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Historia Da Arte 2007 LIVRO
Historia Da Arte 2007 LIVRO
1ª Edição - 2007
SOMESB
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
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Equipe
Angélica de Fatima Silva Jorge, Alexandre Ribeiro, Cefas Gomes, Cláuder Frederico, Diego Aragão,
Fábio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas, Lucas do Vale,
Marcio Serafim, Mariucha Silveira Ponte, Tatiana Coutinho e Ruberval Fonseca
Imagens
Corbis/Image100/Imagemsource
IMPRESSIONISMO __________________________________________________________ 68
PÓS-IMPRESSIONISMO _______________________________________________________ 70
GLOSSÁRIO _____________________________________________________________ 79
Caros alunos,
Boa jornada!
Para explorar a História da Arte, é preciso apresentar, inicialmente ,conceitos de orientação quanto
à concepção da arte e estilos artísticos.
A Estética é a parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno
artístico. Em grego, arte se diz téchne, daí a palavra técnica. O termo téchne é derivado do verbo tíktein,
que,originalmente, se refere ao ato de dar à luz, ou seja, criar. Etimologicamente, a palavra arte deriva do vo-
cábulo latino ars, “maneira de ser ou de agir, habilidade natural ou adquirida, arte, conhecimento técnico (por
oposição ao latim natúra ‘habilidade natural’), tudo que é de indústria humana, ciência, ofício, instrução, conhe-
cimento, saber, profissão, destreza, perícia, habilidade, gênio, talento, qualidades adquiridas” (HOUAISS).
De um modo pessoal, cada um de nós chama isto ou aquilo de arte. Mas, o que é arte?
A seguir algumas definições sobre a arte:
Saiba Mais!
“Uma coisa que realmente não existe é aquilo a que se dá o nome de Arte. Existem somente artistas.”
E.H. Gombrich
História da Arte 7
de fora pra dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que emerge do mais profundo “eu” da pessoa, do inconsciente
individual, coletivo e cósmico.” Clarice Lispector
“A arte é uma magia que liberta a mentira de ser verdadeira.” Theodor Adorno
“A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade.” Pablo Picasso
“A arte é uma força cuja finalidade deve desenvolver e apurar a alma humana.” Vassily Kandinsky
“A arte é o homem mais a natureza.” Van Gogh
“A arte é a verdade.” Auguste Rodin
“Toda a arte é imitação da natureza.” Lucius Annaeus Seneca
“ A arte é uma mentira. O papel do artista é convenver os outros da veracidade de suas mentiras.”. Paul Klee
“A Arte é harmonia.” George Seurat
“A beleza á a percepção do infinito no finito. A arte é a união do subjetivo, da natureza e da razão, do consciente
e do inconsciente.” Schelling
“A arte é a contemplação das coisas independente do princípio de razão.” Schopenhauer
“A arte é a expressão de uma intuição.” Benedetto Croce
“A arte é a manifestação sensível do Espírito.” Hegel
“A Arte é uma finalidade sem fim.” Kant
“A Arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer a si mesmo e mudar o mundo.”
Ernst Fischer
“A arte é uma realidade convencionalmente aceita, na qual, graças à ilusão artística, os símbolos e os substitutos são capazes
de provocar emoções reais. Assim, a arte constitui um meio-caminho entre a realidade que frustra os desejos e o mundo dos
desejos realizados da imaginação – uma região em que, por assim dizer, os esforços de onipotência do homem primitivo ainda
se acham em pleno vigor” Sigmund Freud
“A arte é um fenômeno histórico.” Giulio Carlo Argan
“A Arte é, foi, e ainda é o elemento essencial da consciência humana.” Herbert Read
“A arte é um motor da sociedade e não, simplesmente seu pálido reflexo.” Catherine Millet
“A arte não é porventura mais, em sua forma suprema, que a infância triste de um deus futuro, a desolação huma-
na da imortalidade pressentida.” Fernando Pessoa
Ao ser materializada a obra de arte se fixa a seu tempo, mas também a sua permanência através dos
tempos cria novos diálogos. Ao se ver uma obra de arte deve-se ir além da mera sensação estética inicial,(gosto
ou desgosto, belo ou feio) e buscar uma apreciação maior que exige conhecimento. Afinal, a obra de arte
E é nessa leitura que a história da arte, o seu estudo, ajuda a uma fruição mais ampla das obras de
arte. Deve-se evitar em arte toda e qualquer visão imbuída de preconceito. O conhecimento, sem dúvida,
ajuda a destruir as vendas do radicalismo e da intolerância. A linguagem visual é cultural, é aprendida,
depende de padrões expressivos que constroem uma composição formal. A forma é a matéria das obras
de arte, sua carne e seu sangue. Os elementos da forma são: cor, linha, textura, planos, volumes, espaço,
luminosidade e ritmo. A distribuição desses elementoscria um todo autônomo, equilibrado e estruturado
de tal maneira que a configuração de forças reflete o sentido do enunciado artístico. A composição formal
refere-se à distribuição de elementos no espaço bi ou tridimensional, a composição cromática baseia-se
em relações sintáticas, tais como a semelhança, a complementariedade e o contraste, assim como nas re-
lações entre os matizes primários e secundários” (ARNHEIM apud TREVISAN, 1990, p.189).
O ritmo é estabelecido pela constância, repetição dos elementos. As composições vão criar repre-
sentações naturalistas (que se aproximam das formas da natureza, figuração do real) e representações
abstratas (transformação do real por deformação, simplificação, geometrização ou desconstrução).
Quanto aos estilos artísticos, para Wölfflin (1989, p.VII) “mesmo ao talento mais original não é per-
mitido ultrapassar certos limites impostos pela data do seu nascimento. Nem tudo é possível em todas as
épocas, e determinados pensamentos só podem emergir em determinados estágios da evolução”. Existem
estilos que caracterizam a arte nos períodos históricos, a uma área geográfica específica, a um grupo ou
escola e estilos individuais que caracterizam o modo como o artista se expressa. Portanto, o estilo apresenta
três dimensões básicas: a dimensão temporal; a dimensão nacional e a dimensão individual. Dessa forma,
História da Arte 9
Meyer Shapiro (TREVISAN, 1990, p.17-18) define estilo como “um sistema de formas qualitativas, reple-
tas de expressão, nas quais se manifesta a personalidade do artista e a filosofia de um grupo”. O estilo tem
“um caráter comum e coletivo que, todavia, não se realiza senão individual e intimamente, já que um estilo
não tem outra realidade e outra sede senão as obras individuais que o adotam, interpretam e realizam nelas
próprias (PAREYSON, 1997, p.144).
No início, como todos os demais animais, a preocupação do homem era com a sua sobrevivência. O
homem não era o maior, não era o mais forte, não era o mais rápido. Mas ele tinha algo especial: a criativi-
dade. Essa característica fez com que a espécie humana se tornasse dominante no planeta. O homem con-
figurou-se como agente modificador do ambiente, consciente de si e de suas possibilidades. Segundo Fayga
Ostrower (1978, p.10), “o Homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta e, sim, porque precisa;
ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.” Assim, o
homem molda o seu mundo, cria e transmite cultura. E dentre, essas criações culturais, está a arte.
Os vestígios artísticos mais antigos encontrados datam de cerca de 40.000 a.C., obras do Homo
Sapiens no Paleolítico Superior. Presentes em todos os continentes, da América à Ásia, eles demonstram a
evolução da habilidade manual e tecnológica humana e o desenvolvimento da expressão de suas concep-
ções. Vivendo em grupos nômades, fabricando ferramentas e buscando entender e controlar seu mundo,
a arte desse período manifesta-se nas cavernas e em pequenas esculturas.
Arte rupestre
Em algumas cavernas encontram-se registros artísticos do homem do Paleolítico Superior. As repre-
sentações, através de pintura, incisão ou escultura nas paredes das cavernas européias, são principalmente
animais como cavalos, bisões, mamutes, cervos e felinos em cenas de caça. Essas imagens de grande realis-
mo revelam o alto grau de observação dos artistas e sua destreza na execução das obras. E quem eram esses
artistas? E por que faziam tais obras? Desconhece-se a identidade deles, mas, dentro do grupo de caçadores,
provavelmente, exerciam funções mágicas ou religiosas e a arte seria um ritual. A maioria dos arqueólogos e
antropólogos acredita que o propósito dessas representações era mágico, propiciatório, ou seja, favorecer a
caça. Afinal, essas cenas não são ornamentais, não foram feitas para apreciação, deleite estético, uma vez que
geralmente, se localizam nas áreas mais profundas, muitas vezes de difícil acesso nas cavernas. E também,
em várias partes as figuras dos animais são sobrepostas. Assim, o homem pré-histórico
Tecnicamente, essas figuras eram desenhadas com pedaços afiados de madeira e pintadas com pigmentos
orgânicos disponíveis. Geralmente, a paleta desses artistas era composta pelo preto do carvão, o branco do giz,
vermelho e ocres dos minerais. Esses pigmentos eram triturados e misturados `a gordura animal e tornavam-se
tinta líquida a ser aplicada por meio dos dedos, primitivos pincéis de penas de pássaro ou pelos, podendo também
História da Arte 11
Você Sabia?
As pinturas rupestres são datadas a partir dos outros vestígios (fósseis e objetos) encontra-
dos nos sítios arqueológicos e pelo teste do carbono 14. A sua conservação, contudo, tem sido um
grande problema. Antes preservadas, longe dos olhares humanos, a visitação do público trouxe um
desequilíbrio ao ambiente dessas obras, levando ao desenvolvimento de colônias de micro-organis-
mos, fungos e bactérias. Muitos tratamentos estão sendo desenvolvidos, mas as grutas de Lascaux
e Altamira encontram-se fechadas ao público, em geral, em busca de sua preservação.
Escultura
As esculturas, de pequenas dimensões, eram feitas em pedra, osso, marfim, chi-
fre, etc. As representações são, essencialmente, de animais, mostrados de modo realista
como nas pinturas rupestres. Entretanto, existem figuras humanas. As mais antigas são
as estatuetas femininas conhecidas como Vênus esteatopigias. Essas representações são
caracterizadas pelas formas fartas, seios, púbis, coxas e nádegas volumosos. Segundo
os estudiosos, esse modelo estético feminino da época estava profundamente ligado
ao culto à fertilidade, evocando uma imagem patriarcal da mulher nessa época. O
pequeno tamanho das esculturas pode indicar o seu uso ritual ou como talismã.
A mais famosa das Vênus esteatopigias, a Vênus de Willendorf, foi descoberta
em 1908 pelo arqueólogo Josef Szombathy em escavações na cidade austríaca que lhe
deu o nome. Essa ilustre obra-prima de 11, 1 cm, em pedra calcárea, pertencente ao Mu-
seu de História Natural de Viena, foi datada como sendo de cerca de 24.000 a
Vênus de Willendorf em
22.000 a.C no período do Paleolítico Superior. Além de esculturas, as Vênus es-
marfim de mamute. Museu
de História Natural de Viena. teatopigias foram feitas em relevo como a Vênus de Laussel, datada entre 15.000
a 10.000 a.C, pertencente ao Museu de Aquitânia, naFrança.
