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O que vier à

mente

Allan Nunes
—Sumário—

Apresentação (ou quase isso)......................................................................5

Inspirações.........................................................................................................6

Calçada de Minha Casa...................................................................................8

A que ponto chegamos?...............................................................................11

Praça de Minha Adolescência....................................................................13

Nos Tempos de Nossos Pais.......................................................................15

O Ato de Pensar..............................................................................................17

Ferida Exposta................................................................................................20

Um coração em exílio...................................................................................23

Escrever o que vier à mente.......................................................................29

A ti pertenço e jamais partirei..................................................................32

A Vítima, O Manipulado, O Ignorante e O Submisso..........................34

Um de Vários Términos Infelizes.............................................................37

Envelhecimento.............................................................................................40

Amor?................................................................................................................43

Retângulo, Losango, Círculo e uma Frase Esquecida.........................45

À 1 hora da manhã........................................................................................49

Allan...................................................................................................................51

Janela da Frente.............................................................................................54

Dor de Cabeça.................................................................................................57

E tudo se foi.....................................................................................................59

Já Não Escrevo Como Escrevia...................................................................60


Sem Título Definido......................................................................................64

Solennis.............................................................................................................66

Inconsolável....................................................................................................69

Contato..............................................................................................................72

Recomendações de Páginas.......................................................................73
—Apresentação (ou quase isso)—

Quando escrevo algo, seja um poema ou um texto, começo pelo título, e


quando faço isso me prendo ao mesmo.

Às vezes é bom, pois mantenho o foco.

E outras vezes não, pois me sinto limitado, preso a mim mesmo.

Neste segundo livro não comecei pelo título, para falar a verdade nem o
próprio livro possuía um título.

Acordei, sentei-me sobre o tapete e comecei a escrever.

Neste livro há poemas e textos (e a junção de ambas) que nasceram graças


às diversas inspirações que tive. Por meio delas houve o nascimento de
conjuntos de palavras que até hoje me pergunto como as escrevi (na
próxima página listarei minhas inspirações).

Sinceramente não sei o que me motiva a escrever, só sei que amo muito.

Necessidade de me expressar?

Necessidade de mudar a realidade por meio de palavras e colocar um sorriso


na face do homem?

Sinceramente... não sei dizer.

No entanto há um verso do poema “Tabacaria”, escrito por Fernando Pessoa,


que cai em mim como uma luva.

Este verso diz: “Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.”.

A partir deste verso, digo: “Enquanto o Destino me permitir, continuarei


escrevendo.”.
—Inspirações—

 Tabacaria – poema de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa


interpretado por Silvio Matos;

 Discurso de Caetano Veloso defendendo a música “É Proibido Proibir”


em 1968;

 O cotidiano e tudo que me cerca;

 O país e seus problemas;

 Lembranças pessoais;

 José – poema de Carlos Drummond de Andrade interpretado por


Silvio Matos;

 Mangás – Berserk e Vagabond;

 Certezas – poema de Mario Quintana;

 Vida – composição de Chico Buarque e na voz do mesmo;

 Solitary Man – composição de Neil Diamond na voz de Johnny Cash;

 Podcast Café Brasil – 514 – Rocket Man com Luciano Pires;

 Bastidores – composição de Chico Buarque na voz de Cauby Peixoto;

 Motivo – poema de Cecília Meireles interpretado por Raimundo


Fagner Cândido Lopes;

 The Waiting Hour – composição da banda Human Drama;

 Der Letzte Hilfeschrei – composição de Tilo Wolff;

 Quando Nietzsche Chorou – filme lançado em 2007.


“Quisera eu dizer pessoalmente o que sinto com a mesma
facilidade que faço versos.”
Allan Nunes
—Calçada de Minha Casa—

Saí pela porta da frente de minha casa

Coloquei meu pé direito sobre a calçada

Olhei ao meu redor e tudo continuava lá, inalterado

As mesmas árvores que vejo quando vou em direção ao ponto de ônibus

As mesmas casas que não possuem pintura e ficam com teus tijolos expostos

As mesmas portas de ferro e madeira

As mesmas janelas de ferro e com o vidro já amarelado pelo calor

Nada de novo...

Vejo muitas pessoas indo e vindo enquanto estou sentado na calçada

E não... não sento na calçada para fofocar sobre a vida dos outros

Sento para observar e tentar encontrar algum indício de que há alguém


diferente no meio desta igualdade de pensamentos, sentimentos, emoções e
atitudes

Mas de vez em quando me decepciono naquela calçada

Pois encontro muitas pessoas que são iguais a pessoas

Desprovidas de um sorriso, com um olhar sem brilho, com pressa em tudo e


a absoluta verdade de que são diferentes

É sempre assim. O monótono, o piano com uma única tecla, o violão de uma
corda só.
Ainda me sento na calçada à procura dessa diferença que inspire.

Para alguns é tolice procurar por uma chama em meio à escuridão

Para outros, fazer o que faço, é a definição de ‘desocupado’

Sempre com a absoluta verdade de que são diferentes

Porém mesmo rotulado por todos, ainda o farei

Certa vez vi um muro pichado com uma frase realista e preocupante

E essa frase era: “Diferença não há.”

Tal frase ficou gravada em minha cabeça

pela sua simplicidade em descrever a realidade que me cerca

Mas isso não quer dizer que desistirei de minha procura, muito pelo
contrário, tal frase me motiva a provar que há diferença

Digo que a igualdade de pensamentos, sentimentos, emoções e atitudes é


apenas um resfriado passageiro em cada uma das pessoas

E que as mesmas logo se livrarão deste nariz entupido e começarão a


respirar o ar puro que os cerca e por consequência benéfica ver e entender
aquilo que também os cerca

Digo que a igualdade de pensamentos, sentimentos, emoções e atitudes é


apenas um asfalto em direção ao nada

E que devemos parar no meio do caminho, para refletir e deduzir se


realmente queremos carregar TUDO o que ainda temos em direção ao nada

Não... não serei vencido por uma frase de 3 letras pichada em um muro

A mesma só aumenta minha vontade de continuar


Aqui permaneço, sentado na calçada, observando as pessoas que vêm e que
vão

E Procurando a diferença inspiradora no meio da igualdade que se diz


absoluta

E eu digo: “Sim! Ainda há diferença. E irei encontrá-la.”


—A que ponto chegamos?—

Vejo o sol radiante coberto por nuvens de queimadas durante o meio-dia

Vejo as pessoas atravessando a faixa de pedestres com medo de alguém em


alta velocidade furar o sinal vermelho

Vejo os pássaros em teus ninhos construídos em árvores que podem ser


derrubadas a mando da prefeitura

Vejo os cães abandonados caminhando sem rumo pela rua e revirando


cestos de lixo

Vejo os gatos feridos que caminham pelos muros com receio de uma cerca
elétrica

E tudo isso me fere o peito, dói a alma e me causa uma revolta que ao mesmo
tempo que me motiva a fazer algo... me sufoca

Vejo as portas trancadas e as janelas fechadas antes das 4 horas

Vejo lágrimas caindo enquanto há um aumento na criminalidade

Vejo velórios em todos os lados e vingança no dia seguinte em um país mal


administrado

Vejo a agressão verbal e física cometida pelo aluno em seu professor todos
dias

Vejo a decadência cultural de um povo e perda de valores em minha querida


pátria

E tudo isso me fere e me faz sangrar internamente, pesa minha alma, sinto
angústia ao escrever tais palavras, mas infelizmente é o que realidade me
mostra

É a verdade que vejo quando olho nos olhos de um cidadão que volta para a
casa com o constante medo de ser morto por nada

Vejo o homem agredindo a mulher que diz amar

Vejo a mulher não denunciar seu agressor por ter a esperança de que o
mesmo irá mudar
Vejo amizades desfeitas tendo como motivo a diferença de opiniões

Vejo os idosos abandonados em asilos pelos seus próprios filhos

Vejo filhos matando os próprios pais por causa de bens materiais

E não verei alguns filhos brincando e nem se divertindo, pois algumas


“mães” não darão uma chance para isso...

