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São Paulo
2016
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da UNINOVE.
Ficha Catalográfica
Cristiane dos Santos Monteiro – CRB/8 7474
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Redação: acertos e desacertos da linguagem / Maurício Silva, Nádia
Conceição Lauriti, organizadores. — São Paulo : Universidade
Nove de Julho – UNINOVE, 2016.
152 p. il.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-89852-31-9 (impresso)
ISBN: 978-85-89852-23-4 (e-book)
Maurício Silva
*
São três, a meu ver, as linhas de força que movem essa Redação:
acertos e desacertos da linguagem: a reflexão sobre a produção textual,
que se desdobra, entre outras coisas, em estudos sobre redação, vestibu-
lar e afins; a reflexão sobre o ensino de língua portuguesa, abarcando
do Ensino Médio ao Superior; a reflexão, mais geral, sobre a tipologia
textual, indo do texto dissertativo-argumentativo ao literário.
O primeiro grupo encontra-se representado tanto por estudos sobre
a produção textual de alunos, utilizando-se de abordagens mais espe-
cificamente voltadas para a redação nos vestibulares, com as dificulda-
des de leitura que se refletem na escrita (Lane Ferreira), sem esquecer
Maurício Silva - 11
*
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Cristina Munhão
boa parte de nossos jovens, que são tratados como massa de manobra
para consumir sem pensar, e nada mais.
Nesse contexto, temos um candidato diante do grande desafio do
papel em branco, com um tema que o limita, produzindo ideias, con-
junturas e conclusões que nem sempre são sólidas. Cabe ao profissio-
nal corretor avaliar corretamente e saber identificar a diferença entre
um tema explorado em sua profundidade ou apenas um amontoado de
ideias superficiais.
Repetição – que nada mais é que a coesão textual, quando são re-
cuperados termos de frases anteriores, por meio de pronomes, elip-
ses, elementos lexicais ou substitutivos, o que causa a recorrência de
termos;
Progressão – o texto deve ter informatividade progressiva, evitando
circularidade;
Não contradição – cada pedaço do texto deve fazer sentido com o
que se disse antes;
Relação – o conteúdo do texto deve estar adequado a um estado de
coisas no mundo real ou mundos possíveis.
origens do futebol;
futebol é paixão nacional;
aquilo que deveria ser motivo de alegrias traz tristezas;
24 - O tema e a coerência na correção de redações
REDAÇÃO I
1. Hoje em dia muitas pessoas sai do mundo das Drogas por causa do
Futebol, graças a muitos times grandes que ajuda eles dando uma
vida melhor.
2. Não dá pra fala de futebol sem fala da copa do mundo que é o ano
que vem.
3. A copa tem seu lado bom e seu lado ruim.
4. O bom de ter a copa aqui no Brasil é porque gerou muitos empregos.
5. A parti chato da história que vai gasta milhões em estádio de fute-
bol e a educação eles deixa de lado.
6. Muitos jogadores ganha muito e não serve para nada. Os professo-
res que dá educação para nos não ganha muito.
7. O futebol poderia gastar mesmo dinheiro com jogadores e ajuda mais
quem precisa de verdade. Isso sim é o “futebol arte”.
8. O suporte que o time dão aos meninos da base e bom, eles ensina os
menino.
9. Os meninos a ser mais que jogador.
10. Um humano de verdade.
Cristina Munhão - 25
Análise da introdução:
REDAÇÃO II
REDAÇÃO III
1. O Futebol tem sido o esporte que mais vem trazendo emoções para os
brasileiros nas últimas décadas, trazendo muitas alegrias, tristezas, tí-
tulos e até mesmo decepções. Contudo, mesmo dividindo opiniões, o es-
porte tornou-se uma paixão nacional.
2. De fato sabemos que o futebol é considerado por muitos como uma
porta de entrada para a fama, o sucesso e o dinheiro. Milhares de
crianças acabam enxergando no esporte a maneira mais fácil para
sair da miséria, o que não deixa de ser verdade, afinal, todos sabe-
mos também que os jogadores profissionais ganham salários exor-
bitantes e levam uma vida que aos olhos dos pequenos aspirantes a
jogador profissional seria impossível de se obter por outros meios.
