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claroenigma

DATAS IMPORTANTES

Primeiros hominídeos
Toumai (6 milhões de anos)
Lucg (3 milhões de anos)

Paleolítico
Primeiros instrumentos de pedra
(2 milhões de anos)
Domínio do jogo (650 mil anos a.C.)
Gruta decorada mais antiga
(29 mil anos a.C.)

Neolítico
Primeiros agricultores no Oriente
Próximo (9 mil anos a.C.)
Primeiros megálitos na Europa
(4500 anos a.C.)
Nascimento da escrita na Suméria
(3300 anos a.C.)

Na Europa Ocidental
Idade do Bronze: 2000 a.C.
a 800 a.C.

Idade do Ferro: 800 a.C. a 52 a.C.

Antiguidade
Fundação lendária de Roma
em 753 a.C.
A Gália romana: da tomada de Alésia
por Júlio César (52 a.C.) ao batismo
de Clóvis (496)

Idade Média: séculos V a XV

Época moderna
Do descobrimento da América (1492)
à Revolução Francesa (1789)

Época contemporânea
Do século XVIII aos nossos dias
Raphaèl De FiLippo

Ilustrações de
Roland Garrigue

Tradução
Joana Angélica d’Avíla Melo

claroenigma
Para Julia e Elsa, e para todos os descendentes do Cro-Magnon
R. D. F.

Para Tati Vonick, que me levou aos rastros dos primeiros homens,
ainda recém-saído do berço!
R.G.

Copyright © 2007 by Actes Sud/ Inrap

Grafia atualizada segundo 0 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 199c


que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Título original
Larchéologie à petits pas

Preparação
Mell Brites

Revisão
Marina Nogueira
Marise Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)


(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

De Filippo, Raphaêl
A arqueologia passo a passo / Raphaél De Filippo ; ilustrações
de Roland Garrigue ; tradução de Joana Angélica d'Avila Melo.
— São Paulo : Claro Enigma, 2011.

Título original: Uarchéologie à petits pas.

isbn 978-85-8166-098-1

i. Arqueologia — Literatura juvenil I. Garrigue, Roland. II. Título.

H -08447 CDO-O28.5

índice para catálogo sistemático:


i. Arqueologia : Literatura juvenil 028.5

3“ reimpressão

2020

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA CLARO ENIGMA

Rua Bandeira Paulista, 702 — cj. 71


04532-002 — São Paulo — sp — Brasil
Telefone: (11) 3707 3531
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www.blogdacompanhia.com.br
Sumário
Sobre palavras e coisas: a invenção da arqueologia p. 6
O passado imóvel p. 8
A pilhagem das antigas civilizações p.10
A descoberta de outros mundos e de outros tempos p.12
As idades da pré-história: a pedra e o metal p.14
O passado está em toda parte p.16
O passado perdido p.18
No ventre da Terra p.20
Os tesouros esquecidos p.22
Embaixo d’água p.24
À prova do tempo: as sepulturas p.26
Entre o abandono e a descoberta p.28
Milhões e milhões de cacos p.30
Minerais modificados p.32
As matérias presentes nos seres vivos p.34
Os restos dos animais p.36
Os restos dos vegetais p.38
A memória da Terra p.40
A arqueologia pelo mundo afora p.42
A pé e de avião p.44
A busca do invisível p.46
A exploração do passado nos canteiros arqueológicos p.48
Especialistas que sabem fazer de tudo p.50
Sobre canteiros e paixões p.52
De cabeça para baixo, na contramão do tempo p.54
O canteiro em ação p.56
A arqueologia entre quatro paredes p.58
As datações p.60
Pistas por todos os lados p.62
O passado agora e amanhã p.64
A lei do passado p.66
A prevenção na prática p.68

Teste p.70
Sobre palavras e coisas:
a invenção da arqueologia
Arqueologia* é o estudo dos vestígios materiais
do passado dos homens.

A questão do homem
Desde os tempos mais remotos, os homens narram os eventos que remetem
suas raízes a um passado longínquo. Até a invenção da escrita, os relatos
Jundadores — como aqueles que se encontram no Antigo Testamento
ou mesmo os mitos gregos — são transmitidos de geração em geração
pela tradição oral. A partir do iv milênio a.C., a escrita, cuneijorme,
hieroglíjlca ou aljabétlca, passa a registrar a memória dos homens.
As crenças religiosas e as leis, as guerras e os tratados de paz,
os casamentos e os testamentos são gravados em argila ou mármore,
desenhados sobre papiro ou pergaminho. Por muito tempo,
o conhecimento do passado se baseará unicamente nos escritos antigos.

6
Exumar os vestígios
A renovação das populações, as descobertas científicas e os progressos
tecnológicos afastam da lembrança tudo o que não é mais necessário ao
presente. 0 automóvel substituiu o cavalo, e há pouco tempo, quando seus
pais nasceram, não existia o celular, já pensou nisso? Em muitos anos, será
que a nossa sociedade será esquecida? Pois os arqueólogos trabalham para
encontrar, embaixo da terra, os vestígios do que foi abandonado mas não
deve ser esquecido.

Por que se interessar


pelo passado?
Quem somos nós?, se perguntam
os homens desde o início dos
tempos. Para responder a essa
o}
pergunta é indispensável saber
O0
o que eles vêm fazendo desde
seu aparecimento na Terra, alguns
milhões de anos atrás. Entre
os hominídeos,* o único que O que é?
sobreviveu foi o Homo sapiens, * Arqueologia: do grego, arkhaios (antigo)
o homem de hoje, que existe há e logos (discurso).
cerca de 30 mil anos. Apesar de
* Hominídeos: família que reúne os
ser uma espécie única, os homens chamados homens fósseis, que já não
que habitam o planeta têm culturas existem mais, como os australopitecos,
muitos diferentes. Por que será? e também o homem atual.

7
O passado imóvel
Só a partir do Renascimento (século xvi) é que a curiosidade
pelos objetos do passado se transforma progressivamente
em uma nova ciência, a arqueologia.

Uma história imobilizada?


Até essa época, todo o conhecimento
que os europeus tinham sobre a
civilização romana, que tomou conta
de boa parte do planeta por doze
séculos, mais ou menos, veio de
textos dos autores latinos, como
Virgílio ou César, transmitidos em
manuscritos pelos monges copistas
da Idade Média. Os livros antigos,
sacros ou profanos, contam a história
do passado e explicam o
funcionamento do mundo. Ainda é
muito perigoso tentar mudar a ordem
das coisas estabelecida pela tradição
e pela Igreja — Galileu, por exemplo,
em 1633, é acusado de praticar
bruxaria apenas por afirmar que
a Terra gira.

Quando tudo começou?


Os cálculos de um sábio judeu fixam
com precisão o primeiro dia da
criação do mundo em 3761 a.C.,
cujo nascimento inaugura
o ano 1 da era cristã,
o qual, por sua vez, corresponde
ao ano 753 de Roma...!

8
As primeiras escavações
Glossópetras e ceráunias
respeitam os livros antigos Certos objetos encontrados
Em seus primórdios, a arqueologia eram considerados frutos de
serve apenas para comprovar e fenômenos sobrenaturais, caso das
ilustrar o que contam os livros. As “glossópetras”, supostas línguas
primeiras grandes escavações evocam de serpentes de pedra, e das
“ceráunias”, que teriam chegado
a grandeza de Roma, em Herculano à Terra através de raios. Eram,
e Pompeia (1738), ou os heróis da na verdade, apenas pontas
llíada, quando Troia Joi descoberta de flechas em sílex e machados
por Schliemann (1871). Em Roma, de pedra polida.
as ruínas são exploradas como
pedreiras, das quais os papas e os
príncipes se servem para edijicar
igrejas e palácios. As obras de arte,
como estátuas e vasos, encontradas
durante essas pilhagens — que o
papa Paulo m (1468-1549) proíbe
sob pena de morte — aumentam
as coleções particulares das jtguras
ilustres, que juntam em “gabinetes
de curiosidades” todo um bazar de
objetos antigos ou excêntricos,
trazidos de viagens distantes
ou coletados nos campos.

9
A pilhagem das antigas civilizações
Por muito tempo, a rivalidade entre as potências
ocidentais — sobretudo entre Inglaterra e
França — para conquistar mais colônias na Ásia e
na África foi acompanhada de uma luta pela exploração
do patrimônio das regiões dominadas. Muitos vestígios
importantes para se conhecer as civilizações antigas
foram levados, vendidos, estragados.

A cobiça dos eruditos


A curiosidade dos Estados, dos viajantes e dos eruditos
pelo passado de civilizações brilhantes vinha não só
da sede de conhecimento mas também
da ganância. Monumentos foram
desmontados e levados à cidades europeias
para embelezá-las (como o obelisco
levado de Luxor, no Egito, para a place
de la Concorde, em Paris, onde
está lá hoje) ou para encher seus
museus (como as frisas do
Partenon, retiradas de Atenas
e depositadas no British Museum
em Londres). As grandes
nações disputam os sítios
arqueológicos, como o
santuário grego de Delfos,
explorado pela França. Os'
arqueólogos seguiram de
perto o trabalho dos
militares, chegando até a
exercer as duas Junções,
como foi o caso, no século
do famoso Lawrence da Arábia,
que fez escavações e ao mesmo
tempo espionou sob o
comando do rei
A sede de ouro da cidade mala de Chichén-Itzá
É nesse ambiente competitivo (México), no qual eram jogadas
que surgem as academias de as vítimas de sacrifícios humanos,
arqueologia, assim como os a mais bela coleção de artefatos
estudiosos passam a se dedicar em material precioso.
ao mistério das escritas antigas.
Em 1822, graças à pedra de Em 1904, Schultz saqueia os
Roseta,* Champollion decifra kurgans* dos príncipes citas,
os hieróglifos e revela a memória erguidos ao norte do mar Negro
esquecida da civilização egípcia. durante a Antiguidade. Ele
Um século mais tarde, em 1922, recolhe somente as magníficas
a descoberta da tumba de joias de ouro e as vende ao preço
Tutancâmon deslumbra do metal, depois de fundidas.
o mundo inteiro. Pouco antes, Páginas da história da humanidade
Thompson, um diplomata são rasgadas a cada nova ação
americano, retira do poço sagrado dos caçadores de tesouros.

