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DATAS IMPORTANTES
Primeiros hominídeos
Toumai (6 milhões de anos)
Lucg (3 milhões de anos)
Paleolítico
Primeiros instrumentos de pedra
(2 milhões de anos)
Domínio do jogo (650 mil anos a.C.)
Gruta decorada mais antiga
(29 mil anos a.C.)
Neolítico
Primeiros agricultores no Oriente
Próximo (9 mil anos a.C.)
Primeiros megálitos na Europa
(4500 anos a.C.)
Nascimento da escrita na Suméria
(3300 anos a.C.)
Na Europa Ocidental
Idade do Bronze: 2000 a.C.
a 800 a.C.
Antiguidade
Fundação lendária de Roma
em 753 a.C.
A Gália romana: da tomada de Alésia
por Júlio César (52 a.C.) ao batismo
de Clóvis (496)
Época moderna
Do descobrimento da América (1492)
à Revolução Francesa (1789)
Época contemporânea
Do século XVIII aos nossos dias
Raphaèl De FiLippo
Ilustrações de
Roland Garrigue
Tradução
Joana Angélica d’Avíla Melo
claroenigma
Para Julia e Elsa, e para todos os descendentes do Cro-Magnon
R. D. F.
Para Tati Vonick, que me levou aos rastros dos primeiros homens,
ainda recém-saído do berço!
R.G.
Título original
Larchéologie à petits pas
Preparação
Mell Brites
Revisão
Marina Nogueira
Marise Leal
De Filippo, Raphaêl
A arqueologia passo a passo / Raphaél De Filippo ; ilustrações
de Roland Garrigue ; tradução de Joana Angélica d'Avila Melo.
— São Paulo : Claro Enigma, 2011.
isbn 978-85-8166-098-1
H -08447 CDO-O28.5
3“ reimpressão
2020
Teste p.70
Sobre palavras e coisas:
a invenção da arqueologia
Arqueologia* é o estudo dos vestígios materiais
do passado dos homens.
A questão do homem
Desde os tempos mais remotos, os homens narram os eventos que remetem
suas raízes a um passado longínquo. Até a invenção da escrita, os relatos
Jundadores — como aqueles que se encontram no Antigo Testamento
ou mesmo os mitos gregos — são transmitidos de geração em geração
pela tradição oral. A partir do iv milênio a.C., a escrita, cuneijorme,
hieroglíjlca ou aljabétlca, passa a registrar a memória dos homens.
As crenças religiosas e as leis, as guerras e os tratados de paz,
os casamentos e os testamentos são gravados em argila ou mármore,
desenhados sobre papiro ou pergaminho. Por muito tempo,
o conhecimento do passado se baseará unicamente nos escritos antigos.
6
Exumar os vestígios
A renovação das populações, as descobertas científicas e os progressos
tecnológicos afastam da lembrança tudo o que não é mais necessário ao
presente. 0 automóvel substituiu o cavalo, e há pouco tempo, quando seus
pais nasceram, não existia o celular, já pensou nisso? Em muitos anos, será
que a nossa sociedade será esquecida? Pois os arqueólogos trabalham para
encontrar, embaixo da terra, os vestígios do que foi abandonado mas não
deve ser esquecido.
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O passado imóvel
Só a partir do Renascimento (século xvi) é que a curiosidade
pelos objetos do passado se transforma progressivamente
em uma nova ciência, a arqueologia.
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As primeiras escavações
Glossópetras e ceráunias
respeitam os livros antigos Certos objetos encontrados
Em seus primórdios, a arqueologia eram considerados frutos de
serve apenas para comprovar e fenômenos sobrenaturais, caso das
ilustrar o que contam os livros. As “glossópetras”, supostas línguas
primeiras grandes escavações evocam de serpentes de pedra, e das
“ceráunias”, que teriam chegado
a grandeza de Roma, em Herculano à Terra através de raios. Eram,
e Pompeia (1738), ou os heróis da na verdade, apenas pontas
llíada, quando Troia Joi descoberta de flechas em sílex e machados
por Schliemann (1871). Em Roma, de pedra polida.
as ruínas são exploradas como
pedreiras, das quais os papas e os
príncipes se servem para edijicar
igrejas e palácios. As obras de arte,
como estátuas e vasos, encontradas
durante essas pilhagens — que o
papa Paulo m (1468-1549) proíbe
sob pena de morte — aumentam
as coleções particulares das jtguras
ilustres, que juntam em “gabinetes
de curiosidades” todo um bazar de
objetos antigos ou excêntricos,
trazidos de viagens distantes
ou coletados nos campos.
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A pilhagem das antigas civilizações
Por muito tempo, a rivalidade entre as potências
ocidentais — sobretudo entre Inglaterra e
França — para conquistar mais colônias na Ásia e
na África foi acompanhada de uma luta pela exploração
do patrimônio das regiões dominadas. Muitos vestígios
importantes para se conhecer as civilizações antigas
foram levados, vendidos, estragados.
O que é?
* Pedra de Roseta: bloco de
basalto negro, descoberto durante a
expedição de Napoleão ao Egito, que
traz a inscrição de um mesmo texto em
hieróglifo, em demótico (escrita egípcia
simplificada) e em grego.
