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Interfaces entre o Estágio Supervisionado e a Residência Pedagógica na

experiência do subprojeto de História da Universidade Regional do Cariri-


URCA
Josefa Nunes Pinheiro1
kacildanunes@uol.com.br:
Maria Arleilma Ferreira de Sousa2
arleilmasousa@hotmail.com
Universidade Regional do Cariri-URCA

O Programa da Residência Pedagógica teve início no curso em meados de 2018


formando um Núcleo com trinta licenciandos, sendo vinte e quatro bolsistas e seis
voluntários, três preceptores, distribuídos em duas escolas da rede estadual e uma
escola da rede municipal de ensino. A coordenação ficou a cargo do colegiado formado
pelos professores que compõe o Grupo de Práticas Docentes no Departamento que
atualmente ministram as disciplinas de práticas e estágio supervisionado. Para efeitos
de inscrição na Plataforma constou apenas um Docente Orientador e um professor
voluntário.
A decisão do Departamento de participar já nas primeiras edições do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID e o no Programa da Residência
Pedagógica deve ser analisada dentro do contexto de reestruturação e reformulação do
curso que está para além das revisões curriculares, procurando situar a formação de
professores no complexo contexto social e institucional da região onde está situada,
assegurando a formação do professor pesquisador, que permita ao licenciando
construir uma identidade profissional associada à complexidade dos contextos
escolares contemporâneos.
A escolha da temática de Educação para os Direitos Humanos veio da relação com as
instituições de ensino propiciadas nos diálogos da universidade com os campos de
estágio. A região do cariri cearense ainda é tradicional, e eminentemente agrária e
apresenta um cenário complexo onde confluem, de um lado, os sentidos e dizibilidades
tradicionais, e de outro, os mais recentes avanços tecnológicos propiciados pela

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(Autor)
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(Coautor 01)
globalização excludente do capitalismo contemporâneo. Nessa confluência destaca-se a
violência de gênero associada a formas tradicionais de expressão da cultura gestadas na
ausência do Estado, tornando essa violência mais cruel e mais constante.
Desse modo o projeto teve como objetivo principal fortalecer a formação dos
licenciandos em História da URCA a partir da articulação entre teoria e prática docente
sobre as interseccionalidades entre o ensino de história e a educação em direitos
humanos. Para tanto elegeu-se como objetivos específicos: aperfeiçoar o estágio
supervisionado dos licenciando em História mediante as trocas de experiências entre
docentes da universidade e da educação básica, graduandos e discentes das escolas-
campo; Realizar intervenções pedagógicas nas escolas-campo dedicadas ao ensino de
história e suas imbricações na educação em direitos humanos; Reforçar a produção de
saberes históricos em coautoria (Professores coordenadores / preceptores /
licenciandos e estudantes da educação básica); Oportunizar aos discentes a elaboração
de produtos educativos voltados ao ensino de História e aos direitos humanos.
Problematizou-se algumas questões que norteiam a estrutura do trabalho:
 Quais os impactos do Programa Residência Pedagógica na estrutura da
licenciatura em História, nas suas formas de institucionalização, na permanência
dos alunos na instituição?
 Até que ponto conseguimos avançar na experiência da Residência Pedagógica na
direção de uma proposta curricular de formação de professores que se
preocupa com a construção de interfaces entre os conhecimentos da formação
específica da área e os conhecimentos específicos para a docência?
 Como foi a relação do Programa Residência Pedagógica com os estágios? Como
funcionam os estágios no curso de História? Qual é o projeto de estágio da
Universidade?

O campo da pesquisa em ensino traz diversas pesquisas que lançam luz sobre a
problemática aqui apresentada servimo-nos especialmente dos trabalhos de Pimenta e
Lima (2007), Pimenta (2008) e Melo (2013) que constituem-se fontes referenciais para
o debate sobre os estágios curriculares nos cursos de licenciatura. Os trabalhos de Gatti
e Nunes (2009), Gatti et al. (2010), Gatti (2014) nos auxiliaram no debate sobre
currículo e Políticas Públicas de formação de professores. Os trabalhos de Caimi (2015)
e Prats (2005) no debate sobre os conhecimentos e capacidades que um professor de
História precisa manejar para dar conta das exigências que emergem dos atuais
contextos social e escolar.

No que se refere aos impactos do Programa Residência Pedagógica na estrutura da


licenciatura em História é preciso destacar que trata-se de uma experiência nova e que
no primeiro momento foi vista com certa reticência por parte do Colegiado
departamental. Entretanto o pacto federativo não nos permite muita autonomia nas
decisões sobre as políticas adotadas pelo governo federal e diante da falta de opções o
colegiado deliberou pela participação no Programa.
Os efeitos do Programa Residência Pedagógica sobre o estímulo e atratividade para a
carreira docente ainda não são tão fáceis de mensurar. A particularidade de cada aluno,
de cada preceptor e das escolas inviabilizam uma dedução segura. Entretanto é possível
assegurar que no subprojeto não houve desistências de alunos, salvo aqueles que foram
selecionados como voluntários, que em virtude de dificuldades financeiras para arcar
com os custos de transporte, tiveram inviabilizada a sua participação. Restando ao final
apenas um aluno voluntário. O que nos leva a inferir que o Programa contribuiu com o
curso em diversas dimensões, dentre elas, que a bolsa é fundamental para a viabilidade
de realização dos estágios nucleados. O que favorece a possibilidade de efetiva
supervisão e orientação. Acredita-se ainda que o Programa atuou como um suporte a
mais para a permanência dos alunos no curso e ampliou as possibilidades desses de
dedicarem-se integralmente às atividades acadêmicas.

