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UEPB 09

CENTRO DE HUMANIDADES
CURSO: DIREITO
DISCIPLINA: História do Direito e Antropologia Jurídica
PROFESSOR: Mário Vinícius Carneiro

Dos Delitos e das Penas

Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, nasceu em Milão, Itália, em


1738 e morreu em 1794. Quando jovem, estudou em Paris, tendo tomado
conhecimento do movimento filosófico-humanitário francês. Sua obra, Dos Delitos
e das Penas, foi publicada anonimamente em 1764, tendo despertado enorme
interesse por preconizar um novo sistema de Direito Penal, pregando a supressão
da tortura, da pena de morte, do confisco, da instrução criminal secreta, etc.
Antes de escrever sua obra, Beccaria adquiriu conhecimentos capazes
de torná-lo sóbrio e equilibrado na emissão de seus conceitos. Fez leituras de
D’Alembert e Diderot (idealizadores da Enciclopédia), Montesquieu e Rosseau,
todos escritores e filósofos franceses.
Temendo represálias, a sua obra foi impressa secretamente, em
Livorno. Ela toma por base do direito de punir a utilidade social, declarando a pena
de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas ao delito.
O sistema jurídico vigorante no tempo de Beccaria era confuso e
ultrapassado. Ele próprio retrata isso no prefácio de sua obra:
“Alguns fragmentos da legislação de um antigo
povo conquistador compilados por ordem de um
príncipe que reinou há 12 séculos em
Constantinopla, combinados, em seguida, com
os costumes dos lombardos e amortalhados num
volumoso calhamaço de comentários obscuros
constituem um acervo de opiniões, que uma
grande parte da Europa honrou com o nome de
leis...” ··.

O pensamento de Beccaria adotava uma visão penalista muito ampla.


Claro que os avanços da ciência e da própria sociedade não puderam ali constar,
uma vez que foram próprios dos seus tempos, como o livramento condicional, a
suspensão condicional da pena, a violação da correspondência, etc. Mesmo
assim, menos de meio século após a sua morte, a obra de Beccaria já
influenciava o direito em várias partes do mundo, como o Código Penal Francês e
o Código Criminal do Império do Brasil.
A obra de Beccaria operou uma verdadeira revolução branca, sem
tiros, sem canhões, feita pela força das suas idéias expostas com precisão, com
objetividade, com clareza e coragem, as quais antes de atacar a autoridade em
seu fundamento, a combatia em seus excessos, que são visíveis.
Ele defendeu o princípio de que somente as leis podiam fixar as
penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais é próprio da pessoa do
legislador, que represente toda a sociedade, por um contrato social.
Defendia, também, o princípio de que as provas de um delito
poderiam distinguir-se em provas perfeitas e provas imperfeitas. As provas
perfeitas eram as que demonstravam positivamente que é impossível que o
acusado fosse inocente. As provas imperfeitas eram quando não excluíssem a
possibilidade da inocência do acusado.
Posicionava-se contra a tortura nos interrogatórios, por motivos
óbvios: um acusado robusto resistiria a essa dor para evitar a condenação,
enquanto que um acusado fraco logo confessaria o crime para não sofrer mais.
Além disso, defendia que um cidadão deveria ficar detido apenas o tempo
necessário para a instrução do processo e os mais antigos detidos tinham o direito
de serem julgados em primeiro lugar.
Sobre a pena de morte, divergia sobre o entendimento de que o
homem poderia degolar o seu semelhante. Admitia a pena de morte somente em
casos de confusão em que a nação fica na alternativa de recuperar ou perder a
sua liberdade.
Beccaria defendeu a proporcionalidade das penas aos delitos. “Se
dois crimes que atingem desigualmente a sociedade recebem o mesmo castigo, o
homem inclinado ao crime, não tendo que temer uma pena maior para o crime
mais monstruoso, decidir-se-á mais facilmente pelo delito que lhe seja mais
vantajoso...”. E concluía: “Para não ser um ato de violência contra o cidadão, a
pena deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas
aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela
lei”.
O livro de Beccaria tornou-se universalmente conhecido, se
constituindo leitura obrigatória para os estudiosos do Direito.

Bibliografia:
PINHEIRO, Ralph Lopes. História Resumida do Direito. 4ª ed. Rio de Janeiro: Thex. Ed. Biblioteca
Estácio de Sá, 1993.

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