12
O arcebispo irlandês James Ussher
proclama, em 1654, que o mundo
foi criado em 26 de outubro do ano
4004 a.C., precisamente às nove
horas da manhã!
“Touros!”
É o que grita Maria, a filhinha do
marquês de Sautuola, quando
percebe as pinturas no teto da
gruta de Altamira, no norte da
Espanha. Até os pré-historiadores
mais eruditos da época (estamos
em 1879) acreditavam que o
homem de Cro-Magnon seria
estúpido demais para desenhar.
Acusado erroneamente de ter
trapaceado, o marquês morrerá O que é?
de desgosto. * Etnologia é o estudo e a descrição das
diversas culturas do mundo.
13
As idades da pré-história:
a pedra e o metal
A pré-história estuda a história dos homens que viveram antes
de existir a escrita. Ela depende exclusivamente das descobertas
arqueológicas, já que essas civilizações não deixaram nenhum
relato sobre sua vida. Os períodos (as idades) são definidos
unicamente a partir da evolução dos instrumentos e dos
progressos tecnológicos na exploração dos materiais
(pedra e metal).
14
Espécies humanas
muito longínquas
A descoberta em 1856, em uma
gruta do vale de Neander
(Alemanha), de um crânio Jóssil
humano cujo aspecto difere daquele
do homem atual suspende as últimas
dúvidas sobre a questão da origem
da humanidade. Os primeiros
paleoantropólogos* anunciam
que o homem é uma espécie como
qualquer outra no mundo, que sofreu
evolução em sua morfologia, ou
aparência. Desde então, sabe-se que
o homem de Neandertal não é o
ancestral direto do homem atual, o
Homo sapiens, mas o último a ter
coexistido com ele até seu
desaparecimento, que aconteceu por
volta de 28 mil a.C. Sabe-se também
que a Terra abrigou várias espécies
de homens, precedidas por espécies
de pré-humanos, que seriam primos
próximos dos grandes símios dos
quais se terlam separado há mais ou
menos 7 milhões de anos. O homem
de Cro-Magnon, que apareceu em
terras africanas há quase 200 mil
anos e foi descoberto na França
somente em 1868, passa a ser
considerado o homem de hoje.
O que é?
* Paleontologia é a ciência que estuda os antigos seres vivos a partir dos fósseis
(de dinossauros, por exemplo). O paleoantropólogo pesquisa sobre as origens do
homem a partir dos seus restos ósseos.
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O passado está em toda parte
Tudo começou com a curiosidade dos colecionadores do
Renascimento, mas com o passar dos anos os arqueólogos
começaram a descobrir rastros do passado por toda parte,
em todas as épocas, em todos os lugares da Terra.
As promessas da arqueologia
Esses estudiosos tiveram, de ter
coragem para enfrentar a Igreja e
contrariar suas crenças. Da coleta
de obras de arte nas ruínas das
civilizações antigas ao exame
microscópico de pedras transformadas
em instrumentos comuns e de velhos
pedaços de crânio, a arqueologia
mostrou que a história contada na
Bíblia não era a verdadeira história
da Terra e do homem. Com a ajuda
de descobertas científicas importantes
(como a radioatividade, usada para
determinar a idade dos objetos)
e de progressos tecnológicos
(como o avião ou o escafandro),
os arqueólogos vão revelando
parcelas do passado, observadas
no solo, na água ou a partir do alto
A memória da Terra é maior que a
dos homens.
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O fim. das coisas
As coisas Jeitas pelas mãos dos homens também envelhecem, morrem
e desaparecem. Elas podem ser destruídas, abandonadas, perdidas
ou escondidas em circunstâncias menos ou mais Javoráveís à sua
preservação através dos séculos.
17
O passado perdido
Às vezes o passado é profundamente enterrado, e seus objetos
terminam mudos, sem poder contar mais nada.
18
As cidades perdidas
Um cataclismo, uma mudança no clima (como um período de seca) ou uma
invasão de território provocam o abandono de grandes cidades, e às vezes
a sua morte. Algumas são totalmente esquecidas, outras permanecem
conhecidas por populações locais, que se mostram indiferentes ou até
supersticiosas e preferem não ocupar um local castigado pelos deuses.
O mistério da Atlântida
Platão (428-348 a.C.), grande filósofo
da Grécia antiga, já falava dessa ilha
fantástica engolida pelo mar depois de
uma erupção, que certos arqueólogos
atribuem ao vulcão da ilha de Santorini,
no Mediterrâneo.
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No ventre da Terra A
De um modo ou de outro, tudo o que brota da terra retorna Oá/
a ela um dia. Os homens do Paleolítico Superior* já tinham^p^ J
compreendido isso, instalando em seu interiores primeiros <
templos da humanidade: eram as grutas decoradas.
As lixeiras
Os detritos domésticos e os objetos
quebrados que não podiam ser
consertados — observe em sua casa
a quantidade de material que vai para a
lixeira e para os centros de reciclagem
a cada semana — eram jogados em
Jossas instaladas perto das casas, nos
quintais e nos jardins. Com Jrequência,
as estruturas ocas menores que não
tinham mais utilidade (como silos para
grãos, poços, Jornos, valas e latrinas)
passavam a ter uma Junção secundária:
eram ocupadas com tudo 0 que
convinha descartar por razões de
higiene ou por necessidade de espaço.
