Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
VPN; SSRN
12.10.2021
O Fundo de Garantia de Depósitos garante que não sendo o crédito superior a 25.000
mil não corremos o risco (ou corremos, não com a instituição bancária, mas com o
FGD).
Câmara de compensação – os bancos, ao fim de cada dia, acertam contas (em virtude
de uma transferência bancária de X para Y).
1
Cartão de crédito – Sou devedora do Banco: fico em dívida com o montante
que usei ao Banco. Vantagem: não tem juros para o particular: quem paga é o
comercial. Se eu pagar 80 euros ao comerciante, este recebe 80 euros menos a comissão ao
banco. Não obstante, se não pagar o devido, até data limite, pagarei juros.
Cartão de débito – todos os movimentos que se fazem têm de estar cobertos.
Liquidez dos bancos – aquilo que receberam e investiram. Os bancos são obrigados a
depositar aquilo que recebem a mais – há excesso de liquidez – ao BCE (banco central
europeu), cobrando 0,4 por cento. Mas escolhem se financiam ou não, e em que
condições (avaliam o risco).
Funções banco:
Fazer pagamentos
Emprestar
Fiscalizar a execução dos projetos empresariais
estão cá (e não há pagamento de juros, nem há que reembolsar) – mercado primário IPO
(oferta pública inicial).
Quem corre o risco é diretamente o investidor.
São remunerados através de dividendos, ou através da mais-valia da ação.
2
o O que é a inflação
A liquidez no MC, significa que eu consigo vender um ativo num período curto de
tempo sem que a minha necessidade de render afete o preço.
Marcers makers
---
Os bancos, pelo regime legal, diminuíram o financiamento. Tem de haver ratio entre o
capital próprio dos bancos e o volume dos seus empréstimos.
Critério de majoração
19.10.2021
Regulação e Supervisão
Modalidades de Supervisão
Arquitetura regulatória do sistema financeiro europeu
A união bancária
Objetivos da Supervisão
Estratégias da regulação
Funções de um Banco
3
II O sistema de regulação e de supervisão
Bancos:
1. Existe para facilitar as trocar, serve como meio de pagamento, através de:
i. Esta função não existe no mercado de capitais
b. Cheque (emito um titulo de crédito sobre uma conta)
c. Sistema de pagamentos (quando eu utilizo um cartão de crédito, estou a servir-
me de um banco como sistema de pagamento)
2. Canalização de aforro para investimento (função não só dos bancos, mas também no
mercado de capitais (na bolsa)
a. Diferença do mercado de capitais para os bancos: nos bancos tenho de restituir
e pagar os juros. No mercado de capitais e recebo diretamente dos aforrados os
seus euros, porque eles vão subscrever ações, tornando-se meus acionistas
(correm o risco), mas não tenho de restituir como no banco.
3. Avaliação dos projetos (função que advém dos 2.)
a. Conceder empréstimos a quem melhor apresenta um projeto
4. Função de monitorização dos projetos que estão em curso
5. Função de gestão do risco
a. Os bancos gerem risco porque estes agregam risco
Importância da informação nos sistemas financeiros. Muito diferente na banca e nos mercados
de capitais. Neste último, necessita-se uma informação transparente, completa, verdadeira. A
função do regulador é garantir que o mercado sabe tudo o que devia saber, tempestivamente, e
de forma transparente. No banco, não é assim. Este precisa de muita informação, mas não é
transparente na informação que transmite, não explica a quem empresta dinheiro, nem em que
condições (o sigilo bancário proíbe).
4
As perspetivas do direito financeiro
1. Os agentes de mercado
2. O mercado e seu funcionamento
3. Negócios que o Banco celebra com os particulares
Regulação e Supervisão
Sistema twinspix???
Modalidades de Supervisão
5
3. Macro supervisão – surgiu com a crise financeira de 2007/2008 porque se
percebeu que há aqui 2 visões: de cada banco, individualmente, e o conjunto de
banco. Havendo 2 bancos, estamos perante um risco sistémico.
4. Micro supervisão – supervizionar cada banco, individualmente.
Entidades do sistema:
Entende-se que não é viável fazer-se boa e eficaz supervisão e regulação sem o
sistema europeu estiver de acordo com o nacional. Havendo diferentes regulações
podemos estar a criar risco acrescido.
A união bancária
3 pilares:
6
O sistema assenta numa divisão entre entidades mais
significativas e menos significativas – dimensão absoluta e
dimensão relativa.
Caixa, novo banco, Santander – supervisão do BCE
Os bancos menos significativos são da supervisão
nacionais (sem prejuízo do BCE ter influência)
2. Mecanismo único de Resolução (MUR) – os mecanismos de resolução são
as mesmas para todos.
a. Regulamento (UE) n.º 1024/2013 do Conselho de 15 de outubro de 2013
– confere ao BCE atribuições especificas no que diz respeito às politicas
relativas à supervisão prudencial das instituições de crédito
i. BCE – cabeça do sistema de regulação
ii. Autoridades nacionais dos Estados Membros
A sua articulação faz-se com base no Regulamento (UE) n.º 468/2014
3. Sistema Comum de Garantia de Depósitos – nós temos um FGD mas
ainda não temos um sistema comum de garantia de depósitos. Neste
momento, cada estado garante o sistema do respetivo estado.
Objetivos da Supervisão
7
Quando foi o mercado foi desregulado, houve uma enorme
liquidez.
A. Haver uma informação, tempestiva, perfeita, dos agentes que estão a atuar.
No mercado de capitais, se comprar uma ação da EDP, saber tudo o que engloba a ação da
EDP, como todas as ações que estão no mercado.
a. Nem sempre é observável o seu mau funcionamento – falha de
mercado. O mercado, está de facto, a funcionar mal, mas o agente
não consegue compreender
i. Acontece quando há uma assimetria de informação – no
mercado haver sujeitos, e em regra, tipicamente, um comprador e um
vendedor, que não têm a mesma informação, não têm posse da
mesma. Tipicamente, o vendedor sabe mais do que o comprador.
1. Tem uma consequência: o chamado lemon effect – p.
ex. quando um automóvel sai do stand vale menos – mas é o
mesmo carro -> vale menos pela assimetria de informação.
Quando vendem o carro não sabem se o carro teve um acidente,
Diferentes bens:
8
do consumidor. Como os produtos são produtos de crença assentam na
confiança do consumidor.
Os diversos fins/ objetivos podem entrar em conflito entre si… para se ter um hoje um
sistema de prevenção, é preciso ter sistema diplomático (custam milhões de euros). Este
sistema avalia sistema de operações. O custo é igual tanto em bancos pequenos do que
os maiores. A regulação impõe custos de funcionamento que não são proporcionais à
dimensão. São proporcionalmente maiores para os mais pequenos. A regulação favorece
os maiores, e prejudica os mais pequenos -> a regulação é um fator que influencia a
concorrência. O problema de termos entidades demasiado grandes que não insuscetíveis
de resgate.
9
Estratégias da regulação
1. Ex ante:
a. Regulação/ supervisão da entrada
b. Regulação/ supervisão da conduta
c. Regulação/ supervisão da informação
d. Regulação/ supervisão da prudencial
e. Regulação/ supervisão da governance (supervisão dos administradores, etc.)
2. Ex post:
a. Garantias – o supervisor exige garantias (reforço de capital, programa interno
para resolução de problemas, etc.)
b. Resolução bancária
Funções de um Banco
1. Transformação de liquidez
a. Os ativos dos bancos (os créditos do banco – o investimento dos bancos)
não são líquidos, mas proporcionam liquidez. O passivo do banco é a
liquidez. Apesar dos bancos terem um ativo que não é liquidez, eles
proporcionam liquidez.
b. Fractional reserve banking -> confiança: permite que os bancos façam
empréstimos ou investimentos em valor muito superior ao valor dos
depósitos sob sua guarda, desde que mantenham como reserva uma
determinada fração do valor desses depósitos. A reserva fracionária é,
portanto, um valor correspondente à determinada fração dos depósitos
bancários que, por lei, o banco é obrigado a manter, em dinheiro ou na
forma de ativos facilmente liquidáveis. Tal reserva é mantida no próprio
banco ou depositada no banco central.
c. Com esta criação, o banco também cria moeda: a moeda bancária ou
moeda escritural (moeda escritural é o basicamente o banco, usado como
pagamento, mas não fisicamente, apenas a sua representação), através de:
i. Concessão de crédito
10
ii. Pagamentos: LGT – artigo 40.º, n. º1 (os impostos podem ser
pagos com moeda escritural); artigo 63.º-C e 63.º-E (proibição de
pagamentos em numerário +3000€ ou + 1000€)
2. Transformação de maturidade
a. Ativos de longo prazo – os créditos que o banco tem são de longo prazo
b. Ativos de curto prazo
c. A essencialidade confiança: os bancos dependem da confiança dos
depositantes
d. Transformam o curto prazo em longo prazo
3. Transformação de crédito
a. Através da diversificação – os bancos transformam o crédito por causa
da diversificação que fazem. Recebem um montante em depósito e estes,
na medida em que dão tudo o que têm, têm o seu risco concentrado. O
banco pega nos depósitos que tem e diversifica o risco, atribuindo
empréstimos a diversas pessoas.
02.11.2021
III.1 Introdução
11
III.2. Diversidade (especialidade) das operações financeiras da Banca:
A) autonomia privada
a liberdade de não celebrar contrato (mas, atenção, sistema de acesso a serviços mínimos,
DL n.º 27-C/2000, de 10.03.2000); a liberdade de celebrar o contrato (mas também limites:
por exemplo no crédito à habitação, o mutuante tem o dever de não celebrar o contrato se
avaliação de solvabilidade - art. 16º, nº 2, DL 74-A/2017, de 23.06.2017)
liberdade de definir o conteúdo de contratos típicos, mas também a liberdade de celebrar
contratos atípicos ou inominados [mas excepções: por exemplo, no crédito à habitação
dever de apresentar sistema de prestações constantes, art. 7º, nº 2, DL 349/98]. Porém, os
contratos atípicos e os conteúdos atípicos de contratos podem ser levados à “categoria de
produtos financeiros complexos” (vide art. 2º do DL nº 211-A/2008), sobre que recaem
especiais limites. Isto é: o espaço de maior liberdade é um espaço de maior exigência para
a IC.
C) liberdade de forma
Pode dizer-se que, na sua origem, ao direito bancário se associava uma tendencial maior
liberdade de forma.
Exemplo 1, o mútuo:
(i) o mútuo civil, formal (art. 1143º CCiv): (+2500€) doc particular autenticado ou (+25.000€)
escritura pública;
(ii) Mútuo comercial (empréstimo): entre comerciantes qualquer meio de prova (art. 396º
CC0m);
(iii) Mútuo bancário (com comerciantes ou não comerciantes): escrito particular (artigo
único DL nº 32.765, de 29.04.1943)
Exemplo 2: o penhor
(ii) Comercial: entrega pode ser meramente simbólica (art 398º CCom)
12
um meio de prova de que cumpriu o dever de informar, uma vez que o ónus será seu [a
frequente inversão de ónus da prova: vide art. 36º DL 74-A/2017]: vide art. 77º, nº 2
(“informações adequadas em papel ou noutro suporte duradouro”), nº 5 (“os contratos
celebrados entre as ICs e os seus clientes devem conter toda a informação necessária e ser
redigidos de forma clara e concisa”), nº 6 (“…regras imperativas sobre o conteúdo dos
contratos…”). Dúvidas, portanto, acerca da alegada liberdade de forma, num certo sentido.