O que é?
* Pedra de Roseta: bloco de
basalto negro, descoberto durante a
expedição de Napoleão ao Egito, que
traz a inscrição de um mesmo texto em
hieróglifo, em demótico (escrita egípcia
simplificada) e em grego.

* Kurgan: nome usado


no leste da Europa para designar
a palavra “túmulo".
A descoberta de outros mundos
e de outros tempos
A exploração da Ásia, da África e das Américas acaba por fazer
crescer o estudo das civilizações antigas de todo o planeta.

Civilizações sem livros


0 achado de longínquas civilizações perdidas, cujos vestígios se assemelham
aos da Antiguidade greco-romana, com escritas difíceis (os mais antigos
caracteres malas continuam misteriosos até hoje) e tesouros lendários, atrai
aventureiros e arqueólogos. A descoberta de populações desprovidas de
escrita deixa os estudiosos curiosos. Por outro lado, muitos desses povos são
rapidamente exterminados pelos novos ocupantes europeus, o que destrói
sua frágil memória. Os aborígines da Austrália, as etnias africanas, as
nações indígenas da América do Norte e as tribos da Amazônia perdem
suas terras e sua identidade, a qual novos pesquisadores, os etnólogos,*
tentarão reconstituir pela observação dos sobreviventes encerrados
em reservas e pela coleta das tradições orais junto aos mais velhos.

12
O arcebispo irlandês James Ussher
proclama, em 1654, que o mundo
foi criado em 26 de outubro do ano
4004 a.C., precisamente às nove
horas da manhã!

Os homens antes da história 0 passado anterior ã Bíblia não


Não só se ampliam as pesquisas tinha, até então, nenhuma memória,
nos novos mundos, como também a não ser a das “pedras de raio” e
passa-se a acreditar que os homens das línguas de serpentes, encaradas
já existiam bem antes do Dilúvio. como curiosidades. Graças aos
Os eruditos do século xix passam etnólogos, que apresentam
a desafiar a visão da Igreja machados e pontas de flecha
católica. A publicação, em 1859, similares, utilizados pelos chamados
dos trabalhos de Darwin sobre “primitivos”, e aos geólogos, que
a evolução das espécies e a confirmam a origem remota do
demonstração de que homens planeta, aparece uma nova
tinham vivido na época dos disciplina: a pré-história.
mamutes e que eles caçavam
com suas pedras talhadas mostra
como algumas explicações
tradicionais não estavam corretas.

“Touros!”
É o que grita Maria, a filhinha do
marquês de Sautuola, quando
percebe as pinturas no teto da
gruta de Altamira, no norte da
Espanha. Até os pré-historiadores
mais eruditos da época (estamos
em 1879) acreditavam que o
homem de Cro-Magnon seria
estúpido demais para desenhar.
Acusado erroneamente de ter
trapaceado, o marquês morrerá O que é?
de desgosto. * Etnologia é o estudo e a descrição das
diversas culturas do mundo.

13
As idades da pré-história:
a pedra e o metal
A pré-história estuda a história dos homens que viveram antes
de existir a escrita. Ela depende exclusivamente das descobertas
arqueológicas, já que essas civilizações não deixaram nenhum
relato sobre sua vida. Os períodos (as idades) são definidos
unicamente a partir da evolução dos instrumentos e dos
progressos tecnológicos na exploração dos materiais
(pedra e metal).

Em 1819, o dinamarquês Thomsen (pedra nova ou pedra


apresenta em Copenhague a coleção polida). A Idade do Ferro
que o rei tinha de objetos curiosos compreenderá igualmente duas
do passado. Sua classificação terá épocas: Hallstatt e La Tène, nomes
três categorias, segundo a natureza dos sítios austríaco e suíço. Os
dos materiais: pedra, bronze e ferro. pré-historiadores seguem o uso de
Essa ordem, que corresponde a instrumentos Jeitos de um tipo de
uma sequência temporal, resulta na rocha chamada sílex para classificar
teoria das três idades pré-históricas, cronologicamente os grupos. Existem
publicada por Thomsen em 1836. os raspadores terminais e laterais,
Seus sucessores dividirão a os furadores, os punhais, cada
Idade da Pedra em Paleolítico um com um grau de dificuldade
(pedra antiga) e Neolítico no talhamento.

14
Espécies humanas
muito longínquas
A descoberta em 1856, em uma
gruta do vale de Neander
(Alemanha), de um crânio Jóssil
humano cujo aspecto difere daquele
do homem atual suspende as últimas
dúvidas sobre a questão da origem
da humanidade. Os primeiros
paleoantropólogos* anunciam
que o homem é uma espécie como
qualquer outra no mundo, que sofreu
evolução em sua morfologia, ou
aparência. Desde então, sabe-se que
o homem de Neandertal não é o
ancestral direto do homem atual, o
Homo sapiens, mas o último a ter
coexistido com ele até seu
desaparecimento, que aconteceu por
volta de 28 mil a.C. Sabe-se também
que a Terra abrigou várias espécies
de homens, precedidas por espécies
de pré-humanos, que seriam primos
próximos dos grandes símios dos
quais se terlam separado há mais ou
menos 7 milhões de anos. O homem
de Cro-Magnon, que apareceu em
terras africanas há quase 200 mil
anos e foi descoberto na França
somente em 1868, passa a ser
considerado o homem de hoje.

O que é?
* Paleontologia é a ciência que estuda os antigos seres vivos a partir dos fósseis
(de dinossauros, por exemplo). O paleoantropólogo pesquisa sobre as origens do
homem a partir dos seus restos ósseos.

15
O passado está em toda parte
Tudo começou com a curiosidade dos colecionadores do
Renascimento, mas com o passar dos anos os arqueólogos
começaram a descobrir rastros do passado por toda parte,
em todas as épocas, em todos os lugares da Terra.

As promessas da arqueologia
Esses estudiosos tiveram, de ter
coragem para enfrentar a Igreja e
contrariar suas crenças. Da coleta
de obras de arte nas ruínas das
civilizações antigas ao exame
microscópico de pedras transformadas
em instrumentos comuns e de velhos
pedaços de crânio, a arqueologia
mostrou que a história contada na
Bíblia não era a verdadeira história
da Terra e do homem. Com a ajuda
de descobertas científicas importantes
(como a radioatividade, usada para
determinar a idade dos objetos)
e de progressos tecnológicos
(como o avião ou o escafandro),
os arqueólogos vão revelando
parcelas do passado, observadas
no solo, na água ou a partir do alto
A memória da Terra é maior que a
dos homens.

16
O fim. das coisas
As coisas Jeitas pelas mãos dos homens também envelhecem, morrem
e desaparecem. Elas podem ser destruídas, abandonadas, perdidas
ou escondidas em circunstâncias menos ou mais Javoráveís à sua
preservação através dos séculos.

Seu estado de conservação


depende de três Jatores essenciais: Do alto
as circunstâncias em que Joram Em 1920, ao sobrevoarem o
deserto de Nazca, no Peru,
abandonadas, a matéria que as
alguns homens viram desenhos
constitui e o meio onde se encontram. enormes gravados no solo. Eles
Quando são achados, os vestígios ocupavam vários quilômetros e
do passado se tornam sítios representavam animais, como
ou objetos arqueológicos! beija-flores, aranhas, macacos.

17
O passado perdido
Às vezes o passado é profundamente enterrado, e seus objetos
terminam mudos, sem poder contar mais nada.

O acúmulo dos séculos


No século i, em Lugdunum, capital das Três Gálías, o costume é de se
derrubar as velhas domus (casas urbanas) para se construir uma nova
sobre seus escombros. Assim, a antiga Lugdunum se transformou pouco
a pouco, sem que seus habitantes percebessem, e hoje é a segunda maior
cidade francesa, chamada Lyon. Como a prática da remoção de entulhos
de demolição só passou a ser comum depois da invenção das máquinas a
motor, e a população permaneceu no mesmo local, a cidade se elevou vários
metros, de reconstrução em reconstrução. A esse fenômeno de acumulação
dá-se o nome de estratificação. 0 sítio de Trota, a famosa cidade da llíada,
fica na atual Turquia e é composto de nove aglomerações urbanas
superpostas, erguidas entre o m milênio a.C. e o século v d.C.

18
As cidades perdidas
Um cataclismo, uma mudança no clima (como um período de seca) ou uma
invasão de território provocam o abandono de grandes cidades, e às vezes
a sua morte. Algumas são totalmente esquecidas, outras permanecem
conhecidas por populações locais, que se mostram indiferentes ou até
supersticiosas e preferem não ocupar um local castigado pelos deuses.

No caso de Pompeia, a desgraça


de uma população inteira fez a
felicidade dos arqueólogos:
em 79 d.C., a erupção do vulcão
Vesúvio enterra brutalmente
a cidade, conservando-a
ao mesmo tempo. O que
conheceriamos da pintura
romana não fosse essa
catástrofe que fez
milhares de vítimas?

A cultura intensiva do milho sobre terras queimadas seria responsável pelo


declínio da civilização mala, cujas prestigiosas cidades foram invadidas pela
selva bem antes da chegada dos espanhóis. Os conquistadores aniquilaram
os astecas, de quem tomaram, em 1521, a capital, Tenochtitlán, que ficava
perto de onde foi construída a atual Cidade do México. De modo parecido,
as expedições militares dos siameses (os tailandeses de hoje) provocaram,
no século xv, o abandono da capital dos reis khmers, Angkor, cuja exploração
começou em 1898.