Vivo em um país onde uma ideologia se corrompeu de tal forma que chega a
valer mais do que a vida de um ser indefeso

Vivo em um país com o povo que se divide quando se necessita de união

Vivo em um país onde o insulto é mais ouvido do que um bom argumento

Vivo em um país onde aquele que batalha e conquista é considerado um


vilão e aquele que não batalha e consegue a força é considerado uma vítima
da sociedade

Vivo em um país com uma enorme lacuna cultural onde algumas novelas,
algumas letras de músicas, alguns livros e infelizmente alguns professores
preenchem com a inversão de valores

E isso tudo me entristece, fere minha alma, me revolta, me sufoca, me dói o


peito e me faz chorar

A que ponto chegamos Terra adorada...

A que ponto chegamos minha Pátria amada..

A que ponto chegamos...


—Praça de Minha Adolescência—

Fechei todas as janelas de minha casa, tranquei a porta da frente ao sair e fui
para a praça

Fui à praça e lá apenas encontrei bancos enferrujados, madeira apodrecida e


alguns vestígios de outrora deixado pelo homem – lixo

Um aroma de abandono, uma visão entristecida do passado... quem diria...


esta é a praça da minha adolescência

Várias e várias vezes vim para cá ao término das aulas e agora tudo isso
ficará apenas em minha mente como lembrança

Realmente é triste quando o presente é diferente do que tínhamos em


mente, no entanto a realidade é isso

A mudança de algo dependendo do fazer e do não fazer

Só saberemos se será bom ou ruim quando for tarde demais

Caminho sem rumo pela praça até encontrar uma árvore em que as folhas
não caíram

Sento-me embaixo dela e deixo meus pensamentos e o peso do cotidiano


serem levados pela brisa

Sorrio sem explicação num momento de silêncio e em seguida me ajeito,


apoiando minhas costas no tronco da árvore e olho para o céu

Sou tão minúsculo comparado com a imensidão do céu acima de mim e


efêmero comparado com as estrelas que estão a anos-luz de mim

O planeta girante sabe o que é melhor para ele e no entanto insistimos em


dizer que somos os donos do mundo destruindo-o aos poucos

Não sabemos nada sobre o planeta em que vivemos e queremos descobrir o


que há no universo infinito

Ah... minha querida adolescência... que saudades sinto de ti


O banco em que eu sentava deixará de existir, minhas lembranças deixarão
de existir, meus pensamentos atuais deixarão de existir... eu deixarei de
existir um dia

Hm... se eu consertasse os bancos desta praça e recolhesse o lixo e o


colocasse em seu devido lugar, talvez ficasse menos infeliz... dando bons
exemplo é que melhoramos o mundo em que vivemos

Mas penso eu que... ao fazer isso, será questão de algumas semanas para que
volte a ser como é agora

Triste, abandonado para perecer com o tempo

É sempre assim... a vontade de um homem contra a realidade do mundo em


que vive

Levanto-me para retornar à minha casa e o peso da realidade cai sobre meus
ombros como uma âncora cai no fundo do mar quando solta

Não posso fazer nada e isto me desanima, pior que isto é fazer tudo para
depois retornar ao estado atual... não sei o que é pior... pensar em fazer ou
não fazer

Meu peito neste exato momento é um vaso remendado que guarda


lembranças de minha adolescência

Se no começo eu estava sorrindo sem motivo... agora estou desanimado por


diversos

Volto para minha casa, destranco a porta da frente e entro

Tranco a porta por dentro, mantenho as janelas fechadas e deito no sofá com
a roupa do corpo e um mínimo de esperança...
—Nos Tempos de Nossos Pais—

Anotei alguns pensamentos na agenda telefônica 3 anos atrás. Linhas


envelhecidas de um jovem.

A agenda ainda possui alguns números ativos com o respectivo nome da


pessoa ao lado.

Lembro-me dos tempos em que telefonávamos a alguém para conversar


sobre assuntos diversos ou como em alguns casos, para apenas ouvir a voz
de alguém.

Através da voz podíamos saber o que a pessoa do outro lado estava


sentindo, se estava dizendo a verdade ou se estava mentindo. Às vezes
ouvíamos soluços indicando lágrimas no rosto e de certa forma, as risadas
eram sinceras.

O telefone unia os Romeus com suas Julietas quando a distância era enorme.
Quando o telefone tocava íamos correndo atender, independente do horário,
pois tínhamos uma melhor definição da palavra ‘saudades’.

É claro que também costumávamos convidar alguém para ir ao cinema, ao


teatro local, ao show de alguma banda cover, para dançar, etc.

Hoje em dia isso é quase inexistente e às vezes mal interpretado.


Convidamos para conhecer melhor e a pessoa pensa que só queremos sexo e
em seguida dizer adeus. Sei que alguns infelizmente o fazem... infelizmente.

Mas o que podemos fazer se hoje em dia tudo está diferente?

Com o tempo abandonamos o contanto físico e começamos a nos comunicar


por mensagens de textos que muitas vezes não transmitem o real
sentimento da pessoa.

O envio de corações nas mensagens é a forma contemporânea de dizer ‘eu te


amo’?

Pois aprendi que quando amamos alguém, provamos este amor de todas as
formas. Mas pode ser que minha maneira de pensar esteja ultrapassada em
relação à atualidade.
Sim. Podemos enviar mensagens de voz declarando o que sentimos a
alguém. Mas o que nos impede de procurar uma declaração pronta e
modificá-la? Nada.

Tento mas não consigo me encaixar neste novo padrão do fazer sem motivo.

Antigamente fazíamos declarações frente a frente, debaixo de sol ou de


chuva, não importava o tempo, mas sim as palavras. Pedíamos a mão da filha
na frente dos pais e caso recusassem, insistíamos. E se ainda insistissem na
recusa, fugíamos com nossa amada, pois sabíamos que aquilo que sentíamos
era verdadeiro.

Hoje em dia declarações são tolices, dê um buquê de rosas a sua amada e


será motivo de piada, escreva um poema em uma folha e a mesma será
rasgada rapidamente.

As pessoas até desenvolveram novos termos como ‘Ficar’ e ‘Pegar’.

‘Ficar’ é utilizado quando não queremos saber o nome e nem quem é a


pessoa, é utilizado quando queremos um beijo sem significado ou
profundidade. Beijar por beijar.

Já o termo ‘Pegar’ creio que foi criado apenas para me dar dor de cabeça.
Pois quando o utilizam, parece que estão se referindo a um objeto. E uma
pessoa não é um objeto. Mas infelizmente a maioria aceita ter o nome
utilizado em uma frase que possua tal termo.

Pode ser que minha maneira de pensar esteja ultrapassada em relação à


atualidade.

Hoje em dia deixamos de amar para cobiçar o amor do próximo. E se


fugirmos com alguém acreditando que é amor, a chances de dar merda são
enormes.

Antigamente após um término seguíamos em frente depois de tentarmos de


tudo para conseguir uma reconciliação e na maioria das vezes
continuávamos amigo da pessoa.

Hoje em dia terminamos e não ligamos, terminamos e ameaçamos,


terminamos e ofendemos... mesmo que tais ofensas não sejam verdades.
Ficar amigo da pessoa não há motivo, mas para as indiretas há muitos.

