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Esta tendência tem como o seu ideal último na actual episteme tecnocientífica a realidade
virtual. Na realidade virtual, a transparência do medium, entendida enquanto imediação, é vista
como total: as interações entre utilizador e medium fazem-se com o menor atrito possível da
interface, e, nessa medida, o medium retrai-se da consciência do utilizador. Idealmente, a
interface deixa mesmo de existir e o utilizador contacta directamente, através dos seus
movimentos corporais “naturais”, com um mundo virtual.
Porém, mesmo fora desta realidade virtual idealizada em que a interface desaparece quase
de forma literal, encontramos a procura da transparência nas actuais tecnologias digitais
enquanto métodos concretos para retrair a consciência da presença da mediação - ou, dito por
outras palavras, enquanto métodos para «naturalizar» o medium (Bolter e Grusin, 2000, p. 23).
Desde a utilização da perspetiva linear em jogos de first person shooter, passando pelo recurso a
remediações de media analógicos que estabeleçam efeitos de realismo, até ao progressivo
aumento do realismo dos gráficos digitais - com a sua procura incessante pelo designado
fotorealismo - em todos estes casos encontramos uma procura pela transparência a partir de um
conjunto de práticas e crenças instituídas tanto na perspetiva do sistema de produção e
distribuição mediático, quanto na perspetiva de recepção.
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forma codificada culturalmente (p. 21). Bolter (2000) concretiza afirmando que as propriedades
formais do medium são inseparáveis das questões materiais e económicas (p. 69). Neste sentido,
as propriedades materiais do medium não são conceptualizadas como diferenciadas - ou
diferenciáveis - daquilo que podemos designar enquanto os costumes culturais de uma
determinada época. Aqui, e sem cair necessariamente em nenhum tipo de determinismo
tecnológico, podemos afirmar que a influência é bidirecional. Autores como Kittler (1999)
documentam como o aparato tecno-mediológico de uma determinada época influencia as
tendências culturais da mesma, enquanto que autores como Feenberg (2017) colocam a tónica
na forma como os fluxos socioeconômicos de uma determinada época moldam as suas
tecnologias.
Por entre as infinitas danças e nuances que este jogo entre cultura e tecnologia faz emergir,
diversos autores têm documentado uma tendência para um imperativo de transparência nas
sociedades ocidentais contemporâneas que, sendo inseparável do sistema mediático, vai muito
para além do mesmo. A este propósito, Byung Chul-Han (2014), no seu estudo filosófico sobre as
diversas vertentes do imperativo da transparência nas sociedades contemporâneas, sublinha: «o
sistema social submete hoje todos os seus processos a uma coação da transparência que visa
torná-los operacionais e acelerá-los» (p. 12). A ideia base é que, para os processos do sistema
social se tornarem mais operacionais, necessitam de se tornar mais transparentes - isto é,
naturalizados através de lógicas que permitam o acesso e a quantificação de todas as vertentes
da vida.
A este propósito, Mark Nunes (2011) sublinha que a forma «como conduzimos negócios,
trocamos ideias, nos entretemos, e como participamos na política depende de fluxos de
informação fiáveis» (p. 3). Esta datificação de todas as vertentes do real não é apenas
conceptual: os sistemas de produção e distribuição económicos estão cada vez mais
dependentes dos sistemas de controlo digitais. Mark Nunes estabelece uma ligação direta entre
transparência e eficiência - os fluxos de informação precisam de se tornar transparentes para
que os sistemas de controlo possam processá-los e torná-los eficientes. Neste sentido, a questão
de naturalizar as mediações tem implicações que vão muito para além do momento de mediação
tecnológica, e o ideal de transparência tecnocientífico não se limita à transparência do medium.
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O que significa, no entanto, dizer que algo é ruído - em particular, no contexto da arte?
Douglas Kahn (1999) defende que definir o ruído «de uma maneira única para todos os
contextos só convidará o ruído em si mesmo» (p. 21). De facto, como veremos, aquilo que é (ou
pode ser) considerado ruído é vasto e inseparável de contextos históricos concretos. Isto não
nos impede, no entanto, de estabelecer uma tipologia analítica que permita gerar uma espécie
de constelação conceptual do ruído - no sentido que Walter Benjamin dá ao termo (1998, pp.
27-36). Fetveit (2013) estabelece e explora dois sentidos possíveis para o termo ruído. O
primeiro é sonoro - e adequa-se bastante bem aos exemplos musicais referidos. Neste sentido, o
ruído é um «distúrbio causado por sons» (p. 190). É possível estabelecer um princípio mais
geral a partir deste, que vá para lá da percepção sonora, segundo o qual o ruído corresponde a
«algo que perturba a percepção de outra coisa» (p. 190).