Esses depósitos são verdadeiras minas
de injormação sobre os aspectos mais
simples da vida cotidiana dos homens de
antigamente, e que raramente aparecem
em textos escritos na época.
Os tesouros esquecidos
Antes da criação dos bancos, as moedas e os objetos de valor
eram escondidos embaixo da terra.
/ Os esconderijos X.
1 /Já foram econtrados diversos
/ tipos de esconderijo, que
/ raramente ficavam dentro das
casas (fácil demais para os
ladrões!). Em geral, as peças
eram guardadas dentro de
potes, sacos, meias de lã ou
/ outros recipientes e enterradas
perto de um ponto de referência
fácil de memorizar: um poço,
uma árvore grande, uma
ponte... Os numerosos tesouros
encontrados sob uma via
| i romana foram atribuídos
I./ a mercadores ambulantes.
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Perder o cofrinho?
Fossem, eles deslumbrantes ou modestos, por que foram esquecidos por seus
proprietários? Na verdade, se considerarmos que todas as populações pelo
mundo afora, da Antiguidade ao século xx, escondiam suas fortunas, as
descobertas de tesouros são rarísslmas. Esses proprietários devem ter sofrido
um acidente, tido uma doença fatal, ou podem até ter sido assassinados...
23
CJ
A Júria de Netu.no X
e de Marte* f
Tempestades e batalhas navais
provocaram, o naufrágio de
muitas embarcações em
todos os mares do mundo. 1
Recobertos pela areia e pela J
vasa dos fundos marinhos, os
destroços dos navios podem o
ser localizados graças às O 9
suas cargas ou aos seus 0 °
o 'X« co
canhões de bronze, que
resistem à corrosão causada '
pela água salgada,
o,
Destroços célebres
A arca de Noé, que, segundo
a Bíblia, encalhou no monte
As jazidas de ânforas ©TT1 Ararat (na Armênia), foi o
No Mediterrâneo, as jazidas ’• primeiro destroço procurado
de ânforas assinalam o naufrágio J j pelos homens, desde o século
de navios mercantes romanos 4 JzzJ iv d.C. A exploração do Titanic,
que em 1912, durante sua
que transportavam vinho. No
primeira viagem, naufragou
canal da Mancha, o navio de guerra e foi parar a 3850 metros
do rei da Inglaterra Henrique vni, O de profundidade, mobilizou,
o Mary Rose, afundado em 1987, recursos técnicos
franceses em 1545, foi sofisticados: submarino de
controle remoto, dotado de
remontado pelos arqueólogos) câmeras e braços articulados.
pedaço por pedaço.
À beira d’água
Braços mortos e antigas margens de rios também escondem embarcações.
As mais remotas, chamadas pirogas monóxilas,* datam do Neolítico,
a exemplo daquelas descobertas em 1991, em Paris, em um antigo canal
do rio Sena. Surgiram há 6 mil anos e são troncos de carvalho com uma
cavidade no meio, aberta com a ajuda de Jogo e machado de pedra. Em
Lyon, nas margens do rio Saône, várias escavações preventivas** revelaram
barcos de diversas épocas, tanto romanos quanto modernos (do século xvm).
** Veja a explicação na p. 66.
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À prova do tempo: as sepulturas'"
Os rituais funerários* se inspiram nas crenças religiosas, e as
tumbas refletem o estatuto social do defunto. Com frequência,
os guerreiros são enterrados com suas armas.
A vida eterna
A palavra de origem grega
sarcófago, que significa
“comedor de carne", só
aparece no fim do século
xv, para evocar os ataúdes
de pedra que, segundo
os romanos, tinham a
propriedade de destruir
rapidamente os corpos.
Para os egípcios, que
praticavam a mumificação
por acreditarem que a
conservação dos corpos
garantia a vida eterna,
o termo soa bastante
inapropriado.
O que é
* Em sua origem, o termo “sepultura” designava a cerimônia do enterro
(os funerais), ou seja, o sepultamento. Hoje em dia, e na arqueologia,
designa a tumba propriamente dita.
Os indestrutíveis
As matérias minerais ou inertes, como as rochas (sílex, calcário, granito...),
as pedras preciosas (como a esmeralda e o rubi) ou finas (granada e opala,
por exemplo) e os metais nativos* (ouro, prata, entre outros), às vezes
explorados precocemente pelo homem, se desgastam muito pouco com
28
Certas edificações, imensas e sólidas, evitaram o soterramento e conseguiram
suportar a erosão. Na categoria “peso pesado”, as mais antigas são aquelas
formadas por megálitos (grandes pedras) do Neolítlco, como os dólmenes
de corredor no sul de Portugal (4 mil a.C.) e os alinhamentos de menlres
em Carnac, na Bretanha (2500 a.C.).
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Milhões e milhões de cacos
O sílex, o mármore e o ouro, mesmo quando são trabalhados
pelo homem, permanecem em seu estado natural. Por outro lado
minerais mais frágeis, como a argila, podem ser transformados
pelo fogo, tornando-se objetos também inalteráveis.
Os recipientes em cal e em
gesso aparecem no Oriente
Próximo* antes da produção,
por cozimento, da argila
modelada, ou cerâmica, que se
torna mais e mais importante
entre 8 mil a.C. e 6 mil a.C.
