar ganharam fôlego. Os
presidentes Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-1985) fizeram governos denominados de “distensão”. Dentre as
opções dessa transição para a democracia, o regime militar optou pela distensão lenta, segura e gradual, segundo
o seu discurso, quando se observa uma alternância entre avanços em direção à democracia e recaídas autoritárias.
Para o processo de redemocratização, em 1985, foi determinante a atuação de diversos movimentos sociais.
A partir da década de 1970, o movimento operário, liderado pelos metalúrgicos da região do ABC paulista, realizou
a primeira greve operária, em 1978, em plena vigência do AI-5. Destaca-se, ainda, a atuação de grupos como a ABI
(Associação Brasileira de Imprensa), o CBA (Comitê Brasileiro de Anistia), setores progressistas da Igreja Católica
ligados às CEB (Comunidades Eclesiais de Base) e muitos outros que atuaram em várias frentes, buscando recon-
quistar as liberdades individuais e coletivas perdidas com a instauração do regime ditatorial militar, em 1964.
A pressão da sociedade civil organizada e da oposição representada pelo MDB, e depois pelo PMDB, sur-
tiu efeito. Ainda que se discutam os limites dos avanços, tivemos neste contexto momentos importantes como a
aprovação da Lei de Anistia (28/8/1979) e da revogação do AI-5 (1978). Mas havia ainda um longo processo até
a concretização da redemocratização, que viria depois de uma grande derrota: a não aprovação da Emenda Dante
de Oliveira (1984), que propunha eleições diretas para presidente, em 1985. Mesmo com esse grande revés, a in-
dicação de Tancredo Neves para a Presidência acabou aglutinando elementos dos mais variados campos políticos,
inclusive dissidentes do PDS para enfrentar a candidatura de Paulo Maluf, que amargava uma forte rejeição em
diversos setores.

117
A vitória de Tancredo naquele momento, mesmo
com eleições indiretas, significava o fim do regime mili-
Governo João Figueiredo
tar, já que ele havia prometido ser o último presidente
a subir na rampa do Planalto por via indireta. Nascia,
(1979–1985)
então, a Nova República, expressão criada por Ulysses
Guimarães.
Vale salientar, no entanto, que a transição não
ocorreu de maneira tranquila, já que Tancredo, acometi-
do por um grave problema de saúde, acabou impedido
de assumir o cargo, resultando na posse de seu vice José
Sarney ao cargo de presidente da República, de maneira
interina; e, após a sua morte, em 21 de abril de 1985,
de forma definitiva, mediante um arranjo constitucional.
Pesava sobre Sarney a desconfiança dos anos em que
fez parte da Arena, partido que dava sustentação polí-
tica ao regime militar.
Os desafios da Nova República eram gigantes-
João Baptista de Oliveira Figueiredo
cos, já que herdava do regime militar um País em condi-
ções lastimáveis com a economia em crise, a sociedade
O novo presidente da República assumiu o cargo
à beira de um processo de desintegração e uma estru-
com o compromisso de manter o processo de abertura
tura política em frangalhos, além do aparato jurídico
política lenta, gradual e segura iniciada por Geisel. O
da ditadura. Para alterar esse quadro, o novo governo
novo governo deveria evitar o radicalismo político, tanto
precisava agir, simultaneamente, na área política e na
na oposição ao regime quanto na “linha dura”, contrá-
econômico-social, de maneira rápida, decidida e sem
ria à abertura, evitando que prejudicassem o processo
cometer erros.
de redemocratização do Brasil.
No plano econômico-social, a tarefa era delicada.
A crise econômica, a elevada dívida externa e
Eliminar a recessão, retomar o crescimento, combater a
o crescimento da inflação eram sérias dificuldades que
inflação galopante e reduzir as enormes desigualdades
deveriam ser superadas. Com esse intuito, Delfim Netto
sociais que haviam se aprofundado durante os governos
foi nomeado ministro da Fazenda e lançou o III Plano
militares.
Nacional de Desenvolvimento – III PND, que não teve
Em termos políticos, era necessário fazer a cha-
resultados favoráveis, especialmente em virtude da falta
mada transição democrática, que começaria pela remo-
de recursos disponíveis no mercado financeiro interna-
ção do “entulho autoritário”, ou seja, a eliminação de
cional.
toda a legislação arbitrária e ditatorial do regime militar,
e terminaria pela construção de um sistema político de- A crise econômica e a pressão pela abertura po-
mocrático e legítimo, inclusive com a eleição de uma lítica foram os principais motivos para uma nova onda
Assembleia Constituinte e a elaboração de uma nova de greves na região do ABC paulista. Novamente, os
Constituição, promulgada em 1988. operários cruzaram os braços e o movimento estimulou
greves em todo o País. Em represália, o governo de-
cretou a intervenção nos sindicatos e a prisão de seus
dirigentes, entre os quais Luís Inácio Lula da Silva, pre-
sidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo
do Campo, em março de 1979, enquadrado na Lei de
Segurança Nacional.

118
Com o intuito de dividir a oposição, enfraque-
cendo-a, o presidente Figueiredo enviou ao Congresso
uma proposta de emenda constitucional, aprovada em
novembro de 1979, que extinguia o bipartidarismo e
implantava o pluripartidarismo no Brasil. Conforme o
previsto pelo governo, a Arena manteve-se coesa, mu-
dando o nome para Partido Democrático Social, PDS,
enquanto o MDB fragmentou-se, dividindo a oposição,
Lula comanda assembleia de metalúrgicos em 13 de maio de 1979, em
São Bernardo, SP. com a formação dos seguintes partidos:
§§ Partido do Movimento Democrático Bra-
sileiro, PMDB: liderado por Ulysses Guimarães
Anistia e pluripartidarismo e que contou com a maioria dos ex-membros do
Em junho de 1979, o presidente Figueiredo en- MDB;
viou ao Congresso a Lei de Anistia, que foi aprovada em §§ Partido Popular, PP: fundado por Tancredo Ne-
outubro do mesmo ano. O projeto previa anistia ampla, ves e que teve curta duração, com a maioria de
geral e irrestrita para crimes políticos e conexos, e bene- seus integrantes ingressando posteriormente no
ficiou militares envolvidos nos atos de torturas, mortes e PMDB;
desaparecimentos. A lei não incluía pessoas envolvidas §§ Partido Trabalhista Brasileiro, PTB: coman-
em ações consideradas terroristas pelo Estado e não dado por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Var-
apresentava solução para o problema dos prisioneiros gas;
políticos desaparecidos, o que suscitou críticas de vários §§ Partido Democrático Trabalhista, PDT: fun-
setores da sociedade civil, particularmente dos movi- dado por Leonel Brizola;
mentos sociais e da imprensa. §§ Partido dos Trabalhadores, PT: que congre-
Todavia, o projeto beneficiou milhares de brasi- gava representantes do movimento operário e
leiros, com a libertação de presos políticos e a permis- intelectuais de esquerda, cuja liderança coube a
são para os exilados voltarem para o País, que recebeu Luís Inácio Lula da Silva.
efusivamente personalidades políticas como Leonel Bri- Em 1980, foram restauradas eleições diretas para
zola, Luís Carlos Prestes e Miguel Arraes. governadores dos Estados e extinto o cargo de senador
biônico.

A reação da “linha dura”


A abertura política revoltava os setores conser-
vadores radicais do Exército ligados à “linha dura”, que
decidiram reagir por meio da violência, realizando se-
questros de militares de esquerda, torturas e assassi-
natos, além de atentados a bomba contra bancas de
revistas que vendiam publicações de esquerda ou de
Cartaz em favor da aprovação da Lei de Anistia ampla, geral e irrestrita.
oposição ao regime militar e contra cerimônias ou atos
A anistia fortalecia a oposição ao governo, en- públicos de partidos e entidades de oposição.
quanto enfraquecia mais ainda a Arena. A situação Foram praticados atentados na quadra da Esco-
preocupava o governo e seus aliados, que não preten- la de Samba Salgueiro, no Rio de Janeiro, no início de
diam perder o controle da situação e perceberam que o 1980, onde seria realizado um comício do PMDB, e no
bipartidarismo favorecia a polarização. Diante da crise auditório da Confederação Nacional da Agricultura, em
econômica que atingia o Brasil, a oposição unida levaria Brasília, onde o dirigente comunista Gregório Bezerra
grande vantagem nas eleições. fazia uma palestra.

119
Também foram praticados atentados na sede do derais do que Sul e Sudeste), tinha ampla maioria do
jornal oposicionista A Hora do Povo, na sede do Sindi- PDS (partido aliado do governo). Assim, a única maneira
cato dos Jornalistas de Minas Gerais, e no prédio da de a ditadura não fazer o sucessor seria alterar a Consti-
OAB, no Rio de Janeiro. Além desses, alcançou grande tuição e realizar eleições diretas para presidente.
repercussão o atentado no Centro de Convenções do Com o intuito de pressionar o Congresso a re-
Rio de Janeiro, o Riocentro. formular a Constituição, o PT lançou a ideia, logo in-
O atentado ocorreu durante um show que co- corporada pelo PMDB e outros partidos de oposição,
de associados a entidades da sociedade civil, sindicatos
memorava o Dia do Trabalho, em primeiro de maio de
e estudantes organizarem grandes comícios e manifes-
1981, promovido pelo Centro Brasil Democrático. Em
tações nas principais cidades brasileiras, especialmente
pleno estacionamento do prédio, explodiu uma bomba
em São Paulo e no Rio de Janeiro. A campanha das Di-
em um automóvel que conduzia dois militares, matando
retas Já! usava o slogan “Eu quero votar para presiden-
o sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário e
te” e mobilizou a população brasileira, que, empolgada,
ferindo o capitão Wilson Luís Chaves Machado. As in- saía às ruas defendendo a imediata redemocratização
vestigações da imprensa pareciam revelar que os dois do País.
foram vítimas de um “acidente de trabalho”, quando, A campanha das Diretas já! adotou o amarelo
na realidade, se preparavam para executar um atenta- como cor símbolo do apoio ao movimento. Ela conse-
do terrorista de extrema- direita. No entanto, o laudo guia o apoio da classe artística, intelectuais, e alguns
oficial das investigações concluiu que ambos foram “ví- atletas. Nesse contexto, merece destaque o movimen-
timas”. O caso foi considerado escandaloso e ligou-se, to nascido no Corinthians entre 1982-83, denominado
certamente, ao pedido de demissão do general Golbery “democracia corintiana”. Liderada por Sócrates, os jo-
do Couto e Silva, ministro de Figueiredo, considerado o gadores do Corinthians usavam a sua popularidade e
grande ideólogo do regime militar. a do clube para realizarem propaganda pela volta da
democracia.

Militar que pretendia cometer um atentado a bomba, no Riocentro, 1984 – Diretas Já!: na Praça da Sé, 200 mil pessoas gritavam: “Quere-
morreu com a explosão do artefato, em 1981. mos eleger o presidente do Brasil!”

A campanha das Diretas Já!


A escolha do sucessor do presidente Figueiredo
estava prevista para novembro de 1984 e, de acordo
com as regras eleitorais vigentes, o novo presidente
da República deveria ser escolhido de maneira indire-
ta, pelo Colégio Eleitoral (composto pelo Congresso
Nacional e seis deputados estaduais, todos do partido
que tinha maioria naquele Estado). Mas esse Colégio
Ulysses Guimarães, um dos ícones da campanha Diretas Já!, ao lado da
Eleitoral, também pelas regras da ditadura (senadores esposa, D. Mora Guimarães.
biônicos, Norte e Nordeste tendo, proporcionalmente
em relação ao número de eleitores, mais deputados fe- O clima nacional levou o deputado federal Dante

120
de Oliveira (PMDB-MT) a propor uma emenda constitu-
cional que restabelecia as eleições diretas para presi-
dente da República. A emenda foi votada no dia 25 de
abril de 1984 e, para a frustração da população nacio-
nal, não foi aprovada, pois necessitava de dois terços
de votos favoráveis (320), recebendo apenas 298 vo-
tos. O problema na verdade foram as abstenções, pois
muitos deputados contrários a emenda não foram votar
José Sarney e Tancredo Neves
contra, já que ficariam marcados pelo povo, preferindo
As eleições ocorreram no dia 15 de janeiro de
não comparecerem na sessão e não dando quorum à
1985 e foram vencidas por Tancredo Neves, que deveria
votação. Após o acontecimento, os movimentos de rua
tomar posse no dia 15 de março. Todavia, na véspera
ganharam, assim, cada vez mais força e representativi- da posse, o presidente eleito sofreu um mal-estar e foi
dade. internado no Hospital de Base de Brasília, sendo, pos-
teriormente, transferido para o Instituto do Coração, em
A sucessão de Figueiredo São Paulo. No dia 15 de março, o vice-presidente José
Sarney tomou posse, assumindo interinamente o cargo
de presidente.
Com a não aprovação da Emenda Dante de Oli-
Tancredo Neves foi submetido a várias cirurgias,
veira e a manutenção da eleição indireta para presiden-
mas não resistiu. Seu falecimento foi oficialmente anun-
te da República, a oposição passou a se mobilizar para ciado no dia 21 de abril de 1985. Sarney foi então efe-
tentar derrotar o governo no Colégio Eleitoral, ou como tivado no cargo de presidente da República por meio de
dizia Ulysses Guimarães, “vamos matar a cobra no seu uma manobra na Constituição.
próprio ninho”.
O PMDB lançou o nome de Tancredo Neves, e o
PDS, que tinha maioria no Congresso, acabou enfraque-
cido por uma divergência interna entre Mario Andreazza,
Paulo Maluf e Aureliano Chaves, que disputavam a indi-
cação do partido para concorrer ao cargo. Chaves desistiu
de concorrer e a maioria do partido optou por lançar a
candidatura de Maluf, o que desagradou os “caciques”
do PDS, como Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel e
Aureliano Chaves, que formaram uma dissidência: a Fren-
te Liberal. O presidente do PDS, José Sarney, também não
aceitou a candidatura de Maluf e se retirou do partido Manchete do Jornal do Brasil, de 21 de abril de 1985, anuncia a morte de
Tancredo Neves.
pouco antes das eleições, ingressando no PMDB e parti-
cipando da chapa encabeçada por Tancredo como candi-
dato a vice-presidente, conseguindo em troca, o apoio da
Frente Liberal a Tancredo.

121
Regimes militares na Centros de inteligência militar formados nessa
época, em diferentes países, passaram a definir os con-

América latina tornos da chamada Doutrina de Segurança Nacional,


voltada para um novo tipo de inimigo – o inimigo in-
terno, infiltrado na sociedade e divulgador de “ideias
subversivas”. Diante desse quadro, era necessário que
as forças armadas redefinissem suas estratégias de atu-
ação, ampliando-a para as áreas da política, da eco-
nomia, da cultura e da ideologia. A “defesa nacional”
começava a se confundir com a “política de Estado”.

Argentina
O ditador argentino Jorge Rafael Videla discursa para as Forças Arma-
das. Desde o final dos anos 1950, os peronistas se
aproximavam dos grupos de esquerda, adotando posi-
Introdução ções políticas mais radicais. Depois de sua deposição
em 1955, Perón exilara-se na Espanha, e o peronismo
As ditaduras na América latina se estabeleceram “sem Perón” ganhou características próprias. Foram for-
no período em que a ordem internacional sofria pelos mados grupos alinhados com projetos revolucionários,
enfrentamentos da Guerra Fria. Na época, os Estados os quais partiram para ações armadas. Dentre eles, des-
Unidos desenvolveram uma série de mecanismos de tacam-se os chamados Montoneros, que constituíram
combate ao expansionismo comunista. Já nos anos uma estrutura de guerrilha que os militares se esforça-
1950, fora estabelecida pelas autoridades do país a ram em destruir.
Doutrina de Segurança Nacional, cujas diretrizes procu- No início dos anos 1970, porém, a Argentina
ravam combater o “perigo vermelho” dentro e fora do atravessava uma fase de democratização. Com o fim do
território estadunidense. governo do general Juan Carlos Onganía (1966-1970)
Nesse contexto e, notadamente, a partir da os militares voltaram aos quartéis, permitindo o retorno
Revolução Cubana (1959) e da ascensão do governo
de Juan Domingo Perón, exilado desde 1955.
comunista de Fidel Castro (1961), os EUA intensifica-
Perón voltou, em 1973, para se eleger nova-
ram a vigilância sobre a América Latina. Tal preocupa-
mente presidente da Argentina. Em seu governo, deu
ção originou, por exemplo, a Aliança para o Progresso,
sinais de suas inclinações conservadoras, condenando
programa instituído por Washington em conjunto com
os movimentos radicais que falavam em seu nome. Do-
diversas lideranças latino-americanas, através do qual
ente, faleceu em primeiro de julho de 1974, ficando a
se buscava melhorar os índices socioeconômicos da re-
Presidência nas mãos de sua viúva e vice, María Estela
gião, e ao mesmo tempo, frear o crescimento das alter-
nativas socialistas. Martínez de Perón, mais conhecida como Isabelita.
No entanto, a despeito de tais esforços, grupos
de esquerda e simpatizantes da causa comunista flores-
ceram em diversas nações do continente. Frente a isso
e geralmente com auxílio estadunidense, forças conser-
vadoras se mobilizaram nessas regiões e, atendendo às
demandas das classes dominantes e de setores da so-
ciedade civil, apoiaram a instituição de governos milita-
res. Através de golpes de Estado sucessivos, a América
latina assistiu, nos anos 1960 e 1970, à ascensão de
várias ditaduras militares. Isabelita e Perón

122
As divergências no interior do peronismo e a
crise econômica mantinham a situação interna tensa e
instigavam os militares a voltar à política. O governo
dava sinais de fraqueza em meio às pressões exercidas
por forças conservadoras, como as Forças Armadas, a
Igreja e as associações empresariais. Setores da alta
burguesia argentina se aproximaram dos quartéis e,
http://veja.abril.com.br/esporte/argentina-1978-em-fotos-o-triunfo-na-
em 1975, já se aventava a hipótese de um golpe. Em -marra-dos-vizinhos/
março de 1976, os militares derrubaram a presidente.
O protagonismo na oposição ao regime militar
A justificativa para o golpe era reprimir os movimentos
argentino coube à Associação das Mães da Praça de
guerrilheiros, proteger o país da “ameaça comunista”, Maio, que fez do drama pessoal de seus filhos desapa-
superar a desordem administrativa e a impotência das recidos uma bandeira pela redemocratização do país.
forças políticas dominantes para obter uma saída insti- Ao caminharem juntas pela Praça de Maio, no centro de
tucional para a crise. Buenos Aires, com o lenço branco, que se tornou o sím-
Ao longo dos sete anos em que os militares bolo de sua ação, as Mães pressionaram a ditadura a
dirigiram a Argentina – generais Jorge Rafael Videla reconhecer os crimes de assassinato, do que mais tarde
descobriu tratar-se de milhares de pessoas.
(1976-1981), Roberto Marcelo Viola (1981) e Leopol-
do Fortunato Galtieri (1981-1982) –, nenhum projeto
nacional foi desenvolvido e o país não foi efetivamente
reorganizado. Os investimentos estrangeiros deixaram
o país, tendo início um processo de decadência eco-
nômica acelerada. A debilidade do projeto nacional foi
compensada pela truculência da repressão. Os militares
armaram um enorme aparato repressivo que rapida-
mente escapou ao controle do Estado, fragmentou-se e As Mães da Praça de Maio reivindicam o paradeiro de seus filhos.
passou a servir a interesses de grupos específicos ou pri-
vados. Aos poucos, as organizações de esquerda foram
Desastres econômicos da
sendo desmanteladas. Os militantes que não estavam
desaparecidos ou exilados isolaram-se no silêncio. Foi
ditadura argentina
a ditadura mais violenta da América latina, com estima- §§ Em sete anos de ditadura, a dívida externa subiu
tiva de 30 mil civis mortos na chamada “guerra suja”. de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.
Assim como no Brasil, os militares tentaram usar §§ A inflação do governo civil derrubado pela dita-
o futebol como propaganda para o regime militar. Apro- dura, que era considerada um índice “absurda-
veitando que a copa do mundo seria disputada na Ar- mente alto” pelos militares, havia sido de 182%
anual. Mas esse índice foi superado pela política
gentina em 1978, a vitória no torneio era uma questão
econômica caótica da ditadura, que encerrou
de honra para os militares. A seleção Argentina foi cam-
sua administração com 343% anual.
peã do torneio, vencendo a Holanda na final. Contudo,
§§ A pobreza disparou de 5% da população argen-
a “estranha” goleada Argentina sobre o Peru na fase tina para 28%.
anterior, a qual eliminou o Brasil, entrou para a história §§ A participação da indústria no PIB caiu de 37,5%
como um momento suspeito de acordo entre os gover- para 25%, o que equivaleu a um retrocesso aos
nos do Peru e Argentina. níveis dos anos 1960.