Vide ainda, por exemplo: DL nº 51/2007; ver sobretudo DL n.º 74-A/2017, de 23.06.2017,
sobre contratos de crédito com consumidores para imóveis destinados à habitação: v. limite
à liberdade de duração da proposta contratual (no mínimo 30 dias: art. 13º, nº 5), proibição
de aceitação imediata, para salvaguarda de período de reflexão ao consumidor (art. 13º, nº
5); não só existe dever de formalizar a informação, como existe o dever de formalizar
destacadamente parte da informação (art. 13º, nº 9).
III.4. Das cláusulas contratuais gerais aos contratos de adesão; da banca presencial à banca
electrónica
O âmbito subjetivo e material: não se cinge a consumidores (versus Diretiva 93/13/CE), mas
importa notar que o regime é diferenciado (v. arts. 20º ss.); não exclui relações bancárias
(versus Alemanha e Itália);
Os remédios:
13
(i) O dever de comunicação e de informação (arts. 5º e 6º), em nome da tutela da
transparência e da publicidade; as consequências da violação do dever (invalidade parcial,
redução como faculdade do aderente, embora com limites; mas nulidade arts. 8º [das
cláusulas-surpresa] e 9º, 13º e 14º);
(ii) As regras de interpretação (art. 10º e 11º); o princípio do tratamento mais favorável ao
aderente;
As teorias do (i) contrato bancário geral; (ii) da relação de confiança (“relação obrigacional
legal sem deveres de prestação primários”); as implicações destas visões; a proeminência
do contrato bancário geral.
Bibliografia geral:
Cordeiro, António Menezes, Direito Bancário, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2016,
Vasconcelos, L. Miguel Pestana de, Direito Bancário, 3ª ed., Almedina, Coimbra, 2021,
14
essencialmente com depósitos dos clientes e os consequentes
empréstimos.
b. Quanto maior é a diferença entre capitais próprios do banco e o dinheiro
Core tiere que efetivamente empresta, maior é o risco. É necessário uma adequação
do capital – os bancos têm de ter capitais próprios (core tiere) e os
Core tiere 2
instrumentos financeiros (bastante estáveis (core tier 2).
c. Considerando a individualidade de cada banco, são as exigências do
banco.
d. Quando o banco tem o crédito concentrado há + risco
e. Risco reputacional – fuga de clientes
15
b. Imparidade - redução do valor recuperável de ativos. As imparidades
são calculadas ao longo da linha de crédito
i. Diz-se que há imparidades quando o valor real de um ativo da
empresa é menor do que o valor que está registado na respetiva
contabilidade. Em resposta a essa diminuição do valor real,
devem ser registadas, na contabilidade, perdas por imparidade.
ii. O que são perdas por imparidade?
1. Quando um ativo perde valor, mas continua registado na
contabilidade com o valor que tinha antes dessa perda, a
contabilidade não espelha o verdadeiro valor da empresa.
Nessas situações, é necessário corrigir o valor do ativo na
contabilidade, reduzindo-o. As perdas por imparidade
consistem na redução do valor contabilístico de um ativo,
de modo a evidenciar uma perda, potencial ou efetiva, de
parte ou da totalidade do seu valor real.
iii. O que provoca imparidades e perdas por imparidade?
1. As imparidades e, consequentemente, as perdas por
imparidade, são provocadas por eventos internos ou
externos à empresa, que indiciam que determinado ativo
já perdeu ou irá perder o seu valor.
iv. Exemplos de imparidades
1. As perdas por imparidade podem incidir sobre dívidas a
receber, inventários, investimentos financeiros,
propriedades de investimento, ativos fixos tangíveis,
ativos intangíveis, investimentos em curso e ativos não
correntes detidos para venda.
v. Que perdas por imparidade são fiscalmente dedutíveis?
1. Mesmo quando previstas na contabilidade da empresa,
nem todas as perdas por imparidade são dedutíveis em
sede de IRC. Isto não significa que devam ser registadas
na contabilidade apenas as perdas por imparidade
fiscalmente aceites. Devem ser registadas todas as
imparidades, mesmo que não venham a ser dedutíveis.
16
Nos artigos 28.º e seguintes do Código do IRC estão
elencadas as imparidades que são fiscalmente dedutíveis.
17
verdadeiros contratos: eles assumiriam a natureza de simples instruções
dadas pelo cliente, ao abrigo do contrato geral. Em versões mais modernas,
o contrato geral bancário, para além dos deveres apontados ao banqueiro,
apenas daria lugar a um quadro no qual se iriam, depois, concretizar os
diversos contratos singulares.
A relação banco/”cliente”
Embora possa afigurar-se estranho, não está regulado, nem legalmente previsto,
um contrato que corresponda à relação geral do banco com o seu cliente.
O RGIC tem uma vocação de “disciplinador” da atividade bancaria e centra-se
nas instituições e na relação destas com o regulador/supervisor.
Poucas normas respeitantes à relação banco/cliente: artigos 74.º, 75.º e sobretudo
artigos 77.º e ss.
Não existe duvida de que o banco celebra contratos (de diferentes tipos e
natureza) com os seus clientes!
A questão é se existe, para lá desses (múltiplos) contratos, uma “relação
bancária” e se sim, então qual a sua natureza. Respostas:
o A relação bancária existe e tem natureza contratual. (1)
o A relação bancária não é (ou pode não ser) um contrato (pode haver
relação bancária sem contrato). Há relação bancária, mas pode não ser
um contrato. (2)
A perspetiva contratual (1): entre os autores que entendem que a relação bancaria tem
(sempre) natureza contratual, há diferentes posições:
18
Apresentação da dogmática geral do contrato-quadro:
19
É um contrato sem deveres primários de prestação: este gera obrigações,
mas apenas gera deveres acessórios – não respeita às obrigações
principais.
20
o O universo objetivo (estão abrangidas apenas informações
que derivam “exclusivamente do exercício das suas
funções…”) (vs. dever contratual de segredo
o O universo objetivo (estão abrangidas tanto informações
respeitantes à “relação com os clientes”, onde se incluem
também informações sobre os clientes, como “à vida da
instituição”).
o O universo objetivo (o elenco do artigo 78.º, n.º 2 é
exemplificativo)
o As informações relativas ao cliente podem ser sempre
reveladas a terceiros mediante autorização do cliente (artigo
79.º, n.º 1 RGIC)
o Quanto às informações “respeitantes à vida da instituição”,
parece que compete a esta decidir o levantamento do segredo.
o E podem (sem consentimento) ser reveladas a determinadas
entidades (elenco taxativo: BdP, CMVM, FGD, autoridades
judiciarias, AT, mas tem de se acrescentar ao elenco a ordem
judicial, mesmo foram do processo penal (?))
Do CGB não deriva para o banco um dever geral de contratar, mas um dever de
celebrar negócios neutros negócios sem risco especifico (fundamento: boa fé). Há
quem entenda que exista um dever de igualdade de tratamento nas operações neutras.
21
O banco só pode recusar a celebração destes negócios com fundamento
especifico.
O banco é livre de não querer o serviço, mas nesse caso tem de cessar a relação
(respeitando o aviso prévio, porque é um contrato duradouro).
Também emergem (do contrato geral) deveres pós contratuais para o banco?
Nota prévia, o cliente não tem o dever de celebrar contrato, nem de, celebrando,
o fazer com o banco – ou seja, em regra, não há um dever de exclusividade. Contudo
existem certos deveres:
A relação bancária não é (ou pode não ser) um contrato (pode haver relação
bancária sem contrato). Há relação bancária, mas pode não ser um contrato: (2)
1
Cliente pode recusar prestar algum tipo de informações; contudo, se prestar informações, tem o dever de
prestar informações verdadeiras
22
A construção da relação bancária geral era frágil. Impunha-se a questão
fulcral de saber se o contrato bancário geral preenchia os requisitos de um
verdadeiro contrato. Também aqui a resposta era negativa. Salvo ficção, em
nenhum momento do percurso bancário seria possível apontar uma vontade
das partes – ou de alguma delas – a tanto dirigida. O contrato bancário geral
entrou, assim, em desgraça, vindo a ser criticado pela doutrina.
23
a congeminação de especificas obrigações legais. O Professor já removeu
esta posição.
Uma relação obrigacional corresponde a uma ligação social entre duas
pessoas e que assume relevo jurídico. A figura mais comum de obrigação,
da qual historicamente veio a decorrer todo o edifício subsequente, é,
efetivamente, a do vínculo pelo qual uma pessoa deve efetuar, a outra, uma
prestação: tal a noção do art. 397º CC.
Pode, porém, surgir relações obrigacionais que não tenham esse conteúdo:
antes se limitem a juridificar uma ligação na qual os intervenientes devam
trocam informações, abstendo-se de deslealdades e, sendo o caso,
assegurando uma mútua segurança.
Assim, o Professor admite, que a relação bancária complexa possa,
efetivamente, analisar-se numa relação obrigacional sem dever de prestar
principal. Simplesmente: (i) isso não nos diz que não tenha base contratual;
(ii) enquanto a ausência de dever de prestar principal teria, sempre, de ser
estabelecida perante o seu regime.
Todos esses deveres surgem num conjunto que tem uma unidade económica
e social e evidente: há uma relação bancária contínua, suscetível de ser
preenchida com os mais diversos negócios. Entre nós, há que reconhecer,
ainda que não seja percetível, uma unidade da relação bancária.
24
Os autores alemães da época recusavam a teoria do contrato bancário geral
com base nos seguintes argumentos:
O mérito recaiu sobre OTTO VON GIERKE. Este autor chama a atenção
para o seguinte fenómeno: nas obrigações instantâneas, o cumprimento
surge como causa de extinção; nas duradouras, o cumprimento processa-se
em termos constantes, não as extinguindo. As obrigações duradouras
implicariam, designadamente, abstenções; mas poderiam redundar, também
em prestações positivas. Um dos aspetos significativos das regras próprias
das obrigações duradouras estaria nas formas da sua cessação, VON
GIERKE distingue:
25
(ii) a indeterminação inicial, podendo, então, sobrevir a denúncia, prevista
na lei ou no contrato; a denúncia poderia operar com um prazo (pré-aviso)
ou ser de efeitos imediatos;
26
Põe-se o problema de saber o que sucede perante obrigações duradouras de
duração indeterminada, quando as partes nada tenham dito sobre a denúncia
e quando elas não possam ser reconhecidas a nenhum tipo contratual que
preveja essa figura.
27
das circunstâncias. Fecha-se o circulo: no limite, a existência de relações
perpétuas poderá, in concreto, defrontar os valores fundamentais do
ordenamento, veiculados pela ideia de boa-fé. O Direito português,
justamente através do instituto da alteração das circunstâncias, tem meios
para intervir.