Assim sendo, o que era antes considerado apena como um esporte
comum, praticado apenas por lazer, torna-se uma indústria que mo-
vimenta bilhões.
3. Quem nunca ouviu falar do Rei Pelé ou do espetacular Garrincha?
Na época desses grande jogadores o Brasil ainda possuía o espíri-
28 - O tema e a coerência na correção de redações
REDAÇÃO IV
Rev. Cient., São Paulo, v. 2, n. 1, p. 24-43, jun. 2000. Disponível em: <http://
www4.uninove.br/ojs/index.php/eccos/article/viewFile/185/200>. Acesso em:
22 out. 2015.
PERELMAN, Chaim, Lucie Olbrechts-Tyteca. Tratado da argumentação: a
nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SIQUEIRA, João Hilton Sayeg. O texto: movimerntos de leitura, táticas de
produção, critérios de avaliação, São Paulo, Seliunte, 1990.
SOUZA, Luiz Marques de; CARVALHO, Sergio W de. Compreensão e pro-
dução de textos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
VARELA, Francisco. O caminhar faz a trilha. In: THOMPSON, William Irwin
(Org.). Gaia: uma teoria do conhecimento. São Paulo: Gaia, 2000.
Lane Gatto Ferreira - 33
AMARAL, Emilia. Novas palavras. São Paulo: FTD, 2010. (Coleção novas
palavras, nova edição; v. 3).
ANDRADE, Carlos Drummond. Antologia poética: [o lutador]. Rio de Janeiro:
Record, 2008.
GUERREIRO, Carmen. Deu branco! Revista Língua Portuguesa, São Paulo,
n. 68, Dez. 2011. Técnica de escrita. Disponível em: <http://revistalingua.com.
br/textos/68/artigo249122-1.asp>. Acesso em: 30 out. 2015.
MELO NETO, João CABRAL DE. Morte e vida Severina. Rio de Janeiro:
2007.
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Lídia Spaziani
aos olhos de quem os quer ver, ou seja, a língua vai além de articular
sons e palavras, frases e orações, “seu uso nas múltiplas situações re-
flete condicionamentos psicológicos, sociais e culturais”. (AZEREDO,
1999, p. 9). No aspecto da diacronia, Azeredo salienta que:
1 Professor reflexivo, para Donald Schön, é aquele que pensa sobre sua ação an-
tes, durante e após a exposição da aula, e a partir dessa reflexão mostra-se mais
coerente diante de seu fazer social, lecionar como interagir. O ato reflexivo é
diferenciado do rotineiro (Dewey, 1933, p. 39), porque o rotineiro é guiado por
impulso, hábito ou submissão à autoridade, enquanto o reflexivo é questionador,
baseia-se na vontade, no desejo e na intuição para a busca de soluções lógicas
e racionais a fim de solucionar problemas. A reflexão se baseia no exame cons-
tante persistente e cuidadoso das crenças e formas de conhecimento à luz dos
fundamentos que as sustentam e das conclusões (Schön, 1992, p. 25).
Lídia Spaziani - 51
Encontramos ecos nas palavras das duas autoras, pois a leitura tende
a contribuir para a produção do texto escrito, ampliando o conhecimen-
to linguístico e fazendo-o evoluir. É nela (a produção) que as experiên-
cias e conhecimento de mundo se solidificam desde que haja coesão e
coerência, propiciando a escrita com organização, estruturação e cons-
ciência de seu fazer e do tema que se pretende desenvolver.
Assim, a leitura se dá como processo de produção de sentido com
a tarefa de mediação entre leitor e texto, permeada pelo direcionamen-
to consciente do professor como mediador. Esse processo, superficial-
mente descrito, perfaz a prática social, pois o aluno, produtor do texto,
atua como sujeito de seu dizer/escrever.
