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Direito Comercial I – MCJF

Autora: Hélia Costa


Regência: Professor Doutor Pedro Maia
Funções instituição bancária e do mercado de capitais

 Meio de pagamento (não é uma função do mercado de capitais)


o Cartão de credito
o Cartão de débito
o Cheque
 Aforro  investimento (rácio de transformação) (função dos dois)
o Nos bancos tenho de restituir e pagar juros
o No mercado de capitais não. Sou até remunerada com dividendos e mais-valias, caso os haja. A
canalização de aforro para investimento no mercado de capitais consubstancia o mercado primário
da oferta pública inicial. E a transação de valores mobiliários entre quem contra e quem vende
consubstancia o mercado secundário
 Avaliação dos projetos
o Nos bancos há que conceder empréstimos a quem apresenta um melhor projeto
o No mercado de capitais há uma avaliação dos projetos empresariais, pela informação sobre os seus
ativos.

Notas:

- Os depositantes são credores do banco.

- Câmara de compensação

- Liquidez dos bancos – capacidade em cumprir as suas obrigações. Excesso de liquidez  obrigação de depositar
no BCE.

Regulação e supervisão

A regulação e a supervisão existem pela acumulação de capital e alocação de recursos financeiros que estão
subjacentes ao processo do desenvolvimento económico. O objetivo principal das 2 formas de controlo de que
tratamos justificam-se pela prevenção de um risco sistemático, que poderá afetar de forma negativa a economia.
Note-se que, o risco sistemático está associado, geralmente, a uma externalidade, com impacto ao nível da
economia.

- Em sentido estrito regulação significa a criação de nomas para o exercício de uma atividade; e supervisão é a
verificar se as normas jurídicas estão a ser cumpridas, havendo uma supervisão prudencial  relacionada com
possíveis solvências das instituições financeiras e garantir a solidez financeira das mesmas; comportamental 
relacionado como a forma com que é conduzido o negócio pelas instituições financeiras junto dos clientes, por
exemplo, a divulgação obrigatória de informações, etc, macro supervisão e micro supervisão.

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Objetos da supervisão: melhorar o desempenho dos mercados (note-se a divergência quanto a isto: a visão liberal,
afirma que o mercado é sempre eficiente, não sendo necessário, por isso, regulação; e há quem entenda que, não é
aconselhável o mercado funcionar bem pois isto causaria um sistema capitalista, o que não almejável). Não
obstante, para melhorar o desempenho dos mercados, é necessário:

o Para um mercado funcionar eficientemente é necessário haver informação, tempestiva e perfeita. Podem
acontecer, não obstante, assimetrias de informação  lemon effect: refere-se a uma forma de seleção
adversa em que existe uma degradação da qualidade dos produtos vendidos no mercado devido à assimetria
na quantidade de informação disponível para compradores e vendedores. Uma vez que os vendedores
normalmente sabem mais sobre quaisquer defeitos nos produtos que vendem aos compradores, existe uma
oportunidade para os vendedores no mercado venderem produtos de baixa qualidade a compradores
desprevenidos.

No mercado de capitais, o investidor enfrenta a possibilidade de a outra contraparte estar mais bem
informada, o que constitui um desincentivo a investidor, diminuindo, consequentemente, o bem-estar de
todos os investidores, funcionando, por isso, como um custo de transação. Um exemplo claro sobre a
questão é no mercado primário da oferta pública inicial, onde, claramente, o vendedor das ações está em
vantagem face ao comprador. Sobre tal questão importa diferenciar os diferentes bem que existem: os que
se conhecem antes (search goods), os que apenas se conhecem com o consumo (experience goods) e, os
produtos financeiros, que não se conhecem nem sequer com o consumo (credence goods), que assentam na
confiança.

o Retifica falhas de mercado, identificando, as peças com relevância sistemática (havendo, neste caso, uma
regulação macro prudencial), prevenindo o efeito dominó, estabilizando o sistema financeiro.
o Previne o crime financeiro

VEJA-SE REGULAMENTO 1093/2010, que cria o sistema europeu de supervisão financeira.

Orientações para a regulação:

Incentivar a eficiência do sistema financeiro é um dos objetivos primordiais da regulação, devendo para isso
minimizar as barreiras à entrada no sistema financeiro.

Outro objetivo é estimular a concorrência, e isso implicará a existência de regras para controlar a estrutura e
competição dos mercados, também terá como vantagem a introdução de comportamentos de moral hazzard, que
resultam do facto dos investidores terem confiança para assumir os riscos, dado que existem normas para o
exercício da atividade,

A orientações para prosseguir os seus objetivos são as que se descrevem infra:

1. A adequação de capital: os bancos têm de ter capitais próprios (core tiere 1) – estabelece um nível mínimo
de capital que as instituições devem ter em função dos requisitos de fundos próprios decorrentes dos riscos

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associados à sua atividade e instrumentos financeiros bastantes estáveis (core tiere 2). Note-se que quanto
maior é a diferença entre capitais próprios e os empréstimos concedidos pelo banco maior é o risco.
Quando o banco tem o crédito concentrado há maior risco.
2. Requisitos de liquidez: primeiramente, os Bancos terem liquidez significa que podem, a qualquer
momento, transformar crédito por um fundo monetário, ou seja, a liquidez é a disponibilidade, em cada
momento, para se transformar um ativo não liquido num ativo liquido, sem perda de valor
3. A existência de mutuante de ultimo recurso: há imparidades quando o valor real de um ativo da empresa é
menor do que o valor que está registado na respetiva contabilidade, o ativo pode perder valor, mas,
contabilisticamente, está registado com o valor antes da perda. Nessas situações é necessário corrigir o
valor do ativo, reduzindo-o. Assim, as perdas por imparidade consistem na redução do valor contabilístico
de um ativo, de modo a evidenciar uma perda, potencial ou efetiva, de parte ou da totalidade do seu valor
real. As imparidades são provocadas por eventos internos ou externos à empresa, sendo necessário que a
empresa as registe, mesmo que não sejam deduzíveis. Aquelas que são deduzíveis encontram-se nos artigos
28 e ss. CIRC
4. O fundo de garantia de depósitos protege os depositantes, e por forma, responsabiliza os bancos pelas suas
“loucuras” o fundo é por eles financiado.

Funções do banco:

1. Transformam liquidez. A liquidez de um banco é a sua capacidade para cumprir obrigações. Os ativos dos
bancos proporcionam liquidez, sendo essa liquidez o seu passivo. Os bancos têm a possibilidade de fazer
empréstimos ou investimentos em valor superior ao valor dos depósitos sob sua guarda, desde que,
mantenham como reserva uma determinada fração desses depósitos (imposto em termos legais) 
fractional reserve banking.
2. Transformam maturidade. Os créditos que o banco tem são de longo prazo. Transformam o curto prazo em
longo prazo.
3. Transforma crédito, através do montante recebido pelo banco, onde o seu risco é concentrado, através dos
empréstimos que concede, diversifica esse mesmo risco, pois atribui o empréstimo a diversificadas pessoas.

A relação jurídica bancária.

CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA explica a natureza da relação entre o banqueiro e o seu cliente da seguinte
forma: existem dois polos, a teoria da relação obrigacional legal, onde não existe um dever primário de prestação,
fundando-se os deveres gerais de proteção nos contratos que sejam efetivamente celebrados; e a teoria do contrato
bancário geral, segundo a qual a relação geral bancária tem fonte contratual – e de onde o contrato bancário surgiria

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com a aceitação das clausulas oferecidas pelo banqueiro – e tem a natureza de contrato-quadro, projetando-se na
conta corrente.