123
§§ Ao mesmo tempo em que tomavam medidas argentinos sofreram uma de suas maiores baixas ao
neoliberais, como a abertura irrestrita das im- perder o cruzador Belgrano, afundado por um moderno
portações, os militares continuavam mantendo submarino britânico. A destruição do cruzador tripulado
imensas estruturas nas empresas estatais, que se por mil homens matou 320 argentinos. Dois dias depois,
transformaram em cabides de emprego de gene- os argentinos afundaram o destróier britânico Sheffield,
rais, coronéis e seus parentes. matando 20 soldados. Nas semanas seguintes, os ar-
§§ Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões gentinos conseguiram destruir mais embarcações britâ-
de dívidas das principais empresas privadas do nicas. Os britânicos não desistiram e, em 21 de maio,
país (além das filiais argentinas de empresas es- desembarcaram na costa Norte do arquipélago. Com
forças terrestres despreparadas e mal equipadas, os
trangeiras).
argentinos foram rapidamente derrotados pelos britâni-
§§ No meio desse caos econômico, os militares pro-
cos, que retomaram a capital das Malvinas, Stanley. No
vocaram um deficit fiscal de 15% do PIB.
dia 14 de junho, a Argentina anunciou sua rendição e
§§ A repressão provocou um êxodo de centenas de
abandonou definitivamente a área.
milhares de profissionais do país. Os militares,
em cargos burocráticos, exacerbaram a corrup-
ção na máquina estatal.
§§ Em 1982, perante uma crise social, perda de
sustentabilidade política e problemas econômi-
cos, o então ditador Leopoldo Fortunato Galtie-
ri – famoso por seu intenso approach ao scotch
– decidiu invadir as ilhas Malvinas para distrair
a atenção da população. Resultado: após um
breve período de combate, os oficiais do ditador
renderam-se às tropas britânicas.
(Disponível em: internacional.estadao.com.br>. Acesso em: 16
ago. 2015).

A Guerra das Malvinas (1982)


Em 1982, a ditadura argentina – então coman- Militares argentinos rendem-se às tropas britânicas, pondo fim à Guerra
dada pelo general Leopoldo Galtieri – via-se pressiona- das Malvinas.
da pelos problemas sociais e econômicos que punham a
A crise das Malvinas teve grandes consequências
população contra o governo. Dessa maneira, seu objeti-
aos países beligerantes. Na Argentina, a humilhante
vo era a formulação de um plano capaz de recuperar a
imagem do governo por meio da guerra. derrota precipitou a queda da ditadura militar. Em ou-
Em 2 de abril de 1982, tropas argentinas desem- tubro de 1983, o país teve eleições democráticas para
presidente e para o Legislativo. No Reino Unido, a vitó-
barcaram nas Ilhas Malvinas, localizadas no extremo
ria aumentou a popularidade do Partido Conservador e
Sul do continente americano e objeto de disputa entre
de Margaret Thatcher, que foi reeleita primeira-ministra.
Argentina e Grã-Bretanha desde o século XVIII. O ter-
As relações entre a Argentina e o Reino Unido foram
ritório tornou-se domínio colonial britânico na década
reatadas em 1989. Durante o conflito, morreram 649
de 1830, fato que nunca foi plenamente aceito pela
argentinos e 255 britânicos. Cerca de 270 veteranos
Argentina.
argentinos suicidaram-se após a guerra. O governo ar-
Algumas semanas após a invasão, os britânicos
gentino ainda reivindica a soberania das ilhas.
retomaram uma ilha nas proximidades do arquipélago
e começaram a receber armamentos da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os argentinos,
por sua vez, mobilizaram sua Força Aérea e buscaram
interceptar unidades britânicas. No dia 2 de maio, os

124
A redemocratização Em 1970, Salvador Allende, ex-líder estudantil,
médico, ex-deputado, senador e ex-ministro da Saúde,
elegeu-se presidente como candidato da chamada Uni-
dade Popular – uma coalizão de partidos de esquerda
liderada pelo Partido Socialista. Allende recebeu 36,2%
dos votos contra 34,9% de Jorge Alessandri, político
conservador que já fora presidente entre 1952 e 1958.
O governo da Unidade Popular passou a cumprir
as promessas de campanha estabelecidas no programa
“Via chilena ao socialismo”, ou seja, a transição para o
socialismo nos marcos da legalidade democrática. Na-
cionalizou, sem indenização, as explorações de cobre e
mais 200 empresas estrangeiras, estatizou os bancos
privados e o comércio exterior, deu continuidade à re-
Raúl Alfonsín forma agrária iniciada pelo governo democrata-cristão
anterior de Eduardo Frei e criou um setor social da eco-
Enquanto Margaret Thatcher colhia os louros nomia controlado pelos próprios trabalhadores através
políticos da vitória na Guerra das Malvinas entre o de suas entidades. Todas essas medidas foram tomadas
eleitorado britânico, o governo militar argentino selava sob o respeito das leis existentes e mantidas as liberda-
seu colapso. A renúncia do general Galtieri foi acompa- des democráticas.
nhada do início do processo de redemocratização da Os setores sociais prejudicados com as reformas
Argentina. Ganhou destaque, nesse contexto, a figura – democratas-cristãos de direita, latifundiários, classe
de Raúl Alfonsín, que congregava em um movimento de média e Forças Armadas – articularam um plano de de-
renovação do Partido União Cívica Radical, lideranças sestabilização do governo, respaldados decisivamente
ligadas ao meios universitários e intelectuais e aos gru- pelo Pentágono (organismo que comanda a defesa dos
Estados Unidos), pela CIA (serviço de informações dos
pos defensores dos direitos humanos.
Estados Unidos) e por poderosas empresas estaduni-
Alfonsín venceu as eleições, em outubro de
denses. Em 11 de setembro de 1973, o general Augusto
1983, e assumiu o desafio de redemocratizar o país e
Pinochet, comandante em chefe do Exército, ordenou
recuperar sua combalida economia.
o bombardeio do Palácio La Moneda, onde Salvador
Allende procurou resistir com uma arma em punho, pre-

Chile senteada por Fidel Castro, e com a qual se suicidou em


seguida.
O governo Salvador Allende (1970–1973)

Palácio Presidencial La Moneda, bombardeado durante o golpe militar


no Chile.

Salvador Allende

125
O governo Pinochet (1973–1990) Do ponto de vista econômico, o governo Pino-
chet foi marcado pela adoção de medidas de caráter ne-
oliberal: desnacionalização de empresas e de atividades
produtivas. Foram privatizados os setores estatizados
durante o governo de Allende e ampliou-se o ingresso
de capital estrangeiro no país por meio da abertura da
economia para empresas multinacionais. A redução dos
gastos sociais aumentou o abismo entre ricos e pobres,
fazendo do Chile um dos países com pior desigualdade
social e de renda no mundo. De 1970 a 1987, a propor-
ção da população chilena abaixo da linha de pobreza
saltou de 20% para 44,4%.

O fim da ditadura chilena


A violenta e antidemocrática forma de gover-
nar de Augusto Pinochet começou, no final dos anos
1980, a gerar pressões contrárias de países e institui-
ções internacionais. Essa imagem negativa do governo
chileno no exterior resultou no isolamento internacional
Augusto Pinochet
do país. Vários países romperam relações diplomáticas
com o Chile, em sinal de protesto contra seu governo
O golpe militar pôs fim à longa tradição demo-
truculento.
crática do Chile e deu início a uma das mais brutais di-
Internamente, grande parte do povo chileno
taduras militares latino-americanas. A repressão atingiu
não aguentava mais o governo Pinochet e a ditadura
os diversos setores da sociedade e foi especialmente
militar. A economia do país enfrentava problemas e as
dura na área sindical e entre os artistas e intelectuais.
desigualdades sociais só haviam aumentado durante o
Os partidos políticos foram dissolvidos, todos os suspei-
regime militar.
tos de ligação com a esquerda foram perseguidos. Nos
Em 1988, o Chile passou por um plebiscito na-
primeiros dias após o bombardeio do Palácio La Mone-
cional, previsto pela Constituição, em que a população
da, milhares de pessoas foram levadas ao Estádio Na-
deveria escolher pelo Sim (permanência de Pinochet no
cional, em Santiago, submetidas a interrogatórios, sur-
poder) ou Não (convocações de eleições para o ano se-
ras e toda sorte de arbitrariedade. Cerca de mil detidos
guinte). Grande parte do povo votou pelo fim do regime
foram sumariamente executados. Os direitos civis foram
militar.
suspensos e a população deveria obedecer ao toque de
Em 1989, o Chile passou por eleições diretas e
recolher, enquanto casas eram invadidas e suspeitos de
Patricio Aylwin foi eleito presidente pela Coalização de
contrariar a nova ordem, levados na calada da noite,
Partidos pela Democracia. A ditadura chilena encerrou
muitas vezes para nunca mais voltar. Muitos depoimen-
em 11 de março de 1990, com a posse do novo presi-
tos posteriores afirmaram que a tortura foi largamente
empregada pelo novo governo contra prisioneiros e ad- dente civil.
versários políticos.
Outros regimes militares
latino-americanos
Uruguai
A instauração de um regime autoritário no
O Estádio Nacional de Chile usado como campo de concentração durante Uruguai deu-se a partir da presidência de Juan Ma-
a ditadura de Pinochet, em 1973. ria Bordaberry (1972-1976), do Partido Colorado. Em

126
1973, sob crescente pressão dos militares, o governo
Operação Condor
dissolveu o Parlamento e os partidos políticos e sus-
pendeu as liberdades civis. Por desentendimentos com
A Operação Condor foi uma aliança estabelecida
a alta cúpula do Exército, Bordaberry foi destituído do
formalmente, em 1975, entre as ditaduras militares da
cargo em 1976, mas, apesar da fachada parcialmente
América latina. O acordo consistiu no apoio político-mi-
civil, as Forças Armadas mantiveram o comando político litar entre os governos da região, com o objetivo de in-
da nação até 1985. vestigar, informar e combater os focos de “subversão”.
Na prática, a aliança apagou as fronteiras nacionais
Paraguai entre seus signatários para a repressão aos adversários
políticos.
O nome do acordo era uma alusão ao condor,
ave típica dos Andes e símbolo do Chile. Trata-se de
uma ave extremamente sagaz na caça às suas presas.
Nada mais simbólico do que batizar a aliança entre as
ditaduras de Operação Condor. Não à toa, foi justamen-
te o Chile, sob os auspícios do governo de Augusto Pi-
nochet, que assumiu a dianteira da operação.
Além do Chile, fizeram parte da aliança: Argenti-
na, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Nos anos 1980, o
Peru, então sob uma ditadura militar, também se juntou
ao grupo. Pode-se dizer que a operação teve três fases.
A primeira consistiu na troca de informações entre os
países-membros. A segunda caracterizou-se pelas tro-
cas e execuções de opositores nos territórios dos países
que formavam a aliança. A terceira ficou marcada pela
perseguição e assassinato de inimigos políticos no exte-
rior – muitas vezes, no próprio exílio.
Alfredo Stroessner
Calcula-se que, apenas nos anos 1970, o núme-
ro de mortos e “desaparecidos” políticos tenha chega-
No caso do Paraguai, a história longeva da ditadu- do a aproximadamente 290 no Uruguai, 360 no Brasil,
ra remonta a 1954, quando o general Alfredo Stroessner dois mil no Paraguai, 3,1 mil no Chile e impressionantes
liderou um golpe de Estado contra o presidente Federico 30 mil na Argentina – a ditadura latino-americana que
Chaves, líder do Partido Colorado, constitucionalmente mais vítimas deixou em seu caminho. Estimativas menos
eleito em 1950. conservadoras dão conta de que a Operação Condor
Ao longo de 35 anos, Stroessner elegeu-se para teria chegado ao saldo total de 50 mil mortos, 30 mil
sete mandatos consecutivos, como candidato do Partido desaparecidos e 400 mil presos.
Colorado. Expurgou do partido seus integrantes mode-
rados e incentivou a filiação de profissionais dependen-
tes de oportunidades nos serviços públicos.
A partir dos anos de 1980, a ditadura militar de
Stroessner começou a perder força, motivada pela de-
saceleração econômica. Um novo golpe de Estado foi
planejado por alguns setores do Partido Colorado. Nos
dias 2 e 3 de fevereiro de 1989, foi destituído o ditador
da presidência paraguaia. Stroessner faleceu em 2006,
exilado no Brasil, aos 93 anos.

127
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 27

Fonte: Youtube

Vídeo
Governo Figueiredo

Fonte: Youtube

Vídeo 500 - Os Bebês Roubados Pela Ditadura Argentina

Fonte: Youtube

Vídeo
Regime/Ditadura Militar/HISTÓRIA

Fonte: Youtube

128
ASSISTIR

Vídeo (A.H.F) Condor


Fonte: Youtube

Filme Democracia em preto e branco

Durante o ano de 1982, a ditadura militar completava 18 anos. A música popular brasi-
leira sobrevivia de metáforas, devido à grande opressão e censura, e o clube de futebol
Corinthians passava por um período interno turbulento. No meio disso, o rock nacional
começava a nascer. O filme mostra como a música, o esporte e a política se encontraram
para mudar o rumo da história do país.

Filme Em teu nome

No Brasil da ditadura militar, década de 1970, Boni (Leonardo Machado), um pobre


estudante de engenharia, entra para a luta armada. Cheio de dúvidas e receios, ele
teme pela sua família, pela sua namorada e por seu futuro, se é que ele um dia o terá.

Filme ABC da greve

O filme cobre os acontecimentos na região do ABC paulista, acompanhando a trajetória


do movimento de 150 mil metalúrgicos em luta por melhores salários e condições de
vida. Sem obter êxito em suas reivindicações, decidem-se pela greve, afrontando o go-
verno militar, que responde com uma intervenção no sindicato da categoria. Mobilizando
um numeroso contingente policial, o governo inicia uma grande operação de repressão.
Sem espaço para realizar suas assembleias, os trabalhadores são acolhidos pela Igreja.

129
ASSISTIR

Filme Os dias eram assim

Renato Reis (Renato Góes) é um médico com grandes ideais. Apesar do ódio
que sente pelo empreiteiro Arnaldo Sampaio Pereira (Antônio Calloni), que
marcou o seu passado, o jovem acaba se apaixonando pela bela Alice (Sophie
Charlotte), a filha de Arnaldo. O sentimento, no entanto, desperta a fúria de
Vitor Dumonte (Daniel de Oliveira), o possessivo namorado da moça.

Filme Infância clandestina

Da mesma forma que seu pai (César Troncoso), sua mãe (Natalia Oreiro) e seu queri-
do tio Beto (Ernesto Alterio), Juan (Teo Gutiérrez Romero) leva uma vida clandestina.
Fora do berço familiar, ele é conhecido por um outro nome, Ernesto, e precisa manter
as aparências pelo bem da família, que luta contra a ditadura militar que governa a
Argentina. Tudo corre bem, até ele se apaixonar por Maria, uma colega de escola.
Sonhando com voos mais altos ao seu lado, ele passa por cima das rígidas regras
familiares para poder ficar mais tempo com ela.

Filme A história oficial

Alicia (Norma Aleandro) é uma conservadora professora de História casada com


Roberto (Héctor Alterio) e mãe adotiva da pequena Gaby (Analia Castro). Completa-
mente alheia à realidade argentina, Alicia começa a se dar conta dos acontecimen-
tos recentes, quando reencontra Ana (Chunchuna Villafañe), uma velha amiga que
acaba de voltar do exílio. Sedenta por respostas, ela decide buscar pistas sobre a
misteriosa origem de sua filha.

Filme O clã

Baseado na história de uma das gangues mais conhecidas da Argentina, os


Puccio. O filme narra sobre essa família que ficou conhecida na década de 1980
por sequestrar e matar várias pessoas. O clã estava composto pelo pai da famí-
lia, Arquímedes (Guillermo Francella), seus dois filhos, Daniel e Alejandro (Peter
Lanzani), o militar aposentado Rodolfo Franco e mais dois amigos, Roberto Os-
car Díaz e Guillermo Fernández Laborde.

130
ASSISTIR

Filme Garagem Olimpo

Durante a ditatura militar na Argentina, Maria, uma jovem professora e militante


de esquerda, é sequestrada por um esquadrão e mantida sob tortura em uma
velha garagem. Félix, um agente secreto da polícia, leva uma vida dupla: é tortu-
rador de prisioneiros e um dedicado cidadão. Duas pessoas ligadas pela violência
e tortura de uma época.

Filme O segredo dos seus olhos

Benjamin Esposito (Ricardo Darín) se aposentou recentemente do cargo de oficial


de justiça de um tribunal penal. Com bastante tempo livre, ele agora se dedica a
escrever um livro. Benjamin usa sua experiência para contar uma história trágica,
da qual foi testemunha, em 1974. Na época, o Departamento de Justiça onde tra-
balhava foi designado para investigar o estupro e consequente assassinato de uma
bela jovem. É desta forma que Benjamin conhece Ricardo Morales (Pablo Rago),
marido da falecida, a quem promete ajudar a encontrar o culpado.

Filme Kóblic

Na Argentina, durante o período da ditadura militar da década de 1970, Kóblic


(Ricardo Darín), um ex-capitão das forças armadas, é responsável por coordenar
as operações aéreas conhecidas como os “voos da morte”, em que elementos
considerados subversivos eram arremessados de dentro dos aviões diretamente
ao encontro do mar.

Filme Kamchatka

Harry (Matías Del Pozo) é um menino de 10 anos que tem uma vida normal para
qualquer criança de sua idade na década de 1970. Porém, sua vida muda com-
pletamente quando seus pais começam a ser perseguidos pela ditadura argentina.
Para escapar dos militares, Harry e sua família são obrigados a largar todos os seus
bens e fugir para uma fazenda no interior.

131
ASSISTIR

Filme De amor e de sombras

No Chile dos anos 1970, durante o regime militar de Pinochet, Irene (Connelly)
é uma jornalista indiferente aos problemas políticos do país, até que se en-
volve com um carismático anarquista (Banderas). Juntos, vão ajudar vítimas
da opressão e investigar assassinatos, com os perigos da ditadura a rondar.
Baseado no romance de Isabel Allende.