O mistério da Atlântida
Platão (428-348 a.C.), grande filósofo
da Grécia antiga, já falava dessa ilha
fantástica engolida pelo mar depois de
uma erupção, que certos arqueólogos
atribuem ao vulcão da ilha de Santorini,
no Mediterrâneo.

19
No ventre da Terra A
De um modo ou de outro, tudo o que brota da terra retorna Oá/
a ela um dia. Os homens do Paleolítico Superior* já tinham^p^ J
compreendido isso, instalando em seu interiores primeiros <
templos da humanidade: eram as grutas decoradas.

Desde tempos remotos os homens cavam o solo para


extrair os materiais necessários às suas atividades:
o sílex e os minerais para os instrumentos, a argila
para os recipientes, a pedra para as casas,
o sal para a conservação e o tempero dos
alimentos. Também cavavam para alicerçar
as casas, proteger-se atrás de fossos,
extrair água, conservar as colheitas em silos,
cozer vasilhas e tijolos e jogar detritos.
Escondiam os tesouros sob a terra, e nela
depositam os mortos até

Eles também aproveitavam as cavidades naturais O que é?


da Terra para se abrigar, gravar, desenhar e pintar * As estruturas ocas,
protegidas por sua
afrescos animallstas. Em certos casos, essas estruturas
instalação mais
ocas* permaneciam vazias, muitas vezes em excelente ou menos profunda
estado, caso das grutas decoradas ou das minas. no solo, são os
Outras eram ocupadas por arranjos específicos, que vestígios mais
mantiveram certos espaços livres, como os mausoléus frequentemente
encontrados pelos
dos faraós ou os dos etruscos. Algumas, porém, eram
arqueólogos.
feitas para serem imediatamente preenchidas, como
os alicerces, buracos nos quais eram estabelecidas as
estacas das casas de madeira.
y O que é?
y * O PaleolítícqíSuperior (entre 45.mil a.C. e 10 mil a.C.) é o último período da
í primeira idade da Pedra, que se conclui com,á úftima glaciação. É também a época
do nascimento da arte. As pinturas da gruta Chauvet (Ardèche, França), datadas
^de 29 mil a.C., são as mais antigas que se conhece.

As lixeiras
Os detritos domésticos e os objetos
quebrados que não podiam ser
consertados — observe em sua casa
a quantidade de material que vai para a
lixeira e para os centros de reciclagem
a cada semana — eram jogados em
Jossas instaladas perto das casas, nos
quintais e nos jardins. Com Jrequência,
as estruturas ocas menores que não
tinham mais utilidade (como silos para
grãos, poços, Jornos, valas e latrinas)
passavam a ter uma Junção secundária:
eram ocupadas com tudo 0 que
convinha descartar por razões de
higiene ou por necessidade de espaço.
Esses depósitos são verdadeiras minas
de injormação sobre os aspectos mais
simples da vida cotidiana dos homens de
antigamente, e que raramente aparecem
em textos escritos na época.
Os tesouros esquecidos
Antes da criação dos bancos, as moedas e os objetos de valor
eram escondidos embaixo da terra.

O enteso ura mento


Quer o proprietário fosse um simples camponês, quer fosse um comerciante
rico, a prudência era ainda mais necessária em períodos de crise econômica,
ou quando uma guerra se aproximava. As pessoas guardavam dinheiro
esperando que um dia o valor dele
JF / aumentasse e que os tempos melhorassem.
Es$e fenômeno se chama entesouramento.

/ Os esconderijos X.
1 /Já foram econtrados diversos
/ tipos de esconderijo, que
/ raramente ficavam dentro das
casas (fácil demais para os
ladrões!). Em geral, as peças
eram guardadas dentro de
potes, sacos, meias de lã ou
/ outros recipientes e enterradas
perto de um ponto de referência
fácil de memorizar: um poço,
uma árvore grande, uma
ponte... Os numerosos tesouros
encontrados sob uma via
| i romana foram atribuídos
I./ a mercadores ambulantes.

22
Perder o cofrinho?
Fossem, eles deslumbrantes ou modestos, por que foram esquecidos por seus
proprietários? Na verdade, se considerarmos que todas as populações pelo
mundo afora, da Antiguidade ao século xx, escondiam suas fortunas, as
descobertas de tesouros são rarísslmas. Esses proprietários devem ter sofrido
um acidente, tido uma doença fatal, ou podem até ter sido assassinados...

Achei um tesouro escondido!


Atenção! Se você sonha em
encontrar tesouros e vive explorando ruínas
com um detector de metais nas mãos,
saiba que isso é rigorosamente proibido por
lei. 0 uso desse equipamento depende de uma
autorização. As descobertas feitas por acaso
devem ser declaradas e os objetos encontrados
(ou seu valor financeiro, quando o Estado quer
ficar com essas peças) devem ser
compartilhados entre aquele que os
achou e o proprietário do local.

O tesouro de Mir Zakah


Em 1993, o tesouro mais rico do mundo foi encontrado em Mir Zakah, no
Afeganistão. Sobre a descoberta, sabe-se apenas que houve muita disputa entre
escavadores clandestinos, com vários mortos. Ele incluía cerca de 550 mil moedas
de prata e de bronze, formando um total de quatro toneladas, e quinhentos quilos
de objetos de ouro: estatuetas, joias, vasos... Esse tesouro foi vendido
por comerciantes e se espalhou pelo mundo: há alguns lotes em coleções
particulares inglesas, americanas e japonesas.

23
CJ

Embaixo d’água o ,-S


o °c
Tudo aquilo que os homens construíram para se deslocar j
na água, para a pesca, o comércio, a guerra e a conquista °
de novas terras já foi engolido pelos mares, oceanos, rios
ou lagos em algum momento da história.

A Júria de Netu.no X
e de Marte* f
Tempestades e batalhas navais
provocaram, o naufrágio de
muitas embarcações em
todos os mares do mundo. 1
Recobertos pela areia e pela J
vasa dos fundos marinhos, os
destroços dos navios podem o
ser localizados graças às O 9
suas cargas ou aos seus 0 °
o 'X« co
canhões de bronze, que
resistem à corrosão causada '
pela água salgada,

o,

Destroços célebres
A arca de Noé, que, segundo
a Bíblia, encalhou no monte
As jazidas de ânforas ©TT1 Ararat (na Armênia), foi o
No Mediterrâneo, as jazidas ’• primeiro destroço procurado
de ânforas assinalam o naufrágio J j pelos homens, desde o século
de navios mercantes romanos 4 JzzJ iv d.C. A exploração do Titanic,
que em 1912, durante sua
que transportavam vinho. No
primeira viagem, naufragou
canal da Mancha, o navio de guerra e foi parar a 3850 metros
do rei da Inglaterra Henrique vni, O de profundidade, mobilizou,
o Mary Rose, afundado em 1987, recursos técnicos
franceses em 1545, foi sofisticados: submarino de
controle remoto, dotado de
remontado pelos arqueólogos) câmeras e braços articulados.
pedaço por pedaço.
À beira d’água
Braços mortos e antigas margens de rios também escondem embarcações.
As mais remotas, chamadas pirogas monóxilas,* datam do Neolítico,
a exemplo daquelas descobertas em 1991, em Paris, em um antigo canal
do rio Sena. Surgiram há 6 mil anos e são troncos de carvalho com uma
cavidade no meio, aberta com a ajuda de Jogo e machado de pedra. Em
Lyon, nas margens do rio Saône, várias escavações preventivas** revelaram
barcos de diversas épocas, tanto romanos quanto modernos (do século xvm).
** Veja a explicação na p. 66.

Durante o século xx, fortes baixas lacustres à semelhança de Veneza,


das águas do lago de Paladru, perto construídas sobre palafitas. Mas,
de Grenoble, na França, revelaram na verdade, tais vestígios são os
centenas de estacas de madeira, pilares das casas construídas no
resquícios de aldeias neolíticas ou solo ã beira do lago, em períodos
medievais. Os primeiros estudiosos nos quais o nível da água estava
acharam que se tratava de cidades significativamente mais baixo.

0 assoreamento dos estuários e a alteração O que é?


do nível dos mares são responsáveis pelo * Netuno é o deus romano
do mar e Marte, o deus
desaparecimento de numerosos portos da guerra.
romanos e medievais. As maiores variações,
porém, datam do fim da última glaciação * Monóxilo: feito de um só
(que ocorreu por volta de 10 mil a.C.). pedaço de madeira.

25
À prova do tempo: as sepulturas'"
Os rituais funerários* se inspiram nas crenças religiosas, e as
tumbas refletem o estatuto social do defunto. Com frequência,
os guerreiros são enterrados com suas armas.

Entre os vestígios do passado, as


sepulturas são um caso à parte. ___
As vezes, sua descoberta revela
joias em metais preciosos e objetos
da vida cotidiana em estado
excepcional. Elas também revelana
as reflexões dos homens sobre a a
vida após a morte. Essa pergunta,T
à qual a maioria das sociedades
responde mediante a religião,
parece já ter sido feita pelo homem
de Neandertal, há 100 mil anos. &
Mas, acima de tudo, as tumbas
e os mausoléus continuam a exercer
£
o papel que lhes foi atribuído
originalmente, embora em alguns <5
casos não tenham tido duração
ilimitada, como se esperava, /<
pela ação de saqueadores I. V
e arqueólogos.
Em muitas crenças antigas, a da China protegeu seu mausoléu
morte era entendida como uma com um imenso exército de soldados
longa viagem, que devia ser feita em terracota.
com a bagagem necessária. No arquipélago de Vanuatu,
O faraó levava consigo tudo aquilo ao largo da Nova Caledônia
de que precisava quando era vivo: (Pacífico Sul), o chefe Rog Mata
comida, móveis, joias. está enterrado com seus próximos,
Os jazigos etruscos imitam as casas. que foram sacrificados.