O autor refere, no entanto, que existe um segundo sentido que o termo ruído pode adoptar -
com possíveis aproximações e distanciamentos em relação ao primeiro. Este segundo sentido é
um sentido tecnocientífico e refere-se à elaboração do conceito de ruído na tradição da teoria
matemática da comunicação de Shannon e Weaver. Shannon e Weaver estavam preocupados
com a transmissão de mensagens através de aparelhos tecnológicos. Neste contexto, consideram
ruído todos os sinais que sejam transmitidos a mais do que aquilo que era a intenção de quem
envia. Escreve Weaver a este propósito:
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Classificar o ruído como informação pode parecer algo contra-intuitivo. Sobre este ponto, é
preciso ter em consideração alguns pormenores. Apesar de reconhecerem perfeitamente que
existem vários níveis de problemas na questão da comunicação, Shannon e Weaver estavam
fundamentalmente preocupados com problemas técnicos (p. 4). Neste sentido, existe uma
separação - ainda que artificial - do conceito de informação de questões de significação. Como
Fiske (1990) sublinha, o problema em mãos dos autores trata de criar as condições para as
tecnologias de comunicação «serem usadas de forma mais eficiente» (p. 6). Neste sentido, a
informação é conceptualizada como um conjunto de bits quantificáveis. O problema
fundamental de Shannon e Weaver passa por maximizar a eficiência na transmissão destes bits
através de meios tecnológicos. É a partir desta premissa que os autores tomam a opção, em
contraposição com a tradição da termodinâmica e a tradição da cibernética de Wiener, de fazer
uma equivalência entre informação e entropia - a «escolha de Shannon», como a designa
Katherine Hayles (1991, pp. 31-60). Para a cibernética de Norbert Wiener, inspirada na tradição
da termodinâmica, um aumento de entropia corresponde a um aumento de desordem de um
determinado sistema. Já a informação corresponde ao seu oposto - à possibilidade do sistema se
organizar para contrariar as tendências entrópicas. A informação é, assim sendo, o «negativo da
entropia» (Wiener, 1970, p. 21). Para Shannon e Weaver, o problema surge ao contrário: a sua
preocupação é codificar a transmissão de mensagens no ponto A para que seja descodificada no
ponto B, partindo do pressuposto que existe um código partilhado em ambos os pontos. Este
código partilhado codifica um determinado número de possibilidades de transmissão - ou, dito
de outra forma, um determinado número de possibilidades informativas. Quanto mais
possibilidades estiverem contempladas na codificação, mais possibilidades informativas
existem, mais operações são necessárias para prever e descodificar a mensagem recebida e,
logo, mais entropia existe em potência no canal de transmissão.
Aqui, é importante deslindar a delicada dança entre entropia e ruído na teoria matemática
da comunicação. O ruído, sendo informação, é visto como um tipo particular de entropia - que
surge num espaço designado como equivocação (Weaver, 1949, p. 20). A equivocação é definida
especificamente como o grau de incerteza em relação à mensagem pretendida quando o sinal
chega ao receptor - ou seja, a equivocação corresponde à incerteza introduzida pelo ruído (p.
11). Assim sendo, neste modelo, um aumento de informação não corresponde necessariamente
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a algo positivo ou desejável. Todos os tipos de ruído que cada medium pode produzir - desde as
distorções de som até aos glitches informáticos - são classificados por Weaver explicitamente
como «incerteza indesejável» (p. 19). Aqui vemos uma clara aproximação daquilo que a teoria da
informação entende por ruído com o outro sentido que Fetveit descortina para o conceito:
enquanto algo que prejudica a percepção de outra coisa.
Umberto Eco (1989), ao discutir a teoria de Shannon e Weaver na Obra Aberta (pp. 55-62),
chega a conclusões semelhantes. Shannon e Weaver dão-nos uma perspetiva da comunicação
como sendo algo permanentemente assombrado pela possibilidade da mensagem recebida não
ser a mensagem enviada - o tal espaço da equivocação. No entanto, quando os autores colocam o
problema do ruído como um problema de distanciamento entre essas duas instâncias
comunicativas, abrem igualmente a porta à ideia de um ruído produtivo - ou uma «poiesis do
ruído», como lhe chama Mark Nunes (2011, p. 4). O propósito de Shannon e Weaver seria,
através da aplicação rigorosa da estatística e da teoria das probabilidades a partir de um código
previamente definido, diminuir o espaço do ruído e da equivocação; mas, em contraposição, o
propósito da poética artística seria sustentar e expandir precisamente esse espaço. Escreve Eco:
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Shannon e Weaver reconhecem, no entanto, que uma pequena - e controlada - quantidade de ruído é necessária para
maximizar a eficiência do canal de transmissão.
