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“Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade (...) 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências
arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação”.
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1. Qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida privada e familiar, do seu domicílio e da
sua correspondência. 2. Não pode haver ingerência da autoridade pública no exercício deste direito
senão quando esta ingerência estiver prevista na lei e constituir uma providência que, numa sociedade
democrática, seja necessária para a segurança nacional, para a segurança pública, para o bem - estar
econômico do país, a defesa da ordem e a prevenção das infrações penais, a proteção da saúde ou da
moral, ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros.
Assim, a obtenção de provas colhidas em desacordo com tais direitos deve
ser reputada ilícita, não sendo, por conseguinte, admissíveis no processo, tal como
preconiza o art. 5o, inciso LVI, da CRFB/88.
Conforme restará demonstrado a seguir, a busca pessoal/domiciliar, sem
mandado judicial, que ensejou a prisão do custodiado/apreensão e internação do
adolescente carece de justa causa, uma vez que originada de mera suspeição calcada
em parâmetros subjetivos, preenchidos das características físicas do abordado, mas
precisamente sua cor de pele, sem nenhum elemento objetivo e concreto prévio que
justifique a abordagem policial.
Porém, a suspeita que legitima a busca pessoal ou domiciliar não pode ser
preenchida a partir de estereótipos baseados em raça, cor, etnia, religião, idioma,
descendência, ou qualquer combinação desses fatores, sob pena da ampla chancela a
práticas policiais institucionalmente racistas e da sistemática violação de direitos
fundamentais de cidadãs e cidadãos negros diuturnamente. Vejamos.
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Disponível em:https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/07/15/letalidade-policial-e-a-
mais-alta-da-historia-negros-sao-78-dos-mortos.htm?cmpid=copiaecola .
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ACEBES, C. M. O bom policial tem medo, HUMAN RIGHTS WATCH, 2016. Disponível em:
https://www.hrw.org/pt/report/2016/07/07/291589, acesso em 02/08/2017, às 19h03min.
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Disponível http://www.defensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/c2f0263c194e4f67a218c75cfc9cf67e.pdf.
detenção, custódia e até mesmo execuções sumárias. Confira-se, sobre o tema, as
considerações tecidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos na sentença do
caso Favela Nova Brasília vs. Brasil7 (16 de fevereiro de 2017)
Tem-se um cenário de discriminação racial indireta, cujo conceito normativo
pode ser extraído da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação
Racial e Outras Formas Correlatas de Intolerância (CIR) - relevantíssimo instrumento
do Direito Internacional dos Direitos Humanos, promulgado pelo Decreto Presidencial
n.˚ 10.932/2022, que pretende erradicar as desigualdades estruturais que afetam grupos
sociais subjugados nos países da OEA por conta de sua raça, cor, ascendência, origem
nacional ou étnica.
Dispõe o artigo 1.2 da Convenção:
Artigo 1
2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer
esfera da vida pública ou privada, quando um dispositivo, prática ou
critério aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma
desvantagem particular para pessoas pertencentes a um grupo
específico, com base nas razões estabelecidas no Artigo 1.1, ou as
coloca em desvantagem, a menos que esse dispositivo, prática ou
critério tenha um objetivo ou justificativa razoável e legítima à luz do
Direito Internacional dos Direitos Humanos. (Grifamos).
No marco do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, o tema do racismo
institucional foi enfrentado no Relatório de Mérito n˚. 66/06 8 (Caso 12.001, Simone
André Diniz vs. Brasil), no qual a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) se debruçou sobre o funcionamento desigual do sistema de justiça brasileiro,
segundo modulações relacionadas à raça/cor, especialmente quanto ao
funcionamento dos mecanismos penais e das agências policiais:
48. Pesquisas sobre o sistema criminal judicial brasileiro dão conta do
acesso diferencial de brancos e negros à justiça criminal. Na cidade
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(...) 102. De acordo com informações de órgãos estatais, a violência policial representa um problema de
direitos humanos no Brasil, em especial no Rio de Janeiro (...). 103. Entre as vítimas fatais de violência
policial, estima-se uma predominância de jovens, negros, pobres e desarmados. Segundo dados oficiais,
os homicídios são a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos, e atingem especialmente jovens
negros do sexo masculino, moradores de periferias e áreas metropolitanas de centros urbanos. (...) Na
cidade do Rio de Janeiro, aproximadamente 65% das pessoas que morreram em 2015 são negras (negros
e mulatos). No Estado do Rio de Janeiro, estudos mostram que a oportunidade de um jovem negro morrer
por ação da polícia é quase 2,5 vezes maior do que a de um jovem branco. Disponível na íntegra em:
<http://www.itamaraty.gov.br/images/Banco_de_imagens/SENTENCIA_FAVELA_NOVA_PORTUGU
ESfinal.pdf >.
