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O EMPRESÁRIO

Comédia com Música em Um Ato

Libreto: Stephanie, o Jovem


Música: Wolfgang Amadeus Mozart
Tradução: Menelick de Carvalho
Versão brasileira (músicas): Bel Nobre

PERSONAGENS:
Senhor Escrúpulos, o empresário à moda antiga …………………………………….. (Falado)

Senhor Blefe, seu assistente …………………………………………………………….(Barítono)

Senhor Anjo, um velho patrocinador teatral …………………………………………….(Tenor)

Madame Trinado de Ouro, uma estrela de ópera não tão jovem ………………………..(Soprano)

Senhorita Repique de Prata, uma aspirante a estrela de ópera ………………………….(Soprano)


(O cenário é o escritório do Senhor Escrúpulos em Salzburgo no final do século XVIII.)

Duração: Aproximadamente 55 minutos

1. Abertura (Instrumental
2. Cena 1 (Escrúpulos e Blefe) ……………………………………………………………
3. Cena 2 (Escrúpulos, Blefe e Anjo) ……………………………………………………….
4. Cena 3 (Escrúpulos e Blefe) ……………………………………………………………
5. Cena 4 (Escrúpulos, Blefe e Anjo) ……………………………………………………….
6. Arieta (Madame Trinado de Ouro) ……………………………………………………….
7. Cena 5 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Madame Ouro) ………………………………………
8. Cena 6 (Escrúpulos, Blefe e Anjo) ………………………………………………………
9. Cena 7 (Escrúpulos e Blefe) ………………………………………………………………
10. Cena 8 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Senhorita Prata) ………………………………………
11. Rondó (Senhorita Prata) …………………………………………………………………
12. Cena 9 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Repique de Prata) …………………………………….
13. Cena 10 (Escrúpulos, Blefe, Anjo, Repique de Prata e Madame Ouro) ………………….
14. TRIO (Madame Trinado de Ouro, Senhorita Repique de Prata e Senhor Anjo) …………
15. Cena 11 (Escrúpulos, Blefe, Anjo, Madame Ouro e Senhorita Prata) ……………………
16. Cena 12 (Blefe, Anjo, Madame Ouro e Senhorita Prata) …………………………………
17. FINALE (Madame Ouro, Senhorita Prata, Senhor Anjo e Senhor Blefe) …………………

REALIZAÇÃO:
)

SOBRE A OBR

Mozart compôs esse pequeno singspiel em 1786, sobre um libreto de Stephanie, o Jovem, o
mesmo autor de “O Rapto no Serralho”. A primeira apresentação aconteceu na Orangerie, em
Schönbrunn, durante um entretenimento apresentado pelo Imperador José II para o Governador
Geral dos Países Baixos. A brincadeira espirituosa de Mozart sobre os problemas da vida de um
empresário de ópera dividiu a noite com com uma sátira da ópera italiana de um compositor
contemporâneo, Antonio Salieri, “Prima la Musica, Poi Le Parole” (“Primeiro a Música, Depois as
Palavras”).
No elenco de estréia, estava Stephanie, o Jovem como o Empresário; Joseph Lange, cunhado
de Mozart e retratista, como Blefe; a cunhada de Mozart, Aloysia Lange, como Madame Trinado de
Ouro; e a célebre Catarina Cavalieri, que criou o papel de Konstanze no “Rapto”, como a Senhorita
Repique de Prata.
O libreto assumidamente fraco e disperso tem sido o objeto de repetitivas revisões que
visam fortalecer a frágil moldura sobre a qual Mozart pendurou algumas jóias como a Abertura, o
Trio da disputa e o Vaudeville do final.
Na presente versão, o elenco original de dez personagens (seis dos quais não cantam) foi
reduzido a cinco, eliminando assim as extensas e irrelevantes audições cênicas que não possuem
nenhuma conexão com a música. Isso também levou a uma considerável redução do material
falado.
O pathos jocoso das duas árias de soprano foi mantido, com sua irônica solenidade, uma
hábil reminiscência das heroínas trágicas do compositor. A amarga pirotecnia com a qual as duas
prime donne lutam para se superar é parafraseada do original, e uma nota imponente soa no finale,
um eco fantasmagórico de “Wer so viel Huld vergessen kann” do “Rapto” sublinhado pelo que
aparenta ser um resultado lógico para o dilema do escrupuloso empresário.

ABERTURA (INSTRUMENTAL

(Quando sobe a cortina, nós vemos o escritório ligeiramente esfarrapado do empresário, Senhor
Escrúpulos, que está em sua mesa, olhando pela janela com um olhar distante e desencorajado.
Logo depois de subir a cortina, a porta se abre repentinamente para a passagem do Senhor Blefe, o
assistente entusiasmado, mas um tanto atrapalhado, do Senhor Escrúpulos. Ele está muito
empolgado.)


