PANORAMA GERAL DA UTILIZAÇÃO DE BACTÉRIAS NA

ENGENHARIA DE BIOTECNOLOGIA COM ÊNFASE NO DESIGN

DE BIOPRODUTOS

Luiz Jardim; João Tesini

RESUMO:
O presente estudo visa sintetizar de forma geral a utilização de bactérias em
diferentes contextos (saúde, alimentação, agricultura, meio ambiente) com
enfoque na área industrial e na criação de materiais e produtos biotecnológicos,
apresentando a pesquisa de conclusão de curso de Emma Sicher e o trabalho
continuo da Professora Drª Neri Oxman no MIT Media Lab (Laboratório que
entrelaça arte, design, ciência e engenharia do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts). A pesquisa tem por objetivo aprofundar o conhecimento de
bactérias na disciplina de Bioengenharia 1 da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná.

Palavras-chave: trabalho-acadêmico, bioquímica, biotecnologia, bactéria,

indústria, biodesign

1. INTRODUÇÃO
As bactérias são seres procariontes unicelulares, providos com diversas
funcionalidades e que através da produção científica de biotecnologias estão
cada vez mais presentes na produção de manufaturas industriais, remédios,
alimentos e na manutenção do meio ambiente. Nesta pesquisa bibliográfica, será
abordado a utilização de bactérias para a criação de massas, controle de pragas
dentro da agricultura e o consumo da spirulina como uma forma de nutrição
dentro da esfera da saúde, além de uma exposição das pesquisas de Neri
Oxman e Emma Sicher na manufatura de produtos biotecnológicos industriais,
respectivamente no design de roupas e no design de novas embalagens. A
dissertação atrela o uso de bactérias nos âmbitos citados e seus impactos ao
meio ambiente, expondo um panorama geral da área a ser trabalhada.

2. PANORAMA GERAL
A percepção do que é ruim e do que é bom pode ser trabalho e estimulado de
forma significante desde o início da formação do ser humano, é necessário
enxergar como é feita a representação de elementos na construção do
imaginário e da consciência. Nos desenhos infantis por exemplo, as bactérias e
micro-organismos são representados na cor verde e normalmente com um tom
de vilania, dessa maneira as crianças entenderiam a importância por exemplo
do ato de lavar as mãos. Não obstante a importância do combate as más
bactérias e os germes, cria-se uma ideia falha quanto ao que é bactéria e que se
perdura por muito tempo e não se valoriza o poder que estes micro-organismos
podem desenvolver. As bactérias se encontram nas mais diversas esferas, a
priori podemos colocar a fermentação como um processo milenar que até hoje é
colocada em pauta.
A panificação que se encontra em boa parte das manhãs dos brasileiros é
também um processo biotecnológico que é conhecido pela humanidade a
milênios. A massa depende de uma reprodução anaeróbica de bactérias
presentes no ar as quais consomem o açúcar presente na massa, provocando o
crescimento dela. Porém o processo é lento e para os padrões de produção
capitalista, não é o ideal. para isto usa-se leveduras que funcionam como
“catalisadores”, assim liberando o dióxido de carbono e o etanol mais
rapidamente. Para que as massas consumidas pela sociedade sejam entregues
com qualidade e quantidade, é necessário que haja um controle de pragas nas
plantações, as quais podem ser feitas a partir de químicos poluentes ou ainda
como uma maneira sustentável o uso de bactérias como Bacillus thuringiensis,
as quais atacam as pestes afloradas das plantações. No caso da bactéria citada,
cria cristais os quais desativam o sistema digestório das pestes e assim as
eliminando. É uma maneira de não contaminar os lençóis freáticos e o solo no
geral. Ainda quanto a esfera alimentícia e sua produção, podemos ainda atrelar
a saúde a qual tem diversos estudos e aplicações das bactérias em seu âmbito,
um exemplo famoso se trata da penicilina. Não obstante seu processo e
aplicação ser de grande nome, também houve progresso dentro da nutrição, a
Spirulina platensis também pode ser um ótimo exemplo na promoção da saúde
global.

Figura 1: Spirulina Platensis, aumento respectivo de 200x e 400x (BARROS 2010)

A Spirulina ganhou fama por ter diversos nutrientes agregados, 50%-70% de sua
constituição é pura proteína, contém aminoácidos essenciais e rica em minerais
e vitaminas como a B12 e o ômega-3 (BARROS 2010). Além do fato de que a
Spirulina platensis é uma aliada na nutrição da alimentação contemporânea,
afinal por conter tantos benefícios, pode ser um companheiro daqueles que têm
uma dieta vegetariana estrita. No próximo tópico terá por objetivo apresentar o
uso das bactérias aglomerando não só as 3 áreas citadas (alimentação,
agricultura e saúde) mas também o meio ambiente e a industrialização.
3. MUSHTARI: ROUPA BACTERIANA
A ascensão de bioprocessos é uma resposta da necessidade de um mundo mais
automatizado, inteligente e sustentável, entender que as bactérias podem ser
utilizadas para fomentar um novo padrão de vida deve ser assimilado de forma
concreta. Em busca de criar projetos inovadores, Neri Oxman é um triunfo do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, afinal criou diversos projetos de
arquitetura e design de base majoritariamente biológica. Neste texto
abordaremos um de seus trabalhos, conhecido como Mushtari, uma roupa
produzida a partir de filamentos e documentada em Grown, Printed, and
Biologically Augmented: An Additively Manufactured Microfluidic Wearable,
Functionally Templated for Synthetic Microbes. O desafio da equipe do MIT foi
unir micro-organismos autótrofos fotossintéticos a um material que possa ser
usado como uma roupa, um conceito o qual funciona como uma indústria
bacteriana a qual cresce durante a exposição de luz.
Através de canais das propriedades dos materiais utilizados, como a opacidade,
a equipe moldou as bactérias Bacillus subtilis e Escherichia coli para receberem
a energia química produzida de organismos foto-autótrofos/cianobactérias na
forma de carbono fixo após serem inseridos perante a luz do sol.

