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TEXTUAL
1ª Edição - 2007
SOMESB
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Imagens
Corbis/Image100/Imagemsource
GLOSSÁRIO _____________________________________________________________ 61
Bons estudos!
DA RUPTURA ESTRUTURALISTA À
LINGÜÍSTICA TEXTUAL
Se é possível considerar o século XIX como a época do estudo histórico e comparativo das línguas,
o século posterior marca uma importante ruptura na lingüística. Não raro se ouviu que a lingüística era
uma disciplina predominantemente histórica. Diante de tal afirmação, o que aconteceria se alguém dis-
sesse o contrário? Qual seria a conseqüência de se negar o que até então se ratificava? Bem, não precisa
de muito esforço para pelo menos se achar que causaria muito rebuliço, não é?! Pois foi justamente isso
que aconteceu no século XX com o advento do estruturalismo saussuriano, que vocês já devem conhe-
cer. Porém, para que se possa compreender o processo histórico que levou ao surgimento da Lingüística
Textual, torna-se importante relembrar alguns pressupostos básicos de um movimento que balançou os
pilares dos estudos da linguagem.
Inicialmente, podemos apontar como marco do estruturalismo saussuriano o lançamento póstumo
do livro de Ferdinand de Saussure intitulado Cours de Linguistique Générale (Curso de lingüística geral),
publicado em 1916. A existência da referida obra se deu graças à contribuição de três de seus discípulos,
a partir de rascunhos feitos nas aulas do grande mestre genebrino.
Lingüística Textual 7
Atenção
Não se esqueça:
O estruturalismo se fez presente em várias áreas das ciências humanas. Por esse motivo, po-
demos dizer que existem “estruturalismos”, e não apenas um estruturalismo. No entanto, lembre-
se de que estamos tratando, nesse momento, do estruturalismo saussuriano, ok?!
Uma das preocupações de Saussure foi dar uma nomenclatura inequívoca para que se pu-
desse analisar melhor os fatos da língua. Essa era uma carência que até então havia nos estudos
lingüísticos. A respeito disso, tomemos como exemplo a palavra LÍNGUA. Anteriormente, esse
termo poderia ter um conceito diferente, a depender do pesquisador que o iria utilizar. Já deu para
perceber que essa questão deveria causar muita confusão, vez que o sentido mobilizado por LÍN-
GUA poderia variar, o que logicamente atrapalhava a compreensão de vários trabalhos.
Nesse sentido, Saussure deu uma importante contribuição para os estudos da linguagem.
Vamos ver como ele sistematizou a língua, tomando-a como seu objeto de estudo:
Atenção
A língua (langue) passou a estabelecer uma oposição à fala (parole). Isso se deu porque a
língua passou a ser vista como homogênea e abstrata, podendo ser sistematizada e estudada. Já a
fala era tida como homogênea e concreta, não sendo possível, portanto, ser sistematizada nem, por
conseguinte, estudada. Visualize abaixo como se podem observar esses pontos de convergência,
nesse primeiro momento em que se separam a língua da fala, segundo o estruturalismo:
Atenção
No momento em que, a exemplo da prática escolar, numa época na qual se estudar uma língua
significava estudar textos, os seus sentidos, inclusive a partir de disciplinas intituladas “compreensão
de texto”, Saussure apresenta uma nova abordagem lingüística. Ele propõe não mais se ater à função
significativa de texto, à prática da linguagem, e sim ao seu funcionamento, a sua teoria. Com o referido
deslocamento, separa-se, portanto, a prática da linguagem de sua teoria. Nesse sentido, a língua passa a ser
pensada como sistema de signos e a fala fica excluída dos estudos científicos da linguagem.
Lembra de que a lingüística no século XIX era histórica e comparativa? Pois é! Por conta dos estu-
dos de Saussure, a lingüística no século XX deixa de ser histórico-comparativa. O motivo da mudança se
baseia na idéia do mestre genebrino de que não havia sentido estudar a língua em sua historicidade (ou
diacronia), mas mediante o seu viés descritivo (sincrônico). Diante disso, podemos dizer que ele prefere,
então, estudar o estado da língua, e não sua evolução.
No intuito de tornar a referida questão mais clara, Saussure compara a língua
em seu estado com um jogo de xadrez.
Sua tese é de que, assim como num jogo de xadrez, o “jogo da língua” apre-
senta um sistema de valores. Bem, vamos ver o que ele próprio diz sobre isso:
Lingüística Textual 9
Pronome + verbo + objeto
Os desvios ortográficos, por exemplo, estão ligados aos traços da fala. Esses traços, para Saussure,
são de ordem individual, ou seja, peculiar a determinados falantes, e não social, geral como o é a regra.
Os traços podem variar, a depender do falante, do momento em que se emite a frase. Portanto, é um ato
individual. Assim, apesar do desvio à norma culta, sua estrutura continua a ser de uma frase da língua
portuguesa.
