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1.

INTRODUÇÃO

O princípio da supremacia requer que todas as situações jurídicas se


conformem com os princípios e preceitos da Constituição Federal. Essa
conformidade com os ditames constitucionais, agora, não se satisfaz apenas com
a atuação positiva de acordo com a constituição. Exige mais, pois omitir a
aplicação de normas constitucionais, quando a Constituição assim a determina,
também constitui conduta inconstitucional.

O presente estudo versa a respeito da ação de inconstitucionalidade


por omissão, sua necessidade, utilidade e efeitos.

2. A INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO

A inconstitucionalidade por omissão verifica-se nos casos em que não são


praticados atos legislativos ou administrativos requeridos para tornar plenamente
aplicáveis normas constitucionais. Muitas destas, de fato, requerem uma lei ou
uma providência administrativa para que os direitos ou situações nelas previstos
se efetivem na prática. Por exemplo:

A constituição prevê o direito de participação dos trabalhadores nos


lucros e na gestão das empresas, conforme definido em lei, mas, se
esse direito não se realizar, por omissão do legislador em produzir a
lei aí referida e necessária à plena aplicação da norma, tal omissão
se caracterizará como inconstitucional. Ocorre então, o pressuposto
para a propositura de uma ação de inconstitucionalidade por
omissão, visando obter do legislador a elaboração da lei em causa.

Outro exemplo:

A Constituição reconhece que a saúde e a educação são direitos de


todos e dever do Estado, mas se não se produzirem os atos
legislativos e administrativos indispensáveis para que se efetivem
tais direitos em favor dos interessados, aí também teremos uma

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omissão inconstitucional do Poder Público, que possibilita a
interposição da ação de inconstitucionalidade por omissão.

Como salientado por Canotilho e Moreira:

“o princípio da constitucionalidade não diz respeito apenas às ações


do Estado; abrange também as omissões ou inações do Estado. A
constituição não é somente um conjunto de normas proibitivas e de
normas de organização e competência, é também um conjunto de
normas positivas, que exigem do Estado e dos seus órgãos uma
atividade, uma ação. O incumprimento dessas normas, por inércia
do Estado, ou seja, por falta total de medias ou pela sua
insuficiência, deficiência ou inadequação, traduz-se igualmente
numa infração da Constituição – Inconstitucionalidade por omissão”i

Para melhor entendimento, podemos definir a inconstitucionalidade por


omissão, como a incompatibilidade entre a conduta positiva exigida pela
Constituição Federal e a conduta negativa (omissa) do poder público.

3. A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO.


3.1 DO CABIMENTO E UTILIDADE:

A Constituição Federal prevê que, declarada a inconstitucionalidade por


omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao
poder competente para a adoção das providências necessárias.

A ação direta de inconstitucionalidade por omissão só é cabível, quando a


Constituição obriga o poder público a emitir um comando normativo e este queda-
se inerte, pois o que se pretende é preencher as lacunas inconstitucionais, para
que todas as normas constitucionais obtenha eficácia plena.

A omissão poderá ser absoluta (total) ou relativa (parcial), pois “a total


ausência de normas como também a omissão parcial, na hipótese de
cumprimento imperfeito ou insatisfatório de dever constitucional de legislar”,
possibilitam o ajuizamento da ação. ii

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Sendo assim, para combater essa omissão, que acarreta a inaplicabilidade
de algumas normas constitucionais, a Constituição Federal trouxe-nos a ação
direta de inconstitucionalidade por omissão. O objetivo pretendido pelo legislador
constituinte de 1988, com a previsão da ação direta de inconstitucionalidade por
omissão, foi conceder plena eficácia às normas constitucionais que dependessem
de complementação infraconstitucional.

Assim, tem cabimento a presente ação, quando o poder público se abstém


de um dever que a Constituição lhe atribuiu.

3.2 DA LEGITIMIDADE PARA PROPOR A AÇÃO:

Conforme trás a Lei nº 12.063/2009, em seu artigo 12-A:

Art. 12-A.  Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por


omissão os legitimados à propositura da ação direta de
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade. 

Quais sejam:

a) o Presidente da República;
b) a Mesa do Senado Federal;
c) a Mesa da Câmara dos Deputados;
d) a Mesa de Assembléia Legislativa ou a Mesa da Câmara
Legislativa do Distrito Federal;
e) o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal;
f) o Procurador-Geral da República;
g) o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
h) partido político com representação no Congresso Nacional;
i) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

3.3 DO PROCEDIMENTO:

O procedimento a ser seguido pela ação direta de inconstitucionalidade por


omissão é o mesmo da ação de inconstitucionalidade genérica.

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Importante salientar que inexiste prazo para a propositura da presente
ação, havendo, porém, necessidade de aferir caso a caso existência do
transcurso de tempo razoável, que já houvesse permitido a edição da norma
faltante.

É incompatível com o objeto da referida demanda a concessão da liminar,


pois, se nem mesmo o provimento judicial último pode implicar o afastamento da
omissão, o mesmo se dará quanto ao exame preliminar.

O depoimento do advogado-geral da União, nas ações diretas de


inconstitucionalidade por omissão, não é obrigatório, uma vez que inexiste ato
impugnado a ser defendido, salvo nas hipóteses de omissão parcial, em que
deverá produzir defesa, no sentido de afastar a alegada deficiência da norma.

O Ministério Público, porém, sempre deverá manifestar-se, antes da


análise do Plenário sobre a ação proposta.