CENA 1 (Escrúpulos e Blefe)

BLEFE: Até que enfim! Conseguimos! Senhor Escrúpulos, assinaram um contrato, nomeando o

senhor como Empresário, Administrador Geral e Diretor artístico do nosso grande Theatro, na

próxima temporada!

ESCRÚPULOS: Não acredito! Mas, enfim, já é tarde demais! Eu já decidi que vou me aposentar,

me mudar pro interior e virar fazendeiro.

BLEFE: Senhor Escrúpulos! Eu achei que o senhor ficaria tão alegre!

ESCRÚPULOS: Alegre? A minha nomeação foi submetida a tantas delongas intermináveis que

meu dinheiro, meu crédito, meu entusiasmo e minha paciência ficaram completamente exauridos! E

eu já estou cheio de todas as intrigas e ciumeiras que perseguem a vida de um empresário! Já disse e

repito: vou virar fazendeiro!

BLEFE: E eu não sei como o senhor se sente? Eu também tenho todas essas frustrações, mas se o

senhor me deixasse cantar um ou outro papel bom, eu carregaria alegremente todo esse fardo para o

senhor.

ESCRÚPULOS: Meu querido Blefe! Você é um bom amigo, mas nós já discutimos tudo isso antes.

Se eu te deixasse cantar, o público iria querer me matar… e iam matar o senhor também! Além

disso, eu já tenho em mente uma temporada inteira de peças clássicas de teatro, nas quais, graças a

Deus, eu não preciso lidar com cantores!

BLEFE: Mas, Senhor Escrúpulos, não tem para onde fugir! O Secretário da cultura determinou que

essa temporada inteira deve ser dedicada à ópera!

ESCRÚPULOS: Ópera? A Ópera sempre envolve despesas muito extravagantes…


BLEFE: Sr. Escrúpulos, isso até pode ter sido verdade uns trinta anos atrás, mas a ópera de hoje

pode ser produzida com bastante economia! Tem gente que resolve até fazendo vaquinha.

ESCRÚPULOS: E quanto a todos aqueles cantores que a ópera sempre precisa?

BLEFE: Um empresário moderno só precisa de três tipos de cantores! Estrelas decadentes, cujos

cachês encolheram tanto quanto sua potência vocal. O público engole qualquer coisa para ver um

nome famoso...

ESCRÚPULOS: Bem, você só disse um tipo.

BLEFE: Também tem os principiantes, cujas óbvias deficiências serão para o senhor um motivo de

crédito, já que o senhor estará dando uma chance patriótica aos talentos nativos. E eles nem

precisam ser pagos!

ESCRÚPULOS: E eu suponho que o terceiro tipo seja aquele que me pague para trabalhar?

BLEFE: Naturalmente. São aqueles que foram mais abençoados com bens materiais do que com

qualquer tipo de talento…

ESCRÚPULOS: Então, na verdade, os cachês baixos das estrelas decadentes serão pagos pelos

ricos amadores? Os cantores não vão me custar nada?

BLEFE: Ao contrário, Sr. Escrúpulos, eles podem até dar um belo lucro!

ESCRÚPULOS: Meu querido Blefe! E que tipo de ópera pode ser produzido utilizando meios tão

desagradáveis, para não dizer desonestos?

BLEFE: O melhor tipo de ópera! Aquelas verdadeiras obras-primas em que um cantor precisa atuar

mais do que cantar!

ESCRÚPULOS: E os figurinos, o cenário, a luz, as cenas de multidão?


BLEFE: Nada mais simples. Anuncie que o senhor tem a intenção de modernizar a ópera. Para

atingir um estilo de comunicação mais íntima com o espectador, você irá eliminar as cenas de

multidão!

ESCRÚPULOS: Mas que maneira esplêndida de reduzir um espetáculo longo e tedioso!

BLEFE: Para sublinhar os significados ocultos e os conflitos interiores, nós dispensamos o

cenário , e juntamos apenas alguns caixotes e uns andaimes na frente de uns panos pretos. Ou a

gente pode simplesmente botar em cena as coisas que já estiverem no local.

ESCRÚPULOS: Com isso, eliminamos o cenógrafo!

BLEFE: E a maioria dos contra-regras. E para alcançar o máximo do realismo, usamos roupas

contemporâneas. Nada de figurinos! Sem roupas de LED!

ESCRÚPULOS: E nem de coxias!

BLEFE: E para intensificar os climas e atmosferas, usaremos pouquíssima iluminação. O que vai

ser até bom, pra esconder que alguns cantores não tem exatamente o perfil dos personagens… E

além disso, a maioria deles é mais agradável de ouvir do que de ver. E isso ainda vai nos

economizar uma grana na maquiagem e na conta de luz. O que o senhor diz dessas ideias, Sr.

Escrúpulos?

ESCRÚPULOS: Eu digo que elas são profundamente repugnantes frente a tudo o que eu sempre

acreditei e pelo que lutei no teatro. Decididamente, eu prefiro virar um fazendeiro do que tomar

parte nesta degradação total de qualquer princípio de bom-gosto!