09.11.2021
Bibliografia
28
CORDEIRO, ANTÓNIO MENEZES, "Sigilo bancário: fica a saudade?", in Cadernos O Direito
n.º 8 - Temas De Direito Bancário I, Almedina, Coimbra, 2014, pp. 11-58
O direito bancário material está relacionado com os negócios que os bancos celebram.
Negócios de créditos, de financiamento. Há quem indiferencie estes 2 negócios. Não
diferenciando: é de crédito quando resulta para o banco uma posição de credor. Quando
empresta dinheiro, o banco fica na posição de credor. De financiamento, facilita ao
cliente, o acesso ao credito, mas o banco não se torna credor. Isto acontece quando
empresta uma garantia de crédito
29
1. Os bancos são, por natureza, empresas extremamente alavancadas: a
atividade que ela exerce é financiada, essencialmente, por crédito de
terceiros. Não ser alavancada significa que é financiada por capitais
próprios. Quanto é a alavancagem maior é o risco. Constatou-se que os
bancos que a rácio de capitais próprios dos bancos é muito inferior ao
crédito proveniente de terceiros. Isto tem um problema de governance, que é
estrutural: o risco associado. Quando gerimos capital próprio há aversão ao
risco: todos nós preferimos uma coisa certa a uma coisa incerta, dependendo
prémio de risco: há uma linha exponencial. Esta curva não existe quando
gerimos capitais alheios. Neste caso, a situação quase se inverte, ou é pelo
menos é proporcional: se tenho uma taxa de lucro de 2%, se conseguir que o
banco empreste 10 milhões em vez de 10 mil, vou ganhar
proporcionalmente mais. Isto é a especificidade dos bancos. São empresas
alavancadas, vivem de capitais alheios (capitais dos depositantes) e como
tal, os acionistas suportam uma pequena parte das perdas se correr mal, mas
ficam com 100% do banco se correr bem.
2. É uma empresa com grande alavancagem, sendo essencial, então, medir o
risco que ela tem: a opacidade da sua atividade: opacidade, que em parte, é
de origem legal (sabemos quantos automóveis a autoeuropa faz, e qual o preço que faz).
Os bancos são um passivo de um lado, a divida dos bancos, os depósitos, e
do outro lado há o ativo dos bancos, os créditos dos bancos às entidades a
quem o banco concedeu bancos. O que interessa é quanto desses créditos
vão ser pagos, e isso, é muito mais difícil de saber. O ativo dos bancos é
extremamente opaco, não é um bem tangível.
Isto fez com que se assumisse que os bancos são especiais, precisam de regras de
governação que correspondessem a isto.
Quando lemos o CSC diz-se que o interesse social de uma sociedade é o interesse dos
sócios (artigo 64.º). Quando vamos ao RGIC não estão lá os interesses dos sócios, está o
interesse na estabilidade financeira, e dos depositantes. Há esta especificidade.
30
As competências do órgão de fiscalização, para tutelar terceiros, tem, hoje, muitas mais
competências.
Criou-se estruturas independentes, independentes dos acionistas, e que são longa manus
do supervisor.
31
se se não deveriam ser órgãos da sociedade, porque têm uma esfera de poder autónomo
dentro da sociedade.
Pluralidade de fontes
1. Autonomia privada
2. Liberdade contratual (Artigo 405.º Código Civil)
a. Liberdade de não celebrar contrato (mas, atenção, sistema de acesso a
serviços mínimos, DL n.º 27-C/2000, de 10.03.2000);
b. Liberdade de celebrar o contrato (mas também limites: por exemplo, no
credito à habitação, o mutuante tem o dever de não celebrar o contrato se
houver avaliação de solvabilidade, e esta determinar que ele tem um
risco de não ser capaz de cumprir – artigo 16.º, n.º 2, DL 74-A/2017, de
23.06.2017)
32
c. Liberdade de definir o conteúdo de contratos típicos, mas também a
liberdade de celebrar contratos atípicos ou inominados (mas exceções:
por exemplo, no credito à habitação há o dever de apresentar o sistema
de prestações constantes do artigo 7.º, n.º 2 DL 349/98. Porém os
contratos atípicos e os conteúdos atípicos de contratos podem ser levados
à categoria de “produtos financeiros complexos” (vide art. 2 do DL n.º
211-A/2008), sobre que recaem especiais limites, isto é, o espaço de
maior liberdade é um espaço de maior exigência para a IC.
3. Liberdade de forma
a. Pode dizer-se que, na sua origem, ao direito bancário se associava uma
tendencial maior liberdade de forma
b. Exemplo: 1. O mútuo:
i. Mútuo civil é formal (artigo 1143.º CC): +2500€ documento particular ou
autenticado ou +25000 escritura publica
ii. Mútuo comercial (empréstimos): entre comerciantes pode ser qualquer meio
de prova (artigo 396.º Ccom)
iii. Mútuo bancário (com comerciais ou não comerciais): escrito particular (artigo
único DL n.º 32.765, de 29.04.1943
c. Exemplo 2: O penhor
i. Civil: exige a entrega efetiva da coisa (artigo 666.º, n.º 1 CC)
ii. Comercial: entrega pode ser meramente simbólica (artigo 398.º Ccom)
iii. Bancário: entrega dispensada (DL n.º 29,833 de 17.08.1939)
d. Há liberdade de forma (no que toca às declarações de vontade negocial),
mas a formalização das informações pré-contratuais e a regra prática e o
uso inevitável (até em função da legislação) de formalização do próprio
negocio-
e. O artigo 77.º RGICSF: haverá mesmo um princípio geral de
consensualidade plena no direito bancário? Na verdade, o legislador
criou uma serie de obrigações para os bancos. Com certeza que não
existe forma legal cuja ausência determine nulidade do negócio, mas dai
não se pode retirar que a IC não tenha o dever de proceder à
formalização, pelo menos, à apresentação “em suporte duradouro” dos
termos do contrato (que também incluem informação).
f. No que toca à forma o banco tem o dever de o fazer e um interesse
próprio em fazê-lo para ficar a dispor de um meio de prova de que
33
cumpriu o dever de informar, uma vez que o ónus será seu (a frequente
inversão do ónus da prova, vide artigo 36.º DL 74-A/2017); vide artigo
77.º, n.º 2 (“informações adequadas em papel ou noutro suporte
duradouro”), n.º 5 (“os contratos celebrados entre as ICs e os seus
clientes devem conter toda a informação necessária e ser redigidos de
forma clara e concisa”, n.º 6 (“… regras imperativas sobre o conteúdo
dos contratos…”).
g. Vide ainda, por exemplo: DL n.º 51/2007: ver sobretudo DL n.º
74-A/2017, de 23.06.2017, sobre contratos de credito com consumidores
para imoveis destinados à habitação: v. limite à liberdade de duração da
proposta contratual (no mínimo 30 dias: artigo 13.º, n.º 5), proibição de
aceitação imediata, para salvaguarda de período de reflexão ao
consumidor (artigo 13.º, n.º 5); não só existe dever de formalização a
informação, como existe o dever de formalizar destacadamente parte da
informação (artigo 13.º, n.º 9).
i. Há, assim, duvidas, acerca da alegada liberdade de forma, num
certo sentido
Assistimos a uma massificação das operações da banca: há uma contratação
estandardizada e formalizada. Podemos falar numa contratação automatizada.
Regime das CCG
16.11.2021
a) Terminologia
34
e) A conta bancária fiduciária
j) As regras de movimentação da conta (DL n.º 18/2007 e DL n.º 91/2018) (depósito de
cheques)
1. As questões em torno das contas solidárias (v. AUJ n.º 2/2016 do STJ)
2. As questões em torno da possibilidade de compensação entre saldos de contas á
ordem e de contas a prazo)
Bibliografia
SILVA, JOÃO CALVÃO DA, Direito bancário, Almedina, Coimbra, 2001, pp. 342-349
ALMEIDA, CARLOS FERREIRA DE, Contratos II, 4.ª ed., Almedina, Coimbra, 2016, pp. 143-
148; 173-175
35
CORDEIRO, ANTÓNIO MENEZES, "Direito bancário e alteração de circunstâncias", in I
Congresso de Direito Bancário, Almedina, Coimbra, 2020, pp. 539-577
CUNHA, PAULO OLAVO, Direito Comercial e do Mercado, Almedina, Coimbra, 2021, pp. 372-
375
CUNHA, PAULO OLAVO, Direito Comercial e do Mercado, Almedina, Coimbra, 2021, pp. 483-
490
VASCONCELOS, L. MIGUEL PESTANA DE, Direito Bancário, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2021,
pp. 97-112; 116-123
A relação bancária não como contrato, mas como uma relação da vida, ou seja,
uma relação de facto com relevância jurídica, então não é uma relação
contratual, mas projeta-se juridicamente.
E desta relação emergem deveres para o banco independentemente da celebração
de um contrato, residindo a sua fonte na lei e na confiança.
Para esta posição isto é assim, mas importa saber que mesmo que já haja
contratos continua a ser assim.
Nesta relação corrente de negócio fundam-se os deveres de informação, de
esclarecimento, de conselho que impedem sobre o banco, a ainda um conjunto
36
de deveres de consideração e de cuidado para com o cliente e dirigidos à tutela
dos seus interesses.
Estes mesmos deveres podem ser enquadrados e fundados, não em deveres pré-
contratuais, mas com base na “relação de facto”.
Nesta conceção a relação bancária é uma relação de proteção e não de prestação,
isto é, emergem para o banco deveres de proteção.
Breve confronto:
Numa visão contratual, uma vez que os deveres não emergem do contrato, mas
da vontade das partes, o seu conteúdo e extensão não são moldáveis por este, não estão
na disponibilidade das partes.
Ao invés o contrato bancário geral permite.se essa modulação (sem prejuízo dos
limites específicos das CCG, dos contratos de adesão, dos limites da boa-fé...).
Talvez se possa dizer que nem existe CBG, mas não pode negar-se às partes a
possibilidade de perspetivarem num contrato inicial a sua relação futura.
37
defenda que é dano contratual positivo, ou seja coloca-se o sujeito na posição que
estaria se tivesse cumprido o contrato.
A vontade das partes nesse caso não releva, nem tem de ser demonstrada, para a
fixação de poderes e para a respetiva violação, ou seja, é irrelevante mostrar que o
cliente não contava com uma certa ação do banco, isto porque a vontade das partes não
tem de ser demonstrada.
Mesmo que aquele cliente não confiasse no banco, a fonte destes deveres não é
contratual.
Exemplo: Há um conjunto de deveres da entidade bancaria que são uma facada nas costas do cliente, que
não são próprios de uma relação e confiança, porque eu banco recebo lá a Doutora Inês, a fazer um
deposito em numerário, recebo-a sorridentemente e quando ela sai ligo à polícia para tentar averiguar se
esta senhora está a fazer branqueamento de capitais, não sendo assim uma relação de confiança.