30
Os fragmentos de cerâmica são encontrados com tanta frequência que, na
maioria das vezes, são eles que permitem datar os sítios arqueológicos. Na
época romana, os vasos eram tão abundantes que foi possível classificá-los,
século por século, a partir de suas formas e desenhos. A descoberta de milhões
de ânforas, quebradas ou inteiras, no solo ou no mar, permite conhecer os
trajetos comerciais do vinho ou do azeite de oliva durante a Antiguidade.
O que é?
* Oriente Próximo é a região
situada entre a África e a
Ásia, entre o Mediterrâneo e
o oceano Índico. Geralmente, Os cidadãos de Atenas votavam pelo exílio de
considera-se como parte um sujeito gravando o nome dele em um óstraco
dele os seguintes países: (concha ou fragmento de cerâmica). Foi daí
Turquia, Líbano, Israel, Egito, que surgiu o termo “ostracismo”, sinônimo de
Síria, Iraque, Arábia Saudita, banimento.
Jordânia e lêmen.
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Minerais modificados
Depois de trabalharem com minerais brutos — como a
cerâmica, que vem da argila—, os homens inventaram
materiais que não existem na natureza. O bronze, liga de cobre e
estanho, foi o primeiro. Ele aparece na Europa no m milênio a.C.
Enjerrujados ou fundidos
À exceção dos metais nativos, a
maioria dos metais é produzida
a partir de óxidos, como os
minérios de ferro. No entanto, os
objetos feitos de ferro enferrujam
tanto dentro da terra como em
contato com o ar.
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Quebradiço como o vidro!
Mais frágil do que a cerâmica, o vidro conserva-se por muito tempo embaixo
da terra ou dentro dágua.
33
As matérias presentes nos seres vivos
As matérias orgânicas que constituem os seres vivos
(por exemplo, as plantas e os animais) se decompõem após a
morte. Mas certas condições específicas, como o tipo do solo,
o clima, permitem sua conservação através dos milênios:
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Sobre os ossos 0 clima extremamente Jrio e seco
A preservação do esqueleto depende da Groenlândia acondiciona as
do terreno no qual o corpo está múmias inuítes. Por muito tempo,
sepultado. Os solos ácidos provocam uma geleira dos Alpes serviu de
uma destruição completa dos ossos, congelador a Õtzi (ou Oetzi), morto
enquanto os solos calcários garantem nas montanhas há 5300 anos.
sua conservação. Os climas extremos Seu excelente estado de
favorecem a descoberta de corpos conservação permitiu reconstituir
mumificados naturalmente; a secura sua última rejeição: pão, legumes
do deserto egípcio impede a e carne.
decomposição de cadáveres
completamente dessecados.
Os fantasmas de Pompeia
As cinzas vulcânicas envolveram
os corpos dos habitantes mortos,
em sua maior parte, por asfixia.
Assim, injetando-se gesso nos
vazios gerados pela decomposição
dos corpos, molda-se
uma reprodução das vítimas
na posição em que elas
estavam ao morrer.
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Os restos dos animais
No caso dos animais, os vestígios mais comuns também são
os ossos. Mas uma diferença notável entre o comportamento
dos homens e dos animais distingue as ossadas humanas
das outras: os homens enterram seus mortos. Na natureza,
as carcaças dos animais selvagens são eliminadas pelos
carniceiros. As mais conservadas são as dos mamutes
aprisionados no gelo da Sibéria.
Ossadas dispersas
Às vezes, animais domésticos alinhados de oito homens e oito
sacrificados acompanham os cavalos. Na maior parte dos casos,
homens à sua sepultura. Nos porém, os ossos dos animais
kurgans dos povos siberianos,* são encontrados dispersos nos
datados da Idade do Ferro, Joram depósitos de lixo ou nos locais
encontrados cavalos congelados. de moradia. Os animais
Na França, em 2002, uma domesticados (como o boi, o
escavação preventiva feita perto carneiro e o porco) raramente
do local da batalha de Gergóvia morrem de maneira
revelou uma vala da época natural. Entre os gauleses,
gaulesa (século i a.C.) ocupada até os cães eram comidos.
por esqueletos cuidadosamente * Ver p. n.
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Aqueles que estudam os ossos dos animais precisam conhecer as
práticas de criação dos povos antigos: quais as espécies mais produtivas
em carne, as idades de abate. Isso porque o momento do abate dos animais
dependia da razão pela qual estavam sendo criados: pela carne, pelo leite,
pela reprodução, para puxar o arado ou para servir de montaria. Um boi
velho era, sem dúvida, empregado na lavra; um porco abatido tardiamente
era um varrão, ou seja, um macho reprodutor. Com .frequência, os ossos
trazem as marcas deixadas pelo cutelo durante o desmembramento
e o retalhamento das carnes.
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Os restos dos vegetais
As condições de preservação dos vegetais são idênticas às das
matérias animais. Um clima frio e seco e um meio anaeróbio*
são bons conservadores.
Sob as águas
As aldeias neolítlcas ou as Nos poços aterrados há muito
medievais, que foram submersas tempo ou nas turfeiras,
pelos lagos alpinos e depois recolhem-se todos os tipos
ressurgiram durante uma baixa de objetos usuais, raramente
das águas, ilustram como a descobertos em outros lugares:
madeira era essencial na arquitetura baldes, cabos de instrumentos ou
e na vida cotidiana das sociedades de facas, piões e peças de xadrez.
antigas. Nas ruínas das casas Tecidos em fibras vegetais, cestos
de madeira desses povoados, de vime, cereais e caroços de frutas
encontram-se tigelas, colheres fornecem informações sobre
e outros objetos impossíveis a colheita e a agricultura.
de achar nos sítios arqueológicos
secos, que são mais comuns.