BLEFE: Mas, Sr. Escrúpulos… Bom-gosto é uma expressão que só se encontra nos lábios daqueles

que nunca conseguiram adquiri-lo.

ESCRÚPULOS: Você está realmente sugerindo que eu deveria me rebaixar para atingir o sucesso?

BLEFE: E existe outro meio mais certo para isso? Ah, Sr. Escrúpulos, se o senhor soubesse o que o

meu pai precisa fazer para manter o restaurante dele funcionando, o senhor veria que só é possível

colocar caviar e trufas no cardápio, se ele já estiver vendendo bastante salsicha e mortadela!

ESCRÚPULOS: Meu pobre Blefe, não é possível que você acredita em metade do que está

dizendo. Ou se você é realmente o patife que está parecendo, eu te diria para abandonar qualquer

pretensão com o canto - o que, aliás, você deveria fazer de qualquer forma - e assumir a minha

posição, senão até meu próprio nome.

BLEFE: Ah, muito obrigado, Sr. Escrúpulos! Mas eu sou realmente um artista de coração, e eu

sinto que eu seria de maior serventia para o senhor em cima de um palco. O senhor não concorda?

Eu vejo que não.

ESCRÚPULOS: Alegre-se, Blefe, porque não faz a menor diferença o que nenhum de nós pensa.
Não temos dinheiro suficiente nem para imprimir os ingressos, quanto mais para cuidar de toda uma
temporada.

BLEFE: Eu sei que a situação parece difícil, Sr. Escrúpulos, mas tem uma verdadeira fonte de

esperança aí fora. O Senhor Anjo está esperando para ver o senhor já tem uns quinze minutos…

ESCRÚPULOS: O Senhor Anjo? O banqueiro? Aquele que é fascinado por teatro e está sempre

assombrando os camarins das sopranos? O que ele quer?

BLEFE: Eu acho que sei. Ele estava na Secretaria quando a sua licença foi emitida e em seguida,
veio logo te ver. Eu vou pedir para que entre, mas, Sr. Escrúpulos, por favor, não tome nenhuma
decisão precipitada!

(Blefe ignora o gesto de recusa de Escrúpulos e vai até a porta, na qual faz uma profunda reverência
para a entrada do velho e pomposo banqueiro, o Senhor Anjo.)
Cena 2 (Escrúpulos, Blefe e Anjo)

ANJO: Meu querido produtor! O nosso grande Theatro foi realmente abençoada com a escolha de

seu novo diretor artístico! Eu até te invejo um pouco, sabia?


ESCRÚPULOS: Eu não entendo porque, mas te agradeço da mesma maneira.

ANJO: Porque acontece que eu preciso da sua ajuda, e se eu estivesse no seu lugar, eu

simplesmente teria que ajudar a mim mesmo! Ha, ha, ha!

ESCRÚPULOS: Ha, ha, ha! Mas o que eu posso fazer pelo senhor, Sr. Anjo?

ANJO: Bastante coisa, Sr. Escrúpulos, bastante coisa! Entre os homens do mundo, e entre os

homens de negócio, como nós dois, as preliminares são apenas uma perda de tempo. Eu vou direto

ao ponto.

BLEFE: Sr. Escrúpulos, agora o Sr. Anjo vai direto ao ponto. Sem preliminares!

ESCRÚPULOS: Obrigado, Blefe. Prossiga, Sr. Anjo.

(A partir daí, Escrúpulos tenta bravamente, mas em vão, impedir o desejo incontrolável de Blefe de

entrar na conversa.)

ANJO: O senhor provavelmente já deve estar informado de que, por algum tempo, eu mantive um

relacionamento bastante íntimo com uma das jóias mais brilhantes de nossa cena lírica, a Madame

Trinado de Ouro.

ESCRÚPULOS: A grande Madame Trinado de Ouro? Tais cantores não se vê mais hoje em dia.

Eram verdadeiramente magníficos! Eu me lembro de sua estreia em Viena, há uns trinta anos. Ela se

aposentou recentemente, não é mesmo?

ANJO: Sim e não, se o senhor entende o que eu digo. Aqui entre nós, eu esperava que os mimos e

os presentinhos que eu tenho dado a ela a ajudassem a esquecer dos palcos. Mas a Madame sente

falta de toda aquela emoção e está decidida a começar uma série de espetáculos de despedida.

ESCRÚPULOS: Entendo. E ela gostaria de se apresentar em minha Companhia?


ANJO: Sr. Escrúpulos, é um prazer poder conversar com um homem tão perceptivo. O senhor

deveria trabalhar com negócios! Para ser franco, minha vida com a Madame não valeria mais a

pena, se o senhor não a contratasse. Isso também seria um grande negócio para mim, eu lhe garanto.

ESCRÚPULOS: A verdade é… que há problemas… no repertório.

BLEFE: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, Sr. Anjo, é que o repertório no qual Madame Trinado

de Ouro gostaria, naturalmente, de aparecer está além dos recursos da Companhia.