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A perspectiva teórica de Rosa Menkman é uma boa âncora para contextualizar, pelo
menos, uma parte da glitch art. Menkman cita e concorda com a proposta de Bolter e Grusin de
que o desenvolvimento tecnológico se está a efectuar na procura de uma transparência imediada
(2011b, p. 14). A artista descreve esta procura pela imediação enquanto a suposição de que a
tecnologia «não intervém no processo de enviar ou percepcionar informação» (2011b, p. 14). No
Glitch Studies Manifesto, Menkman classifica a procura da imediação da seguinte forma: «A
procura, dominante e continua, por um canal sem ruído tem sido, e será sempre, não mais do
que um dogma lamentável e malfadado» (2011a, p. 2).
Rosa Menkman propõe uma subversão da relação com o medium a partir de uma relação
igualmente subversiva com a teoria da informação. No seu método, a artista parte da separação
proposta por Shannon e Weaver entre informação e significado, olhando para os mecanismos
técnicos de um medium como sendo, passe a redundância, meramente tecno-informacionais. De
seguida, a artista cria as condições para que o medium produza alguma forma de ruído - sendo
que ruído é entendido aqui de forma idêntica à proposta pelos autores da teoria matemática da
comunicação. Aquando o surgimento de algum tipo de ruído, por algum motivo, considerado
relevante em termos estéticos, a artista procura capturar esse ruído e dar-lhe um novo contexto.
Nesta sequência, «(...) esses artefactos não são mais entendidos enquanto ruído com base na
teoria da informação, mas são elevados a objetos que encontram o seu significado dentro das
humanidades ou ciências sociais» (2009, p. 2). Rosa Menkman, como fica explícito nesta citação,
trabalha na intersecção entre arte e teoria - a artista procura gerar uma estética que esteja em
intersecção com o estudo teórico. Este não é, obviamente, o caso com todos os artistas deste
movimento. No entanto, a metodologia base é similar para a maioria dos artistas da glitch art,
pelo menos na sua vertente mais crítica; ainda que o objetivo não seja necessariamente
encontrar significado de uma perspetiva teórica, mas possa ser “apenas” encontrar um
significado estético no ruído. Como Tim Barker (2011) resume: «Neste tipo de obra o papel do
artista é impelir a que ocorra um erro ou um glitch no sistema específico, e depois reconfigurar
ou explorar as qualidades generativas do erro imprevisto» (p. 44).
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Existem antecedentes para as técnicas aplicadas na glitch art. Uma exploração destes antecedentes vai muito para
além dos propósitos deste trabalho, mas A Colour Box (1935), de Len Lye, e The Cut-Ups (1967) de Antony Balch e
William Burroughs, são nítidos exemplos.
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som não é acidental. Existe, de facto, uma certa tendência para os glitch artists trabalharem com
diferentes “tipos de media” - som, video, texto etc. Colocamos aqui “tipos de media” entre aspas
devido à questão em aberto nos estudos teóricos em relação ao colapso, ou não, dos diferentes
tipos de media em apenas um medium a partir da digitalização. A este propósito, escreve Kittler
(1997):
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Aqui entramos no âmago do propósito da metodologia proposta pela glitch art. A ideia de
Menkman, em sintonia com algumas ideias já previamente apresentadas no presente raciocínio,
é que o imperativo da transparência gera zonas de ofuscação gigantes - desde logo, ofusca a
consciência da própria mediação - sendo que a ofuscação tem um peso cultural e político não
negligenciável. Assim sendo, esta dialética que visa destroçar o medium para que o mesmo
produza ruído, para de seguida elevar o ruído a uma estética artística, pretende colocar o
próprio processo de mediação no centro da atenção e do pensamento. Nas palavras de
Menkman, a forma como um medium falha - o seu ruído - corresponde às suas «impressões
digitais» (2011a, p. 2). Na glitch art, o colapso do medium corresponde, portanto, à sua
revelação. É importante notar, no entanto, que tanto o conceito de ruído, como o próprio
conceito de mediação, ganham uma dimensão que vai para além do tecnológico. Na linha de
autores como Kittler ou Feenberg, o tecnológico não é visto como algo reificado, separado ou
separável das questões sociais e culturais:
«(...) a materialidade da glitch art não é (apenas) a máquina onde a obra aparece,
mas uma construção em constante mudança que depende de interações entre
dinâmicas textuais, sociais, estéticas e económicas e, claro, o ponto de vista a
partir do qual os diferentes actores criam significado» (p. 10).
Do ponto de vista maquínico, uma sequência de bits que é considerada ruído por parte do
utilizador, é apenas mais uma sequência de bits. Apenas mais um processo material como outro
qualquer. É no contexto dos padrões de produção, distribuição e utilização mediáticos,
historicamente localizados, que as fronteiras entre informação desejável e ruído são
estabelecidas. Estes padrões tecnológicos são, portanto, absolutamente inseparáveis dos
padrões económicos, sociais e estéticos nos quais emergem. Um dos principais problemas que
podem emergir de uma mediação transparente é a ofuscação não só do momento de mediação,
como também das estruturas de poder que a suportam. Na glitch art, estas fronteiras quebram -
e procura-se a possibilidade de gerar novos padrões e novos significados a partir de um
horizonte de destroços (p. 11).