Filme A batalha do Chile

Considerado um dos melhores e mais completos documentários latino-americanos,


é resultado de seis anos de trabalho do cineasta Patrício Guzmán. Dividido em três
partes (A insurreição da burguesia, O golpe militar e O poder popular), o filme cobre
um dos períodos mais turbulentos da história do Chile, a partir dos esforços do pre-
sidente Salvador Allende em implantar um regime socialista (valendo-se da estrutura
democrática) até as brutais consequências do golpe de Estado que, em 1974, instau-
rou a ditadura do general Augusto Pinochet.

Filme Chove sobre Santiago

O filme retrata a preparação e o momento do golpe, quando o governo de Sal-


vador Allende, estando totalmente isolado na área militar, é derrubado. Allende
é vitorioso nas eleições presidenciais em 1970 e a Unidade Popular assume o
governo, mas não o poder, pois o aparelho de Estado − a organização burocrá-
tico-militar − mantém-se intacta.

Filme Condor

Condor foi o nome dado à cooperação entre governos militares sul-americanos


que resultou no sequestro e assassinato de milhares de pessoas e no exílio
de tantas outras. Uma análise contemporânea destes eventos, trazendo uma
história de terrorismo de Estado, mas também de pessoas e da procura pela
verdade e justiça.

132
ASSISTIR

Filme Machuca

Gonzalo Infante (Matías Quer) é um garoto que estuda no Colégio Saint


Patrick, o mais conceituado de Santiago. Gonzalo é de uma família de clas-
se alta, morando em um bairro na área nobre da cidade com seus pais e
sua irmã. O padre McEnroe (Ernesto Malbran), diretor do colégio, inspirado
no governo de Salvador Allende, decide implementar uma política que faça
com que alunos pobres também estudem no Saint Patrick. Um deles é Pe-
dro Machuca (Ariel Mateluna), que, assim como os demais, fica deslocado
em meio aos antigos alunos da escola. Provocado, Pedro é segurado por
trás e um deles manda que Gonzalo o bata, o qual se recusa a fazer isto e
ainda o ajuda a fugir. A partir de então, nasce uma amizade entre os dois
garotos, apesar do abismo de classe existente entre eles.

Filme Nostalgia da luz

No Chile, a 3 mil metros de altitude, astrônomos do mundo todo se encontram no


deserto do Atacama para observar as estrelas. O céu do deserto é tão translúcido que
lhes permite ver os limites do universo. É também um local onde o calor forte e seco
mantém cadáveres humanos intactos: de múmias, de exploradores e de mineiros, mas
também de prisioneiros políticos da ditadura de Pinochet. Enquanto os astrônomos
examinam galáxias distantes em busca de vida extraterrestre, ao pé dos observatórios
mulheres cavam o solo do deserto à procura de seus parentes desaparecidos.

ACESSAR

Sites Ditadura / Diretas Já!

www.klepsidra.net/klepsidra16/argentina.htm
www.todamateria.com.br/diretas-ja/
www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6239
www.acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/as-imagens-do-atentado-no-riocentro-9708098
www.al.sp.gov.br/noticia/?id=360461

133
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Livros
A ditadura acabada – Elio Gaspari

A mais aclamada obra sobre o regime militar no Brasil chega à


conclusão com o livro A ditadura acabada. No quinto volume da
Coleção Ditadura, o jornalista Elio Gaspari examina com riqueza de
detalhes o período de 1978 a 1985, desde o final do governo do
presidente Ernesto Geisel e a posse de seu sucessor, o general João
Baptista Figueiredo, até a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio
Eleitoral. São os anos da abertura política, momento decisivo na história de nosso país e
repleto de acontecimentos, como o fim do AI-5, as manifestações políticas pela anistia e
pela volta das eleições diretas para a presidência, os atentados promovidos por aqueles
que se opunham à redemocratização, como o episódio da bomba no Riocentro, em
1981, e uma crise econômica sem precedentes.

Quem foi que inventou o Brasil? – Franklin Martins

Este livro traz como contribuição as abordagens metodológicas tes-


tadas e colocadas em prática pelo Programa de Apoio ao Desen-
volvimento Institucional e Sustentável (Padis), implementado desde
2001 pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com
o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos. O objetivo pri-
mordial do programa é promover a democracia, a participação e o forcimento dos espa-
ços públicos socioambientais no nível local.

Brasil nunca mais – Paulo Evaristo Arns

Um grupo de especialistas dedicou-se durante oito anos a reunir


cópias de mais de 700 processos políticos que tramitaram pela Jus-
tiça Militar, entre abril de 1964 e março de 1979. O resumo desta
pesquisa está neste livro. Um relato doloroso da repressão e tortura
que se abateram sobre o Brasil.

134
LER

Livros
Na vertigem do dia – Ferreira Gullar

O ritmo frenético da metrópole e a entrada de Ferreira Gullar na ma-


turidade. Na vertigem do dia foi publicado originalmente em 1980.
Trata-se do livro seguinte ao célebre Poema sujo, lançado em 1976.
O título é coerente com a trajetória de um poeta para quem a poesia
nasce do espanto. A vertigem está no atropelo das coisas, dos ritmos
metropolitanos, dos fatos incontroláveis, da memória, dos valores em
combate dentro do sujeito.

Araucaria de Chile – Êça Pereira da Silva

Êça Pereira da Silva teve como primeira experiência de pesquisa a ini-


ciação científica intitulada “Nova canção chilena: um encontro entre
a arte e a política”, ampliada com o título “Chile e Cuba: a revolução
na canção popular”, com bolsa da Fapesp, bem como a dissertação
de mestrado que originou o presente trabalho.

Diretas Já: 15 meses que abalaram a ditadura –


Domingos Leonelli; Dante Oliveira

”Dante e Leonelli mostram que política também se faz assim: dando


a quem não viu a oportunidade de saber; e a quem viveu a chance
de reorganizar na cabeça o passado, enxergar melhor o presente e
tentar construir um futuro firme para a democracia brasileira.” (Dora
Kramer)

135
LER

Livros
Sócrates – Tom Cardoso

Ídolo do Corinthians, capitão da mítica seleção da Copa de 1982,


Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira deixou sua
marca também fora dos gramados. O futebol era pequeno demais
para a grandeza de suas ideias, e ele se engajou intensamente na
vida pública do país. Idealista e rebelde, o meio-campista genial
que desafiava as autoridades e incomodava os cartolas carregava
no nome a paixão pelo Brasil, que se viu refletida na participação
ativa na campanha das Diretas Já.

A democracia corinthiana – José Paulo Florenzano

Este livro pretende mostrar que, ao contrário da concepção que


pretende desvincular o ato de jogar do ato de pensar e reduzir
o trabalhador da bola à condição de mero comandado dos
especialistas que o cercam e dirigem, o projeto da ‘democracia
corinthiana’ empreende a luta para reconciliar corpo e alma,
religar o atleta ao cidadão, reunir a dimensão estética do futebol-
-arte à dimensão ética do futebol como prática de liberdade.

OUVIR

Músicas
- Reunião de bacana – Exporta Samba
- Clube da esquina nº 2 – Lô Borges
- Movido a álcool – Raul Seixas
- Admirável gado novo – Zé Ramalho
- Cidadão – Zé Geraldo
- Não chore mais (No woman, no cry) – Gilberto Gil
- O bêbado e o equilibrista – Elis Regina
- Tô v-oltando – Simone

136
OUVIR

Músicas
- Vou festejar – Beth Carvalho
- Geração Coca-Cola – Legião Urbana
- Vai passar – Chico Buarque
- Aluga-se – Raul Seixas
- Linha de montagem – Chico Buarque
- E vamos à luta – Gonzaguinha
- Veraneio vascaína – Capital Inicial
- Nordeste independente – Elba Ramalho
- FMI – Ratos do Porão
- Inútil – Ultraje a Rigor
- Não me venha com indireta – Noca da Portela
- Pelas tabelas – Chico Buarque
- Maldita preguiça (Maldita polícia) – Garotos Podres
- Pro dia nascer feliz – Barão Vermelho
- Alvorada voraz – RPM
- Coração de estudante – Milton Nascimento
- Simca Chambord – Camisa de Vênus

137
INTERDISCIPLINARIDADE

Em 1984, seria votada a proposta de emenda constitucional Dante de Oliveira, a qual propunha a mudança
do modo de eleição do presidente da República que assumiria em 1985. Tal proposta pedia a mudança do sistema
de escolha pelo Colégio Eleitoral para votação direta popular, mas não foi aprovada na votação ocorrida em 25 de
abril de 1984, pois não alcançou os dois terços de votos de deputados necessários.
Contudo, vale a lembrança de que essa emenda só foi proposta devido a um desejo popular de reestabe-
lecer a democracia no país e que a população havia iniciado mobilizações nas ruas das grandes cidades pedindo
o direito ao voto, o fim do governo militar e muitas outras mudanças. As manifestações iniciadas ainda em fins de
1982 (após a volta das eleições diretas para governador) e que ganharam força entre 1983-84, ficaram conhecidas
como a campanha pelas Diretas Já!. Tal momento é especial devido ao retorno do povo às ruas e à retomada da
consciência da necessidade de a população lutar pelos seus direitos políticos e sociais.

Comício na Praça da Sé (1984) a favor das Diretas Já! reuniu mais de 300 mil pessoas
Durante a ditadura militar no Brasil, os países vizinhos sul-americanos também atravessavam momentos
de governos autoritários. Nessa época, para acabar com a constante migração para países vizinhos de pessoas
procuradas pelos regimes autoritários, foi criada, em 1975, a Operação Condor, acordo entre os governos do Chile,
Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Peru, em que esses governos e suas agências responsáveis pelas
investigações e prisões de opositores políticos trocavam informações e até mesmo prisioneiros.
Numa última fase de operações, os governos aceitavam até mesmo a execução de seus perseguidos polí-
ticos por agentes dos governos vizinhos. Estima-se que, ao fim das suas atividades, a Operação Condor possa ter
sido responsável por entre 30 e 50 mil assassinatos.

Charge alusiva à Operação Condor. A ave que nomeia a operação é um símbolo do Chile.

138
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 8 - Analisar a ação dos Estados nacionais, no que se refere à dinâmica dos fluxos
populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.

A habilidade 8 contém um aspecto amplo, embora seja-nos útil a partir de um aspecto es-
pecífico: analisar a ação dos Estados nacionais no enfrentamento de problemas de ordem
social. Como a ciência política nos ensina, um Estado nacional é a realização institucional
da dominação, que pode ser vista em aspectos ideológicos ou físicos. Significa dizer que
necessariamente o Estado é a instituição com legitimidade de impor sanções físicas e a
violência sobre seus súditos.
No caso da questão a seguir, há uma exemplificação do que foi dito acima, mas estendida
a uma aliança entre países da América latina, que, durante as décadas de 1960 e 1980,
viviam sob a mesma preocupação social e política: combater todos os movimentos dissi-
dentes às ditaduras, mormente aqueles com ideologia de esquerda, isto é, nacionalistas,
socialistas, comunistas e anarquistas.

Modelo
(Enem) A Operação Condor está diretamente vinculada às experiências históricas das ditaduras
civil-militares que se disseminaram pelo Cone Sul entre as décadas de 1960 e 1980. Depois do
Brasil (e do Paraguai de Stroessner), foi a vez da Argentina (1966), Bolívia (1966 e 1971), Uru-
guai e Chile (1973) e Argentina (novamente, em 1976). Em todos os casos se instalaram ditaduras
civil-militares (em menor ou maior medida) com base na Doutrina de Segurança Nacional e tendo
como principais características um anticomunismo militante, a identificação do inimigo interno, a
imposição do papel político das Forças Armadas e a definição de fronteiras ideológicas.
PADRÓS, E.S. et al. Ditadura de Segurança Nacional no Rio Grande do Sul
(1964-1985): história e memória. Porto Alegre: Corag, 2009 (adaptado).

Levando-se em conta o contexto em que foi criada, a referida operação tinha como objetivo coor-
denar a:
a) modificação de limites territoriais.
b) sobrevivência de oficiais exilados.
c) interferência de potências mundiais.
d) repressão de ativistas oposicionistas.
e) implantação de governos nacionalistas.

140
Análise Expositiva

Habilidade 8
A Operação Condor foi criada em conjunto pelos órgãos de segurança dos países que compu-
nham o chamado Cone Sul, com o objetivo de investigar, vigiar e punir qualquer atividade de
oposição aos governos militares.
Alternativa D

141
Estrutura Conceitual
DITADURA MILITAR: GOVERNO
FIGUEIREDO (1979-1985)

A Características B Economia
§§ “Castelista” §§ Dependência do capital externo
§§ Continuidade da abertura §§ Dívida externa
§§ Oposição à “linha dura” §§ Inflação
atentados e terrorismo (ex.: Riocentro) §§ Fortes greves no ABC paulista
§§ Crise econômica
§§ “Década perdida”
§§ Fim da ditadura militar

C Política
§§ Lei da anistia (também favorece torturadores)
§§ Pluripartidarismo Arena PDS
PFL (1985)
PMDB
PP
MDB PTB
PDT
PSDB
§§ 1984: campanhas “Diretas Já!”
força dos movimentos sociais
derrota da emenda Dante de Oliveira
§§ 1985: eleições indiretas
vitória da chapa: Tancredo Neves (PMDB) presisdente
José Sarney (ex-Arena) vice
§§ Morte de Tancredo Neves
Sarney assume

REGIMES MILITARES
NA AMÉRICA LATINA
A Contexto
§§ Guerra Fria
§§ Revolução cubana (1959)
§§ Financiamento dos EUA
§§ Doutrina de Segurança Nacional

142
Argentina
A B
Peronismo
§§ 1950: radicalização de Juan Perón Ditadura (1976-1982)
§§ 1955: deposição de Perón §§ Forte repressão
governo militar §§ Destruição da economia argentina
organização de grupos guerrilheiros
§§ Alta corrupção
§§ 1970: redemocratização
§§ 1982: guerra das Malvinas
§§ 1973: vitória de Perón
discurso conservador Inglaterra vence Argentina
§§ 1974: morte de Perón Desprestígio militar
Izabelita (vice) assume §§ Redemocratização – força do
§§ 1976: golpe militar movimento “Mães da Praça de Maio”

Chile
A B
Governo Allende (1970-1973) Governo Pinochet
§§ Candidatos da Unidade Popular (1973-1990)
(frente de esquerda) §§ Alta repressão
§§ “Via chilena ao socialismo” §§ Desnacionalização de empresas
democrática e pacífica §§ Neoliberalismo
§§ Reforma agrária §§ Aumento da desigualdade social
§§ Estatização de empresas estrangeiras §§ 1988 (plebiscito): fim do governo
§§ Golpe militar em 1973 Pinochet
§§ 1989: eleições diretas

Outras ditaduras
A B
Uruguai
Paraguai
§§ (1973-1985)
§§ General Stroessner (1954-1989)

Operação Condor
A
§§ Aliança política e militar
§§ Ditaduras sul-americanas
§§ Regionalismo de repressão
§§ Fase 1 – troca de informações
§§ Fase 2 – execução de opositores
§§ Fase 3 – assassinatos de inimigos políticos no exterior

143
5
49 0
Nova república: governos
Sarney e Collor

Competências Habilidades
1, 2, 3 e 5 2, 3, 10, 11, 12,
13, 14, 15, 21,
22, 23, 24 e 25

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Governo José Sarney (1985–1990)

José Sarney

A Campanha pelas Diretas Já! mobilizou a sociedade brasileira, resultando numa imensa rejeição à ditadura
e reivindicando o restabelecimento do Estado de Direito.
Derrotada a Emenda Dante de Oliveira, graças à atuação das lideranças políticas e econômicas ligadas ao
PDS – que, aliás, continuam presentes no cenário político brasileiro, tão fortes e influentes como antes –, alguns
seguimentos da sociedade civil, influenciados pelos meios de comunicação, passaram a apoiar claramente a can-
didatura de Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral. A vitória do candidato, em janeiro de 1985, alimentava alguma
esperança de restabelecimento democrático, embora a ideia de que algum golpe pudesse ser tentado pelas forças
descontentes em entregar o poder aos civis.
Subitamente, vieram a doença e a morte de Tancredo Neves. Chocada e perplexa pela rapidez com que os
acontecimentos tinham se desenrolado, a população, ainda estonteada, assistiu à posse de José Sarney na Presidência
da República. Mas a necessidade de esperança era tão grande que, apesar do passado político do novo presidente
– que sempre apoiou a ditadura, fora senador pela Arena, presidente do PDS e o principal articulador da derrota da
emenda Dante de Oliveira –, mesmo assim, José Sarney assumiu o governo contando com um razoável crédito de
confiança por parte do público.

Economia
José Sarney herdara do regime militar um País com sérios problemas econômicos, especialmente com altas
taxas de inflação (223,8%, em 1984), crescente dívida externa, investimentos produtivos baixos, especulação fi-
nanceira, recessão e um Estado falido. O novo presidente tinha a difícil tarefa de superar essa situação e, durante os
primeiros meses de 1985, nenhuma medida importante foi tomada pela equipe do ministro da Fazenda Francisco
Dornelles, que havia sido indicado por Tancredo Neves.
No segundo semestre do mesmo ano, em substituição a Dornelles, Dílson Funaro foi nomeado para o Minis-
tério da Fazenda com a tarefa de combater os problemas econômicos, de uma maneira mais intensa. Em fevereiro
de 1986, o novo ministro lançou um plano econômico: O Plano de Estabilização Econômica ou Plano Inflação Zero,
que visava combater a inflação e manter o crescimento econômico, tendo como principais disposições:
§§ criação de uma nova moeda: o Cruzado;
§§ congelamento de preços e salários, que foram reajustados em 8%;

147
§§ redução das taxas de juros; O consumo foi estimulado e a queda no rendimen-
§§ desindexação1 da economia; e to das aplicações financeiras, inclusive a poupança, levou
§§ aumento automático dos salários, todas as vezes as pessoas a retirar seu dinheiro das aplicações financei-
que a inflação superasse os 20% mensais. ras e utilizá-lo na compra de mercadorias. O crescimento
do consumo não foi acompanhado pelo crescimento da
oferta de mercadorias, pois parte das empresas não es-
tava preparada para ampliar rapidamente sua produção,
enquanto outras viram os preços de venda defasados em
relação aos custos, não tendo, portanto, estímulo para
aumentar a produção. Além disso, muitas empresas so-
breviveram no mercado graças aos lucros das aplicações
financeiras. Em face da redução destes, passaram a ter
dificuldades para continuar produzindo. Havia um grande
número de empresários que, graças à inflação, tinham lu-
cros fabulosos e não queriam abrir mão deles, passando
então a reter mercadorias e matérias-primas, provocando
o ágio2 e agravando os problemas do desabastecimento,
que provocavam o aumento dos preços das mercadorias
Capa da revista Veja destacando a criação do Plano Cruzado. em geral.

O plano ficou conhecido como Plano Cruzado


e, em virtude da estabilização dos preços, da queda da
inflação e dos juros, recebeu o apoio da população. Ta-
belas de preços eram distribuídas diariamente nos jornais
e os brasileiros foram convocados a fiscalizar os preços,
denunciando aumentos irregulares como “fiscais do Sar-
ney”, assim denominados.

31 de janeiro de 1989 – consumidores observam prateleiras vazias em


supermercado durante o Plano Verão,
o terceiro a fracassar na tentativa de controlar a inflação.

https://conteudo.imguol.com.br/c/
A escassez de mercadorias e o ágio provocaram
noticias/2e/2016/02/26/04031986-consumidor-exibe- a perda do controle da situação por parte das autorida-
-bottom-com-a-frase-eu-sou-fiscal-do-sarney-
des econômicas. Por razões políticas, o congelamento
de preços foi mantido até as eleições de novembro de
1986, quando seriam escolhidos os novos governadores
estaduais, conhecidos como “estelionato eleitoral”.
A vitória eleitoral do PMDB foi devastadora: somente o
Estado de Sergipe não elegeu um governador do par-
tido do presidente Sarney. Logo após as eleições, veio
Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/reda- o descongelamento de preços e salários, fazendo com
cao/2016/03/14/inflacao-vovos-que-foram-fiscais-do-sarney-
-voltam-a-vigiar-precos-em-minas.htm?cmpid=copiaecola que a inflação subisse descontroladamente.