ANJO: Mas eu disse que também seria um grande negócio para mim, e por isso, estou disposto a

fazer um certo investimento nesta Companhia… Estamos falando de uns cinquenta mil! Mas, é

claro, Sr. Escrúpulos, Madame sabe que já deve ter um bom tempo que o senhor não a vê cantar e

que, como as línguas maliciosas nunca ficam ociosas, ela está preparada para audicionar para o

senhor e inclusive está esperando lá embaixo com o motorista. Eu vou chamá-la!

ESCRÚPULOS: Eu temo que…

BLEFE: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, Sr. Anjo, é que esta sala não é acusticamente adequada

para uma artista com a potência vocal excepcional de Madame Trinado de Ouro. Contudo, se

Madame perdoar essa inconveniência, o Sr. Escrúpulos teria prazer em ouvi-la e em renovar sua

preciosa amizade!

(Apressadamente, Blefe leva o Sr. Anjo para fora da sala, antes que Escrúpulos consiga emitir um

protesto efetivo.)

CENA 3 (Escrúpulos e Blefe)

ESCRÚPULOS: Ficou maluco? Nunca na minha vida, eu aceitei dinheiro de um cantor! E eu não

pretendo começar agora.


BLEFE: Por favor, não se aborreça, Sr. Escrúpulos! Eu só quero garantir a sua temporada, pela

qual o senhor se esforçou tanto. Cinquenta mil é um investimento que vai trazer para a sua

temporada a presença de Madame Trinado de Ouro, em apresentações que estarão sempre lotadas,

enchendo o caixa da Companhia! E aí, o senhor vai ter dinheiro suficiente para poder fazer aquilo

que sempre quis… essas produções altamente artísticas de obras-primas desconhecidas que

ninguém vai querer ouvir!

ESCRÚPULOS: Mas e os meus princípios? E os meus ideais? E a minha reputação? Deixe-me ir

embora, morar em uma fazenda, antes que essa senhora entre!

BLEFE: Se o senhor sair agora, vai acabar esbarrando com ela na escada. (ele segura Escrúpulos à

força) Não, Sr. Escrúpulos, o que importa é o propósito para o qual dinheiro vai ser gasto, e não sua

fonte. Até as igrejas, não são construídas com as oferendas dos pecadores?

ESCRÚPULOS: Dos pecadores! Não, cantores! Nem a Igreja se rebaixaria tanto…

(A porta se abre subitamente, permitindo a entrada triunfal de Madame Trinado de Ouro, uma

autêntica prima donna. Ela é seguida por Anjo, que carrega suas coisas. Ela fala com um forte

sotaque eslavo.)

CENA 4 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Madame Ouro)

MME. OURO: Menino malvado! Eu sei que você esteve em Campos do Jordão no último semestre

e nem entrou em contato!

ESCRÚPULOS: Me perdoe, minha querida, mas eu… (beija a mão dela)

ANJO: Meu bombonzinho, não use isso contra nosso bom amigo Escrúpulos, que tem estado

inacreditavelmente ocupado lidando com todos os detalhes para fazer uma linda temporada!
BLEFE: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, Madame, é que ele esteve prestes a lhe fazer uma visita

pelo menos umas cem vezes! Ontem mesmo, ele estava pensando se não conseguiria lhe convencer

a conceder um pouco do seu brilho à nossa temporada...

MM. OURO: Eu tenho certeza! Nós sempre fomos tão bons amigos! E quem é o senhor, se é que

posso saber?

ESCRÚPULOS: Permita-me apresentar o meu assistente e colega: Sr. Blefe, Madame.

MME. OURO: Seu assistente? E colega? Que coisa boa! Tem um olhar tão inteligente…

BLEFE: Ah, muito obrigado, Madame! Será que eu poderia pedir o seu autógrafo?

MME. OURO: Mas é claro! Aqui. Agora, meu querido produtor, eu vou cantar para você. Eu quero

que você escute como a minha voz se desenvolveu no registro mais agudo, mas sem perder nenhum

daqueles tons escuros, lustrosos e redondos, pelos quais o meu registro médio-grave sempre foi tão

conhecido.

ESCRÚPULOS: Eu nunca sonharia em pedir para uma artista da sua reputação para audicionar

para mim, Madame.

MME. OURO: Mas não tem problema algum! Não somos todos profissionais? Eu insisto. Queiram

se sentar, eu prometo que ficarão maravilhados!


CENA 5 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Madame Ouro)

MME. OURO: (após terminar de cantar) Viu, Sr. Escrúpulos? Eu não disse que o senhor ficaria

maravilhado?

ESCRÚPULOS: Madame, estou sem palavras.

ANJO: Como sempre, você foi incomparável, meu amor.

BLEFE: Que voz! Que musicista! Que arte!

MME. OURO: Ah, Sr. Blefe, que gentileza! Eu vejo que o senhor sabe do que está falando! Agora,

Sr. Escrúpulos, o senhor já ouviu o que eu posso fazer. Para contribuir com o seu sucesso em

Salzburgo, eu estou disposta a aceitar todas as protagonistas dramáticas e me contentarei com uma

simples bagatela: 50 mil.