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Disponível na íntegra em:< http://www.cidh.org/annualrep/2006port/BRASIL.12001port.htm> .
de São Paulo, que no ano de 1980 contava com uma população branca
de 72,1% e negra (pretos e pardos) de 24,6%, havia uma maior
proporção de réus negros condenados (68,8%) do que réus brancos
(59,4%). A absolvição favorecia preferencialmente brancos (37,5%),
comparativamente a negros (31,2%).
49. Da mesma forma, réus negros condenados estão
proporcionalmente muito mais representados do que sua participação
na distribuição racial da população do município de São Paulo. Não
sendo o mesmo cenário quando se trata de réus brancos. Neste caso, a
proporção de condenados brancos é inferior à participação dessa etnia
na composição racial da mesma população. A pesquisa concluiu que
tal contexto “sugere uma certa afinidade eletiva” entre “raça e
punição”.
50. De outra maneira, a violência policial no Brasil vitimiza
desproporcionalmente pretos e pardos. A Comissão tomou
conhecimento de que no Brasil, o perfil racial determina um alto
número de detenções ilegais e que a população negra é mais
vigiada e abordada pelo sistema policial, sendo este tema objeto de
recomendação pela Comissão não somente em relatório geral sobre o
país, mas também em relatório de mérito.
51. Com efeito, de acordo com outro levantamento, ficou manifesto
que “no Rio de Janeiro, o perfil das crianças e adolescentes
assassinados, em um conjunto de 265 investigações, é de pobre, sexo
masculino, negro e mulato”. Em outra investigação, concluída pelo
ISER, comprovou-se que “a incidência da raça no uso da força policial
letal talvez seja a fonte de violações mais graves dos direitos humanos
no Brasil”.
52. Depois de avaliar mais de 1000 homicídios cometidos pela Polícia
do Rio de Janeiro nos anos de 1993 a 1996, o relatório concluiu que
a raça constitui um fator que incide na polícia – seja
conscientemente ou não – quando atira para matar. Quanto mais
escura a pele da pessoa, mais suscetível está de ser vítima de uma
violência fatal por parte da polícia”. Conclui dizendo que a violência
policial é discriminatória, pois alcança em maior número e com
mais violência os negros. Com efeito, em seu relatório para o CERD,
o governo brasileiro reconheceu a letalidade da ação policial no Brasil
quando a vítima era não branca. (Grifos nossos).
É relevante ainda no contexto da discriminação racial de natureza estrutural
mencionar o Relatório produzido pelo Grupo de Trabalho de experts das Nações Unidas
para Afrodescendentes, publicado em 04 de setembro de 2014, após visita ao Brasil, no
qual concluiu a ONU que:
77. A polícia é responsável por manter a segurança pública como
estabelecido na Constituição Federal, apesar disso, o racismo
institucional, a discriminação e a cultura de violência conduzem a
práticas de filtragem racial, sobrepoliciamento, chantagem,
tortura, extorsão e humilhação particularmente contra afro-
brasileiros. O uso da força e da violência para o controle da
criminalidade e segurança pública tornou-se socialmente aceito em
grande parte porque são praticadas contra um setor da sociedade cujas
vidas não são consideradas como tuteláveis. O Grupo vê este cenário
como fabricação de um inimigo interno que justifica o uso de táticas
militares para controlar a condutas criminosas e reduzir liberdades
públicas e privadas9. Grifamos.
A necessidade de o Poder Judiciário abordar, enfrentar e reprimir de forma ativa
práticas que legitimam o perfilhamento racial de pessoas negras em buscas policiais foi
recentemente abordada pelo Ministro Edson Fachin, em seu voto vista, nos autos do
Habeas Corpus 208.240/SP, o qual, ao final, propôs a fixação de tese pelo Plenário
da Corte para melhor definir o controle sobre a legalidade dessas medidas
cautelares excepcionais. Confira-se:
“(...) Por fim, com o escopo de coibir o perfilamento racial em buscas
policiais e por caber ao Poder Judiciário assumir papel ativo nessa
tarefa, proponho a fixação das seguintes teses:
1) A busca pessoal independente de mandado judicial deve estar
fundada em elementos concretos e objetivos de que a pessoa esteja na
posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo
de delito, não sendo lícita a realização da medida com base na
raça, cor da pele ou aparência física;
2) A busca pessoal sem mandado judicial reclama urgência para a
qual não se pode aguardar uma ordem judicial;
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Report of the Working Group of Experts on People of African Descendent on its fourteenth session,
tradução livre, p. 21. Disponível
em:<ehttp://www.ohchr.org/EN/HRBodies/HRC/RegularSessions/Session27/Documents/
A.HRC.27.68.Add.1_AUV.doc>.