38
1. O dever de comunicação de operações suspeitas, Art 43º;
2. Abstenção, ou seja, não executar ordens do cliente ou em benefícios deste, Art
47º;
3. De recusa de contratar, o banco recusa iniciar uma relação de negócio, Art 50º;
4. Dever de pôr termo à relação de negócio, Art 50 nº2 e 3,
5. Não divulgação de informação ao cliente, o que seria patentemente do seu
interesse, Art 54º, de prestar a terceiros informação, Art. 56º
O banco é uma espécie de confessor, mas ao invés do padre o banco vai comunicar o
que ouve na comunicação.
O contrato de conta
Não vamos encontrar sempre o mesmo nome para referir a mesma coisa, assim este
assume também o nome de contrato de abertura de conta, contrato de conta, e há quem
se referia de contrato bancário.
É certo que desta relação, não resulta, para nenhuma das partes, o dever de
celebrar novos contratos. E isso num duplo sentido:
39
1. observados os limites contratuais ou ex bona fide, qualquer das partes
pode, a todo o tempo, pôr cobro à relação;
2. o novo negócio que uma das partes proponha à outra parte pode ser
objeto de livre rejeição – dentro, naturalmente, de certos limites.
40
Restam 3 questões: quando surge o tal contrato bancário geral, qual a sua
extensão e que regime lhe aplicar?
41
débitos que o banqueiro poderá debitar que o banqueiro possa levar à conta;
nalguns casos, as cláusulas gerais sobre abertura de conta obrigam o
beneficiário a manter um saldo médio mínimo; a compensação de crédito
pode também estar prevista. De notar que, nalgumas cláusulas contratuais
gerais, a própria celebração do contrato de abertura de conta depende de um
depósito inicial, enquanto, noutras, isso não sucede.
Uma abertura de conta não dispõe de qualquer regime legal explicito. Ela
assenta, no essencial, nas cláusulas contratuais gerais dos bancos e nos usos
bancários. Impõe-se, por isso, avançar algumas noções jurídicas que
condicionam o seu entendimento.
42
A abertura de conta é, como já foi referido: o negócio bancário nuclear.
Impõe-se, pois, verificar qual o seu conteúdo, isto é: qual o regime que,
dela, deriva para as partes.
(1) a conta corrente bancária: quanto a esta, ficam assentes termos em que
a conta, em termos de crédito e de débito, é movimentada.
(2) o giro bancário: ela prevê regras sobre os seus movimentos, incluindo
juros, comissões e despesas que o banqueiro poderá debitar e sobre os
extratos.
43
cláusulas contratuais gerais, a própria celebração do contrato de abertura de
conta depende de um depósito inicial, enquanto noutras, isso não sucede.
44
certidão de registo comercial ou, não sendo residentes, de documento
equivalente – 7º/3/b) Lei nº 25/2008.
45
entanto, quer a doutrina quer a jurisprudência reportam-se a “depósitos”
pretendendo traduzir os saldos das contas.
Perante uma conta solidária, pode ter sido estipulado entre os titulares qual a
quota-parte ideal que a cada um compita. Nada se dizendo ou sabendo sobre
o tema, funciona a presunção do artigo 516º CC: presume-se que todos os
titulares têm idênticas percentagens sobre o saldo (podendo esta presunção
ser ilidida pelos interessados).
Temos ainda a categoria das contas fiduciárias, isto é, daquelas que são
abertas em nome de uma pessoa, mas por conta e no interesse de outra. A
fiduciária, aqui, só releva se for do conhecimento do banqueiro (sendo
oculta, tudo se passa como se houvesse, apenas, um título formal,
equivalente ao substancial).
46
2. cláusulas contratuais gerais (eventualmente expurgadas de
cláusulas proibidas, por força da LCCG)
3. disposições legais supletivas
47
reconhecer a liberdade do banqueiro. Este pode, legitimamente, não querer
ter entre os seus clientes pessoas indesejáveis ou não recomendáveis. Em
Portugal, não conhecemos nenhuma regra que obrigue o banqueiro a
contratar; este poderá recusar a abertura de quaisquer contas.
48
A conta corrente bancária é uma espécie de conta corrente comum que se
integra, com outros elementos, num contrato de abertura de conta. Contudo,
carece de base legal. Temos de distinguir:
49
fundos, bem como aqueles que são constitutivos, modificativos ou extintivos do
crédito unitário de reembolso.
O saldo é o valor do crédito unitário ao reembolso.
Em geral a legislação refere-se a “conta” e não a “contrato de conta”.
O que está subjacente à conta é o contrato de conta.
Esta é uma questão que se relaciona com a anterior. Para quem entende que pode
haver um contrato geral então este contrato é autónomo, porque posso ter com o
meu banco um contrato geral, mas posso ter duas ou três contas, assim é
autónomo relativamente ao contrato geral.
Este é um contrato socialmente típico, isto é, está definido na lei, tem regime
legal, como o contrato de sociedade, de compra e venda.
Relembrando: o legislador pode ter ficado um passo atras disso, ou seja, pode ter
mencionado, nomeado, o contrato, mas não o definiu nem fixou um regime, isso
acontece muito no contrato de swap, isso é um contrato nominado.
Depois há os contratos atípicos, como o contrato de agência.
No domínio bancário, temos o lising que é um contrato típico, mas depois foram
se inventando coisas como o aluguer operacional que são típicos, mas não estão
previstos na lei.
As operações na conta são efetuadas pelo banco enquanto mandatário, Art.
1161º a) CC.
O banco cumpre as nossas ordens, nós dizemos transfira 10 mil euros para x e
ele faz isso, pedimos 50 euros em numerário e ele dá.
Mas ele faz isso com base num mandato, porém alguns atos que ele pratica não
são como mandatário, como quando nos debita a anuidade do cartão de crédito.
O banco tem os deveres inerentes de prestação de contas, Art. 1161º b) do CC.
Este enquadramento não é inquestionável, usamos o regime do mandato, mas há
alguns autores que não enquadram assim.
Isto parece ser assim quanto às operações “declarativas”, mas não quanto às
“constitutivas”.
As operações declarativas são aquelas em que o banco é um alheio ao
movimento, está como mandatário a cumprir instruções do cliente.
50
As outras são as constitutivas, porque o banco está a mexer na conta por ser
contraparte. O banco não age enquanto mandatário, e, portanto, o dever que tem
de nos informar acerca desses movimentos não é um dever que decorra do
regime do mandato, pois está a agir por conta dele e não num interesse do
cliente.
8. O giro bancário
Para este contrato em que há milhões de contas abertas não tem um regime legal,
daí que haja esta discussão.
A exclusão legal da responsabilidade do banco que os atos praticados de boa-fé
em execução da LPBCFT, Art. 50 nº7, de recusa de conta ou de operações ou de
cessação de relações.
Se fosse um contrato de mandato o banco cumpria as ordens, quando muito
poderia recusar-se livremente a cumprir algumas ordens, mas neste caso o banco
não incorre em responsabilidade
E o inverso? Prática de atos com violação do dever de recusa pode fazer o banco
incorrer em responsabilidade mesmo estando de boa-fé?
51
O banco deveria ter recusado, mas não recusou a prática do ato, assim sendo ele
pode causar danos a um terceiro. O legislador exonera a responsabilidade
quando o banco está a cumprir deveres, mas quando é o inverso, não identificou
e devia ter identificado não acontece assim.
Pluralidade de contas
Em vez de termos um sujeito para várias contas, temos uma conta para vários
sujeitos.
Podemos ter aquilo que se chama de solidariedade ativa, ou seja contas
solidárias.
Exemplo: A e B são titulares de uma conta, se for uma conta solidaria ativa qualquer um deles pode
movimentar a totalidade dos fundos disponíveis na conta.
Não estou a dizer ao banco que estes fundos são meus ou da Inês, apenas estou a
dizer que aqueles fundos e a movimentação tanto se faz por mim ou pela Inês.
52
O regime da solidariedade respeita ao regime de movimento da conta e não
quanto à titularidade de fundo, tem que ver com a relação com o banco, não com
a relação entre os titulares entre si.
Isto leva em muitas situações a discussões, como no caso de divorcio, dos filhos
que entram na conta de um dos pais, pois qualquer dos gerentes pode usar os
fundos.
Porém isto não significa solidariedade por dividas.
Exemplo: o problema aqui é que eu tenho a mesma conta, mas ela está com o saldo negativo, os titulares
da conta devem 100 mil euros ao banco.
Quando estamos nesta situação o banco pode exigir a totalidade da divida quer a
mim quer a Inês ou para efeitos de solidariedade passiva (nós a devermos ao
banco) apenas a um?
O regime da solidariedade para movimentação não implica a solidariedade
passiva, uma coisa não implica a outra.
As contas são também conjuntas.
E podemos ter um regime misto, ou seja, A e B podem movimentar sozinhos,
mas o C só pode movimentar com A.
Há contas bancarias ditas fiduciárias, onde um só titular, mas fruto de relação
interna, obriga-se a geri-la ou a detê-la por conta de terceiro.
Nos casos de idosos isto acontece muito
Mas atenção ao disposto no Art 29 nº3 LPBCFT
Quando isto acontece é suposto o banco saber que aquela conta é fiduciária, e
com base nisso o banco vai exercer os seus deveres, de identificação e analise
aos movimentos justamente com base nisso.
Exemplo: muitas vezes o banco recusa o pagamento porque está fora do
objetivo.
Como uma situação que foi criada para um idoso, e um filho usou para ir a um
restaurante super caro.
Estas contas assim são legitimas, mas não confundir com as chamadas contas de
barriga de aluguer, que são contas para branqueamento de capitais, isto é,
determinadas pessoas que fazem branquimento de capitais. Como este está
associado a valores altos uma das estratégias para não ser detetado é fracionar.
53
Mas quando o Joaquim fraciona muitos movimentos, mas passa tudo pela sua
conta o banco como é obvio tem atenção a isto.
Conta escrow
A Beatriz está a comprar um imóvel por 10 milhões de euros, mas não confia em
Ana, receia entregar dinheiro e depois que uma serie de garantias na realidade
não se verifiquem e que Ana não faça o que prometeu.
Então prometeu pagar depois de fazer o que prometeu.
Ana não está disposta a entregar o imóvel sem receber o dinheiro.
O que fazer?
Podemos abrir uma conta no banco em que o banco presta um serviço, que
consiste em nós provisionarmos a conta com x dinheiro, e facultamos ao banco o
contrato, no fundo damos ao banco o dever de movimentar a débito a conta
mediante a verificação, pelo banco, das condições que nós estabelecemos
antecipadamente.
Estes 10 milhões vai ser levantados a favor de Ana, mas apenas quando forem
cumpridas certas condições: o chão for arranjado, a casa tiver sido pintada.
Isto vai se atestar com o relatório de um perito que nos previamente definimos.
Então quando a empresa aparecer lá com um relatório a dizer que cumpriu, o
banco pode transferir dinheiro para a conta de Ana.
Esta conta é uma segurança para as partes, visto que estas contratam com um
terceiro idóneo.
54
Em termos técnicos, parece que da violação não decorrem os efeitos próprios do
vicio de forma ou da inobservância de formalidades.
O banco até ter cumpridas essas formalidades não ativa a conta.
55
O primeiro caso são os cheques, porque até um certo montante o banco é
obrigado a pagá-los.