Entre o banqueiro e o seu cliente, em regra, não ocorre um único negocio jurídico, existindo, variados e complexos
negócios jurídicos. Por isso, a questão sobre a natureza desta relação bancária é colocada. Será um contrato
bancário geral? Como a mais marcante doutrina defende? Esta relação bancária assim vista teria a virtualidade de
provocar o aparecimento de novos contratos, daqui que, poderia ser considerado um contrato de angariação de
negócio, um contrato promessa ou um contrato normativo. Colocamos um problema à teoria: parece complicada a
articulação entre o contrato bancário geral e os diversos contratos singulares que, depois, fossem concluídos. Num
extremo, estes contratos singulares não seriam sequer verdadeiros contratos, consubstanciando, apenas, simples
instruções dadas pelo cliente.

Há poucas normas respeitantes à relação banco/ cliente  veja-se os artigos 74.º, 75.º e 77.º ss. RGIC.

Note-se que este contrato-quadro não tem de criar obrigações para ambas as partes, e não tem de ser autónomo,
podendo o mesmo ser tácito. Note-se ainda, e já dada a abordagem, que este contrato pressupõe uma relação de
confiança com o cliente – estamos perante um contrato de proteção de interesses. No entender de PEDRO MAIA é
um contrato de prestação de serviços, em que o banco se obriga a estar disponível ao cliente para a celebração de
negócios bancários. A invalidade da constituição de um contrato singular não afeta a validade do contrato geral
bancário e vice-versa, e a extinção do contrato bancário geral não implica a extinção dos contratos singulares.

Deste contrato geral bancário derivam deveres para o banco, deveres acessórios.

1. Dever de sigilo: diz-se que a obrigação de sigilo ou de segredo o dever de não revelar determinados
conhecimentos ou informações, sejam ele adquiridos pelo cliente ou nao. Trata-se de um dever de non
facere, mas pode ter um conteúdo positivo (fechar portas, guardar documentos, etc.), e incinde também
sobre o que o cliente não contratar. No campo contratual o dever de segredo é um dever acessório,
cominado pela boa-fé (artigo 762.º, n.º 2 CC). E segundo MENEZES CORDEIRO aproxima-se do direito à
intimidade sobre a vida privada.
2. Dever legal de segredo: artigo 78 ss. RGIC. A doutrina e a jurisprudência têm reconhecido como bem
jurídico tutelado no dever de segredo o direito à reserva da intimidade da vida privada (artigo 26.º CRP), o
que justifica a integração do crime de violação de segredo, nos crimes contra a reserva da vida privada
(artigo 195.º CP). a situação económica do cidadão está espelhada na sua conta bancária. MENEZES
CORDEIRO ainda afirma que um dos bens a serem protegidos pelo segredo bancário é a própria
integridade moral das pessoas (artigo 25.º CRP), já que a sua revelação poderá ser fonte de troça ou de
suspeição. Para além disso, como firmado pela jurisprudência visa salvaguardar o interesse publico no
correto e regular funcionamento da atividade bancária.
a. Em relação às exceções – n.º 2: a autorização do cliente deve ser expresso, não sendo suficiente a
vontade hipotética
3. Dever geral de informação e assistência: artigo 77ss. RGIC

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4. Dever de não atuar em conflito, ou seja, deve o banco zelar pelos interesses do cliente

Deste contrato geral bancário derivam deveres para o cliente

1. Prestar informações verdadeiras


2. Evitar o uso indevido ou ilegal da conta
3. Facultar, em devido tempo, documentos
4. Dar instruções claras
5. Conferir o extrato

Uma outra doutrina é a que encara a relação bancaria – com base legal, e não contratual, como a anterior, como
constituída por vários negócios, que se vão celebrando entre as partes, cada um deles autónomas em relação aos
demais. Nesta linha, entende-se que não existe uma relação contratual entre o banco e o cliente, antes uma simples
relação de confiança a partir do “contacto negocial” vertido na “relação de negócios” que se estabelece entre
ambos, sendo os deveres daí resultantes meros deveres legais.

Surge a doutrina da relação legal, base de responsabilidade pela confiança . Aqui, as partes, quando compactuam
uma obrigação comum assumem, perante a outra, determinadas prestações – prestações primárias. Mas para além
disso, a regra da boa fé implica que elas fiquem adstritas a certos deveres de cuidado e de proteção, de modo a que
não sejam provocados danos nas respetivas esferas. Uma relação bancária, complexa, pode efetivamente analisar-se
numa relação obrigacional sem um dever de prestar principal, mas isso não significa que não tenha base contratual.
Desde o momento em que o cliente e o banqueiro concluam um primeiro negocio significativo estabelece-se, entre
eles, uma relação social e económica, que tenderá a ter continuidade. Ambas as partes terão deveres de conduta,
derivados da boa-fé, de usos e de acordos por eles celebrados. Todos esses deveres surgem num conjunto que uma
unidade económica social e evidente: há uma relação bancaria continua. Assim, firma-se que a relação bancaria
geral é uma clara obrigação duradoura, em que o seu cumprimento se prolonga no tempo, e em que o cumprimento
se processa em termos constantes, não extinguindo a sua obrigação (ao contrario das obrigações instantâneas, em
que o seu cumprimento surge como causa de extinção). Uma vez que não se extinguem pelo cumprimento, as
obrigações duradouras, são sensíveis à denuncia. Quando estamos perante obrigações duradouras de duração
indeterminada, quando as partes nada disseram sobre a renuncia e quando não é reconhecida nenhuma figura legal,
como se opera? Ou seja, não poderão existir obrigações perpétuas por contrariar a regra constitucional da liberdade
de atuação, mas a livre denunciabilidade de relações duradouras poderá atentar contra legitimas expetativas de
continuação e estabilidade pelos contratos. Assim, na existência de relações perpetuas poderá, in concreto,
defrontar os valores fundamentais do ordenamento, veiculados pela ideia de boa-fé. O direito português, justamente
através do instituto da alteração das circunstancias, tem meios para intervir. O desenvolvimento anterior tem uma
clara aplicação à relação bancária complexa – ou, se se quiser, ao contrato de abertura de conta de que ela promane.
A relação bancária não se extingue pelo cumprimento, antes se vai reforçando com ele. Uma vez concluída, ela
subsiste indefinidamente. Com o decurso do tempo, o banqueiro irá ficar com um conhecimento alargado da vida
patrimonial e pessoal do seu cliente. Resulta, daí, toda uma confiança, que as partes devem respeitar. A área

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“pessoal” da relação bancária complexa não deve ser “invalidade” pelo Direito. A este compete, todavia,
acompanhar o fenómeno, atuando nos casos de abuso manifesto da confiança assim criada. E isto pode suceder a
favor de qualquer das partes.

Razões da autonomia do direito bancário

Os bancos têm um regime especial dada as suas caraterísticas, tao diferenciadas, resultantes, essencialmente, da
evolução legislativa pós crise e da controvérsia da governance bancária, face às outras sociedades, já que:

1. São empresas extremamente alavancadas: a atividade que ela exerce é financiada, essencialmente por
créditos de terceiros. Os capitais próprios são residuais. Alavancagem é relação mais que proporcional
entre as perdas ou ganhos resultantes do investimento e a variação do preço do ativo subjacente ou do
indexante. Resulta de um processo através do qual um investidor amplia os ganhos e as perdas potenciais,
aumentando, consequentemente, o risco. Este processo pode ser desencadeado pelo próprio investidor,
investindo mais do que os seus recursos próprios (através da obtenção de capital emprestado), ou por via de
instrumentos financeiros derivados, obtendo o mesmo efeito na medida em que à partida apenas é exigido o
desembolso de uma parte – isto é, uma margem – do montante total do valor do investimento a que o
investidor fica exposto.
2. O ativo dos bancos é extremamente opaco: e esta opacidade é de origem legal. De forma sumária o ativo de
um banco são os créditos que o banco recebe em virtude de empréstimos, e o passivo, o aforro dos
depositantes.