1 Eliminação de reajuste obrigatório em função de mu- 2 Termo utilizado para nomear o valor a mais que é cobra-
dança de algum parâmetro escolhido como índice. do sobre determinada mercadoria ou operação financeira.

148
Daí em diante, a situação econômica brasileira governadores em quase todos os Estados e tornou-se
deteriorou-se cada vez mais, chegando a atingir, no final majoritário no Congresso Nacional, que seria também
do mandato de Sarney, o espantoso índice de 90% ao Assembleia Constituinte; os deputados federais e sena-
mês, apesar da constante troca dos ministros da Fazen- dores então eleitos eram encarregados de elaborar a
da ao longo do seu mandato. Depois de Dílson Funaro, nova Constituição brasileira.
vieram Luís Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbre- Durante a Constituinte, Sarney lutou com muito
ga, responsáveis, respectivamente, por mais dois cho- afinco para que seu mandato fosse ampliado para cinco
ques econômicos: o Plano Bresser, em 1987, e o Plano anos. Houve acusações de que, em troca dessa amplia-
Verão, em 1989. Este substituía o Cruzado (CZ$) pelo ção, o presidente teria atribuído numerosas concessões
Cruzado Novo (NCz$). de rádio e televisão aos deputados constituintes.
As acusações levaram alguns parlamentares,
inclusive do PMDB, a exigir a convocação de uma Co-
missão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar
o caso. As manobras do governo impediram a CPI, o
que levou vários políticos do PMDB a romperem com o
presidente Sarney, deixando o partido e fundando uma
nova sigla política, o Partido da Social Democracia Bra-
sileira (PSDB), liderados por Fernando Henrique Cardo-
so, Franco Montoro, Pimenta da Veiga e Mário Covas.
Elaborada ao longo de um ano e meio, a nova
Constituição foi promulgada no dia 5 de outubro de
No Plano Verão, notas de Cz$ 1.000,00 eram carimbadas com o valor de 1988 pelo presidente do Congresso Constituinte, Ulys-
NCz$ 1,00 (um cruzado novo).
ses Guimarães. Ela apresentava como principais carac-
A crise econômica e o desemprego provocaram terísticas:
descontentamento geral da população com a situação §§ manutenção do regime republicano e do sistema
econômica do País. No último mês do governo Sarney, presidencialista;
março de 1990, a inflação correspondente ao período §§ mandato presidencial de quatro anos;
de 15 de fevereiro a 15 de março atingiu o recorde his- §§ eleição direta para todos os níveis e em dois
tórico de 84,32%, chegando ao índice acumulado de turnos, sempre que um dos candidatos não con-
4853,90% nos 13 meses anteriores. Os mais prejudica- seguisse maioria absoluta, do qual participariam
dos foram os trabalhadores assalariados, de modo es- os dois primeiros candidatos, para os cargos dos
pecial aqueles que recebiam seus salários mensalmente, Executivos federal, estadual e municipal;
cujo valor real chegava a ser cerca de 50% inferior ao §§ voto obrigatório para ambos os sexos entre 18 e
nominal. O País foi marcado por greves e manifestações 60 anos de idade e facultativo para pessoas de
contra o governo, que perdia cada vez mais populari- 16 e 17 anos de idade, maiores de 60, analfabe-
dade. tos, deficientes físicos e indígenas;
§§ ênfase aos poderes do Legislativo e transforma-
ção do Judiciário em poder verdadeiramente in-
A Assembleia Nacional Constituinte dependente, apto inclusive a julgar e anular atos
e a Constituição de 1988 do Executivo;
§§ consolidação dos princípios democráticos e de-
Em novembro de 1986, realizaram-se eleições fesa dos direitos individuais e coletivos dos ci-
simultaneamente para governador, Assembleias Esta- dadãos;
duais, Câmara Federal e Senado. Favorecido pelos resul- §§ nacionalismo econômico, reservando várias ativi-
tados inicialmente do Plano Cruzado, o PMDB elegeu dades somente a empresas nacionais;

149
§§ assistencialismo social, com a ampliação dos di- Quase todas as legendas lançaram candidaturas
reitos dos trabalhadores; e próprias, mesmo as que tinham remotas chances de vi-
§§ ampliação da autonomia administrativa e finan- tória, num total de 21 candidatos ou 22, se incluídos
ceira dos Estados da federação. nesse grupo a tentativa de candidatura do apresentador
de televisão Sílvio Santos. Era, na prática, uma maneira

de os políticos apresentarem-se à população e torna-
rem-se nacionalmente conhecidos.
Entre as candidaturas mais conhecidas estavam
a de Ulysses Guimarães, pelo PMDB, tendo contra ele o
fato de pertencer ao partido de Sarney, bastante des-
gastado. Já Mario Covas candidatou-se como represen-
tante do recém-criado PSDB, integrado por dissidentes
do PMDB, que fundaram a nova legenda. Com tendên-
cias mais conservadoras apresentavam-se as candidatu-
ras de Paulo Maluf, pelo PDS (Partido Democrata Social),
Aureliano Chaves, pelo PFL (Partido da Frente Liberal).
Havia, ainda, as candidaturas de Roberto Freire, pelo
PCB (Partido Comunista Brasileiro) e Guilherme Afif Do-
mingos, pelo PL (Partido Liberal).
Outros nomes tornaram-se conhecidos nacional-
mente naquele momento: o do médico Enéas Carneiro,
que disputou eleição pelo Prona (Partido de Reedificação
da Ordem Nacional). Dispondo de pouco tempo na mí-
dia, ele fazia discursos que mais pareciam palavras de
ordem ou gritos de guerra, sempre encerrando com um
À esquerda, encerramento dos trabalhos da Constituinte de 1988. À di-
reita, Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, exibe bordão – “Meu nome é Enéas!”. Mais tarde Enéas en-
um exemplar da Constituição, depois de promulgada pelo Congresso
Nacional.
traria para a história da política nacional ao se eleger um
dos deputados federais mais votados do País pelo Estado
Eleições de 1989 de São Paulo, “arrastando”, pelo coeficiente eleitoral, ou-
tros candidatos de votação inexpressiva de seu partido
Em 1989, os brasileiros votaram para o cargo de para o Congresso Nacional, em um fenômeno conhecido
presidente da República após, uma longa espera de 29
como a “bancada Enéas”. É possível perceber que essas
anos, em meio a um quadro político-econômico e social
bastante conturbado. candidaturas que concorriam por legendas tradicionais
Primeiro, o descontrole inflacionário, devido tinham poucas chances de vitória, num claro recado da
ao fracasso sucessivo de vários planos econômicos; o população que demonstrava estar insatisfeita com o tra-
imobilismo do governo, que não buscou encaminhar dicionalismo político.
soluções efetivas para questões essenciais e que afligia
A opinião pública recaía sobre dois personagens:
a população há décadas, tais como emprego, alimenta-
ção, saúde, educação, habitação, transporte etc. mar- um deles já tradicional na política brasileira e o outro
cou-se, então, a campanha para a eleição presidencial, vindo do movimento sindical, mas ambos identificados
a primeira eleição direta para presidente da República como candidatos com posicionamentos mais à esquer-
desde 1960, quando Jânio elegeu-se com uma votação da, isto é, estabelecendo prioridades em suas propostas
recorde até então. sociais: Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.

150
nacional a respeito das consequências de uma possível
vitória de Lula.
As pesquisas apontavam um provável segundo
turno entre Brizola e Lula, o que atemorizava os setores
conservadores. Mas na reta final da campanha, a can-
didatura de Lula cresceu e a militância do PT ganhou as
ruas, conquistando eleitores indecisos e convencendo
outros, levando seu candidato ao segundo turno para
enfrentar Fernando Collor, que aparecia como um novo
fenômeno eleitoral lançado pelo pequeno PRN (Partido
da Reconstrução Nacional) e que ganhou, imediata-
mente, o apoio das classes dominantes e dos grandes
órgãos de imprensa, pois tinha apelo para afastar o
“perigo” Lula e seu discurso socialista.

Leonel Brizola (PDT), único político eleito para go-


vernar dois Estados diferentes (Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro) em toda a história do Brasil, foi um dos candidatos
à Presidência da República que concorreu nas eleições de
1989.
Mesmo entre os dois havia diferenças quanto
às prioridades de seus projetos. Brizola, candidato pelo
PDT, era considerado herdeiro do trabalhismo varguista
e fazia um discurso em defesa das riquezas nacionais e
de valorização da educação como ferramenta de trans-
formação econômica e de inclusão social. Pesava em
seu favor a experiência de ter sido governador de dois
importantes Estados, Rio de Janeiro e Rio Grande do
Sul. Lula foi candidato pelo PT (Partido dos Trabalhado- Banner eleitoral de Collor, 1989
res), partido que, assim como o PDT, foi fundado após a
Fernando Afonso Collor de Melo, proveniente de
reforma partidária em 1979. Para muitos, a candidatura
de Lula na época representava a esquerda, especial- uma tradicional família alagoana de políticos empresá-
mente por promover um discurso de ruptura, prometen- rios, cujo avô tinha sido ministro de Vargas, era bem
do inclusive a suspensão do pagamento da dívida ex- jovem, ocupara a prefeitura de Maceió e o governo do
terna e apoio à reforma agrária, contando com o apoio Estado, ainda que insistisse em dizer que representava
de vários segmentos de intelectuais, artistas, sindicatos, o novo na política e desligado dos poderosos. Collor uti-
entidades estudantis, trabalhadores e do movimento lizou sua juventude para conquistar o eleitorado. Seus
operário. Seu projeto era nacionalista e propunha de- discursos fortes destacavam a necessidade de moraliza-
senvolver uma política democrática que favorecesse os ção da vida pública, prometendo um combate incansá-
trabalhadores; promovesse o crescimento do mercado vel à corrupção, apelo popular fácil e sempre utilizado.
interno, com a elevação do padrão de vida das classes Segundo ele, era preciso promover a “caça aos mara-
populares, priorizando a área social (educação, saúde, jás” – denominação atribuída pelo jovem candidato
moradia etc.). Nesse momento, houve grande debate aos funcionários que recebiam altíssimos salários, além

151
dos que não exerciam função alguma. Outro destaque
em sua campanha foi a promessa de modernização
Governo Fernando
econômica através da integração do Brasil ao mercado
mundial, fundamentando algumas de suas ações nos
Collor (1990–1992)
princípios neoliberais. Collor era na verdade o candi-
dato das elites, dos empresários, dos latifundiários e dos
usineiros e contava com o apoio dos principais grupos
que controlavam os meios de comunicação e a grande
imprensa, especialmente as Organizações Globo.
A campanha para o segundo turno foi acirrada.
Collor não havia comparecido a nenhum debate do pri-
meiro turno, mas no segundo turno não teve como evi-
tar o embate com seu oponente. Nesse momento, em- Cerimônia de posse: Collor recebe a faixa presidencial de Sarney.
presários davam declarações ameaçando sair do País,
investidores pressionaram os grupos empresariais e os
patrões, na mídia, anunciavam uma possível quebradei-
O Plano Collor
ra em virtude do quadro formado no cenário nacional
O governo Collor, desde o início, foi bastante
e internacional. Segmentos da classe média receavam
conturbado, especialmente pela necessidade de criar
perder alguns privilégios e, por isso, combatiam a can-
mecanismos eficientes de combate à inflação. Não era
didatura de Lula.
fácil, pois seu antecessor já tinha buscado em fórmulas,
denominadas pelos economistas de choques hetero-
doxos, controlar a inflação. Todas as tentativas haviam
fracassado.
Antes de tomar posse, o presidente Fernando
Collor informou que “só tinha uma bala na agulha para
disparar contra a inflação e, portanto, não poderia errar”.
Menos de 24 horas depois de subir a rampa do Planalto,

Lula e Collor cumprimentam-se durante a campanha presidencial de


Fernando Collor fez o disparo, só que, ao invés de uma
1989. bala de revólver, detonou uma bomba nuclear sobre a
economia.
Collor explorou esse medo no debate final, às
O presidente divulgou o novo plano econômi-
vésperas da eleição, alegando que Lula promoveria o
co de combate à inflação, denominado Brasil Novo,
confisco de todas as aplicações financeiras e investi-
também conhecido por Plano Collor, articulado por
mentos dos cidadãos. Collor investiu também em ata-
ques pessoais, alegando que seu oponente defenderia o um grupo de ministros chefiados pela professora Zélia
aborto, tendo inclusive contado para isso com a decla- Cardoso de Mello, então ministra da Fazenda. Foi sem
ração de uma ex-namorada de Lula, além de assegurar dúvida impactante, pois promoveu o confisco geral da
que Lula seria favorável à luta armada. economia, limitando os saques de investimentos, aplica-
Collor venceu com uma pequena margem e Lula, ções financeiras, cadernetas de poupança entre outros,
apesar da derrota, saiu fortalecido como principal repre- além de mudar novamente a moeda (retornou ao Cru-
sentante da oposição. zeiro) e promover novo congelamento de preços.

152
Com a justificativa de debelar uma inflação de
mais de 80% ao mês, a equipe de Zélia, nas palavras
do ex-ministro Delfim Netto, transformou a economia do
País em uma “experiência de laboratório e os brasilei-
ros, em ratinhos”. As consequências para muitas famílias
Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda, durante anúncio do Plano
Collor, em 1990. foram irreparáveis, com mortes, suicídios e desemprego
– provocado por uma recessão aguda logo no primeiro
A justificativa usada era a da necessidade de ano do plano. Em 1990, o PIB caiu 4,5% e a economia
evitar uma explosão do consumo, como ocorreu nos permaneceu atrofiada.
A inflação também despencou para 7,59%, mas
tempos de Sarney, visando impedir uma crise de abas-
resuscitou com força nos anos seguintes, encerrando o
tecimento que favoreceria a especulação e a cobrança
período Collor em mais de 25% (IPCA de dezembro de
do ágio; portanto, o retorno da inflação. 1992). Foram os anos da chamada “estagflação” – uma
Além disso, o governo, assumindo princípios da anomalia econômica.
política econômica neoliberal, promoveu o enxugamen- O fracasso dos planos acabou levando antigos
to da máquina administrativa com a extinção de se- apoiadores a promoverem abertamente críticas ao pre-
cretarias e ministérios que resultou em demissões em sidente, que a essa altura já tinha seu nome associado
a escândalos de corrupção, já que o Brasil vivia com a
massa, promoveu a privatização de várias empresas e
economia estagnada, mas sofria com a inflação.
cortou subsídios a vários setores da economia e da cul-
tura. Ao mesmo tempo, o governo facilitou a entrada de
capitais e produtos estrangeiros no Brasil. Se em alguns
Denúncias de corrupção
casos essas medidas contribuíram para o aperfeiçoa- Somados aos desgastes resultantes do fracasso
mento de produtos nacionais, que competissem com os dos planos de combate à inflação, surgiram sérias de-
importados, em outros, gerou a falência, já que muitas núncias de corrupção na equipe de governo, algumas
dessas empresas não tinham condições de competir das quais envolviam até mesmo o presidente e a pri-
com as vantagens concedidas aos estrangeiros. meira-dama.
A mesma mídia que trabalhara intensamente
Diante do fracasso da política econômica, a minis-
para garantir a eleição de Collor abastecia a opinião
tra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello pediu demissão e
pública com novidades sobre os escândalos de corrup-
foi substituída por Marcílio Marques Moreira, que tentou ção no governo.
manter o plano com alguns ajustes. Mas a tentativa de Uma das denúncias mais graves partiu do irmão
um novo plano só agravou a crise existente. A mais grave mais velho do presidente, o empresário Pedro Collor, que,
consequência das medidas postas em prática pela equipe em uma entrevista concedida à revista Veja, em maio de
1992, acusava o presidente de se envolver em negocia-
da ministra Zélia e, posteriormente, por Marcílio Marques
tas ilícitas e ter recebido doações não contabilizadas em
Moreira foi uma acentuada recessão, isto é, uma redução
sua campanha coordenada pelo tesoureiro Paulo César
drástica da atividade econômica, sobretudo industrial. Farias, o PC Farias, como era conhecido, numa operação
Destaca-se o quadro geral de desemprego, que alcançou conhecida popularmente como “caixa 2”. O nome PC
os maiores índices das últimas décadas. Os salários, de- Farias já aparecia em denúncias desde 1991, que o acu-
vido à inflação, perderam a maior parte do seu poder de savam de fazer lobbies para realizar negociações envol-
vendo empresas públicas, ainda que elas pudessem gerar
compra.

153
prejuízos aos cofres públicos. Seria PC o coordenador de
um grande “esquema” criado para favorecer determina-
dos grupos econômicos, promovendo, para isso, tráfico de
influência dentro do governo.
As denúncias feitas pelo irmão do presidente
tiveram grande repercussão junto à opinião pública. A
partir daí, outras denúncias de irregularidades foram
aparecendo. Como resultado do clima de indignação, foi
instaurada no Congresso Nacional uma CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) para apurar as denúncias de
irregularidades.
Capa da revista Isto É com foto de Eriberto França, peça-chave para a CPI
que culminou com o impeachment de Collor.

Manifestações em todo o País:


surgem os “caras pintadas”
Insuflados pela mídia, a “população” foi tomada
pela indignação. Surgiam cada vez mais manifestações
que exigiam o afastamento do presidente.
Ganhou destaque a atuação dos estudantes em
Edição da revista Veja com a bombástica entrevista de Pedro Collor, todo o País. Os jovens chamavam a atenção pintando
marca do começo do fim do ex-presidente. o rosto de verde, amarelo e preto em sinal de protesto
contra a corrupção em manifestações pelo Brasil afora,
Apesar das muitas acusações, Pedro Collor não
ficando conhecidos como os “caras pintadas”.
apresentou provas concretas de suas denúncias e acusa-
ções, o que não foi levado em consideração pela grande
mídia e pela opinião pública. Seria apenas uma questão
de família mal resolvida? (Vale lembrar que o empresá-
rio houvera descoberto que PC Farias abriria um jornal
em Alagoas para concorrer com o jornal de sua família.
Detalhe: PC era sócio de Fernando Collor). As denúncias
estariam fadadas a serem arquivadas?
Em junho de 1992, outra entrevista, agora na
revista Isto É, com Eriberto França, motorista da secre-
tária de Collor, mudaria os rumos da investigação. O Os “caras pintadas” saíram às ruas, em 1992, para pedir o impeachment
de Fernando Collor.
motorista revelou detalhes da ligação de PC Farias com
o presidente Collor, que faziam uso de contas fantas- Essas manifestações foram amplamente divulga-
mas, isto é, de pessoas inexistentes, para pagamentos das pelos meios de comunicação e contribuíram decisi-
de despesas pessoais do presidente – boa parte delas vamente para engrossar as fileiras dos que queriam ver
superfaturadas –, em sua mansão em Brasília, a Casa Collor fora do governo.
da Dinda.