ESCRÚPULOS: Por mês?

MME. OURO: Por récita!

ESCRÚPULOS: 50 mil por apresentação? Madame! As minhas circunstâncias…

BLEFE: (à parte) Por favor, Sr. Escrúpulos! Vai ser com o dinheiro do Sr. Anjo…

ESCRÚPULOS: (à parte) Mas eu não pagaria 50 mil por récitas nem para a Maria Callas!

BLEFE: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, Madame, é que ele não consegue nem sequer imaginar

uma quantia financeira que equivalha a uma arte como a sua.

MME. OURO: Meu querido produtor, a delicadeza dos seus sentimentos compensa a modéstia de

sua oferta. Eu fico feliz em aceitar ser a Prima Donna absoluta da sua distinta Companhia. Você é

uma raposa nos negócios!


ANJO: Sim, sim, é claro! Agora, minha querida, se você puder me esperar lá embaixo, com o

motorista, enquanto eu rapidamente fecho o contrato com o Sr. Escrúpulos… Depois ele e o Sr.

Blefe vão se juntar a nós na comemoração!

BLEFE: É claro, Madame, os artistas não devem ser importunados com detalhes burocráticos

estúpidos.

ESCRÚPULOS: Mas o que há para discutir? Ou para comemorar?

MME. OURO: Esses cavalheiros estão certos, Sr. Escrúpulos. Eu considero essas discussões

financeiras muito prosaicas para minha natureza. Eu espero que o senhor não demore. Então, eu irei

dizer apenas: Au revoir!

(Ela faz uma gloriosa saída pela porta, a qual é mantida aberta obsequiosamente por um curvado

Blefe.)

CENA 6 (Escrúpulos, Blefe e Anjo)

ANJO: Meu querido Escrúpulos, que diferença isto vai fazer na minha vida!

ESCRÚPULOS: E na minha!

ANJO: Você foi tão compreensivo, e tão solícito, que eu me encorajei a pedir um outro favor.

BLEFE: O Sr. Escrúpulos está muito emocionado em poder lhe ser tão útil, Sr. Anjo! O senhor

pode falar livremente… Fale!

ANJO: Obrigado. Vou falar. . Acontece que… juro por minha própria vida, eu não me lembro

exatamente como foi que começou, mas eu tenho uma outra protegida, uma mocinha muito jovem

que ainda não estreou nos palcos, mas que possui as mais exuberantes aptidões.

ESCRÚPULOS: O senhor quer dizer que o senhor está… associado a duas cantoras ao mesmo

tempo? Eu pensava que uma só já seria demais!


BLEFE: Ah, Sr. Escrúpulos, o Sr. Anjo é um verdadeiro patrono das artes!

ANJO: Vamos colocar nesses termos: eu sou tão fascinado pelo passado de Madame Trinado de

Ouro quanto eu sou pelo futuro da Senhorita Repique de Prata!

ESCRÚPULOS: E eu já estou entendendo que as duas vão ter o impacto de uma bomba sobre o

meu presente.

ANJO: Meu querido Escrúpulos, o senhor é uma alma mística e relevante! E agora que o senhor

fortaleceu a minha posição junto à Madame Trinado de Ouro, o senhor me deixaria imensamente

feliz se fizesse o mesmo por mim junto à Senhorita Repique de Prata.

ESCRÚPULOS: E por que o senhor não constrói o seu próprio teatro?

BLEFE: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, Sr. Anjo, é que as despesas têm uma tendência de subir

até a Lua quando um empresário se dispõe a abrigar duas estrelas na mesma Companhia.

ANJO: Sr. Blefe, qual é sua função nessa Companhia? O senhor me parece um mediador nato! Ha

ha ha! Queira perdoar a minha pequena brincadeira! É claro que o senhor tem razão. O mesmo é

verdade nas minhas relações com essas duas damas. Eu entendo isso tão claramente que estou

disposto a pagar adiantado mais cem mil.

BLEFE: Pagar adiantado, Sr. Anjo?

ANJO: Eu quis dizer “doar”. No que mais eu poderia estar pensando?

ESCRÚPULOS: Eu entendi corretamente, Sr. Anjo? O senhor quer dizer que está disposto a pagar

cento e cinquenta mil para garantir a contratação dessas duas senhoras?

ANJO: Precisamente, meu querido Escrúpulos. E o senhor pode ficar com todos os lucros. Os meus

virão em forma de desconto no imposto de renda!


ESCRÚPULOS: Mas certamente devem haver outras condições implícitas nesta oferta

principesca?

ANJO: Meu querido amigo, o senhor me compreendeu mal! Eu só quero ajudar! Eu acredito que o

público quer assistir ópera e que cabe a pessoas como eu fazer com que ele consiga!

BLEFE: Isso! Viu, Sr. Escrúpulos?