Lídia Spaziani - 53
ela reparasse tal erro, e assim foi feito. No entanto, após o retorno ao
Reino dos Vivos, Sísifo não quis voltar ao das Trevas. Em cena, entra
o deus condutor das almas para o Além e mensageiro de Zeus, Hermes,
que o condena a empurrar uma pedra até o topo de uma montanha.
Como a pedra deslizava invariavelmente e voltava à base, o castigo
dado a ele era o de repetir esse processo infinitas vezes, eternamente.
Poderíamos fazer a ponte entre a prepotência de Zeus, ao se utili-
zar de um poder e agir de forma antiética, e a prepotência de institui-
ções de ensino que legitimam, na ação de seus professores, ideologias
de hierarquização e submissão, remontando épocas antigas.
Pela ética, Sísifo age e é castigado; seu castigo é o do “fazer sem
objetivo”. Na comparação com a realidade dos alunos, os professo-
res os impelem a copiar, repetir e refazer como se esses fossem os ca-
minhos da reflexão, do aprendizado duradouro, efetivo. É o castigo de
passar horas do dia cumprindo tarefas sem compreendê-las, lendo sem
entender, falando sem ser assertivo, ouvindo sem escutar, escrevendo
ou sendo copista em um lugar que perdeu sua função primordial: a de
desenvolver a mente do aluno, motivando-o a trazer soluções aos pro-
blemas. Isso torna a escola um local voltado para seu propósito inicial.
O aluno que pertenceu ao sistema educacional descrito se ressente das
negativas obtidas para dar continuidade a seus estudos e, por fim, desiste.
A desistência não é relacionada ao Ensino Superior, mas a não amplia-
ção de seu universo em vários outros, possibilitados pelo conhecimento.
Essa autonegação extirpa as oportunidades vindouras em uma graduação.
Lídia Spaziani - 55
pre servem aos nossos objetivos. Elas seguem regras, assim como nos-
sa vida em sociedade, rebelam-se com as exceções e trazem em seus
murmúrios, nos rodapés das páginas dos livros ou nos comentários de
especialistas e intelectuais, a sabedoria de séculos de história. Sensatos
são os que se curvam a sua magnificência, ao mar de afagos e açoites
que delas pode sair.
O aluno em questão poderia observar o universo de sua língua, de
sua fala e esmerar-se para que o texto produzido não seja uma cópia an-
tiga, porém a mais legitimada ação na prática social, a de envolver-se
e, nesse envolvimento, desenvolver-se.
Salientamos que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio não
foram suficientes para encantar o aluno; a própria língua deveria moti-
var a produção de textos, por libertar-nos de padrões estaticamente acei-
tos como corretos, de paradigmas ultrapassados, sendo viva e mutante,
ela nos dá autonomia por existir.
56 - O desenvolvimento da habilidade de leitura e de produção textual em Língua...
Thiago Lauriti
Brasil 267,73
Norte 254,25
Nordeste 254,04
Sudeste 276,90
Sul 276,35
Centro-Oeste 271,95
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tante estudo realizado por Cereja (2005) reafirma essa ideia e resga-
ta historicamente como se instituiu nas escolas brasileiras o ensino
da Língua e da Literatura a partir das duas últimas Leis de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (Lei 5.692/71 e Lei 9.394/96) e os
Parâmetros que vieram a seguir.
Neste estudo, o autor aponta que, depois de promulgada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, algumas ações do
MEC contribuíram para redirecionar o debate com o fito de operaciona-
lizar a nova lei, entre as quais a publicação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Fundamental que coincidiu, em 1997, com a im-
plantação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLEM), criado
pelo MEC para avaliar e comprar, para utilização nas escolas públicas,
livros didáticos destinados ao Ensino Fundamental. As escolas se mo-
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
deste capítulo: Para quem fala o texto legal? É possível que fale consi-
go mesmo, vale dizer, fale para seus pares, para sua plateia composta
por especialistas que possuem saberes prévios que podem ser partilha-
dos para a construção do sentido ocorrer.