A vida eterna
A palavra de origem grega
sarcófago, que significa
“comedor de carne", só
aparece no fim do século
xv, para evocar os ataúdes
de pedra que, segundo
os romanos, tinham a
propriedade de destruir
rapidamente os corpos.
Para os egípcios, que
praticavam a mumificação
por acreditarem que a
conservação dos corpos
garantia a vida eterna,
o termo soa bastante
inapropriado.

O que é
* Em sua origem, o termo “sepultura” designava a cerimônia do enterro
(os funerais), ou seja, o sepultamento. Hoje em dia, e na arqueologia,
designa a tumba propriamente dita.

/ n * Rituais funerários são as práticas ligadas à morte. O mais antigo deles é a


| ll inumação (armazenar o corpo sob a terra). A cremação, ou incineração (reduzir
| tf um corpo a cinzas), aparece na Europa há mais ou menos 8 mil anos. Características
A / J como 0 hpo de sepultura (por exemplo, um túmulo ou um ataúde), a disposição
ftrOf I d°s corpos, a presença de objetos, a localização das tumbas são estudadas pela
H|-If / arqueologia funerária. O exame das ossadas para determinar as causas da morte,
lr «/ a idade, o sexo e o patrimônio genético do morto interessa à antropologia funerária.
Entre o abandono e a descoberta
Utilizada nas investigações policiais e em antropologia
funerária, a tafonomia analisa os processos sofridos pelo
corpo após a morte. De maneira mais geral, ela também
estuda o modo como os vestígios se conservaram entre
seu abandono e o momento de sua descoberta.

Os indestrutíveis
As matérias minerais ou inertes, como as rochas (sílex, calcário, granito...),
as pedras preciosas (como a esmeralda e o rubi) ou finas (granada e opala,
por exemplo) e os metais nativos* (ouro, prata, entre outros), às vezes
explorados precocemente pelo homem, se desgastam muito pouco com

Soterradas no solo, as ruínas das O que é?


construções em pedra não correm * Um metal nativo é aquele que é
nenhum risco; na superfície, somente naturalmente puro. O ouro, que
é inalterável, possui sempre essa
as condições climáticas extremas
característica. A prata e o cobre
ou a invasão de uma vegetação podem ou não ser nativos. Os óxidos
luxuriante, como ocorreu são minerais combinados ao
em Angkor, no Camboja, podem oxigênio e constituem a maioria
estragá-las. dos minerais.

28
Certas edificações, imensas e sólidas, evitaram o soterramento e conseguiram
suportar a erosão. Na categoria “peso pesado”, as mais antigas são aquelas
formadas por megálitos (grandes pedras) do Neolítlco, como os dólmenes
de corredor no sul de Portugal (4 mil a.C.) e os alinhamentos de menlres
em Carnac, na Bretanha (2500 a.C.).

À exceção dos cataclismos, o único cal. Às vezes, destruições


perigo que ameaça os vestígios voluntárias se devem ã intolerância
de pedra vem do próprio homem. religiosa: os ídolos pagãos foram
O aproveitamento dos materiais aniquilados pelos cristãos e os
(hoje fala-se em “reciclagem”) é o sans-culotte (republicanos radicais)
fenômeno mais frequente. Muitos abateram as estátuas do portal
sarcófagos de calcário foram de Notre-Dame de Paris durante
queimados em fornos para obter a Revolução Francesa.

Em bretão, dólmen significa


“mesa de pedra” e menir,
“pedra comprida”. Certas
lendas atribuem os megálitos às
fadas e aos gigantes. Segundo
essas mesmas lendas, os
alinhamentos de Carnac seriam
soldados pagãos transformados
em pedra por são Cornélio.

29
Milhões e milhões de cacos
O sílex, o mármore e o ouro, mesmo quando são trabalhados
pelo homem, permanecem em seu estado natural. Por outro lado
minerais mais frágeis, como a argila, podem ser transformados
pelo fogo, tornando-se objetos também inalteráveis.

Os recipientes em cal e em
gesso aparecem no Oriente
Próximo* antes da produção,
por cozimento, da argila
modelada, ou cerâmica, que se
torna mais e mais importante
entre 8 mil a.C. e 6 mil a.C.

0 vasilhame em terracota ocupa ?


um lugar privilegiado em
arqueologia, por três motivos:
é conhecido praticamente
por todas as sociedades
antigas (a argila existe
em abundância no
planeta); sua renovação
é rápida, em razão da
fragilidade dos artefatos;
e sua resistência ã erosão
é enorme: os cacos de um
prato quebrado
permanecem “inteiros”
por muito tempo!

30
Os fragmentos de cerâmica são encontrados com tanta frequência que, na
maioria das vezes, são eles que permitem datar os sítios arqueológicos. Na
época romana, os vasos eram tão abundantes que foi possível classificá-los,
século por século, a partir de suas formas e desenhos. A descoberta de milhões
de ânforas, quebradas ou inteiras, no solo ou no mar, permite conhecer os
trajetos comerciais do vinho ou do azeite de oliva durante a Antiguidade.

Os vasos de cerâmica eram muito Já certas cerâmicas são verdadeiras


utilizados no dia a dia dos homens obras de arte: as urnas funerárias
da Antiguidade, neles se zapotecas, feitas em formato de
armazenava todo tipo de material. figuras humanas (América Central:
Foram encontrados até mesmo nas 500 a.C. a 750 d.C.), as cabeças
tumbas, onde eram depositados em terracota de Noh (Nigéria: por
com frequência, seja com as cinzas volta de 600 a.C. a 300 d.C.),
do morto, seja com os alimentos os pratos esmaltados de Bernard
que seriam necessários a sua Palissy (1510-1590), as porcelanas
viagem para o outro mundo. chinesas Ming (séculos xiv a xvn).

O que é?
* Oriente Próximo é a região
situada entre a África e a
Ásia, entre o Mediterrâneo e
o oceano Índico. Geralmente, Os cidadãos de Atenas votavam pelo exílio de
considera-se como parte um sujeito gravando o nome dele em um óstraco
dele os seguintes países: (concha ou fragmento de cerâmica). Foi daí
Turquia, Líbano, Israel, Egito, que surgiu o termo “ostracismo”, sinônimo de
Síria, Iraque, Arábia Saudita, banimento.
Jordânia e lêmen.

31
Minerais modificados
Depois de trabalharem com minerais brutos — como a
cerâmica, que vem da argila—, os homens inventaram
materiais que não existem na natureza. O bronze, liga de cobre e
estanho, foi o primeiro. Ele aparece na Europa no m milênio a.C.

Enjerrujados ou fundidos
À exceção dos metais nativos, a
maioria dos metais é produzida
a partir de óxidos, como os
minérios de ferro. No entanto, os
objetos feitos de ferro enferrujam
tanto dentro da terra como em
contato com o ar.

Os chineses são os primeiros a O problema dos objetos


conseguir transformar o ferro em fabricados com esses metais
líquido para obter o aço e o ferro e ligas (cobre, bronze ou ferro
fundido (liga de ferro e carbono fundido, por exemplo) é que eles
em que o teor deste é superior podem ser refundidos. Muitos
ao encontrado no aço); fizeram isso desapareceram assim,
no século vi a.C. No Ocidente, só frequentemente por ocasião
se obterá o ferro fundido no fim da das guerras, para a fabricação
Idade Média e o aço, no século xix. de armas: os sinos da Notre-Dame
Antes, desde a primeira Idade do de Paris foram retirados em 1792
Ferro (por volta de 800 a.C.), para confeccionar os canhões
o metal era martelado pelo ferreiro. dos exércitos da Revolução.

32
Quebradiço como o vidro!
Mais frágil do que a cerâmica, o vidro conserva-se por muito tempo embaixo
da terra ou dentro dágua.

O vidro aparece no Egito durante


o iv milênio a.C., na confecção
de pequenos objetos e de contas
coloridas. E obtido pela fusão
de areia com o sódio contido no
salitre, um mineral local também
utilizado para a mumiflcação.
Mais tarde, e em outros lugares,
a areia é misturada às cinzas de
plantas como a salicórnla, que
apreciam as terras ricas em sal.
No século l a.C., a invenção
da técnica do assopramento
permite a produção de recipientes
de vidro (como garrafas e frascos)
muito apreciados em Roma. Nas
tumbas romanas ou merovíngias,
esses objetos são encontrados
intactos pelos arqueólogos.

Na Idade Média, a areia é


misturada ao potássio contido
nas cinzas de samambaias e de
faias. Infelizmente, no solo, o
vidro potássico se degrada e se
quebra com facilidade.

33
As matérias presentes nos seres vivos
As matérias orgânicas que constituem os seres vivos
(por exemplo, as plantas e os animais) se decompõem após a
morte. Mas certas condições específicas, como o tipo do solo,
o clima, permitem sua conservação através dos milênios:

Os restos dos homens


Em geral, os ossos são os únicos
restos humanos que subsistem por
muito tempo após a morte. São os
únicos elementos disponíveis para o
conhecimento das primeiras espécies
humanas. Sem eles, a história dos
nossos ancestrais só começaria a
partir dos primeiros instrumentos
talhados, há 2,6 milhões de anos.
Mas com a descoberta, na África,
do chamado crânio de Toumai, a
origem da espécie humana recuou
para 6 milhões de anos atrás.*

A osteologia (o estudo dos A genética determina os vínculos


ossos) trata da história biológica de parentesco entre indivíduos de um
do homem. A morfologia mesmo cemitério pela observação
(o estudo da forma) estabelece das células ósseas. Também permite
a classificação dos hominídeos acompanhar os deslocamentos das
com base em critérios como populações através das épocas.
o volume do cérebro ou Certas doenças, como a lepra,
a adaptação ã marcha ou certas condições de vida, como
sobre dois pés. a subalimentação, deixam marcas
* Ver p. 44. nos ossos e nos dentes.