Os bancos fazem batota, pois muitas vezes quando aparecem lá cheques e
não há lá saldo a assinatura não é igual, assim o banco não confere e
cancela os cheques.
Segunda hipótese, há certos movimentos dos nossos cartões de debito
que são feitos mesmo que o sistema esteja offline e quando isto é assim o
sistema não confere a provisão da conta para o movimento e o cartão
comporta-se como um cartão de crédito, apesar de ser um cartão de
debito, e isso pode acontecer em vários movimentos, como uma conta
que tem o cartão associado à via verde.
3. Dever de não se servir da conta para branqueamento de capitais
O que acontece quando se serve uma conta para branqueamento de
capitais?
O cliente tem de se responsabilizar para com o banco porque violou um
dos seus deveres, atingindo o banco.
Assim quando se serve, se causar danos ao banco, o banco tem o dever
de agir contra ele.
Este é um contrato que é dos mais celebrados no ordenamento jurídico, mas não
se sabe grande coisa acerca do seu regime.
56
Exemplo: eu tenho uma conta, está lá o debito direto para pagamento da água, da luz e da sporttv. O
banco recebe o debito direto da sporttv antes do pagamento da água e da luz. Para cumprir o seu mandato
o banco paga a sporttv e depois já não há saldo para pagar a luz. Será que o banco pode dizer que não ao
pagamento da sporttv?
É duvidoso, mas parece que sim, ou seja, o banco se achar que o cliente preferia
o pagamento da luz pode pagar a luz e recusar o pagamento da sportv.
E a situação inversa, isto é, sem instruções, pode o banco agir? Pode o banco
sem instruções extinguir a compra do deposito em situações que o cliente está ausente,
nas restantes deve sempre comunicar.
Não, devendo entender-se que o regime dos extratos e os seus prazos prevalece.
Parece que o regime do extrato dispensa o banco de fazer esta comunicação
imediata.
Parece que não tem de pagar juros, mas é uma questão discutível.
Eu enquanto credor deu uma ordem e o banco só a vai executar depois de
amanhã, fica a dever juros? Parece que não.
Não, mas se o exercício for abusivo talvez possa gerar responsabilidade do lado
do cliente.
Um cliente que tenha 2 mil milhões se não avisar que vai resgatar esse valor
pode criar um problema na tesouraria do banco.
Não porque se se aplicasse se eu tivesse uma conta aberta quando fosse abrir
outra estaria a revogar esta primeira.
57
É duvidoso. A é titular de uma conta e morreu. E agora? Esta continua a existir
ou não? Não devíamos ter dúvidas acerca disto porque podem estar lá milhões.
Mas no direito português discute-se, há quem entenda que não há extinção, mas
bloqueio de forma que não pode ser movimentada até o herdeiro estar a par.
Temos autores que dizem que o contrato de conta é um contrato intuitu
personae, ou seja, é celebrado com aquela pessoa e não com os seus sucessores.
Mas há quem entenda que apesar de ser um contrato intuitu personae, parte do
contrato deve extinguir-se outra não necessariamente. Há serviços que cessam
com a morte do cliente, outros ligados a serviços essenciais não, isto é, a parte
que não tem carater intuitu personae.
23.11.2021
Questão para a próxima aula: qual é o âmbito admissível de clausulas contratuais que
regulam a repartição dos ónus de prova, e eventual, responsabilidade. Se o banco
celebra um contrato e fica acordado que é da exclusiva responsabilidade do cliente
guardar os dados necessários para o acesso ao home banking, etc. prima da
construção dos deveres de cada uma das partes e quais as clausulas de exclusão da
responsabilidade.
Pode o banco agir sem instruções do cliente (como gestor de negócios) (artigo 1162.º
CC)? “pode…” mas não deve (embora os deveres de atuação organizada do banco
podem colidir com dever de proteção dos interesses do cliente…
58
i. Sem dúvida desde logo em casos de BCFT (artigo 50.º, n.º 3,
alínea b da lei 83/2017 de 18 de agosto)
ii. Questão diferente é a dos efeitos retroativos (comuns) da
resolução, que aqui serão de afastar
59
Efeitos jurídicos. E depois? Eu recebi o extrato e depois? Se houver um erro,
uma vez terminado o prazo, considera-se aprovado o extrato? O banco tirou-me
5 euros, duplicou uma comissão, fez um movimento sem ordem, etc. Recebi o
extrato e nada fiz, e agora?
o Tem efeitos jurídicos. Há quem entenda que decorrido o prazo há
aprovação, sustentando esta posição com base nos artigos 1156.º, 1161.º,
alínea d) e 1663 CC -> aprovação tática da exatidão do extrato.
o Há quem entende que dependa.
Uma vez que o movimento é casual, produz efeito de aprovação
(tácita), da existência da causa do movimento (um cheque, uma
ordem de transferência…).
Mas já não produz efeitos de aprovação quanto ao valor, uma vez
que a conta corrente só impõe determinação do saldo a final
(artigo 349.º Ccomercial). Até chegarmos ao final do contrato,
posso reclamar tudo o que está para trás. Posso discutir o
montante, mas não posso discutir a causa do movimento.
o Mais entendimentos: as inscrições na conta podem ser “declarativas” ou
“constitutivas”.
São declarativas quando o banco está como terceiro, isto é, o
banco está a levar a conta a consequência de uma ordem, de uma
instrução, que recebeu do cliente ou em beneficio de um cliente.
Quando são declarativas deve produzir o efeito de acordo,
salvo erro a respeito do montante.
Nas constitutivas o banco é contraparte do cliente, o banco vai à
conta debitar as suas comissões, ou a prestação do crédito à
habitação, etc.
Quando são constitutivas, o banco não age como
mandatário, mas como contraparte no contrato de
prestação de serviços. Nesta parte não cai sanação.
Durante a pendencia do contrato, há lugar para
reclamação.
No que respeita a débitos em aplicação de preçário,
existem razoes acrescidas para que o extrato não possa ter
60
o efeito de acordo, atenta a proibição de comissão fora do
preçário (artigo 6.º, n.º 4 do Aviso 8/2009)
A compensação de créditos
Esse tipo de convenção pode ser implícito: emerge, muitas vezes, de regras
de funcionamento da conta corrente, resultantes de cláusulas contratuais
gerais, seja da própria abertura de conta, seja de outros negócios que possam
ser celebrados.
61
A LCCG – artigo 18º/h) – impede o afastamento da compensação (legal).
Devemos ter presente que à partida, a compensação é uma vantagem para
ambas as partes.
62
do contrato de abertura de conta – o ideal, para prevenir litígios, seria que os
contratos de abertura de conta especificassem claramente em que condições
os banqueiros poderiam efetuar movimentos “inter-contas”. Isto significa
que, na falta de outra convenção, o banqueiro não pode operar movimentos
entre contas, de modo a fazer funcionar a compensação automática própria
da conta corrente.
Mas esse tipo de compensação anómala não se confunde com a
compensação civil (regulada nos artigos 847º e seguintes CC). Uma abertura
de conta, só por si, não envolve qualquer renúncia à compensação comum.
Tal renúncia seria sempre, de resto, nula, por via do 18º/h) LCCG.
O banqueiro é devedor do saldo (positivo) que o seu cliente apresente numa
sua conta. Tal débito poder-lhe-á, a todo o tempo, ser exigido. Quando isso
sucede pode o banqueiro livrar-se do seu débito invocando a compensação
quando, a qualquer outro título, detenha um crédito sobre o seu credor. A
homogeneidade das prestações pecuniárias não é perturbada pelo facto de
elas resultarem de fontes diversas. Para operar tal compensação, banqueiro
teria, todavia, de dirigir uma declaração autónoma ao seu cliente, feita nos
termos do 848º do mesmo Código.
b) Débitos avulsos do titular de conta. As considerações acima
expendidas podem ser transportas para a hipótese de compensação entre o
saldo do cliente (débito do banqueiro) e um crédito avulso do banqueiro
sobre esse mesmo cliente, isto é, crédito que não se inserisse, ab initio,
numa conta corrente bancária. Reunidas as condições da compensação
(civil), nada o impede.
Queda interpretar o contrato de abertura de conta, para saber se o banqueiro
pode, pura e simplesmente, debitar na conta corrente o crédito que quer
compensar ou se deve, primeiro (ou em simultâneo) proceder à declaração
do 848º CC.
No silêncio do contrato, o Professor Menezes Cordeiro defende esta última
hipótese. O cliente do banqueiro deve, aliás, ser informado da existência do
seu débito, da sua origem e do tipo de cálculo que foi realizado.
c) Depósitos com regimes diferenciados; depósitos a prazo. Este
problema coloca-se perante depósitos em regime diferenciado: poderá o
banqueiro compensar débitos de depósitos sujeitos a regimes diferenciados
63
que detenha sobre clientes seus? Em tese, a solução é a seguinte: quando se
esteja em face de um depósito sujeito a um regime diferenciado, faltará, em
regra, o requisito de homogeneidade previsto no artigo 847º/1/b) CC: a
compensação não é possível, por essa via.
No chamado depósito a prazo, a solução favorável à compensação resulta
diretamente da lei. Parte da doutrina vê, nele, um verdadeiro mútuo. Da
parte do Professor Menezes Cordeiro, estamos perante um “depósito
bancário”, no qual, todavia, haverá que aplicar as regras do mútuo e na
medida do possível – artigo 1206º CC.
Podemos concluir que, no tocante a depósitos a prazo, o banqueiro pode
usar o correspondente crédito para efeitos de compensação: (i) sem
condicionalismo, logo que o prazo tenha vencido; (ii) pagando
antecipadamente os juros, antes do vencimento, por via dos artigos 1147º e
1206º CC.
d) Contas solidárias. As contas serão solidárias quando qualquer dos
titulares possa movimentar sozinho e livremente a conta, exonerando-se o
banqueiro pela entrega da totalidade do saldo a quem o pedir; serão
conjuntas quando os movimentos exijam a intervenção simultânea de todos
os seus titulares.
Aqui a solidariedade não corresponde, de modo linear, à solidariedade das
obrigações, antes traduzindo o regime da movimentação e dos débitos em
conta, livremente adotado pelas partes aquando da celebração do contrato de
abertura de conta.
O problema da compensação põe-se nestes termos: quando o banqueiro seja
credor de apenas um dos titulares, poderá ele operar a compensação com o
saldo de uma conta coletiva? A jurisprudência é, aparentemente, algo
restritiva. Nalguns casos, parece responder pela negativa; noutros casos, a
jurisprudência assume uma posição intermédia: a compensação seria
possível, mas apenas nos limites do depósito que couberem ao devedor do
banqueiro; noutros, finalmente, a jurisprudência aceita a compensação de
débitos de um cliente em conta solidária, sem restrições.
Seguindo o Professor Menezes Cordeiro: as contas bancárias solidárias têm
um regime que resulta das respetivas aberturas de conta. Como ponto de
partida, importa refutar a ideia de que a solidariedade, nos depósitos
64
bancários, tenha sido estabelecida “no interesse dos depositantes”. A
solidariedade, tal como qualquer outra cláusula contratual, é sempre
estabelecida no interesse de ambos os contraentes.
