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A PRISCA TEOLOGIA NA ARTE

Essa imagem foi encontrada na WEB e, infelizmente, não consegui creditá-la, mas parece ser
renascentista.

Ela retrata a Assunção de Maria aos céus. Aparentemente, é apenas uma concepção artística-
religiosa, sem maior compromisso de que retratar com beleza um dos dogmas do cristianismo. Mas
veremos que não é bem assim.
Observemos este recorte:

A disposição dos anjos internos, amarelos, é claramente cabalística.


Eis aqui a Árvore da Vida:
Sobrepondo as duas:

A Virgem percorre aqui o Caminho do Iniciado, o Caminho do Meio. Seus pés estão no mental
Yesod, enquanto que sua cabeça se situa dentro do Triângulo Divino – o Delta.
Esses anjos-sephiroth nos dão também algumas impressões simbólicas.
Vejam os anjos do Delta, que comporiam o Mundo da Emanação, Atziluth, velado a nós:

Esses três anjos olham para a Virgem, parecendo direcionar o olhar para, ou seu coração, ou
para o ponto onde estaria Daat, que é o Véu do Abismo, único lugar por onde se pode acessar Atziluth, o
Triângulo Superior (Delta).
Agora, Guevurah – a Justiça ou Rigor; Chesed – a Piedade ou Suavidade; Hod – a Glória ou
Razão, Raciocínio; e Netzach, Vitória ou Vontade, Determinação.

A Piedade (Benevolência, Complacência) – o anjo com metade do corpo oculto pelo manto da
Virgem, e Hod (Raciocínio, Razão), estão olhando para Tipheret, oculta pelo corpo de Maria, e localizada
no seu ventre. Lembremos que Tipheret é a Sephirah do Cristo Cósmico.
Guevurah, a Justiça (Severidade, Agressividade, Resistência), é a única que não olha para a
Santa em ascensão, pois não se deixa influenciar. Observem que o instrumento do anjo branco, do côro, é
um triângulo pendurado, lembrando a balança da Justiça.
Netzach (Emoção) tem a cabeça oculta pelo manto e o corpo pelo vestido, tendo exposto apenas
o coração.
Yesod (Mental, Imaginação) está totalmente oculta, mas o anjo do côro, o branco em que seus
pés estão apoiados, tenta olhar para cima, tendo que se contentar apenas com a imagem mental.
Agora vamos a Malkuth – a Matéria, representado na pintura pelas pessoas embaixo.
Observemos esta reprodução da Última Ceia, de Da Vinci:

Observe que há um personagem na pintura anterior que tem as mesmas cores das vestes do que
na pintura de Da Vinci. Até mesmo rostos parecidos são encontrados nas duas telas.

Esse jogo de cores parece se repetir em muitas pinturas dessa época, às vezes dessa forma, às
vezes invertida. Como sabemos, os pintores renascentistas eram pródigos em inserir códigos ocultos em
suas obras, como a própria obra de Da Vinci, mas não ficava só nele.
A figura – única que aparece de mãos postas – na pintura da Assunção, veste-se dessa forma e
tem uma aparência que seria condizente com o Cristo, representado da forma tradicional, e era dessa forma
que esses artistas o representavam.
As cores dessas vestes invertem o manto da Virgem. Aqui recordemos o 2º Princípio
Hermético: “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em
cima”.
Não seria crível que o artista, seja ele quem for, pintaria um personagem casual com todas as
características do Cristo, propiciando evidentes confusões. Aquele homem deve ser Jesus de Nazareh.
Mas como pode ser isso, se, quando Maria subiu aos céus, Ele já estava morto?
Se olharmos bem, na linha que representa Malchut não está um homem ou uma mulher, mas
um casal, o que representaria toda a Humanidade e, novamente, evoca o 2º Princípio Hermético. O
sacrifício do Grande Iniciado foi para nos salvar, ou seja, o Homem não continuaria sendo o mesmo sem
Ele. Ele passa a representar o homem.
Talvez a grande mensagem dessa obra seja a de que, ou pelo exemplo, ou pela história de 2000
anos, ou por sua presença espiritual, Ele continua entre nós.
Maria também é tomada como a encarnação da Shechinah, o Sagrado Feminino e a
comunicação entre Deus e o Homem.
“Sabei que o caminho que conduz à Árvore da Vida é a Senhora.” (O Zohar, cap. 5 – Revelações Sobre
a Shechinah, pg. 99).
“Ela é o mediador perfeito entre o Céu e a Terra.” (O Zohar, cap. 5 – Revelações Sobre a Shechinah,
pg. 100).
Não por acaso, sua imagem arquetípica no Cristianismo é a de intercessora, aquela a quem se
recorre quando muito precisamos. É o caminho, a ligação, o acesso entre o Homem e Deus.
A pintura, embora seja cristã, tem em si, como vemos, elementos e mensagens implícitas do
judaísmo. O Zohar é um dos livros-base da Cabala, portanto, não-cristão. Mas, mesmo o judaísmo,
“repete” os ensinamentos herméticos, pois a Cabala é, essencialmente, hermética.
Vemos, então, um conhecimento passado já em terceiro grau, pois é puro no hermetismo, passa
ao judaísmo e, finalmente, ao cristianismo. E isso nos sugere ainda outra mensagem. Se existe algo nessa
obra de arte que remonta a tempos anteriores ao cristianismo e ao próprio judaísmo, essas culturas aceitam
algo superior espiritualmente a elas e que embasa todo o pensamento religioso da Humanidade. Fica,
portanto, prejudicada a ideia de Salvação unicamente por uma opção de credo. E isso está dito em uma
obra Católica!
Esta superficialíssima análise é apenas uma, mas esses sinais se repetem na arte e denotam uma
espécie de consciência oculta que permeia a Obra Religiosa em geral, e que avança pelos séculos a tempos
imemoriais. Esta é uma obra católica, ou seja, recente. Mas essas “citações” por de trás das obras de arte
estão em todas as culturas e são testemunhas de que, de uma forma ou de outra, mesmo que seja de forma
sugerida e inconsciente, sempre fomos, somos e sempre seremos hermetistas. E é a isso a que se refere o
que chamamos de Prisca Theologia.
Ser religioso é seguir os dogmas que as religiões impõe; ser Iniciado é tomar nas mãos esse
conhecimento e pensar de per se, sem necessidade da condução de sacerdotes. Os religiosos são aquelas
pessoas – a maioria – que precisam dessa condução, e é saudável a seus espíritos que assim seja. Já os
Iniciados têm a licença de receber as pérolas, pois terão a necessária Sabedoria para utilizar a Força de seu
intelecto e apreciar sua Beleza.

Ir∴ Hermeto Silva, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 da E∴ V∴

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