34
Sobre os ossos 0 clima extremamente Jrio e seco
A preservação do esqueleto depende da Groenlândia acondiciona as
do terreno no qual o corpo está múmias inuítes. Por muito tempo,
sepultado. Os solos ácidos provocam uma geleira dos Alpes serviu de
uma destruição completa dos ossos, congelador a Õtzi (ou Oetzi), morto
enquanto os solos calcários garantem nas montanhas há 5300 anos.
sua conservação. Os climas extremos Seu excelente estado de
favorecem a descoberta de corpos conservação permitiu reconstituir
mumificados naturalmente; a secura sua última rejeição: pão, legumes
do deserto egípcio impede a e carne.
decomposição de cadáveres
completamente dessecados.

Os sacrificados das turfeiras


Homens e mulheres foram
executados e jogados em turfeiras
no norte da Europa durante a Idade
do Ferro (por volta de 200 a.C.).
Constituída de vegetais degradados
e sem a presença de oxigênio,
a turfa preservou a pele dos seres
humanos; os rostos ainda estão
marcados pela expressão da morte.

Os fantasmas de Pompeia
As cinzas vulcânicas envolveram
os corpos dos habitantes mortos,
em sua maior parte, por asfixia.
Assim, injetando-se gesso nos
vazios gerados pela decomposição
dos corpos, molda-se
uma reprodução das vítimas
na posição em que elas
estavam ao morrer.

35
Os restos dos animais
No caso dos animais, os vestígios mais comuns também são
os ossos. Mas uma diferença notável entre o comportamento
dos homens e dos animais distingue as ossadas humanas
das outras: os homens enterram seus mortos. Na natureza,
as carcaças dos animais selvagens são eliminadas pelos
carniceiros. As mais conservadas são as dos mamutes
aprisionados no gelo da Sibéria.

Ossadas dispersas
Às vezes, animais domésticos alinhados de oito homens e oito
sacrificados acompanham os cavalos. Na maior parte dos casos,
homens à sua sepultura. Nos porém, os ossos dos animais
kurgans dos povos siberianos,* são encontrados dispersos nos
datados da Idade do Ferro, Joram depósitos de lixo ou nos locais
encontrados cavalos congelados. de moradia. Os animais
Na França, em 2002, uma domesticados (como o boi, o
escavação preventiva feita perto carneiro e o porco) raramente
do local da batalha de Gergóvia morrem de maneira
revelou uma vala da época natural. Entre os gauleses,
gaulesa (século i a.C.) ocupada até os cães eram comidos.
por esqueletos cuidadosamente * Ver p. n.

36
Aqueles que estudam os ossos dos animais precisam conhecer as
práticas de criação dos povos antigos: quais as espécies mais produtivas
em carne, as idades de abate. Isso porque o momento do abate dos animais
dependia da razão pela qual estavam sendo criados: pela carne, pelo leite,
pela reprodução, para puxar o arado ou para servir de montaria. Um boi
velho era, sem dúvida, empregado na lavra; um porco abatido tardiamente
era um varrão, ou seja, um macho reprodutor. Com .frequência, os ossos
trazem as marcas deixadas pelo cutelo durante o desmembramento
e o retalhamento das carnes.

Tudo é útil no animal


Desde os tempos pré-históricos,
todas as sociedades humanas
exploraram as matérias animais. 0
pelame, a lã e a pele trans/ormada
em couro servem para a confecção
de roupas e calçados. 0 marfim
e os ossos são utilizados na
jabricação de numerosos objetos:
punhais, agulhas, botões, palitos
para cabelo, pentes, dados, apitos,
/lautas, dobradiças de portas. Os
tendões de boi j^rnecem as cordas
dos arcos e conchas, penas de aves,
caninos de lobos ou de ursos
constituem adereços.

Cabanas de ossos de mamute


O termo “ossada” (arcabouço)
não pode ter melhor emprego que
o de descrever as cabanas redondas
do leste da Europa, construídas há
15 mil anos com ossos de mamutes.
Os elementos maiores do esqueleto
(os ossos das patas, chamados
escápulas) constituem as
paredes e as presas formam
a abóbada recoberta de peles.
Uma fogueira, alimentada
igualmente pela combustão
de ossos, é montada no centro.

37
Os restos dos vegetais
As condições de preservação dos vegetais são idênticas às das
matérias animais. Um clima frio e seco e um meio anaeróbio*
são bons conservadores.

Sob as águas
As aldeias neolítlcas ou as Nos poços aterrados há muito
medievais, que foram submersas tempo ou nas turfeiras,
pelos lagos alpinos e depois recolhem-se todos os tipos
ressurgiram durante uma baixa de objetos usuais, raramente
das águas, ilustram como a descobertos em outros lugares:
madeira era essencial na arquitetura baldes, cabos de instrumentos ou
e na vida cotidiana das sociedades de facas, piões e peças de xadrez.
antigas. Nas ruínas das casas Tecidos em fibras vegetais, cestos
de madeira desses povoados, de vime, cereais e caroços de frutas
encontram-se tigelas, colheres fornecem informações sobre
e outros objetos impossíveis a colheita e a agricultura.
de achar nos sítios arqueológicos
secos, que são mais comuns.

38
A madeira também foi utilizada para a construção
de barcos, e os destroços dessas embarcações ficam
mais conservados em um meio anaeróbio do
que nos rios e mares. Além disso, a madeira
era queimada para cozer alimentos e
cerâmicas, assim como para trabalhar
os metais. 0 Jogo, dominado há
400 mil anos, produz o carvão
vegetal, tão útil às datações
estipuladas pelos
arqueólogos.

Sem água
O calor seco dos desertos africanos
e norte-americanos também conserva
os vegetais. Nos mausoléus dos faraós,
encontram-se móveis, esculturas, cestos
de folhas de palmeira, oferendas
alimentares, buquês e ataduras de linho
das múmias. No Colorado, os planaltos O que é?
do Mesa Verde National Park abrigavam * Meio anaeróbio: meio sem
as aldeias trogloditas* dos oxigênio, frequentemente úmido,
antepassados dos índios pueblos, os como o das turfeiras.
anazasis (séculos v-xiv), nas quais são * Troglodita: hábitat montado
coletados cestos trançados, sandálias nas cavidades, naturais ou não,
de iúca e reservas de milho. dos maciços rochosos.

39
A memória da Terra
No solo ou na água, em climas frios ou secos, a Terra encerra
e protege as ruínas e os objetos esquecidos pelo homem.
Mas não preserva tudo: há o que os homens destruíram e o
que a terra decompôs. O planeta também tem suas próprias
memórias, reveladas pelas propriedades físicas descobertas
pelos cientistas graças aos progressos tecnológicos.

A Jossilização, processo lento


que transforma as matérias
orgânicas duras (como o esqueleto
ou a concha), revela as diversas
formas da vida dos tempos
geológicos precedentes. Sem esse
fenômeno, o que conheceriamos
sobre os dinossauros? Nada!
A descoberta da eletricidade e do magnetismo terrestre possibilita
\ a invenção de novos métodos de pesquisa: detectam-se as
anomalias no solo provocadas por vestígios de atividade humana.
\ A descoberta da radioatividade resultará na criação de métodos de i
datação, dos quais o mais antigo e utilizado é a análise do radiocarbono<
o famoso carbono-14.

SííB

A biologia e a genética também


permitem Jornecer índices de
datação relativa. A genética, pelo
exame do dna contido nas células,
tabelece os vínculos de parentesco
entre todas as espécies vegetais
e animais. No caso dos seres
humanos, ou melhor, no seu caso,
trata-se de descobrir o que veio
dos seus pais, ou dos pais
$:
d|fc; dos pais de seus pais!
A arqueologia pelo mundo afora
Atualmente, os arqueólogos estão por toda parte, em montes
e vales, sob os mares e nas cidades. Eles investigam todos
os períodos da humanidade, das origens do homem até
os dias de hoje, e examinam todas as culturas antigas,
tanto as desaparecidas quanto as antepassadas diretas
das sociedades atuais.

Procurando por toda parte


Algumas das grandes descobertas
resultam de um simples acaso —
o que acaba criando multas lendas
a respeito desses acontecimentos —,
como aconteceu no episódio da
gruta de Lascaux, encontrada em
1940 por crianças que desejavam
salvar um cachorrinho preso num
buraco. Os manuscritos do mar
Morto foram recolhidos em 1946
por um jovem pastor beduíno,
ed-Dhlb (“o Lobo”), em busca de
uma cabra refugiada numa gruta.
Õtzl, o homem congelado, Joi visto
por um casal de turistas em excursão
por uma geleira do Tlrol Italiano.
Mas geralmente, em nossos dias, a
descoberta de um sítio arqueológico
é resultado de um método científico
de detecção: a prospecção.

42
A prospecção: uma verdadeira investigação
A prospecção arqueológica não tem como objetivo encontrar novas
escavações para ser exploradas; ela avalia a história da ocupação de um
vale ou de uma planície através do levantamento dos vestígios do passado
ainda perceptíveis na paisagem. Os trabalhos da Comissão das Antiguidades
do Egito, que acompanhou Napoleão Bonaparte durante suas conquistas
em 1 798, deram origem ao primeiro catálogo arqueológico completo
de uma região. Esses inventários garantem certa proteção aos sítios e às
vezes, pela abertura de uma escavação preventiva, impedem sua destruição.