Nos depósitos bancários, a solidariedade é uma cláusula de funcionamento
da conta: opera seja no interesse dos depositantes, seja no interesse do
banqueiro.
Outra ideia a afastar é a de que os bancos não teriam a faculdade de escolher
perante qual dos depositantes solidários se poderiam exonerar. O artigo 528º
CC não se lhes aplicaria. Não é, de todo, assim. O banqueiro não pode, de
facto, escolher perante qual dos depositantes solidários se pode exonerar
porque, em regra, ele não pode exonerar-se, pura e simplesmente. Ligado
por um contato de abertura de conta o banqueiro deve tolerar todos os
depósitos que os seus clientes queiram fazer nas respetivas contas, não os
podendo devolver à procedência. Agora: nos casos, contratualmente
previstos, em que o banqueiro possa pôr termo ao contrato de abertura de
conta, encerrando a conta corrente bancária e dando por terminada a relação
bancária complexa, não temos qualquer dúvida: o banqueiro pode
prevalecer-se do 528º/1 para entregar o saldo a algum dos depositantes
solidários, deste modo se exonerando. Nem faria sentido exigir que ele
procurasse, porventura em remotas paragens, todos os depositantes
solidários.
A questão está em saber se, de todo em todo, ele pode exonerar-se ou
quando pode fazê-lo. E é na resposta a esse ponto que poderá surgir a
compensação.
Ao celebrar uma abertura de conta conjunta com solidariedade, todos sabem
que qualquer dos seus titulares pode esgotar o seu saldo. Trata-se, sempre,
entre os contitulares, de uma situação fiduciária, que não pode ser oposta ao
banqueiro. Este não sabe quem era o dono dos fundos. Ora se um titular
pode, sozinho, esgotar o saldo, também poderá, sozinho, constituir débitos
junto do banqueiro que impliquem, por via da compensação, esse mesmo
esgotamento.
A lei geral não conduz a outra solução: o banqueiro (enquanto devedor)
pode escolher o cliente solidário a quem satisfaça a prestação – 528º/1
CC.
65
e) Contas conjuntas. Nestas contas só se torna viável movimentar a
conta com a assinatura de todos os seus titulares. Admitir uma compensação
pelo débito de apenas um deles iria forçar a vontade das partes, quando foi
concluída a abertura de conta.
LCCG – artigo 18.º, alínea b) diz que não se pode afastar a compensação legal.
A compensação é uma vantagem para quem? Para o Banco ou cliente? Havendo risco
do lado do cliente, quem tem interesse pela compensação é o banco. Isso seria assim,
mas muitas vezes o banco não tem interesse em fazer a compensação porque assim não
iria cobrar juros. Não é interesse que o interessa na compensação seja do banco ou do
cliente.
Problemas nas contas solidárias: o senhor A é cotitular de uma conta, onde o B também
é titular. Os clientes podem compensar, isto é, o senhor A, sendo credor do banco,
mesmo tendo o senhor B, pode proceder à compensação.
E o banco? Não pode nada? O banco quando tem noutra conta com mais de um
titular não pode fazer compensação. Pode tudo? O banco é credor de A, há uma conta
em que está A e B, e o banco pode compensar totalmente. Pode em %? Há 2 titulares,
pode compensar em 50%
Acórdão STJ 2/2016: é proibido nos termos do 15.º da LCCG, por contrária a
boa fé, a clausula que autorize o banco a compensar o seu crédito em saldo de
conta coletiva solidária. Veja-se o artigo 18.º, alínea a).
Banco sabe da titularidade de fundos: releva…? Pela boa-fé? Pelo CBG? O banco sabe
que A é rica, e B é uma pessoa jovem, que não é o titular dos fundos. Isso releva?
66
Imaginando que B era credor de B. Há quem entenda que pela boa fé, sabendo o banco
que os fundos não pertencem a B, não podia creditar.
Compensação com tipos diferentes de contas (ex. depósitos a prazo)? temos 1 banco
e 1 clientes, mas há 2 contas, é devedor numa, mas tem saldo numa conta de depósito a
prazo. Devo a A à ordem 1M, mas o A, numa conta a prazo a 2 anos tem 1M. O meu
crédito ao banco, o deposito ao banco, só é exigível daqui 2 anos. Isto também vai
depender do meu regime, sendo reembolsável ou não. Sem mais, falta o requisito da
homogeneidade (e penso que também, em alguns casos, o da exigibilidade).
Contrato de depósito: relação jurídica entre o banco e o seu cliente. Em rigor quando
falamos de depósitos bancários falamos de operações a credito de uma conta bancaria,
quer tais operações provenham de:
67
1. O depósito pecuniário (moeda legal/ moeda escritural – valor de crédito sobre a
instituição bancária).
07.12.2021
1. Depósito (continuação)
1.2. Dever de guarda (custódia) do Banco? Juridicamente, não existe esse dever; mas,
do dever de gestão sã e prudente e de salvaguarda dos interesses dos depositantes (75º
RGIC).
68
Na perspetiva do depositante, a entrega dos fundos destina-se (justifica-se) por múltiplas
razoes:
69
O depósito escrow: é um negócio fiduciário, embora concite elementos de: (i) terceiro
interessado no depósito (1193º CC); (ii) depósito de coisa controvertida (1202º e
seguintes CC)
2. Operações de crédito.
70
Operações de crédito (o banco fica credor) versus financiamento. Para alguns
autores, as primeiras são tomadas como financiamento; contudo, na realidade são
situações diferentes; pois o banco pode financiar sem ficar credor. Não existe uma
noção unitária de contrato de crédito. O paradigma é o mútuo (artigo 1142º CC): noção.
O mútuo bancário distingue-se de quaisquer outros por ser celebrado por um banqueiro,
como mutuante, agindo no exercício da sua profissão. O mútuo bancário tem uma forma
aligeirada: nos termos do artigo único do Decreto-Lei 32/765, de 29 de abril de 1943.
71
Os mútuos bancários dispõem de certas regras especificas. O Decreto Lei nº 58/2013
procede à classificação, do mútuo bancário, segundo o prazo e o regime dos juros.
Temos, consoante o prazo de vencimento – artigo 4º:
O mútuo bancário pode ter a particularidade importante de ser um mútuo de escopo, isto
é: um mútuo no qual, contratualmente, o mutuário fica adstrito a dar um determinado
destinado à importância recebida.
10.4.1. Mútuo civil: o artigo 1142º CC define este como o contrato “pelo qual uma das
partes empresta á outro dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a
restituir outro tanto do mesmo género e qualidade”. O mútuo tem sido considerado real
quod constitutionem. Assim, ele só produziria os seus efeitos pela entrega da coisa
72
mutuada. Contudo, não haverá dificuldades em admitir, ao lado do mútuo típico real,
mútuos meramente consensuais.
O mútuo é celebrado pelo prazo acordado pelas partes. Sendo o mútuo oneroso, o prazo
presume-se estipulado a favor de ambas as partes: o mutuário pode, todavia, antecipar o
pagamento, desde que satisfaça os juros por inteiro – artigo 1147º.
Caso o mutuário não pague os juros no seu vencimento, pode o mutuante resolver o
contrato – artigo 1150º.
73
· Relevância: incumprimento e direito de resolução no caso de utilização dos
fundos para finalidades distintas daquelas que eram o escopo do mútuo (pois
está a incumprir o mercado de mútuo).
· A “sobre garantia”, pode violar CCG (artigo 22º/1/m) e artigos 15º e 16º).
· Covenants: instrumento para o credor acompanhar e proteger-se contra a
deterioração da situação do devedor.
o Cláusulas de negativa pledge: devedor compromete-se a não prestar
garantias a terceiros sem o consentimento do banco
o Cláusulas pari passu: cláusulas que asseguram ao banco, se prestada
garantia a terceiros, ao banco também é prestada essa garantia.
o Negative covenants: obrigações do devedor de não alienar bens, nem
prestar garantias a terceiros – aqui não está em causa a necessidade de
consentimento do banco, mas sim a situação de não prestar de todo
quaisquer garantias.
o Financial covenants: informações sobre a situação financeira
74
· Deveres de informação: assenta em princípios (informação completa,
verdadeira, atualizada, clara, objetiva, adequada aos conhecimentos do
consumidor individualmente considerado e legível) (artigo 8º).
· Informação e publicidade (artigo 9º)
· Informação normalizada (artigo 10º) e com exemplo concreto (10º/6)
· Vendas associadas (obrigatórias e facultativas) (artigo 11º)
· Direito ao reembolso antecipado (artigo 23º versus 1145º CC).
o Reembolso antecipado parcial (23º/2) (em qualquer fase/concomitante
com data de vencimento/necessidade de pré-aviso)
· Regime de reembolso: comissões (a cobrança de comissões tem de estar
prevista no contrato); que comissões é que se podem cobrar? (artigo 23º/5/6/7 e
9). O 23º/6 diz que pode convencionar-se a isenção de pagamento de comissões.
O 23º/7: aplica-se aos casos em que o empréstimo não foi para habitação, mas
foi dado como garantia desse empréstimo um imóvel de habitação (garantia
hipotecária).
· “Incumprimento” com vista à resolução (artigo 27º): regime que pode levar à
resolução. O legislador tem um regime que favorece muito a subsistência do
contrato. Para que haja lugar à resolução tem de se verificar cumulativamente:
(i) falta de pagamento de 3 prestações sucessivas; (ii) sobre as 3 prestações
sucessivas não pagas tem de decorrer um prazo suplementar mínimo de 30 dias
o Regime do incumprimento parcial (27º/2).
o Retoma do contrato de crédito (posterior à resolução) (artigo
28º): direito potestativo à cessação dos efeitos futuros da resolução /pode
ser exercido, no máximo, 2 vezes. Enquanto direito potestativo, não
carece de aceitação.
· Extinção com venda executiva ou dação em pagamento (14º/3/b)): regime
apenas convencional, mas imperativo o dever de informação. O banco tem de
informar o cliente, no momento da negociação, de que é possível contratar isto –
mas não é obrigatório contratar esta possibilidade
· Deveres da Instituição de Crédito:
o Informação pré-contratual geral (12º)
o Informação pré-contratual personalizada (13º): 13º/3 (fica de
informação normalizada Europeia); 13º/5 (prazo de período mínimo de
reflexão do consumidor)
75
o Assistência ao consumidor (14º)
o avaliar a solvabilidade (16º): os Bancos têm de avaliar a solvabilidade
de verdade; e depois de avaliada há consequências sobre isso, ficando
condicionado na sua liberdade de acordo com essa avaliação. Deste
dever de avaliação nasce também um dever de colaboração por parte do
consumidor.
o Verificação da informação relativa ao consumidor (17º)
o Avaliação dos imóveis (18º): vem estabelecer que avaliação tem de
ser feita por uma entidade independente
o Inversão do ónus da prova (36º).
o Caráter imperativo do regime (35º).
· Vendas associadas: obrigatórias ou facultativas: artigo 11º
· Artigo 24º: Reembolso antecipado com vista à transferência de crédito.