Bem, agora, no quadro abaixo, vamos visualizar algumas dessas diferenças estruturalistas
apresentadas:
A partir de nossos estudos, foi possível perceber que há muitas oposições no estruturalismo. Por
isso, podemos dizer que o estruturalismo tem a característica de se ocupar das diferenças. É por isso que
Saussure propôs suas dicotomias, como língua (langue) X fala (parole), sincronia X diacronia. Existem
mais dicotomias saussurianas, porém nosso objetivo agora é compreender as motivações históricas e lin-
güísticas para a constituição da Lingüística Textual. Esses princípios básicos trabalhados já servem para
o nosso propósito nesse módulo. Por isso, é importante internalizar tudo o que foi até agora trabalhado
aqui, tá?!
OS ESTUDOS GERATIVISTAS
Agora que já vimos certos pontos básicos do estruturalismo, vamos relembrar alguns pressupostos
de um estudo que também teve muita importância no século XX, por volta do final da década de 50, e
que influenciou muito o pensamento lingüístico: O gerativismo. Esse movimento lingüístico vai, em um
momento, influenciar a Lingüística Textual. Por isso, prestem bastante atenção, meus amigos!
Quando falamos em gerativismo, um nome fundamental vem à mente: Noam Chomsky. Ele foi o
criador do gerativismo, estudo que propõe uma gramática gerativa (doravante GG) que passou a ser co-
nhecida a partir da obra de Chomsky, Syntactic structures, publicada em 1957. Ela propõe principalmente
que a geração dos enunciados seja, pelo menos parcialmente, determinada pelo estado da mente/cérebro.
O referido autor vê o cérebro como um órgão do corpo humano que deve ser estudado como se estuda
o corpo humano. Para ele, cada parte teria sua função. Portanto, uma parte do cérebro seria responsável
pela linguagem.
Atenção
1. Construir gramáticas destinadas a línguas particulares.
2. Construir princípios gerais para a capacidade da linguagem (princípios universais
lingüísticos).
Nos estudos de Chomsky, a sintaxe ganha um lugar de destaque. Dessa forma, ele mesmo diz o
seguinte:
“Uma língua é um conjunto (finito ou infinito) de orações, cada uma delas de tamanho
finito e construída a partir de um conjunto finito de elementos”.
Assim, a sintaxe ganha uma autonomia, já que, a partir dela, são geradas as orações gramaticais coerentes.
O conhecimento que os falantes possuem de uma língua em suas mentes é chamado de competência lin-
güística. A competência, então, é justamente o conhecimento lingüístico internalizado que permite ao falante ter a
propriedade de utilizar o conjunto de regras que se encontram presentes em sua mente. A competência possibilita
que o falante faça uso da linguagem e a adquira na infância, vez que a linguagem é uma propriedade inata.
É preciso distinguir a competência lingüística da performance. A performance se refere ao modo
com que o falante vai utilizar a linguagem. A esse fator são incorporadas questões extralingüísticas, en-
volvendo o ambiente, a sociedade, os interlocutores.
Nesse momento é importante deixar bem claro que a teoria gerativa centra-se na competência, que
é de caráter universal, e está relacionada à mente/cérebro do falante. A isso se pode dizer que a preocupa-
ção central da teoria gerativa é a aquisição da linguagem. Se fôssemos buscar uma pergunta fundamental
que pudesse resumir o propósito da teoria gerativa seria a seguinte:
Lingüística Textual 11
Como conseguimos falar?
Portanto, não esqueça:
O objeto de estudo do gerativismo é a competência.
Para entender a possível existência de uma gramática universal, comum a todas as línguas, nós pode-
mos pensar na seguinte situação: Ao ouvir a frase “Eu comi um bolo”, é possível que uma criança diga “Eu
vi um cachorro”. Bem, mesmo que ela nunca tivesse ouvido tal enunciado, não deixou de conjugar correta-
mente o verbo. Para Chomsky, essa propriedade é inata. O que também auxilia no processo de produção de
enunciados inéditos é a criatividade lingüística. Podemos, então, conceituá-la da seguinte forma:
Entende-se por criatividade lingüística a capacidade que o falante tem de compor e com-
preender sentenças às quais ele nunca foi exposto.
E aí? Conseguiram compreender alguns dos pontos básicos do gerativismo? Agora vamos per-
ceber, de forma mais sintetizada, certas diferenças que podem ser estabelecidas entre o gerativismo e o
estruturalismo, no quadro abaixo:
A NECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DO
HORIZONTE LINGÜÍSTICO
Nos itens anteriores, nós pudemos rever algumas características básicas de dois importantes movi-
mentos lingüísticos do século XX. Lembramos de certos conceitos principais, além de acompanharmos
como se cristalizaram diferenças que marcaram tanto o estruturalismo quanto o gerativismo. Tais diferen-
ças também fizeram essas duas vertentes muitas vezes percorrerem em suas pesquisas caminhos opostos
(a começar da escolha do objeto de estudo) e dividirem a atenção de lingüistas e pesquisadores.