Antes de começar uma


prospecção, ejetua-se uma
pesquisa documental:
a tradição oral e
os textos antigos, os velhos
mapas e a toponímia*
dão indícios preciosos.

O livro A guerra das


Gálias, escrito por
Júlio César,
Joi amplamente
explorado pelos
arqueólogos em
busca das cidades e
dos locais de batalha
mencionados, como
Gergóvia ou Alésia.

O que é?
* A toponímia, estudo dos nomes dos lugares, assinalou, por exemplo,
a existência de um menir num local chamado La Pierre Levée (“a pedra levantada”).
Ela também atribuiu a fundação da cidade galo-romana de Augustodunum, a atual
Autun, ao imperador Augusto, cujo nome foi associado ao termo gaulês dunurn,
que significa “fortaleza”.

43
A pé e de avião
Nas zonas de clima temperado, a prospecção é feita
sobretudo em áreas de cultivo, pois, durante a lavra,
o arado traz material arqueológico à tona. Vários
arqueólogos se dividem pelo terreno de um setor definido
durante a investigação documental, caminhando e anotando
todos os indícios à vista: fragmentos de cerâmica, materiais
de construção. Ao se mapear esses vestígios, delineiam-se as
zonas de concentração que revelam a presença de um sítio.
Os vestígios coletados fornecem uma primeira datação.

0 sucesso da paleoantropologia se deve, em grartde parte, à geologia


específica de certos locais, como a dos vales no leste africano, chamados
rifte. Ali, a oscilação da crosta terrestre deixou acessíveis as mais ricas
jazidas de hominídeos fósseis, entre os quais a famosa Lucy, de 3 milhões
de anos. Ela perdeu o posto de esqueleto de homlnídeo mais antigo
para um crânio, chamado de Toumai, que teria entre 6 e 7 milhões de anos.
Seu crânio foi recolhido longe do rifte, durante uma prospecção a pé no
deserto tchadiano. É caminhando que se fazem as maiores descobertas!

Vendo do alto: a prospecção aérea


A prospecção a partir de um aviãozinho que voa em baixa altitude
também é uma prospecção a olho nu, que revela indícios não visíveis
no solo, que então são registrados por uma máquina fotográfica.

44
As plantas: indícios fito gráficos
A presença de vestígios ocultos sob uma plantação de trigo ou sob uma
pradaria modifica a taxa de umidade do solo e provoca anomalias no
crescimento dos cereais. Se estiverem enraizadas sobre uma parede,
as plantas não crescerão muito e irão amarelar mais depressa; já em cima
de um antigo fosso cheio d’água, ocorrerá o contrário. Esses contrastes,
acentuados durante os períodos de seca, podem desenhar, por exemplo,
a planta completa de uma velha fazenda galo-romana.

A água: indícios hidrográficos


Sobre vestígios de valas ou de paredes, a evaporação da chuva ou
o derretimento da neve podem ter uma velocidade incomum.

A cor dos solos: indícios petrográficos


As diferenças de cor na terra de um campo lavrado também revelam
a presença de vestígios: manchas avermelhadas indicam antigos fornos;
linhas esbranquiçadas, as paredes de uma velha construção.

45
A busca do invisível
A teledetecção, técnica de observação da Terra a partir de
imagens de satélites, é utilizada para estudos geológicos
e meteorológicos ou para avaliar os recursos minerais e agrícolas
do planeta, mas também é empregada na arqueologia.

A Jotointerpretação
Essa prática utiliza JotograJias
aéreas verticais, tiradas por
satélites ou a partir de
grande altitude, para a
realização de mapas rodoviários.
Certas imagens registram
as pequenas variações de
temperatura dos solos e Jazem
com que intervenções antigas,
como estradas, valas, sebes de
antigos limites entre campos e
propriedades, apareçam nas
paisagens atuais. A partir
do espaço, vários trechos da
Grande Muralha da China,
destruídos ao nível do solo,
Joram localizados graças a esse
processo.

46
A prospecção geofísica
Ao contrário dos métodos precedentes, esse tipo de prospecção procura
o que não está visível na superfície. É aplicado sobretudo para avaliar
melhor um sítio arqueológico já conhecido: definir sua extensão, selecionar
o melhor local para escavar, completar a planta de uma edificação...

Mais particularmente, a prospecção geofísica utiliza as propriedades


elétricas e magnéticas dos solos, modificadas em certos pontos por
vestígios de ocupações humanas. Por exemplo, uma parede de pedra
é um obstáculo mais difícil de ser atravessado por uma corrente elétrica
do que a terra que a envolve.

f ■ A •. v r ||

Outro método, a
gravimetria, isto é, o estudo
da densidade, foi utilizado com
sucesso para localizar
os espaços vazios, como
câmaras e corredores, na
pirâmide de Quéops.

47
A exploração do passado nos
canteiros arqueológicos
No terreno de escavação, o arqueólogo faz uma verdadeira
autópsia do solo, buscando apreender cada detalhe da
história que ali se conta.

Uma operação arqueológica implica várias etapas: a prospecção ou


o diagnóstico, a escavação, o estudo em laboratório, a elaboração de um
relatório científico e a publicação deste numa revista especializada. A
apresentação dos resultados ao público pode assumir formas diversas:
conferência, exposição, filme... Se for possível conservar os vestígios no
próprio local onde foram encontrados, prepara-se um sítio turístico,
com a criação de um museu permanente. Mas isso custa caro, e também
é preciso obter a autorização dos governos, que se preocupam e cuidam
do seu patrimônio nacional.

48
Um terreno não pode ser escavado duas vezes, por isso, uma operação
arqueológica precisa ser bem preparada, por especialistas, e servir ao estudo
científico, sem dúvida.

Não há como reverter os danos Os arqueólogos são exigentes em seu


de uma escavação arqueológica trabalho: realizam uma desmontagerr
malfeita. Isso porque, segundo meticulosa das camadas do terreno e
os arqueólogos, a fonte de de todas as coisas que elas escondem
documentação é muitas vezes elementos de construção, artefatos
destruída à medida que é feita a da vida diária (por exemplo,
escavação. E como se você preparasse cerâmicas, moedas e instrumentos),
para a escola uma dissertação sobre resíduos orgânicos (como ossadas,
arqueologia usando as páginas sementes e carvões de madeira).
deste livro, arrancadas ao longo Nada deve escapar à vigilância
da sua leitura. do arqueólogo, do contrário
a informação ficará perdida

49
Especialistas que sabem fazer de tudo
A arqueologia de terreno exige tanto aptidões manuais quanto
intelectuais. Com frequência, o arqueólogo passa dias empunhando
pás ou picaretas, no calor do deserto ou no frio invernal, em busca
de alguns pedaços de louça — mas não serve qualquer pedaço!

Trabalho em equipe
Uma equipe de arqueólogos reúne pesquisadores com especialidades
complementares. Dependendo das características do sítio, o responsável
pela missão é auxiliado por colegas de outras áreas — antropólogos,
arquitetos, geólogos, entre outros — e por técnicos de competências
diversas, como topógrafos e desenhistas.

50
Instrumentos universais
Os instrumentos do escavador são também são usadas pelos
multo simples. As pás mecânicas, arqueólogos, depois de passar
ou escavadeiras, que certos por alguns ajustes. Para os
arqueólogos conduzem vestígios delicados, como um
pessoalmente, removem com esqueleto humano, pincéis jinos
rapidez as camadas de terreno e instrumentos de dentista (isso
que recobrem os primeiros níveis mesmo!) são os mais adequados.
arqueológicos. Ferramentas O uso de uma pequena peneira
utilizadas por pedreiros ou por é recomendado para a coleta de
jardineiros, como pás, picaretas, objetos minúsculos (como sementes,
enxadas, colheres de pedreiro,* carvões de madeira e dentes).
carrinhos de mão e baldes,

O registro
A cada etapa da escavação, o arqueólog
fotografa, desenha e anota em fichas
tudo o que remove da terra. O
levantamento das plantas arquitetônicas
e dos cortes é feito com teodolito
a laser, o aparelho dos topógrafos
que posiciona cada objeto no espaço
em relação a uma referência fixa
(o campanário de uma igreja,
por exemplo), ou por GPS.* O que é?
As vezes, moldagens de vestígios *A colher de pedreiro inglesa, com
sua lâmina em forma de losango, é o
muito frágeis são realizadas instrumento preferido dos arqueólogos,
diretamente no terreno, e amostras por causa de seu fácil manuseio.
como sementes, grãos de pólen e
carvões de madeira são enviadas * Global Positioning System: sistema de
ao laboratório. Todos os vestígios vigilância do planeta por satélite que foi
criado pelo Exército americano. Hoje faz
são marcados por um número de parte do dia a dia, é usado até nos carros
referência que informa sua e nos aparelhos de celular para fornecer
procedência exata dentro do sítio. mapas e indicar caminhos.

51
Sobre canteiros e paixões
Frequentemente, o cinema mostra o arqueólogo como um
aventureiro, a exemplo de Indiana Jones, cuja missão essencial
seria a de combater os bandidos que desejam dominar
o mundo apoderando-se de objetos sagrados do passado
(a Arca da Aliança, o Santo Graal...). No entanto, na vida real
o arqueólogo é um cientista que procura, com toda a modéstia,
explicar o homem — embora a seriedade de seu trabalho não
impeça a existência de aventuras e de grandes paixões...