154
Ainda que se possa questionar a espontaneida-
de do movimento, já que alguns alegam manipulação
da mídia, especialmente da Rede Globo, que aproveitou
para exibir a minissérie Anos Rebeldes, que mostrava
a atuação destemida dos estudantes durante o regime
militar, não se pode deixar de constatar a importância
histórica de um movimento como esse. Era de fato a
consolidação da democracia. Afinal, o impeachment
é um instrumento jurídico que permite ao Congresso
Nacional destituir do cargo o presidente da República
de maneira legal. No entanto, essa leitura necessita ser
mais bem fundamentada pelos estudos dos historiado-
res, pois há que se entender as motivações das classes
dominantes e quais interesses econômicos em jogo no
movimento político levaram ao impeachment de Collor
em contradição com sua absolvição pelo STJ (Supremo
Tribunal de Justiça). O jornal Folha de S.Paulo noticiou, em 30 de setembro de 1992, o impea-
chment do então presidente
Collor ainda tentou algumas manobras para evi- Fernando Collor, episódio destacado como “vitória da democracia”.
tar sua deposição. Em rede nacional, tentou mobilizar
a população para que saísse às ruas vestido de verde e
amarelo em defesa do seu mandato, dizendo ser vítima
de uma conspiração. Ainda que alguns atendessem os
seus apelos, a maior parte da população saiu às ruas de
preto em sinal de luto e protesto.
Os trabalhos na CPI seguiram e várias denún-
cias acabaram surgindo; graças à pressão exercida pela
opinião pública, a CPI aprovou o impeachment do pre-
sidente Fernando Collor de Melo no dia 29 de setembro
de 1992, que foi afastado do cargo até o julgamento
no Senado.
Tentando evitar a perda de seus direitos polí-
ticos, Collor resolveu renunciar ao seu mandato horas
antes da votação no Senado, em 29 de dezembro de
1992, mas não adiantou, pois perdeu o mandato pre-
sidencial e os direitos políticos, tornando-se inelegível,
por oito anos.

155
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 28: Tancredo Neves ...


Fonte: Youtube

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 29: Fernando Collor de Mello


Fonte: Youtube

Vídeo História - Da Nova República ao Real - Parte 1- 2

Fonte: Youtube

Vídeo História - Da Nova República ao Real - Parte 1- 2

Fonte: Youtube

156
ASSISTIR

Vídeo Documentário Collor TV Cultura (PARTE ÚNICA)


Fonte: Youtube

Vídeo Impeachment do Collor


Fonte: Youtube

Vídeo Economia Brasileira 06 Plano Cruzado e Reformas 1986-1987

Fonte: Youtube

Vídeo Economia Brasileira 07 Derrotas Para a Inflação 1987-1994

Fonte: Youtube

157
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Filme sobre o Impeachment de Collor


Fonte: Youtube

Vídeo Anúncio do Confisco das Poupanças


Vídeo Fonte: Youtube

Filme Brizola: tempos de luta

A vida de Leonel Brizola, político brasileiro do Rio Grande do Sul, e sua partici-
pação nos principais acontecimentos políticos e sociais do país. Para contar sua
história desde o pequeno povoado gaúcho até a sua morte, 27 depoimentos de
familiares, amigos, companheiros e líderes políticos de peso, como Luís Carlos
Prestes, Lula, Dilma Roussef e Mário Soares, ex-presidente de Portugal.

Filme Depois da chuva

No ano de 1984, quando a ditadura militar se enfrequece, dois jovens baianos de


16 anos começam a perceber que estão vivendo uma fase importante do país. A
descoberta do contexto político, com as eleições diretas para presidente, mistura-
-se às descobertas sexuais e ao fim da adolescência.

158
ACESSAR

Sites Nova república

ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-05-18/veja-linha-do-tempo-do-impeachment-de-
-collor.html
oglobo.globo.com/brasil/nova-republica-completa-30-anos-15053641
www.youtube.com/watch?v=rRscFxw_D0U
www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-cruzado
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

LER

Livros
Quem foi que inventou o Brasil? Vol. 3 – Franklin Martins

Jornalista e comentarista político, Franklin Martins começou a estudar


a intensa relação entre a política e a música no Brasil em 1997. Apai-
xonou-se pelo tema – e o resultado dessa paixão é a impressionante
trilogia Quem foi que inventou o Brasil?. Em uma extensa pesquisa
que reúne mais de mil composições, Franklin nos conta a história da
república brasileira sob a óptica da produção musical no país. Fechando a saga, o volume 3
aborda os tropeços, as conquistas e os desafios vividos pelo país, desde a abertura política,
em 1985, até a primeira eleição de Lula, em 2002.

Fora Collor – Chico Caruso

“Para que um fenômeno se decomponha, é preciso que vários outros


ocorram. Este é o boletim da maior história policial da história do
país. Pessoas jurídicas, físicas, varas de família, sigilo bancário – fo-
ram todos pras cucuias, levados pela ânsia de uns poucos de fazer,
como diria o Barão, ‘de sua vida pública uma extensão da privada’.
Acabou na descarga. Quem viveu viu. Quem quiser rever pode começar por aqui.” (Rio,
novembro de 1992. Chico Caruso)

159
INTERATIVI
A DADE

LER

Livros
Collor presidente – Marco Antonio Villa

O governo Collor é um dos mais (mal) falados da história brasileira.


Mas quem de fato conhece, em detalhes, os trinta meses em que um
desconhecido ex-governador de Alagoas presidiu o Brasil? Este livro
vem para preencher esta grave lacuna. Autor do best-seller Década
perdida, o historiador Marco Antonio Villa pesquisou arquivos
desconhecidos, investigou documentos inéditos e entrevistou
dezenas de personagens do período – inclusive o próprio Fernando Collor. O resultado é
uma brilhante reconstrução do ambiente – político, econômico e cultural – que permitiu
os trinta meses de turbulências, reformas, intrigas e corrupção do governo Collor.

A história das constituições brasileiras: 200 anos de luta


contra o arbítrio – Marco Antonio Villa

Neste livro, Villa oferece ao leitor uma análise de cada constituição


que o país já teve e do pano de fundo que a gerou. Em sete capítulos,
acompanhamos os embates políticos, os conflitos com o governo, os
costumes reinantes na época. As emendas constitucionais ao longo
período da ditadura também são examinadas. O quadro se completa
com um capítulo dedicado ao Supremo Tribunal Federal e seu papel na república. O
historiador Marco Antonio Villa nos leva a um passeio pela história, onde desfilam figuras
notórias e nem sempre tão ilustres. Fala das revoltas, do voto feminino, da chegada de
levas de imigrantes e outros assuntos que sempre provocavam discussões. Como bem
observa Villa, “não é exagero afirmar que os últimos 200 anos da nossa história têm como
ponto central a luta do cidadão contra o Estado arbitrário“. E, na maioria das vezes, o
Estado ganhou de goleada.

Tancredo Neves: a noite do destino – Ribeiro José Augusto

A biografia definitiva de Tancredo, escrita brilhantemente por seu


assessor na histórica campanha de 1984, retrata a vida pessoal e,
principalmente, a trajetória política do primeiro presidente brasileiro
eleito após o regime militar. O jornalista político José Augusto Ribeiro
traz a público o resultado de mais de quinze anos de pesquisa. O
leitor encontrará farto material bibliográfico, incluindo documentos do arquivo pessoal
de Tancredo, fotos, entrevistas exclusivas e fatos ainda inéditos sobre esse líder nacional.

160
LER

Livros
Tancredo Neves, o príncipe civil – Plínio Fraga

A vida e o legado do político que se tornou símbolo da redemocrati-


zação brasileira. Silencioso nas articulações políticas e estrondoso na
tribuna, Tancredo Neves participou dos momentos mais impactantes
da história brasileira: foi ministro da Justiça de Getúlio Vargas, em
1954; primeiro-ministro da experiência parlamentarista de João Gou-
lart, em 1961; líder do governo, senador e governador de Minas Gerais. Nos 21 anos de re-
sistência pacífica ao regime militar, costurou a derrocada da ditadura em 1985 aceitando
eleger-se presidente, ainda que sob regras não democráticas. A posse, marcada para 15
de março, não aconteceu. Mais do que uma biografia, o livro de Plínio Fraga é uma grande
reportagem sobre a política brasileira e os bastidores do poder entre as décadas de 1950
e 1980.

Honoráveis bandidos: um retrato do Brasil na Era Sarney –


Palmério Dória

Palmério Dória, um dos jornalistas mais respeitados do país, conta


pela primeira vez num livro, toda a história secreta do surgimento,
enriquecimento e tomada do poder regional pela família Sarney, no
Maranhão, e o controle quase total, do Senado, pelo patriarca que
virou presidente da República por acidente, transformou o Maranhão no quintal de sua
casa e beneficiou amigos e parentes. Um livro arrasador, na mesma linha de Memórias
das trevas, que tinha o também senador Antonio Carlos Magalhães como personagem
e vendeu mais de 80 mil exemplares quando lançado.

OUVIR

Músicas
- Que país é este – Legião Urbana
- Faroeste caboclo – Legião Urbana
- Até quando esperar – Plebe Rude

161
OUVIR

Músicas
- Estado violência – Titãs
- Selvagem – Paralamas do Sucesso
- Alagados – Paralamas do Sucesso
- Homem primata – Titãs
- Plano furado – Ratos de Porão
- Desordem – Titãs
- Comida – Titãs
- Ideologia – Cazuza
- Brasil – Cazuza
- Burguesia – Cazuza
- Porcos no poder – Thaíde e DJ Hum
- Melô da CPI – Caju e Castanha
- Super Collor – Juca Chaves
- Nova república – Juca Chaves
- Cara pintada – Leci Brandão
- Diário de um detento – Racionais MC´s
- A rasteira do presidente – Bezerra da Silva
- Vítimas da sociedade – Bezerra da Silva

162
162
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou am-


bientais ao longo da história.

A natureza de um conflito social reside no arranjo e nos confrontos entre diferentes


facções e atores políticos e econômicos. A habilidade 15 é comumente solicitada em
momentos de profunda transição política, econômica e social, isto é, situação de alta
complexidade de análise. Complexas, pois são extremamente contraditórias e nada pro-
gressivas ou lineares.
Pensa-se uma ruptura como um processo de avanço, mas embora isso seja verdade, o
estudante deve compreendê-la criticamente, uma vez que componentes do atraso podem
conviver após a constituição de uma nova realidade sociopolítica.
No caso a seguir, vemos a redemocratização brasileira. Diante de tantos avanços constitu-
cionais e políticos, alguns germes do atraso permaneceram – tanto no que concerne aos
seus atores, quanto a algumas práticas institucionais.

Modelo
(Enem) Batizado por Tancredo Neves de “Nova República”, o período que marca o reencontro do
Brasil com os governos civis e a democracia ainda não completou seu quinto ano e já viveu dias de
grande comoção. Começou com a tragédia de Tancredo, seguiu pela euforia do Plano Cruzado, co-
nheceu as depressões da inflação e das ameaças da hiperinflação e desembocou na movimentação
que antecede as primeiras eleições diretas para presidente em 29 anos.
O álbum dos presidentes: a história vista pelo JB. Jornal do Brasil. 15 nov. 1989.

O período descrito apresenta continuidades e rupturas em relação à conjuntura histórica anterior.


Uma dessas continuidades consistiu na:
a) representação do legislativo com a fórmula do bipartidarismo.
b) detenção de lideranças populares por crimes de subversão.
c) presença de políticos com trajetórias no regime autoritário.
d) prorrogação das restrições advindas dos atos institucionais.
e) estabilidade da economia com o congelamento anual de preços.

163
Análise Expositiva

Habilidade 15
O período mencionado pela questão – entre 1985 e 1989 – corresponde ao governo de José
Sarney, no qual foi comum a presença de políticos que fizeram carreira durante a ditadura – o
próprio Sarney, ACM, Paulo Maluf, Ulysses Guimarães, entre outros – nos círculos políticos.
Alternativa C

164
Estrutura Conceitual
NOVA REPÚBLICA: GOVERNOS
SARNEY E COLLOR
Governo Sarney (1985-1990)
§§ Nova república
§§ Alta crise econômica B Constituição de 1988
§§ Década perdida
§§ Descrédito §§ Constituição Cidadã
§§ Congresso Nacional e
A Economia Assembleia Constituinte
§§ Alta inflação §§ Maoria do PMDB (rompimento com PSDB)
§§ Especulação financeira §§ Princípios
§§ Dívida externa republicana e presidencialista
§§ Estado falido eleições gerais diretas
§§ Baixo investimento produtivo três Poderes
§§ 1986: Plano Cruzado ênfase no Legislativo
estabilização financeira Judiciário independente
queda dos juros e da inflação garantia de direitos individuais
produção não supre consumo assistência social
escassez de mercadorias nacionalismo econômico
§§ 1987: Plano Bresser aumento da autonomia dos
§§ 1988: Plano Verão Estados
§§ Retorno da inflação

Eleições de 1989
intelectuais
C artistas
§§ Crise econômica e social apoio sindicatos
§§ 22 candidatos entidades estudantis
§§ Segundo turno: Lula da Silva (PT) trabalhadores
movimento operário
‘ expansão da democracia
propostas crescimento do mercado interno




X apoio
não pagamento da dívida externa
banqueiros
latifundiários
classe média
Fernando Collor (PRN) luta contra a corrupção
“caça aos marajás”
propostas modernização da economia
reformas neoliberais
§§ Vitória de Collor
165
GOVERNO COLLOR
(1990-1992)

A Economia B Política
§§ Plano Collor (reformas neoliberais) §§ Denúncias de corrupção
privatização de empresas §§ Instauração de CPI
empréstimos no exterior §§ Manifestações por impeachment
demissões movimento dos Caras Pintadas
inflação §§ Set./1992: afastamento do cargo
recessão econômica §§ Dez./1992: renúncia
diminuição da máquina pública
congelamento de poupanças

166
INTERDISCIPLINARIDADE

Durante o governo Geisel o Brasil passou a investir em energias alternativas, tentando diminuir a enorme
dependência que vivia em relação ao petróleo e seus derivados. Nesse contexto, passa a ser importante a utilização
de energia nuclear e o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
No caso da energia nuclear o Brasil fez um acordo com o governo alemão para a construção de oito usinas
de energia nuclear, sendo que apenas duas tiveram suas obras iniciadas durante o governo militar. A tecnologia
seria importante para o Brasil, pois, apesar das estapafúrdias suspeitas norte-americanas de que o Brasil poderia
ter como objetivo nas usinas enriquecer urânio ou plutônio para construir uma bomba atômica, o Brasil visava
transformar a energia nuclear em energia elétrica. Isso é possível porque as usinas nucleares funcionam como usi-
nas térmicas, e o calor produzido na fissão nuclear é utilizado para ferver a água que movimenta enormes turbinas,
as quais por sua vez, produzem energia elétrica.

Marca da Rio-92, tentativa de estabelecer acordos para evitar a destruição do meio ambiente

167
5 2
1 5 Nova república: governos
Itamar, FHC, Lula e Dilma

Competências Habilidades
1, 2, 3 e 5 1, 7, 8, 10, 13, 14,
15, 21, 23,
24 e 25

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Governo Itamar Franco (1992–1994)

Itamar Franco

Com o afastamento de Collor, assumiu o cargo o vice-presidente Itamar Cautiero Franco, primeiro interi-
namente, em 2 de outubro de 1992, e empossado como presidente em 29 de dezembro do mesmo ano, diante
de uma situação econômica e política de crise devido à inflação e à desconfiança da população na política, após
sucessivos escândalos de corrupção.
Em termos políticos, Itamar buscou formar um governo de coalizão, com a participação de políticos de
diversas tendências partidárias, em que se destacavam os representantes do PSDB. O presidente promoveu ainda
inúmeras substituições de ministros, principalmente na pasta da Fazenda, que comandava a área mais traumática
do governo. Os debates no Congresso para a aprovação das reformas políticas e socioeconômicas que a nação
tanto precisava acabaram ficando em segundo plano. Nos bastidores, ganhavam um espaço cada vez maior as
discussões sobre a sucessão presidencial.
Como previa a Constituição de 1988, foi realizado um plebiscito em que a forma e o sistema de governo
foram avaliados pela população, vencendo a forma republicana entre a monarquia e o sistema presidencialista de
governo ante o parlamentarismo.
Ainda que fosse visto como homem honesto e íntegro, o governo Itamar não conseguiu passar imune
aos escândalos de corrupção. Entre 1993 e 1994, ocorreu a CPI do Orçamento, conhecida popularmente como a
“máfia dos anões do orçamento”. Duas situações foram identificadas nesse esquema. Primeiro, o fato de os
parlamentares apresentarem emendas destinando verbas para entidades filantrópicas ligadas a parentes e “laran-
jas”. Segundo e principal, eram os acordos firmados entre parlamentares e as grandes empreiteiras para a inclusão
de verbas orçamentárias para grandes obras, em troca de polpudas comissões.
Foi instalada uma CPI que descobriu o funcionamento do esquema, através do qual, por meio de emendas
ao orçamento do governo, deputados e senadores desviavam milhões de dólares, canalizados para numerosas
entidades fantasmas, a título de assistência social, e que acabavam indo para as contas bancárias dos parlamen-
tares. A investigação comprovou o envolvimento de ministros, parlamentares e altos funcionários num amplo
esquema de manipulação do orçamento. Confirmara-se o desvio sistemático de verbas para empreiteiras e obras
filantrópicas fantasmas, apadrinhados políticos etc. Respondendo a respeito da origem de sua riqueza, o líder do
esquema conhecido como “os anões do orçamento”, o deputado João Alves, declarou ser um homem de sorte e
ter perdido as contas do número de vezes que ganhou na loteria.

171
real de valor), indexador econômico que promoveria a
transformação do valor das compras em Cruzeiros reais
para o Real.
Para manter o câmbio próximo ao dólar, entre
outras medidas, foram tomados empréstimos desti-
nados a reforçar as reservas monetárias brasileiras. A
elevação acentuada da taxa de juros foi outro artifício
usado para controlar a inflação e para a atração de
capitais para o País. Essa medida acabou, no entanto,
contribuindo posteriormente para um quadro recessivo
e para o aumento do desemprego.
A desconfiança logo deu lugar ao otimismo, à
João Alves tinha uma movimentação financeira 300 vezes maior que a
medida que a inflação baixava, contribuindo decisiva-
compatível com sua renda de parlamentar. mente para a candidatura e para a vitória de FHC nas
eleições presidenciais de 1994.

Itamar relançou o Fusca na fábrica da Volks em São Paulo, em 1993. Fernando Henrique Cardoso, à época ministro da Fazenda, faz o anúncio
Sonho do presidente durou apenas três anos, do Plano Real.
quando a montadora encerrou sua produção.