No entanto, apesar de falarmos das diferenças entre o estruturalismo e o gerativismo, isso não sig-
nifica que esses dois movimentos sejam totalmente opostos, que não tenham pontos em que se tocam.
Nesse sentido, faremos umas considerações aos momentos em que se aproximam para, a partir de singu-
laridades entre eles, ser possível compreender melhor o surgimento do que nos é primordial discutir nesse
tema: a constituição histórica da Lingüística Textual. Mas para isso também é necessário fazer algumas
considerações a respeito do formalismo e do funcionalismo.
Atenção
Lembre-se:
Em um determinado momento, o gerativismo procura destinar parte de seus estudos à se-
mântica, porém tenta formalizá-la.
Diante do que foi exposto, os limites do gerativismo e do estruturalismo se dão principalmente
por idealizarem e formalizarem o objeto de estudo, por tratarem a oração como a unidade máxima de
estudo e por considerarem de modo insatisfatório o aspecto da comunicação em suas teorias.
Em termos gerais, não raro vemos tanto o movimento estruturalista como o gerativista se-
rem classificados como estudos formalistas da linguagem. Para compreender melhor essa questão,
vamos ver como se pode caracterizar um estudo formalista.
Os estudos formalistas
Já vimos que nos estudos formalistas da linguagem se enquadram o estruturalismo e, de certo
modo, o gerativismo. Eles são chamados de formalistas porque vêem a língua em sua forma, como um
objeto descontextualizado. O formalismo preocupa-se bastante com as características internas da língua,
relegando a um outro lugar a língua em seu uso. Quanto a este tipo de estudo, Dillinger salienta:
Atenção
O formalista estuda uma língua em termos de suas partes e os princípios de sua organização,
sem considerar suas relações com o meio ou contexto em que se situa.
Então, deu para perceber que o formalismo vai analisar a língua em sua forma.
Lingüística Textual 13
O funcionalismo
Diferente do formalismo, o funcionalismo vai procurar estudar a linguagem em sua função. Assim,
para o funcionalismo, o estudo da função das formas lingüísticas é predominante. As características inter-
nas da língua, bastante estudadas pelos formalistas, no funcionalismo não serão tão importantes quanto
as relações entre a língua e a interação social, a língua e o contexto social, a língua e a comunicação.
Você se lembra que falamos sobre a atitude de Saussure de pro-
por o estudo do FUNCIONAMENTO da linguagem e não de sua
FUNÇÃO? Pois é! Ao fazer isso, ele acabou deixando um campo
descoberto, que viria a chamar a atenção de lingüistas. Ora, vários pes-
quisadores da linguagem acharam que não se poderia deixar de lado a
FUNÇÃO da língua na sociedade, afinal, somos seres comunicativos.
Utilizamos a língua para nos comunicarmos, para construirmos sen-
tido a partir do momento em que há uma interação. Mais uma vez,
vamos ver o que Dillinger tem a nos dizer, agora sobre o funcionalismo:
Atenção
Em geral, portanto, o funcionalismo se preocupa com as relações (ou funções) entre a língua
como um todo e as diversas modalidades de interação social e não tanto com as características in-
ternas à língua. Assim, os funcionalistas frisam a importância do papel do contexto, em particular
o contexto social na compreensão da natureza das línguas.
Bem, nos estudos funcionalistas já podemos destacar alguns, como a sociolingüística, a lingüística an-
tropológica, a análise do discurso, a lingüística textual (este último, foco de nossos estudos neste módulo).
Para resumir algumas características do formalismo e do funcionalismo, acompanhe a tabela abaixo
com idéias apresentadas por Dik e adaptadas por Maria Helena de Moura Neves:
Portanto, vocês puderam entender o que motivou a existência da Lingüística Textual no cenário da
ciência da linguagem no século XX. Agora já estamos prontos para avançarmos mais e adquirirmos mais
conhecimento acerca desse assunto.
A partir do Curso de lingüística geral, de Saussure, a gramática se tornou o centro da reflexão lingü-
ística contemporânea. Nesse sentido, passou a ser papel da lingüística construir teorias sobre a gramática
das línguas naturais. De acordo com essa idéia, podemos definir gramática da seguinte forma:
Um sistema de regras que tem a capacidade de efetuar a descrição de um sistema lingüístico.
Portanto, tem-se essa gramática como descritiva. Assim, não confunda a gramática descritiva com a gramá-
tica com a qual nós temos contato na escola: a normativa. Para isso, vamos ver como elas se diferenciam ok?!
Atenção
A gramática descritiva se ocupa a descrever um sistema lingüístico, afinal de contas a lingüística
propõe ser a ciência da linguagem e, como ciência, é fundamentalmente descritiva, e não normativa.
Já a gramática normativa visa prescrever normas do “bom falar”, ou do “falar correto”. No
entanto, ela se limita, por considerar mais as normas acadêmicas que o uso inovador da língua, o
qual provoca uma ruptura que vem a extrapolar o estudo gramatical.