Arqueólogos que estudam latim tendem


a se Interessar pelo mundo clássico
(a Antiguidade greco-romana). Os médicos
se especializam em antropologia Junerárla
não por se sentirem necessariamente
atraídos pela morte, mas porque .
querem contar a história da vida. &W
Um botânico provavelmente mjli
exercerá a carpologia, estudo dos ApA»
restos vegetais, especlalmente das
sementes, ou a palinologia, estudo
dos grãos de pólen capturados
depois de milênios na Terra, para
reconstituir as paisagens nas quais 1' (
viviam nossos ancestrais. 1$
'ÁP-êj,
Mfch

52
0 prospector aéreo concilia suas areia que recobrem os destroços.
paixões por aviação, fotografia Ele desenha usando lápis e papel
e arqueologia. A arqueologia de poliéster à prova d’água e
submarina satisfaz aqueles que fotografa sob luz artificial com
amam o mundo marinho. Escavar um aparelho estanque.
sob a água é algo especial: com A exploração de uma mina
uma mangueira e um enorme subterrânea exige a aprendizagem
aspirador, chamado sugador, da espeleologia, conhecimentos
o homem-rã remove a vasa e a em geologia e também prudência.

0 catálogo das especialidades em (como a Idade Média ou


arqueologia é tão variado quanto a pré-história) ou um assunto
a vida das sociedades humanas. específico (a alimentação,
Alguns estudiosos se ocupam de a morte, entre outros). A história
uma determinada civilização de uma cidade (arqueologia
desaparecida (quem é especializado urbana) ou de um monumento
em egiptologia, por exemplo), (arqueologia da construção)
enquanto outros pesquisam também interessa aos
períodos menos ou mais longínquos pesquisadores.

Mas, seja qual for o ambiente de um canteiro arqueológico, uma cidade


ou o campo, o deserto ou a floresta Amazônica, a água ou o interior
da Terra, todos os métodos de escavação respeitam um princípio universal,
o da estratigrafia.

53
De cabeça para baixo,
na contramão do tempo
O arqueólogo escava na contramão do tempo a fim
de recuperar a história escondida sob o solo ou no fundo do
mar. Para conseguir isso, ele utiliza o método estratigráfico,
que mostra os acontecimentos ao longo do tempo
e a relação entre um e outro.

0 método estratigráfico, elaborado pelos geólogos, é ama descrição


das camadas do terreno e serve para determinar a cronologia
(a ordem no tempo) da acamalação dos solos terrestres ou, como se diz
na linguagem especializada, suas datações relativas. 0 princípio é simples:
as camadas mais antigas são as mais profundas, que foram sendo
recobertas pelas que vieram depois.

54
Em um canteiro arqueológico, construção (quando há,
o escavador começa removendo por exemplo, uma parede),
as camadas que se encontram da ocupação (quando encontram
Imediatamente embaixo dos seus os restos de uma lareira), ou ainda
pés. E assim continua até atingir do abandono (no caso de um
as mais profundas, aquelas que telhado que desabou). A remoção
já estavam formadas desde o início das unidades estratigráficas, uma
da história daquele lugar. após a outra, das mais recentes
O pesquisador também determina ãs mais antigas, se assemelha a
a qual fase dessa história pertence uma desmontagem minuciosa dos
cada camada: ao momento da vestígios, em marcha a ré no tempo.

A unidade estratigráfica corresponde DiíiAríLm/L. es-trzL-tí^ríz^ící'


a cada elemento que é retirado
de alguma coisa que está sendo
escavada — que pode ser uma
tumba, um forno de oleiro, uma
cidade... Por exemplo no caso de
uma antiga lixeira, a fossa é separada
dos detritos que a ocupavam. Cada
unidade é registrada numa ficha
numerada, com descrições sobre o
material, a cor, a posição, e também
com referências às fotografias, às
plantas arquitetônicas e às coletas
— de artefatos, ossadas, carvões de
madeira, por exemplo — realizadas
em cada etapa da escavação.

O diagrama estratigráfico se
assemelha a uma árvore genealógica.
Em um só quadro, reúne todos os C A M A t> A
@SOLO b E INCÊNDIO
dados das unidades estratigráficas
@ p A R e t> e ©VASO E TAÇA
sobre suas relações cronológicas
(antes/depois), determinando assim as M O Eb AS
O ATERRO
datações relativas (mais antiga/mais oSSAbAS HUM*b
©muralha
recente) de cada uma delas.

A datação relativa estabelece apenas a ordem lógica dos eventos. Não dá


nenhuma indicação sobre datas exatas ou sobre a idade dos objetos.

55
O canteiro em ação
As ferramentas, os classificadores de registro, as máquinas
fotográficas e os instrumentos de medição estão prontos.
A equipe inteira se organiza para uma nova aventura rumo
ao passado. -

No Jim do século xix, várias cásãsj-——


--^^algumas das quais com mais de cem anos,
Joram demolidas para se ampliar a praça
da catedral. Hoje, a construção de
um estacionamento subterrâneo
no mesmo lugar é precedida por
uma escavação arqueológica. s"'
Nas margens do canteiro, a pá —
''' mecânica retirou os dois primeiros
metros de terra do subsolo,
antes ocupados pelos
porões das antigas
residências. /ZX

Embaixo, bs primeiros vestígios visíveis são as sepulturas do cemitério


medieval da catedral. Vários arqueólogos limpam com cuidado
a terra em volta dos esqueletos. 0 antropólogo examina a posição
das ossadas e toma notas, completando-as com
esboços ejotos. i » x

O
Em outro ponto do sítio, alguns escavadores dos vestígios da Idade Média,
estudam as ruínas de três casas da mesma que são desmontados para que se
época. Ali se encontram paredes, pisos, consiga alcançar as camadas mais antigas.
lareiras, um poço e fossas de lixo cheias Esteiras rolantes transportam
de vasos quebrados, nas quais se efetuam o entulho da escavação para
remoções de amostras. Tudo é registrado as caçambas que serão levadas pelos
em fichas, e os achados — moedas, caminhões. Os níveis arqueológicos
cerâmicas, ossos de animais... — são da época romana aparecem e
guardados em sacos numerados, que depois revelam a existência das primeiras
são enfileírados em caixotes para seguir ao casas da cidade, construídas
laboratório. O arquiteto desenha a planta no século i. _ __—~-

0 responsável pela escavação conversa com uma colega, que desenha uma camada
estratigráfica no papel vegetal.
No fim da operação, quando os arqueólogos chegam aos vestígios mais
antigos, as fossas e os buracos de estacas da época gaulesa, o nível do terreno está
quatro metros mais baixo do que no início do trabalho. Agora, a equipe só tem um
objetivo em mente: analisar em laboratório todos os dados acumulados para,
em seguida, contar a história deste trecho da cidade.
A arqueologia entre quatro paredes
No terreno, os arqueólogos registram todos os dados do sítio:
realizam a estratigrafia, desenham as plantas arquitetônicas,
analisam os artefatos, recolhem as amostras (de terra e de
carvões de madeira, por exemplo). No laboratório, tudo isso
é analisado sob todos os aspectos, com recursos tecnológicos
muito eficientes. Muitas perguntas são feitas — quem, o quê,
por quê, como—■, mas a primeira delas é sempre referente
à datação: quando.

Era uma vez... quando?


A medição do tempo, estabelecida com base na rotação da Lua e da Terra,
ordena nossa memória, regula a rotina que seguimos e organiza nosso
Juturo. Quando nasce um bebê, o primeiro dado a ser anotado é a data.
Ela tem duas Junções: Jtxa o início da história dessa pessoa, cujas etapas,
da injância ã velhice, marcarão a cronologia da nossa existência;
e introduz a história pessoal de cada um na da sociedade humana.

58
Datação relativa e datação absoluta
Em um canteiro galo-romano, a estratlgrafia registra as relações no tempo
entre as diversas fases de evolução do sítio. Essas informações são obtidas
com base nos objetos contidos em cada camada. 0 especialista em
i cerâmicas parte do princípio de que todos os pedaços de
I vasilhame de uma mesma camada são contemporâneos.
$e várias moedas estiverem misturadas a esses cacos,
t ele irá concluir que o vasilhame pertence ao período
informado pela data inscrita nas moedas. Essa mesma
análise é feita em todas as camadas, para se chegar
à datação absoluta, que é expressa em anos precisos,
muitas vezes dentro de um intervalo chamado “faixa
de datação” (por exemplo, a construção de
*
uma parede é situada entre os anos 60 a.C. e 20 a.C.).
Já em outro sítio, o arqueólogo acha o mesmo
tipo de vasilhame, mas não encontra moedas.
Então, para datar o sítio, ele utiliza o catálogo
de referência das cerâmicas galo-romanas
inventariadas desde o século xix.

O que é?
* É no século xvu que se
emprega pela primeira vez a
expressão “antes de Cristo”,
contando-se os anos a partir
do ano i a.C. em ordem
decrescente. Atenção: não
existe ano o; o primeiro ano
negativo é o i a.C.

59
As datações
Em alguns casos, as datações dos objetos são feitas
em laboratórios, através de procedimentos físico-químicos.

A datação por radiocarbono parte


de um princípio simples. Todos os
organismos vivos contêm carbono e
absorvem átomos radioativos, entre
os quais um chamado carbono-14.
Quando um organismo morre,
a porcentagem de carbono-14
naquele corpo passa a diminuir,

MlH
reduzindo-se à metade a cada 5 730
anos. Ao medir a quantidade
de carbono-14 presente em
materiais que tenham até 60 mil
anos de idade, como a madeira,
o carvão vegetal, os ossos, as
conchas e as sementes, é possível
saber sua idade.

Para datar vestígios ainda mais antigos, outros átomos são explorados:
a datação por urânio/tório determina a idade de materiais, como os
depósitos calcários das grutas, de até 350 mil anos; já a datação por
potássio/argônio, utilizada no caso das rochas, fixa as idades dos mais
antigos fósseis, como dos australopitecos de Olduvai (na Tanzânia, África),
de aproximadamente 2 milhões de anos.

60
A termoluminescência calcula a energia aprisionada nas argilas cozidas
ou nas pedras queimadas de uma lareira ou de um forno. Depois do seu
resfriamento, um novo aquecimento em laboratório libera uma energia
luminosa cuja intensidade é tanto mais forte quanto mais antigo for o objeto
Assim, é possível datar fogueiras pré-históricas de mais de 300 mil anos.