4. Abertura de crédito.
Podemos definir a abertura de crédito como o contrato pelo qual o banqueiro se obriga a
ter, à disposição do cliente, uma soma em dinheiro, por um dado período ou por tempo
indeterminado. A lei portuguesa não regula, de modo expresso, a abertura de crédito.
Não obstante, ela vem referida no artigo 362º CCom como uma operação de banco.
A abertura de crédito é: (i) simples: o crédito disponibilizado pode ser usado uma vez;
(ii) conta corrente: o cliente pode sacar diversas vezes sobre o crédito, solvendo as
parcelas de que não necessite, numa conta corrente com o banqueiro. Aqui há, ainda,
que lidar com as regras da conta corrente.
76
A cessação de uma abertura de crédito pode dar azo a dúvidas; trata-se de uma matéria
para a qual não há regime legal direto, entre nós. Segundo o Professor MENEZES
CORDEIRO a solução reside na regulação contratual: as partes devem prever, com
clareza, o termo da operação e as condições da sua eventual renovação. Não o fazendo,
aplicar-se-á: as regras da conta corrente, em geral, quando seja o caso; as regras do
mando, quanto à disponibilidade: as regras do mútuo, quanto ao saldo, havendo
cessação do contrato.
77
· Diferentes modalidades (consoante a reposição da disponibilidade de
crédito)
o Simples: cliente pode ir somando, no exercício do direito, crédito e no
fim amortiza a totalidade (++++++/-)
o Em conta corrente: o cliente exerce o direito para receber X e
reembolsa esse mesmo valor, e assim sucessivamente (+/-/+/-/+/-.)
o Pode ser de escopo (apenas para determinado fim)
o Pode ser com prazo (renovável) ou sem prazo
· A abertura de crédito é legalmente, atípica, mas casos previstos no crédito
ao consumo (contratos típicos):
o Facilidade de descoberto (artigo 4º/1/d) DL 133/2009)
o Ultrapassagem de crédito (artigo 4º/1/e) DL 133/2009)
· Natureza (ou estrutura) da abertura de crédito:
o Negócio inicial dá origem a um direito potestativo de simples
execução e gera-se mútuo
78
o Negócio prévio com o banco (crédito pessoal, abertura de crédito,
etc.)
o Consequência automática
§ Pagamento de cheque sem provisão a que Banco se encontra
obrigado
§ Levantamento ATM offline
§ Lançamento de despesas na conta
· Normalmente é tolerado pelo Banco
· Aplica-se à abertura do mútuo bancário o regime do mútuo bancário
· Não existe direito do cliente; mas a tutela da confiança pode ter aqui um
papel relevante.
5. Antecipação bancária
79
o No mútuo, a antecipação do pagamento impõe a antecipação dos juros
(1147º), na antecipação bancária não
o Na antecipação o pagamento pode ser parcial (vs. no mútuo: 763º/1
CC)
14.12.2021
EXAME:
contratos bancários.
importância da banca e da economia em geral.
simulação de um caso prático (perguntar a matéria que lecionamos – contratos (aplica-se o mutuo ou
não, e que aspetos do mutuo que aplicamos; e a abertura de crédito).
Vai disponibilizar legislação no material de apoio
Outro contrato:
Credito documentário
80
De acordo com o conteúdo do “crédito” assumido pelo banco emitente, podemos
distinguir:
81
O crédito documentário rege-se por um contrato concluído entre o cliente do banqueiro
(ordenante ou mandante) e o banqueiro (o emitente ou emissor). Poderemos falar de
contrato de emissão: estabelece um direito a favor do beneficiário. Tecnicamente, será
um contrato a favor de terceiro (443º e seguintes CC), embora algumas das regras legais
relativas a esse instituto não tenham aqui aplicação. Este contrato de emissão não está
sujeito a qualquer forma.
Apesar de haver uma independência do crédito em relação ao tal negócio base, tal não
significa que o próprio crédito seja uma obrigação abstrata, isto é: subsiste
independentemente da sua fonte.
O crédito funciona mediante a apresentação dos documentos previstos pela carta. Tais
documentos irão ser examinados pelo banqueiro: ou pelo banco nomeado ou, ainda,
82
pelo banco confirmante. Haverá depois que seguir diversas regras exaradas no artigo
14º RUU. Havendo conformidade dos documentos apresentados, o banco deve honrar a
carta (15º). Sendo os documentos discrepantes, o banqueiro pode recusar (16º).
Já no tocante ao crédito stricto sensu: este pode ser transferido nos termos gerais e de
acordo com o Direito aplicável.
Para que serve este contrato? Imagem que uma empresa portuguesa está a comprar
mercadoria a uma empresa no brasil. A empresa portuguesa paga antecipadamente,
correndo o risco dos bens nunca lhe chegarem, ou, a empresa brasileira corre o risco, só
pagando a empresa portuguesa quando lhe chegar a mercadoria. Para uns e outros
deixarem de ter este risco, a empresa portuguesa vai junto do seu banco (o banco de que
é cliente) e contrata com ele que esse banco dê uma ordem – uma carta de credito – em
que o banco fica obrigado a pagar ao vendedor uma determinada quantia quando lhe
forem apresentados determinados documentos (de recebimento da mercadoria e
conformidade da mesma)
Sobre o contrato:
1. Função de pagamento
2. Na contratação mercantil internacional também cumpre a função de garantia
3. Pode ser revogável (se o ordenante poder anular) ou irrevogável
4. É um contrato atípico e nominado
5. O regime do credito documentário decorre essencialmente de regras e usos
uniformes relativos a créditos documentários – CCI
83
O ponto de partida é a relação de cobertura é uma relação de credito, sendo por isso,
emitida, carta de credito para o beneficiário, sendo este credor em função deste contrato
que foi celebrado. O comprador para dar a ordem tem de ter uma relação subjacente ou
de valuta. E depois há uma relação do banco com o beneficiário que tem autonomia
porque o banco vai pagar ao beneficiário nos termos e condições que constam da carta
de crédito. Se esta condicionar o pagamento ao facto x, este só paga verificando-se a
condição. Mesmo que a relação subjacente e a relação de cobertura seja invalida, a
autonomia entre o banco e o beneficiário não é afetada.
84
Incumprimento entre o banco e o beneficiário se o banco se recusar a pagar.
Ela permite, aos banqueiros, conceder crédito e colocá-lo no mercado mobiliário. Com
isso evitam o risco do inadimplemento do devedor (donde a “securitização”) e
conseguem, de imediato, novos fundos para operações de créditos subsequentes.
Podem ceder créditos para efeitos de titularização, o Estado e demais pessoas coletivas
públicas, as instituições de crédito, as sociedades financeiras, as empresas de seguros, os
fundos de pensões, as sociedades gestoras de fundos de pensões e as pessoas coletivas
cujas contas, nos últimos 3 anos, tenham sido certificadas por auditor registado na
CMVM (2º/1).
Quanto aos créditos cedíveis: segundo o artigo 4º/1, sempre do DL nº 453/99, eles
devem, cumulativamente, reunir os seguintes requisitos: (i) a transmissibilidade não se
deve encontrar sujeita a restrições legais ou convencionais; (ii) devem ter natureza
pecuniária; (iii) não se encontrando sujeito a condições; (iv) não serem litigiosos e não
se encontrarem em garantia nem judicialmente penhorados ou apreendidos.
85
O terceiro e quarto requisitos não são exigíveis aos créditos do Estado e da segurança
social (4º/2). Os créditos cedíveis podem ser futuros, desde que emergentes de relações
constituídas e de montante conhecido ou estimável (4º/3).
A eficácia da cessão depende, nos termos gerais, da notificação dos credores (6º/1 a 4).
A cessão pode ser celebrada por documento particular (7º/1). Os créditos sucedidos para
titularização têm, ainda, regras que asseguram a sua solidez: perante a pauliana e em
face de situações de insolvência (8º).
86
Veja-se o artigo 5.º
Com a titularização dos créditos, acontece uma alteração, o banco era credor, e como
credor que era fazia a gestão do seu credito, e quando cede o credito (faz a
titularização), nos termos do artigo 6.º vai continuar a gerir o credito. Ele que era o
credor passa a ser o gestor do crédito, mas cedeu-o. Para nos que somos os devedores do
credito, tem uma grande implicação: não vamos notar nada. O banco é o mesmo. ainda
mais, o artigo 6.º diz que a eficácia da cessão (…) (n.º 1), e veja-se o n.º 4. Esta ultima
norma torna a cessão de créditos para titularização totalmente opaca.
A cessão de créditos para titularização só pode (artigo 8.º) ser objeto de impugnação
pauliana verificando-se (…), ou seja, o regime do CIRE que visa a tutela de credores em
caso de insolvência não se aplica. O legislador não só facilitou a titularização de
créditos, deixando-a incógnita, como isenta essa cessão de aspetos relevantes do regime
da insolvência.
DESCONTO BANCÁRIO
O banco vai entregar ao descontário o montante do credito que lhe está a ser
transmitido, descontando no montante que entrega o valor das suas comissões e dos
juros. A (cliente do banco) tem um credito de 1000 sobre B, mas esse credito só se
87
vence daqui 1 ano, e o senhor A dirigisse ao banco e vai descontar a letra, passando para
o banco a titularidade do direito, e o banco vai lhe entregar os 1000 descontando a
comissão e juris compensatórios.
Modalidades:
Qual a sua natureza? Mutuo? Misto (mutuo com datio pro solvendo)? Contrato atípico
sui generis?
O banco enquanto portador da letra, pode exigir o pagamento ao seu cliente. Quando faz
o desconto bancário, ele transmite a posição de credor cambiário ao banco, com isto,
pode exigir o pagamento. Mas tem de demonstrar que apresentou a letra para pagamento
do aceitante? Com protesto?
Crédito ao consumo
88
o Créditos de baixo valor (inferior a 200 euros)
o Créditos de elevado valor (superior a 75 000 euros) (salvo se contrato
sem garantia hipotecária sobre imoveis para realização de obras) (nº5)
o Locação de bens móveis de consumo duradouro sem direito ou obrigação
de compra (no próprio contrato ou em separado)
o Contratos sem juros ou outros encargos
o Contratos de prazo muito curto (3 meses) com “encargos insignificantes”
(a questão atual das taxas de juro)
Limitações objetivas parciais (apenas parte do diploma é aplicável)
o Artigo 2º/2/3 (facilidade de descoberto e “ultrapassagem de crédito)
o Artigo 3º (acordos para pagamento diferido de contratos em
incumprimento)
Âmbito objetivo:
o Qualquer contra pelo qual um credor concede ou promete conceder a um
consumidor um crédito sob a forma de diferimento de pagamento,
mútuo, utilização de cartão de crédito, ou qualquer outro de
financiamento semelhante (4º/1/c)).