Outra constatação é a brevidade do documento que, em apenas qua-
renta páginas, propõe uma concepção supostamente inovadora de en-
sino da língua e da literatura, mas não cumpre seu objetivo, já que não
a desenvolve, sendo mais um repositório de intenções do que um do-
cumento de orientação para o trabalho didático, sem oferecer ao pro-
fessor critérios, exemplificações ou sugestões práticas de transposição
didática do texto normativo.
Cereja (2005) aponta outra razão para justificar o pequeno impacto
desse documento no meio educacional, além de sua brevidade: “Outra
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Essas duas novas resoluções preveem uma revisão das práticas es-
colares fragmentadas e atribuem aos sistemas de ensino, em colaboração
com as universidades e outras instituições, a tarefa de criarem condi-
ções concretas para formação inicial e continuada dos professores, com
o objetivo de tornar possível a apropriação do significado das leis e das
resoluções para conseguir sua transposição didática de forma integra-
da, interdisciplinar e multidimensional.
Nesse contexto, as universidades têm muito que contribuir e o
Estado um dever a cumprir. Não basta continuamente culpar o profes-
sor por sua má-formação e pelas competências profissionais que ainda
não desenvolveu. É preciso que cada instância cumpra seu papel e sejam
organizadas redes de formação e de apoio aos professores que temati-
zem, de forma contextualizada e prática, a operacionalização didática
dessas leis e resoluções, para que ocorra a apropriação de ferramentas
teóricas e metodológicas que esse aparato legal pressupõe. Todas essas
leis podem ser vistas como avanços, entretanto, torna-se urgente que,
além dos projetos de formação continuada, sejam elaboradas diretrizes
operacionais mais práticas e claras para que o texto legal não se torne,
como tantos outros, um corpo sem alma, vale dizer, um rol de intenções
que não consegue traduzir-se em práticas educativas eficazes.
Thiago Lauriti - 77
Marcello Ribeiro
a correção como uma atitude prescritiva que legitima o bom uso e con-
solida as regras da tradição gramatical.
Partimos do mesmo princípio de Leite (1999) quando aponta que, pela
“metalinguagem purista, então, é possível recuperar posições ideológicas
dos falantes diante de certos fatos que implicam a defesa e preservação
da história e da cultura do homem, pela língua que usa” (op. cit., p. 50).
O conceito e o entendimento de língua explicitados expõem a ima-
gem que a sociedade, em geral, entende e aceita, principalmente quan-
do vemos na e pela escola, o lugar propício para impor a ideologia de
uma classe que contribui para uma violência simbólica.
O conceito de violência simbólica foi criado pelo pensador francês
Pierre Bourdieu para descrever o processo pelo qual a classe que do-
mina economicamente impõe sua cultura aos dominados. Para o autor,
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gua, que a escola não quer enxergar como parte do uso de uma língua,
cujo objetivo é a comunicação.
Para Cunha (1981, p. 23), “a força de uma língua não reside no seu
passado, mas na sua aptidão de renovar-se: aptidão de criar e integrar
palavras a novos tipos de sintagmas e frases que exprimem as contri-
buições incessantes de uma civilização evolutiva. ” Isto é, a língua que
utilizamos hoje é aquela ligada ao desenvolvimento da sociedade, uma
língua em ebulição.
Para o autor, herdamos de nossos antepassados um idioma riquís-
simo, constituído de sonoridades, flexões e ritmos, mas que o ensino
atrelado a ele estereotipa com fórmulas convencionalizadas, arraigadas
em regras estáveis e passíveis de imitação, cuja idealidade se dá tão so-
mente por um conjunto fechado de palavras que inibe a quantidade, con-
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Segundo os PCNs (1997, p. 218), “ao longo dos oito anos do en-
sino fundamental, espera-se que os alunos adquiram progressivamente
uma competência em relação à linguagem que lhes possibilita resolver
problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar
a participação plena no mundo letrado”. Não se pode negar que seres
humanos nascem propensos a aprender hábitos linguísticos e compor-
tamentais, adquiridos da comunidade a que pertencem, por meio de in-
tenções inerentes a todo sujeito, e que, ao longo do tempo, se adaptam
e se readaptam de acordo com o comportamento adquirido.