Ora! sabe aquelas palavras ou estruturas que, em um momento de descontração (ou de descuido),
nós utilizamos e que alguém sempre aparece para dizer “Essa palavra não existe”, ou “Você falou erra-
do”? Pois é, essas questões que extrapolam o uso gramatical (além de outras) não são valorizadas devida-
mente pela gramática normativa.
A gramática descritiva, dentro dessa visão estruturalista, vai ver a língua como um sistema opositivo. Para se
realizar a análise, parte-se de unidades menores para unidades maiores que justificam ou englobam as anteriores.
Assim, o primeiro nível de análise é o fonológico. Como se trabalha a partir de uma visão dicotô-
mica, opositiva, é possível perceber que o nível fonológico não é significativo, porém, permite distinguir
significados. Como exemplo, podemos observar que a diferença fonológica entre /BATA/ e /PATA/
(/B/ e /P/) é suficiente para distinguir os significados.
Bem, já deu para perceber que o nível fonológico se integra a um nível maior e significativo, que é
o morfológico, certo?! Podemos então definir a morfologia da seguinte maneira:
Morfologia: Parte da gramática que se propõe a descrever formas que
constituem as palavras, os morfemas.
Lingüística Textual 15
Portanto, nessa perspectiva, parte-se da análise da unidade mínima não significativa, que é o fone-
ma, e se estende até à unidade máxima de análise: a oração.
Agora que já foram apresentadas algumas características das gramáticas, principalmente na visão
estruturalista, vamos ver quais foram as mudanças que ocorreram na Lingüística Textual desde a sua
constituição, bem como o momento em que as gramáticas de texto entram nesse cenário. Para tanto, é
preciso distinguir três fases de constituição de tal disciplina.
Atenção
As fases de constituição não devem ser vistas, em relação da passagem de uma para a outra,
de forma cronológica. Muitos autores destacam que esses movimentos se deram simultaneamente,
de forma independente.
1ª FASE – transfrástica.
Anteriormente, foi possível observar que as gramáticas de frase, até mesmo por ter como unidade
máxima de estudo o enunciado, apresentavam limitações. Essas limitações também se estabeleceram por
não se contemplar, nas aludidas gramáticas, fatores que ultrapassavam o limite das frases e que só pode-
riam ser analisadas no interior do texto, como é o caso da co-referência. Nessa fase, muitos estudiosos
apresentaram conceitos sobre o texto. Harweg, por exemplo, definia o texto como “uma seqüência pro-
nominal ininterrupta”. Já Isemberg o definiu como sendo uma “seqüência coerente de enunciados”.
Atenção
Não esqueça:
O desenvolvimento da Lingüística Textual data por volta da década de sessenta. Ele se deu
principalmente na Alemanha.
Ao analisarmos a frase
João saiu correndo. Ele estava com muito medo.
veremos que há uma ligação entre o pronome ELE e o referente (João). Esta ligação estabelecida
entre João e o pronome ELE (co-referente de João) se dá principalmente pela predicação desses dois ele-
mentos, e não somente por questões de concordância. Só que esse elemento coesivo por si não garantiria,
ao longo de uma seqüência, a existência de um texto.
A questão da presença de elementos coesivos, como as conjunções, também foi tema dos estudos
na fase transfrástica. O que chamou a atenção, também, foi o fato de que um trecho, mesmo sem a pre-
sença de conjunções, poderia ter coerência.
Ora! na frase
Pedi por você; ninguém me ouviu.
não é difícil perceber a relação de adversidade, mesmo sem a presença do conectivo “mas”.
Já deu para perceber que a idéia de um texto se constituir apenas pela soma de frases não estava dando
certo, não é?! Essa questão abriu espaço para a necessidade de uma outra forma de tratar o texto. É a partir daí
que vários estudiosos se voltam para a criação das gramáticas textuais. É justamente por isso que se diz que:
A fase transfrástica abriu espaço para a constituição das gramáticas textuais.
Lingüística Textual 17
Atividade Complementar
4. Explique, com suas palavras, de que forma o gerativismo influenciou a Lingüística Textual.
Agora vamos começar a compreender algumas questões fundamentais da lingüística textual. Va-
mos começar, então, pela concepção de sujeito e de língua.
Quando falamos em sujeito, o que vem à mente em primeiro lugar? A que nós associamos tal pa-
lavra? Lembrou? Bem, para ajudar, vou convocar um personagem muito simpático, criado por Maurício
de Souza. Acompanhem um trecho da historinha abaixo e vejam os significados do sujeito que foram
mobilizados pela professora e por Chico Bento.
Lingüística Textual 19
Observe que a professora trata da questão do sujeito gramatical, ao passo que Chico Bento
associa a palavra “sujeito” a pessoas. A historinha se desenvolve dessa forma até o final. Nesse
momento, ao dar um exemplo na lousa – “Chove lá fora” –, a professora trata do sujeito ine-
xistente. Logo depois o sinal bate e ela libera os alunos. No entanto, Chico Bento apresenta a
impossibilidade de sair da escola devido ao fato da presença do “sujeito inexistente”. Como isso
ocorre? Ora, estava chovendo!