Sei lá. No fim das contas pode ser que minha maneira de pensar esteja
ultrapassada em relação à atualidade.
—O Ato de Pensar—

Fui a uma festa junina de meu bairro para ver se esquecia de meu passado
nada amoroso e para procurar novas inspirações. Nela havia alguns
conhecidos, ex-amigos e ex-amigas. Sim, é triste, porém o mundo não
aguardará minha ferida sarar.

A festa estava bem animada, o céu estava estrelado e como eu estava sem
companhia, fui para longe da alegria e me sentei num banco feito com uma
tora de madeira que estava seca e iluminada por um poste.

De lá fiquei observando o céu estrelado enquanto as pessoas ficavam


fervorosas quando souberam que faltavam poucos minutos para a solta dos
fogos de artifício.

Tendo a luz do poste como meu sol artificial, comecei a pensar em minha
vida, em mim, o que fui, o que sou e o que quero ser.

Pensar no que quero ser...

Penso em tanta coisa sentado neste banco que fica difícil escolher o que ser.

São tantos pensamentos em minha mente, que não há espaço para todas elas
e para dificultar ainda mais as coisas, os pensamentos não duram para
sempre.

Neste instante, pensamentos morreram e outros nasceram no lugar.

Desta forma estaria eu sempre perdendo aquilo que posso vir a ser?

Não sei dizer, pois quando pensei em responder já era tarde demais.

É triste e ao mesmo tempo enigmático. Perdermos aquilo que poderíamos


ser e às vezes não compreendermos os pensamentos que temos no
momento.

As pessoas começaram uma espécie de contagem regressiva igual a da


virada do ano. Quando chegam ao 0, os fogos de artifícios surgem agregando
cores à bela noite estrelada.
Porém tais cores logo desaparecem e novas cores surgem... como os meus
pensamentos.

Sim... meus pensamentos são como bilhões e bilhões de fogos de artifícios


disparados no interior de minha mente.

Da forma como digo parece algo belíssimo. No entanto é, mas que logo
desaparece deixando-me a angústia daquilo que não tive a chance de ser.

Quando olhamos para uma noite estrelada, escolhemos uma estrela


preferida.

Quando olhamos para uma noite repleta de fogos de artifícios, escolhemos a


cor mais bela rapidamente, pois a mesma logo desaparecerá.

No entanto quando olho para o meu interior com o objetivo de saber quem
fui, quem sou e o que serei... não encontro nada.

E mesmo assim continuo a pensar e a buscar inspirações.

Enquanto o destino me permitir, eu o farei.

Mais pensamentos se despedem de mim indiretamente e mais pensamentos


chegam sem bater na porta enquanto estou pensando no que devo pensar.

Devo pensar no passado?

Devo pensar no agora?

Devo pensar no futuro?

Devo pensar nos ex-amigos?

Devo pensar nas ex-amigas?

Devo pensar nos conhecidos?


No que devo pensar?

É de minha natureza dar ênfase ao passado e ignorar o presente. Mas meu


passado é triste e meu presente, vago.

Talvez não pensar em nada seja a resposta, mas como havia dito
anteriormente, penso em tantas coisas...

mesmo que não consiga manter nada.

Quisera eu ser como as pessoas fervorosas desta festa, preocupadas mais em


se divertirem do que pensar.

Mas eu...

vulcão ativo que sou, tenho a certeza de que ao fazer isso falharei
miseravelmente, pois sou e provavelmente sempre serei o que nasceu para
pensar.

Ainda que não encontre nada dentro de mim mesmo...


—Ferida Exposta—

Rasguei os poemas e textos de outrora que dediquei a aquela que amei, pois
soube que ela se casou. Vejo que as promessas e os planos foram apenas
palavras ao vento. Tantas promessas feitas e realizáveis não verão a luz do
sol, tantos planos sequer chegarão a tocar o chão de uma igreja ao som da
marcha nupcial. Quem diria que o amor faria isso comigo.

Outrora ela disse: Quem sabe um dia eu te ame da mesma forma que me
amas.

Esperei amando e após saber de você, vi que tal dia jamais chegará.

Ah... o amor é uma dor indefinida, uma ferida que nunca se fecha.

Pudera eu parar o tempo ao beber garrafas da inércia.

Mas o planeta é girante e tudo nele está em movimento, seguindo, fazendo,


agindo, mexendo.

Como eu a amei mesmo quando discutia sem motivos para discutir.

Como eu a amei mesmo quando ficavas em silêncio sendo que precisava


ouvir tua voz.

Como fiquei triste quando a vi abraçando outro já que nunca me abraçou.

Como eu fiquei triste quando colocou a culpa de todos os seus problemas em


nosso relacionamento, indiretamente em mim, sendo que eu disse apenas
‘Sinto saudades. Como estás?’.

Como eu fiquei triste...

O tempo passou, você voltou e meu coração começou a dar galopes pelo meu
corpo.

Mas você não voltou para dizer que me amava... voltou apenas para tentar
salvar nossa amizade.
Você não voltou para mim, minha doce amada...

você partiu para além do horizonte...

o amor havia partido...

você havia partido...

Não aceitei a amizade, pois a amava mais do que isso.

Você disse que não podíamos... que não daria certo... nem ao menos tivemos
a chance de tentar, minha amada de outrora.

Eu não aceitei a proposta de amizade e você não aceitou meu amor.

Você se foi e não pude ver ao menos teus olhos castanhos.

O tempo passou e fiquei pensando em ti.

O tempo passou e você não voltou.

O tempo passou e você se casou.

O tempo passou e meu coração se estilhaçou como o vidro de uma janela


após receber o arremesso de uma pedra do destino.

Recentemente a vi com teu marido enquanto eu andava pelo centro da


cidade com alguns amigos... estava bela como no dia em que te conheci.

O tempo passou e não mais sorri.

O tempo passou e não mais amei.

O tempo passou
O planeta girou

Todos se moveram

Todos seguiram

Todos fizeram

Todos agiram

Todos se mexerem

O tempo passou e nele me perdi.