E isto fez com que fosse necessárias regras de governação que correspondessem a isto:

1. Existem linhas de defesa do banco: não se pode colocar no administrador todo o poder.
a. Existe uma primeira linha de defesa dos bancos, que são os seus funcionários, e estes, sim,
recebem ordens da administração
b. Mas para garantir a independência criou-se o compliance e a linha do risco . O compliance como
veremos visa alinhar as praticas de organização às leis e regras existentes, e muitas vezes a
compliance sobrepõe-se às regras dos administradores por forma a evitar conflitos de interesses.
Quanto à matéria do risco, se esta não estiver definida, o funcionário da agencia concederia
empréstimos, sem filtros. Para isso não acontecer existe a linha do risco, que aprecia o risco, e é
independente da administração.
c. Em ultima linha encontramos a auditoria que fiscaliza, em ultima linha, a atividade de todos e é,
obviamente, independente da administração

Note-se que, o compliance, a linha de risco e a auditoria são obrigatórias no sistema de controlo interno bancário,
não é uma opção da gestão da administração. Questiona-se por isso, se não deveriam ser um órgão da sociedade.

Princípios do direito bancário material:

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Antes de mais, o direito bancário é um direito privado especial e especial, estando marcado na sua origem como um
direito das empresas (direito comercial), e posteriormente, como o um direito do cliente, do consumidor. É
dominado pela autonomia privada, e sujeito ao artigo 405.º CC. É demarcado pela pluralidade de fontes, sejam
nacionais, internacionais, sejam tratados, normativas, regulamentos, ou diretivas delegadas (guidelines).

1. Autonomia privada
2. Liberdade contratual
a. Liberdade de não celebrar contratos – mas veja-se DL.º 27-C/2000, de 10 de março  serviços
mínimos
b. Liberdade de celebrar o contrato  limite DL.º 74-A/2017
c. Liberdade de definir o conteúdo de contratos típicos, atípicos e inominados  DL n.º 211-A/2008
3. Liberdade de forma: afirma que o direito bancário segue a regra da liberdade de forma constante do
disposto no artigo 219.º CC, mas como MENEZES CORDEIRO afirma a desformalização dos atos
bancários é contraditada pelas necessidades de rapidez e de segurança que reinam nesse setor. A prática das
clausulas contratuais gerais conduz a uma reformalização da vida bancária, numa tendência agravada pela
necessidade de, rapidamente, com eficácia e sem dúvidas, produzir prova dos atos celebrados. Tal prova
colocaria imensos problemas quando se reportasse à pratica oral de atos. Os compromissos bancários
tendem a ser celebrados por escrito, pelas razoes apontadas. Veja-se o disposto no artigo 77.º do DL n.º
289/92, especialmente nos seus artigos 2.º, 5.º e 6.º. Será que há mesmo um princípio geral de
consensualidade plena no direito bancário?

Contrato de abertura de conta:

Aceitando ou não a tese da existência de um contrato geral ou, embora sem desenvolvimento legal, o contrato de
abertura compreende entre os seus efeitos, o surgimento de uma relação bancaria duradoura, operando como um ato
nuclear cujo conteúdo constitui, na prática, o encontro comum dos atos subsequentes. Esta relação, para além do
que as partes exprimam, tem, pelo menos, o conteúdo que lhe advém dos usos e das CCG. As CCG admitem
estipulações em contrario, desde que, acordadas por escrito, entre as partes. Naquilo em que as mesmas forem
omissas, remete-se para os usos bancários e para a legislação bancaria.

O contrato de abertura de conta conclui-se pelo preenchimento de uma ficha, com a aposição de uma assinatura.

O banqueiro pode alterar as CCG, remetendo as alterações ao cliente. Não havendo oposição, dentro de
determinado prazo, a alteração tem-se por aceite.

A abertura de conta prevê um quadro para a constituição de depósitos bancários que o banqueiro se obriga, desde
logo, a receber. Além disso regula a conta corrente bancaria (ficando assente em que a conta, em termos de credito
e débito, é movimentada), e o giro bancário (prevendo-se as regras sobre os movimentos, juros, comissões e
despesas que o banqueiro poderá debitar e sobre os extratos).

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Quanto á sua natureza: segundo MENEZES CORDEIRO dominará a teoria da combinação. De todo o modo, a ser
necessário precisar um centro de gravidade deverá ser reconduzida a uma prestação de serviços, pois é a prestação,
ao cliente, de um serviço bancário que apenas pode ser disponibilizado pelo banqueiro. Existindo lacuna na lei ou
lacuna do contrato, em última instância deverá ser colmatada com recurso ao regime do mandato, nos termos do
artigo 1156.º CC. A questão colocada por PEDRO MAIA é pertinente. Ao ser aplicado o regime do mandato,
aplicar-se-ia o disposto no artigo 1162.º quando à inexecução do mandato ou a inobservância das instruções?
Parece-nos que sim. E a situação inversa? Sem instruções o banco pode agir? Estando o cliente ausente, não o
estando, deve comunicar.  artigo 1163.º CC (em contraposição ao artigo 240 Ccom – o regime dos extratos e o
seu prazo prevalece). Questiona-se também se se aplica o artigo 241.º quanto aos juros: entendemos que não. A
renuncia e a revogação do mandato não justificadas são causa a indeminização (art 245º CCom?): se o exercício for
abusivo, talvez.

Formalidades: artigo 7.º Lei 25/2008

Modalidades:

1. Contas de pessoas singulares


2. Contas de pessoas coletivas

Quanto à titularidade:

3. Conta individual
4. Conta coletiva: há uma contitularidade da conta, podendo ser:
a. Solidária (qualquer um dos titulares pode movimentar sozinho livremente a conta. Aqui pode ter
sido estipulado entre os titulares qual a quota-parte a que cada uma compita. Não se prevendo,
assume-se o artigo 516.º CC, em que se presume que todos os titulares têm idênticas percentagens
sobre o saldo.
i. Note-se que o regime da solidariedade não implica a solidariedade passiva (em termos de
dividas)
b. Conjunta (a conta só pode ser movimentada pelos seus titulares, em conjunto)
c. Mista (alguns dos titulares só podem movimentar a conta em conjunto com outros)
5. Contas fiduciárias: abertas em nome de uma pessoa, mas por conta e no interesse de outra. Só revela se for
isto do conhecimento do banqueiro.
6. Conta escrow: a constituição desta conta é uma segurança para as partes, visto que contratam com um
terceiro idóneo. Escrow é uma garantia prevista em um contrato ou acordo comercial que é mantida sob a
responsabilidade de um terceiro até que as cláusulas desse acordo sejam cumpridas por ambas as partes
envolvidas no negócio. Normalmente, essa garantia é feita na forma de um depósito em dinheiro em uma
conta criada especificamente para isso - uma escrow account, que em português poderia ser traduzida como
“conta-caução” ou “conta de garantia”. Os negociadores escolhem, então, um depositário escrow, que é
uma parte neutra, a quem caberá a custódia da garantia. Normalmente esse agente é um banco, que ficará

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responsável pela administração dos valores depositados, comprometendo-se a cumprir as regras firmadas
no contrato. O escrow costuma ser utilizado em transações de risco, visando minimizar os possíveis
prejuízos. No caso da escrow account, como os bancos cobram taxas pela custódia da garantia, o uso desse
tipo de serviço é mais comum em negociações que envolvem grandes quantias.