Para Tomasello (2003), a aprendizagem se dá por intenções coo-
perativas, isto é, todo indivíduo fala e escreve intencionalmente àquele
com quem também espera que haja um elo: “no desenvolvimento tanto
do contexto sociocultural quanto do sistema comunicativo da criança
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Competência 2 – Tema
Avaliações por competência → número de professores
0 → 8
1 → 7
2 → 32
3 → 0
4 → 0
Critério 0 – fugiu totalmente do tema.
Critério 1 – toca no tema, mas não progride, ou até muda.
Critério 2 – trata do tema, mas não progride, chega até a ser
contraditório.
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
desconhecida)
assim. Como foi dito, é possível fazer diferentes leituras desse conto,
dada sua densa figuratividade. Nossa leitura caminha na direção da re-
lação leitor-texto.
Por esse ângulo, pode-se comparar o homem do barco com o leitor,
ou seja, aquele que possui os aspectos necessários à navegação pelos
mares do texto: especialmente o ímpeto da curiosidade, a necessidade
de navegar/ler, a busca pelo conhecimento, seja ele qual for. No que diz
respeito ao barco, meio de transporte essencial para o homem navegar,
observa-se aí, subjacente a essa figura, a linguagem como componente
indispensável ao homem para se comunicar, mas que potencializa sua
capacidade de “locomoção”, até por “mares nunca antes navegados”, a
partir do contato entre esse barco/linguagem com o mar/texto.
Retomando a epígrafe, assim como o homem do barco sonhou a
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
princípio, depois obteve o meio que o fez lançar-se pelos mares à pro-
cura de si mesmo, à medida que se ia encontrando diante dessa trajetó-
ria, da mesma forma cumpre ao leitor semelhante papel diante do texto:
pesquisar, deixar que sua curiosidade emerja, lançar-se ao texto, des-
cortinar o estabelecido; enfim, ler, uma vez que a leitura é, entre outras
inúmeras possibilidades, uma necessidade humana.
2 Grifo do autor.
106 - O texto literário: das sementes de ideias à argumentação de uma redação bem elaborada
“Outro motivo muito importante é ler textos que mexem com a nos-
sa sensibilidade, fazendo as emoções da gente chegar a flor da pele.
Para poder não apenas extravasar sentimentos contidos, mas também
passar por experiências assim sem ter que sair do lugar. Exemplo dis-
Wendel Cássio Christal - 111
Maurício Silva
complexo do que aparenta. Por isso, tentaremos aqui expor alguns ele-
mentos que dizem respeito à estrutura básica do texto, especialmente
o texto dissertativo, a fim de compreendermos melhor seu processo de
realização.
Quando nos deparamos com um texto escrito ou enfrentamos o tra-
balho de produção textual, não nos damos conta de que um texto é, no
fundo, a conjunção de vários fatores distintos que, interligados, dão à
escrita um sentido de globalidade, de textualidade. Assim, a partir de
palavras independentes formamos frases diversas, que, unidas, dão ori-
gem a orações, que por sua vez formam períodos, os quais engendram
os parágrafos e esses, por fim, o que chamamos de texto. Daí afirma-
mos que um texto é, grosso modo, um conjunto de estruturas verbais e/
ou frásicas intrinsecamente concatenadas, isto é, estruturas linguísticas
que se entrelaçam como se fossem fios de uma única teia. Aliás, a pró-
pria etimologia do vocábulo texto já nos sugere esse fato, uma vez que
provém do substantivo latino textum, que significava, ao mesmo tem-
po, tecido e, por extensão, trama e entrelaçamento (CUNHA, 1982;
TORRINHA, 1983). Palavras, frases, orações, períodos, tudo contri-
bui de modo contundente para a formação do tecido textual, dessa tes-
situra verbal.