ANJO: É claro, eu espero ter uma modesta participação na política interna do teatro.

BLEFE: Isso! Viu, Sr. Escrúpulos?

ANJO: Eu sempre quis ser um empresário e o senhor vai ver que eu sou cheio de ideias esplêndidas
sobre repertório, sobre apresentar óperas com versão na língua local, sobre encenação, produção de
elenco, direção musical, cenário, figurino e marketing cultural.

ESCRÚPULOS: Eu jamais teria imaginado, Sr. Anjo.

ANJO: Os negócios são a minha especialidade. Nós, patrocinadores, temos uma boa ideia sobre

essas coisas, acredite em mim. É claro que eu não tenho tempo para desperdiçar com arte e música,

mas eu entendo de propaganda e do que o povo quer.

ESCRÚPULOS: Nesse caso, obviamente, o senhor sabe muito mais do que eu.

ANJO: Ah, eu não diria isso, meu querido produtor! Mas, voltando à Senhorita Repique de Prata,

ela está esperando lá embaixo com o motorista, e eu gostaria de trazê-la para que o senhor pudesse

julgar se eu tenho ou não um faro para o talento.

ESCRÚPULOS: Ela está sentada ao lado de Madame Trinado de Ouro? Meus parabéns! Ou o

senhor possui um harém ou é um empresário nato que pode ensinar muito a todos nós!

ANJO: Não seja bobo, meu querido amigo, é claro que não. Cada uma delas tem o seu próprio
carro e seu próprio motorista. Agora, o senhor entende porque eu fui tão rápido ao ponto sobre essa
dupla despesa! Eu volto logo.

(Anjo sai, bruscamente. Blefe está encantado e o pobre Escrúpulos está deslumbrado demais com
tudo o que está acontecendo para sequer contestar.)
CENA 7 (Escrúpulos e Blefe)

BLEFE: Sr. Escrúpulos, o senhor deve admitir que nossas perspectivas se tornaram
consideravelmente melhores. Há uma hora, nós não tínhamos dinheiro algum, e agora, nós temos
cento e cinquenta mil adiantados!

ESCRÚPULOS: É verdade, mas isso tudo só faz a minha fazendinha parecer ainda mais atraente…
Todo esse negócio está parecendo cada vez menos com uma Companhia de Ópera e cada vez mais
com…

BLEFE: Calma, calma, Sr. Escrúpulos, não diga isso!

ESCRÚPULOS: Eu suponho que com todo esse entra e sai de dinheiro, você vai acabar pedindo
um aumento… Não que não deva!

BLEFE: Ah, ser o seu braço direito já é o bastante para mim! Até porque tem tantas fontes de
receita que se tornam prontamente acessíveis para alguém em minha posição… Contudo, talvez elas
não sejam, por assim dizer, inteiramente honestas, e eu ficaria relutante em aceitar tais vantagens,
ainda mais se o senhor concordasse em aumentar um pouco os meus recebimentos, me contratando
para alguns papéis disponíveis, quem sabe, por um módico cachê.

ESCRÚPULOS: Meu pobre Blefe! Essa seria a maior fraude de todas! Mas que dupla nós somos!
Você não tem a audácia suficiente para executar todos os seus blefes sozinho, e eu já perdi a
coragem necessária para manter os meus escrúpulos.

(A porta se abre, para admitir o Senhor Anjo e uma moça muito jovem, de uma beleza violenta, a
Senhorita Repique de Prata.)

CENA 8 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Senhorita Prata)

ANJO: Cavalheiros, aqui está a Senhorita Repique de Prata. E eu garanto que a sua voz combina
com toda a sua formosura. O que mais posso dizer?

SRTA. PRATA: Se me permitem, senhores, o Sr. Anjo não exagera no que diz, como os senhores
podem observar claramente, e em breve, poderão ouvir plenamente.

BLEFE: Que presença! Que temperamento! Que corpinho!

ESCRÚPULOS: E que exemplo de modéstia...


CENA 9 (Escrúpulos, Blefe, Anjo e Repique de Prata)

(A Senhorita Repique de Prata conclui sua canção e espera por aplausos entusiasmados. Blefe a
satisfaz.)

ANJO: Brava! Brava! Eu não disse aos senhores? Ela não é uma maravilha?

BLEFE: Maravilhosa! Perfeita! Que olhos! Que lábios! Que…

ANJO: Sr. Blefe! Eu preferiria que o senhor confinasse seu entusiasmo à seara dos aspectos

estritamente profissionais.

BLEFE: Me desculpe, Sr. Anjo, eu me empolguei! Não quis ofender…

ESCRÚPULOS: Eu confesso, Sr. Anjo, que me impressionei favoravelmente. Senhorita Repique


de Prata, apesar da sua falta de experiência prévia, eu estou disposto a lhe oferecer um contrato. Eu
a escalarei para papéis pequenos para começar, pagando… dois mil por récita.

SRTA. PRATA: Dois mil por apresentação! Eu nunca fui tão insultada em toda a minha vida! Um

salário desses pagaria nem a minha camareira!