Porém, surge aqui um segundo problema, adjacente a este, e que remete para uma divisão na
glitch art de um ponto de vista da sua produção - divisão essa que, como Menkman refere, pode
não ser perceptível de um ponto de vista da recepção. Trata-se da questão do método de
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produção do glitch. Uma parte da glitch art recorre a métodos de databending ou circuitbending
para forçar o medium a produzir bugs, glitches e erros em geral; e utiliza esses erros num
horizonte estético crítico. Porém, com o desenvolvimento de determinados «arquétipos de
glitch» (2011a, p. 7) - que correspondem a formas de ruído particulares que se tornaram, de
alguma forma, célebres ou culturalmente relevantes ao longo dos anos 10 do terceiro milénio -
surgiram também tendências sócio-culturais de simulação do glitch. Referimo-nos a filtros de
fotografias, disponibilizados por plataformas como o instagram ou o snapchat, para introduzir
ruídos específicos em fotografias - por exemplo, a simulação que a fotografia foi captada por
uma máquina analógica; ou ao já referido videoclipe de Kanye West, que recorre à estética do
glitch não com um horizonte crítico, mas enquanto mais uma forma de falar da sua vida amorosa
pessoal. Nestes casos, não só o ruído pode nem ocorrer de uma perspetiva técnica - apenas a sua
simulação - como o horizonte da sua utilização foi apropriado pelas lógicas da imediação. O
ruído passa a ser utilizado como apenas mais uma ferramenta da transparência.
Rosa Menkman, seguindo uma tradição modernista, faz uma separação relativamente rígida
entre vã-guarda e cultura popular, não deixando de referir a superioridade da primeira. Apesar
dessa separação, a autora sublinha que mesmo as simulações de glitch fazem parte da glitch art -
ainda que designe essa tendência enquanto «conservadora» (2011a, p. 7). A este propósito de
uma possível separação entre arte e cultura popular na glitch art, é importante sublinhar a
existência e circulação de obras híbridas que quebram sequer a possibilidade de conceptualizar
a separação. O também já referido videoclipe Rock Me Amadeus dos Front Line Assembly
apresenta uma estética glitch, embebida de diversas camadas irónicas e pós-irónicas, em que
elementos de pop culture e vã-guarda são misturados e remisturados ao som de uma nova
versão do clássico da pop culture alemã originalmente de Falco - que versa sobre a ideia de que
Mozart não foi mais do que uma pop star da sua época. Neste caso, estamos próximos de um
pastiche pós-moderno, em que qualquer fronteira que essencialize a arte deixa de fazer sentido,
sem que um horizonte crítico seja necessariamente perdido.
Ainda que a separação entre vã-guarda e cultura popular possa ser criticável, a tensão
referida por Menkman entre a produção crítica e a reapropriação mercantil continua a existir - e
a diluição da estética glitch em apenas mais uma forma de imediação é uma tendência que
ganhou fôlego. Esta possibilidade acaba por fazer sentido dentro da conceptualização da própria
Menkman: quando o ruído é elevado a novos tipos de significação, historicamente localizados,
nada garante que não serão mais horizontes de neutralização da consciência da mediação.
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O elogio do ruído
O futurista Luigi Russolo antecipou um cenário em que uma proliferação das máquinas
conduziria a um aumento generalizado do ruído sonoro, e a uma tendência das artes musicais se
apropriarem de sons dissonantes com vista a aumentar o seu leque estético. Hoje, perante uma
multiplicação de máquinas acentuada ao ponto de colocar vários tipos de dispositivos
computacionais nos nossos bolsos, não só nos deparamos com uma realidade em que se
multiplicam os possíveis ruídos, como se multiplicam também as suas possíveis tipologias. Nesta
sequência, multiplicam-se também as possibilidades artísticas da sua apropriação - que
podemos colocar à volta da constelação conceptual de uma “estética do ruído”.
Movimentos artísticos como a glitch art procuram criar contra-tendências estéticas a este
imperativo de naturalização - espaços de hipermediação, nos quais a presença da mediação se
torne patente na consciência do utilizador. O potencial crítico do recurso ao ruído pode
facilmente ser diluído - constatação que pode ser feita em relação a qualquer recurso estético.
Porém, perante a multiplicação de zonas de mediação ofuscadas, o argumento de artistas como
Rosa Menkman é que a urgência de forçar a mediação a revelar-se nunca terá sido tão patente
como agora, e o ruído é um dos recursos estéticos mais adequados para o efeito.
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