Para o julgamento da ação, deverão estar presentes no mínimo oito


ministros do STF, devendo declarar a inconstitucionalidade por omissão, por
maioria absoluta dos membros.

4. DOS EFEITOS:

Declarando o STJ a inconstitucionalidade por omissão, por ausência de


medida legal que torne a norma constitucional efetiva, deverá dar ciência ao
Poder ou órgão competente para:

a) Órgãos administrativos: adoção de providências necessárias em 30


dias. A fixação de prazo permite a futura responsabilização do poder
público administrativo, caso a omissão permaneça;
b) Poder legislativo: ciência para adoção das providências necessárias,
sem prazo preestabelecido. Nessa hipótese, o Poder Legislativo tem a
oportunidade e a conveniência de legislar, no exercício constitucional de
sua função precípua, não podendo ser forçado pelo Poder Judiciário a
exercer seu dever, sob pena de afrontar a separação dos Poderes,
fixada pelo art. 2º da Carta Constitucional. Como não há fixação de
prazo para a adoção das providências cabíveis, igualmente, não haverá
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possibilidade de responsabilidade dos órgãos legislativos. Declarada,
porém, a inconstitucionalidade e dada ciência ao Poder Legislativo, fixa-
se judicialmente a ocorrência da omissão, com efeitos retroativos ex
tunc e erga ormnes, permitindo-se a responsabilização por perdas e
danos, na qualidade de pessoa de direito público, da União Federal, se
da omissão ocorrer qualquer prejuízo.

Dessa forma, a decisão nas ações diretas de inconstitucionalidade por


omissão tem caráter obrigatório ou mandamental, pois o que se pretende
constitucionalmente é a obtenção de uma ordem judicial dirigida a outro órgão do
Estado.

5. JURISPRUDÊNCIAS:

DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE


COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER
PÚBLICO. - O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer
mediante ação estatal quanto mediante inércia governamental. A
situação de inconstitucionalidade pode derivar de um
comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em
desacordo com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim,
os preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa
conduta estatal, que importa em um facere (atuação positiva), gera a
inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado deixar de adotar as
medidas necessárias à realização concreta dos preceitos
da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e
exeqüíveis, abstendo-se, em conseqüência, de cumprir o dever de
prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação
negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare,
resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total,
quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é
insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público. SALÁRIO
MÍNIMO - SATISFAÇÃO DAS NECESSIDADES VITAIS BÁSICAS -

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GARANTIA DE PRESERVAÇÃO DE SEU PODER AQUISITIVO
(RTJ 162/877).

NATUREZA MERAMENTE MANDAMENTAL DA AÇÃO DIRETA


DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO: A procedência da
ação direta de inconstitucionalidade por omissão, importando em
reconhecimento judicial do estado de inércia do Poder Público,
confere ao Supremo Tribunal Federal, unicamente, o poder de
cientificar o legislador inadimplente, para que este adote as medidas
necessárias à concretização do texto constitucional. - Não assiste ao
Supremo Tribunal Federal, contudo, em face dos próprios limites
fixados pela Carta Política em tema de inconstitucionalidade por
omissão (CF, art. 103, § 2º), a prerrogativa de expedir provimentos
normativos com o objetivo de suprir a inatividade do órgão legislativo
inadimplente. (Distrito Federal, STF, ADI 1458, Relator: Celso de
Mello).

POSSIBILIDADE DE AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO PARCIAL DO
PODER PÚBLICO EM CONCRETIZAR PRECEITOS
CONSTITUCIONAIS: As situações configuradoras de omissão
inconstitucional - ainda que se cuide de omissão parcial, derivada da
insuficiente concretização, pelo Poder Público, do conteúdo material
da norma impositiva fundada na Carta Política, de que é destinatário
- refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a
inércia do Estado qualifica-se, perigosamente, como um dos
processos informais de mudança da Constituição, expondo-se, por
isso mesmo, à censura do Poder Judiciário.
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO - DESCABIMENTO
DE MEDIDA CAUTELAR (RTJ 162/877).

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6. CONCLUSÃO:

Diante de tudo que aqui foi apresentado e conseqüentemente estudado,


podemos concluir que em nossa Constituição Federal, além dos nossos muitos
deveres e obrigações, também há muitos direitos que não podem ser esquecidos,
mal interpretados ou omitidos. Que há uma maneira para que se faça cumprir
todas as obrigações do poder público e que os órgãos representantes da
população brasileira, tem legitimidade para fazer com que isso aconteça.

Sobretudo, sendo este um ano eleitoral, nossas mentes se voltam para o


tema. Dentre outras coisas percebi que muitas vezes, nas campanhas os
candidatos prometem privilégios a população que a priori nos parece algo novo,
por eles inventado. Entretanto, na maioria das vezes (senão todas), se tratam de
direitos que já nos garante a Constituição. A diferença está na aplicação. Em se
fazer aplicar.

7. BIBLIOGRAFIA:

Moraes, Alexandre de, Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional, Atlas, São
Paulo, 2006, p. 1525.

Silva, José Afonso da, Curso de Direito constitucional Positivo, 26ª edição, editora Malheiros,
2006, pp. 47-48.

8. REFERÊNCIAS:

7
i

ii
Mendes, Gilmar Ferreira. ADIN – O direito de propositura das confederações sindicais e das entidades de classe de
âmbito nacional. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo: Malheiros, nº 7, p. 161, 1994.
WWW.jurisway.org.br
WWW.jurisbrasil.com.br

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