Como a ideia de verdade é tratada nas redações? Como aplicam o que discutimos em sala ao filme? É irônico discutirmos verdade por meio de um produto híbrido de ficção? Filme baseado em fatos reais O entretenimento permite invenção?
- Objetividade jornalística X objetividade textual X credibilidade
- Objetividade jornalística -> Conexão entre realidade e percepção do jornalista - Objetividade textual -> Conexão entre realidade e texto - Credibilidade -> percepção do público da conexão entre jornalismo e realidade - O debate sobre objetividade é um debate sobre a possibilidade de se acessar a realidade
Entretenimento – Conceito de Luhmann em “A realidade dos meios de comunicação”
- Entretenimento como componente de uma cultura moderna do lazer (entender
cultura nesse caso como forma de vida; civilização; conceito antropológico) - Adorno: Tempo Livre, em que fala sobre a democratização do ócio e a maneira como as atividades que as pessoas fazem no tempo livre têm a ver com a internalização de um papel social. - Mídia ocupando esse lugar de atividade para o tempo livre (mas esse papel não é reconhecido social ou academicamente como legítimo) - O consumo de jornalismo no tempo livre é parte desse ritual de credibilidade e fixação de papéis (revista de bordo do presidente) - Dejavite trata o conceito como JORNALISMO de infotenimento, ou seja: enfatiza o fato das notícias “light” fazerem parte do jornalismo. - Forma do entretenimento de lidar com o real: cria-se uma segunda realidade, sem precisar negar a realidade normal. Não se altera os modos de vida, mas em um determinado intervalo de tempo e de espaço, criam-se regras como em um jogo, e levam-se em conta mais essas regras do que um compromisso com a realidade externa. (Funciona na ficção, mas também na não ficção como esportes, programas de auditório, etc.) - O entretenimento precisa de informação, ao menos no sentido de um repertório comum entre produtores e público. Exemplo: quem não acompanha futebol não consegue se entreter com um jogo porque não entende o que está acontecendo. - Num produto ficcional, por sua vez, nem tudo é ficcional. É necessário que identifiquemos relações reais ali. Exemplo: o casamento da novela só faz sentido porque conhecemos a instituição casamento. É um modelo de relacionamento existente. - Há, por sua vez, uma construção ficcional no texto jornalístico, que o torna inteligível e dá sentido. O fato é constituído de lacunas, e o trabalho do jornalista é transformá-lo em narrativa. (Hayden White). - Essa construção narrativa pode ser feita de diversas maneiras, e pode tender mais ou menos para o entretenimento. - O entretenimento obedece a fórmulas já testadas, mas ao mesmo tempo, exige pequenas surpresas (séries com estrutura muito parecida, mas não queremos spoiler) - “Entretenimento significa não procurar nem encontrar nenhum motivo para responder à comunicação com comunicação. Em vez disso, o observador pode concentrar-se na vivencia e nos motivos das pessoas apresentadas no texto (...). A questão da autenticidade não se coloca, como em uma obra de arte.”. p.102 - Ao mesmo tempo, o entretenimento é ideológico, geralmente no sentido de reforçar concepções e saberes vigentes. - “O entretenimento reimpregna aquilo que as pessoas já são, e, como sempre, também aqui os trabalhos da memória estão associados a possibilidades de aprendizado” p.104 - O autor fala de um prazer voyeurístico no entretenimento. Há também a identificação e o deleite (prazer negativo, de ver algo ruim acontecer com o outro e não consigo). Sílvia Viana fala de rituais de sofrimento quando pensa em entretenimentos como o reality
Texto: A Notícia light e o jornalismo de infotenimento de Fabia Angélica Dejavite
- Tradicionalmente, embora a fronteira nunca tenha sido bem delimitada, o jornalismo é responsável por informar e formar a opinião pública. O entretenimento era entendido até então como um domínio particularmente da ficção (falar sobre o poder universalizante da ficção, a verossimilhança e a possibilidade de criar identificações, e sua força na formação de identidades e opiniões) (questionar a ligação entretenimento-ficção) - Três “mundos” do conteúdo midiático: o real, o lúdico e o ficcional. – Diferenciar mundos de tons. JOST - Historicamente, o entretenimento era entendido como algo relativo à mídia popular. (apresentar controvérsias, como a reportagem literária, tão forte nos anos 60, que tem pretensões mais estéticas do que informativas) (a própria revista Veja, pensada para a classe média-alta, tem reportagens sobre turismo, estilo de vida, etc.) - Entretenimento como responsável pela segmentação de mercado (todo mundo consome entretenimento, mas grupos identitários diferentes consomem tipos diferentes de entretenimento). - TV como concessão pública versus TV empresa privada que busca dar lucro. - Convencionou-se que no jornalismo há o assunto “sério” e o “não sério”. O sério envolve política, economia e o jornalismo policial investigativo (diferente do “policialesco”. Ex: máfia da compra de CNHs denunciada uma vez pelo Fantástico). O “não sério” envolve celebridades, comportamento, programas policialescos moda e assuntos amenos. Ele ajuda, também, a orientar a opinião pública da mesma forma, e a perpetuar valores como o valor de mercado, o star system, o patriarcado, valores religiosos e morais... - Exemplos: programa do Datena reforça uma sensação de insegurança, que gera discursos reacionários; matérias de viagem do Globo Repórter, que vão para a Grécia mostrar um estilo de vida “desligado de bens materiais”, mas que para um brasileiro custaria caro, reforçam valores de consumo; matéria hypeness sobre “não existir idade para arrasar” que perpetua um ideal de eterna juventude. - O jornalismo de infotenimento não precisa trazer nada de novo – apenas dar roupagens divertidas a visões sobre o mundo. O