A inflação foi controlada e o País voltou a cres-


Mesmo com pouco tempo de mandato, Itamar
cer também controladamente e com uma moeda forte.
terminou seu governo com alto índice de popularidade,
o que em parte se explica pelo sucesso do Plano Real Apesar de algumas turbulências que foram controladas
que conseguiu o controle da inflação, visto a seguir. pela equipe econômica e da troca de ministros da Fa-
zenda em curtos períodos (Fernando Henrique Cardoso
O Plano Real deixou o Ministério para concorrer à Presidência; Ru-
bens Ricupero deixou o cargo depois de ser flagrado
A inflação continuava a ser o inimigo público nú- em declarações de que estavam sendo escondidas in-
mero um de todos os brasileiros. Os diversos choques na formações negativas acerca do plano, e foi substituído
economia tinham se mostrado incapazes de solucionar
por Ciro Gomes, que deixou o cargo de governador do
o problema da inflação de maneira definitiva.
Itamar, no primeiro ano de governo, também en- Ceará), o plano foi mantido, bem como a estabilidade
frentou essa crise que gerou uma consecutiva substitui- econômica do Brasil.
ção de ministros até a indicação de Fernando Henrique
Cardoso para o ministério da Fazenda. Política externa
Inspirado em exemplos semelhantes no México
e na Argentina, FHC, como é conhecido, e uma equipe O Brasil orientou sua política externa procurando
de economistas, estruturaram um plano econômico fun-
seguir tanto a tendência à globalização da economia
damentado na paridade da nossa moeda com a moeda
americana, inclusive com a criação de uma nova moeda mundial quanto a da regionalização do comércio, ado-
chamada Real. O plano fora criado para ser implanta- tando uma política econômica fundada nos princípios
do em etapas. Inicialmente, foi criada a URV (unidade do neoliberalismo. Por um lado, a economia sofreu um

172
processo de abertura, para favorecer a atuação das em- De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, re-
presas transnacionais. Por outro, o País dedicou-se à cebeu apoio de outros partidos de esquerda – PSB, PC
ampliação do Mercosul. do B, PV e PPS (Partido Popular Socialista, antigo PCB).
O Mercosul, criado em 1991, é um bloco econô- De outro, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do
mico que reúne a Argentina, o Brasil, o Paraguai, e o Uru-
PSDB, recebeu o apoio de partidos como o PFL e o PTB.
guai. Recentemente, passaram a fazer parte do bloco a Além de Lula e Fernando Henrique, que polarizaram as
Venezuela, como país membro (suspenso por questões eleições, mais seis candidatos disputaram a Presidência:
políticas de 2016), e os demais países sulamericanos Enéas Carneiro (Prona), Orestes Quércia (PMDB), Leonel
associados. O acordo entre os países membros prevê o Brizola (PDT), Espiridião Amin (PPR, antigo PDS), Carlos
livre trânsito de mercadorias (o que já ocorre com 90% Gomes (PRN) e Hernani Fortuna (PSC).
da produção interna dessas regiões) e a unificação da Lula começou a campanha antes, tendo realiza-
política aduaneira. Com o tempo, pretendem-se ampliar do várias viagens a todas as partes do Brasil, denomina-
os acordos rumo à união das políticas econômicas, a das de “caravanas da cidadania”. Visitando as diversas
unificação das moedas nacionais e o livre trânsito de regiões do Brasil, Lula procurava conhecer de perto os
mão de obra entre os países. O Mercosul tem permitido problemas do País. Por isso, apareceu inicialmente com
melhores condições de negociação dos países membros grande vantagem sobre os demais candidatos nas pes-
no mercado internacional. Existem acordos de coope- quisas eleitorais.
ração com os EUA e a perspectiva de se criar uma Área Fernando Henrique Cardoso tornou-se candida-
de Livre Comércio da América do Sul, passo que deve to à Presidência pela coligação PSDB/PFL, que indicou o
anteceder a participação desses países na Área de Livre senador Marco Maciel, do PFL, para a vice-presidência.
Comércio das Américas, Alca, bloco econômico previsto FHC baseou sua campanha no sucesso do Plano Real
para agrupar todos os países americanos, exceto Cuba, e na necessidade de manter a política econômica que
sob a liderança dos Estados Unidos. vinha sendo implementada. Conseguiu o apoio especial
dos setores da elite, temerosos de que uma vitória de
Lula pudesse reduzir seus privilégios. A consequência foi
As eleições de 1994 e a o crescimento da candidatura FHC, ultrapassando Lula
sucessão de Itamar Franco nas pesquisas de intenção de voto e mantendo essa
vantagem até as eleições, que venceu já no primeiro
O quadro político-eleitoral ao final do perío- turno com cerca de 54% dos votos.
do Itamar Franco mostrava-se bem diferente de 1989, As eleições consolidaram o PMDB e o PSDB
quando mais de 20 candidatos concorreram à Presidên- como maiores partidos nacionais. Juntos, os dois parti-
cia da República. Essa eleição foi marcada por colocar dos elegeram 15 governadores e a maioria dos senado-
em campos opostos antigos aliados contra o regime res e deputados estaduais e federais.
militar.

Lula e FHC nos tempos da luta pela redemocratização do Brasil.

173
A era FHC (1995–2002)

Fernando Henrique Cardoso

Ao tomar posse em 1o de janeiro de 1995, FHC fez um discurso de acordo com sua formação acadêmica de
sociólogo, destacando a necessidade de combater as desigualdades sociais no País. Porém, suas primeiras medidas
acarretaram frustrações para a população devido à autorização do aumento do próprio salário, de parlamentares e
ministros, resultando em fortes críticas.

Política
Sabendo que a aliança política que garantiu a vitória do PSDB nas eleições não podia depender só do PFL,
partido que compunha a aliança principal, era imprescindível o apoio do PMDB, detentor de uma grande bancada
parlamentar e de considerável representação nos Estados e municípios, bem como de outros partidos, como o PTB,
de tal modo que o governo pudesse contar com o apoio da maioria no Congresso. Essas alianças, costuradas com
vários partidos, era, segundo o governo, uma necessidade para garantir a governabilidade do País.
Um dos recursos para a obtenção de apoio dos partidos era a distribuição de cargos entre os parlamentares
da base aliada, a que os opositores acusam de estar sendo feito o loteamento do poder. Sem maioria no Congresso,
as reformas não avançam, afirmavam os representantes do governo, pois determinados partidos e figuras políti-
cas conservadoras e retrógradas só votavam favoravelmente se fossem recompensados. Tais alianças e atitudes
acabaram rendendo críticas ao governo devido à contradição ideológica de interesses. No entanto, essa era uma
prática antiga, usada pelos parlamentares como instrumento de pressão contra os governantes, de tal modo que
os presidentes, em maior ou menor proporção, continuavam a usar.
Em termos políticos, uma marca registrada da gestão FHC foi o grande número de medidas provisórias, se
comparada a outros governos que o antecederam. Diante disso, também surgiram críticas, uma vez que tais medi-
das acabavam dando ao Executivo o poder de legislar.

Algumas propostas de emendas constitucionais resultaram em discussões e polêmicas, mas eram consi-
deradas indispensáveis pelo governo, para o crescimento e a modernização do País, bem como para garantir a
manutenção da estabilidade econômica obtida a duras penas.
Desses projetos polêmicos, destacaram-se:

174
§§ quebra dos monopólios do petróleo, das teleco- 1997, da qual se destacaram o aumento das taxas de ju-
municações, do gás canalizado e da navegação ros, que visava desestimular o consumo e atrair o capital
de cabotagem (dentro das fronteiras nacionais); especulativo, a desvalorização da moeda, para estimular
§§ alteração do conceito de empresa nacional, no as exportações e equilibrar a balança comercial, e a rea-
sentido de não discriminar o capital estrangeiro; lização de acordos com o FMI, Fundo Monetário Interna-
§§ reforma administrativa; cional. Nesse caso, o Brasil receberia recursos na forma
§§ reforma tributária; e de empréstimos e, em contrapartida, adotaria diretrizes
§§ reforma da Previdência, que ampliava as exigên- estabelecidas pelo Fundo, como garantir o superávit pri-
cias para aquisição da aposentadoria (medida mário, o ajuste das contas públicas com o corte de gastos
justificada pelo famoso deficit da Previdência, que e o controle da inflação.
necessitava arrecadar mais e pagar menos).
É fato também que o Congresso Nacional não Sociedade
aprovou todas as medidas apresentadas pelo governo.
Observamos, no entanto, que algumas leis sancionadas Para muitos, a gestão FHC provocou uma série
promoveram alterações nas relações de trabalho em de frustrações, uma vez que se esperava de um sociólo-
busca de uma flexibilização na legislação trabalhista. A go, professor universitário, o melhor conhecimento dos
justificativa era que o alto custo com os encargos tra- problemas do País. Esse foi o sentimento de muitos que
balhistas inviabilizaria novas contratações por parte dos apostaram suas fichas em um intelectual de prestígio
empresários. Com a redução dos custos, surgiram no- internacional e com um handcap de ter apoiado a cria-
vos postos de trabalho, contribuindo para redução dos ção de um vitorioso plano de estabilização econômica
índices de desemprego. Para muitos, tais iniciativas do de combate à inflação.
governo apenas prejudicariam os trabalhadores, sendo De fato, podemos constatar um certo imobilismo
relacionados à política neoliberal a que FHC negava ser do governo ao atendimento das questões sociais, algu-
adepto. mas das quais foram até prejudicadas pelas reformas
Outra importante alteração constitucional foi a propostas pelo governo, como no caso da flexibiliza-
aprovação da emenda que autorizou a reeleição para os ção das leis trabalhistas. Se a educação básica ganhou
cargos do Executivo. Presidente, governadores e prefeitos fôlego com programas como o Bolsa Escola, o ensino
ganharam o direto de disputar a reeleição sem deixar o superior suscitou muitas críticas. As reclamações eram
cargo. Contudo, denúncias sobre propinas a deputados originadas pela falta de apoio e de investimentos, pro-
para a aprovação da emenda sobre a reeleição foram vocando um progressivo sucateamento das universida-
relatados e investigados, mas não resultaram em nada des públicas.
para o presidente.
A reeleição
Economia
Apesar do contexto econômico complicado ao
Para consolidar a estabilidade econômica, o final do seu primeiro mandato devido à crise na Ásia,
governo promoveu mudanças e ajustes. Era preciso as- FHC lançou-se novamente como candidato, reeditando
segurar a vitória contra a inflação que, durante tantos a aliança vitoriosa de 1994 com o PFL, desta vez com
anos, foi a mais visível ameaça à economia brasileira. o foco no combate ao desemprego. Usava o slogan: “O
Sinais de recessão, como aumento das taxas de inadim- homem que acabou com a inflação agora vai acabar
plência, queda no consumo e demissões em massa, exi- com o desemprego”. Lula seria mais uma vez o principal
giam respostas rápidas do governo, algumas das quais adversário, mas não resistiu ao poder que a estabilidade
já mencionadas. econômica dera ao seu adversário e o apoio das elites.
Outro fato que provocou uma série de medidas e FHC foi eleito mais uma vez no primeiro turno com cer-
alterações que o governo foi obrigado a realizar, deu-se ca de 53%.
por ocasião da crise na Ásia, em Hong Kong, no final de

175
O segundo mandato
FHC iniciou seu segundo mandato em, 1o de ja-
neiro de 1999, e tinha à sua frente grandes desafios a
superar.
O primeiro deles referia-se à aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, que resta-
belecia regras para o uso do dinheiro público em todas
as esferas (federal, estadual e municipal). Todo gasto
ou investimento deveria ser comprovado, bem como a
receita necessária para sua conclusão. O objetivo era
evitar que houvesse mais gastos do que a receita permi-
tia, o que quase sempre ocorria, especialmente nos mo-
mentos em que antecediam as eleições. A inobservância
dessas regras passaria a acarretar sérias punições, inclu-
sive perda de direitos políticos, pagamento de multas,
prisão e confisco de bens dos infratores.
Em termos políticos foram, várias questões que
abalaram a imagem do governo, principalmente a crise
no relacionamento político com o Congresso Nacional a
propósito do setor energético. A questão envolveu a re-
A crise do apagão* afetou o fornecimento e a distribuição de energia
ação de Antônio Carlos Magalhães, do PFL-BA, em face elétrica, entre julho de 2001 e fevereiro de 2002, durante o segundo
da indicação de Jader Barbalho, do PMDB-PA, para a mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi causada por falta
de planejamento e investimentos em geração de energia. *Apagão foi o
Presidência do Senado. A partir desse momento, ACM termo que designou interrupções ou falta de energia elétrica frequentes;
passou a dirigir sérias críticas ao presidente que, em re- blecautes (do inglês, blackout) de maior duração.

taliação, destituiu ministros ligados ao senador baiano. Devemos reconhecer, no entanto, que diante de
tantas dificuldades resultantes do cenário internacional,
Paralelamente, surgiam denúncias de corrupção no go-
o governo conseguiu manter a estabilidade, evitando o
verno, que deram origem a uma série de Comissões Par-
retorno da inflação. Desde a crise da Ásia, no final de
lamentares de Inquérito CPI; porém, quase todas elas
1997, da Rússia, em 1998, outras várias ocorreram, como
acabaram arquivadas ou não tiveram os responsáveis
na nossa vizinha Argentina (2001-02), importante parcei-
punidos exemplarmente por falta de provas. Ainda que
ro comercial no Mercosul.
do ponto de vista jurídico, boa parte das denúncias não
fossem comprovadas, o governo sentiu os efeitos dos
sucessivos escândalos com os índices de popularidade As privatizações
caindo progressivamente. Mas, talvez, a crise que mais
tenha contribuído para desgastar o governo foi a do se- Particularmente após o governo Collor, os deba-
tor de energia, que resultou em um racionamento geral tes sobre as vantagens e prejuízos que as privatizações
em 2001. Em princípio, toda a população deveria redu- trariam ganharam um lugar de destaque no cenário po-
zir o consumo de energia elétrica em 20%. As críticas lítico nacional.
foram duras ao governo, à medida que não houvera tra- Um dos argumentos dos privatistas era o de que
çado um planejamento, tampouco feito os necessários a escassez de recursos tornava muitas empresas esta-
investimentos em um setor essencial para o crescimento tais obsoletas, uma vez que os investimentos não esta-
do país. vam à altura da competitividade exigida pelo mercado
mundial. Dessa forma, os que defendiam a privatização
como uma necessidade, usavam como argumento o alto
custo operacional de algumas empresas nacionais, es-
pecialmente com pagamento de mão de obra. Livre des-
sa responsabilidade, o governo poderia dispor de mais

176
recursos para investir em projetos sociais; além disso, te do processo de privatizações, apontaram o modo o
a privatização incentivaria, em nome da concorrência, como as privatizações foram levadas a cabo pelo go-
tanto uma ampliação da oferta quanto uma redução de verno, não revertendo nos lucros esperados; o capital
preços, o que beneficiaria o consumidor. significativo apregoado para que se resolvessem os
problemas de caixa não apareceu nem para programas
Os que eram contra alegavam a desmontagem do sociais, senão para alimentar a corrupção.
patrimônio público nacional, bem como o preço defasa-
do que as empresas nacionais estariam sendo ofertadas,
As políticas sociais
valores bem menores que os praticados pelo mercado –
indícios de favorecimento a determinados grupos parti-
Naquele período, algumas políticas sociais foram
culares interessados na compra das estatais. Criticavam
consideradas excessivamente paternalistas e assisten-
ainda a inobservância dos interesses nacionais, já que
cialistas. Ainda que não tenha sido uma revolução, são
não foram realizadas consultas públicas sobre a venda
inegáveis alguns importantes avanços na área social
das tais empresas.
O programa de privatização atingiu setores con- postos em prática na gestão FHC, que em boa parte
siderados essenciais ao País, como as telecomunicações serviram de esteio para o governo Lula.
(Telebrás), distribuição de energia (Eletrobrás), siderur- Destaque especial merece a atuação do Ministé-
gia (Usiminas, Cosipa e CSN-Cia. Siderúrgica Nacional) rio da Saúde, sob o comando de José Serra, com a que-
e recursos minerais (Companhia Mineradora Vale do bra das patentes do setor de medicamentos usados no
Rio Doce), não sem muito protestos, além de bancos tratamento da aids, bem como do lançamento de me-
estaduais. dicamentos genéricos, que usavam o mesmo princípio
ativo dos remédios de “marca” “patenteados” a preços
mais baixos. Sem dúvida, a atuação como ministro da
Saúde, entre 1998 e 2002, juntamente a esses fatores,
credenciariam José Serra para concorrer à Presidência
da República nos pleitos de 2002 e 2010.
Na educação, o destaque ficou com o Progra-
ma Bolsa Escola, que assegurava determinada quantia
Manifestação contra a privatização da Cia. Vale do Rio Doce. em dinheiro às famílias que mantivessem os filhos na
escola. Resultado: houve um substancial aumento do
São inegáveis os significativos avanços em de- número de matrículas nos ensinos fundamental e médio
terminados setores, em especial na área de telecomuni- e a redução da taxa de analfabetismo.
cações, com a facilitação do acesso à telefonia a milha- Outro feito importante do governo foi ter inclu-
res de pessoas. No setor de energia elétrica, a oferta foi ído na pauta de problemas nacionais a questão dos
significativamente ampliada. No entanto, os problemas direitos humanos. A discussão sobre a ditadura foi reto-
advindos da privatização não puderam ser encobertos, mada e as vítimas de violência do regime militar ou suas
especialmente no atendimento ao consumidor, ainda
famílias passaram a ser indenizadas.
que existissem normas e leis que regulassem essas ati-
vidades. Além das agências reguladoras, foram criadas
regras para fiscalizar a ação dos grupos que receberam
O processo eleitoral de 2002
concessão pública para aquela atividade específica, o
Em 2002, o PT e Lula tiveram de atender a de-
que nem sempre foi feito com eficácia. Vender mais
produtos do que a capacidade de atendimento, não terminadas demandas políticas para que pudessem
cumprir a responsabilidade prevista em contrato com concorrer às eleições. Internamente, o nome de Lula já
o consumidor são infrações mais comuns que até hoje não era mais unanimidade, razão pela qual, pela primei-
lideram o ranking de reclamações nos órgãos de defesa ra vez, ele disputou as prévias com o senador Eduardo
do consumidor. Convém lembrar que, muitos estudiosos Suplicy, das quais Lula saiu vitorioso com mais de 80%
das questões econômicas desse período, particularmen- dos votos.

177
A mudança de comportamento de Lula e do PT ção. Lula definia essa sua nova fase como: “Lulinha
impressionou e causou muita polêmica, especialmente Paz e Amor”.
em virtude da aliança com o PL, Partido Liberal, e da Essa sua nova “versão” suscitou nas alas mais
indicação do senador José Alencar, um megaempresário radicais não só do PT, mas da esquerda, dúvidas sobre
do setor têxtil, para a vice-presidência. As alianças com a possível mudança de comportamento e ideologia do
setores conservadores levaram a senadora Heloísa He- candidato. Antigos companheiros acusavam-no de ter
lena a fazer abertas críticas ao PT e a desistir de concor- desbotado. Mesmo assim, Lula continuava crescendo
rer pelo partido nas eleições para governo de Alagoas. nas pesquisas e reduzindo seus índices de rejeição.
Essas discordâncias mais tarde levariam os dissidentes Lula liderou a campanha desde o início e con-
do PT à formação de uma nova legenda denominada seguiu reverter vários estigmas negativos (estigmas
Psol, Partido do Socialismo e Liberdade. preconceituosos, aliás), principalmente quando alguns
empresários de renome nacional deram depoimentos de
apoio ao candidato petista em seu programa político no
horário eleitoral.
Em sua matéria de capa, a revista Veja pergun-
tava: “Quem será o antiLula?”, o que refletia as circuns-
tâncias que ilustraram a disputa pelo segundo lugar.
A disputa pelo segundo lugar ficou mais acirra-
Lula, PT, com o senador José Alencar, PL, aliança polêmica às vésperas
das eleições de 2002. da quando Ciro Gomes, candidato do PPS, cresceu nas
pesquisas no curto período de três semanas, chegando
A campanha a superar José Serra, candidato pelo PSDB. De tempe-
ramento notadamente forte, Ciro deu algumas declara-
ções polêmicas e bastante exploradas pelos adversários,
provocando a queda de seus índices para o quarto lugar
ao término do primeiro turno.
Anthony Garotinho, candidato pelo PSB, chegou
a crescer nos momentos finais da disputa, baseando sua
campanha no aumento do salário mínimo e afirmando
que somente ele representava uma esquerda de fato e
não aceitaria ajuda de elementos da política tradicional,
numa clara acusação ao candidato petista, que então já
contava com o apoio dos ex-presidentes José Sarney e
O novo visual de Lula na campanha Itamar Franco, sem contar ainda com a estranha apari-
de 2002.
ção de Antonio Carlos Magalhães que, em litígio com o
Nos bastidores da campanha de Lula, o princi- PSDB, declarara apoio a Lula.
pal reforço foi a contratação do publicitário Duda Men-
donça, considerado pelos especialistas um verdadeiro
mago no ramo do marketing político. Lula demonstrava
uma postura diferente da apresentada em outras cam-
panhas eleitorais. Nos programas, passou a aparecer
com ternos bem cortados, barba bem feita, palavras
e gestos mais suaves, evitando ao máximo os ataques
aos adversários e concentrando seus esforços na apre-
sentação de propostas para o desenvolvimento da na-

178
Ao final do primeiro turno, o quadro era este:

Nº Candidato Partido Votos %


13 Lula PT 39.454.692 46.44%

45 Serra PSDB 19.705.061 23.2%

40 Garotinho PSB 15.179.879 17.87%

23 Ciro PPS 10.170.666 11.97%

16 Zé Maria PSTU 402.232 0.47%

29 Rui Guerra PCO 38.619 0.05%


Resultado TRE-SP

Repetindo o sucesso de 2000 nas eleições municipais, o PT conseguiu eleger sua maior bancada. Era a
chamada “onda vermelha”, composta de 91 deputados federais e 10 senadores, o dobro da anterior.
Apesar desse crescimento, no entanto, o PT perdeu o governo de Estados importantes, como o do RS, onde
Tarso Genro foi derrotado; do Distrito Federal, com Geraldo Magela; do Ceará, com José Airton, para Lúcio Alcântara,
do PSDB, apoiado pelo já eleito senador Tasso Jereissati que, assim como FHC, havia permanecido oito anos no
poder, com a menor margem de votos de todo o País.

