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Foto do entrevistado marcada para segunda-feira

Mercado brasileiro ainda é pequeno em relação ao de


outros países, diz pesquisador do IPEA

O cadastro positivo, a securitização de dívidas e o incentivo aos fundos de


investimentos são instrumentos que podem melhorar o acesso e reduzir os custos dos
financiamentos no Brasil, diz o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), João Alberto de Negri. Além disso, ele destaca que as fintechs
chegaram para aumentar a concorrência no mercado crédito brasileiro, que ainda é
pequeno em relação ao de outros países.

“Um estudo recente do IPEA mostra que 38% das empresas brasileiras dos setores
industrial, de serviços, comércio e construção civil com mais de 10 pessoas ocupadas
sequer acessam o mercado de crédito ao longo de um ano”, diz João de Negri nesta
entrevista concedida por telefone à Agência CNI de Notícias.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Por que o crédito no Brasil é tão caro?

JOÃO ALBERTO DE NEGRI - Uma das razões é que a inadimplência cresceu muito com
a crise econômica e isso aumenta o spread bancário. No entanto, é preciso destacar
que, no Brasil, o volume de crédito equivale a pouco mais de 25% do Produto Interno
Bruto (PIB). Em outros países, esse volume é superior a 110% do PIB. Nos Estados
Unidos, fica em torno de 120% e, na China, em 110% do PIB. Um estudo recente do
IPEA mostra que 38% das empresas brasileiras dos setores industrial, de serviços,
comércio e construção civil com mais de 10 pessoas ocupadas sequer acessam o
mercado de crédito ao longo de um ano. Isso foi verificado em um longo período, de
2004 a 2018. Portanto, o problema do crédito no Brasil não é apenas o custo, mas
também o acesso.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Como o cadastro positivo pode contribuir para reduzir o
custo e facilitar o acesso ao crédito?

JOÃO ALBERTO DE NEGRI  - O cadastro positivo é muito importante. É uma iniciativa


que existe há muito tempo em outros países. Permite que os bancos identifiquem os
bons pagadores e busquem, entre eles, novos clientes, o que ajuda a aumentar a
concorrência bancária e reduzir os custos dos empréstimos. Uma das razões pelas
quais as empresas têm dificuldades de acessar o crédito é que não há bancos
oferecendo empréstimos. Ou seja, os bancos também não estão procurando clientes.
O cadastro positivo vem na direção de aumentar as informações sobre possíveis
clientes para os bancos.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS – Quais outras mudanças podem melhorar o mercado de


crédito no Brasil?
JOÃO ALBERTO DE NEGRI - Atualmente, a tendência é que as fintechs, empresas com
custo muito baixo do setor financeiro, que usam as novas tecnologias e a inteligência
artificial para identificar bons pagadores, facilitem o acesso do setor produtivo ao
crédito. Outra tendência internacional para reduzir o custo dos empréstimos é a
securitização das dívidas. Ou seja, a empresa oferece um seguro como garantia do
seu empréstimo. Esse seguro cobrirá a dívida, caso a empresa enfrente dificuldades
para fazer os pagamentos acertados com o banco, o que reduz o risco de
inadimplência. Simulações feitas no IPEA mostram que, se houver uma redução de
10% na taxa de juros, a vontade do empresário de contratar um empréstimo aumenta
em torno de 10%. Ou seja, o empresário é sensível à queda dos juros. Mas outra
simulação mostra que se o empresário tem a possibilidade de fazer um seguro para
dar como garantia ao banco, a sensibilidade à queda dos juros dobra. Ou seja, se
ampliar o mercado de securitização, uma queda de 10% nos juros aumentaria em mais
de 20% a demanda por crédito.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Há outras medidas?

JOÃO ALBERTO DE NEGRI - Outra ação relevante para melhorar o mercado de crédito


é a ampliação das formas de acesso aos mecanismos de financiamento das
empresas. Se aumentar a participação dos fundos de investimentos nos
financiamentos das empresas também aumentará a competição entre os bancos. Os
fundos de investimentos em participação são regulamentados pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) e representam hoje cerca de R$ 170 bilhões no mercado.
Esses mecanismos de alavancar as empresas também podem alavancar o mercado
de crédito no Brasil. Outra coisa importante são as debentures incentivadas, títulos
emitidos pelas empresas com grande capacidade de financiamento das atividades
empresariais, que podem alavancar o mercado de crédito.

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