3) Os requisitos para a busca pessoal devem estar presentes
anteriormente à realização do ato e devem ser devidamente
justificados pelo executor da medida para ulterior controle do Poder
Judiciário”. (Grifamos)
10
CIDH, Afrodescendentes nas Américas (2011), parágrafo 143.
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HUTCHINS. R. Racial profiling: the law, the policy and the practice, in DAVIS, A. (org.) Policing the
Black Man: arrest, prosecution and imprisonment, Pantheon Books, New York, 2017.
humanos, proscrita pela Constituição de 1988 (art. 5º, XLII) e ainda tipificada
penalmente pela Lei nº. 7.716/89 (art. 20).
No plano internacional, o Estado Brasileiro, assumiu o compromisso de
erradicar todas as formas de discriminação racial, tal como se extrai da Convenção
Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial das Nações Unidas
(internalizada por meio do Decreto n ̊. 65.810, de 8 de dezembro de 1969), que prevê:
Artigo V
De conformidade com as obrigações fundamentais
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se a
proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas formas
e a garantir o direito de cada uma à igualdade perante a lei sem
distinção de raça, de cor ou de origem nacional ou étnica,
principalmente no gozo dos seguintes direitos(...).
Já no plano regional, a já citada Convenção Americana sobre Direitos
Humanos impõe, em seu artigo 1.1, o dever dos Estados de respeitar os direitos
humanos sem discriminação:
Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos
1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se
a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir
seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua
jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor,
sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra
natureza, origem nacional ou social, posição econômica,
nascimento ou qualquer outra condição social.
No mesmo sentido a Convenção Interamericana contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (CIR), que aprofunda as
obrigações dos Estados parte no enfrentamento do racismo, para prescrever obrigações
específicas (Decreto n.˚ 10.932/2022):
Artigo 3. Todo ser humano tem direito ao
reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições de
igualdade, tanto no plano individual como no coletivo, de todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados na
legislação interna e nos instrumentos internacionais aplicáveis
aos Estados Partes.
Artigo 4. Os Estados comprometem-se a prevenir,
eliminar, proibir e punir, de acordo com suas normas
constitucionais e com as disposições desta Convenção, todos os
atos e manifestações de racismo, discriminação racial e formas
correlatas de intolerância, inclusive:
v. qualquer ação repressiva fundamentada em
qualquer dos critérios enunciados no Artigo 1.1, em vez de
basear-se no comportamento da pessoa ou em informações
objetivas que identifiquem seu envolvimento em atividades
criminosas;
vii. qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência
aplicada a pessoas, devido a sua condição de vítima de
discriminação múltipla ou agravada, cujo propósito ou resultado
seja negar ou prejudicar o reconhecimento, gozo, exercício ou
proteção, em condições de igualdade, dos direitos e liberdades
fundamentais;
viii. qualquer restrição racialmente discriminatória do
gozo dos direitos humanos consagrados nos instrumentos
internacionais e regionais aplicáveis e pela jurisprudência dos
tribunais internacionais e regionais de direitos humanos,
especialmente com relação a minorias ou grupos em situação de
vulnerabilidade e sujeitos à discriminação racial;
(Grifamos).
Vale lembrar ainda o conteúdo da sentença da Corte Interamericana de Direitos
Humanos no caso Fernandez Prieto & Tumbeiro vs. Argentina, que debruçou-se
diretamente sobre a prática da filtragem racial e entendeu que a pertença racial não
pode ser legitimamente mobilizada por agentes policiais, em caráter exclusivo,
para a formação de suspeição e motivação de abordagens, revistas e buscas, sob
pena de violação dos direitos previstos na Convenção12.
I.3) Necessário Controle de Legalidade da Busca Pessoal e/ou Domiciliar
Baseada na Raça/Cor do Indivíduo. Da Nulidade Da Prova Colhida em Busca
Pessoal e/ou Domiciliar Fundada em Filtragem Racial
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Disponível em:< https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/resumen_411_esp.pdf>.
Como disposto pela lei processual penal brasileira, a busca e a apreensão pessoal
e domiciliar constituem-se em medidas instrumentais de colheita de prova e com
natureza de cautelar penal, restritivas de direitos e liberdades fundamentais
(inviolabilidade domiciliar, intimidade e vida privada, incolumidade física e moral etc. –
art. 5o, incisos X, XI, XLIX, CRFB/88).
Por esta razão, tais medidas exigem o cumprimento de determinados requisitos
que o legislador erigiu, a fim de legitimar as limitações que implicam à liberdade e à
esfera privada do indivíduo.