Assim, não há como se pensar nos pressupostos da textualidade,
se não pensarmos antes na substancial relação que ela estabelece com a
noção de unidade, como sugerem alguns teóricos: “o principal atributo
de um texto – para ele ser considerado como tal – é a unidade. A uni-
dade de um texto se define, em princípio, pela sua completude – sem o
118 - Aspectos da produção textual: o trabalho com as ideias no texto dissertativo
que o texto não poderá ser reconhecido em sua totalidade, nem por suas
partes”. (SAYEG-SIQUEIRA, 1990, p. 12). Evidentemente, a denomi-
nação texto abrange modalidades de escrita muito mais diferenciadas
e singulares do que pode parecer, já que não é novidade alguma o fato
de existirem espécies diversas de textos (relatório, fichamento, resenha,
sinopse, resumo etc.), as quais devem se adequar ao tipo e ao objetivo
da mensagem a ser veiculada por meio da escrita.
Embora o trabalho de produção de um texto esteja mais ou menos
interiorizado pelos indivíduos que tiveram uma alfabetização formal,
o exercício da escrita possui uma estrutura subjacente responsável pela
coordenação das ideias que contém o texto e da linguagem que o con-
forma. Entender essa estrutura é compreender quais são as caracterís-
ticas principais de um texto, isto é, como ele se organiza, quais os seus
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a redação refere-se à sua expansão. Ora, não nos interessa tratar aqui
do processo de interpretação, mas antes do processo de realização con-
creta do texto, isto é, de sua redação. E se, como acabamos de afirmar,
esse processo caracteriza-se por ser a exposição lógica de ideias prees-
tabelecidas, é importante destacar alguns elementos que se referem par-
ticularmente a essa mesma lógica.
Quando nos referimos à lógica textual, estamos querendo salientar
pelo menos dois fenômenos imprescindíveis para a “perfeita” realiza-
ção de um texto: a coesão e a coerência (FÁVERO, 1991). Todo texto
necessita, para ser considerado como tal, de uma lógica interna que or-
dene seus componentes e, assim, possibilite sua mensagem. A articula-
ção lógica das ideias de um texto é conhecida pelo nome de coerência,
o que nos leva a concluir que um texto coerente é aquele que apresen-
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O texto transcrito traz, ele todo, como uma de suas marcas discur-
sivas o emprego do plural de modéstia (representado pelas categorias
gramaticais vinculadas à terceira pessoa do plural: nosso, podemos, fi-
xarmos, nos etc.) que desempenha várias funções: tornar o texto mais
objetivo, dar-lhe um caráter mais científico, revelar a natureza impesso-
al dos argumentos, compartilhar com o leitor a responsabilidade pelas
afirmações proferidas, manifestar a “modéstia” de reconhecer que suas
ideias fazem parte de um conjunto cognitivo universal (não pessoal).
O segundo procedimento relacionado à objetividade do texto dis-
sertativo diz respeito ao cuidado com o emprego das palavras, que de-
vem ser utilizadas rigorosamente no seu valor denotativo, isto é, na sua
“versão” concreta e real. Aliado a esse procedimento, devemos atentar
para a necessidade de se empregar, na dissertação, uma linguagem cul-
Maurício Silva - 131
além disso, quando cita explicitamente Morgan, não deixa de citar im-
plicitamente Freud e Platão; e assim por diante. Como tínhamos suge-
rido no início, um texto é feito a partir da contribuição de vários “fios”
que se entretecem para formar o “tecido” final: esses fios não são ape-
nas as ideias do autor que constrói o texto, mas também as de outros
autores que contribuem na construção de um texto muito maior, abs-
trato, que pode ser conhecido pelo nome de Ciência ou Conhecimento.
Além desse procedimento, a credibilidade é alcançada por meio da
apreensão de conceitos sólidos, retirados das diversas áreas do conheci-
mento humano. Nesse sentido, é importante que se busque o apoio do
consenso, ressaltando fatos cujo conteúdo seja unanimemente aceito.
Não é aconselhável, por exemplo, que se trabalhe com conceitos duvi-
dosos ou que careçam de comprovação científica, vocábulos polissê-
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to (o que tem a ver mais com problemas de coesão), mas para o modo
como o conteúdo dessas orações está exposto, a fim de que o produto
final não seja um texto bem redigido, bem encadeado, porém sem fun-
damento ideológico.