jornalismo tradicional precisa de uma informação nova e quente. Matéria quente X matéria fria - Na prática há muitos hibridismos: assuntos que podem ser considerados sérios e não sérios. Assuntos sérios tratados em tom ameno, assuntos amenos tratados como cultura, etc. Retomar diferenças entre mundo de referência e tom. Exemplo: charge política, séria no tema, descompromissada na execução. - Dejavite atribui o infotenimento a um empoderamento do receptor e do consumidor de notícias. Discutir: faz sentido pensar numa participação maior do consumidor das notícias? PQ? (mais veículos pra escolher? Mais possibilidades de usar o tempo livre independente da mídia? Mais espaço para cobrar na internet?) - O que as pessoas buscam no jornal? Informação? Entretenimento? Ambos? Precisam estar juntos? (a forma como se organiza o jornal impresso, por exemplo, a ordem das editorias, passa da política para a economia, cidades, “interessa”, caderno cultural, quadrinho, horóscopo, esportes. É uma forma de lidar com o infotenimento aproximando e afastando-o do jornalismo clássico) - Valores no jornalismo: antes se pensava no furo de reportagem (lógica do furo faz cada vez menos sentido porque os veículos repercutem uns aos outros muito rápido. Fazia sentido, por exemplo, na morte do Tancredo Neves). Hoje a lógica é a da notícia que “pega”: mais lida, compartilhada, etc. Para “pegar”, a matéria precisa ser light: efêmera, circular rápido - Ganham espaço notícias relacionadas ao curioso e ao insólito. Surpreender-se com pessoas e coisas passa a ser uma das razões pelas quais as pessoas consomem a mídia, além de informar-se. - Exemplo: notícias bizarras - Três principais características da notícia light: 1) Capacidade de distração –ocupa o tempo livre, para não aborrecer; 2) Espetacularização – estimula e satisfaz aspirações, curiosidades, ajuste de contas, possibilidades de extravasar as frustrações, nutre a imaginação; 3) Alimentação das conversas – facilita as relações sociais, oferecendo temas de conversação do dia-a-dia, como boatos e notícias sobre celebridades - Além do conteúdo, o infotenimento também pode estar relacionado à forma de narrar: precisa ser simples, de fácil compreensão, estimular a imaginação, se assemelhar à forma ficcional, romantizada e de apelos estéticos. (parênteses sobre o processo de criação de simpatia?) - O principal receio em relação ao infotenimento é que ele tome o espaço das notícias tidas como sérias e comprometa a credibilidade da mídia como quarto poder. Para o público, porém, essa separação não faz sentido. O contrário de entretenimento é o tédio, e não a informação. - Função de “cimento” social da mídia: um espectador assiste ao jornal para saber se o governo tem apoio, por exemplo, mas isso pode ser uma informação distante e pode não dar a ele suficiente sensação de pertencimento. O espectador quer também ver-se, ouvir-se e participar. Muitas vezes uma novela funciona melhor nesse sentido. - Imagem distorcida que os profissionais da mídia têm do público de entretenimento serve como justificativa para a baixíssima qualidade da produção. Isso não é verdade: o entretenimento é solicitado por todos os gêneros, idades, níveis de instrução e classes sociais. Muitos produtos de infotenimento apostam na segmentação do público, mas há produtos para todos os públicos. - Se o leitor quer saber sobre o star system, por exemplo, o jornal tem três opções: perde o leitor para afirmar uma linha editorial “séria”; faz uma cobertura básica dessas questões baseada em releases e fofocas; tenta fazer uma abordagem crítica e abrangente dos assuntos em voga na cultura de celebridades. - A ética e a moral são, para o autor, questões conformadas pela vida cotidiana, e nela se sustentam. A vida cotidiana, por sua vez, não pode ser pensada sem a comunicação, na qual os significados e valores das coisas são construídos. A mediação da vida cotidiana traz à tona essas discussões sobre ética e moral. - As tecnologias da comunicação influenciam na mediação da maneira como as pessoas entendem o mundo, fornecendo a elas material simbólico para a produção de sentido sobre as complexidades da vida. - A importância da comunicação está em suas falhas, em sua incapacidade de incorporar totalmente o Outro, a alteridade. No reconhecimento dessa impossibilidade reside um posicionamento ético que exige a tomada de responsabilidade pela alteridade e pelo desconforto que ela causa. O outro não pode ser apagado. – Nem fazer como a Glopo, chamando estupro de vulnerável de “relação sexual com adolescente”, e nem incitar ódio e linchamentos. - A mídia está totalmente implicada no reconhecimento desse Outro, na sua presença ou ausência na sociedade contemporânea, pois sem ela não teríamos conhecimento do outro que não está próximo. A mídia tem a responsabilidade por nos conectar ou desconectar dessa alteridade, e trabalha com base em duas dimensões principais: distância e confiança. - A mediação das telas nos coloca em contato com realidades duras, mas tira dessas realidades boa parte de sua dureza. Garante a sensação sem exigir responsabilidade ou engajamento. É essa mídia, porém, que provém as bases para as decisões éticas da vida cotidiana: a distância mediada torna-se, assim, componente essencial da moralidade contemporânea. - Confiança é uma noção escorregadia. É condicional, requer uma manutenção e uma evidência do cumprimento. É um paradoxo porque a mídia estabelece relações que descumprem essas necessidades. Isso acontece quando inventa fatos ou quando borra distinções entre opinião e notícia. - Madiação com um jogo e mentira como traição das regras - O cotidiano é insustentável sem a confiança em sistemas abstratos e instituições, mas a mídia, sua representatividade, e a própria credibilidade do sistema democrático parecem estar sofrendo uma crise de legitimidade e confiança. -