E aí, se divertiram com a historinha? Além do humor, ela também nos traz a idéia de
sujeito gramatical, aquele que a gente aprende nas gramáticas e que nos acompanha por vá-
rios anos letivos nos colégios. Sempre que se fala em sujeito, principalmente com estudantes,
não raro vem a lembrança das subdivisões entre os sujeitos da gramática: simples, composto,
oculto, entre outros. É, mas não se esqueçam, a partir de agora, que nós não iremos tratar
desse tipo de sujeito.
Quando tratarmos de sujeito em Lingüística Textual, vamos nos remeter a um outro tipo, que não
o gramatical, apresentado pela professora na historinha acima, certo?!
Vamos tratar de um sujeito chamado de psicossocial. Mas, para isso, antes vamos compreender
como ele passou a existir. Então, é preciso observar as concepções clássicas do sujeito e atentar para as
mudanças que ocorreram até se chegar à referida concepção de sujeito.
As concepções clássicas do sujeito
Segundo Ingedore, a concepção de sujeito vai variar de acordo com a concepção de língua que se
adote. Dessa forma, ao tratar a língua como expressão de pensamento, teremos a configuração de um
sujeito individual, consciente.
Uma característica fundamental desse sujeito é que ele se apresenta como o “dono do seu dizer”. Para
ele, tudo o que diz é fruto exclusivo dele mesmo. Entende-se o sujeito consciente como um sujeito adâmico
Já sacaram que adâmico vem de Adão, que, de acordo com a
Bíblia, foi o primeiro homem a existir no paraíso, não é? De maneira
similar, o discurso desse sujeito é tido como único, produto único e
exclusivo dele.
O receptor, de acordo com essa concepção, apresenta uma
postura passiva, vez que a ele é passada a mensagem da mesma for-
ma como se processou na mente do falante, cabendo apenas com-
preender a referida mensagem dessa maneira. A língua, a partir daí, é vista como um produto mental do
falante. Por isso que se diz que essa é uma visão mentalista do sujeito.
Depois do sujeito consciente, dono do seu dizer, surge a idéia de
sujeito assujeitado. Nessa perspectiva, a língua passa a ser tida como es-
trutura. Bem, diferente do sujeito consciente, o assujeitado não produz
o seu dizer. Na verdade, ele reproduz discursos da estrutura social.
Apesar disso, o sujeito assujeitado muitas vezes acha que é “dono
de seu dizer”, isto é, não percebe que está sendo assujeitado, mas o que faz
é apenas reproduzir discursos sociais. Ele, portanto, apresenta-se como
um ser que não tem consciência de seu assujeitamento ideológico.
Segundo Chauí, a principal função da ideologia é ocultar a divisão social, é dissimular essa divisão.
Nesse plano, a ideologia busca fazer com que cada qual aceite a posição social em que está. Todos nós já
ouvimos por aí que SOMOS TODOS IGUAIS, que TEMOS OS MESMOS DIREITOS. Bem, quanto a
essa idéia de igualdade, vamos ler um texto de Manuel Bandeira e atentar para seu conteúdo:
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos
Nós claramente percebemos que aquilo que prega a ideologia não con-
diz com a realidade, não é?! Afinal de contas, o que mais percebe-
mos no dia-a-dia são as diferenças sociais, econômicas, culturais
existentes em nossa sociedade.
Você percebeu que o assujeitamento está ligado à ideologia?
Jóia! Agora vamos conhecer os estudos de Louis Althusser. Não
se deve, nesse contexto, falar de ideologia sem mencionar os
trabalhos realizados por ele acerca dos ARE e dos AIE. Você
não sabe o que significam? Então acompanhe a definição:
Lingüística Textual 21
pela ideologia. Exemplos de ARE são a polícia, o exército...
Os AIE, ao contrário dos ARE, agiriam primeiro pela ideologia, depois
pela violência. Como exemplo podemos citar a escola, a família, a igreja.
Assim, podemos dizer que os AIE representam o lugar das lutas
de classes.
Chegamos, então, à terceira con-
cepção de sujeito: o psicossocial. Vimos
que o primeiro, o consciente, apresenta-se como “dono do seu dizer”. Já
o segundo, ao contrário, apenas repete discursos sociais. Portanto, o pri-
meiro produz seus discursos e o segundo reproduz discursos da estrutura
social. É possível perceber que os dois primeiros situam-se em extre-
mos: ou é consciente ou é assujeitado.
O sujeito psicossocial vai galgar um equilíbrio em relação aos pri-
meiros. Ele tem noção de que possui a propriedade de elaborar seu discurso,
escolher suas palavras, mas também tem consciência de que está inserido em
uma sociedade. Portanto, podemos dizer que o psicossocial (re)produz discursos.