Nesse sentido, deve-se tomar cuidado, por exemplo, para que a
dissertação não contenha frases vazias de sentido ou frases deslocadas,
com ideias subentendidas. Quando falamos em frases vazias, estamos
nos referindo exatamente àquelas frases cujo conteúdo revela-se com-
pleta ou parcialmente pobre, sem que se possa depreender nenhum sig-
nificado expressivo para o texto, chegando, às vezes, a atentar contra o
“bom senso”. O mesmo pode-se dizer a respeito das frases deslocadas,
aquelas que contém ideias subentendidas, isto é, não explícitas. Esse é
um dos defeitos mais comuns, encontrado geralmente em redações es-
colares, pelo próprio fato de se tratar de um texto escrito por indivíduos
que nem sempre dominam muito bem as categorias estruturais da dis-
sertação, por falta de hábito, desatenção ou carência de qualificação. É
comum, por isso, encontrarmos períodos incompletos: com introdução,
mas sem conclusão; com causa, mas sem efeito; com premissa, mas sem
finalização; com proposição, mas sem inferência. Isso acontece, em ge-
ral, porque o autor manipula ideias subentendida, que estão presentes
apenas em sua mente ou em seu projeto, mas não no texto, onde real-
mente elas deveriam aparecer. Consequentemente, esse defeito acaba se
traduzindo num texto sem sentido, com ideias falhas e sem coerência.
E isso é tudo o que uma dissertação não deve ser!
Maurício Silva - 147
Cristina Munhão
Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Mackenzie,
Pós-Graduada em Literatura brasileira e Gramática pela Universidade
Metodista e Graduada em Letras pela Universidade São Judas Tadeu.
Atuou como Professora das Cadeiras de Redação Publicitária e
Comunicação e Expressão do Curso de Publicidade e Propaganda da
UNINOVE e também como revisora e corretora de textos no processo
seletivo UNINOVE.
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Lídia Spaziani
Há 27 anos envolve-se com o ensino e a aprendizagem especifica-
mente no Ensino Superior. As áreas de interesse são Inglês em Língua,
Literatura, Prática de Ensino e Metodologia, Português em Língua,
Metodologia e Prática. Leciona na UNINOVE há dezesseis anos e na
UNIP na Coordenadoria de Estágios em Educação. Concluiu o Mestrado
em Filologia e Língua Portuguesa (USP) e, atualmente, é Doutoranda
pela FFLCH-USP.
lidialiss@hotmail.com; lidialis@uninove.br
150 - Sobre os autores
Marcello Ribeiro
Tem 23 anos de experiência no magistério, sendo 15 no ensino su-
perior. É Doutor em Língua Portuguesa pela USP, pelo Departamento de
Filologia. Tem Mestrado em letras pela PUC/SP e também em Educação
pela Metodista /SP. Leciona a disciplina de Comunicação e Expressão
na UNINOVE para os cursos de Publicidade e Propaganda e Jornalismo.
marcelloribeiro@uninove.br
Maurício Silva
Possui doutorado e pós-doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas
pela Universidade de São Paulo; é professor do Programa de Mestrado
e Doutorado em Educação, na Universidade Nove de Julho (São Paulo);
atuou como pesquisador da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
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Thiago Lauriti
Doutorando e mestre em Letras pela Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-
USP). Especialista em Direito Constitucional (Direitos Humanos)
pela Faculdade Autônoma de Direito (FADISP), em Psicopedagogia
Clínica e Institucional e em Docência Universitária pela Universidade
Nove de Julho (UNINOVE). Bacharel em Letras (Língua Portuguesa)
pela (FFLCH-USP) e Licenciado em Língua Portuguesa pela (FE-
USP). Bacharel em Direito e licenciado em Pedagogia pela UNINOVE.
Avaliador (parecerista) da Revista da FUNDARTE – Fundação
Municipal de Artes de Montenegro, Rio Grande do Sul, Brasil.
thiagolauriti@uninove.br
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