—Um coração em exílio—

O amor não veio

A lua surgiu

As estrelas não vieram

A noite expandiu

Sentei-me a porta

O tempo esfriou

Permaneci sentado à porta

O frio continuou

Valsa não dancei

Quadros não pintei

Esculturas não criei

Sentado a porta permaneci

Sozinho na noite

Como um lobo sem alcateia

Quero uivar, mas não posso

Quero correr, mas não posso

Quero entender ao invés de saber

Mas não posso


Palavras escrevi

Trechos apaguei

Algumas folhas rasguei

E outras queimei

Sozinho sob o luar

Com o coração fragilizado

Com o peito escancarado

Sem nada a pensar

Permaneço sentado

Minha mente é uma cova

Com um caixão para meu eu poético

Madeira podre e cheiro de resina

Para um homem decrépito

Um lago poluído em minha mente

Estações incoerentes

Sou uma gaivota voando para longe

Com um gesto inocente

E um rosa na mão

Quero tocar o coração do homem

Mas não há coração para tocar


Com uma caneta de tinta azul

E uma folha em branco

Quero mudar o mundo com palavras

Mas o mundo não as compreende

Ninguém as compreende

Nem eu mesmo

Sentado permaneço a porta

Como um sonhador de eras passadas

Idealizo pensamentos

Vou para além do horizonte

E isto em nada me satisfaz

Com o barro presente

Quero construir uma casa

Mas a tempestade a levará

Com a flauta tocando

Quero seduzir as pessoas

Mas elas possuem aversão à sinfonia

Quero conquistar o mundo

Mas não sei conquistar as pessoas


Fujo no mar adentro de meu passado

Mas não há luz da razão para me guiar

Com linhas impronunciáveis

E fonemas desconhecidos

Tais versos se perderão

E teu autor morrerá com o tempo

Quero ir para o futuro

Mas não conheço o presente

Quero tocar uma harpa angelical

Mas sou impuro para isso

Quero ver além da Via Láctea

Mas estou preso ao sistema

Ao sistema que limita minhas quimeras

Tornando-as irrealizáveis na realidade

Realidade sem vida e indiferente

Com fedor de mofo em todos os cantos

Quero um aroma de rosas

Mas elas murcharam


Quero colorir minha realidade

Mas as tintas da paleta secaram

Igual a uma gota solitária

Que toca ferro em brasa

O amor não virá

Não virá a luz real da paixão

Não virá o sorriso

Não virá o olhar

Não virá o abraço

Não virá a saudação

Não virá o motivo

Não virá a bela conclusão

E no mar morrerei afogado

Mar de nada em meu próprio vazio

Portanto aqui permaneço

Sentado a porta

Observando a lua

Que é pálida e distante

Em relação aos meus versos


E o céu

Que é escuro demais para ser real


—Escrever o que vier à mente—

No canto escuro de meu quarto começo a escrever sobre tudo que vier a
mente. Percebo que estou aqui a mais de um álbum já que a agulha da vitrola
não está emitindo mais som.

Escrever o que vier a mente... quem dera fosse fácil.

Minha mente às vezes se comporta como uma cachoeira onde os


pensamentos seguem um único rumo e nas outras vezes, ela se assemelha a
uma tempestade aleatória em alto mar, pois todos os pensamentos mudam
de um instante para o outro, do nada, sem dar sinais.

Já escrevi tanto e ainda não escrevi nada, apenas linhas e linhas sem
significados.

No chão há textos e poemas escritos a caneta que se mancharam ao ter


contato com a água. Uma lástima sem dúvida, mas talvez eles não devessem
ler lidos por alguém, talvez desejassem existirem para si próprios. Porém
alguns textos e pouquíssimos poemas possuem a salvação do esquecimento,
já o seu autor não.

Próximo à vitrola silenciosa há um cinzeiro, um companheiro de muitas


noites com as inspirações na cabeça e ausência no papel. Dias, semanas e
meses sem nada a escrever. Dias, semanas e meses tendo somente o cinzeiro
como companhia.

Há mais bitucas de cigarros no cinzeiro do que amores correspondidos.

Já corri atrás de quem valia a pena e o tempo me puniu tanto enquanto


corria que só me restaram feridas e mais feridas. Feridas a tal ponto de
desmotivar a correr atrás, por deduzir que será uma perda de tempo.

Pode parecer triste este sentimento de solidão, mas com o tempo me


acostumei.

Basta me lembrar da vez que fui a alguém em busca do mundo e quando


olhei para o seu interior não encontrei nada. Foi como caminhar para ver o
mar e lá não existir o mar. Foi como invocar o amor de alguém através de
uma declaração e receber um infinito silêncio como resposta.
Escrever o que vier a mente. Minha mente acabou de mostrar uma antiga
lembrança e me dividiu internamente entre o ‘adeus’ que não recebi da
mulher que amei e o ‘não’ que recebi da mulher que pensei amar.

Sempre há uma pequena confusão para me derrubar.

Mais dúvidas e mais divisões para um jovem que já nasceu desprovido de


certeza e está incompleto.

Como viu acima, embora eu tenha em mim a solidão, isso não quer dizer que
as lembranças do que fiz e o lamento do que deixei de fazer se apagaram.

Já conheci muitas pessoas em ruína por causa de uma simples lembranças e


as mesmas utilizam bebidas para esquecê-la, mudavam de nome ou
sobrenome para esquecê-la, mudavam de local para esquecê-la. Faziam de
tudo menos escrever, como faço agora.

Concordo que escrever traz tudo à tona como um balde de água fria no
inverno. Mas se concordo, por que estou escrevendo?

Realmente é muito confuso e ao mesmo tempo sem sentido, mas como eu


nunca fiz sentido para mim mesmo... imagine a você que lê neste momento.

Escrever o que vier a mente. Sinto aquele velho martelar em minha cabeça
dizendo para eu dar mais uma chance ao amor e lutar por ele até o fim, mas
isso não posso fazer, pois as chances que dei não foram reciprocas e lutar
por ele fez com que eu me perdesse várias e várias vezes, e hoje só sei meu
nome e não quem sou.

O velho martelar continua e eu o ignoro da mesma forma que aprendi a


ignorar as dores em meu peito.

O triste é que alguns solitários são os que mais sonham em encontrar o amor
real capaz de acender uma chama interior... ainda que na maioria dos casos
seja uma esse amor seja uma bela e triste mentira.

Sem olhar para a floresta vamos em direção à folha. Sem olhar para os
espinhos vamos em direção à rosa. Sem olhar para nossos pares de asas
feitas de penas e cera de abelha vamos em direção ao sol. Sem olhar para a
mentira teatral vamos em direção ao amor, para o declínio.

Dizem que a solidão é o nome de uma ilha para onde vão aqueles que não
mais desejam sofrer.
A ausência de amores nos leva a solidão e o excesso de amores nos leva a
paixão?

Não sei responder, pois só conheço a primeira parte.

E como a conheço...

Escrever o que vier a mente.

Quem me dera ser fácil...


—A ti pertenço e jamais partirei—

Ame-me com a mesma intensidade que a amo

Abrace-me com a mesma vontade que a abraço

Olhe-me com o mesmo olhar de quando a conheci

Acolha-me em teus braços calorosos como um ninho protege os pássaros

Segure minha mão e jamais a solte, pois sinto frio quando estou só

Ilumine-me com teu sorriso enquanto estou acordado para que eu não
durma na escuridão

Fique comigo para que eu tenha um motivo para viver.