Uma importante característica desse sujeito é que ele só se configura como sujeito na inte-
ração com o outro. Nos dois primeiros, o papel do ouvinte é passivo, vez que ele recebe as mensagens
como foram passadas e/ou as decodifica. Nessa terceira concepção, ele vai ter um papel fundamental: o
de interagir e se constituir como sujeito nessa interação.
O sentido vai ser produzido nesse processo e serão levados
em consideração fatores cognitivos e extralingüísticos, dos quais tra-
taremos mais à frente.
A língua, nesse sentido, passa a ser o lugar de interação, de pro-
dução de sentidos. O texto aqui não mais é tido como um produto
acabado, e sim como parte desse processo interativo.
Agora, vamos sintetizar esses tipos e sujeito em um quadro
resumitivo!
A IDÉIA DE TEXTO
Afinal, o que é texto? Como ele se caracteriza? Bem, antes de responder essas perguntas, vamos
rever algumas questões tratadas anteriormente neste módulo.
Você se lembra de que o desenvolvimento da Lingüística Textual compreende três fases e que a
concepção de texto por vezes variou? Pois bem, nas duas primeiras fases, a transfrástica e a da elaboração
de gramáticas textuais, presentificaram-se as concepções de texto e de não-texto. Nessa perspectiva, o
texto era visto como “seqüência lingüística coerente em si” e o não-texto como “seqüência lingüística
incoerente em si”.
Já dá para perceber que, nesse primeiro momento, o texto era visto como um produto acabado,
enfatizando, assim, a materialidade lingüística, o aspecto formal do texto.
Depois disso, passou-se a pensar o texto não mais como um produto acabado, mas como um pro-
cesso de produção e recepção comunicativa. Dessa forma, o estudo sobre o texto passou a analisá-lo a
partir de sua elaboração, de sua verbalização, de seu planejamento.
Portanto, tendo o texto como uma atividade verbal, chega-se à elaboração de uma teoria do texto.
As ações que desenvolvem a atividade verbal, segundo Leont’ev, têm uma motivação social. Dessa
forma, a atividade verbal teria uma motivação, uma finalidade e se daria sua realização. O que fica eviden-
te diante dessa questão é que a forma de se estudar e de encarar o texto como processo social e interacio-
nal mobiliza uma estrutura mais complexa.
Assim, Ingedore salienta que a teoria da atividade verbal é “a adaptação ao fenômeno ‘linguagem’
de uma teoria da atividade de caráter filosófico, articulada com uma teoria da atividade social (humana),
que se especifica em uma teoria da atividade (comunicativa) verbal”.
A citação acima evidencia que, para a elaboração da teoria da atividade verbal, houve um encontro
de duas outras teorias: a de caráter filosófico e a da atividade humana. Nesse sentido, parte-se da motiva-
ção de se pensar a linguagem em sua função social, como prática social, como meio de interação.
A partir da teoria da atividade verbal, você pôde perceber que o texto passou a ser tratado não
como um produto acabado, e sim em seu processo de constituição. Dessa forma, o caráter apenas formal
Lingüística Textual 23
sai de cena e entram, também, questões extralingüísticas, sociais, cognitivas.
Para visualizar melhor a teoria da atividade verbal, acompanhe o esquema abaixo e perceba as relações
estabelecidas entre outras teorias, bem como a articulação delas com a linguagem. Depois, observe como
se poderia compreender os anseios da teoria da atividade verbal a partir de alguns questionamentos.
TEORIA DA ATIVIDADE VERBAL
Diante disso, é possível levantar algumas questões fundamentais para o estudo propriamente
lingüístico:
“COMO SE CONSEGUEM REALIZAR DETERMINADAS ACÕES OU INTERAGIR SO-
CIALMENTE ATRAVÉS DA LINGUAGEM?”
COMO A LINGUAGEM SE ORGANIZA PARA A REALIZAÇÃO DE FINS SOCIAIS?
Para a realização do ato verbal, segundo Ingedore, antes o sujeito idealiza um plano geral do texto
a partir dos seguintes fatores:
• MOTIVAÇÃO – HÁ, ENTRE OUTROS, UM MOTIVO CENTRAL.
• SITUAÇÃO – LEVA EM CONSIDERAÇÃO INFLUÊNCIAS INTERNAS, DETERMI-
NANTES DAS ESCOLHAS A SEREM REALIZADAS, BEM COMO O AMBIENTE EXTERNO
(A SITUAÇÃO PROPRIAMENTE DITA).
• PROVA DE PROBABILIDADES – EFETIVA UMA TRIAGEM DAS AÇÕES POSSÍVEIS
PARA DETERMINAR QUAIS SÃO AS MAIS EFICAZES PARA ATINGIREM OS OBJETIVOS
PRETENDIDOS.
• TAREFA-AÇÃO – A ESCOLHA EFETIVA, BASEADA NAS PROBABILIDADES, DA
AÇÃO PARA A ARTICULAÇÃO DA ATIVIDADE.
...........................................................................................................................