Arte mesolítica
O Mesolítico é um período intermediário entre o Paleolítico e o Neolítico, caracterizado pela expansão
territorial da espécie humana. Compreende um período de cerca de 9.000 anos, de 12.000 a 3.000 a.C. Na Europa,
houve uma redução dos grandes rebanhos e os caçadores tiveram que procurar outras fontes de alimentos, como
a coleta. Artisticamente, o estilo de expressão também se modificou. Segundo Lommel (1966, p.47),
Os principais exemplares de pintura rupestre desse período estão na Cueva de Tajo de las Figuras
(Cádiz, Espanha) e na Cueva de la Araña (Valencia, Espanha). Há uma progressiva estilização, simplifica-
No sítio de Çatal Hüyük, no sul da Anatólia (Turquia), escavado em 1961, foram encontradas as
mais antigas pinturas conhecidas feitas sobre paredes estucadas de construções. Nesses santuários, apare-
História da Arte 13
cem várias figuras humanas estilizadas e em movimento. Mesmo nas cenas de caça, onde aparecem touros
e veados, o objetivo agora é ritual, em honra de divindades masculinas e não mais propiciatório.
Para Hauser (1994, p.9), “no lugar de uma concretização da experiência cotidiana de
vida, a arte procura agora deter-se na idéia, no conceito, na substância íntima da coisa – mais
para criar símbolos do que semelhanças do objeto”.
O mais célebre exemplar das construções megalíticas é Stonehenge, na planície inglesa de Salisbury,
a 137 km de Londres. Esse conjunto reúne menires e dolmens, estando orientado para o ponto onde
A construção de Stonehenge parece datar de cerca de 2.000 a.C. É formada por grandes círculos de
pedras com um diâmetro maior de 100 metros, tendo ao centro uma pedra ara, espécie de mesa altar ritual,
que para alguns era um local de sacrifícios. Além das pedras, contava com a terra e a madeira. Esse conjunto
impressiona por sua majestade e suscita questões de como foram transportadas e levadas essas grandes pedras
de até 7 metros de altura e 25 toneladas de peso, dispostas em várias posições. Todas as pedras foram trazidas
de áreas distantes com a utilização de ferramentas primitivas. Vestígios de ferramentas
metálicas foram encontrados. Ao que tudo indica, nesse período, a roda ainda não
havia sido inventada, o que denota um grande esforço para o transporte desses
blocos de pedra. A erosão e a ação dos homens tornaram esse monumento
uma deslumbrante ruína. Escavações feitas nessa região, em Durring-
ton Walls, revelaram, no início de 2007 ,uma aldeia neolítica, que o
arqueólogo Mike Parker Pearson atribui aos construtores de Sto-
nehenge. Essa descoberta confirma a teoria de que Stonehenge
não era uma estrutura isolada, mas fazia parte de um complexo
religioso maior, envolvendo rituais funerários e celebrações.
ARTE MESOPOTÂMICA
Mapa da Mesopotâmia
História da Arte 15
Período sumério
Os sumérios parecem ter vindo da Ásia Central e se estabeleceram por volta de 4.000 a.C no sul
da Mesopotâmia (Baixa Mesopotâmia), próximo à confluência dos rios Tigre e Eufrates. A essa região
chamavam Sumer ou Suméria. São poucos os vestígios materiais de sua cultura. Suas construções eram
erigidas em tijolos de barro e madeira. Contudo, foram os inventores da escrita pictográfica, denominada
cuneiforme, preciosos registros de sua cultura em tabuinhas de argila.
Inicialmente, os sumérios viviam em comunidades agrícolas baseadas nos rebanhos e no cultivo de
milho e tamareiras. Aos poucos, esses núcleos foram se organizando, possibilitando a construção de obras
públicas necessárias à agricultura em larga escala. Assim surgiram as cidades-estados, que disputavam conti-
nuamente a liderança sobre as demais. Cada uma delas tinha seu deus protetor local, seu governante, sendo
Uruk a cidade dos reis. No centro das cidades estava o templo, que se localizava sobre uma estrutura de-
nominada zigurate. Este era construído em formato geralmente retangular como uma pirâmide de terraços
em tijolos de barro cozido, com grossas paredes de sustentação. Escadarias e rampas levavam ao topo onde
ficava o santuário do deus. No alto, ao centro desta sólida construção, estava uma sala principal, ou cella,
ricamente decorada, onde ficava a estátua do deus e o altar de sacrifícios. Durante os séculos, os zigurates
foram sendo construídos cada vez mais altos, numa tentativa de se aproximarem dos deuses, uma vez que
a morada divina estava no alto, no cume das montanhas. O seu mais famoso exemplar, a Torre de Babel,
presente nos relatos bíblicos, há muito foi completamente destruído. Mas, existem outros que chegaram
até os dias atuais. Um deles é o zigurate construído pelo rei Urnammu, em Ur (cidade do patriarca bíblico
Abraão), com 65 metros de fachada, que embora atualmente só tenha um piso com cerca de 18 metros de
altura, originalmente possuía 3 pisos. Ele era dedicado do deus lunar Nana (Sin para os acadianos), que pre-
sidia o calendário e era poderoso sobre a vegetação e a fertilidade. Originalmente, era revestido por ladrilhos
cozidos decorados, que o preservaram, sendo o mais bem conservado dos zigurates conhecidos.
É interessante destacar que os zigurates não eram templos acessíveis
ao público. Eram a morada do deus, cuidada pelos poderosos sacerdotes.
Acredita-se que o zigutate era a representação simbólica da primitiva colina
sobre a qual o universo havia sido criado e servia de ponte entre o céu e a
terra. Os pavimentos horizontais, cujo número ideal era sete, provavelmente
representavam os sete planos da existência, os sete planetas e os sete metais
associados a eles. Por isso, originalmente, cada nível possuía uma cor: branca,
negra, púrpura, azul, vermelho, prata e ouro. Além da função sagrada, eles se
destinavam à observação dos astros. Próximo aos zigurates ficavam a residên-
Zigurate do rei Urnammu, cidade cia dos sacerdotes e o palácio do governante local.
de Ur, cerca de 2.500 a.C.
Um dos maiores achados em Ur
foi o Cemitério Real ativo por 500 anos, de cerca de 2.600 a 2.100 a.C.,
com aproximadamente 2.000 sepulturas. Nele foram encontrados pre-
ciosos objetos de adorno, que expressam o status de seus proprietários.
Infelizmente a maioria das tumbas foi saqueada ainda na Antiguidade.
Mas na tumba da rainha Puabi (2.600-2.500 a.C) foram encontrados im-
portantes tesouros como diademas, brincos e outras jóias.
A pintura e a escultura dos sumérios eram, essencialmente, deco-
rativas. Painéis figurativos adornavam os templos, palácios e sepulturas.
Quanto à escultura destacam-se os orantes ou adoradores. Essas
figuras humanas (masculinas e femininas) votivas de pequenas dimen-
sões, representadas de corpo inteiro, geralmente em pé, trazem sem-
pre as mãos cruzadas sobre o peito, possuem grandes olhos e vestem Entrada da tumba do rei Ur-
longas saias. A sua concepção baseava-se no cone e no cilindro numa nammu, Ur, cerca de 3.000 a.C.
simplificação característica do escultor que talha as formas num único
Período acadiano
Contemporâneos, os sumérios e acadianos conviveram em paz até o rei
acadiano Sargão iniciar a sua expansão por volta de 2.316 a.C. Os acadianos
ocupavam inicialmente a região setentrional da Mesopotâmia em torno de
Kish. Ao dominarem a Suméria, absorveram a sua cultura, impondo à arte a
Lira com cabeça de touro em
madeira, decorada com ouro,
glorificação do soberano. Dentro dessa ideologia propagandística, as estelas
prata, lápis lazúli e madrepé- comemorativas foram freqüentes. A estela do rei Naram-Sin, neto de Sargão,
rola. Ur, 2550-2400 a.C. Mu- é considerada por alguns como a obra prima da arte acádica. Ela comemora
seu de Arqueologia e Antro- uma vitória sua. Nessa representação não há linhas rígidas de horizonte, o
pologia da Filadélfia. exército real avança para cima, acompanhando o seu líder. No alto da com-
História da Arte 17
posição, ao centro, está o rei Naram-Sin, em maior dimensão, vitorioso sobre
os cadáveres dos inimigos que pisa abaixo dele à direita. Ele traz na cabeça a
coroa ou capacete de chifres, atributo dos deuses, e está próximo ao cume de
uma montanha, a morada dos deuses.
A obra mais notável de escultura, que expressa essa ideologia de glorifica-
ção do soberano, é uma imponente cabeça de um soberano acadiano em bronze,
encontrada em Nínive. Os olhos, agora vazios, deveriam trazer embutidos que lhe
confeririam grande força. Apesar disso, conserva a sua majestade e maestria. Essa
obra caracteriza-se pelo detalhamento descritivo e pela simetria na composição.
Janson (1984, p.71) ressalta que
Período babilônio
No segundo milênio houve um período de instabilidade e de-
sordem na Mesopotâmia, até que os babilônios assumiram o poder
entre 1.760 e 1.600 a.C, como antes tinham feito os acadianos. Con-
tudo, continuou a existir um grande respeito pela tradição sumeriana.
Afinal, a base cultural dos babilônios era sumeriana. Hamurabi, o
fundador da dinastia babilônica denominou-se de pastor favorito do
deus solar Shamash (nome acadiano do deus sumério Utu). O obje-
tivo de Hamurabi era fazer reinar a justiça e para tal criou o famoso
código que leva o seu nome. Esse código está gravado em uma estela
Estela do Código de Hamurabi
de diorite negro em escrita cuneiforme. No alto da estela, sobre o es-
em diorite, com 2,13 m de altura,
crito está a representação do rei Hamurabi diante do deus Shamash, c. 1.760 a.C. Museu do Louvre.
como se estivesse apresentando-lhe o código de leis. O relevo das
A maioria da escultura dos babilônios baseiam-se na tradição sumeriana mas trazem algumas
singularidades como os volumes acentuados, uma maior rigidez na representação e uma minuciosa
atenção aos detalhes como as roupas e a barba.