No que tange a questão curricular a ausência da observação epistemológica de que é


necessário um conjunto de saberes para ensinar História a João, que incluem os saberes
a ensinar (circunscritos na própria história, na historiografia, na epistemologia da
história), os saberes para ensinar (que dizem respeito, por exemplo, à docência, ao
currículo, à didática, à cultura escolar), e, os saberes do aprender (que se referem ao
aluno, aos mecanismos da cognição, à formação do pensamento histórico) apresentada
por Caimi (2015), acaba por gerar arranjos contraditórios que ora levam a valorização
apenas da formação disciplinar, situação semelhante às que Gatti (2014) identificou em
suas pesquisas.

Quanto aos estágios curriculares, que em tese, são espaços para a interconexão entre
teorias e práticas a partir da vivência dos contextos escolares. Identificamos algumas
questões que se tornaram mais evidentes a partir da interface com o Programa da
Residência Pedagógica. A dificuldade inicial advém da relação com as Secretarias de
Educação, com os Diretores e professores da rede básica, estadual e municipal. A
despeito da existência de convênios com a maioria dos municípios da região onde os
licenciandos residem e optam por realizar o estágio, esse instrumento parece ser
desconhecido ou ignorado pelos Secretários Municipais, pelos diretores e até pelos
professores da rede básica não restando muito claro e definido as atribuições de cada
parte conveniada e o acompanhamento é muito frágil.

Ainda sobre as dificuldades de acompanhamento dos licenciandos nos campos de


estágio é preciso registrar que em geral, cada estudante recebe uma carta de
apresentação e isoladamente procura uma escola que o receba. Nesse movimento
verifica-se constantemente a resistência de gestores e professores para receber os
estagiários. O que os leva a procurar campos de estágio próximos à sua residência,
quase sempre vislumbrando suas conveniências de acessibilidade, de construção de
uma rede anterior de amigos nesse espaço, enfim, critérios válidos, mas que não
dialogam com as demandas do estágio.
Uma vez aceitos na instituição, quase sempre o contato do professor de estágio com o
professor da educação básica, que acolhe o estagiário, dá-se somente por telefone, e
numa perspectiva mais policialesca de assegurar que o estudante não está burlando o
estágio, zelando para que ele cumpra efetivamente o plano de estágio elaborado na
Universidade e onde o professor supervisor da escola deve assinar dando apenas a
ciência e concordância. Nesse movimento quase nunca há espaço para a devolutiva das
observações realizadas, e a escola avalia que há nenhuma retribuição da Universidade,
restando muitas vezes somente as críticas.

Contudo institucionalmente ainda verificamos algumas limitações, a exemplo da


carência de professores que existe para a área, o que impossibilita o acompanhamento
dos estágios por um corpo de professores com regime de trabalho integral. A ausência
na instituição e no departamento de coordenações de estágio que possam acompanhar
os convênios com escolas públicas, estaduais e municipais para a realização dos
estágios e possa elaborar propostas de mudança numa perspectiva institucional, que
assegure o apoio infraestrutural, como espaços próprios para os trabalhos, biblioteca
atualizada com livros da área, previsão orçamentária para deslocamento de professores
até os campos de estágio, dentre outras.

Apesar de identificarmos algumas perspectivas de mudanças qualitativas na formação


inicial dos professores de História da Urca, o Programa apresenta limitações que se
expressam, sobretudo no fato de não atender a todos os licenciandos, produzindo
exclusão entre os alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Residência Pedagógica, Estágio Supervisionado, Formação de


Professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAIMI, Flávia Eloisa. Revista História & Ensino, Londrina, v. 21, n. 2, p. 105-124, jul./dez.
2015.
GATTI, B. A.; NUNES, M. M. R. (Org.). Formação de professores para o ensino
fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em Pedagogia, Língua Portuguesa,
Matemática e Ciências Biológicas, 2009. (Coleção Textos FCC, n. 29).
GATTI, B. A. et al. Formação de professores para o ensino fundamental: instituições
formadoras e seus currículos. Estudos e Pesquisas Educacionais, São Paulo, Fundação
Victor Civita, n. 1, p. 95-138, 2010.
GATTI, Bernardete A. Formação inicial de professores para a educação básica: pesquisas
e políticas educacionais. Revista de Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 25,
n. 57, p. 24-54, jan./abr. 2014.
MELO, Egberto Melo. O Estágio Supervisionado e a circularidade de saberes no entre-
lugares de formação do professor de História. In: XXVII Simpósio Nacional de História.
ANPUH. Natal-RN, jul, 2013.
PRATS, Joaquín. Ensinar História no contexto das ciências sociais: princípios básicos.
Revista Educar, Curitiba, p.191-218, 2006. Editora UFPR.
PIMENTA, S. G. (Org). Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2008.
PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. 2. ed. rev. São Paulo: Cortez, 2007.

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