ESCRÚPULOS: Meus parabéns, Sr. Anjo! Os seus funcionários devem estar muito bem de vida!

SRTA. PRATA: Eu sei o meu valor e me recuso a ser explorada por empresários inescrupulosos. Se

o senhor quiser a minha presença na sua Companhia, o senhor tem que me dar todas as

protagonistas das comédias e me pagar 70 mil por apresentação, além do salário da minha

camareira!

ESCRÚPULOS: Nesse caso, deixe-me…

ANJO: O que o Sr. Escrúpulos quer dizer, minha querida… Meu docinho de coco… (Meu Deus do

céu! Agora, até eu estou fazendo isso !) O que eu quis dizer, meu amor, é que apesar de não ser

muito usual, eu posso tentar persuadir meu bom amigo Escrúpulos a lhe dar todas as protagonistas

das comédias e 70 mil por apresentação, mas eu mesmo me encarrego da camareira…

(Madame Trinado de Ouro entrou a tempo de ouvir isso… e o vulcão entra em erupção!)

CENA 10 (Escrúpulos, Blefe, Anjo, Senhorita Prata e Madame Ouro)

MME. OURO: Ah, você se encarrega da camareira? Ótimo!!! Então, é por isso que eu tive que
esperar lá embaixo, enquanto você colocava essa… essa coisinha pra ganhar um cachê maior do que
o meu???!!!

BLEFE: Madame! Por favor, se recomponha! Na verdade, a situação toda é bastante simples!

ANJO: Sim, minha querida, eu posso explicar tudo! Eu só estava acertando os termos do seu

contrato com o Sr. Escrúpulos, quando essa moça chegou para audicionar para o papel da camareira.

Como ele valoriza a minha opinião, ele me pediu para ficar e avaliá-la. E isso é tudo, não é mesmo,

meu querido Escrúpulos?

ESCRÚPULOS: Sr. Anjo, o senhor sabe se a música é capaz de estimular as galinhas a botar mais

ovos?

ANJO: Mas como, meu querido amigo? Do que o senhor está falando?

ESCRÚPULOS: Os fazendeiros mais modernos parecem concordar que a música tem um efeito

extremamente favorável quanto à produção de leite… por parte das vacas, naturalmente. Então, eu

estava me perguntando se o mesmo não seria verdade quanto às galinhas… Para darem ovos, e não

leite, evidentemente.

MME. OURO: Já que estamos falando sobre galinhas, ninguém me explicou ainda essa história de

70 mil por récita. Estou esperando!

ANJO: Minha querida, mas não é óbvio? Eu apoiei as exigências dessa mocinha apenas para que o

seu cachê pudesse também ser aumentado, na proporção adequada, logicamente!

MME. OURO: Sr. Escrúpulos, eu sempre soube que o senhor entendia de negócios! Mas será

preciso que eu mostre para o senhor que essa jovem amadora não tem experiência, nem técnica e

muito menos talento?

3- TRIO (Madame Trinado de Ouro, Senhorita Repique de Prata e Senhor Anjo)


(O Trio se conclui com Anjo e Blefe tentando afastar Madame Ouro e sua rival, a Senhorita Prata.

Escrúpulos prestou pouquíssima atenção à toda a agitação. Ele está ocupado com seus próprios

pensamentos.)

CENA 11 (Escrúpulos, Blefe, Anjo, Madame Ouro e Senhorita Prata)

ANJO: Bem, Sr. Escrúpulos, o que tem a dizer sobre a forma como eu lidei com a situação?

ESCRÚPULOS: Francamente, Sr. Anjo, eu não prestei muita atenção. A verdade é que toda essa

disputa me deu, na realidade, uma nostalgia incrível da vida no campo…

MME. OURO: Eu mostrei quem é a prima donna dessa companhia! Você viu meu fá staccato, o

meu Mi 5 sustentado?

SRTA. PRATA: Sustentado? Ou seria melhor dizer semitonado? Porque aquilo não era um Mi 5,

com certeza! Eu não sei quem você é ou o que você está fazendo aqui, mas eu sou a protagonista

cômica dessa companhia, e eles estão me pagando 70 mil euros por apresentação!

ANJO: Euros não, gente! Reais, pelo amor de Deus!

MME. OURO: Pois bem, deixa eu te informar que eu sou a protagonista trágica e que eu estou

ganhando bem mais do que você, seja lá quem você for! Eu sou A Madame Trinado de Ouro!

SRTA. PRATA: Eu nunca ouvi falar. Com certeza, deve ser da velha guarda…

(Blefe entra entre as duas, enquanto elas voam uma contra a outra.)

BLEFE: Senhoras! Senhoras! Senhora! Compostura!

ANJO: Por que nós não resolvemos esse pequeno mal-entendido como homens de negócios? Por

que não pagar a essas duas senhoras 100 mil REAIS por récita, lhes conferir status de estrelas e

imprimir seus nomes com uma letra maior do que os nomes dos autores e compositores?

