injustice in the case of child domestic labour. In: Journal of Political Power, vol. 7, No. 1, 2014.
Introduçã o:
Casos de injustiça que nã o sã o percebidos por quem os viva
Aná lise do como o trabalho infantil doméstico foi tratado pela mídia hegemô nica durante os cinco primeiros anos do PETID – programa de erradicaçã o dessa prá tica. Mídia age como defensora social, denunciando, mostrando exploraçã o, dominaçã o, marginalizaçã o. Em contraste, conversa com mulheres que trabalharam como empregadas domésticas quando crianças. Contestam o discurso midiá tico, classificando o trabalho infantil doméstico como maneira de ganhar autonomia e integrar a sociedade de maneira positiva. Força da teoria de Honneth, que identifica os problemas da ideologia, mas sem cair em um relativismo social pois separa o reconhecimento ideoló gico de um reconhecimento justificado A teoria precisa, porém, se aperfeiçoar para dar conta dos efeitos opressores contraditó rios da luta por reconhecimento.
Reconhecimento para Honneth:
Quando nã o há reconhecimento nã o há respeito e as formas de vida ficam
prejudicadas. Dano. Ao mesmo tempo, o desrespeito dá motivaçã o moral para a luta por reconhecimento Problema: quando o reconhecimento legitima valores sociais hierá rquicos no cotidiano -> Reconhecimento ideoló gico Reconhecimento como uma forma de cogniçã o social que pode coordenar as açõ es de acordo com sistemas de dominaçã o Quando as prá ticas de dominaçã o nã o sã o repressivas, mas ideoló gicas, é mais difícil identificá -las Para o reconhecimento ser efetivo como ideologia ele precisa: 1. Gerar uma auto-imagem positiva para grupos oprimidos 2. Ser crível 3. Criar um novo valor para, em contraste, mostrar conquistas em relaçã o ao passado ou a outros grupos Quando o reconhecimento nã o é justificado, porém, suas promessas nã o sã o inteiramente cumpridas e nã o atingem o campo material Para Honneth a luta por reconhecimento se dá a partir da identificaçã o do desrespeito. Ele nã o enfatiza, porém, que esse desrespeito pode nã o ser identificado pelos grupos oprimidos
Nuances do caso do trabalho infantil doméstico:
Paternalismo do gesto de “defender” o outro pode criar novas formas de
opressã o. Na democracia é importante que cada um fale por si, expressando suas necessidades, aspiraçõ es e identidades, e as instituiçõ es de defesa social devem servir como gatilho par auto-reflexã o e veículo para a voz do outro, identificando, inclusive, discursos hegemô nicos que ecoam por trá s dessas vozes. Dificuldade de definiçõ es de “trabalho” e “direito” nuançam ainda mais a questã o do trabalho infantil doméstico, bem como as tradiçõ es escravocratas.
Metodologia:
Para identificar a articulaçã o entre os discursos midiá ticos sobre o
trabalho infantil doméstico e a visã o de pessoas que se submeteram a esses trabalhos quando crianças, as autoras: 1. Analisam a cobertura dos dois maiores jornais do Pará sobre o tema (O Liberal e Diá rio do Pará ) durante os 5 primeiros anos do Programa para Erradicaçã o do Trabalho Infantil Doméstico, buscando identificar: (a) as vozes e fontes; (b) as visõ es sobre o trabalho infantil doméstico; (c) as referências diretas ao PETID 2. Discutem com três grupos focais de mulheres que realizaram esses trabalhos quando crianças. Os grupos, com cinco mulheres em cada, foram feitos em regiõ es pobres de Belém, com indicaçõ es de líderes comunitá rios. Observam como as opiniõ es, expressõ es e vivencias individuais dialogam com a percepçã o do grupo como um todo.
Na aná lise das matérias de jornal:
58% das fontes eram relacionadas a entidades civis de erradicaçã o do
trabalho infantil doméstico Duas grandes linhas de discurso: a invisibilidade e a injustiça do trabalho doméstico infantil Analogia com a escravidã o e diá logos com movimentos sociais como feminismo e defesa de crianças e adolescentes Invoca alguns princípios de reconhecimento como amor, gratidã o e justiça
Na aná lise dos grupos focais:
As mulheres vêem o trabalho infantil doméstico sob uma perspectiva
positiva, mesmo admitindo que há exploraçã o (baixo salario, insegurança emocional, tratamento desrespeitoso). Algumas mandaram as filhas Os empregadores sã o reconhecidos como família, e o amor como forma de reconhecimento é enfatizado. As patroas sã o chamadas de “madrinha” ou “tia”. Ideia de que as famílias dos empregadores poderã o prover melhores condiçõ es materiais e de educaçã o, e socializar as crianças de acordo com valores de classes sociais mais altas. O fracasso ou sucesso da experiência costuma ser atribuído ao esforço pessoal somado à “sorte” de conseguir bons empregadores Contraste com outras situaçõ es possíveis: trabalho infantil doméstico aparece como melhor que a vida no campo ou a prostituiçã o. Difícil distinçã o entre amor e trabalho Ideia de mobilidade social através das oportunidades de estudo providas pelos empregadores.
Contradiçõ es da visã o positiva:
Relaçã o, em tese apoiada no cuidado mú tuo, é assimétrica
Crianças e adolescentes nã o têm condiçõ es de negociar com empregadores e com frequência sã o humilhadas Crianças sã o tratadas como propriedade dos patrõ es e muitas vezes abusadas sexualmente As condiçõ es de estudo nã o sã o as mesmas dos filhos da família empregadora A expectativa de mobilidade social pelo estudo é frustrada pela dificuldade em cumprir dupla jornada. A dificuldade, porém, é atribuída à falta de esforço individual
Conclusõ es:
A ideia de Honneth de reconhecimento ideoló gico permite que olhemos
para os posicionamentos dessas mulheres nã o como ingênuos, mas como um esforço de emancipaçã o, autonomia e estima social. Outras forças, porém, agem sobre esses esforços, mobilizando-os, paradoxalmente, para uma relaçã o de opressã o. Desconsiderar o poder de agência dessas mulheres seria errô neo. A busca por autonomia nã o pode ser considerada um sintoma da opressã o. Ao mesmo tempo, ver a situaçã o apenas pela perspectiva da agência esconde questõ es sociais estruturais que se colocam como obstá culos para a emancipaçã o. A luta por reconhecimento fica, assim, permanentemente aberta a questionamentos e diá logos. Embora nesse caso as hierarquias sociais possam ser questionadas pelo discurso midiá tico, o sentimento de justiça ou injustiça se mostra muito mais complexo Os indivíduos oprimidos podem, como aponta a pesquisa, ter dificuldade em reconhecer o que conta como um reconhecimento legítimo e o que é um reconhecimento ideoló gico A pesquisa aponta, ainda, para a necessidade de diá logo entre as pessoas oprimidas e as instituiçõ es de defesa social acerca de justiças e injustiças