A dendrocronologla fornece
datações ainda mais precisas,
quase ano a ano, e abarca um
período de vários milhares de anos
Ela determina a idade de abate
das árvores pela observação de
seus anéis de crescimento anual
que podem ser vistos facilmente nc
corte de um tronco. As amostra;
estudadas são coletadas em
arcabouços de construções
estacas, móveis ou vasilha;
de madeira. Muitas provêm da;
escavações de aldeias lacustres, de
turfeiras ou de estrutura;
de igrejas

61
Pistas por todos os lados
O exame dos pilares de carvalho da estrutura de Notre-Dame
de Paris confirmou a seca sofrida pela cidade em 1137.
Anéis estreitos indicam os anos secos, enquanto anéis largos
denotam boas condições de crescimento. A dendrocronologia
não se limita a fornecer datas: também nos informa sobre
o clima de antigamente.

As matérias que contam história


Todos os materiais arqueológicos fornecem, além de uma identificação
muitas vezes Imediata — por exemplo, uma ânfora é uma cerâmica
para estocagem de vinho —, muitas outras informações.

A petrografta (estudo das rochas) os objetos metálicos, e os resultados


identifica as jazidas de argila obtidos servem tanto para avaliar
exploradas na fabricação de os gestos técnicos (como se fabricavi
vasilhas. 0 arqueólogo passa assim uma espada gaulesa?), quanto para
a conhecer a zona de difusão do explicar as próprias sociedades,
comércio de cerâmica em uma com base no estudo da circulação
determinada época. Análises de pessoas, matérias-primas e
idênticas são feitas com os artefatos, sendo estes fruto do
materiais de construção ou com trabalho feito pela mão do homem.

62
A presença da faia e do
castanheiro aponta para um
clima temperado; dependendo
da espécie de caracol, tem-se
um melo menos ou mais úmido;
determinados insetos, como
o gorgulho-do-trígo, indicam
a cultura de cereais. E assim
que se tenta definir o ambiente
no qual os homens viviam
e compreender como as
sociedades antigas modelaram
as paisagens atuais.

O estudo do
paleoam.bien.te identifica
as relações entre o homem
e o meio no qual
ele evoluiu desde
o aparecimento dos
primeiros ancestrais, há
vários milhões de anos.
Essa disciplina situa a
história das sociedades na
história do próprio espaço.

63
O passado agora e amanhã
À exceção das zonas terrestres inacessíveis ou hostis por causa
de condições extremas de vida, como a Antártica, os primeiros
homens se espalharam progressivamente, a partir da África,
por todos os continentes.

A ação do homem
Ao sabor das variações climáticas, influência deles sobre o clima,
da evolução do mundo e dos culminando, por exemplo, no
progressos tecnológicos, o homem aumento do nível dos mares. A
explora os recursos disponíveis na arqueologia das paisagens conta
natureza sem se preocupar com a história dessa transformação.
o equilíbrio do planeta. Certas No entanto, o mesmo processo
paisagens que você considera de destruição afeta os vestígios
naturais foram moldadas pela do passado: a cada dia, no mundo
ação direta dos homens, gerando inteiro, dezenas de espécies
desflorestamento, empobrecimento vegetais e animais e de sítios
dos solos, irrigação, ou então pela arqueológicos desaparecem.

64
Não foi por acaso que a ecologia e a arqueologia se desenvolveram ao
mesmo tempo: a incerteza quanto ao Juturo pode ser atenuada por um
conhecimento mais amplo do passado. Inúmeros cientistas de diversas áreas
— como história, biologia, geologia — pesquisam as mudanças de clima
no planeta Terra, desde muito tempo atrás até os dias de hoje, afim
de compreender melhor os Jenômenos do aquecimento global ocorrido
no último milênio.
A arqueologia preventiva permite preservar os rastros do passado, assim
como o desenvolvimento sustentável propõe uma alternativa para o Juturo
do planeta.

65
A lei do passado
O avanço das sociedades humanas não pode apagar os rastros
do passado, por menores que sejam eles.

A arqueologia preventiva
Pelo mundo afora, muitos países Não se trata de opor o passado
estão tomando consciência de que ao presente. O que se quer
seu patrimônio arqueológico está não é conservar forçosamente os
ameaçado pelos projetos de vestígios, mas sim evitar a perda
utilização do território. A de informações que poderíam
edificação de uma grande barragem ser proporcionadas por uma
que inundará um vale inteiro, de escavação. Aliás, nem todos os
um estacionamento subterrâneo vestígios precisam ser conservados
ou de uma linda de metrô, após a observação científica.
a construção de uma Afora alguns sítios excepcionais
autoestrada ou de um ramal que abrigam, como em Roma,
ferroviário, o assentamento dos ruínas imponentes, muitas vezes
alicerces de uma casa no campo: restam poucas coisas a aproveitar
todas essas obras vão revolver o depois da passagem dos
solo e destruir sítios arqueológicos. arqueólogos.

66
As casas gaulesas eram, construídas com pilares de madeira plantados na
terra. Com o tempo, a madeira desapareceu, e no solo restam apenas os
buracos Jormados pelas colunas. Isso basta aos arqueólogos para reconstlt
a planta das casas, e não vale a pena, em seguida, impedir a construção
de uma escola ou de uma piscina, só para preservar alguns buracos.

No Brasil, há mais de 8500


sítios arqueológicos hoje em dic
Desde 1961, eles são patrimôn
da União, que deve cuidar para
que eles não sejam destruídos,
tendo seus objetos retirados
para serem vendidos.

67
A prevenção na prática
Há países mais ou menos cuidadosos com os vestígios
escondidos em seu território. Na Europa, desde a Convenção
de Malta, de 1992, todos os países são obrigados a proteger
seu patrimônio histórico.

Na França, por exemplo, existe um Serviço Regional de Arqueologia


que examina as licenças de construção e as autorizações para exploração
de pedreiras. Se for constatado que a Jutura obra ficará situada no
âmbito de um sítio arqueológico, esse organismo prescreve um diagnóstico
que só pode ser realizado pelo serviço arqueológico de uma comuna
ou de um departamento, ou ainda pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Arqueológicas Preventivas.

0 diagnóstico arqueológico é uma


operação de verificação, precedida
por uma pesquisa documental.
No terreno, uma pá mecânica
escava longas trincheiras paralelas
que abrem até 10% da superfície,
com 0 objetivo de localizar
vestígios e determinar
a identidade do sítio: 0 tipo
de ocupação, a datação
(fazenda gaulesa, necrópole
merovíngia etc.), a extensão
e 0 estado de conservação.
Esses dados alimentam 0 Mapa Arqueológico Nacional e determinam
se uma escavação é necessária ou não.

68
Se uma intervenção j:or julgada indispensável, o Serviço Regional
de Arqueologia prescreve uma escavação arqueológica preventiva
ao responsável pelo projeto. Este último tem três possibilidades: desistir
da obra, modijicá-la (propondo soluções que preservem os vestígios)
ou executar a escavação às próprias custas.

Certos construtores não têm muita um sítio arqueológico importante


vontade de jinanciar uma operação por quilômetro. No total, o preço
arqueológica que lhes custará tempo das escavações corresponde
e dinheiro. Em obras como a a 1 % do preço da obra, o que
abertura de uma autoestrada com equivalería, em uma estrada com
várias centenas de quilômetros, os extensão de 1 000 metros, a pagar
diagnósticos revelam uma média de 1 010 metros por sua construção.

69
Teste

1. Há quantos milhares de anos o


homem atual é o único representante
da espécie humana no planeta?
a. 2 mil anos.
b. 5 mil anos.
c. 30 mil anos.

2. Como se chamava, no
Renascimento, o lugar onde eram
exibidas as coleções arqueológicas
particulares?

3. Qual é nome do primeiro


estudioso a decifrar a leitura dos
hieróglifos egípcios?
4. Qual foi a primeira gruta
decorada a ser descoberta?

. Qual é a ciência que estuda os


fósseis?
6. O que significa a palavra
“monóxilo”? 7. O que são trogloditas?
a. Feito de um só pedaço de madeira. a. Grupo pré-histórico de hábitos
b. Tedioso. grosseiros.
c. Feito de uma só peça. b. Cavernas, naturais ou escavadas,
nos maciços rochosos, usadas
como moradia.
c. Cadeia de montanhas onde
foram achados muitos vestígios
arqueológicos.

70
8. Para que serviu a invenção da 10. Como se chama o estudo dos
técnica do assopramento? nomes dos lugares?

11 . Quem é mais antigo: Lucy ou


Toumai?
. O que é um meio anaeróbio?
12. Qual é o
material utilizado na
dendrocronologia?
a. A madeira.
b. O metal.
c. O vidro.

13. Para que serve o método do carbono-14?


Respostas

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saoi||!Lu 9 ujoi anb ‘iBLunoi 'll •Eião|Oiuoa|Bd v 'S
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sa;uaidpaj jBouqEj. bjbj 'g 'SOUB |llu o£ '0 ’L

71
Raphaèl De Filippo
É arqueólogo especializado
no estudo das cidades.
Em Toulouse,
na França,
descobriu
os primeiros
elementos do
Jórum antigo
e o palácio dos
reis visigodos. Mora boje em
Tours e tem duas Jilhas, com as
quais espera, através deste livro,
compartilhar sua paixão.

Roland. Garrigue
Estudou na Escola
Superior de Artes
Decorativas de
Estrasburgo e
vive em Paris.
Faz desenhos
para jornais,
revistas e livros.
Para ilustrar este
passo a passo, precisou “escavar”
muitos livros — e também a sua
imaginação transbordante!

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