Período cassita
Os cassitas, povo asiático, estabeleceram-se na Mesopotâmia, na re-
gião oeste do atual Irã, por volta de 1.800 a.C. Em 1559 a.C a Babilônia
foi saqueada pelos hititas. Entre 1550 e 1150 a.C os cassitas dominaram
os babilônios. Artisticamente eles trouxeram inovações à tradição sumé-
rio-acadiana. Estruturalmente, o uso do arco e da abóboda se generalizou
em palácios e templos e se introduziu o emprego do ladrilho no exterior
dos edifícios.Deixaram vestígios em Dur-Kurigalzu, capital cassita fundada
pelo rei Kurigalzu no séc. XIV. Nessa, foram encontradas esculturas em
terracota de extremo vigor (em contraste com a rigidez dos babilônios)
como uma cabeça masculina com barba com indícios de pintura em ver-
melho e preto. O mais importante registro deixado é o Templo de Inanna
(deusa do amor e da guerra, Ishtar em acadiano) edificado em Uruk pelo Detalhe da fachada do Templo
rei Karaindash em cerca de 1.430 a.C. De planta retangular, construído de Inanna em Uruk. Construção
com tijolos de terracota, suas paredes exteriores alternam relevos e nichos cassita, cerca de 1413 a.C. Museu
ao estilo sumério. As reentrâncias ou nichos continham relevos de deuses Pergamon, Berlim, Alemanha.
enquanto as saliências eram decoradas com formas geométricas.
Uma peça característica dos cassitas é o kudurru. O kudurru é uma espécie de marco demarca-
dor de fronteira composto com figuras e inscrições. Protegiam as fronteiras dos reis e delimitavam as
propiedades privadas. Assemelhavam-se ao formato das estelas, em sua composição traziam textos
sobre a concessão do direito de propriedade em escrita cuneiforme e símbolos religiosos dispostos
em faixas horizontais. Sua leitura era feita de baixo para cima e da esquerda para a direita. Os deuses
eram, geralmente, representados por meio de símbolos. Garbini (1966, p.44) ressalta que
História da Arte 19
alguns casos, o texto é emoldurado. Essa preocupação com a
clareza da composição e o cuidadoso arranjo dos planos aparece
também na arte da gravação de sinetes. O tradicional tipo neo-
sumeriano do adorador de pé diante de um deus e acompanhado
por um painel de escrita cede lugar, no período cassita, a uma
composição hierática, dominada por uma figura alongada, isola-
da no espaço e ladeada por colunas de inscrições.
Período assírio
Saiba Mais!
Os assírios eram um povo indo-europeu, oriundo do Cáucaso, que se estabeleceram no norte
da Mesopotâmia, na região do alto do rio Tigre por volta de 2.000 a.C. Sua principal cidade-estado e
posterior capital do Império Assírio era Assur. O auge do poderio assírio ocorreu entre 1.000 a 612 a.C,
estendendo-se desde a península do Sinai à Armênia e ocupando o Baixo Egito em 671 a.C.
Período neo-babilônico
Embora o Império assírio tenha caído em 612 a.C, com a conquista de Nínive pelos Medos e Citas,
vindos do Oriente, o comandante assírio proclamou-se rei da Babilônia, proporcionando um período de re-
nascimento cultural a essa cidade entre 612 a 539 a.C, até a dominação
persa. Assim, a Babilônia tornou-se o último reduto da cultura meso-
potâmica. O mais famoso governante desse período foi Nabucodo-
nosor II (604-562 a.C). Seu poder foi expresso através de construções
monumentais como grandiosos zigurates com mais de 100 metros
de altura e imponentes palácios com jardins suspensos. Por não ha-
ver pedreiras nessa região (diferente da Assíria), as construções foram
realizadas em tijolos cozidos e vidrados, usados em profusão de uma
forma decorativa surpreendente. O seu efeito pode ser apreciado na
Porta de Ishtar, uma viva composição colorida decorada por animais
sagrados em relevo, enquadrados por bandas, uma procissão de auro- Porta de Ishtar em tijolo vidrado, Babilônia,
chs (touros), sirruchs (semelhante a dragões) e leões. O vidrado azul c. 575 a.C. Altura: 14,0 m e largura: 10,0 m.
domina e serve de fundo para os animais. Museu Pergamon, Berlim, Alemanha.
História da Arte 21
Você Sabia?
Babel deriva do acadiano e significa Porta de Deus. A
Torre de Babel foi um famoso zigurate completamente destru-
ído. Sua construção é atribuída ao rei Nabucodonosor II.
Assim, a Torre de Babel é citada na Bíblia no livro do
Gênesis (11:1-9):
“Todo o mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas palavras.
Como os homens emigrassem para o oriente, encontraram um vale na
terra de Senaar [Babilônia] e aí se estabeleceram. Disseram um ao ou-
tro: “Vinde! Façamos tijolos e cozam-los ao fogo!” O tijolo lhes serviu
Torre de Babel. Peter Bruegel, o Velho. de pedra e o betume de argamassa. Disseram: “Vinde! Construamos
Óleo sobre madeira , 1563. Kunsthisto- uma cidade e uma torre cujo ápice penetre nos céus! Façamo-nos um
risches Museum, Viena. nome e não sejamos dispersos sobre toda a terra!”
Período persa
A civilização elamita (uma das que floresceu no sudoeste da Pérsia, atual Irã, por volta de 4.000 a.C.
Sua capital era Susa. Na segunda metade de terceiro milênio, eles entraram em guerra com os Sumérios
e com os Acádios. Esse contato teve influência em sua arte. A partir desse período iniciaram a constru-
ção de estelas e as esculturas de sua deusa Innin assemelharam-se às representações da deusa babilônica
Ishtar. Zigurates foram construídos na Pérsia. Durante o primeiro milênio, os medas e os persas iniciaram
a sua expansão. Em 539 a.C o aquemênida (uma das tribos dos persas) Ciro, o Grande tornou-se o rei dos
medos e dos persas e iniciou a conquista de territórios passando pelo Império babilônio, Fenícia, Síria,
Palestina até as fronteiras do Egito.
A arte do Império persa é uma síntese de diferentes tradições incorporadas dos povos dominados
e contatados. Para Giordani (1969, p.283),
Os palácios reais, nas diversas capitais do Império, são a grande expressão da arquitetura aquemê-
nida. O Palácio de Persépolis foi o mais ambicioso. Sua construção foi iniciada por Dario I em 518 a.C.
Utilizando várias técnicas e estilos, Persépolis era um símbolo do poder e da universalidade do Império
persa. A sala de audiências (apadana) de Persépolis tinha cerca de 125 m², 36 colunas de 12 metros de
altura. Outrora, possuía um telhado e suas paredes eram ornadas com pinturas de leões, touros e flores.
Os materiais mais nobres e belos eram usados para a sua decoração: ouro, pedras preciosas, cedro do
Líbano, tijolos esmaltados e pigmentos coloridos.
Assim, são característicos das construções aquemênidas dois elementos: a coluna em pedra e as
vergas de madeira, que possibilitaram a edificação das altas salas dos palácios de Passárgada, Susa e Persé-
polis. A coluna persa típica tem fuste canelado (influência grega da ordem jônia) e seu capitel é composto
por duas cabeças de touros (influência assíria). Há variantes com capitéis com leões e grifos.
História da Arte 23
O luxo e a grandiosidade desses palácios são descritos por uma inscrição de Dario em Susa que diz:
Assim, mão-de-obra e materiais eram importados de todo o Império para a glória persa. Há
indícios de que os palácios possuíam deslumbrantes jardins de desenho geométrico, alimentados
por um sistema de canais de irrigação.
Não há arquitetura religiosa nesse período dos persas aquemênidas, pois o culto do deus Ahura-
Mazda não necessitava de templos, ele era celebrado ao ar livre em altares onde era aceso o fogo, símbolo
desse deus supremo. Existem, sim, imponentes exemplares de arquitetura funerária. Destacam-se o Mau-
soléu de Ciro, o grande, e o hipogeu de Dario I. O Masoléu de Ciro foi feito em Passárgada, no estilo das
sepulturas gregas, dos jônios. O hipogeu de Dario foi escavado na rocha ao estilo das tumbas egípcias, na
encosta do Monte Husseim-Kuh, ao norte de Persépolis. Semelhante ao portal de um palácio, sua fachada
traz o relevo do disco do deus Ahura-Mazda. Seus sucessores adotaram o mesmo modelo de sepultura.
Portanto, na Mesopotâmia, vemos na arte diversas expressões que vão da religiosidade suméria em
busca de altos zigurates para seus deuses, o militarismo assírio e o esplendor profano do Império persa.
As primeiras tribos nômades se fixaram no vale e no delta do Nilo em tempos pré-históricos. Com
o desenvolvimento da agricultura, esses grupamentos criaram vínculos comunais, pois se reuniam para se-
mear as terras e irrigar as plantações após a cheia do Nilo. Eles formaram aldeias rurais que estruturaram-se
em províncias denominadas de nomos. Por volta de 4.000 a 3.500 a.C, impulsionados pela necessidade de
fortalecimento econômico e como estratégia de defesa contra os inimigos, os nomos agruparam-se em dois
reinos: o Alto e o Baixo Egito. A unificação do Egito, construída do sul para o norte, ou seja, do Alto para
o Baixo Egito, é atribuída ao primeiro faraó, Menés (entre cerca de 3.500 a 3.000 a.C), identificado como
Narmer. Com ele se iniciou a primeira de 30 dinastias egípcias, uma história de cerca de 3.000 anos.
O tipo de governo que surgiu com o nascimento do reino egípcio é a monarquia teocrática. Essa
caracteriza-se como um regime altamente centralizado, cuja base do poder do faraó está na religião. O
seu caráter divino, baseado na sua identificação como a encarnação do deus Hórus, tornava o seu poder
absoluto e inquestionável. O faraó era a autoridade máxima em todas as esferas (religiosa, administrativa,
social, econômica, judicial, militar), ele era o senhor de todas as terras e de todos os egípcios.
Como já vimos, na Mesopotâmia, também no Egito, com a urbanização, a organização do trabalho
e novas demandas de mercado, o artista tornou-se um profissional, embora permanecesse geralmente
como um artífice anônimo. Assim, como ressalta Hauser (1994, p.26),
A arte egípcia foi uma expressão do Estado Teocrático. A matéria prima preferida foi a pedra, ao
contrário da Mesopotâmia que tinha escassez deste material. Como os períodos artísticos estão vincula-
dos ao poder dos faraós, vamos abordá-los considerando a divisão didática da história egípcia em Antigo,
Médio e Novo Império.
História da Arte 25
dos séculos, só resta uma pequena parte no topo da pirâmide de Quéops. Interiormente, uma série de
corredores conduzem à câmara funerária onde era depositada a múmia. Esses corredores após o sepulta-
mento eram obstruídos com pedras como proteção.
Além da pintura dos relevos, a pintura sozinha, propriamente, dita ornava túmulos e até ricas
residências. Além disso, eram mais baratas que os relevos pintados, que envolviam a arte escultórica.
Na Mastaba de Nefermaat e de sua esposa Itet foram encontradas pinturas de cenas da vida diária de
excepcional qualidade. Uma dessas pinturas era um friso composto por gansos. Esse foi pintado na
técnica da têmpera, com pigmentos minerais diluídos em água.