Lê-se do Código de Processo Penal que, tanto a busca domiciliar, quanto a busca
pessoal, exigem a constatação de razões objetivas que indiciem práticas ilícitas:
“Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a
autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
objetos falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
prática de crime ou destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa
do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em
seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada
suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos
mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior”.
Grifamos.
GRIFOS NOSSOS
Faz-se mister também registrar que, para conferir legitimidade às buscas, além
da existência de justa causa anterior à realização da medida, o Plenário do STF, em
Repercussão Geral, no Recurso Extraordinário n. 603.616, exige rígido controle
judicial. Para tanto é imprescindível que os elementos que evidenciem a fundada
suspeita/razão anterior à busca pessoal e/ou domiciliar constem de forma precisa e
objetiva na descrição do auto de prisão/apreensão em flagrante ou no respectivo
relatório de diligência policial para ulterior controle por parte do Poder Judicial.
Necessária, ainda, a caracterização da urgência para a realização da busca
pessoal e /ou domiciliar sem mandado judicial, a fim de assegurar a excepcionalidade da
medida e evitar buscas pessoais/domiciliar arbitrárias, casuais, aleatórias, com escopo
vexatórios, humilhantes, discriminatório, originadas em critérios subjetivos e ou em
verdadeiras abordagens praticadas como rotina ou praxe do policiamento ostensivo,
com finalidade preventiva e motivação exploratória (fishing expeditions).
Ausentes, portanto, as razões objetivas requeridas pela lei processual penal para
a restrição dos direitos fundamentais operada in casu, é imperioso que este juízo
reconheça a ilegalidade da abordagem baseada em filtragem racial, por contrariar o art.
3º, IV, e art. 5˚, da CRFB/88, assim como o artigo V da Convenção Para Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial; o artigo 1.1 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos; e, por fim, os artigos 1, 3, e 4, itens v, vii e viii, da Convenção
Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância (CIR).
No caso em tela, verifica-se dos elementos de informação constantes do auto de
prisão em flagrante/ auto de apreensão do adolescente que a abordagem policial na
origem foi motivada pela cor do custodiado/adolescente apreendido. Isto é, foi a cor da
pele o fator que primeiramente despertou a atenção e suspeita do agente de
segurança pública, o que não pode ser admitido.
Conforme relato das testemunhas: XXXXX(complementar conforme cada caso
concreto).
Ainda que, no caso concreto, os agentes de segurança não tenham afirmado de
forma expressa e categórica que decidiram abordar o custodiado/adolescente apreendido
apenas pela sua cor de pele, fato é que uma tal exigência não seria razoável, sob pena de
se reservar o remédio da nulidade da prova apenas para os casos em que o perfilamento
racial equivale ao crime de racismo, o que seria um erro.
Isso porque, em casos de perfilamento a cor da pele dificilmente será assumida
como o único elemento que levou a abordagem policial. Geralmente, o elemento racial
vem conjugado com outros fatores subjetivos relativo ao local do crime – “ponto
conhecido como venda de drogas”, “local suspeito”, “área conflagrada”, e em
suposições consentidas em deduções estereotipadas: o “como se estivesse
vendendo/comprando algo”, o “como se estivesse portando uma arma ou algum objeto
ilícito”.
Como já esclareceu o Ministro Edson Fachin, em seu voto complementar, no HC
208240/SP, afetado recentemente ao Pleno do STF: o “perfilamento é também a
abordagem justificada a partir de uma suposta maior probabilidade de que uma pessoa
tenha cometido uma infração e que a sua cor de pele influenciou na pratica do ato: o
negro em local suspeito, o negro com carro, o negro com roupa de marca, o negro e o
seu semblante”.
Não podemos mais admitir que a abordagem policial se fundamente em uma
generalização cujo único elemento para a busca seja o fato de a pessoa abordada ser
“um individuo de cor negra”, em “local suspeito”.
Nesse contexto, considerando que a situação apresentada não evidencia a
existência de elementos concretos a caracterizar a fundada suspeita/razão para revista
pessoal/busca domiciliar sem mandado judicial, deve esta ser declarada nula, assim
como todos os elementos de informação e provas colhidos que dela derivem diretas ou
indiretamente, porque decorrem de apreensão ilegal realizada em violação ao previsto
no art. 5º, X/XI da CRFB/88 e não se enquadram nas exceções legais previstas no
paragrafo 1º do art. 157 do CPP.
Por conseguinte, por não haver outros elementos de provas hígidos a lastrear a
presente persecução penal/representação ministerial contra o acusado/representado,
impõe-se o relaxamento da prisão do custodiado/apreensão do adolescente e o
trancamento da ação penal/representação ministerial, o que ora se requer.