Na abertura de conta inclui-se, como primeiro elemento necessário, um conjunto de regras atinentes a uma conta
corrente:

1. Conta corrente bancária: implica uma obrigação assumida pelas partes de manter uma relação de negócios
sob a forma contabilística de uma conta corrente e permite consignar determinados valores à satisfação de
certos débitos. Para além disso, ambas as partes poderão, reciprocamente, ficar na situação de credor e
devedor.
2. Giro bancário: conjunto de operações escriturais de transferências de fundos, realizadas pelo banqueiro, a
pedido do seu cliente ou a favor dele. Pressupõe a existência de uma abertura de conta com a inerente conta
corrente bancária.

Deveres que emergem para o banco

1. Dever de registar de forma precisa, ordenada, rigorosa e pontual e atual os movimentos a crédito e a débito
2. Dever de receber depósitos, mas o banco tem casos em que tem de dever de recusar operações ou de as
comunicar.
3. Dever de realizar transferências
4. Dever de prestar informações
a. O extrato bancário é uma projeção deste dever
5. Dever de efetuar certas comunicações ao cliente, até porque há uma relação de confiança

Deveres que emergem para o cliente

1. Dever de remunerar o pagamento, de acordo com o precário de serviços (comissões)


2. Dever de não gerar voluntariamente saldo negativo na conta, se este não estiver contratado
3. Dever de não se servir da conta para branqueamento de capitais

A conta pode excluir-se por:

Denuncia (do cliente); acordo das partes; e resolução (casos de branqueamento de capitais – artigo 50.º, n.º 3, alínea
b) da lei 83/2017.

O extrato – AVISO DO BDP N.º 4/2009 (VER)

Quais os seus efeitos jurídicos? Existindo um erro. Há quem entenda que decorrido o prazo, há uma aprovação
tácita da exatidão, aplicando-se analogicamente o regime dos artigos do mandato, presentes no Código Civil 
artigos 1156.º, 1161.º, alínea d), e 1163.º

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Há também quem entenda que depende. O efeito tácito de aprovação concerne à aprovação da existência da causa
do movimento, mas não quanto ao seu valor, uma vez que a conta corrente só impõe determinação do saldo a final
(artigo 349.º Ccom.). Aqui, podemos discutir o montante até ao final do contrato, mas ressalve-se, apenas o
montante e não a causa do movimento.

Ainda há entenda que dependa, mas configurando as situações de diferentes formas: se estamos perante uma
inscrição na conta declarativa ou constitutiva, sendo a sua principal diferença a posição que o banco assume no
contrato. Se este estiver como terceiro, ou seja, recebeu uma instrução do cliente ou em beneficio deste, deverá
produzir o efeito do acordo, e aqui, novamente, da causa do movimento, e não do seu montante. Existindo uma
inscrição constitutiva, onde o banco se afigura como contraparte (quando, por exemplo, debita comissões), entende-
se que durante toda a pendencia do contrato há lugar a reclamação.

Compensação de créditos

O que é a compensação  ARTIGO 847/1 CC

A compensação no direito bancário decorre da relação bancária geral, e pode ser convencionada, o banqueiro e o
cliente podem acordar, previamente, a realização de operações de compensação, salvaguardando-se, naturalmente,
as regras imperativas a eles apostas. Mas esta compensação previamente convencional é uma boa solução, pois
previne litígios e, em termos de economia processual, é útil. Note-se, porém, que a compensação pode operar
implicitamente, derivando do próprio funcionamento da conta corrente, ou da própria abertura de conta, por
exemplo. Aliás, o próprio Código Comercial, no seu artigo 346.º, n.º 3 refe que a compensação é um dos efeitos da
conta corrente comum.

 Compensação em contas diferentes do mesmo titular

O cliente do banqueiro pode sempre dispor, mediante ordem dada àquele, para que este proceda à compensação,
mediante declaração (artigo 848.º, n.º 1 CC).

Mas será que o banqueiro poderá fazê-lo autonomamente, efetuando movimentos de uma conta para a outra?
Primeiramente, depende. Se estiver estipulado no contrato de abertura de conta as condições em que os banqueiros
podem efetuar movimentos inter-contas, talvez possam, se a compensação, dessa forma, for permitida. Significa
isto que, na falta dessa clausula, o banqueiro não pode operar movimentos entre contas, de modo a fazer funcionar
a compensação automática própria da conta corrente.

O banqueiro é devedor do saldo que o cliente apresente na conta, e este pode a todo o tempo exigi-lo. O banqueiro,
no entanto, tendo um crédito sobre o cliente, poderá fazer operar a compensação, tendo, no entanto, de dirigir uma
declaração nos termos do artigo 848.º CC.

 Débitos avulsos do titular de conta

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Existindo um crédito avulso do banqueiro sobre o seu cliente, isto é, um crédito que não inserisse ad initio numa
conta corrente, poderá operar a compensação entre o saldo do cliente e esse credito? Verificadas as condições do
artigo 847.º CC nada impede, mas MENEZES CORDEIRO, o cliente do banqueiro deve ser informado, nos termos
do artigo 848.º CC sobre tal compensação, informando-o acerca da existência do seu débito, da sua origem e o tipo
de calculo que foi realizado.

 Depósitos com regimes diferenciados

Existindo regimes de depósitos contratuais diferenciados, em princípio, dado o requisito da alínea b) do artigo
847.º, n.º 1, não será possível operar a compensação dada a falta do requisito de homogeneidade.

No que respeita ao depósito a prazo, o banqueiro pode usar o correspondente crédito para efeitos de compensação,
sem condicionalismos, logo que o prazo tenha vencido e pagando antecipadamente os juros, antes do vencimento
(artigo 1147.º e 1206.º). Mas pode o banco antecipar o vencimento? Há quem entenda que sim, e grande parte da
doutrina vê no depósito a prazo um verdadeiro mútuo, sendo, por isso, que MENEZES CORDEIRO afirma que,
apesar de estarmos perante um deposito bancário, haverá que aplicar as regras do mutuo, na medida do possível
(artigo 1206.º)** DIVERGÊNCIA SOBRE SE DEPÓSITO BANCÁRIO É DEPÓSITO IRREGULAR. Há
também quem entenda o inverso, o requisito da exigibilidade não está preenchido, não sendo possível, por isso,
operar a compensação.

 Contas solidárias

Existindo uma conta solidária, qualquer um dos titulares pode movimentar sozinho livremente a conta. Aqui pode
ter sido estipulado entre os titulares qual a quota-parte a que cada um compita. Não se prevendo, assume-se o artigo
516.º CC, em que se presume que todos os titulares têm idênticas percentagens sobre o saldo.

O banqueiro é credor de apenas um dos titulares da conta, pergunta-se, se este pode fazer operar a compensação
com o saldo de uma conta coletiva solidária.

É commumente referido para ter como inadmissível a compensação numa conta solidária o facto que não vigorar o
regime da solidariedade passiva. Para que o banqueiro se possa exonerar perante um único depositante, opondo-lhe
a compensação em virtude de crédito que sobre ele tenha, e escolhendo-o para esse efeito - não havendo,
obviamente, autorização do mesmo - será necessário que essa possibilidade seja expressamente convencionada no
instrumento de abertura de conta, na medida em que o regime da solidariedade não é o regime regra nas obrigações,
nem do ponto de vista passivo, nem do ponto de vista ativo, resultando do art 513º do CC que ele só é aplicável
quando é adotado pela lei ou pela vontade das partes. A razão para assim ser, resulta, afinal, da própria natureza do
depósito bancário que implica a obrigação para o banco de restituição ao depositante, a todo o tempo, do numerário
equivalente, o que significa logo que este o solicite, mas apenas quando este o solicite.