Nº Candidato Partido Votos %


45 Lúcio Alcântara PSDB 1.765.726 50.04%

13 José Airton PT 1.762.679 49.96%


<eleicoes.uol.com.br>

No início da campanha, havia uma forte disputa dos principais candidatos pelo apoio do PMDB, considerado
fundamental para se alcançar a vitória.
Desde o princípio, as coligações apresentavam incoerências, contradições e, muitas vezes, jogo de interesses
não revelado. No Ceará, o ex-candidato Ciro Gomes apoiou Lula e, em âmbito estadual, Lúcio Alcântara.
Logo que soube da necessidade de um segundo turno, o PT tomou as providências necessárias e saiu a campo
para costurar novas alianças e somar esforços para a campanha. Não foi fácil. Os partidos dos candidatos derrotados
quiseram negociar propostas e posições num eventual governo Lula, que declarou debater ideias, não cargos. No
programa de abertura do horário eleitoral gratuito, após superar divergências internas, Ciro Gomes, do PPS, e Anthony
Garotinho, do PSB, nos limites da coerência política, visto que se propuseram a ser oposição ao modelo em vigor até
então, declararam apoio à Lula.
Lula apresentava um discurso de mudança, mostrando que 76% da população exigia mudanças ao escolher
um candidato de oposição ao atual governo.
Já José Serra, do PSDB, revivia em seus programas suas mais importantes realizações como ministro da Saúde,
ao quebrar em fórum internacional o direito das patentes de remédios usados no tratamento da aids e conseguir
convencer os fabricantes estrangeiros a reduzir os preços. O lançamento bem-sucedido dos remédios genéricos e a
obrigação de as empresas produtoras de cigarro a veicularem mensagens explícitas, alertando os consumidores sobre
as consequências do uso do produto e a publicação nas embalagens de fotos de impacto sobre os males causados
pelo tabagismo.
Durante toda a campanha, Serra procurou convencer a população da necessidade de ser experiente no
exercício do poder sem o que o País estaria ameaçado de total descontrole, do caos generalizado e da perda das
principais conquistas obtidas no governo FHC, como e, principalmente, a estabilidade econômica.

179
A vitória de Lula significava seguir os mesmos destinos da Argentina e da Venezuela, alertava Serra. Alegan-
do que Lula jamais tivera uma experiência administrativa, chegou a comparar o País a um avião Boeing cujo piloto,
sem experiência seria Lula, que levaria certamente o avião a um desastre. Num dos momentos mais polêmicos da
campanha, a atriz Regina Duarte afirmou no horário eleitoral de Serra que tinha medo do governo Lula, reavivando
o temor das campanhas anteriores.

O paulistano José Serra, candidato à presidente da República pelo PSDB, em 2002.

Durante todo o segundo turno, Lula preferiu fazer diversas viagens, fato criticado intensivamente por Serra.
Ele foi a apenas um debate, às vésperas da eleição, ao vivo na TV, Globo, onde foi montada uma arena com eleito-
res indecisos de todo o País. De acordo com as regras, os candidatos não poderiam fazer perguntas diretas um ao
outro. Nesse debate, Lula declarou: “Eu sei que não posso errar, qualquer um pode errar, mas eu não posso errar”.
Às vésperas do encerramento da campanha, Lula reuniu-se com empresários e tentou tranquilizar o mer-
cado, afirmando que as regras seriam claras e que o desenvolvimento do País estaria sempre em primeiro lugar.
Proclamou ainda a necessidade de um pacto social que envolvesse todos na luta contra a fome e a miséria.
Em 27 de outubro de 2002, Lula foi eleito o primeiro presidente operário da República do Brasil.

Nome Candidato Partido Votos % votos válidos


Lula 13 PT 52.793.364 61.3

José Serra 45 PSDB 33.370.739 38.7


<portalbrasil.net>

As frases do presidente eleito foram marcadas pela emoção. No discurso da vitória, Lula repetiu um gesto
de 1969 dizendo: “Que nunca mais ninguém ouse duvidar da força da classe trabalhadora deste País”. Após a
acomodação natural do período eleitoral, chegava a hora de fazer um balanço do resultado e das consequências
das urnas.
Apesar da derrota nas eleições presidenciais, o PSDB conseguiu consolidar vitórias importantes em muitos
Estados: elegeu sete governadores, 72 deputados federais e 11 senadores, garantindo uma situação confortável e
prometendo fazer uma oposição responsável ao governo.

180
Este quadro mostra a composição do Congresso Nacional no primeiro governo Lula.

Governo Lula (2003–2010)

Luiz Inácio Lula da Silva


No dia 1 de janeiro de 2003, Lula tomou posse numa cerimônia histórica em Brasília, marcada pelo estilo
o

personalista do novo presidente. Várias caravanas saíram de todo o País para assistir à posse do presidente, que
havia sido operário e, como tantos outros brasileiros, veio de “baixo”.
O PT sentiu nos primeiros dias do mandato o peso de ser governo. Promessas e ataques outrora feitos ao
governo anterior passaram a ser mais bem dimensionados, como a questão da redução da alíquota do imposto
de renda. Surgiram críticas dos setores mais à esquerda que exigiam mudanças na política e na economia. Lula
optou por seguir o modelo econômico de seu antecessor, começando a inovar na área social, ao criar o programa
denominado Bolsa Família.
Logo após a posse, Lula acabou se indispondo com as Forças Armadas por suspender a licitação de compra
de aviões de combate.
As primeiras medidas do governo voltaram-se para o Projeto Fome Zero, e todos os esforços se concen-

181
trariam em erradicar a fome no País. Foi formada uma ções da missão de paz da ONU no Haiti, desde 2004,
comitiva composta pelo presidente e vários ministros e chamada de Minustah, Missão das Nações Unidas para
secretários de Estado, que visitou algumas áreas críti- a estabilização no Haiti. O Brasil ganhava projeção no
cas, como a periferia de Recife e Teresina, que faziam cenário internacional.
parte do mapeamento do projeto.

Logotipo do programa Fome Zero e cartão do programa Bolsa Família.

A formação da equipe atendeu aos interesses


dos partidos que formavam a base aliada, de acordo
com a força política de cada um. Era o tal pacto pela
governabilidade.
Além dos ministérios tradicionais, foram criadas Soldados brasileiros da missão de paz da ONU no Haiti, a Minustah.
secretarias diretamente subordinadas ao presidente,
com o objetivo de atenderem demandas específicas. O pagamento antecipado de acordos firmados
Mesmo com alguma demora, a indicação da equipe com o FMI provocou dúvidas na população e resultou
econômica e do primeiro escalão do governo acalmou em polêmicas sobre as intenções e benefícios de ação.
a tensão do mercado financeiro que temia por mudan- Lula teria antecipado o pagamento de empréstimos
ças radicais na política econômica. Lula, pelo contrário, contraídos nas gestões passadas, chegando até a apor-
manteve os compromissos de campanha e honrou todos tar recursos no Fundo, tirando o País da condição de de-
os acordos firmados por seu antecessor. Grande prova vedor e colocando-o na condição de credor. O governo
foi a indicação de Henrique Meirelles para a presidência alegava que, pagando esses acordos, o Brasil teria mais
do Banco Central. Meirelles pertencia aos quadros do liberdade para estabelecer suas metas na área econô-
PSDB e tinha grande experiência na área econômica. mica sem se submeter às exigências feitas pelo FMI (es-
Com a confiança restabelecida, aos poucos os indica- pecialmente no superávit primário e na taxa de inflação)
dores econômicos foram melhorando, possibilitando ao em troca dos empréstimos. O problema é que, para mui-
governo reduzir a taxa básica de juros. A cotação do tos, o Brasil tinha zerado a centenária dívida externa, o
dólar cedeu, valorizando o real e reduzindo o risco-país, que não era verdade, e que o governo teria tirado van-
indicador usado no mercado internacional para medir tagem política desse equívoco. Os críticos alegavam que
os riscos de promover investimentos naquele país. esses recursos destinados à antecipação do pagamento
Os maiores desafios do governo Lula foram pro- do crédito com o FMI poderiam ter sido aplicados em
var a viabilidade das propostas sociais concomitante- saúde, habitação, educação, transporte etc. Essa é uma
mente ao desenvolvimento econômico sustentado do
longa discussão que deve ser estudada com atenção,
País, além de promover uma reforma constitucional
mas sem dúvida o pagamento da dívida com o FMI deu
visando a reduzir os deficits do governo sem vender o
ao Brasil liberdade de ação sem ingerências externas na
patrimônio público e sem mexer nos direitos dos traba-
sua política econômica.
lhadores.
Porém, não tardaram a vir as primeiras críticas,
especialmente pela proposta da Reforma da Previdên-
cia, que estabelecia a taxação da cobrança mensal dos
aposentados (inativos) e que até então deixavam de pa-
gar essa contribuição após a aposentadoria.
Em se tratando de política externa, podemos
destacar a atuação do Brasil no comando das opera-

182
Escândalos de corrupção gerava uma renda mínima para milhões de brasileiros.
Assim como em 2002, a disputa foi polarizada
O governo Lula não escapou de escândalos en- entre PT e PSDB, que dessa vez foi representado por Ge-
volvendo alguns de seus membros com denúncias de raldo Alckmin, crítico severo do modelo administrativo
corrupção. A título de exemplo, podemos citar a CPI conduzido pelo PT e dos escândalos de corrupção. Lula,
dos Bingos e dos Correios e outros escândalos. Porém, por sua vez, procurava, através de comparações com o
o maior prejuízo à imagem do governo ficou por conta governo anterior, mostrar os avanços conquistados pelo
do denominado “esquema do mensalão”, que con- seu governo nas mais variadas áreas, destacando sua
sistia, segundo os denunciantes, se bem nunca provado, opção pela defesa do patrimônio nacional em contra-
no pagamento de uma “mesada” aos parlamentares posição ao período em que o PSDB esteve no poder e
em troca de apoio político no Congresso, e na prática procedeu por muitas privatizações.
do chamado caixa 2, isto é, uso de dinheiro não con-
tabilizado em campanha. Segundo o deputado Rober-
to Jefferson, do PTB, autor das denúncias e do nome
“mensalão”, em várias entrevistas, ocorria um esquema
para garantir a aprovação dos projetos do governo nas
casas legislativas, em que parlamentares receberiam di-
nheiro em troca do seu apoio.
O presidente Lula deu declarações afirmando
desconhecer tal esquema e conclamou os diversos ór-
gãos envolvidos na investigação a apurar minuciosa-
Lula com Alckmin, durante um dos debates da campanha de 2006.
mente as denúncias. O “eu não sabia” se tornaria um
mantra de Lula em escândalos futuros.
A CPI do mensalão indiciou vários nomes que Segundo governo Lula (2007–2010)
envolviam desde ex-ministros, parlamentares até diri-
gentes do PT. Por fim, alguns parlamentares, diante de Lula havia prometido que, em caso de vitória
iminente cassação, acabaram renunciando para não e após a consolidação da estabilidade econômica, era
perderem seus direitos políticos. Efetivamente, foram hora do “espetáculo do crescimento”, que resultou
cassados apenas dois: Roberto Jefferson e José Dirceu, na criação de um projeto conhecido como PAC, Pro-
homem forte do governo e Ministro Chefe da Casa Ci- grama de Aceleração de Crescimento. Tratava-se de um
vil.1 conjunto de políticas econômicas comandadas pelo go-
verno federal nas mais variadas áreas e previstas para o
A reeleição de Lula em 2006 quadriênio 2007–2010. O programa seria desenvolvido
em blocos, do qual o principal compreenderia as medi-
Carismático, Lula partiu firme na campanha de das de infraestrutura social – habitação, saneamento e
sua reeleição respaldado no enorme apoio popular que transportes de massa. Os demais blocos incluíam medi-
se refletia nos elevados índices de aceitação de seu das para estimular o crédito e o financiamento, melhoria
mandato. Só não foi consagrado em uma vitória já no do marco regulatório na área ambiental, desoneração
primeiro turno porque seus adversários conseguiram tributária e medidas físicas de longo prazo. O PAC teria
tirar algum proveito dos escândalos de corrupção en- como madrinha a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
volvendo membros do governo. Os críticos de Lula ale- Rousseff. Dessa forma, Lula preparava sua sucessora na
gavam que sua eleição deu-se especialmente pela am- Presidência, que passou a aparecer frequentemente na
inauguração das obras do PAC ao lado do presidente.
pliação do Bolsa Família, programa assistencialista que
Também vale lembrar do programado pré-sal, que pos-
sibilitou a exploração de petróleo em zonas marinhas
1
Posteriormente, em 2013, dezenas de nomes foram julgados e
punidos. Contudo, Roberto Jefferson, por exemplo, já retornou
abaixo da extensa camada de sal, e gerou muitos royal-
ao cenário político. ties para o Brasil.

183
Se, para alguns Lula decepcionou, especialmente
O Governo Dilma Rousseff
na área social, vale lembrar que as propostas sociais
foram a tônica de sua trajetória de mais de 20 anos até (2011-2014)
chegar ao poder. Milhões de pessoas saíram da linha
de pobreza absoluta; houve melhoria na redistribuição As eleições
da renda; o número de empregados cresceu; o gover-
no Lula surpreendeu, ainda, na política externa. Muitos As eleições de 2010 foram marcadas pela pola-
analistas apostavam que um presidente sem diploma rização de dois blocos políticos; o primeiro que defendia
de nível superior, operário, teria sérias dificuldades para a manutenção dos programas sociais estabelecidos pelo
representar os interesses do Brasil no cenário interna- governo Lula e a ampliação dos gastos em crescimento
cional. Pesava contra ele ainda o fato de seu antecessor econômico para futura ampliação dos auxílios sociais; o
ser um homem culto, diplomata e de formação acadê- segundo que acreditava que o governo Lula, apesar de
mica respeitável. Não foi bem assim que aconteceu. Aos ter bons índices de aprovação popular (Lula terminou
poucos, Lula foi ganhando prestígio internacional, inclu- seu mandato com 80% de aprovação), utilizava os pro-
sive na mediação de questões diplomáticas envolvendo gramas de assistência social para ganhar votos, além
a ONU. Chegou inclusive a pleitear a indicação brasileira de estar envolvido com escândalos de corrupção em
para membro permanente do Conselho de Segurança, empresas públicas.
órgão mais importante daquele organismo internacio- Essa polaridade foi personificada por Dilma
nal. Nesse contexto, outra façanha do governo foi con- Rousseff (PT), ministra-chefe da Casa Civil no governo
seguir vencer, enfrentando fortes candidatos, a dispu- Lula, e candidata apoiada pelo então presidente, contra
ta pela realização da Copa do Mundo de Futebol, em José Serra (PSDB), que se candidatava ao cargo pela
2014, e a dos Jogos Olímpicos, em 2016, os maiores e segunda vez. Ainda existiu uma terceira via que tentava
mais importantes eventos esportivos mundiais (os quais, ganhar espaço nesse momento, propondo uma renova-
futuramente, estariam ligados a escândalos de propina ção nas ideias de governo, tendo como representante
e superfaturamento). Marina Silva (PV).
A estabilidade econômica consolidou-se de tal Após um primeiro turno com as seguintes por-
maneira, que o Brasil chegou a ser elevado ao grau de centagens de voto: Dilma (47%); Serra (33%); Marina
investimento pela Standard & Poor’s, agência de clas- (19%), o segundo turno foi uma clara demonstração da
sificação de risco. Razão pela qual a crise mundial de polaridade pró e contra o projeto petista de governo, e,
2008 tenha chegado com relativo atraso ao Brasil. À
devida a enorme força de Lula naquele momento, Dilma
época, sob grande otimismo e euforia, o presidente
Rousseff foi eleita no segundo turno recebendo mais de
afirmou que a crise não passaria de uma “marolinha”
55 milhões de votos (56%), frente aos quase 44 milhões
aos brasileiros. Contudo, vê-se que Lula errou em seu
de votos recebidos por seu opositor José Serra (44%).
prognóstico.
Além do Bolsa Família, programas como Prou-
ni, Programa Universidade para Todos, e Fies, Programa
de Financiamento Estudantil, na área da educação, e
“Minha Casa Minha Vida”, na área da habitação, con-
tribuíram para uma imagem positiva do governo pela
maioria da população, cuja parcela significativa ganhou
promoção e ascensão social.
Mesmo com um novo escândalo de corrupção
envolvendo o uso indevido dos cartões corporativos,
Lula terminou seu segundo governo com uma populari-
dade ainda maior que a do primeiro. Seu último desafio (Serra e Dilma se cumprimentam antes do último
foi eleger sua sucessora, Dilma Rousseff. debate nacional)