Deveres do credor:
o Publicidade (artigo 5º): exigências de conteúdo da própria publicidade
o Informação pré-contratual (artigos 6º e 8º) – ficha: informação
normalizada europeia. Ela não é necessário que seja concomitante com a
proposta (pode surgir entre o momento intercalar entre a proposta e a
celebração do contrato)
o Assistência ao consumidor (artigo 7º)
o Avaliação da solvabilidade (artigo 10º) (vs. Artigo 16º DL nº
74º-A/2017) (ver Aviso nº 4/2017 BdP, que estabelece procedimentos e
critérios a observar na avaliação de solvabilidade)
o “Forma” (artigo 12º-13º/5) - Parece que temos uma exigência de forma,
mas com um regime de invalidade atípica (só pode ser invocada pelo
próprio consumidor e não determina automaticamente a invalidade – não
gerando nulidade)
Direitos do consumidor (tutela do consumidor)
89
o Direito de revogação (artigo 17º): 14 dias de calendário; não tendo
efeitos retroativos.
o Direito ao cumprimento antecipado (19º) (pré-aviso: compensação se
taxa fixa, mas com valor máximo; proibição de cobrança de comissão de
reembolso).
o Regime de incumprimento (20º)
O incumprimento determina o vencimento antecipado (como no
artigo 934º CC), mas não basta o incumprimento de uma
prestação (é preciso mais do uma) e o valor (mais de 10% do
valor) e concessão de prazo adicional de 15 dias
o O conteúdo mínimo do contrato (12º)
o O regime dos juros usurários (28º): limite e redução automática.
o Ligação entre os contratos de crédito e de compra e venda (18º): a
invalidade/ineficácia do contrato de crédito coligado comunica-se ao
contrato de compra e venda e vice-versa.
Incumprimento ou desconformidade CV ou prestação (18º/3):
quais os direitos do consumidor?
Exceção de não cumprimento
Redução do crédito (transmissão ope legis – 18º/4)
Resolução (transmissão ope legis – 18º/3)
o Invalidade e inexigibilidade do contrato de crédito (13º).
DL n.º 133/2009 (alterado, pela ultima vez pela Lei n.º 57/2020)
Foi apresentada pela CE (em 30.06.2021) uma proposta de (nova) diretiva relativa aos
créditos aos consumidores (está em vigor a Diretiva 2008/47/CE, alterada pela Diretiva
2001/90/EU, pela Diretiva 2014/17/EU e pelo regulamento (UE) 2019/1243
90
Por outro lado, nem todo o credito bancário a consumidores é “credito ao consumo”
para efeitos do DL n.º 133/2009 (ver artigo 2.º). O legislador só trata como credito ao
consumo se estiver dentro de certos limites monetários.
Qual é o âmbito objetivo? Qualquer contrato pelo qual um credor concede ou promete
conceder a um consumidor um credito sob a forma de diferimento de pagamento,
mutuo, utilização de cartão de credito, ou qualquer outro financiamento semelhante
(Artigo 4.º, n.º 1, alínea c)
Deveres do credor:
91
1. Publicidade (artigo 5.º) conteúdo negativo, o que não se pode fazer.
2. Informação pré-contratual (artigo 6.º e 8.º) ficha: “informação normalizada
europeia…
a. Existe uma ficha com informação normalizada. Em toda a parte da UE é
preenchida uma ficha com iguais conteúdos para tutela do consumidor.
Pode ser apresentada na oferta de credito ou previamente. A informação
pré-contratual mas não é necessário que seja concomitante com a
proposta.
b. Informações do tipo de credito, montante do credito, taxa nominal, a
TAGV,
3. Assistência ao consumidor (artigo 7.º)
a. Dificuldade que a norma coloca: estamos a falar de esclarecimento, não
de informação padronizada, assim, estes são prestados de uma forma
individualizada, tendo haver com dúvidas do consumidor, hipóteses que
apresentou, etc. de acordo com a norma (…), se um consumidor vier a
dizer que fez uma pergunta e responderam, mas não houve papel
reprodutível, duradouro, não há prova dos deveres do dever do credor. Se
não for assim, os esclarecimentos que foram prestados podem ser
enganadores, e se não forem escritos não pode isto ser provado
b. A inversão do ónus da prova não é total, é necessário que haja um pedido
de esclarecimento. Se o consumidor não faz questão, é evidente não há
como provar que esclareceu a duvida. Esta inversão deixa do lado do
consumidor a prova das duvidas que colocou e não foram esclarecidas.
4. Avaliação da solvabilidade (artigo 10.º) vs. artigo 16.º DL n.º 74-A/2017 v. o
aviso n.º 4/2017 BdP, que estabelece procedimentos e critérios a observar na
avaliação de solvabilidade
a. Credito responsável – tem de se avaliar a solvabilidade antes da
celebração do contrato de credito.
5. Forma? – artigo 12.º e artigo 13.º, n.º 5
a. Não é evidente se há forma ou não
92
o Direito ao cumprimento antecipado (artigo 19.º) (pré-aviso; compensação se
taxa fixa, mas com valor máximo; proibição de cobrança de comissão de
reembolso)
93
o Limitação dos dados que podem ser considerados na avaliação (apenas
circunstâncias económicas e financeiras; proibição de uso de informação pessoal
disponível em redes sociais)
o Credito só pode ser concedido se a avaliação da capacidade de endividamento
for positiva
o Se a concessão de credito assentar em processamento automático, consumidor
tem direito a explicação clara da decisão
o Combate ao sobre endividamento (educação financeira, aconselhamento)
Garantias
11. Garantias.
A primeira garantia das obrigações é o património do devedor, nos termos do 601º CC.
Trata-se da garantia real.
No campo bancário, há que contrapor: (i) garantias à banca e (ii) garantias emitidas pelo
próprio banqueiro. No primeiro caso, asseguram-se créditos do banqueiro; no segundo,
é o próprio banqueiro que reforça créditos de terceiros, a pedido do seu cliente e
mediante retribuição.
94
De entre as garantias reais tradicionais, o Direito português prevê o penhor: uma coisa
móvel é entregue, em determinada circunstancias, para garantia de uma obrigação.
Trata-se de uma figura civil. E lei comercial admite, por seu turno, o penhor mercantil.
O penhor surge, pois, como figura essencialmente usada no tráfego bancário.
Penhor civil (artigos 623º e seguintes CC): o penhor localiza dentro da lógica
das garantias. Além disso – e embora o penhor seja pacificamente reconhecido
como uma garantia real – fica clara a sua posição acessório, perante o crédito
garantido.
Cabe, apenas, sublinhar alguns dos aspetos do regime do penhor:
669º/1: “Penhor só produz os seus efeitos pela entrega (…) ao credor ou
a terceiro”
694º (aplicável ex vi artigo 678º): proíbe os pactos comissórios (“É nula,
mesmo que seja anterior ou posterior à constituição da hipoteca, a
convenção penal qual o credor fará sua a coisa onerada no caso de o
devedor não cumprir”). Trata-se de uma proibição material: ela atinge os
mecanismos que, na prática, consignam precisamente o que a lei quis
proibir. Por redução teleológica, poder-se-ia, no entanto, admitir a
possibilidade de pacto marciano, isto é, do acordo pelo qual o credor
garantido pode promover a venda da coisa, de modo a realizar o seu
crédito, entregando a demasia ao devedor ou, como alternativa, fazer sua
a coisa e, após avaliação, restituir, ao devedor, o sobrevalor. Dado o
escopo da lei, o Professor MC afigura tal situação como uma via a
afastar.
O regime comum do penhor serve, hoje, apenas e na prática, como referencia geral. Um
primeiro regime a considerar é o do penhor comercial. Este surge quando a dívida
garantida proceda de ato comercial – 397º CCom. A grande especialidade do penhor
mercantil/comercial reside no dispositivo do 398º CCom: como se vê, a entrega efetiva
da coisa empenhada vem a ser dispensada no penhor mercantil.
95
11.3. Garantias Financeiras (DL nº 105/2004)
As garantias financeiras abrangem, em rigor, duas figuras típicas: (i) penhor financeiro e
(ii) fidúcia financeira.
Noção possível de garantia financeira: é uma garantia real, sob a forma de penhor ou de
fidúcia, concluída entre uma instituição de crédito ou entidade para o efeito equiparada
e uma pessoa coletiva, destina a assegurar obrigações pecuniárias ou instrumentos
financeiros, que recaiam sobre “numerário” e que as partes tenham decidido submeter a
um regime financeiro especial, legalmente previsto.
96
À partida, teríamos um penhor comum – 666º e seguintes CC – que ganha natureza
financeira mercê dos seus sujeitos, da obrigação garantida, do objeto do penhor, da
vontade das partes e dos outros elementos do regime.
De todo o modo, o regime do penhor civil serve, sempre, de referencia. De resto, esta
solução resulta do artigo 22º DL nº 105/2004.
Os pactos comissórios permitem que, havendo uma garantia pignoratícia, o credor faça
pura e simplesmente sua a coisa objeto, na hipótese de incumprimento. As razoes que
permitirão, aqui, os pactos comissórios, são as seguintes:
97
o Os credores são entidades responsáveis, sujeitas a supervisão prudencial e à
opinião publica;
o Estão em causa objetos com valor objetivo e determinado pelo mercado;
o Jogam-se coisas fungíveis, sem valor estimativo pessoal.
Garantias prestadas por bancos (profissionais – surgem num contexto diferente) são
diferentes das garantias prestadas a favor de bancos (reforços da posição do credor).
98
Fiança
A fiança tem a caraterística da acessoriedade (artigo 627.º, n.º 2): moldada pela divida
principal. Tem uma dependência:
99
Em rigor, não é fiança (que até pode não existir, porque as partes podem afastar). Pode
não ser garantia…
Garantias autónomas
100
Estrutura contratual:
Cartas de conforto
1. fiscais (não paga selos, as garantias estão sujeitas a imposto de selo, estas não
estão);
2. de balanço (em tempos, isto não fazia parte do balanco, eu emito uma carta de
conforto, não declarando financeiramente);
3. não interferem com a prestação
4. nos grupos de sociedades, mantêm a exigência de gestão sobre as participadas
Presume-se a juridicidade? De que vale uma carta de conforto? Há quem defenda que se
deva presumir a sua juridicidade, o que não significa que constituam sempre garantia do
credito em sentido técnico. Tendo, é um contrato unilateral.
As cartas fracas (de conforto fraco), têm um conteúdo meramente informativo, não são
obrigações, são apenas declarações de ciência. Estas cartas, de fraco conforto podem
gerar responsabilidade pré-contratual
101
As cartas médias (de conforto médio), têm um conteúdo de declarações de vigilância,
influencia, empenho, o declarante assume obrigações de meios, de facere.
As cartas fortes (de conforto forte), asseguram que será cumprida a obrigação. Estas,
sim, constituem uma garantia (obriga-se a dotar o devedor das condições para cumprir
(por isso não é uma garantia direta)). Assume-se uma obrigação de resultado.
Penhor
Portanto, o penhor reporta-se ao saldo da conta (defende-se, por isso, que não se
trata de um penhor – direito real de garantia -, mas sim uma garantia pessoal, uma
fiança, de valor limitado ao saldo.
Penhor rotativo – por acordo, o autor do penhor pode ir substituindo bens de igual valor,
sendo o mesmo penhor.
102
O penhor financeiro é uma garantia real, sob a forma de penhor, de fidúcia ou de
reporte, concluída entre IC e uma PC, destinada a assegurar obrigações pecuniárias ou
instrumentos financeiros que recaiam sobre numerário.
103