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A madeira também foi utilizada para a construção
de barcos, e os destroços dessas embarcações ficam
mais conservados em um meio anaeróbio do
que nos rios e mares. Além disso, a madeira
era queimada para cozer alimentos e
cerâmicas, assim como para trabalhar
os metais. 0 Jogo, dominado há
400 mil anos, produz o carvão
vegetal, tão útil às datações
estipuladas pelos
arqueólogos.
Sem água
O calor seco dos desertos africanos
e norte-americanos também conserva
os vegetais. Nos mausoléus dos faraós,
encontram-se móveis, esculturas, cestos
de folhas de palmeira, oferendas
alimentares, buquês e ataduras de linho
das múmias. No Colorado, os planaltos O que é?
do Mesa Verde National Park abrigavam * Meio anaeróbio: meio sem
as aldeias trogloditas* dos oxigênio, frequentemente úmido,
antepassados dos índios pueblos, os como o das turfeiras.
anazasis (séculos v-xiv), nas quais são * Troglodita: hábitat montado
coletados cestos trançados, sandálias nas cavidades, naturais ou não,
de iúca e reservas de milho. dos maciços rochosos.
39
A memória da Terra
No solo ou na água, em climas frios ou secos, a Terra encerra
e protege as ruínas e os objetos esquecidos pelo homem.
Mas não preserva tudo: há o que os homens destruíram e o
que a terra decompôs. O planeta também tem suas próprias
memórias, reveladas pelas propriedades físicas descobertas
pelos cientistas graças aos progressos tecnológicos.
SííB
42
A prospecção: uma verdadeira investigação
A prospecção arqueológica não tem como objetivo encontrar novas
escavações para ser exploradas; ela avalia a história da ocupação de um
vale ou de uma planície através do levantamento dos vestígios do passado
ainda perceptíveis na paisagem. Os trabalhos da Comissão das Antiguidades
do Egito, que acompanhou Napoleão Bonaparte durante suas conquistas
em 1 798, deram origem ao primeiro catálogo arqueológico completo
de uma região. Esses inventários garantem certa proteção aos sítios e às
vezes, pela abertura de uma escavação preventiva, impedem sua destruição.
O que é?
* A toponímia, estudo dos nomes dos lugares, assinalou, por exemplo,
a existência de um menir num local chamado La Pierre Levée (“a pedra levantada”).
Ela também atribuiu a fundação da cidade galo-romana de Augustodunum, a atual
Autun, ao imperador Augusto, cujo nome foi associado ao termo gaulês dunurn,
que significa “fortaleza”.
43
A pé e de avião
Nas zonas de clima temperado, a prospecção é feita
sobretudo em áreas de cultivo, pois, durante a lavra,
o arado traz material arqueológico à tona. Vários
arqueólogos se dividem pelo terreno de um setor definido
durante a investigação documental, caminhando e anotando
todos os indícios à vista: fragmentos de cerâmica, materiais
de construção. Ao se mapear esses vestígios, delineiam-se as
zonas de concentração que revelam a presença de um sítio.
Os vestígios coletados fornecem uma primeira datação.
44
As plantas: indícios fito gráficos
A presença de vestígios ocultos sob uma plantação de trigo ou sob uma
pradaria modifica a taxa de umidade do solo e provoca anomalias no
crescimento dos cereais. Se estiverem enraizadas sobre uma parede,
as plantas não crescerão muito e irão amarelar mais depressa; já em cima
de um antigo fosso cheio d’água, ocorrerá o contrário. Esses contrastes,
acentuados durante os períodos de seca, podem desenhar, por exemplo,
a planta completa de uma velha fazenda galo-romana.
45
A busca do invisível
A teledetecção, técnica de observação da Terra a partir de
imagens de satélites, é utilizada para estudos geológicos
e meteorológicos ou para avaliar os recursos minerais e agrícolas
do planeta, mas também é empregada na arqueologia.
A Jotointerpretação
Essa prática utiliza JotograJias
aéreas verticais, tiradas por
satélites ou a partir de
grande altitude, para a
realização de mapas rodoviários.
Certas imagens registram
as pequenas variações de
temperatura dos solos e Jazem
com que intervenções antigas,
como estradas, valas, sebes de
antigos limites entre campos e
propriedades, apareçam nas
paisagens atuais. A partir
do espaço, vários trechos da
Grande Muralha da China,
destruídos ao nível do solo,
Joram localizados graças a esse
processo.
46
A prospecção geofísica
Ao contrário dos métodos precedentes, esse tipo de prospecção procura
o que não está visível na superfície. É aplicado sobretudo para avaliar
melhor um sítio arqueológico já conhecido: definir sua extensão, selecionar
o melhor local para escavar, completar a planta de uma edificação...
f ■ A •. v r ||
Outro método, a
gravimetria, isto é, o estudo
da densidade, foi utilizado com
sucesso para localizar
os espaços vazios, como
câmaras e corredores, na
pirâmide de Quéops.