Não seja um retrato na estante, seja a cor do meu dia

Não seja o meu passado, seja o meu agora e o meu futuro

Não me deixes morrer de solidão em uma rua vazia e sem nome

Não se vá antes de mim rumo às estrelas

Não me deixes só, num mundo cercado de gente que é igual à outra

Quero apenas você e não as lembranças em que tive você

Quero uma vida contigo e não ficar sentado e pensando no que vivi

Não se vá para o indefinido sem mim

Não dance a valsa da vida sem mim

Sorria comigo ou ria de mim, mas não chore sem mim


Amo e a amarei mesmo com o aumentar de nossas idades

Amo e a amarei mesmo que o sol se apague e que a lua deixe de existir

Quero ouvir a tua voz lírica todos os dias

E não pensar em ler conversas de outrora

Quero senti-la antes de sentir a brisa do mar

Quero beijá-la como se fosse o nosso primeiro beijo

Quero olhar em teus olhos castanhos e me perder neles

Escolhi te conquistar todos os dias ao invés de conquistar o mundo, o


sistema solar, a via láctea e o indefinido

Meu amor por ti é imortal e imensurável

Dance comigo enquanto ouvimos a marcha nupcial ano após ano

Ame-me com a mesma intensidade que a amo

Segure minha mão e jamais a solte, pois a tua jamais soltarei

Olhe-me com o mesmo olhar de quando a conheci

Pois a ti pertenço e jamais partirei


—A Vítima, O Manipulado, O Ignorante e O Submisso—

-A Vítima-

Sou uma mente aberta em uma casa fechada

Sou aquele que segue o caminho oposto da multidão

Sou um inocente em uma sociedade odiosa

Sou o morador de rua assassinado

Sou o idoso abandonado no asilo

Sou a flor que morreu pela ausência de água e sol

Sou uma onça sacrificada injustamente

Sou o pai que trabalha e é assaltado na volta pra casa

Sou aquele que nasceu apenas para pagar imposto e levar no rabo

Sou aquele que é criticado por agir corretamente

Sou aquele que fez tudo e nunca foi reconhecido

Sou aquele que fez versos e protestou e o país nada mudou

-O Manipulado-

Sou aquele que marcha sem uma causa em um protesto

Sou aquele que esquece a cada quatro anos

Sou aquele que ama o estrangeiro, mas não o interno, a cada 4 anos

Sou o manipulado facilmente e que não procura a verdade

Sou aquele que não luta e deixa tudo para o amanhã


Sou manso, resignado, obediente, educado opostamente

Sou aquele que reclama da corrupção, mas a pratica quando há chance

Sou aquele que vende o voto e por mais 1 real venderia a alma

-O Ignorante-

Sou aquele que fala mal quando não tem argumentos

Sou aquele que luta pela liberdade calando o próximo

Sou aquele que prega a inversão de valores

Sou aquele que vê um muro gigante, mas não nota escada deitada nos pés

Sou aquele que critica quem nada de errado fez, mas não percebeu o buraco
no peito do próprio país

Sou aquele que samba no país em crise

Sou uma mente vazia noite e dia

Sou aquele que segue tendências desnecessárias para ser aceito num grupo
de gente igual à gente

Sou aquele que escuta opiniões iguais e recusa as demais, mesmo que
salvem meu país

-O Submisso-

Sou aquele com os olhos fechados para o real e com a boca aberta para a não
compressão

Sou aquele que abriu mão da liberdade para ter quantidade

Sou aquele que não quer SABER e muito menos ENTENDER

Sou manso, resignado, obediente, educado opostamente


Sou aquele que trocou a honra de protestar por uma quantia de papel
numerado

Sou aquele que abriu mão da capacidade de pensar no meu país para opinar
detalhadamente em um reality show

Me dê mais de teu lixo televisivo

Me dê mais de teu sensacionalismo

E me deixe feliz com o cérebro inerte


—Um de Vários Términos Infelizes—

Sentei-me com o meu coração em uma mesa de bar já trazendo a solidão, o


coloquei encima da mesma e lá ficamos.

Meu coração estava gelado, resultado de um término infeliz.

Pedi uma dose de uísque e coloquei alguns fragmentos de meu coração, pois
não queria cowboy naquele dia.

Fui bebendo e pensando, pensando e bebendo.

Depois de um tempo pensava e chorava sem me importar com os homens de


vida vazia no local, pois amanhã também serei um homem de vida vazia.

Chorava e pensava enquanto alguns fragmentos de meu coração caíam no


chão por causa da dor e por causa da lâmpada acima de nós.

Meu peito está preenchido com o nada e com o nada ficará por um tempo,
pois me recuso a colocar meu coração no lugar.

Ele se entregou a alguém e voltou tão rapidamente...

Encima da mesa meu coração está me olhando, sofrendo, lembrando,


sofrendo, fragmentando-se e morrendo.

Uso-o aos poucos para diminuir a pureza de minha dose, pois não o quero de
volta rapidamente. Ele deve sofrer... da mesma forma que estou.

Termino minha dose e peço outra em seguida. Não estou bêbado, o


sofrimento me impede de assim ficar.

Ela tinha o meu coração e o devolveu da mesma forma que se devolve uma
compra fora da validade ou um relógio danificado.

A segunda dose chega e olho para o meu coração encima da mesa. Ele
continua se fragmentando, e os mesmo se dissolvem em meu copo igual a
um amor temporário que utilizou alianças de papéis.

Minhas lágrimas acabaram, mas as lembranças do que fizemos permanecem.

Ah meu coração fragilizado, rejeitado, exposto às dores do mundo, solitário...


solitário...
Como o teu dono neste momento.

Bebo, rio, penso e esmoreço.

Ah término infeliz em um dia dos namorados que não choverá pétalas de


rosas, mas sim a frieza lá fora.

Mergulhei no amor e fui expulso com uma onda violenta.

Agora sinto sede dos lábios de meu amor enquanto aos poucos meu coração
deixa de existir.

Você se lapidou para ela, eu mudei por ela, nós lutamos por ela e não temos
nem sequer ela.

Você foi rejeitado e eu me perdi no mapa da vida, mas não o aceitarei em


meu peito tão cedo.

Deixe de existir se quiser tolo coração.

Mas no fundo sabemos que de nada adiantará, não é mesmo?

Amanhã você estará de volta e com diversas consequências de uma rejeição


e abandono no interior de meu peito.

Somos dois ferrados morrendo de formas diferentes, porém lentamente.

Estarei vazio por um tempo e conhecerei uma rosa. Me encantarei e você se


entregará a ela cegamente dizendo que ela é a mulher ideal.

Já conhecemos mais de 17 mulheres ideais e no final tudo se acabou... e


como sempre, voltamos para o mesmo bar para tomar o mesmo uísque no
mesmo copo.

Que vida de merda nós temos, não?

Bebo o restante da dose num gole só e paro por ali mesmo, pois meu coração
já havia desaparecido, mas manhã ele estará de volta em meu peito.
Pago minhas duas doses e saio pela porta do bar rumo às paredes pálidas de
meu quarto.

Ela não voltará... da mesma forma que as anteriores não voltaram.

Parte de mim morrerá nesta noite, como nas anteriores, enquanto me


lembro de nomes que não se lembram do meu.

Parte de nós morrerá durante a manhã, como nas anteriores, enquanto


acordamos e vemos que ela não voltou... da mesma forma que as anteriores
não voltaram.

Ah meu coração... o que será de nós dois que amamos e não somos amados?
—Envelhecimento—

Era dia quando aprendi,

Tarde quando entendi,

Noite quando recitei

E madrugada quando não fui ouvido.

Era dia quando me pintei,

Tarde quando abriram as cortinas,

Noite quando atuei

E madrugada quando fui vaiado.

Era dia quando me vesti,

Tarde quando cantei,

Noite quando me emocionei

E madrugada quando pediram bis.

Era dia quando a névoa se dissipou,

Tarde quando o vento chegou,

Noite quando estrelas não foram vistas

E madrugada quando fiquei desnorteado sem o Cruzeiro do Sul.

Era dia quando as árvores ganharam folhas vivas na primavera,

Tarde quando os amantes aproveitaram o verão,


Noite quando as árvores perderam sua história

E madrugada quando todo o amor do mundo se converteu em solidão.

Era dia quando fui correndo em direção ao campo com grandes sonhos,

Tarde quando a realidade dilacerou todos eles como uma fera sanguinária,

Noite quando voltei com os olhos sem brilho

E madrugada quando falhei ao escrever o contrário.

Era dia quando fui a uma loja de máscaras,

Tarde quando fui seduzido por uma face de cerâmica,

Noite quando me tornei o que não era

E madrugada quando tirei a máscara e percebi que tinha envelhecido.

Era dia quando saí pela porta da minha casa,

Tarde quando todas as janelas da rua refletiram em mim uma tristeza


absoluta,

Noite quando o sofrimento do mundo caiu em meus ombros como uma


âncora solta ao mar

E madrugada quando desisti do mundo e chorei com pena de mim.

Era dia quando olhei para o relógio,

Tarde quando olhei para o sol do meio-dia,

Noite quando olhei para o meu coração

E madrugada quando TUDO se tornou NADA.

Era dia quando estava rindo em uma roda de amigos,


Tarde quando levei minha namorada ao cinema,

Noite quando fui deixado no altar de uma igreja

E madrugada quando sozinho me embriagava.