História da Arte 27
Ao procurar compreender a escultura do Médio Império, em particular, é
importante ter em conta que a forma é primariamente modelada para receber a
luz, que agora assume um papel dominante. Assim, os volumes contidos do An-
tigo Império foram trabalhados com um modelado mais elaborado e suavizado
pelo jogo de luz e sombra.
Dessa forma, temos a escultura do faraó Amenemhet III, executada na tra-
dição de Mênfis, com uma expressão serena, mas quase triste.
Na decoração das tumbas, os relevos foram substituídos pelas pinturas. Cenas
com animais são bastante freqüentes. As pinturas mais célebres desse período foram
descobertas em Béni Hasen. No túmulo de Ukhotep, em Meir, as cores são intensifi-
cadas por variações de tons numa espécie de técnica pontilhista. Exemplo bem pre-
Escultura do faraó Ame- servado dessa técnica é a pintura do sarcófago de Djehuty-nekht, da 12ª dinastia.
nemhet III, 12ª dinastia,
1840-1.800 a.C. Museu
de Berlim, Alemanha.
História da Arte 29
No Novo Império, as esculturas eram realizadas em busca de graça e elegância. Embora houvesse
um maior realismo nos rostos, as regras de composição ainda eram seguidas. Uma das maiores contribui-
ções desse período foi a pintura. Utilizada em maior escala na decoração dos túmulos do Vale dos Reis,
agora era independente dos relevos. Enquanto os túmulos reais estão submetidos a rígidas convenções,
os túmulos particulares oferecem maior liberdade. Um exemplo dessa nova fase é o grupo de carpideiras
do túmulo de Ramose vizir de Amenhotep III, de cerca de 1.370 a. C. Essa cena recebeu um tratamento
cromático limitado a tons de cinza, preto e castanho de modo a enfatizar a dramaticidade do tema.
Atividade complementar
1. .A partir do exposto, como você definiria arte?
4. .Por que podemos considerar a arte egípcia uma arte para a eternidade e não uma arte da morte?
5. De modo geral, nessas primeiras civilizações, qual era o principal propósito da arte?
História da Arte 31
Saiba Mais!
Estante do historiador
Cinema e história
História da Arte 33
fora de Creta. Quanto ao estilo delas, Janson (1984, p.87) acredita numa influência dos orantes da Meso-
potâmia devido à “forma acentuadamente cônica da figura, os olhos enormes e as espessas sobrancelhas
arqueadas que sugerem um parentesco – remoto e indireto, possivelmente por via da Ásia Menor”.
Arte micênica
A Civilização Micênica (1.600 a 1.100 a.C), deriva da cidade de Micenas, localizada na Grécia con-
tinental, a 90 km do sudoeste de Atenas. Acredita-se que os aqueus, povos nômades indo-europeus, mais
evoluídos tecnologicamente, que migraram para a Grécia por volta do séc.XVI a.C originaram a civilização
micênica. Segundo os estudiosos, a sociedade micênica era próspera e dominada por uma aristocracia guer-
reira. Seus nobres eram enterrados em grandes tumbas circulares em pedra. Máscaras mortuárias em ouro e
jóias foram encontradas nas sepulturas. Esse período termina com a invasão dos dórios, gregos do norte.
A arquitetura micênica tinha uma monumentalidade e
um militarismo que não existiam em Creta. Os palácios eram
fortificações situadas sobre colinas, cercadas por muralhas de-
fensivas. O Palácio de Tirinte possuía grossas muralhas forma-
das por grandes blocos de pedra. Upjohn (1979, p.145) aponta
uma influência minóica ao descrever o palácio, a disposição das
portas, pátios e salas era provavelmente de origem minóica, as-
sim como o tipo de colunas à entrada do palácio. A sala princi-
pal, que se seguia ao pórtico, era, sem dúvida, o megaron [sala
Detalhe da Muralha do Palácio de Tirinte, principal do palácio, sala de audiências] de que nos fala Home-
séc. XIV a.C.
ro; tinha, ao centro,
um lar sem cobertura. Vinham, em seguida, as salas das mulhe-
res, ou thalamus, que comunicavam com megaron por meio de
corredores sinuosos fáceis de vigiar. O teto das diferentes salas
era feito de vigas de madeira, tal como no palácio de Cnossos.
As muralhas dos palácios possuíam imponentes portas
de acesso. Uma delas é a Porta dos Leões , em Micenas. Ela é
decorada no alto com o relevo em pedra de dois leões afron-
tados, ladeando uma coluna cretense simbólica. Esses leões
guardiões, de corpos fortes e musculosos numa composição
simétrica, indicam uma influência mesopotâmica. A Porta dos Leões. Acrópole de Micenas, c.
1.250 a.C.
História da Arte 35
ARTE GREGA
Saiba Mais!
Apesar de não ser esplendorosa como o Egito e a Mesopotâmia, a Grécia era uma boa mãe.
Era uma terra rica em materiais para a escultura e a arquitetura: madeira, pedras calcáreas e mármo-
re. O ideal artístico ocidental nasceu e está vinculado à Grécia. Para efeitos didáticos, a arte grega
pode ser dividida em três períodos: arcaico, clássico e helenístico.
No período arcaico surgiram as ordens dórica e jônica. A ordem principal foi a dórica que trazia o
equilíbrio entre a solidez maciça e o refinamento. A coluna não possui base, seu fuste é ornado por caneluras
e não é perfeitamente cilíndrico, diminuindo da base para o topo. Segundo Upjohn (1979, v.1, p.172),
A ordem jônica assenta-se sobre uma base, o fuste tem caneluras semicirculares mais profun-
das e separadas umas das outras por uma estreita banda. O capitel é composto por duas volutas ou
espirais unidas por linhas fletidas.
A principal manifestação arquitetônica grega desse período foi o templo. Ele era composto pelas
seguintes partes essenciais: cella ou naos, pronaos, antas ou antae, pteromas, peristilo. A cella ou naos
era o local mais sagrado, onde ficava a imagem do deus protetor do templo. O pronaos era uma área in-
termediária acessado através de duas colunas centrais ladeadas por pilastras que formavam o pórtico de
entrada, as antas ou antae. Os pteromas eram as passagens laterais do templo, externas à cella. O peristilo
História da Arte 37
era o conjunto de colunas (colunata) externo assentado sobre
o estilóbato (piso final).
Esculturas arcaicas: Koré de Auxerre, O kouro, diferentemente da koré, está sempre nu. As
séc. VI a.C; Hera de Samos em már- formas são vigorosas e compactadas, os músculos e a rótula do
more, c. 560 a.C; Koré com peplos joelho são acentuados. Em muitos exemplares os punhos estão
dóricos em mármore, c. 530 a.C. ligados às coxas. O cabelo é estilizado. Do rosto, destacam-se os
olhos grandes que procuram fitar os observadores.
Quanto à pintura no período arcaico, dos murais e painéis quase nada restou. A pintura ce-
râmica é que nos fornece uma riqueza de exemplares. Sua decoração é essencialmente figurativa.
A temática engloba cenas mitológicas, lendas e vida cotidiana. Janson (1984, p.97)
ressalta que Kouros em már- more, c.
525 a.C. Alt.: 1,96m. Museu Na-
cional de Atenas, Grécia.
a qualidade artística de muitos exemplares é
elevada, sobretudo nos de Atenas, cuja beleza merecia tal estima que
os melhores ostentam, com freqüência, a assinatura dos seus auto-
res (a partir dos meados do séc. VI). Indício certo de que os artistas
História da Arte 39
foram os maiores expoentes na estatuária. Segundo Upjohn (1979, p.181), “o escultor grego experimentava
continuamente. Contrariamente ao que se passava no Egito, a tradição artística não tinha um papel limitativo”.
A estatuária monumental em movimento foi uma das mais interessantes realizações desse período. Os seus
mais representantivos exemplares foram uma escultura de Poseidon e o Discóbolo de Míron. O Poseidon
(para alguns seria Zeus) em bronze, um nu masculino com mais de dois metros, traz o deus em uma posição
de arremesso (o tridente se for Poseidon ou o raio se fou Zeus), um movimento magnificamente capturado.
O Discóbolo, o atleta lançador de disco, foi criado pelo escultor Míron. Retrata o movimento de lan-
çamento através da torsão do tronco, a elevação do braço direito e a posição das pernas. Ele reflete “o domí-
nio do movimento nas estátuas de vulto redondo”, que “veio exercer uma influência libertadora na escultura
dos frontões, dotando-a de um novo sentido espacial, de fluidez e equilíbrio” (JANSON, 1984, p.130).
Não há pinturas murais nem painéis deste período, apenas pintura
cerâmica. A pintura cerâmica foi perdendo qualidade, entrando em de-
cadência no final do séc. V a.C. Para Janson (1984, p.97), pouco a pouco
“se perdeu o hábito de assinar as peças, tal como declinavam as ambições
destes pintores cuja época fora o Período Arcaico, até c. 475, quando os
melhores gozavam de prestígio igual ao dos outros artistas”. Os melhores
exemplares desse período são os lekythos, pequenos jarros para azeite, usa-
dos para ungüentos e como oferendas funerárias. Esses jarros possuíam
um revestimento em branco onde era aplicado o desenho decorativo. O
melhor pintor de lekythos foi o artista conhecido pela alcunha de “Pintor
de Aquiles”. Seu desenho é de grande qualidade e vivacidade, imprimindo
profundidade nas formas e dinamismo à composição. Lekythos decorado pelo Pin-
tor de Aquiles. Cerâmica áti-
ca, c. 450-440 a.C.
Período Helenístico (336 a 146 a.C)
Nesse período, a mentalidade grega foi profundamente modificada. Marcado pela cultura grega,
Alexandre, o Grande, (356-323 a.C.), que teve como mestre o grande filósofo Aristóteles, realizou com
a sua conquista do mundo um processo de fusão das culturas grega e orientais que se configurou num
estilo chamado helenístico. Seus principais representantes encontram-se expressos na arte escultórica.
Nesse período, “o escultor torna-se cada vez mais livre; ele já não tem de limitar-se a um certo número
de tipos bem definidos e, a partir de então, pode representar a velhice ou a infância, dedicar-se às cenas
de costumes inspiradas na vida quotidiana, utilizar francamente o relevo com finalidade narrativa ou des-
Arte etrusca
Os etruscos ocupavam a planície da Etrúria, entre os rio Arno e Tibre e a Ilha de Elba. Provavelmente
,eram originários da Ásia Menor. Possuíam escrita, viviam em cidades-estados (lucomonias), tinham agricultura
desenvolvida, artesanato de alto nível e um intenso comércio marítimo com o sul da Itália, Sicília e Cartago (antiga
colônia fenícia). Eram o povo mais avançado e poderoso da região. Por volta do séc.VII a.C, os etruscos iniciaram
a sua expansão territorial pela Itália e ocuparam o Lácio, terra dos
latinos. Roma foi governada por reis etruscos por cerca de um século
até a instauração da República em 510 a.C. Portanto, a arte etrusca
está na base da arte romana.
