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CONCEITO

As referidas alterações podem ser mais ou menos


intensas, daqui derivando a classificação das lesões
A displasia epitelial gástrica (DEG) deve actualmente displásicas - proposta por um grupo de patologistas
ser entendida como uma lesão inequivocadamente reunidossob a égide da SociedadePortuguesade Anatomia
neoplásicaconfinadaao epitéliode supeifície do estômago. Patológica(ChavesP e col, GE - J Port Gastrenterol1997,
O que destingue a DEG do carcinoma gástrico 4:53) - nas três categorias seguintes: Lesão indefinida
intramucoso, é o facto, biologicamente relevante,de nesta para displasia, displasia de baixo grau e displasia de alto
categoria de cancro inicial, as alterações neoplásicas grau.
ultrapassarem a membrana basal do epitélio de superfície, Perante a coexistência de alterações arquitecturais e
) ) citológicas, por um lado, com alterações inflamatórias
penetrandona lâmina própria da mucosa, com a decorrente )
aquisição de uma capacidade invasora e metastizante. elou regenerativas, haverá que questionar o diagnóstico
de displasia, devendo a lesão ser rotulada como indefinida
para displasia. Esta designação deve ser entendida pelo
CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO clínico como uma caracterização temporária e
circunstancial, até que novas biópsias permitam clarificar
A DEG, como lesão histológica que é, caracteriza-se a situação.
morfologicamentepor um conjuntode alteraçõescitológicas Por seu turno, a graduação das lesões inequivocamente
RECOMENDAÇÕES
e arquitecturais, resultantes de anomalias verificadas nas displásicas em apenas duas categorias - baixo e alto grau,
actividades proliferativa e de diferenciação do epitélio apresenta,de acordo com os seus proponentes,as seguintes
gástrico. virtualidade: apoia-se em estudos morfométricos; é
potencialmente mais reprodutível, podendo, deste modo,
CARACTERIZAÇÃO DA DISPLASIA contribuir para minimizar as evidentes discrepâncias de
.EPITELIAL GÁSTRICA graduaçãoda displasiaverificadasinter e intra-patologistas;
satisfaz,por último,a necessidadede decidirentre vigilância

) ) .Alterações Citológicas: pleomorfismo, hipercromasia


apertada ou ressecção completa da lesão. Esta necessidade
decorre do significadoclínico diversode cada um dos dois
)
e estratificação nuclear; l' da relação núcleo/citoplasma; graus de DEG, demonstrado em vários estudos
perda da polaridade nuclear; alteração ou .J.- da secreção; catamnésicos, mormente no que respeita ao seu potencial
.J.- das células de Paneth e caliciformes no epitélio maligno. Com efeito, enquanto a DEG de alto grau se
metaplásico. associa, em mais de 80% dos casos, com carcinoma
.Alterações Arquitecturais: amontoamento de células; sincrónico ou iminente, a DEG de baixo grau apresenta
irregularidade, ramificação e geminação das criptas; um valorprognósticomais controversoe incerto,parecendo
glândulas lado a lado; aspectos cribiformes; papilas regredir ou, ao invés, progredir para carcinoma, ainda que
intraluminais ou no epitélio de superfície. de forma aparentemente lenta, num processo evolutivo
que pode demorar décadas.
ATITUDE CLÍNICA ser sistematicamente colhidos um mínimo de 6 espécimes Nestas situações, se as lesões forem localizadas e pouco
de biópsia: 2 no antro, numa área de 3 cm proximal ao extensas, o procedimento de escolha é a mucosectomia
Perante um relatório inicial de DEG haverá que piloro, nas faces anterior e posterior; 2 na incisura angular, endoscópica, enquanto que nas lesões multifocais e/ou de
proceder, logo que possível, à execução de uma nova sobre a pequena e a grande curvatura; e, por último, 2 no dimensões superiores a 20 mm se poderá optar pela
gastroscopia com biópsias múltiplas visando dois terço médio do corpo, interessando cada uma das faces do terapêutica fotodinâmica com os raios LASER.
objectivos: I) Excluir a presença de um carcinoma estômago.
sincrónico; 2) Averiguar o carácter uni ou multifocal das As lesões displásicas devem ser avaliadas, como já
lesões displásicas. A fiabilidade do diagnóstico e da referimos, no que diz respeito à sua extensão, tanto em
graduação histológica da DEG implica o cumprimento, superfície como em profundidade. O mapeamento em
) por parte do endoscopista, dos seguintes pressupostos: a)
superfície resulta muito facilitado pela técnica de ) )
Colheita de.biópsiasde boa qualidadetécnicae em número cromoscopia vital com azul de metileno, a qual, no entanto,
suficiente; b) Descrição circunstanciada dos achados
apresenta o inconveniente de uma morosidade excessiva.
endoscópicos e informação resumida sobre a envolvência
Tal poderá ser eventualmente, minimizado pelo uso da
clínica do caso; c) Avaliação da extensão da lesão em
cromoscopia de contraste com indigo carmin. A avaliação
superfície e profundidade; d) Sinalização, com tinta
da extensão em profundidade, por seu turno, poderá ser
indelével, das lesões comprovadamentedisplásicas, tendo
tentada através da utilização preferencial da ecoendoscopia
em vista o seu controlo ulterior, muito em particular nos
tridimensional de alta resolução (12 a 20 MHz), cuja
casos em que a displasia se enxerta em afecções difusas
acuidade no diagnóstico do carcinoma gástrico intramucoso
da mucosa gástrica.
se aproxima dos 100%.
As biópsias, para serem de boa qualidade técnica,
O que fazer perante uma DEG de baixo grau? Muito
deverão interessar toda a espessura da mucosa, incluindo
embora a maioria dos autores norte americanos - estribados
a "muscularis mucosa". Tal é imprescindível, de facto,
na muito baixa incidência de DEG nos EUA - defenda a
para distinguir a DEG de alto grau do carcinoma
intramucoso. O número de biópsias a efectuar dependerá sua remoção sistemática, nomeadamente por mucosectomia
das características macroscópicas das lesões em que a endoscópica, parece-nos ser mais aconselhável recomendar
DEG se exerta.Assim, nas lesões deprimidas e ulceradas, a vigilância semestral ou anual das alterações displásicas
) ) )
deverão ser efectuadas um mínimo de 6 biópsias: 2 na de baixo grau, até comprovação da sua regressão completa
base das lesões e 4 nos bordos, ou seja, uma por cada em dois controlos endoscópicos e biópsicos sucessivos.
quadrante. Nas lesões polipóides ou planas, de dimensões Mais radical, todavia, deverá ser a atitude perante a
inferiores a 20 mm, haverá que proceder, sempre que DEG de alto grau. Nestes casos - e após um segundo
possível, à exérese completa da lesão, através, exame endoscópicolbiópsico ter confirmado a presença
respectivamente, da polipectomia ou mucosectomia de DEG de alto grau - aconselha-se, sempre que possível,
endoscópica, com o intuito de evitar possíveis erros de a realização imediata duma gastrectomia. Poderá acontecer,
amostragem. Finalmente, nas lesões difusas da mucosa no entanto, que alguns doentes com DEG de alto grau
gástrica, mormente nos casos de gastrite crónica, deverão recusem a cirurgia ou apresentem um alto risco operatório. PUBLICAÇÃO DA SPED - N.o 14 - MARÇO/2003

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