MME. OURO: Maior do que os maestros! E todas as protagonistas trágicas!

SRTA. PRATA: Maior do que os diretores! E todas as protagonistas cômicas!

ANJO: Pronto, isso resolve tudo… E agora, só precisamos assinar o contrato. O que o senhor tem a

dizer sobre meus métodos, meu querido produtor?

ESCRÚPULOS: Eu devo confessar que eles chegam a um certo tipo de resultado… Mas antes de

assinar qualquer contrato, quero fazer um pronunciamento. Eu vou realizar um sonho de muitos

anos recusando a minha posição como empresário desta ou de qualquer outra companhia!

TODOS: Você está brincando?

ESCRÚPULOS: Nem um pouco! Eu vou para minha fazendinha no interior, onde não irei produzir

nada, além de uma série de tranquilos poemas pastoris…

TODOS: Não! Você vai nos abandonar? Nos deixar desamparados?

ESCRÚPULOS: De forma alguma! Eu gostaria de indicar meu confiável colega de tantos anos, o

Sr. Blefe, como meu sucessor.

BLEFE: Sr. Escrúpulos, eu estou profundamente agradecido pela sua confiança, mas tudo isso me

convenceu de que eu serei mais feliz sobre o palco do que eu jamais conseguiria ser num escritório

administrativo... ao menos até ter me aposentado como cantor.

ESCRÚPULOS: Eu tinha medo disso…

BLEFE: Então, minha primeira ação como empresário é contratar a mim mesmo como o barítono-

bufo protagonista da nova temporada, com o mesmo cachê simbólico dessas senhoras. E minha

última ação é indicar o Sr. Anjo como o novo empresário, com início imediato!

ESCRÚPULOS: Eu sabia que não estava errado em confiar em você! Bravo!


ANJO: É claro que tudo isso me pegou de surpresa… Mas para um homem de negócios, a ópera

certamente não será um grande problema. Assim que eu tiver organizado a companhia como uma

empresa, não será algo difícil de gerir em meu tempo livre.

SRTA. PRATA: Sr. Escrúpulos, nós iremos sentir falta da sua vasta experiência.

ESCRÚPULOS: Srta. Repique de Prata, a senhorita é a prova viva de que experiência é algo

supérfluo nesse negócio!

SRTA. PRATA: Ah, muito obrigada!

MME. OURO: E o que será da arte e da música quando os homens como o senhor tiverem partido?

A ópera precisa de você, Sr. Escrúpulos!

ESCRÚPULOS: Não se preocupe com a arte e a música, Madame. Elas resistem há séculos...

geralmente apesar e não por causa dos indivíduos. A ópera terá, como sempre teve, bons e maus

empresários. Charlatões não conseguem acabar com a Medicina, assim como falsos profetas não

impedem a existência da Religião. A Ópera, Madame, ocasionalmente perderá algumas batalhas,

mas certamente vencerá a guerra da sobrevivência. E assim, meus amigos, eu lhes desejo um bom

dia e todo o sucesso que vocês fizeram por merecer!

(Escrúpulos sai com uma reverência, no mais completo silêncio.)

CENA 12 (Blefe, Anjo, Madame Ouro e Senhorita Prata)

ANJO: Hmmm… Hmmm… Meus queridos colegas, vamos lutar para manter os altos padrões aos

quais o meu distinto antecessor dedicou sua vida!

BLEFE: Escutem! Escutem!

ANJO: Contudo, deste momento em diante, eu não irei tolerar nenhuma infração à mais rigorosa

disciplina profissional. Ninguém levou a sério as ameaças de aposentadoria do Sr. Escrúpulos, mas

deixem eu pontuar que, caso eu me aposente, o meu financiamento irá embora junto comigo, e o

que seria de vocês, então?

BLEFE: Sr. Produtor Geral, permita-me ser o primeiro a lhe assegurar o meu comprometimento do

fundo do coração. Eu ficarei satisfeito com quaisquer papéis que o senhor me oferecer, e tenho

certeza que o senhor perceberá o meu grande valor também como assistente.

SRTA. PRATA: Sr. Anjo, eu penso como o Sr. Blefe. Eu estou preparada para aceitar os papéis

menores que talvez combinem melhor com a minha inexperiência. Obviamente, sem abrir mão do

faturamento previamente combinado!

MME. OURO: Eu acredito que ninguém me faria sair de casa para cantar um papel pequeno.

Contudo, eu estou disposta a me limitar a duas aparições de despedida este ano. Naturalmente, com

100 mil por récita, e um status de estrela durante toda a temporada.

ANJO: É verdadeiramente inspirador, como tratar a arte como um simples negócio harmoniza

mesmo os piores conflitos.

BLEFE: Vamos brindar ao homem indispensável: ao empresário, quem quer que ele seja!

MME. OURO: No passado!

ANJO: No presente!

SRTA. PRATA: E no futuro!

BLEFE: Ao empresário!

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