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Direito Comercial I – MCJF

Autora: Hélia Costa


Regência: Professor Doutor Pedro Maia
Questiona-se se sabendo o banco da titularidade dos fundos, se essa mesma titularidade pode revelar para a
compensação? Há quem entenda, decorrente do princípio da boa-fé, que sabendo que os fundos não pertencem (na
grande maioria) ao devedor não poderá creditar.

 Contas conjuntas

A conta só pode ser movimentada pelos seus titulares, em conjunto.

Contrato de depósito

O depósito comum ou regular (artigo 1185 e ss. CC) tem como caraterística principal a custodia ou a guarda, tendo
o depositário o dever de não usar a usar, assegurando a sua conservação material.

Quando a guarda fica sob o dever do banco: juridicamente não existe esse dever, mas decorre do regime do RGIC
que o banco está obrigado a um dever de gestão sã e prudente e de salvaguarda dos interesses dos depositantes –
artigo 75.º.

VER DL N.º 430/91 E AVISO BANCO PORTUGAL N.º 6/2009  MODALIDADES

Não existindo este elemento, o depósito diz-se irregular (artigo 1205.º e 1206.º CC), aplicando-se o regime do
mutuo (artigos 1142º e ss.). Há quem entenda que se trata de uma subcategoria do depósito (PIRES DE LIMA e
ANTUNES VARELA) ou que é uma figura mista, constituindo uma figura do mútuo e do deposito (MENEZES
CORDEIRO), ou consubstancia um contrato de mútuo (JOSÉ DIAS MARQUES). Obsta à qualificação do deposito
irregular como um subtipo de depósito porque não existe o dever de guarda. No deposito irregular as coisas
tornam-se propriedade do depositário que tem só de restituir outras tantas do mesmo género, podendo livremente
dispor daquelas que o depositante lhe tenha entregado. Por esse motivo, não se pode falar num dever de
conservação material das coisas depositadas, com o conteúdo que tem no deposito irregular. MIGUEL PESTANA
DE VASCONCELOS afirma que não se se trata de um verdadeiro contrato de mútuo porque enquanto que no
depósito há uma permanente disponibilidade da coisa por parte do depositante, o mesmo não sucede no mútuo
relativamente ao mutuante, e ainda como afirma LACERDA BARATA o interesse no depósito pertence ao
depositante e no mútuo ao mutuário. MIGUEL PESTANA DE VASCONCELOS ainda rejeita a possibilidade de
qualificar o deposito irregular como um contrato misto, apesar de se reconduzi, por força do artigo 1206.º CC ao
contato de mútuo, a função de ambos é diversa. A questão do pagamento de juros interesse porque dessa forma não
só o depositante tem interesse na guarda e disponibilidade da totalidade da quantia, mas é também o depositário
que tem interesse em poder dispor da mesma. Não obstante, PEDRO MAIA entende que, a diferencia de regime
consoante a existência ou não de juros, é de recursar. Tratando-se de coisa fungível – caraterística do deposito
irregular – existe uma transferência da propriedade (artigo 1144.º), tornam-se propriedade do mutuário pelo facto
da entrega. Há uma transformação de uma situação obrigacional numa situação real, ficando o risco por conta do
mutuário.

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Autora: Hélia Costa


Regência: Professor Doutor Pedro Maia
A questão central é se o depósito bancário é um verdadeiro depósito irregular (ANTUNES VARELA,
MENEZES LEITÃO, CALVÃO DA SILVA), um contrato de mútuo (PINTO COELHO) ou uma figura autónoma
(LOBO XAVIER). Em rigor, o contrato de deposito não é apenas um, mas diversos: depósitos à ordem, a prazo,
com pré-aviso.

 Depósito à ordem: Contrato pelo qual o cliente (ou terceiro) entrega uma quantia pecuniária (moeda
legal ou escritural) a um banco que a inscreve a crédito numa conta (designada na prática bancária
como conta depósito à ordem), obrigando-se a receber outras entregas, também a inscrever a crédito, e
devendo restituir ao cliente, no todo ou em parte, a qualquer momento, o saldo dessa conta, ou
mobilizá-lo de outra forma acordada com ele. Note-se que não há vários contratos de deposito quanto
as entregas, há apenas um. A sua regulamentação está definida no contrato de abertura de conta,
nomeadamente, na sua conta-corrente, de forma simplista, resulta que no contrato de abertura de
conta, composto por CCG é o contrato nuclear donde emerge a relação bancaria duradoura entre a
instituição de crédito e o cliente, e é no seio do seu conteúdo complexo que se integra o contrato de
depósito, que dele depende.

 Depósito a prazo: Os depósitos a prazo são remunerados mediante o pagamento de juros e só são
exigíveis no fim do prazo por que foram constituídos; contudo, as instituições de crédito podem
conceder aos seus depositantes, nas condições acordadas (ou melhor: no que decorrer das cláusulas
contratuais gerais a que o banco recorre), a mobilização antecipada (art. 1.º, n.º 4, do Dec-Lei n.º
430/91, de 2-11), sofrendo penalizações, que consistem, em regra, na perda, total ou parcial, dos juros
devidos. O capital está sempre garantido. MIGUEL PESTANA DE VASCONCELOS afirma que não
há duvidas que o deposito a prazo não mobilizáveis ingressam no disposto do artigo 1147.º CC, sendo
um verdadeiro mútuo, já os depósitos a prazo em que se permite a mobilização antecipada é diferente:
aqui o depositante pretende obter o juro, e a instituição de crédito pretende a disponibilidade dos
fundos. É um contrato de credito atípico.

Operações de crédito

VER DL nº 58/2013, de 8 de maio  CLASSIFICAÇÃO DOS PRAZOS DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO,


AOS JUROS REMUNERATÓRIOS, À CAPITALIZAÇÃO DE JUROS E À MORA DO DEVEDOR

Mútuo Bancário

O mútuo bancário distingue-se do mútuo civil, consagrado no artigo 1142.º, pelo facto do banco (mutuante)
emprestar dinheiro ao cliente (mutuário) ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade, acrescido dos correspondentes juros, sendo que a sua capitalização depende da convenção das partes

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(artigo 7.º do DL n.º 58/2013), sendo a taxa máxima de juros moratórios de 3% (artigo 8.º). Note-se ainda que, as
instituições não podem, com fundamento na mora do devedor, cobrar quaisquer comissões ou outras quantias,
mesmo que a título de cláusula penal moratória (artigo 9.º)

Essa especialidade reside no plano dos sujeitos contratantes (o mutuante é uma empresa bancária), do objeto
contratual (que consiste em dinheiro legal ou escritural, atribuindo ao mutuário a propriedade da quantia mutuada)
e da sua finalidade (o mutuário fica, frequentemente, obrigado a utilizar a quantia mutuada apenas para fins legais
ou contratuais predeterminados).

Basta a mera forma escrita, conforme artigo único do DL nº 32 765, de 29 de abril de 1943, todavia em
determinadas modalidades especiais de mútuo é exigido forma especial.

Veja-se as formas de vencimento: artigo 4º do DL nº 58/2013, de 8 de maio de 2008.

O mútuo tem sido considerado real quoad constitutionem, produzindo os seus efeitos, apenas com a entrega da
coisa mutuada. Porém, se resultar do contrato que as partes quiseram um mútuo consensual, tal não se considera,
por isso, real quoad constitutionem.