184
O Governo envolvendo membros da alta cúpula governamental,
fizeram com que os recursos para as obras ficassem es-
cassos, levando o governo a desacelerar ou, em alguns
Ao assumir a presidência, em 1º de janeiro de
casos, paralisar as obra do PAC 2.
2011, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo má-
Essa crise também apertaria os programas de
ximo do executivo nacional por meio de voto, Dilma
assistência social, marca forte dos governos petistas, e
prometeu continuar com os projetos de crescimento e
que agora estavam ameaçados pelas faltas de recursos
aceleração da economia do seu antecessor e padrinho públicos. Dilma alegou que o Brasil necessitava apenas
político (Lula), além de manter a batalha para erradicar de ajustes e que os programas sociais não sofreriam
a miséria no país. corte, contudo a desconfiança sobre a situação econô-
mica brasileira não passava apenas pelo discurso de
parcimônia da presidente, mas sim pela observação da
sociedade de índices de inflação em alta e um grande
aumento no desemprego.
Em 2013, movimentos estudantis que protesta-
vam contra o aumento das tarifas nos transportes por
todo o país, começam a ser reprimidos com violência
pela Polícia Militar nas grandes cidades, levando ao
(Dilma recebe a faixa presidencial de seu antecessor Lula. Ao aumento dos protestos e a adesão de cada vez mais
seu lado, o vice, Michel Temer)
pessoas. O momento que levou as manifestações a ga-
Porém, logo em seu primeiro ano de governo, a nharem adesão nacional definitiva foram as atuações
construção da usina de Belo Monte, no estado do Pará, da PM contra os manifestantes utilizando balas de bor-
tornou-se alvo de inúmeras críticas de ambientalistas, racha e bombas de gás, mesmo durante manifestações
organizações sociais diversas e até da Organização dos pacíficas. O ápice das manifestações ocorreu em junho,
Estados Americanos (OEA). Também teve que enfrentar quando a adesão de inúmeras pessoas fez com que o
denúncias de corrupção envolvendo membros do seu foco deixasse de ser o aumento das tarifas, mas uma
ministério, o que fazia reviver o fantasma do “mensa- série de pedidos, como mais verbas para a educação e
lão” e gerando desgaste logo no início de seu mandato. saúde, contra a corrupção e contra a PEC 37, conhecida
O resultado foi a troca de sete ministros em seus treze como PEC da Impunidade (que proibiria o Ministério
primeiros meses de governo, além de inúmeros outros Público de fazer investigações). Outra grande caracte-
funcionários do governo afastados de seus cargos. rística dessa mobilização foi a ojeriza a participação de
Em 2012, foi criada uma importante comissão qualquer partido político, demonstrando a falta de con-
encarregada de investigar violações contra os direitos fiança da população nas legendas existentes.
humanos entre os anos de 1964 e 1988. Tal comissão
ficou conhecida nacionalmente como Comissão Na-
cional da Verdade, e era formada por sete pessoas
nomeadas pela presidente, tendo como principal foco
os casos de tortura e desaparecimentos ocorridos du-
rante a Ditadura Militar. O grande senão dessa comis-
são seria o fato dela ter caráter apenas investigativo e
não punitivo, pois os indiciados por supostos crimes na
época não seriam presos pelos seus atos. (Congresso Nacional tomado por manifestantes em junho de 2013)
Economicamente, o governo Dilma ficou mar-
cado pelo segundo Programa de Aceleração de Cres-
cimento (PAC 2), que tinha como objetivo acelerar as
obras de infraestrutura nacionais e manter o Brasil fora
da crise econômica que assolava o mundo. Contudo
a falta de investimentos externos devido ao colapso
global capitalista e os recorrentes escândalos políticos

185
(infográfico expondo os desejos das Manifestações de 2013 e suas consequências)

Tais problemas e o estouro da operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014, a qual
expôs ao país uma série de investigações e denúncias sobre lavagem e desvios de dinheiro público pela Petrobrás,
além do pagamento de propinas a políticos de inúmeros partidos (governistas e oposição) por parte de empreitei-
ras que buscavam vantagens em licitações e concorrências de grandes obras públicas.
Tal cenário levou as eleições de 2014 novamente a uma polaridade entre os apoiadores da manutenção do
governo e os seus críticos, os quais se aproveitavam dos esquemas de corrupção revelados a todo o momento pela
mídia para atacar o governo. Após um primeiro turno marcado por acusações e troca de ofensas, o resultado foi:
Dilma (PT) (41,6%); Aécio Neves (PSDB) (33,5%); Marina Silva (PSB) (21,3). No segundo turno, novas denúncias
e a crise econômica que paralisava o país fizeram com que Aécio Neves tivesse um grande crescimento, levando a
eleição a números extremamente apertados em seu resultado final, com Dilma sendo reeleita com 51,65% dos vo-
tos, contra 48,35% de votos para Aécio Neves. A diferença de votos foi a menor desde a adoção de segundo turno
nas eleições, tendo sido apenas de 3,5 milhões de votos a diferença entre os dois candidatos, o que não representa
muito num país de 200 milhões de habitantes.

(Aécio e Dilma no último debate antes do segundo turno das eleições de 2014)

Dilma teria que começar seu segundo mandato acalmando um país completamente rachado e tendo que
contornar os escândalos das denúncias da Lava Jato.

186
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Economia Brasileira 08 Plano Real 1994-2002


Fonte: Youtube

Vídeo Jornal Nacional. Conversão do Real. 1994

Fonte: Youtube

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 30: Itamar Franco

Fonte: Youtube

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 31: Fernando Henrique Cardoso

Fonte: Youtube

188
ASSISTIR

Vídeo Conhecendo os Presidentes - Ep. 32: Luiz Inácio Lula ...


Fonte: Youtube

Filme Lula, o filho do Brasil

Baseado em fatos reais, o filme conta a trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva,
desde sua infância no interior de Pernambuco até os tempos de militância sindical
em São Paulo, nos anos 1980 e sua prisão durante a ditadura militar, aos 35 anos.

Filme Real, o plano por trás da história

Após uma sequência de planos econômicos que não surtiram efeito, o país é leva-
do à hiperinflação. Uma seleta equipe econômica, protegida em um bunker contra
pressões políticas, mergulha na missão de reformar o Estado e criar o Plano Real.

Filme Tropa de elite 2

Os acontecimentos deste filme ocorrem mais de dez anos após os do primeiro, e


mostram o amadurecimento do então coronel Nascimento, personagem de Wag-
ner Moura, que agora é subsecretário de inteligência na Secretaria de Segurança
pública do Rio de Janeiro.

189
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Carandiru

Um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) se oferece para realizar um trabalho de


prevenção a aids no maior presídio da América latina, o Carandiru. Lá, ele
convive com a realidade dos cárceres, que inclui violência, superlotação das
celas e instalações precárias. Porém, apesar de todos os problemas, o médico
logo percebe que os prisioneiros não são figuras demoníacas, existindo dentro
da prisão solidariedade, organização e uma grande vontade de viver.

Filme Polícia Federal - a lei é para todos

O ano é 2013. Durante a realização da Operação Bidone, a Polícia Federal


apreende, no interior, um caminhão carregado de palmito que trazia escondido
697 kg de cocaína. A investigação recai na equipe montada por Ivan Romano
(Antonio Calloni), sediada em Curitiba e composta também por Beatriz (Flávia
Alessandra), Júlio (Bruce Gomlevsky) e Ítalo (Rainer Cadete). As conexões do
tráfico os levam ao doleiro Alberto Youssef (Roberto Birindelli) e, posteriormente,
ao ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa (Roney Facchini), que revela
uma imensa estrutura envolvendo construtoras e o governo, de forma a desviar
dinheiro público. À medida que a investigação avança, o grupo liderado por Ivan
se aproxima cada vez mais de alguns dos políticos mais influentes do Brasil.

Série O mecanismo

Marco Ruffo (Selton Mello) é um delegado aposentado da Polícia Federal ob-


cecado pelo caso que está investigando. Quando menos espera, ele e sua
aprendiz, Verena Cardoni (Carol Abras), já estão mergulhados em uma das
maiores investigações de desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil. A
proporção é tamanha que o rumo das investigações muda completamente a
vida de todos os envolvidos.

190
ACESSAR

Sites Nova república

20anosdoreal.epocanegocios.globo.com/
acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/da-falta-de-estrutura-fez-se-crise-do-apagao-no-brasil-
-do-inicio-do-seculo-xxi-9396417
fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2014/06/16/conheca-a-historia-da-compra-de-votos-a-
-favor-da-emenda-da-reeleicao/
www.infoescola.com/politica/mensalao/
exame.abril.com.br/brasil/mensalao-x-lava-jato-compare-os-casos-que-chocaram-o-brasil/
bolsa-familia.info/fome-zero.html
prontopassei.com.br/historia-do-enem
www.pac.gov.br
g1.globo.com/brasil/linha-tempo-manifestacoes-2013/platb/
lavajato.mpf.mp.br/entenda-o-caso

LER

Livros
A república cantada: do choro ao funk, a história do Brasil
através da música – André Diniz; Diogo Machado da Cunha
Da queda da monarquia ao governo Dilma, A república cantada retrata a
história do Brasil através de mais de duzentas canções. Do surgimento do
choro ao batidão do funk, suas páginas nos levam a uma bem-humorada
viagem no tempo pela vida musical e política do país. O livro apresenta
personagens marcantes, casos curiosos e refrões inesquecíveis − além de muita informação so-
bre a história da nossa república. Inclui ainda boxes com informações e curiosidades históricas,
cronologia com os principais acontecimentos de cada época apresentada e sugestões de filmes.
A privataria tucana. Coleção História Agora – Amaury Ribeiro Jr.
A privataria tucana nos traz, de maneira chocante e até decepcio-
nante, a dura realidade dos bastidores da política e do empresariado
brasileiro, em conluio para roubar dinheiro público. Faz uma denún-
cia vigorosa do que foi a chamada era das privatizações, instaurada
pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e por seu então minis-
tro do Planejamento, José Serra. Nomes imprevistos, até agora blindados pela aura da
honestidade, surgirão manchados pela imprevista descoberta de seus malfeitos.
191
INTERATIVI
A DADE

LER

Livros
A outra história do mensalão: as contradições de um
julgamento político – Paulo Moreira Leite

Neste livro, o jornalista Paulo Moreira Leite ousa afirmar que o julga-
mento do chamado mensalão foi contraditório, político e injusto, por
ter feito condenações sem provas consistentes e sem obedecer à regra
elementar do Direito, segundo a qual todos são inocentes até que se
prove o contrário. Os acusados estavam condenados − por aquilo que Moreira Leite chama
de opinião publicada, que expressa a visão de quem tem acesso aos meios de comunica-
ção, para distinguir de opinião pública, que pertence a todos − antes do julgamento come-
çar. Naquele que foi o mais midiático julgamento da história brasileira e, possivelmente, do
mundo, os juízes foram vigiados pelo acompanhamento diário, on-line, de todos os seus
atos no tribunal. Na sociedade do espetáculo, os juízes se digladiaram, se agrediram, se
irritaram e até cochilaram aos olhos da multidão, como num reality show.

Operação Satiagraha: os bastidores da maior operação já


feita pela Polícia Federal – Protógenes Queiroz

Chefe do Setor de Inteligência da Polícia Federal, Protógenes Queiroz


comandou durante um ano e meio uma equipe de 26 policiais
naquela que ficou conhecida como a maior operação de todos os
tempos. E pela primeira vez conta em livro a sua experiência em
todos os detalhes: o que aconteceu dentro da base da inteligência,
como foram feitos os grampos, detalhes de diálogos entre investigados, os bastidores da
prisão simultânea dos envolvidos... Tudo é revelado aqui.

Diários da Presidência – Fernando Henrique Cardoso

A articulação política para a formação do governo. O necessário


convívio com o fisiologismo. As intrigas palacianas. Os atritos com
o Congresso. A negociação com os setores retrógrados. A reforma
do Estado. A solidão. Durante seus dois mandatos como presidente
da República (a primeira entrada data de 25 de dezembro de 1994,
quando o presidente eleito, mas não empossado, reflete sobre
a composição do ministério), Fernando Henrique Cardoso manteve o hábito quase
semanal de registrar, num gravador, o dia a dia do poder. Os diários têm a franqueza das
confissões deixadas à posteridade – como de fato era a intenção original do autor. Neles,
transparecem as hesitações do cotidiano, os julgamentos duros de amigos próximos, os
pontos de vista que mudam com os fatos, as afinidades que se criam e as que arrefecem.

192
LER

Livros
A miséria da política – Fernando Henrique Cardoso

Reúne textos escritos por Fernando Henrique Cardoso entre 2010 e


2015. Publicados em jornais de grande circulação ou apresentados
em conferências no país e no exterior, traçam um panorama da “crise
moral” que assombra o Brasil, e apontam direções possíveis para a
reinvenção da política e para o fortalecimento da democracia. Como
José Serra diz na orelha do livro, “Em cada artigo, em cada análise, em cada julgamento
moral, em cada rumo que traça para os que nele se inspiram, Fernando Henrique não
abandona em momento algum a coerência de princípios, o rigor da análise e a referência
ao bem público como objetivo maior. O intelectual, no autor, faz da capacidade analítica
uma barreira contra o ‘realismo’ oportunista; enquanto o político, nele, combate o volun-
tarismo com a força da realidade“.

Lula do Brasil: a história real, do Nordeste ao Planalto –


Richard Bourne

Este livro conta a história completa do homem, do sindicalista e do


político Lula, da infância pobre no Nordeste ao topo da carreira,
quando se tornou um dos mais populares líderes mundiais. Richard
Bourne vai com emoção e poesia às origens de Lula e o acompanha
até sua ascensão como líder de massas, apresentando-o como digno de admiração por
seu pragmatismo, bom humor e desejo sincero de arrancar os brasileiros da mesma po-
breza de onde saiu.

A vida quer é coragem: a trajetória de Dilma Rousseff, a


primeira presidenta do Brasil – Ricardo Batista Amaral

A trajetória pessoal da presidenta Dilma Rousseff e a história do Bra-


sil moderno se entrelaçam numa grande reportagem. Do suicídio de
Getúlio Vargas, quando era criança, ao golpe de 1964, quando se
aproxima das organizações de esquerda. Da clandestinidade, prisão
e tortura na ditadura militar, à luta pela anistia e pela redemocratização. O encontro de
Dilma com Leonel Brizola, na fundação do PDT, e sua aproximação com Lula, durante o
apagão e na campanha eleitoral de 2002. A chefia da Casa Civil, que assume em plena
crise do mensalão, os bastidores da reeleição, a luta contra o câncer e a vitória nas elei-
ções de 2010: uma história de resistência, esperança e coragem.

193
INTERATIVI
A DADE

LER

Livros
A queda de Dilma – Ricardo Westin

Dilma Rousseff perdeu o trono sem conseguir chegar nem à metade


do segundo mandato. A petista foi um ponto fora da curva. O mo-
mento em que os mandatários ostentam mais capital político é justa-
mente o início do governo, quando sobra respaldo popular. No exato
dia em que se reelegeu, em 2014, ela entrou no inferno astral e de lá
não saiu. Uma parte do fracasso do segundo governo Dilma é explicada pela mistura ex-
plosiva de crise política, economia em recessão e ira popular, tudo isso inflamado por reve-
lações diárias a respeito do maior esquema de desvio de dinheiro público já descoberto na
história nacional, desbaratado pela Operação Lava Jato. Outra parte do desmoronamento
do segundo governo Dilma deve ser creditada à investida dos inimigos, que encontraram
nesse ambiente conturbado um solo fértil para plantar o pedido de impeachment, aprová-
-lo e tomar o poder.

OUVIR

Músicas
- Haiti – Caetano Veloso e Gilberto Gil
- A cidade – Chico Science & Nação Zumbi
- Perfeição – Legião Urbana
- Futuro do país – Planet Hemp
- Xote do apagão – Targino Gondim
- Filha da puta – Ultraje a Rigor
- Ah! Se o seu fusca votasse – Juca Chaves
- O topete e a raspadinha – Bloco do Saci
- Luiz Inácio (300 picaretas) – Paralamas do Sucesso
- Xô apagão – Aline Barros
- Nego drama – Racionais MC´s

194
194
INTERDISCIPLINARIDADE

A crise do apagão em 2001, como ficou conhecida a crise de abastecimento energético vivida pelo Brasil
durante o governo FHC, foi, na verdade, o ponto final de um problema crônico de falta de investimento nacional no
setor energético. Tal crise acabou por ocorrer realmente após anos de chuvas abaixo da média, o que afetou a prin-
cipal matriz energética do país, as usinas hidrelétricas. A gravidade da crise de energia foi enorme, sendo necessária
a realização de racionamento e imposição de multas para os “esbanjadores de luz”. Tudo isso ocorreu em 2001 (e
novamente em 2015, em menor escala) devido ao Brasil depender em mais de 75% das usinas hidrelétricas para
a geração de energia elétrica.
A eletricidade que chega até nós é gerada, majoritariamente, em usinas hidrelétricas, sendo que, na verda-
de, ela é resultado de um processo de conversão de energia potencial em energia elétrica. A água que se encontra
represada em grandes barragens armazena energia potencial, ao abrir as comportas da usina, a energia potencial
da água vai sendo convertida em energia cinética, à medida que ela vai escoando pelos dutos. Ao entrar em con-
tato com as turbinas, as mesmas começam a girar, dando origem à força eletromotriz induzida, processo este que
consiste na conversão da energia cinética das turbinas em energia elétrica, pois em razão da força eletromotriz,
será estabelecida uma corrente elétrica entre dois pontos, gerando a eletricidade. A conclusão é que a energia, na
verdade, não é gerada, mas sim transformada.

Esquema reproduzindo a transformação de energia em uma usina hidrelétrica

195
Estrutura Conceitual
NOVA REPÚBLICA
GOVERNOS ITAMAR, FHC, LULA E DILMA

A Governo Itamar Franco


(1992-1994)
Características Economia
§§ Vice de Fernando Collor §§ Ministro da Fazenda (Fernando Henrique Cardoso)
§§ PMDB §§ Plano Real
§§ Crise econômica §§ Empréstimos estrangeiros
§§ Crise política §§ Valorização da moeda (real)
§§ Denúncias de corrupção §§ Controle da inflação
§§ Estabilização econômica Política interna
Política externa §§ CPI do orçamento
§§ Abertura da economia à globalização §§ Aproximação do governo com o PSDB
§§ Criação do Mercosul §§ Eleição de 1994
§§ Principal polarização: Lula
X
FHC
(PT) (PSDB)

B Era FHC
(1994-2002)
Características Economia
§§ Avanço do neoliberalismo §§ Recessão
§§ Estabilidade política §§ Desemprego
§§ Crises sociais §§ Crise na Ásia (1997)
§§ Dois mandatos §§ Acordos com o FMI
Política §§ Privatizações
§§ Base aliada no Congresso (concessão de cargos) §§ Deficit público
§§ Emendas constitucionais §§ Denúncias de corrupção
§§ Quebra de monopólios §§ Lei de responsabilidade fiscal (2000)
§§ Reforma tributária Políticas sociais
§§ Reforma da presidência §§ Quebra na patente de medicamentos
§§ PEC da reeleição §§ Bolsa Escola
§§ CPI sobre corrupção parlamentar (segundo mandato) §§ Indenização a vítimas da ditadura

Eleições de 2002
§§ Aliança do PT com empresários, setores da elite e PMDB
X
Lula José Serra
§§ Projeto de pacto nacional (PT) (PSDB)
§§ Ruptura do PT e formação do PSOL
§§ Segundo turno

196
C Governo Lula
(2003-2010)
Características Políticas sociais
§§ Dois mandatos §§ Programa Fome Zero
§§ Aumento dos programas sociais §§ Bolsa Família
§§ Estabilidade e crescimento econômico §§ Prouni
§§ Ascensão social da população §§ Fies
§§ Diminuição da fome e da pobreza §§ Minha Casa, Minha Vida
Política externa Economia
§§ Comando na ocupação militar do Haiti (2004) §§ Pagamento de acordos econômicos
§§ Pagamento antecipado da dívida com o FMI §§ Confiança do setor financeiro
Política interna §§ Estado como motor da economia – PAC
§§ Aliança com grandes empresas §§ Reforma da previdência
§§ Aliança com PMDB
X
Dilma Rousseff José Serra
§§ Escândalo do Mensalão (PT) (PSDB)
§§ Eleição de 2010
§§ Polarização do segundo turno:

D Governo Dilma
(2011-2016)
§§ Manutenção das políticas sociais
§§ Polêmica na construção da usina de Belo Monte (PA)
§§ Comissão Nacional da Verdade (2012)
§§ PAC 2
§§ Escândalos de corrupção
§§ Mensalão
§§ Operação Lava-Jato
§§ Manifestações de junho de 2013
§§ Eleições de 2014: vitória apertada sobre Aécio Neves (PSDB)
§§ Impeachment (2016)

197

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