Ingedore salienta os seguintes aspectos “superficiais” apresentados por Leont’ev, que determinam
a realização verbal da intenção verbal:
• A LÍNGUA PARTICULAR;
Ao tratar de texto, vimos que, tendo-o como um processo interativo de construção de sentido, é
necessário, para sua compreensão, mobilizar conhecimentos lingüísticos e extralingüísticos. Assim, torna-
se importante levar em consideração o contexto.
Bem, como os conceitos, principalmente no âmbito da ciência, são propensos a mudança, nesse
sentido, não é complicado admitir que o conceito de contexto varia de acordo com o autor que o utilize,
bem como do momento em que é utilizado.
Vários autores já se ocuparam em elaborar teorias acerca do contexto. Hymes (1964) foi um deles.
Ele desenvolveu um esquema (SPEAKING) no qual procurou caracterizar o contexto. Ingedore nos
apresenta esse esquema, apontando a característica referente a cada uma das letras da palavra apresentada
entre parênteses. Podemos, portanto, visualizar, a partir de Ingedore, o esquema de Hymes da seguinte
forma:
S → SITUAÇÃO
P → PARTICIPANTES
E → FINS, PROPÓSITOS
Lingüística Textual 25
A → SEQÜÊNCIA DE ATOS
K → CÓDIGO
I → INSTRUMENTAIS
N → NORMAS
G → GÊNEROS
Além de Hymes, outros autores, como Goodwin & Duranti, procuraram elaborar suas teorias acer-
ca do contexto. Dessa forma, suas pesquisas contemplavam principalmente fenômenos como o ambiente
em que se dá o texto, o contexto social e cultural, os conhecimentos pré-
vios, o co-texto.
Você se lembra?
Ao tratarmos da fase transfrástica, você pôde perceber que o con-
texto era tratado apenas como “ambiente verbal”. Assim, levava-se em
consideração apenas sua natureza lingüística. Pois é, esse entorno verbal
intitulou-se CO-TEXTO. Não se esqueça disso, ok?!
A pragmática também marcou presença ao tratar, principalmente me-
diante estudos acerca da teoria da atividade verbal e dos atos da fala, da questão
do contexto. Nesse sentido, atestou a importância de se descrever as ações em um momento de interlocução.
Assim, a linguagem se viu marcada pela INTERATIVIDADE, bem como por uma característica
de atividade SOCIAL. Bem, já que a linguagem apresenta-se como sendo utilizada em um ambiente
social, constituindo-se na relação entre interlocutores, é natural entendermos que a utilizamos com uma
determinada finalidade. Nós nos munimos da linguagem com uma intenção. É justamente por isso que a
linguagem ganha uma outra característica: a INTENCIONALIDADE.
Porém, só as relações entre interlocutores, bem como a descrição de suas ações pura e simples-
mente, não se fazia suficiente. Ora, sabemos que em uma outra cultura várias expressões, várias atitudes
podem apresentar conotações diferentes, podem produzir efeitos de sentido variado. Pensando nisso,
uma outra teoria passou a se destacar no cenário da Lingüística Textual justamente por contemplar essas
questões que foram apresentadas. Assim, o contexto sociocognitivo entra em cena.
Observe as frases abaixo e procure responder de acordo com seus conhecimentos:
Para você, o que representa a cor branca?
E a cor preta?
Já respondeu? Certo! Agora, observe a citação abaixo,
retirada do dicionário de símbolos, de Herder Lexikon:
O branco “é muitas vezes utilizado nos ritos de nas-
cimento, casamento, iniciação e morte; era a cor do luto,
por exemplo, nos países eslavos e na Ásia, e também na
corte francesa”.
E agora? Será que com a informação complemen-
tar você conseguiu apontar mais uma representação à
cor branca? Se não conseguiu, significa que já deveria
conhecer essa informação, certo?
Muitas vezes não temos consciência da utilização de estratégias cognitivas, porém esses mecanis-
mos fazem parte do nosso relacionamento com a linguagem. Sem eles, seria complicado preencher certas
lacunas deixadas. Ora, se já sabemos que o texto não é transparente, e sim opaco, podemos concluir
que o texto se apresenta INCOMPLETO. Se fosse completo, teríamos que ser, ao máximo, minuciosos,
Lingüística Textual 27
colocar todas as informações para que a mensagem pudesse ser compreendida. Imagine o trabalhão que
daria, hein?!
Porém, graças às estruturas cognitivas, torna-se possível preencher as lacunas textuais. Assim, não
é necessário tentar preenchê-las através das palavras, da materialidade lingüística, no sentido de apresen-
tar exaustivamente explicações ou fazer a todo momento considerações a respeito do que se diz. Nós
próprios já nos incumbimos disso no momento em que mobilizamos nosso conhecimento prévio, seja a
respeito da cultura, da sociedade, dos interlocutrores e/ou da própria língua. Bem, é melhor observarmos
a utilização dessas estratégias para compreendermos com propriedade essa questão. Para isso, a partir de
agora serão apresentados alguns tipos de estratégias cognitivas. Então, acompanhe a apresentação de tais
elementos e preste bastante atenção, ok?!