47
A exploração do passado nos
canteiros arqueológicos
No terreno de escavação, o arqueólogo faz uma verdadeira
autópsia do solo, buscando apreender cada detalhe da
história que ali se conta.
48
Um terreno não pode ser escavado duas vezes, por isso, uma operação
arqueológica precisa ser bem preparada, por especialistas, e servir ao estudo
científico, sem dúvida.
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Especialistas que sabem fazer de tudo
A arqueologia de terreno exige tanto aptidões manuais quanto
intelectuais. Com frequência, o arqueólogo passa dias empunhando
pás ou picaretas, no calor do deserto ou no frio invernal, em busca
de alguns pedaços de louça — mas não serve qualquer pedaço!
Trabalho em equipe
Uma equipe de arqueólogos reúne pesquisadores com especialidades
complementares. Dependendo das características do sítio, o responsável
pela missão é auxiliado por colegas de outras áreas — antropólogos,
arquitetos, geólogos, entre outros — e por técnicos de competências
diversas, como topógrafos e desenhistas.
50
Instrumentos universais
Os instrumentos do escavador são também são usadas pelos
multo simples. As pás mecânicas, arqueólogos, depois de passar
ou escavadeiras, que certos por alguns ajustes. Para os
arqueólogos conduzem vestígios delicados, como um
pessoalmente, removem com esqueleto humano, pincéis jinos
rapidez as camadas de terreno e instrumentos de dentista (isso
que recobrem os primeiros níveis mesmo!) são os mais adequados.
arqueológicos. Ferramentas O uso de uma pequena peneira
utilizadas por pedreiros ou por é recomendado para a coleta de
jardineiros, como pás, picaretas, objetos minúsculos (como sementes,
enxadas, colheres de pedreiro,* carvões de madeira e dentes).
carrinhos de mão e baldes,
O registro
A cada etapa da escavação, o arqueólog
fotografa, desenha e anota em fichas
tudo o que remove da terra. O
levantamento das plantas arquitetônicas
e dos cortes é feito com teodolito
a laser, o aparelho dos topógrafos
que posiciona cada objeto no espaço
em relação a uma referência fixa
(o campanário de uma igreja,
por exemplo), ou por GPS.* O que é?
As vezes, moldagens de vestígios *A colher de pedreiro inglesa, com
sua lâmina em forma de losango, é o
muito frágeis são realizadas instrumento preferido dos arqueólogos,
diretamente no terreno, e amostras por causa de seu fácil manuseio.
como sementes, grãos de pólen e
carvões de madeira são enviadas * Global Positioning System: sistema de
ao laboratório. Todos os vestígios vigilância do planeta por satélite que foi
criado pelo Exército americano. Hoje faz
são marcados por um número de parte do dia a dia, é usado até nos carros
referência que informa sua e nos aparelhos de celular para fornecer
procedência exata dentro do sítio. mapas e indicar caminhos.
51
Sobre canteiros e paixões
Frequentemente, o cinema mostra o arqueólogo como um
aventureiro, a exemplo de Indiana Jones, cuja missão essencial
seria a de combater os bandidos que desejam dominar
o mundo apoderando-se de objetos sagrados do passado
(a Arca da Aliança, o Santo Graal...). No entanto, na vida real
o arqueólogo é um cientista que procura, com toda a modéstia,
explicar o homem — embora a seriedade de seu trabalho não
impeça a existência de aventuras e de grandes paixões...
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0 prospector aéreo concilia suas areia que recobrem os destroços.
paixões por aviação, fotografia Ele desenha usando lápis e papel
e arqueologia. A arqueologia de poliéster à prova d’água e
submarina satisfaz aqueles que fotografa sob luz artificial com
amam o mundo marinho. Escavar um aparelho estanque.
sob a água é algo especial: com A exploração de uma mina
uma mangueira e um enorme subterrânea exige a aprendizagem
aspirador, chamado sugador, da espeleologia, conhecimentos
o homem-rã remove a vasa e a em geologia e também prudência.
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De cabeça para baixo,
na contramão do tempo
O arqueólogo escava na contramão do tempo a fim
de recuperar a história escondida sob o solo ou no fundo do
mar. Para conseguir isso, ele utiliza o método estratigráfico,
que mostra os acontecimentos ao longo do tempo
e a relação entre um e outro.
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Em um canteiro arqueológico, construção (quando há,
o escavador começa removendo por exemplo, uma parede),
as camadas que se encontram da ocupação (quando encontram
Imediatamente embaixo dos seus os restos de uma lareira), ou ainda
pés. E assim continua até atingir do abandono (no caso de um
as mais profundas, aquelas que telhado que desabou). A remoção
já estavam formadas desde o início das unidades estratigráficas, uma
da história daquele lugar. após a outra, das mais recentes
O pesquisador também determina ãs mais antigas, se assemelha a
a qual fase dessa história pertence uma desmontagem minuciosa dos
cada camada: ao momento da vestígios, em marcha a ré no tempo.
O diagrama estratigráfico se
assemelha a uma árvore genealógica.
Em um só quadro, reúne todos os C A M A t> A
@SOLO b E INCÊNDIO
dados das unidades estratigráficas
@ p A R e t> e ©VASO E TAÇA
sobre suas relações cronológicas
(antes/depois), determinando assim as M O Eb AS
O ATERRO
datações relativas (mais antiga/mais oSSAbAS HUM*b
©muralha
recente) de cada uma delas.