Embora pouco reste da arquitetura etrusca, vestígios e
documentos indicam que os etruscos foram grandes mestres
na engenharia arquitetônica, no urbanismo, na topografia, na
construção de pontes, sistemas de drenagem, aquedutos e for-
tificações. A Porta Augusta é prova desta maestria. Essa entra-
da fortificada, datada do século II a.C., é maciça e imponente. Porta Augusta, Perúgia, séc. II a.C.
Nela, pela primeira vez, o arco pleno é integrado a uma ordem
História da Arte 41
arquitetônica grega (no caso, dórica), combinação que posteriormente os romanos desenvolveriam com
grande variedade (JANSON, 1984, p.152).
Da arquitetura religiosa, só restaram os alicerces de pedra, uma vez que eles eram construídos em
madeira. Seu traçado apresenta nítida influência dos templos gregos mais simples. Quanto à arquitetura
funerária assemelham-se ao conceito de residências para o além. A câmara funerária de Cerveteri foi es-
cavada na rocha e reproduz o interior de uma residência etrusca, incluindo o travejamento do teto. Janson
(1984, p.149) descreve outros detalhes como
Saiba Mais!
Herdeira da arte etrusca e influenciada pela arte grega, a arte romana pode ser dividida em
dois períodos: período republicano e período imperial.
Em 509 a.C, os romanos depuseram o último rei etrusco, Tarquínio, o Soberbo. Os patrícios revol-
taram-se com a dominação etrusca e a tirania do rei, assumindo o poder e instituindo a República.
A arquitetura é a expressão da arte romana por excelência. No final do séc.I a.C., novos materiais e
métodos construtivos foram utilizados. Arcos, abóbadas, cúpulas, tijolo, betão e outros foram combina-
dos. Na arquitetura religiosa destacam-se o Templo da Fortuna Virilis e o Santuário da Fortuna Primigê-
nia. O templo romano necessita de maior espaço interno, pois, além de abrigar a estátua do deus ao qual
História da Arte 43
Período imperial (27 a.C a 476 d.C.)
A pax romana trouxe benefícios a todos, sobretudo aos romanos. Mercadorias de várias partes do
mundo afluíam para Roma. Eram gêneros de primeira necessidade e artigos de luxo. A prosperidade e
o elevado número de escravos aumentavam o ócio. Os ricos entretinham-se em banquetes opulentos e
divertimentos exóticos. Custeado pelo Estado, o povo recebia alimento e assistia aos jogos e as lutas vio-
lentas. A política do pão e circo fora mantida e incrementada. Era a degeneração dos costumes romanos.
Os resultados embora não imediatos, quando se revelaram, foram catastróficos.
Saiba Mais!
Segundo Françoise Choay (2006, p.33),”os objetos gregos espoliados pelos exércitos roma-
nos começam por entrar discretamente no interior de algumas residências patrícias, mas seu status
muda no momento em que Agripa pede que as obras entesouradas no recôndito dos templos sejam
expostas à vista de todos, à luz viva das ruas e dos grandes espaços públicos”.
Dentro do espírito propagandístico imperial, além das esculturas ple- Augusto, de Primaporta, em
nas, estavam os relevos comemorativos. Merece destaque a Coluna de Trajano, mármore, Altura de 2 m. Mu-
seus do Vaticano, Roma.
erigida para celebrar as campanhas vitoriosas do imperador sobre os Dácios
História da Arte 45
(antigos habitantes da Romênia). Essa narrativa é contada através de baixos relevos, dispostos em faixa con-
tínua ascendente em espiral, que revestem toda a superfície da coluna. No alto da coluna ficava uma estátua
do imperador e a base servia para guardar as suas cinzas.
A pintura mural desse período é marcada pela tendência ilusiva. Sem molduras, as cenas pintadas
visam não imitar a realidade, mas criar ilusões visuais integradas à realidade. As pinturas da Villa de Lívia,
em Primaporta exemplificam essa intencionalidade.
Quanto à tradição do retrato, há um impressionante conjunto de retratos na região de Faium, no
Egito. Os mais antigos foram datados como pertencentes ao séc. II d.C. Seguem a tradição da arte funerária
egípcia, no costume de fixar o retrato do defunto ao seu corpo mumificado. Janson (1984, p.189) ressalta
ARTE PALEOCRISTÃ
A arte do período das primeiras manifestações da arte cristã, até o século V a.C., é de-
nominada Paleocristã ou Arte Cristã Primitiva. É também denominada Cristandade
Clássica, pois se refere à sua expressão sob o Império Romano. Há dois momentos dessa
arte: a fase de perseguição (até 313 d.C) e a fase de oficialização (313 – 476 d.C).
História da Arte 47
ticulação do espaço interior num núcleo cilíndrico fechado por
cúpula e iluminado por janelas (clerestório) – correspondente
à nava da basílica – e num deambulatório anular ( ou nave)
coberto por uma abóbada de berço” (JANSON, 1984, p.197).
No século IV surgiram os primeiros batistérios e capelas fune-
rárias ligadas a igrejas basilicais.
As igrejas paleocristãs eram decoradas com pinturas e mosai-
cos aplicados sobre as paredes da nave, arco triunfal e abside. Os mo-
saicos eram compostos por pequenas peças de materiais coloridos
assentados sobre gesso, dispostos de modo a formarem desenhos.
Segundo Janson (1984, p.198), Interior da Igreja de Santa Costanza,
Roma, c. 350 a.C.
Dessa forma, esses mosaicos tinham um colorido vivo e uma variedade de tons, incluindo o dourado, bas-
tante utilizado. A narrativa bíblica é a temática dominante, onde os olhares e os gestos das figuras são essenciais.
2. Por que a arte grega clássica é considerada como o apogeu da arte na Antiguidade?
3. Podemos considerar a arte helenística como fruto de um processo de globalização? Por quê?
História da Arte 49
Saiba Mais!
Estante do historiador
História geral da arte – Escrito pelo Prof. H.W.Janson, editado pela Martins
Fontes em 3 volumes. Em 2.001 encontrava-se em sua 2ª ed. Esta obra, funda-
mental e panorâmica, aborda da Pré-História à atualidade, destacando a varieda-
de infinita da produção artística através da apresentação de muitas ilustrações.
Cinema e história
Quo vadis – Produção norte-americana da MGM, dirigi-
da por Mervyn Leroy, lançado em 1951. Conta a saga de
um comandante romano que se apaixona por uma jovem
cristã e se converte ao Cristianismo, passando a ser per-
seguido por Nero. É interessante a cena que demonstra a
identificação dos cristãos através de seus símbolos. Traz
no elenco Robert Taylor, Debora Kerr e Peter Ustinov.
DA ORIENTAÇÃO RELIGIOSA À
BUSCA DE NOVOS CONCEITOS
ARTÍSTICOS
Com a queda do Império Romano do Ocidente em 476, o mundo conhecido até então
sofreu uma grande instabilidade e transformação. Sobre as ruínas desse mundo antigo,
uma nova estrutura foi sendo construída, baseada na religião cristã. Artisticamente, a
arte paleocristã foi sendo substituída por expressões fragmentadas decorrentes da conver-
são dos povos “bárbaros”, que incorporaram as suas tradições. Somente no século XI
surge o primeiro estilo medieval: o Românico, seguido posteriormente pelo Gótico.
O Românico é um termo criado pelo arqueólogo Charles de Gerville em 1820, para caracterizar
uma arte medieval aos moldes de Roma. Esse estilo combina as tradições locais dos povos “bárbaros”
com influências romanas e bizantinas cristãs. Ele se estrutura a partir do substrato técnico e tecnológi-
História da Arte 51
visto que proclamava o dever, para todo o cristão, de le-
var o Evangelho até aos confins da Terra. Das mãos de
Cristo, que ascendende majestosamente ao Céu, emanam
os raios luminosos do Espírito Santo, caindo sobre os
Apóstolos, todos com textos da Sagrada Escritura, alusi-
vos à sua missão. O lintel e os compartimentos em redor
do grupo central estão ocupados por representantes do
mundo pagão, uma verdadeira enciclopédia da antropolo-
gia medieval que inclui toda a espécie de raças lendárias.
Na arquivolta (o arco que envolve o tímpano) reconhe-
Arcos concêntricos e tímpano decorado da Basí- cemos os signos do Zodíaco e alguns dos trabalhos pró-
lica de Vézelay. França, 1120-32. prios de cada mês do ano, para indicar que a pregação da
Fé não tem limites no tempo, nem no espaço.
Você Sabia?
A pintura românica é narrativa. Ela desco-
nhece a perspectiva, as regras de proporção e a
naturalidade das figuras. As cenas são demarca-
das geralmente por bandas horizontais. A téc-
nica mais utilizada era o afresco. Cores vivas e
intensas eram empregadas, sendo as mais usuais:
Igreja de San Isidro de Leon, Espanha.
ocre, vermelho, amarelo, branco e negro.
Já Van Eyck procurava registrar na pintura os aspectos da vida urbana e da sociedade de sua época. Em suas
pinturas evidencia-se um cuidado com a perspectiva, objetivando mostrar os detalhes e as paisagens. Ele foi um
dos primeiros a trabalhar com a perspectiva aérea. Além disso, seus quadros são extremamente simbólicos. No
retrato de casamento de Giovanni Arnolfini e sua mulher, uma das obras primas desse período gótico tardio, todo
o cenário está repleto de simbolismo. Jason (1984, p.360) descreve os elementos desse quadro:
História da Arte 53
a única vela do lustre, acesa em pleno dia, representa Cristo omnividente (observem-se as
cenas da Paixão na moldura do espelho); os sapatos que os noivos descalçaram lembram-
nos que eles se encontram sobre um “chão sagrado”; até o pequeno cão é um emblema
de fidelidade conjugal e a mobília do aposento sugere interpretações do mesmo gênero.
O mundo natural, (...), é feito para conter o mundo do espírito, de tal maneira que os dois
se tornem atualmente num só.
O RENASCIMENTO E O MANEIRISMO
História da Arte 55
de perspectiva linear, baseado na matemática, em linhas
paralelas que convergem para um único ponto, o ponto de
fuga da composição. Nesse período destaca-se Masaccio,
um jovem gênio que viveu apenas 27 anos. A mais antiga
das suas obras é o afresco de 1425 A Santíssima Trindade com
a Nossa Senhora e São João, em Florença. Além das figuras
divinas e santas, traz dois membros da família Lenzi ajo-
elhados, cujo túmulo fica atrás da pintura. Esse conjunto
está inserido num cenário arquitetônico renascentista re-
presentado dentro dos princípios da perspectiva científica.
Na parte inferior da pintura, um esqueleto jacente com a
inscrição “O que és, já fui; o que sou, tu virás a ser”.