Quanto à sua forma é um negócio consensual ou um negocio formal consoante o seu valor (artigo 1143.º CC).

Celebrado o contrato e entregue a coisa – não sendo consensual – o mutuário torna-se proprietário do dinheiro –
artigo 1144.º CC, e fica obrigado, essencialmente, a pagar os juros, quando hajam lugar e a restituir o tantundem
(coisa do mesmo género, quantidade e qualidade), no prazo acordado pelas partes, debitados a partir da conta à
ordem do mesmo. Sendo este oneroso, o prazo presume-se estipulado a favor de ambas as partes, podendo, todavia,
o mutuário antecipar o pagamento, desde que, satisfaça os juros por inteiro (1147.º). Sendo gratuito, e não havendo
estipulação do prazo, a obrigação do mutuário vence-se 30 dias apos a interpelação (artigo 1147.º, n.º 1), podendo,
porém, fazer operar a restituição a todo o tempo, nos termos do disposto no artigo 777.º, n.º 1.

Mútuo de escopo

Consubstancia um mútuo no qual, contratualmente, o mutuário fica adstrito a dar um determinado fim à quantia
recebida. Tendo os banqueiros regras determinadas para a concessão de créditos, os clientes que pretendiam obter
crédito, tinham de apresentar um escopo admissível e comprová-lo.

Garantias do mútuo

Veja-se os artigos 22.º, n.º 1, alínea m) e 15.º e 166.º da LCCG.

 Governats – instrumentos para que o credor possa acompanhar e proteger-se contra a deterioração da
situação do devedor
o Clausulas de negativa pledge – o devedor compromete-se a não prestar garantias a terceiros sem o
consentimento do banco

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o Clausulas pari passu – clausulas que asseguram ao banco, se prestada garantia a terceiro, ao banco
também é prestada essa garantia
o Negative covernants – obrigação do devedor de não alienar bens, nem prestar garantias (não está
em causa a necessidade de consentimento)
o Financial convernats – informações sobre a situação financeira do devedor

Crédito à habitação e crédito hipotecário

VER DL 74-A/2017

Contrato de abertura de crédito

O contrato de abertura é crédito é o contrato pelo qual o banqueiro se obriga a ter, à disposição do cliente, uma
soma em dinheiro, por um dado período ou por tempo indeterminado. Note-se que, há um direito pelo cliente de
utilizar o dinheiro, mas não um dever. Existindo um dever, não estamos perante um contrato de abertura de crédito.
Apesar de não estar regulada, há uma menção expressa no artigo 362.º CComercial, como uma operação de banco.

Este contrato é consensual, e quanto à forma, aplicam-se as regras do mútuo, que exige forma escrita, mas poderá
ser sujeito a forma especial se incluir negócios que o exijam.

NUNO PINTO DA SILVA afirma que o contrato de abertura de crédito é um subtipo de contrato de mútuo
bancário atípico no sentido de que, diverge daquele contrato típico, definir uma quantia exata da coisa a mutuar,
enquanto que no contrato de abertura de crédito não é concretamente definido, apenas sendo imposto um limite à
quantia que pode ser mutuada. No contrato de abertura de crédito há uma quantia plafond que está latente, não
significando que o vá o utilizar. A quantia a que o cliente tem direito vai ser introduzida na conta à ordem associada
ao mesmo. Ao contrário do mútuo onde a quantia exata mutuada é realizada apenas em 1 momento, na abertura de
crédito o cliente pode aceder a um ilimitado número de levantamentos, através da utilização de uma só conta
bancária, na medida em que nunca ultrapasse o “plafond” máximo de empréstimo por ele permitido. No mutuo
bancário há uma creditação de fundos, na abertura de crédito eu tenho 2 coisas separadas: momento em que celebro
o contrato, onde não há disponibilidade de fundos, e um momento em que o cliente exerce o direito, pedindo
fundos. A abertura de credito num certo sentido é uma coisa próxima de uma promessa unilateral de mutuo. O
banco compromete-se a conceder empréstimo, o cliente não esta vinculado a tomar o credito futuro, mas se quiser
toma. Grande utilidade: para gerir caixa.

Pode ser uma abertura de crédito garantida quando tal seja acompanhada de uma garantia, pessoal ou real, ou a
descoberto, quando não o seja.

O descoberto em conta é a situação quando o banqueiro admita um saldo a seu favor, ou seja, existe um saldo
negativo na conta corrente do cliente, podendo esta ser admitida por um acordo prévio com o banqueiro, ou
como consequência automática (pagamento de cheque sem provisão a que o banco se encontra obrigado,
levantamento ATM offline, lançamento de despesas na conta). Muitas vezes é admitida, de modo a facilitar,

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momentaneamente e por um curto espaço de tempo, a tesouraria de certos clientes. Aplica-se o regime do mútuo
bancário.

A cessação de uma abertura de credito dá azo a dúvidas. MENEZES CORDEIRO entende que a solução reside na
regulação contratual, devendo as partes definir contratualmente o termo da operação e as condições da sua
cessação. Não sendo regulado, aplicar-se-á as regras da conta corrente: as regras do mandato quanto à
disponibilidade, as regras do mútuo quando ao saldo. Ou seja, a abertura de credito pode ser simples, podendo o
cliente ir somando, no exercício do seu direito, o crédito e no fim amortiza a totalidade; ou em conta corrente, em
que o cliente exerce o direito para receber determinada quantia e reembolsa esse mesmo valor, e assim
sucessivamente.

Deve, durante todo o processo, existir fluxo de informação, decorrente do princípio da boa-fé, por parte do cliente e
por parte do banqueiro, sob pena de originar-se situações de responsabilidade.

Antecipação bancária

É o contrato pelo qual um banqueiro concede ao seu cliente um crédito, mediante um penhor equivalente de títulos,
dinheiro ou outros bens – existe uma relação de crédito e uma relação de garantia, como refere JOSÉ MARIA
PIRES. Há, de certa forma, um antecipar do pagamento do preço daqueles bens (distinguindo-se por isso de uma
garantia). É, normalmente, caraterizado por se conseguir descortinar um penhor e a entrega de uma quantia de
dinheiro de valor proporcional ao da garantia constituída. Distinguindo-se do mútuo por não pressupor a entrega do
dinheiro, refere MENEZES CORDEIRO.

Discute-se, no entanto, a sua natureza: MENEZES CORDEIRO entende que, é um contrato misto de mútuo e de
penhor de títulos, com preponderância do penhor. PEDRO MAIA entende que não o poderá ser porque se aplica o
artigo 701.º CC, por remissão do artigo 678.º CC, referindo que, no mútuo a antecipação do pagamento impõe a
antecipação dos juros, e na antecipação bancaria não, e nesta última, o pagamento pode ser parcial, ao contrario do
que sucede no mútuo (artigo 763.º, n.º 1). E é possível, na antecipação bancária, o reforça da garantia quando esta
se torne insuficiente porque, como já se disse, a entrega de dinheiro tem de ser proporcional ao valor garantia
constituída.