Era dia quando toquei piano,

Tarde quando improvisei notas,

Noite quando a melodia ficou triste

E madrugada quando ouvi lágrimas ao invés de aplausos.

Era dia quando num banco de praça desmaiei,

Tarde quando num hospital acordei,

Noite quando ninguém me visitou

E madrugada quando para a minha casa retornei.

Era dia quando nasci,

Tarde quando cresci,

Noite quando envelheci

E madrugada quando só então percebi que todos os caminhos me levarão a


solidão.
—Amor?—

Parece mais fácil decifrar o sorriso de Mona Lisa do que decifrar o que há em
teu coração.

Parece mais fácil tocar Beethoven sob um céu chuvoso do que tocar teus
ouvidos com minhas declarações.

Parece mais fácil ir a Chapada dos Guimarães em um dia frio do que ir a ti,
pois estás sempre distante.

Parece mais fácil mergulhar de uma cachoeira sem proteção do que


mergulhar na maciez de tua pele.

Parece mais fácil voar de balão em direção à lua do que voar para o calor de
teus braços que me aceitam, mas não demonstram.

Parece mais fácil pintar O Nascimento de Vênus em uma parede gelo


utilizando as cores de Van Gogh do que pintar a beleza de teus olhos que não
olham em minha direção por timidez.

Parece mais fácil traduzir todos os poemas franceses sendo fluente em


italiano do que traduzir suas ações que me dão esperança de tê-la ao meu
lado e ao mesmo tempo gera um sentimento de indiferença.

Parece mais fácil atravessar uma tempestade com uma canoa furada ou a
nado, do que romper este profundo silêncio que tu faz.

Parece mais fácil decorar a tabela periódica com seus números atômicos,
metais, semi-metais, não-metais, gases nobres e massa atômica do que
decorar a feição de teu sorriso e de tua beleza, pois está sempre mudando.
Tornando-se mais radiante, deixando-me ainda mais apaixonado.

Parece mais fácil escalar o Everest totalmente despido do que subir os


degraus que às vezes nos separam, pois para cada degrau pisado, dois
surgem.

Nós temos a certeza, mas você me prende em teu meio termo.

Nós sabemos o que sentimos, mas você me prende com tuas dúvidas.
Nós sabemos o que queremos, mas você me prende numa gaiola, esconde a
chave, parte e em seguida volta sem nada a dizer...

Parece mais fácil fazer tanta coisa...

Às vezes não sei se tu me amas ou me iludes com a esperança de um dia me


amar...
—Retângulo, Losango, Círculo e uma Frase Esquecida—

Brasil terra que amo

Minha Pátria amada

Por culpa daqueles que se dizem teus filhos

No exterior é uma piada

Brasil terra que habita em meu coração

Minha pátria ferida

Pode ser que o Amazonas nos dê adeus

algum dia

Brasil terra que és verde

Minha pátria com florestas desmatadas

O homem converte tua natural beleza

em um imenso vazio que lhe gere riqueza

Brasil terra que possui uma vasta fauna

Minha pátria que estás ficando sozinha

As chamas vêm,

os animais correm

e nas estradas encontram um trágico fim


Em cativeiros sofrem,

em zoológicos são exibidos

e em seguida desconhecem a causa da extinção

Brasil terra da miscigenação

Minha pátria que está em constante violência e divisão

O racismo é ignorado,

os assassinatos são esquecidos,

e os corruptos são eleitos

Liberdade de expressão gera processos

De repente o povo sabe de tudo...

Exceto cuidar de ti, pátria amada

Brasil terra de todos os solos

Minha pátria inspiradora de poemas, poesias e protestos

O fogo no coração do povo apagou

E a vontade do povo virou um mito

Os protestos perderam sua causa,

os poemas perderam seus sentimentos,

as poesias perderam sua essência

E o gigante do povo jamais acordou

Brasil terra que sangra e respira com dificuldade


Minha pátria amada que deixou de ser idolatrada

Meu berço esplêndido que hoje se encontra afundando na lama

Fizeste tudo por nós e nada nós fizemos por ti

Deste o necessário para nós e em seguida tiramos parte de ti

E tu não reclamaste, pois és gentil

Reduzimos a fauna e a flora, vendemos teu solo ao estrangeiro...

e a deixamos febril

Brasil terra que amo

Teu verde está sendo queimado

Teu amarelo roubado

Teu azul contaminado

Tuas estrelas apagadas

E tua frase positivista...

ganhando antônimos

Brasil terra que amo

Pátria que amo

Alguns a tratam como uma meretriz

Enquanto outros se calam

ou deixam o gesto de lutar para o dia seguinte

E esse dia seguinte nunca chega


Ah... meu Brasil... minha pátria...

Será que no meio dessa escuridão e lama, veremos o nascer sol?


—À 1 hora da manhã—

Queria poder passar um dia, um único dia sequer, mergulhado no nada.

Não pensar em nada, não amar nada, não escrever nada, não ser nada, já que
ao longo da vida fui tudo.

Um amante, um fracassado, um sorridente, um magoado, um sábio, um


enganado, um sentimentalista, um indiferente, etc.

Creio que já fui cada uma das estrelas que compõem a constelação do meu
signo.

Deitado em minha cama na imensidão do escuro com o relógio marcando 1


hora da manhã, busco ser nada, porém fazer isto é difícil demais.

Pois meu coração pulsa como se amasse pela primeira vez, mesmo não
havendo ninguém para amar.

Quero ser um nada, mas não consigo parar de escrever que quero ser um
nada nesta folha que veio de uma árvore que era uma muda que era uma
semente que era inexistente.

Talvez eu seja oposto, incoerente ou apenas um maluco que roubou flores do


jardim das incertezas e correu sem olhar para trás em direção ao
inominável.

Rio quando não há motivos para rir e choro quando há motivos para festejar.
Sou o nada com tudo na mente, mas que pelo fato de pensar tudo, desejo não
me aprofundar em nada.

Isso tudo não faz sentido mim, no entanto fará para alguém, afinal o sentido
de uma coisa não se perde pelo fato de um ser não o saber.
Mas sei lá... gostaria de ser como os pássaros que voam simplesmente por
voarem sem saberem o porquê de voarem. Queria não pensar em nada por
simplesmente estar cansado de pensar, mas quando faço isso surge um
clarão em formato de interrogação em minha mente e este clarão quer os
motivos de eu não mais querer pensar e para dizer tais motivos...
infelizmente tenho que pensar.

Irônico, não?

Ah... que vontade de pensar em nada e admirar o desabrochar de uma rosa.


Pensar em nada e olhar para as ondulações de um lago. Pensar em nada e
ouvir o rolar de uma acerola sobre o telhado indo em direção ao chão.
Pensar em nada e olhar sem buscar significado, motivos ou razões naquilo
que olho.

Ver que as coisas são daquele ou desse jeito por simplesmente ser. Sem
justificativas.

É o relógio que gira, a poeira que voa, o ventilador que também gira e os
versos que também voam, porém este último toma todo o meu campo de
visão e me força a levantar da cama para convertê-los em um idioma aceito
pela folha de papel, ainda que eu não os compreenda.

Como não os compreendo agora...


—Allan—

E agora, Allan?

Ela se declarou

Você não demonstrou

E ela partiu

E agora, Allan?

E agora, você?

Você que troca de sobrenome,

que não pode voltar ao passado,

você que faz versos,

que não ouviu o amor bater na porta e sofre?

E agora, Allan?

Está sem amada,

está sem rumo na vida,

está sozinho,

bebeu e não conseguiu esquecer,

fumou o seu malboro enquanto lia antigas mensagens,

chorar já não adianta,

E ela partiu,

você tentou,

nada adiantou,

o sorriso se perdeu,
não há mais motivo para isso

e tudo acabou

e chama se apagou

e ela não voltou

e agora, Allan?