Sandro Botticelli, discípulo de Fra Filippo Lippi e pro-
tegido dos Médici, expressa o apogeu do movimento enér-
gico e contornos linares agitados. Provavelmente, a sua obra
mais famosa seja Nascimento de Vênus. Seu tema é a mi-
tologia grega. A modelo que foi retratada como Vênus era
Simonetta Vespucci, considerada a mulher mais bela de sua
Saiba Mais!
Esse é o período do Renascimento propriamente dito, do apogeu, do triunfo dessa nova arte
classicista. O panorama havia mudado, a instabilidade política fez com que as grandes cidades enfra-
quecessem e um novo poder começasse a ascender: o Papado. Roma, sob o Papa Júlio II (1503-1513),
tornou-se o grande centro cultural do Ocidente. Para Roma convergiram os grandes artistas do perí-
odo, contribuindo com a glória de Deus, da Igreja Romana. Buscava-se a eternização do homem.
História da Arte 57
a “ação em suspenso”, tão característica de Miguel Ângelo (JANSON,
1984, p.425). Sobre ele o historiador da arte Giorgio Vasari (1511-1574)
disse que “roubara o ribombar de todas as estátuas, modernas ou antigas,
gregas ou latinas” (MARTINDALE, 1966, p.74).
Essa mesma intensidade Miguel Ângelo imprimiu na sua grandio-
sa obra de pintura: a Capela Sistina. Esse monumental espaço narrativo
abrange da criação ao juízo final. Miguel Ângelo levou quatro anos, de
1508 a 1512, para executar a decoração do teto e altar-mor em afresco. As
cenas estão distribuídas dentro de molduras arquitetônicas pintadas. Na
área central estão nove cenas do Gênesis. A cena central de destaque é a
Criação de Adão, composta com grande dinamismo, representando não a
mera modelagem de um corpo, e sim o momento em que Deus lhe trans-
mite a vida, concede-lhe a centelha divina, a alma. O grande afresco do al-
tar foi pintado por Miguel Ângelo em 1534, mais de vinte anos depois do
teto. O tema foi o Juízo Final, o final da trajetória humana. Essa diferença
temporal entre a feitura do teto e a do altar exprime os novos conceitos, Davi. Escultura em mármore de
as mudanças ocorridas. A vitalidade da obra do teto contrasta com visão Miguel Ângelo, 1501-1504. Altu-
ra de 4,089m. Museu da Acade-
sombria do altar. Em 1534, vivenciava-se a crise da Reforma. mia, Florença.
Você Sabia?
Segundo Janson (1984, p.428), no afresco
do Juízo Final da Capela Sistina, executado em
1534, Miguel Ângelo se autoretratou. Ele pode
ser visto à direita da figura central do Senhor,
personificando o apóstolo Bartolomeu, sentado
numa nuvem, segurando na mão a própria pele
(pois o santo foi esfolado em seu martírio).
Maneirismo (1520-1610)
Na verdade, o Renascimento pleno durou apenas até 1520. O ambiente otimista, confiante do
Humanismo Renascentista estava ameaçado devido às instabilidades política, econômica e religiosa. A
arte que se seguiu a esse período era uma arte pós-clássica. O termo Maneirista, segundo Hauser (1994,
p.368), foi usado por Vasari para designar a maneira individual do trabalho artístico. Bellori e Malvasia,
no século XVII, ligaram esse conceito a um estilo afetado e trivial da arte, uma ruptura do classicismo re-
nascentista. Para alguns historiadores da arte, o Maneirismo é o declínio do Renascimento ou a transição
entre o Renascimento e o Barroco e, para outros, é um estilo artístico. Seja como for, o Maneirismo pos-
sui características singulares: decomposição da estrutura renascentista de espaço, estilização das formas,
profusão de detalhes, deformação das figuras, distorção da luz, efeitos visuais utilizando cores intensas,
busca pela expressão emocional.
Saiba Mais!
O Maneirismo é a expressão da aristocracia, culta e internacional. É o estilo palaciano, das cortes
européias, do absolutismo em expansão. É também um momento de crise religiosa, da Igreja ameaça-
da pelos movimentos reformistas em busca de uma reafirmação, reação através da Contra-Reforma.
História da Arte 59
Enquanto na arquitetura a identificação do Maneirismo é difícil, na
escultura e na pintura existe uma variedade de exemplares. As últimas obras
escultóricas de Miguel Ângelo (como a Pietà Rondanini) e as algumas pin-
turas de Rafael já são expressões do novo estilo. A escultura maneirista
lembra o período helenístico. As formas distorcidas, contorcidas são bem
expressas na obra do flamengo Jean de Boulogne (1529-1608), que ado-
tou o nome italiano de Giovanni Bologna. O tema baseia-se em lendas da
Roma Antiga. A composição possui uma movimentação teatral que iria se
consolidar no Barroco. Seu movimento é em espiral ascendente configura-
do através dos corpos extremamente contorcidos das figuras humanas.
Na pintura, Rosso Fiorentino e Pontorno representam o anticlas-
sicismo maneirista. As figuras são distorcidas mas trazem uma rigidez
que só será quebrada com outros artistas desse período. Parmigiano e
Bronzino também denotam uma grande objetividade na representa-
ção. Os maiores expoentes maneiristas serão Tintoretto(1518-1594) e
El Greco (cognome do cretense Domenikos Theotokopoulos, 1541-
1614), precursores do Barroco. Eles conseguem criar uma atmosfera
de tensão, onde corpos contorcidos e rostos melancólicos sob uma ilu-
minação cênica, dramática expressam uma emocionalidade febril. El
Greco assimilou as lições de Tintoretto. Na obra O Enterro do Conde
O Rapto das Sabinas. Giovani de Orgaz, considerado seu mais representativo trabalho, todas as for-
Bologna. Escultura em mármore,
mas apresentam um movimento alongado vertical em direção à figura
1583. Altura: 4,11m. Loggia dei
Lanzi, Florença. de Cristo no alto, ao centro. Predomínio das cores e das texturas na
composição das formas e não as linhas, o contorno. O fundo é negro.
O contraste entre luz e sombra confere a dramaticidade da composição, onde as figuras divinas e
santas são banhadas por uma luz diáfana. Enquanto o corpo desce, a alma do conde é elevada por
um anjo contorcido no centro.
O Barroco foi o estilo dominante entre 1600 a 1750. O significado do termo barroco é irregular,
grotesco, deriva da palavra portuguesa que designava uma pérola de formato irregular. Começou a ser
empregado no século XVIII. Para alguns autores, esse é o estilo da Contra-Reforma, do Absolutismo.
Irradiado a partir de Roma, espalhou-se por toda a Europa e suas colônias. O Barroco quebra o equilíbrio
renascentista entre a emoção e a razão, optando pelo apelo emocional. O homem barroco é um homem
dividido, inquieto, em conflito entre o carnal e o espiritual, o bem e o mal, o pecado e a salvação.
Saiba Mais!
A arte barroca é teatral e tem como características: a sedução sensória para fazer o espectador
se inserir na obra; uso de formas curvas, contracurvas para criar movimento; utilização de colunas
retorcidas na arquitetura; contraste entre luz e sombra para criar dramaticidade; emprego de efeitos
ilusionistas; profusão decorativa.
História da Arte 61
pela grandiosidade era uma marca do Barroco. Todo o blo-
co central interno da fachada do jardim é ocupado por uma
única sala, o espetacular Salão dos Espelhos, tendo em suas
extremidades o Salão da Guerra e o Salão da Paz. O interior
do palácio é profusamente decorado, criando verdadeiros
cenários para a monarquia e corte francesa. O projeto do
jardim, de André Le Nôtre, integra-se ao plano do palácio,
tornando-se seu prolongamento.
A escultura barroca é, essencialmente, dramática. Nela
a linha curva imprime a dinâmica que impulsiona as posições Palácio de Versailles. França, séc.XVII.
e os revoltos panejamentos das vestes. O uso do dourado, os
gestos teatrais e as expressões de fortes emoções são outras carac-
terísticas. Gianlorenzo Bernini (arquiteto, urbanista, decorador e es-
cultor) foi o mestre do ilusionismo. Ele foi o autor do majestoso bal-
daquino da Igreja de São Pedro, em Roma, com suas movimentadas
colunas torcidas, chamadas de salomônicas. Sua obra mais completa,
que une a escultura à arquitetura e à pintura é O Êxtase de Santa Te-
resa, em Roma. Ela representa a experiência mística de Santa Teresa
d’Ávila, uma das grandes santas da Contra-Reforma. A emocionante
composição é reforçada através da luz natural, proveniente de uma
janela no alto escondida, filtrada por um vidro amarelo, que ilumina
os raios metálicos dourados.
A pintura barroca tem compo- O Êxtase de Santa Teresa, escultu-
sição assimétrica, forte oposição entre ra em mármore, 1646-48. Gianlo-
o claro-escuro (que intensifica os volu- renzo Bernini. Capela Cornaro, S.
mes) e intensidade dramática. Entre o Maria della Vittoria, Roma.
sagrado e o profano, muitos pintores
se destacaram. Caravaggio e sua luminosidade dirigida; Andrea Pozzo com
seus tetos ilusionistas das igrejas; Velázquez como o retratista documental da
corte espanhola; Rembrandt com suas gradações luminosas, etc. O pintor
flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640) contribuiu para a disseminação do
Barroco fora da Itália. Em seu Maria de Médici desembarcando em Marse-
lha ele transforma o tema numa cena teatral, num espetáculo. Figuras mito-
lógicas Greco-romanas engrandecem a composição: no alto a Fama, abaixo
Maria de Médici, rainha da Fran- Netuno e sua corte de sereias e tritões. O movimento em espiral conseguido
ça, desembarcando em Marse- pelos corpos contorcidos, panejamento revolto, torna-se vibrante pelo colo-
lha. Rubens, 1622-23. Dimen- rido excepcional de cores quentes (vermelho, amarelo) que contrastam com
sões: 63,5 x 50,2 cm.Pinakothek, as peles claras e luminosas das figuras humanas.
Munique, Alemanha.
Rococó
O termo Rococó parece derivar da palavra rocaille, concha. Esse movimento artístico entre o Barroco
e o Neoclássico, surgiu no início do século XVIII e dominou até cerca de 1770. Essencialmente, era um
movimento decorativo de atuação profana, marcado pela alegria e a frivolidade da corte. Era requintado, ele-
gante, delicado e intimista, em contraposição à ostentação barroca. Suas principais características eram o uso
abundante de formas curvas, principalmente em “S”, e pela profusão de elementos decorativos, tais como
conchas, laços e flores, emprego de cores de tons pastéis, estilização de motivos fitomorfos em ornatos. Sua
temática eram as cenas mitológicas pastoris, as fêtes galantes (diversões da corte), cenas eróticas.
História da Arte 63
NEOCLÁSSICO E ROMANTISMO
Enquanto o Rococó era o estilo da corte, da aristocracia palaciana, o Neoclássico se tornou o estilo
da burguesia que ascendeu ao poder no final do século XVIII, com a Revolução Francesa e o Império
Napoleônico. Suas principais características foram o retorno ao passado classicista e o academicismo
expresso na temática e nas técnicas. Suas obras são construídas em busca de equilíbrio e simplicidade.