Crédito documentário:

Consubstancia uma situação jurídica em que um banqueiro (o banco emitente) se compromete, mediante um
negócio unilateral (a carta de crédito) e, perante um seu cliente (o ordenante), a pagar uma certa quantia a um
terceiro (o beneficiário) mediante a entrega, por este, de determinados documentos (a apresentação), regendo-se,
no essencial pelas Regras e Usos Uniformes Relativos aos Créditos Documentários. E, rege-se por um contrato
concluído entre o cliente do banqueiro e o banqueiro, em que subjacente a este contrato está, em regra, um negócio
base. Entre o ordenante e o banco emitente há uma relação de cobertura, sendo emitida uma carta de crédito –
basicamente um contrato, em que constam os direitos do beneficiário e os condicionalismos sujeitos ao crédito
documentário. E entre o ordenante e o beneficiário terá de existir uma relação subjacente. Entre o banco e o

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beneficiário há autonomia: o banco emitente irá pagar ao beneficiário nos termos e condições que constam da carta
de crédito, em que:

o Pode ser um crédito irrevogável, e quando nada se diga, de acordo com os usos uniformes e regras, o é, e
neste caso, o banco emitente deverá dar seguimento à obrigação a que se comprometeu sejam quais forem
as circunstancias; e poderá ser um crédito revogável, em que o banco emitente pode modificar ou resolver
o credito a todo o tempo, devendo, no entanto, notificar o beneficiário acerca de tal circunstância.
o Quando o banqueiro assume o compromisso de efetuar o pagamento de imediato, aquando a apresentação
dos documentos, estamos perante um crédito à vista. Quando o ordenante firme uma data para o
pagamento, operando posteriormente à apresentação, estamos perante um crédito deferido. O crédito por
aceitação pressupõe que o crédito tenha sido incorporado num título (num documento que contém um
direito de crédito e representa a obrigação desta dívida com as informações nele inscrita), sendo este aceite,
nos termos acordados. A letra poderá depois ser descontada, nos termos gerais. No crédito por
negociação, existe também um título de crédito, podendo este ser sacado por qualquer outra pessoa
designada na carta de crédito.

Quanto à sua natureza MENEZES CORDEIRO afirma que no crédito documentário, o banqueiro assume uma
prestação de serviço. Mas ele adota duas importantes obrigações: a de verificar documentos e a de pagar certa
obrigação ou de, por outra via, a satisfazer. A prestação de serviço a que se refere o autor, poderá refletir o regime
do mandato, por via do artigo 1156.º, mas não há representação. Questiona-se também a possibilidade de ser uma
concessão de crédito, mas isso significaria um diferente negócio. MENEZES CORDEIRO afirma que estamos
perante um contrato a favor de terceiro, na estrutura; e uma específica prestação de serviço bancário, na substância.
Poderemos falar de um contrato de emissão, pois, estabelece-se um direito a favor do beneficiário, e deste contrato
resulta a carta de crédito.

Pode assumir a função de pagamento pois o crédito documentário oferece ao ordenante um meio direto e fácil de
pagamento, após a verificação da causa da dívida; uma função de garantia (especialmente, na contratação mercantil
internacional); e uma função de financiamento, o crédito documentário pode traduzir uma concessão próprio sensu
de credito ao ordenante. O banqueiro antecipando os fundos que irá conceder ao beneficiário, concede crédito ao
ordenante.

Titularização (securitização de créditos):

VER º DL n.º 453/99

As entidades cedentes (artigo 2.º DL n.º 453/99), podem, junto das entidades cessionárias (artigo 3.º DL n.º
453/99), acolher créditos – estes têm de reunir os requisitos presentes no artigo 4.º do DL n.º 453/99 –
transformando-os os valores (títulos), colocando-os no mercado, juntos dos investidores. A titularização de crédito
assenta, tecnicamente numa cessação de créditos, sendo a sua eficácia condicionada pela notificação aos credores
(artigo 6.º). Permite aos banqueiros conceder créditos e coloca-lo no mercado mobiliário, fazendo evitar o

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risco da falta de cumprimento do devedor, é um instrumento frequentemente utilizado nas economias mais
desenvolvidas, e assume especial revelo na competitividade das economias, dinamizando-as. Assim, imaginando
que o banco fez um contrato de mútuo bancário com um cliente, o reembolso demorará anos. Como forma de
antecipar o reembolso, o banco poderá titularizar esse crédito, permitindo-o obter liquidez, tornado ativos não
líquidos em títulos comercializáveis, gerando liquidez após a sua venda, e, permite, mitigar o risco do crédito.
Note-se que, com a titularização dos créditos o banco que era credor, e quando cede o crédito passa (ou continua) a
geri-lo, mas os devedores de nada disto sabem: a cessão de créditos para titularização produz efeitos em relação
aos respetivos devedores no momento em que se tornar eficaz entre o cedente e o cessionário, não dependendo do
conhecimento, aceitação ou notificação desses devedores. (artigo 6.º, n.º 4)  a cessão de créditos para
titularização é totalmente opaca.

Desconto bancário

Contrato pelo qual o banco – o descontante – se obriga a entregar ao cliente – descontário – a importância de um
credito pecuniário não vencido sobre terceiro, em troca da titularidade do crédito e do pagamento das competentes
comissões de juro compensatório. A pessoa que pretende o financiamento apresenta uma proposta-pedido por
escrito de desconto, subscrita pela entidade na qual se indicam as condições do contrato realizado, e essa proposta
vai à aprovação do banco, que como já se viu (REMETER PARA LINHAS DE RISCO), irá analisar a concessão
desse mesmo crédito. Note-se que, evidentemente, o desconto pressupõe a existência de um negocio subjacente. O
banco pode exigir o pagamento ao seu cliente, pois é o portador da letra. O banco torna-se credor quando realizar
um desconto bancário.

VAZ SERRA E ANTUNES VARELA têm entendido que o contrato de desconto bancário corresponde,
fundamentalmente, a um contrato misto de mútuo e de dação pro solvendo, não subsumível aos requisitos de forma
indicados no artigo 1143.º do Código Civil, estando sujeito às regras da lei comercial. Aceitando esta tese, a regra
aplicável quanto à prova do desconto, é a necessidade, seja qual for o seu valor, por documento assinado pelo
descontário.

Crédito ao consumo

Aspetos centrais da proposta da diretiva:

o Passa a sujeitar ao regime créditos de curto prazo e baixo montante


o Passa a abranger o P2P lending (créditos em plataforma entre pares)
o Prestação de informação sujeita a um novo princípio: qualidade e não quantidade (prestação da informação
pelo menos até à véspera; informação pré-contratual adaptada ao dispositivo utilizado pelo consumidor
o Proibição de certas praticas (opções pré-selecionadas, vendas de produtos condicionados, etc.)
o Custo de credito limitado (a nível nacional)
o Melhor avaliação da capacidade de endividamento do consumidor

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o Limitação dos dados que podem ser considerados na avaliação (apenas circunstâncias económicas e
financeiras; proibição de uso de informação pessoal disponível em redes sociais)
o Credito só pode ser concedido se a avaliação da capacidade de endividamento for positiva
o Se a concessão de credito assentar em processamento automático, consumidor tem direito a explicação
clara da decisão
o Combate ao sobre endividamento (educação financeira, aconselhamento)

Garantias

Garantias, no direito bancário, é qualquer coisa destinado à obtenção de tanto quanto possível do cumprimento de
uma obrigação. No artigo 601.º CC encontramos uma garantia real: o património do devedor.

Haverá que contrapor as garantias à banca, em que se asseguram créditos do banqueiro; e garantias emitidas pelo
próprio banqueiro, em que é este que reforça créditos de terceiros, a pedido do seu cliente e mediante retribuição.

1. Penhor bancário

Os bancos gozam de um regime excecional relativamente ao penhor civil ou comercial. Estamos perante um penhor
bancário quando este tem por finalidade garantir créditos de estabelecimentos bancários autorizados, aplicando-se o
DL n.º 29/833. Tem a particularidade de dispensar a tradição da coisa, não obstante, a propriedade passa para o
estabelecimento bancário, mas mantém-se o risco no devedor. Este desapossamento tem, desde logo, benefícios, o
devedor poderá usufruir do bem, e o banto não tem de armazenar os bens, ficando liberto desse custo.