E agora, Allan?

Sua poesia sem vida,

seu instante de angústia,

sua dor e sangramento,

suas folhas avulsas,

sua fonte de inspiração,

seu coração fragmentado,

sua perda amorosa,

sua tolice - e agora?

Com palavras no peito

quer se declarar,

mas não existe ninguém;

quer retroceder no tempo,

mas o tempo não é um relógio de bolso;

quer dormir nos braços dela,

mas ela está além do horizonte e não voltará.

Allan, e agora?
Se você escrevesse,

se você cantasse,

se você dançasse

a luz do luar,

se você desistisse,

se você aceitasse,

se você a deixasse...

Mas você não quer deixá-la,

você é cabeça dura, Allan!

Sozinho no quarto

escrevendo versos sem finais,

sem cigarro para fumar,

sem garrafa de vinho barato

para esvaziar,

sem ela parar para te aguardar

você corre atrás, Allan!

Allan, até quando?


—Janela da Frente—

Hoje a rua está vazia e silenciosa

E uma solidão se apoderou de mim

Num instante aceitei a vida no outro passei a questioná-la

Num momento olhei para o espelho e não encontrei nada

Nenhum reflexo, nenhuma vontade, nenhuma esperança

Vou para a janela de frente para uma rua entristecida

Coloco um cigarro em minha boca, acendo-o e num mínimo instante o cinza


da fumaça é a única cor que tenho

Inspiro o agora e expiro os sonhos que jamais realizarei

Inspiro o momento e expiro o passado

Usei a máscara teatral na realidade em que vivo

E hoje não sei quem ou o que sou

Sou nada, sou um relógio parado, sou uma agenda vaga

Possuo menos do que a fumaça que sai de minhas narinas

E nada... comparado com as cinzas que caem

Perdi a esperança em um dia ensolarado

Mas como não tinha esperança para perder

Perdi o que não tinha...


Nesses versos sem profundidade e com uma caligrafia já sem vida

Não... não escrevo o oposto do que sinto...

Pois infelizmente não restou nada emocional para sentir

Tudo que sinto neste momento é temporário, finito, efêmero... e logo deixará
de existir

Tudo que sinto neste momento é o calor entre meus dedos indicando que o
cigarro está no fim

Não o aproveitei como devia... dizer adeus a ele é o que posso fazer

Como para tudo que fiz na vida

Acendo outro cigarro na busca de uma segunda chance

Mas me distraio com o silêncio que me rodeia

E deixo-a passar...

Nunca percebi quando estava perdendo

Pois já estava perdido, sem rumo, confuso na imensidade de um labirinto


com retas que guiam para lugar nenhum

E que se me guiassem para algum... que diferença faria?

Escolheria o caminho errado achando que era o certo

Chegaria ao lugar certo e acharia que era o errado

Pois como disse no início, a fumaça que sai ao acender o cigarro é a única cor
na qual tenho um breve contato visual

O tempo está dando suas voltas e de repente vejo alguém saindo pela porta
da casa do outro lado da rua
Esse alguém sai, olha levemente para cima e acena para mim

E eu aceno de volta por educação e tudo se acaba por ali

Sem falas, sem adeus

Algo finito, efêmero...

As cinzas se degradam no ar enquanto caem

A fumaça se degrada no ar enquanto sobe...

E aqui permaneço sem esperança e em silêncio... me degradando com o


tempo

Pode ser que amanhã eu esteja mudo...

mais nada
—Dor de Cabeça—

Uma dor de cabeça tenta me impedir de escrever e o pior de tudo é que ela
não partirá tão cedo, muito pelo contrário, ela só aumentará com o tempo
até se converter em algo pior ou me impedir de escrever totalmente.

A dor de cabeça surgiu sem bater na porta e nem sequer disse olá.

É como o frio que surge do nada mesmo com a temperatura em 35°C no


município de Cuiabá.

No entanto o frio não é pior do que a dor de cabeça que sinto e o mais
entranho é que a mesma surgiu do nada, assim que acordei e levantei.

Não é uma dor de cabeça causada ressaca, uma vez que não bebi.

Não é uma dor de cabeça causada por caminhar sob o sol, pois isso não fiz.

Esta dor de cabeça poderia ser fantasiosa, mas infelizmente é real, muito
real.

A dor de cabeça começa a aumentar levemente e nada posso fazer. A


aspirina não funcionou e colocar os meus pés numa bacia de água morna
com sal grosso menos ainda.

Agora a dor de cabeça se tornou um martelar contínuo da esquerda para a


direita e vice-versa. Neste momento observo pela janela o mundo
mergulhado na ausência de esperança.

O martelar segue e continuo escrevendo, mesmo que as batidas sejam


incômodas. Palavras saem e saem, mas a dor... esta permanece.

O martelar continua e aos poucos, em quantidades mínimas, a minha


vontade de seguir se esgota.
E o mundo lá fora continua mergulhado na ausência de esperança.

Agora o martelar que era dor de cabeça se tornou um tanque de guerra, e o


mesmo anda pelo interior de minha mente e derruba os edifícios onde
habitam palavras a serem utilizadas.

Aos poucos fico sem sinônimos e rimas.

Aos poucos utilizo palavras sem saber o significado.

— Tanque tenha dó de mim. Tenha dó de minha mente. Não derrube


minhas aspirações poéticas e nem trucide minhas palavras, poupe os
edifícios, não faça do interior de minha mente um campo pós-guerra onde os
pedaços das paredes se tornarão vestígios de outrora ou túmulo literário.
Tenha dó de mim. Escrever me define e não quero esquecer quem ou o que
sou.

Mas o tanque de guerra não me ouviu e derrubou tudo que era significativo
para mim.

Perdi-me naqueles escombros.

Perdi-me no interior de minha mente.

E a esperança aqui fora... continua inexistente.

O tanque não para...

O martelar voltou...

E a dor de cabeça também voltou...

mas do que adianta se hoje morri internamente e toda a minha história se


apagou para sempre?
—E tudo se foi—

No jardim tu eras mais que uma rosa

Na peça de teatro tu eras mais que uma atriz

Na noite estrelada tu eras superior à lua

No fim do corredor tu eras minha luz

Na névoa marítima tu eras meu farol

Tu eras a Terra e a teu campo gravitacional pertencia

Na folha preenchida tu eras a palavra destacada com marca texto

No relógio de parede tu eras o ponteiro girante que me representava


esperança

No dia estressante de trabalho tu eras meu calmante

Na noite tediosa tu eras meu excitante

Na Constituição Brasileira tu eras meu artigo essencial

No protesto individual tu eras minha única causa

Na Idade Média tu eras minha inspiração para a poesia lírica

Tu eras Roma e todos os caminhos me levavam até ti

Nas aulas de química tínhamos uma ligação tênue

Nas aulas de língua portuguesa só aprendemos a conjugar verbos no


passado

Nas aulas de matemática deixamos tudo para a probabilidade

E nas aulas de história não fizemos a nossa


—Já Não Escrevo Como Escrevia—

Em todos os meus versos há tanto amor e paixão

Mas em minha vida só há infelicidade e solidão

Deixo o amor para meus versos e a tristeza para o meu coração

Corri como um louco atrás da mulher ideal

Cheguei a pensar que ela vivia apenas em meus sonhos

e não no mundo real

E quando a encontrei, não senti o entregar de corpo e alma

Tua voz poucas vezes ouvi

e teu amor mal senti

Senti-me tomado pela ausência

E quando ela me olhava sentia tua indiferença

Em nosso tempo junto, ouvi apenas o tic tac do relógio dizendo que o tempo
é limitado