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O canteiro em ação
As ferramentas, os classificadores de registro, as máquinas
fotográficas e os instrumentos de medição estão prontos.
A equipe inteira se organiza para uma nova aventura rumo
ao passado. -
O
Em outro ponto do sítio, alguns escavadores dos vestígios da Idade Média,
estudam as ruínas de três casas da mesma que são desmontados para que se
época. Ali se encontram paredes, pisos, consiga alcançar as camadas mais antigas.
lareiras, um poço e fossas de lixo cheias Esteiras rolantes transportam
de vasos quebrados, nas quais se efetuam o entulho da escavação para
remoções de amostras. Tudo é registrado as caçambas que serão levadas pelos
em fichas, e os achados — moedas, caminhões. Os níveis arqueológicos
cerâmicas, ossos de animais... — são da época romana aparecem e
guardados em sacos numerados, que depois revelam a existência das primeiras
são enfileírados em caixotes para seguir ao casas da cidade, construídas
laboratório. O arquiteto desenha a planta no século i. _ __—~-
0 responsável pela escavação conversa com uma colega, que desenha uma camada
estratigráfica no papel vegetal.
No fim da operação, quando os arqueólogos chegam aos vestígios mais
antigos, as fossas e os buracos de estacas da época gaulesa, o nível do terreno está
quatro metros mais baixo do que no início do trabalho. Agora, a equipe só tem um
objetivo em mente: analisar em laboratório todos os dados acumulados para,
em seguida, contar a história deste trecho da cidade.
A arqueologia entre quatro paredes
No terreno, os arqueólogos registram todos os dados do sítio:
realizam a estratigrafia, desenham as plantas arquitetônicas,
analisam os artefatos, recolhem as amostras (de terra e de
carvões de madeira, por exemplo). No laboratório, tudo isso
é analisado sob todos os aspectos, com recursos tecnológicos
muito eficientes. Muitas perguntas são feitas — quem, o quê,
por quê, como—■, mas a primeira delas é sempre referente
à datação: quando.
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Datação relativa e datação absoluta
Em um canteiro galo-romano, a estratlgrafia registra as relações no tempo
entre as diversas fases de evolução do sítio. Essas informações são obtidas
com base nos objetos contidos em cada camada. 0 especialista em
i cerâmicas parte do princípio de que todos os pedaços de
I vasilhame de uma mesma camada são contemporâneos.
$e várias moedas estiverem misturadas a esses cacos,
t ele irá concluir que o vasilhame pertence ao período
informado pela data inscrita nas moedas. Essa mesma
análise é feita em todas as camadas, para se chegar
à datação absoluta, que é expressa em anos precisos,
muitas vezes dentro de um intervalo chamado “faixa
de datação” (por exemplo, a construção de
*
uma parede é situada entre os anos 60 a.C. e 20 a.C.).
Já em outro sítio, o arqueólogo acha o mesmo
tipo de vasilhame, mas não encontra moedas.
Então, para datar o sítio, ele utiliza o catálogo
de referência das cerâmicas galo-romanas
inventariadas desde o século xix.
O que é?
* É no século xvu que se
emprega pela primeira vez a
expressão “antes de Cristo”,
contando-se os anos a partir
do ano i a.C. em ordem
decrescente. Atenção: não
existe ano o; o primeiro ano
negativo é o i a.C.
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As datações
Em alguns casos, as datações dos objetos são feitas
em laboratórios, através de procedimentos físico-químicos.
MlH
reduzindo-se à metade a cada 5 730
anos. Ao medir a quantidade
de carbono-14 presente em
materiais que tenham até 60 mil
anos de idade, como a madeira,
o carvão vegetal, os ossos, as
conchas e as sementes, é possível
saber sua idade.
Para datar vestígios ainda mais antigos, outros átomos são explorados:
a datação por urânio/tório determina a idade de materiais, como os
depósitos calcários das grutas, de até 350 mil anos; já a datação por
potássio/argônio, utilizada no caso das rochas, fixa as idades dos mais
antigos fósseis, como dos australopitecos de Olduvai (na Tanzânia, África),
de aproximadamente 2 milhões de anos.
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A termoluminescência calcula a energia aprisionada nas argilas cozidas
ou nas pedras queimadas de uma lareira ou de um forno. Depois do seu
resfriamento, um novo aquecimento em laboratório libera uma energia
luminosa cuja intensidade é tanto mais forte quanto mais antigo for o objeto
Assim, é possível datar fogueiras pré-históricas de mais de 300 mil anos.
A dendrocronologla fornece
datações ainda mais precisas,
quase ano a ano, e abarca um
período de vários milhares de anos
Ela determina a idade de abate
das árvores pela observação de
seus anéis de crescimento anual
que podem ser vistos facilmente nc
corte de um tronco. As amostra;
estudadas são coletadas em
arcabouços de construções
estacas, móveis ou vasilha;
de madeira. Muitas provêm da;
escavações de aldeias lacustres, de
turfeiras ou de estrutura;
de igrejas
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Pistas por todos os lados
O exame dos pilares de carvalho da estrutura de Notre-Dame
de Paris confirmou a seca sofrida pela cidade em 1137.