Figura 2: O esquema demonstra como as bactérias se comportam dentro da matriz translúcida

(atividade autotrófica) e opaca (consumo). (OXMAN 2014)

Por fim, os pesquisadores de MUSHTARI decidiram utilizar a impressão 3d como

processo de fabricação. A impressora consegue através de foto polímeros e um
sistema de canais muito bem definido, produzir camada por camada o material
biológico.
Em conclusão, a pesquisa uniu a computação, microrganismos sintéticos e a
manufatura para criar uma roupa feita a partir de bactérias e a incidência de luz,
questionando de forma inovadora como para quem a indústria produz.

4. EMBALAGEM BACTERIANA: MATERIAL SUSTENTÁVEL

Seguindo a mesma linha de pensamento de Neri Oxman, a pesquisadora da Free

University of Bolzen-Bolzano produziu embalagens de celulose biotecnológicas,
buscando entender como busca-se o material a ser utilizado na produção, no
caso restos de leguminosas e frutas, e o seu posterior descarte, em seu projeto
intitulado como Designing with microbial cellulose to feed new biological cycles.

Figura 3: Celulose Microbiana padronizada. (SICHER 2017)

Neste projeto Emma traçou como objetivo buscar em sua totalidade a

biomimética, que em suma é uma metodologia, a qual pode ser aplicada em
qualquer âmbito da inovação e no design de novos matérias ou engenharia de
produtos, que busca aplicar referências, características químicas ou mecânicas
de elementos da natureza. No caso do produto sendo abordado, Sicher cita
Bruno Munari, o qual observa que a primeira produtora de embalagens do mundo
é a própria natureza, afinal a casca, pele ou concha, tem a finalidade de proteger
seu conteúdo.
Se pode colocar em um ponto muito bem definido de que a embalagem e Sicher
é um aprimoramento do material já existente de Rosa Janusz, Scoby, a simbiose
de bactérias e leveduras na produção de chá kombucha. Uma nova perspectiva
para o descarte de restos de leguminosas e frutas para um novo produto.
 Figura 4: Camada seca de celulose microbiana (SICHER 2017)

A aposta dos pesquisadores foi criar dois caminhos simultâneos, criar alimentos
e a embalagem a partir dos restos citados. Então houve um estudo bibliográfico
quanto ao uso da bactéria Gluconacetobacter xylinus e da levedura
Saccharomyces cerevisiae e consequentemente testes atrelando os resíduos no
processo de fermentação. O resultado obtido foi um material o qual variava suas
cores de acordo com o resíduo atrelado, podendo ser ingerido ou ir pra
compostagem.
A exploração do material culminou em um produto com aderência a água,
aparentemente é a prova de fogo e também pode ser moldado e cortado com as
mais diversas técnicas da produção de manufaturas geral. Novas
experimentações foram feitas e conseguiram criar diversas camadas do material
para formar embalagens e plataformas concisas nas figuras a seguir:
Figura 5: embalagem de doces feita a partir de celulose microbiana e restos de batata, tingida
com tinta azul. (SICHER 2017)

Figura 6: Prato feito a partir de celulose microbiana e restos de beterraba. (SICHER 2017)
CONCLUSÃO
As bactérias não só estão mais que presentes nas mais diversas esferas, mas
dialogam diretamente com sociedade, produzindo inovação em como nos
alimentamos, produzimos, protegemos ou destruímos o meio ambiente e como
sobrevivemos. A produção científica industrial deve seguir os passos das
cientistas citadas para fomentar novos meios de ultrapassar os gastos que a
humanidade fornece ao planeta e ainda sim criar novas soluções
interdisciplinares para a evolução da raça humana, através de estudos das
engenharias e outras humanidades como o biodesign.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVEIRA, L. M. Introdução à teoria da cor. Curitiba: UTFPR, 2015. 171 p.
BALSAMO, Rayane. Utilização sistêmica de Bacillus thuringiensis para controle
de Plutella xylostella na cultura de couve. 2009. 84 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Agrárias) - Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
BARROS, K. K. S. Produção de biomassa de Arthrospira platensis (Spirulina
platensis) para alimentação humana. 2010. 111p. Dissertação (Mestrado em
Ciência e Tecnologias de Alimentos), Universidade Federal da Paraíba.
Bader, C., Patrick, W., Kolb, D., Hays, S., Keating, S., Sharma, S., Dikovsky, D.,
Belocon, B., Weaver, J., Silver, P., and Oxman, N., 3D PRINTING AND
ADDITIVE MANUFACTURING, Volume 3, Number 2, 2016, 79-89
Cohen, Nitzan & Sicher, Emma & Ugur Yavuz, Secil. (2019). Designing with
microbial cellulose to feed new biological cycles. International Journal of Food
Design. 4. 155-171. 10.1386/ijfd_00003_1.