Diferentemente dos renascentistas, a influência clássica não foi revivida, mas adaptada à nova realidade,
ao mundo moderno do Neoclássico. Segundo Kitson (1966, p.154), o Neoclássico
História da Arte 65
A expressividade pictórica da pintura ro-
mântica contrasta com a frieza e distanciado da
neoclássica. Suas características são o movimento
das formas, que se aproxima do Barroco; compo-
sição dinâmica em linhas diagonais; valorização
das cores e do claro-escuro, usados para imprimir
dramaticidade. Seus temas são as cenas históricas
e mitológicas. Seus principais artistas foram o es-
panhol Goya (1746-1828), retratista da corte espa-
nhola e dos horrores da guerra; o inglês William
Turner (1773-1851), com suas visões etéreas pinta-
das com vapor colorido (segundo Constable apud
JANSON, 1984, p.577) e o francês Ferdinand-
Victor Eugène Delacroix (1798-1863) com suas
composições dramáticas e simbolismo cromático. A Liberdade guiando o Povo, 1830. Delacroix. Museu do Louvre,
Paris, França.
Delacroix foi um mestre da cor. Dedicou-se à sua
pesquisa e desenvolveu uma técnica de representação da sombra, não através do sfumatto renascentista,
mas através da aplicação de cores complementares. Dentre as suas obras, destaca-se por sua emblemática
temática, A Liberdade guiando o Povo, realizada em 1830, dentro do espírito nacionalista romântico.
Você Sabia?
Entre 1850 e 1900 surge um movimento artístico denominado
Realismo. Ele rejeita o imaginário romântico e as convenções aca-
dêmicas. Esse estilo buscou uma visão objetiva e simples da vida. O
artista realista não devia modificar ou idealizar o real e, sim, retratá-lo
fielmente. Seus principais artistas foram Daumier, Millet e Courbet.
Atividade complementar
1. Podemos considerar a arte medieval, mais especificamente os estilos Românico e Gótico, como
expressão da arte religiosa? Por quê?
5. Até o Neoclássico, podemos considerar a história da arte como uma alternância entre ressurgi-
mentos clássicos e reações anticlássicas? Por quê?
Saiba Mais!
Estante do historiador
História social da arte e da literatura – Escrito por Arnold Hauser, editado
pela Martins Fontes desde 1994. Essa obra estuda as relações entre a sociedade,
a literatura e a arte, consideradas do ponto de vista histórico. Enfoca desde o
período do Paleolítico, passando pela Idade Média, Renascimento e Barroco, até
chegar ao século XX.
Cinema e história
Agonia e êxtase – Produção norte-americana da 20th Century Fox,
dirigida por Carol Reed, lançado em 1965. Charlton Heston e Rex
Harrison interpretam duas das mais marcantes personalidades da
Renascença italiana: Michelangelo e o Papa Júlio II. O filme aborda a
tensa relação entre eles durante a pintura da Capela Sistina.
História da Arte 67
NOVAS IMPRESSÕES: DO
IMPRESSIONISMO AO PÓS-
MODERNISMO
IMPRESSIONISMO
Você Sabia?
O movimento impressionista nasceu nas reuniões com seus principais pintores no estúdio foto-
gráfico de Nadar, na Rue de Capucines, Paris.
Há poucas mulheres presentes na História da Arte. No Impressionismo está presente a figura
da pintora francesa Berthe Morisot (1841-1895). Discípula de Corot e Millet, começou a buscar novos
caminhos. Conheceu o pintor impressionista Manet, tornando-se sua discípula e passando a pintar
ao ar livre, e acabou casando com um irmão deste. Foi a primeira mulher aceita no grupo dos artistas
impressionistas, participando da primeira exposição destes em 1874. Pintora de paisagens, seu tema
principal foram as cenas da vida doméstica, que trata com extraordinário lirismo. Sua característica são
as pinceladas curtas e rápidas que diluem os contornos das formas.
História da Arte 69
PÓS-IMPRESSIONISMO
designa um grupo de artistas que, tendo passado por uma fase im-
pressionista, se sentiram insatisfeitos perante as limitações do esti-
lo e o ultrapassaram em diferentes direções. Como não partilhavam
um objetivo comum, torna-se difícil encontrar para eles um termo
mais descritivo que o de Após-Impressionismo. Em todo caso, não
eram ‘anti-impressionistas’. Longe de tentarem desfazer os efeitos da
‘Revolução de Manet’, quiseram, pelo contrário, levá-la mais além. O
Após-Impressionismo é uma fase mais tardia do movimento que co-
meçara na década de 1860 com quadros como o Déjeuner de Manet.
Assim, o Pós-Impressionismo foi uma busca empreendida por artistas impressionistas, individu-
almente, por novos caminhos, novas formas de expressão. Não há uma unidade entre eles, nem técnica
nem temática. Não há um programa único. Não há uma organização formal. Apenas uma origem co-
mum: o Impressionismo. As experiências deles irão influenciar os movimentos da Arte Moderna.
O pintor francês Paul Cézanne (1839-1906) passou a buscar a
representação através da redução dos objetos a formas geométricas
tridimensionais: esfera, cubo, cilindro, etc. Por isso, é um precursor
do movimento Cubista. O volume e as cores fortes são essenciais em
sua obra. Para ressaltar o volume realizava distorções das formas e
acentuava os contornos em preto. Interessava-lhe “tanto a estabilidade
como a instabilidade das coisas, tanto o seu valor conceitual como o
ótico, a realidade dessas coisas como a realidade da tinta sobre sua
tela” (LYNTON, 1966, p.48). A natureza-morta é seu tema predileto,
Rideau, cruchon et compotier . Paul embora tenha executado paisagens e retratos.
Cézanne. Óleo sobre tela, 1893-1894.
Whitney Museum of American Art
George-Pierre Seurat (1859-91), em busca da captura da luz, de
sua apreensão em um momento, desenvolveu uma técnica de representação pictórica denominada Pontilhis-
mo ou Divisionismo. Essa técnica consiste em compor as formas através de pequenos pontos ou manhas
justapostos, que levam a uma mistura ótica na visualização da obra pelo espectador. Esses pontos são vistos
de perto, mas se fundem à distância. As cores são subdivididas em vários pequenos pontos de uma varieda-
de de tons, segundo a lei das cores complementares. Dessa forma, ele traduz a luz em cor. Esse seu método
pictórico, “baseado no estudo científico da realidade, serviu de apoio a uma tendência para o uso livre e an-
tinaturalista da cor, tendência que veio a constituir um dos alicerces da pintura moderna” (LYNTON, 1966,
p.47). Ele vai influenciar o Fauvismo e o Futurismo.
As composições de Seurat tendem a um caráter estático
e à simplificação da forma. Um dos seus quadros mais repre-
sentativos é Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande-Jatte.
Vicent Van Gogh (1853-1890) desenvolveu um estilo
muito particular, onde a cor expressa toda a sua carga emocio-
nal, bastante conturbada. As cores primárias, em tons fortes
dominam suas composições, principalmente paisagens, onde
o amarelo é a sua cor simbólica por excelência. Tecnicamente,
Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande-
descarta o pontilhismo por pinceladas pequenas e dinâmicas.
Jatte. Seurat. Óleo sobre tela, 1884-86. The
As formas submetem-se à cor e ao movimento imposto por Art Institute of Chicago.
luz e cor eram para ele o que tinham sido para os artistas góticos, uma
forma de revelação divina, e sabia que, colocando certas cores em mú-
tuo contraste, podia obter uma sonoridade quase sobrenatural. Intensi-
ficando a cor, ao mesmo tempo que simplificava e caracterizava a traços
largos as formas, conseguiu realizar uma expressividade transcendente,
sem perder contato com os objetos que pintava. Enquanto outros ar-
tistas se afastavam de uma temática específica, em direção a temas mais
abstratos, van Gogh insistia na singularidade de tudo o que pintava.
ARTE MODERNA
História da Arte 71
Art nouveau (1880/1890-1914)
Um dos primeiros movimentos desses novos tempos foi a Art Nouveau, Arte Nova, também de-
nominada de Arte Floral, Jugendstill ou Modern Style. Seu nome deriva da denominação de uma galeria
parisiense, a Maison de l’Art Nouveau, espaço de reunião e exposição dos novos artistas. Esse foi o estilo
da Belle Époque (1880-1914), uma época de ouro na Europa antes dos grandes conflitos, apogeu da
boemia. Foi um estilo internacional eminentemente decorativo, um estilo para a vida cotidiana moderna.
Baseia-se na natureza, nas formas orgânicas, principalmente vegetais, concebidas em linhas sinuosas e
assimétricas e cores frias, tons pastéis. É uma apologia à beleza, à ornamental graciosa, delicada, integra-
da. Pretende-se integrar as formas orgânicas à vida humana moderna. Materiais como o vidro e o ferro
ganham nova vida. As artes manuais, artesanais são valorizadas.
Na arquitetura destacam-se três arquitetos: o espanhol
Antoni Gaudí (1852-1926), com suas formas derretidas; o
francês Hector Guimard (1867-1942), projetista das belas
entradas de metrô em Paris; e o belga Victor Horta (1861-
1947), projetista da Casa Tassel. A Casa Tassel, em Bruxe-
las, Bélgica, data de 1893 e é considerada como o primeiro
edifício Art Nouveau construído. Por que os edifícios e as
casas obedecem a formas angulosas, retângulos e quadrados?
Buscando quebrar esse paradigma, Victor Hora explorou o
efeito das curvas, das formas sinuosas em suas obras tanto
no exterior como no interior. Assim, a Casa Tassel é uma
obra-prima, uma complexa e diáfana estrutura orgânica real-
çada em cada detalhe. As colunas parecem delicados troncos,
as curvas das escadarias e pinturas decorativas das paredes
parecem formas vivas em movimento dinâmico. Os próprios
tons alegres dos materiais proporcionam a composição de
um ambiente mágico em contraste com as obras de concreto
em tons de cinza. Não é uma casa, é uma floresta encantada,
nenhum detalhe é esquecido do piso ao teto. O uso do vidro
Casa Tassel. Victor Horta. Bruxelas, Bélgica, 1893. proporciona uma luminosidade que realça o conjunto.
Na pintura, o desenho é simplificado, a linha curva forma e dá ritmo à composição e um caráter ornamental
está presente nas padronagens e texturas. O pintor austríaco Gustav Klimt (1962-1918) trabalha as figuras femi-
ninas com delicada sensualidade, decorando as roupas e os fundos
inteiramente com motivos ornamentais. Suas cores são equilibra-
das, havendo uma predileção para os tons pastéis impressos com
grande luminosidade, acentuada pelo uso de dourados. Em sua
composição O Beijo, Klimt transmite uma atmosfera sedutora, o
momento mágico em que o beijo vai ser dado. Das figuras huma-
nas vê-se apenas os rostos, os braços e os pés da mulher. A forma
dos corpos é dada pela padronagem profusamente decorada que
não se confunde com a decoração do fundo.