Em geral o penhor consiste na entrega, em determinadas circunstancias, de uma coisa móvel, por forma a garantir
uma obrigação. A lei comercial admite o penhor mercantil.

Sobre o penhor civil (artigos 623.º ss. CC), note-se o artigo 669.º, nº 1 e o artigo 694.º (aplicável ex vi artigo 678.º)
 sobre este último: poderia admitir-se, por outra via: o pacto marciano, ou seja, um acordo em que o credor
garantido promove a venda da coisa por forma a realizar o seu credito, entregando o remanescente ao devedor ou
fazer da coisa sua, e após a avaliação da mesma, restituir ao devedor o sobrevalor. MENEZES CORDEIRO rejeita
a hipótese, atendendo ao escopo da lei.

No penhor comercial/mercantil, é necessário, como refere o artigo 397.º Ccom que a divida garantida provenha de
um ato comercial, e a sua grande especificidade é o facto da não obrigatoriedade da entrega efetiva da coisa (artigo
398.º)

O penhor bancário não pode ser confundido com garantias bancárias, pois enquanto o penhor bancário
consiste numa garantia dada a estabelecimentos bancários autorizados aquando da concessão de um crédito por
parte destes, as garantias bancárias são garantias pessoais prestadas pelos próprios bancos.

2. Garantias financeiras

DL 105/2004

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É uma garantia real, que abrange duas figuras típicas, o penhor financeiro e a fidúcia financeira, destinada a
assegurar obrigações pecuniárias ou instrumentos financeiros, que recaiam sobre “numerário” e que as partes
tenham decidido submeter a um regime financeiro especial, legalmente previsto, concluída entre uma instituição de
crédito ou entidade para o efeito equiparada e uma pessoa coletiva.

2.1 Penhor Financeiro

É uma garantia caraterizada pela entrega do seu objeto ao credor pignoratício ou ao tomador da garantia sem que,
por isso, a propriedade se transfira para este último.

No penhor financeiro haverá, em rigor, um penhor de direitos – 679º CC. Traduz a afetação de coisas incorpóreas a
fins de garantia. DL 105/2004  artigo 22.º

No penhor financeiro há a possibilidade de estabelecer um direito de disposição sobre o seu objeto (artigo 9.º do
DL n.º 105/2004), dependendo dos requisitos presentes no artigo 9.º, n.º 3. Este direito permite, como refere o
artigo 9.º, n.º 2, o beneficiário da garantia, alienar ou onerar o objeto da garantia prestada, mas, em princípio, o
prestador da garantia mantém-se o seu titular. Atente-se assim, ao artigo 10.º, n.º 3.

Nesta figura é permitido o pacto comissório, ou seja, havendo uma garantia pignoratícia, o credor pode fazer a
coisa sua, na hipótese de incumprimento. Aqui é o pacto é permitido pelas seguintes razoes: os credores são
entidades responsáveis, sujeitas a supervisão prudencial e à opinião publica; estão em causa objetos com valor
objetivo e determinado pelo mercado; e estão em jogo coisas fungíveis, sem valor estimativo pessoal. Veja-se o
artigo 11.º, n.º 1 e n.º 2. Em suma, não estamos perante um pacto comissório, mas sim um pacto marciano, pois, o
beneficiário da garantia fica obrigado a restituir ao prestador a diferença entre o valor do objeto e o montante das
obrigações financeiras garantidas. Veja-se, também, o artigo 12.º

O penhor de conta bancária consiste na afetação de determinados depósitos ao pagamento de certas dividas,
ficando o depositante obrigado a não os movimentar. O depositante, assim, autoriza o banco a debitar na conta as
dividas garantias vencidas, exigindo-se que o garante mantenha a conta provisionada. Quanto a este, a doutrina
divide-se quanto à sua natureza e oponibilidade em relação a terceiros. divide-se por um lado considerando o
penhor de conta bancária como um penhor regular e oponível a terceiro e por outro lado considerando-o um penhor
irregular e inoponivel a terceiros, na medida em que é um direito real de garantia atípico. HUGO RAMOS ALVES
entende que é irregular pois o depositário é o proprietário da quantia.

3. Fiança

 Fiança comum  artigo 627.º CC: garantia pessoal mediante a qual o fiador garante pessoalmente a
satisfação do crédito do credor em caso de insuficiência do património do devedor

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o É acessória – n.º 2 (tendo uma dependência genética – artigo 632.º, n.º 1; funcional – artigo 637.º,
n.º 1 e extintiva – artigo 651.º)
o Mas não é subsidiaria automaticamente, o benefício da excussão (artigo 6388.º) tem de ser
invocado
 Fiança mercantil  artigo 101.º Ccom. distingue-se da fiança comum, pois a mercantil tem a solidariedade
a ela subjacente
 Fiança bancária  artigo 623.º CC
 Fiança omnibus  fiança geral sobre a totalidade das dividas de um devedor perante um credor. O banco
na sua relação com o cliente pode ter um conjunto de dividas e uma fiança omnibus garante todas, inclusive
dividas futuras desde que, cumpram os requisitos do artigo 280.º CC
 Fiança ao primeiro pedido (on first demand)  é admissível. Existindo, o garante tem de pagar quando
demandando, independentemente da existência de meios de defesa do devedor, factos extintivos ou
modificativos da obrigação principal.

4. Mandato de crédito  artigo 629.º

Não consubstancia, em rigor, um mandato porque é “em nome e por conta própria”

5. Garantias autónomas

É uma garantia atípica, criada ao abrigo da autonomia privada (artigo 405.º), sendo estabelecida por um contrato
celebrado entre o interessado (o mandante) e o garante a favor de um terceiro (garantido ou beneficiário). O
garante obriga-se a pagar ao beneficiário uma determinada importância, e esse pagamento operará na primeira
solicitação (autonomia não se confunde com automacidade: pode não ser automática, tendo, por exemplo, o garante
de conferir certos documentos). A função não é assegurar o cumprimento de uma obrigação, mas assegurar que o
beneficiário receberá uma determinada quantia em dinheiro. A exceptio doli (saber se o banco, o garante, pode vir
dizer, apesar desta ser autónoma, que não paga). PEDRO MAIA entende que sim, desde que exista uma prova
liquida (má fé patente inequívoca) do abuso ou fraude da execução e também de contrariedade aos bons costumes
ou ordem publica do contrato. Pode haver uma providência cautelar do devedor? Se o banco pagar ao credor,
sucede que, este vai exigir direito de regresso. Há quem entenda que sim, não bastando a prova sumário, sendo
necessário uma prova solida e clara.

6. Cartas de conforto

São declarações dirigidas a um banco, manifestando determinadas intenções face ao creditado, assumindo certos
deveres, para favorecer/facilitar a concessão de crédito e aumentar a expetativa do banco de que a obrigação será
cumprida. Deverá presumir-se a juridicidade desta. É importante distinguir entre as cartas de conforto fraco, em
que a declaração é meramente informativa, não constituindo obrigações; as cartas de conforto médio, em que a

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Direito Comercial I – MCJF

Autora: Hélia Costa


Regência: Professor Doutor Pedro Maia
declaração contém indicações de vigilância, influência e empenho, declarando o declarante uma obrigação de
meios; e as cartas de conforto fortes, em que o declarante assegura que será cumprida a obrigação, assumindo,
assim, uma obrigação de resultado.

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