Anéis estreitos indicam os anos secos, enquanto anéis largos
denotam boas condições de crescimento. A dendrocronologia
não se limita a fornecer datas: também nos informa sobre
o clima de antigamente.
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A presença da faia e do
castanheiro aponta para um
clima temperado; dependendo
da espécie de caracol, tem-se
um melo menos ou mais úmido;
determinados insetos, como
o gorgulho-do-trígo, indicam
a cultura de cereais. E assim
que se tenta definir o ambiente
no qual os homens viviam
e compreender como as
sociedades antigas modelaram
as paisagens atuais.
O estudo do
paleoam.bien.te identifica
as relações entre o homem
e o meio no qual
ele evoluiu desde
o aparecimento dos
primeiros ancestrais, há
vários milhões de anos.
Essa disciplina situa a
história das sociedades na
história do próprio espaço.
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O passado agora e amanhã
À exceção das zonas terrestres inacessíveis ou hostis por causa
de condições extremas de vida, como a Antártica, os primeiros
homens se espalharam progressivamente, a partir da África,
por todos os continentes.
A ação do homem
Ao sabor das variações climáticas, influência deles sobre o clima,
da evolução do mundo e dos culminando, por exemplo, no
progressos tecnológicos, o homem aumento do nível dos mares. A
explora os recursos disponíveis na arqueologia das paisagens conta
natureza sem se preocupar com a história dessa transformação.
o equilíbrio do planeta. Certas No entanto, o mesmo processo
paisagens que você considera de destruição afeta os vestígios
naturais foram moldadas pela do passado: a cada dia, no mundo
ação direta dos homens, gerando inteiro, dezenas de espécies
desflorestamento, empobrecimento vegetais e animais e de sítios
dos solos, irrigação, ou então pela arqueológicos desaparecem.
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Não foi por acaso que a ecologia e a arqueologia se desenvolveram ao
mesmo tempo: a incerteza quanto ao Juturo pode ser atenuada por um
conhecimento mais amplo do passado. Inúmeros cientistas de diversas áreas
— como história, biologia, geologia — pesquisam as mudanças de clima
no planeta Terra, desde muito tempo atrás até os dias de hoje, afim
de compreender melhor os Jenômenos do aquecimento global ocorrido
no último milênio.
A arqueologia preventiva permite preservar os rastros do passado, assim
como o desenvolvimento sustentável propõe uma alternativa para o Juturo
do planeta.
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A lei do passado
O avanço das sociedades humanas não pode apagar os rastros
do passado, por menores que sejam eles.
A arqueologia preventiva
Pelo mundo afora, muitos países Não se trata de opor o passado
estão tomando consciência de que ao presente. O que se quer
seu patrimônio arqueológico está não é conservar forçosamente os
ameaçado pelos projetos de vestígios, mas sim evitar a perda
utilização do território. A de informações que poderíam
edificação de uma grande barragem ser proporcionadas por uma
que inundará um vale inteiro, de escavação. Aliás, nem todos os
um estacionamento subterrâneo vestígios precisam ser conservados
ou de uma linda de metrô, após a observação científica.
a construção de uma Afora alguns sítios excepcionais
autoestrada ou de um ramal que abrigam, como em Roma,
ferroviário, o assentamento dos ruínas imponentes, muitas vezes
alicerces de uma casa no campo: restam poucas coisas a aproveitar
todas essas obras vão revolver o depois da passagem dos
solo e destruir sítios arqueológicos. arqueólogos.
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As casas gaulesas eram, construídas com pilares de madeira plantados na
terra. Com o tempo, a madeira desapareceu, e no solo restam apenas os
buracos Jormados pelas colunas. Isso basta aos arqueólogos para reconstlt
a planta das casas, e não vale a pena, em seguida, impedir a construção
de uma escola ou de uma piscina, só para preservar alguns buracos.
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A prevenção na prática
Há países mais ou menos cuidadosos com os vestígios
escondidos em seu território. Na Europa, desde a Convenção
de Malta, de 1992, todos os países são obrigados a proteger
seu patrimônio histórico.
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Se uma intervenção j:or julgada indispensável, o Serviço Regional
de Arqueologia prescreve uma escavação arqueológica preventiva
ao responsável pelo projeto. Este último tem três possibilidades: desistir
da obra, modijicá-la (propondo soluções que preservem os vestígios)
ou executar a escavação às próprias custas.
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Teste
2. Como se chamava, no
Renascimento, o lugar onde eram
exibidas as coleções arqueológicas
particulares?
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8. Para que serviu a invenção da 10. Como se chama o estudo dos
técnica do assopramento? nomes dos lugares?
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Raphaèl De Filippo
É arqueólogo especializado
no estudo das cidades.
Em Toulouse,
na França,
descobriu
os primeiros
elementos do
Jórum antigo
e o palácio dos
reis visigodos. Mora boje em
Tours e tem duas Jilhas, com as
quais espera, através deste livro,
compartilhar sua paixão.
Roland. Garrigue
Estudou na Escola
Superior de Artes
Decorativas de
Estrasburgo e
vive em Paris.
Faz desenhos
para jornais,
revistas e livros.
Para ilustrar este
passo a passo, precisou “escavar”
muitos livros — e também a sua
imaginação transbordante!