As esculturas art nouveau são elegantes e movimen-
tadas, orientando-se pela curva sinuosa. Não há, contudo,
grandes obras, pois o seu caráter é eminentemente orna-
mental e inserem-se no programa arquitetônico ou decorati-
vo. Pequenas peças são compostas. As figuras femininas em
suaves movimentos são muito representadas. O Beijo. Klimt, 1907-8. Österreichisches Ga-
lerie Wien, Vienna
Cubismo (1907-1914)
O movimento artístico denominado Cubismo, influenciado por Cézanne, caracteriza-se por uma
desconstrução das realidade através de formas geométricas. Existem dois momentos do Cubismo: o
Cubismo Analítico e o Cubismo Sintético. Segundo Lynton (1966, p.97),
Futurismo (1909-1914)
O Futurismo foi um movimento artístico e literário nascido na Itália em 1909 através do Manifesto
futurista de Marinetti. Seu objetivo era representar a realidade em movimento, o momento em ação, colo-
cando o espectador no centro da obra. Era uma influência da nova sociedade do automóvel, da velocida-
História da Arte 73
de. Para capturar a velocidade, estudaram os movimentos através do registro fotográfico seqüenciado. Na
representação, muitas vezes usavam as técnicas cubistas de desconstrução. Segundo Lynton (1966, p.97),
“estilisticamente, pouco contribuíram para a pintura, mas sua insistência no dinamismo da vida como
base da Arte afetou permanentemente a estética moderna”.
Seus mais importantes membros foram Umberto Boccioni (1882-1916), Carlo Carrà (1881-1966)
e Giacomo Balla (1871-1958). Balla foi seduzido pela luz, pelos princípios óticos da propagação da luz
no espaço, um subtema da velocidade. Assim, ele explorou a decomposição cromática da luz através do
movimento. Exemplo disso é o seu quadro Luz da Rua de 1909.
Expressionismo (1905-1930)
Esse movimento artístico é marcado pela insatisfação,
por um desespero, por uma angústia perante a realidade. O oti-
mismo da Belle Époque foi destruído com a Primeira Guerra
Mundial (1914-18), a Revolução Russa (1917). O novo momen-
to era de pessimismo. Os artistas estavam buscando uma exte-
riorização dessa reflexão vivenciada. Para tal, usam cores fortes,
uma composição dinâmica e temas trágicos e sombrios.
Seu principal precursor foi o pintor norueguês Edvard
Munch (1963-1944). Em sua famosa obra O Grito ele conseguiu
expressar uma profunda angústia e desespero. Suas pinceladas
curvas como a chama de uma vela, imprimem uma dinâmica aos
tons escuros. As formas são distorcidas segundo esse movimento
curvilíneo. A figura principal, uma criatura humana, não traz qual-
quer caracterização de traços individuais. Ela é apenas a expressão
trágica do grito. As cores frias com as quais é representada con- O Grito (Skrik). Munch, 1893. Galeria Nacional
trastam com as cores quentes do fundo do quadro. de Oslo, Noruega.
Existiram na Alemanha dois importantes grupos expressionistas: A Ponte ( Die Brücke) e o Cavaleiro
Azul (Der Blaue Reiter). O primeiro, em Dresden, eram mais politizados, contestadores, tendo como prin-
cipais expoentes Kirchner e Nolde. O segundo, que dará origem à Bauhaus e à abstração, dedicavam-se a
experiências místicas. Seus principais representantes foram Kandinsky, Paul Klee e August Macke.
Saiba Mais!
Duchamp brincou muito com a arte tradicio-
nal, reproduzindo um quadro da Mona Lisa e colo-
cando-lhe um bigode. Vários objetos do cotidiano
serviram-lhe de suporte. Era o início do conceito de
pós-modernidade, da arte como discurso.
Surrealismo (1924 - )
O Surrealismo nasceu em 1924 com o manifesto surre-
alista do escritor francês André Breton. Muitos dos seus pri-
meiros participantes foram dadaístas que buscavam um novo
caminho. O Surrealismo traz influências da desconstrução
cubista e do expressionismo. O Surrealismo é fruto dos es-
tudos sobre psiquiatria desenvolvidos por Freud e Jung. Eles
buscam respostas no inconsciente que impõe uma nova ordem
que se manifesta através do sonho e do simbolismo.
O espanhol Salvador Dali (1904-89) e o belga René Ma-
gritte (1898-1967) criaram as mais conhecidas obras do Surre-
alismo. É de 1926 um dos quadros mais famosos de Magrit-
te, que ele próprio define como “ Tudo o que vemos esconde
outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondi-
do pelo que vemos”. A arte e suas expressões estavam em
História da Arte 75
ARTE PÓS-MODERNA
O termo pós-modernismo parece ter sido aplicado pela primeira vez por Frederico de Onís (1888-1966)
em 1934 em seu livro Antologia da poesia espanhola e hispano-americana, para descrever, segundo Nilson
Thomé, um refluxo conservador dentro do Modernismo. Segundo Lyotard (1989, p.8), em 1954, o termo foi
empregado pelo historiador inglês Arnold Toynbee (1889-1975) no oitavo volume de A Study of Story, onde
fazia uma referencia a uma “era pós-moderna” iniciada com a guerra franco-prussiana (1870-71). Vários teó-
ricos, de diferentes áreas, posteriormente, utilizaram essa denominação, mas foi com o francês Jean-François
Lyotard (1924-1998) em seu livro A condição pós-moderna de 1979, que o termo se consolidou.
Difícil de ser definido, o pós-modernismo foi e é sentido, vivenciado e passível de ser descrito. Em
busca de uma conceituação, Frederic Jameson coloca que
Historicamente, Jair Ferreira dos Santos (1997, p.20) aponta a bomba atômica lançada em Hiroxima
em 6 de agosto de 1945 como marco, que provocou a gestação nos anos 1950 e o nascimento da pós-
modernidade nos anos 1960. Um nascimento já anunciado nos anos 1930. Mas o que foi que mudou?
O primeiro indício está na nomenclatura, na denominação, no vocábulo pós-moderno, pois “as
denominações não são casuais. Elas carregam significados” (SANTAELLA, 1994, p.30). Assim, vê-se
logo uma vinculação explícita com o Moderno, uma relação de contigüidade. O prefixo pós indicando
uma posteridade, o que vem depois, mantendo, contudo. uma referencialidade. Não traz a ruptura, o
antagonismo do prefixo anti, indica uma continuidade diferenciada. Essa identidade umbilical é marcada
por uma negação ou modificação. Para caracterizar o pós-moderno recorre-se ao moderno:
Atividade complementar
1. Qual era a principal busca do Impressionismo?
3. O que é um revival?
História da Arte 77
4. Qual é a diferença entre Fauvismo e Cubismo?
Saiba Mais!
Estante do historiador
Cinema e história
História da Arte 79
CLERESTÓRIO – Conjunto de janelas altas, dispostas sobre um telhado adjacente.
COLATERAL – Nave ou passagem paralela à nave principal.
COLUNA – Elemento arquitetônico, suporte vertical cilíndrico, composto geralmente por três
partes: base, fuste e capitel. Quando está encostada numa parede é chamada adossada; quando está
inserida em um muro é dita embebida (coluna de meio corpo).
COLUNATA – Conjunto de colunas dispostas regularmente.
CONTRAFORTE – Suporte construído numa parede externa para sustentar o peso de uma abó-
boda ou arco interno.
CORO – Espaço reservado para o clero, na capela-mor, à direita e à esquerda do altar, com uma ou
mais filas de bancadas. Parte da Igreja destinada ao canto do ofício.
CROMLECH - Conjunto de menires e dolmens alinhados, agrupados em círculo.
CRUZ GREGA – Cruz na qual as linhas vertical e horizontal são de igual tamanho.
CRUZ LATINA – Cruz na qual a linha vertical é maior que a horizontal.
CRUZEIRO – Área de intersecção entre o transepto e a nave, geralmente encimada por torre-lan-
terna ou uma cúpula.
DEAMBULATÓRIO - Corredor semicircular atrás da abside nas basílicas; nave anular em torno
do espaço central nas igrejas de planta centrada e a colunata ou arcada coberta em torno do pátio
central dos claustros.
DIORITE OU DIORITA – Rocha vulcânica, extremamente dura, geralmente escura.
DÓLMEN – Palavra de origem celta, que significa mesa. Construção megalítica pré-histórica,
possivelmente monumento funerário. O dólmen é formado por duas ou mais pedras verticais en-
cimadas por uma pedra horizontal.
ENCÁUSTICA – Técnica de pintura com pigmentos diluídos em cera derretida.
ENTABLAMENTO – Parte de uma ordem arquitetônica. Coroamento da fachada, onde se assen-
ta o travejamento. Parte assentada sobre a coluna, composta por : arquitrave, friso e cornija.
ESFINGE – Animal fantástico híbrido com cabeça humana e corpo de leão. Na mitologia grega
aparece com cabeça e seios femininos, corpo de leão e asas de águia.
ESTELA – Palavra grega (Stela) que significa bloco de pé. Bloco de pedra colocado verticalmente,
geralmente com relevos, inscrições ou pintura.
ESTILO ARTÍSTICO - Conjunto de tendências e características formais, temáticas, estéticas etc.,
que identificam ou distinguem uma obra ou um artista, ou determinado período ou movimento.
FACHADA – Frente principal, portada, face da entrada de uma construção.
FRISO – Faixa contínua de ornamentação pintada ou esculpida.
FRONTÃO – Elemento construtivo de formato triangular que fecha os telhados.
FUSTE – Parte vertical alongada de uma coluna, seu corpo ou trinco, entre a base e o capitel.
HALO – O mesmo que auréola.
HIERATISMO - Diz-se dos estilos tradicionais de arte egípcia e grega, das formas rígidas e
majestosas.
ILUSIONISMO – Técnica de criar percepção ilusória da realidade, como a perspectiva em repre-
sentações bidimensionais.
História da Arte 81
TÊMPERA – Técnica de pintura na qual as tintas são preparadas com pigmentos misturados com
gema de ovo e água.
TERMA – Local para os banhos públicos.
TERRACOTA – Argila cozida no forno a temperatura elevada.
TRANSEPTO – Espécie de nave transversal das igrejas basilicais, cortando a nave
perpendicularmente.
VÊNUS ESTEATOPIGIA – Estatueta pré-histórica representando figura feminina com seios e
nádegas volumosos.
VILA – Em Roma designava uma casa de campo dos abastados.
VOLUTA – Elemento decorativo em espiral.
ZIGURATE – Deriva da palavra assíria ziqquratu, que significa montanha, cume ou elevação. É o
tipo de templo característico da Mesopotâmia, espécie de torre de andares.
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