Parecia ser mais fácil me jogar de um penhasco achando que posso voar

Do que ao seu lado sentar e tentar conversar

Tentei, tentei, tentei e tentei


e em cada uma delas

falhei

Senti uma amargura em teus lábios

Senti uma frieza enquanto tocava tua pele

Senti um distanciar quando estava perto de mim

Lá fora, em meio às estrelas, eu teria sido mais feliz

No entanto continuei, continuei e continuei

Até que meu coração sentiu a carência de um simples segurar de mão

E quando isso aconteceu,

terminamos e você sequer me disse adeus

Em todos os meus versos há tanto amor e paixão

Mas em minha vida só há infelicidade e solidão

Deixo o amor para meus versos e a tristeza para o meu coração

O céu está mais escuro

As estrelas estão mais distantes

As paredes do meu quarto estão mais sombrias

A janela pela qual observo está mais gelada

Estou completamente só

num mundo com bilhões de habitantes


O vento assopra, assopra e assopra

E ouço teu convite para a valsa de um homem só

Enquanto aos poucos

nuvens alaranjadas se agrupam no céu escuro

Em meus pensamentos atribui diferentes cores à realidade em que vivo

Com uma simples paleta mudei o mundo

Coloquei sorrisos na humanidade,

Dei tonalidade aos cabelos daqueles que se julgavam esquecidos no tempo,

Pintei de branco os países em conflitos

e pintei de verde as florestas desmatadas

Pena que tal paleta seja inexistente,

pois se a mesma real fosse

pintaria um coração vivo em meu peito

e uma face mímica em mim mesmo

para expressar com maestria aquilo que sinto

Em todos os meus versos há tanto amor e paixão

Mas em minha vida só há infelicidade e solidão

Deixo o amor para meus versos e a tristeza para o meu coração

Já não corro como corria


Já não sinto como sentia

Já não entendo como entendia

Já não durmo a noite e saio durante o dia

Já não olho para o céu como o mesmo olhar

Já não olho para a folha de papel em branco com o objetivo de criar um


universo a partir do zero

Meu coração é um vaso prestes a cair da estante

e não há ninguém que queira apará-lo...


—Sem Título Definido—

Penso em tantas coisas enquanto estou deitado

Já conquistei o mundo com os olhos abertos

Já tive pensamentos nobres e altruístas

Mas tudo isso ficará apenas na minha mente

Passando diante de meus olhos

Tais pensamentos sequer enxergarão a luz do dia

Terei esquecido tudo antes disso

São tantos pensamentos que não há espaço para tantos

O mundo é muito real para se ter imaginação

Opaco demais quando tentamos lhe dar cores

Longínquo demais quando nos aproximamos

Enigmático e ao mesmo tempo triste

Poético como uma estrofe estrangeira

Mas vago quando adiciono um sinônimo de minha língua materna

Em algum lugar, entre casas tapadas e não tapadas, muitos também


conquistaram o mundo com os olhos abertos

E nenhum deles, nenhum de nós, será registrado em livros de histórias e


nem homenageado em uma peça de teatro ou em uma cantiga popular
Dormimos e tais pensamentos, de tão intensos, tornam-se sonhos

Vivemos tais sonhos sorrindo, sentindo a felicidade por aquilo ter se tornado
algo mais que uma ideia e vontade

Mas o relógio desperta e sentimos a indiferença da realidade sobre nossos


ombros

Choramos de alegria por ao menos ter vivido aquilo

Choramos de tristeza por termos a certeza de que aquilo jamais se realizará

Depois de certo tempo esqueceremos tudo

Substituindo esse ‘tudo’ por ‘alguma coisa’ que nos fará chorar na manhã
seguinte

São tantos pensamentos que não há espaço para tantos

É sempre assim... uma combinação trágica, uma ferida que arde e nunca
sangra

Jogue a luz do luar sobre mim e nuvens surgirão para ofuscá-la

Derrame água sobre minha cabeça e o vento fará de tudo para secá-la

É sempre assim...

A vontade de um homem contra a realidade do mundo em que vive


—Solennis—

Tu foste meu sol,

minha primavera,

minha canção,

meu rouxinol,

minha vontade.

E tu se puseste

sem dizer para onde.

Talvez para além da colina?

Talvez para além da montanha?

Talvez para o outro lado do mundo?

Não sei por que de meu amor se esconde.

Um eclipse solitário,

uma onda sem força,

um poço já sem água.

Pensas em mim como penso em ti?

Estás sozinha?
Ou acompanhada de algum de meus Eus?

Pensas em mim como penso em ti?

Em todo instante?

Com intensidade durante a noite?

As nuvens chegam,

o telefone toca,

mas infelizmente não é você.

Tu se puseste

sem dizer para onde.

Talvez para além da colina?

Talvez para além da montanha?

Talvez para o outro lado do mundo?

Não sei por que de meu amor se esconde.

O lençol exala teu perfume

e o copo continua com a marca de teu batom.

Onde estás tu?


Onde está o amor que me prometeste?

Há algum valor nos votos que fizemos?

Dias,

semanas,

meses

e nada de ti.

Sem teu amor,

sem teu calor,

sem esperança,

a saudade queima em mim.

O sol se pôs,

mas pra onde?


—Inconsolável—

Harpias se amontoam para devorar minhas entranhas

Serpentes me iludem com teus olhares

Hades aguarda minh’alma em tua coleção

E Cérbero deseja meus ossos em tua refeição

Do que vale a alma de um poeta sem esperança?

Do que vale a alma de um filósofo que mergulhou nos braços da depressão e


abdicou da razão?

Do que vale a alma daquele que a venderia por qualquer migalha de pão no
interior da Floresta Negra?

Meus versos estão doentes, assim como eu

Cada espaço entre minhas palavras representa uma estrela que perdeu a
própria luz

Cada espaço entre minhas palavras representa a solidão de um homem


preso numa masmorra de corredores infinitos

Continuo escrevendo a fim de encontrar algum motivo para viver

Não me darei ao luxo de rimas para não perder a essência

Estou abatido como um prisioneiro condenado à guilhotina por dizer o que


pensou

Estou destruído como uma plantação que recebeu a oitava praga do Egito
Estou prestes a dar fim à minha existência como quem foi trocado no dia dos
namorados e em seguida convidado para ser padrinho do casamento

Feras malditas e devoradoras de pensamentos

Condenando-me ao isolamento

onde meu Eu principal cria aversão ao meu Eu poético

A dor de Prometheus não se equipara à minha tristeza absoluta

A queda de Ícaro não se equipara à minha decadência na alvorada

A canção alemã Lili Marleen não se equipara à solidão que ecoa como um
violino desafinado em meu peito, em minha alma e em minha constelação

Não há sol para mim,

há apenas versos avulsos e lacunas entre palavras

Não há lua para me inspirar,

há apenas a falsa história do que sou e a verdade perdida daquilo que fui

Sou patético, depressivo, solitário,

impossível de ser descrito

ainda que tenha toda a eternidade para fazer isso

Os argumentos perderam o raciocínio

Os diálogos tornaram-se irrelevantes

Estes versos tornaram-se irrelevantes

Eu me tornei irrelevante

Se imprimi-los,
rasgue-os

Se copiá-los,

apague-os

pois o mundo já possui infelicidade demais

e não precisa de mais uma

Eu vivo este momento

como se estivesse prestes a morrer

Eu morrerei algum dia

e quem sabe a partir daí eu comece a viver

sem correntes invisíveis,

sem amores impossíveis

e sem o vazio que surge quando sonho em fazer tudo

e acordo na realidade do nada


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