FRAMES – São estruturas cognitivas globais armazenadas na memória. Essas estruturas são ati-
vadas diante de um conceito primário, mobilizando elementos que individualmente constituem também
conceitos, mas em conjunto representam um frame. Observe, por exemplo, que, ao pensar a palavra
NATAL, outros elementos são mobilizados:
NATAL
ÁRVORE PAPAI-NOEL
BRINQUEDOS
Perceba que não há uma ordem ou seqüência na disposição
desses elementos. Assim, a palavra BRINQUEDOS poderia ter
surgido primeiro, ou ÁRVORE por último, no esquema acima. Se
pensarmos nas palavras que surgiram a partir da palavra NATAL,
individualmente são conceitos, mas, em conjunto, como aparece-
ram, representam um frame.
Os frames também se adequam às circunstâncias. Ora, a mes-
ma palavra apresentada, dita por um professor, poderia desencadear
um frame diferente. Quer ver?
NATAL
↓
NOTAS FINAIS
↓
FINALIZAÇÃO DO ANO LETIVO
↓
RECUPERAÇÃO
E o tempo deu-lhe de presente as mãos trêmulas. Já não enxerga mais como antes. As amiza-
des da infância se foram e agora não se separa da velha lupa, companheira fiel, amiga querida que
lhe traz de volta parte da noção da beleza da vida, e de suas agruras. Andar já não pode mais. Aco-
metida por um problema de coluna, não consegue mais ficar de pé. Além do mais, os ossos frágeis
poderiam se esfacelar apenas com uma tentativa. O certo é que, até para os longevos, a dádiva do
tempo torna-se implacável e, com o seu passar, se transforma num pesar por sua cruel lentidão e
infindável eternidade.
André Luiz.G.Madureira
Nesse texto, as ações remetem a uma fase específica da vida: a velhice. Os scripts evidenciam, no
texto, essa sucessão de ações: “Já não enxerga mais como antes”, “andar já não pode mais”, “Acometida
por um problema de coluna”. Conhecemos esse script vez que temos consciência dessa seqüência estere-
otipada das ações que remetem à velhice.
Vocês puderam ter contato, nesse momento, com algumas estruturas cognitivas. Não se esqueçam
de que as estruturas não se encerram aqui. Há muito mais que essas. Quem quiser se dedicar ao estudo
da Lingüística Textual, poderá consultar a bibliografia apresentada no final do módulo e conhecer mais
dessas estruturas cognitivas. Agora é hora de testarmos os nossos conhecimentos. Vamos ver o que con-
seguimos compreender do assunto apresentado?
Lingüística Textual 29
Atividade Complementar
1. Levando em consideração o contexto (a posição dos interlocutores, o conhecimento de mundo,
as marcas lingüísticas etc), analise a tirinha abaixo e seu(s) efeito(s) de sentido.
2. Com base no que você depreendeu dos assuntos estudados, apresente as concepções clássicas
do sujeito, fundamentando-as.
3. Agora, indique a concepção de sujeito com a qual a Lingüística Textual se identifica, salientando alguns
pontos de imbricamento entre a Lingüística Textual e o referido sujeito que expliquem tal identificação.
4. Tendo como base o assunto apresentado anteriormente, faça algumas considerações a respeito
da importância das estruturas cognitivas para a Lingüística Textual.
Como uma metáfora da condição humana, Leonardo Boff utiliza a águia e a galinha como figuras
representativas da vida do ser humano. A galinha representa o ser arrai-
gado, limitado; a águia é apresentada como a transcendência, o ilimitado.
Com isso, Boff sugere a união entre esses dois elementos como meio
ideal para a condição humana. A respeito desses símbolos, o referido
autor salienta:
“Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queremos ser também
águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro.
Acolhemos prazerosamente nossas raízes (galinha), mas não à custa da copa (águia) que mediante suas fo-
lhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o inteiro universo. Queremos resgatar nosso ser de águias.
As águias não desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na
terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes”.
Tomado pelo espírito de águia, proponho sairmos do chão para utilizar nossa capacidade ilimitada
de conhecer, de descobrir novos horizontes. Agora é o momento de mais uma vez levantarmos vôo e
descobrirmos os elementos básicos da Lingüística Textual. Então, não percamos tempo. Vamos bater
asas e decolar!
A COERÊNCIA TEXTUAL
Lingüística Textual 31
Eu os observo por um minuto apenas para não perturbar-lhes os jogos de mão e misteriosos brinquedos
mímicos com que se entretêm, pois suspeito de que sabem de tudo o que se passa à sua volta. Às vezes, para
descansar da posição, encaixam-se os pescoços e repousam os rostos um sobre o ombro do outro, como dois
cavalinhos carinhosos, e eu vejo então os olhos da menina percorrerem vagarosamente as coisas em torno,
numa aceitação dos homens, das coisas e da natureza, enquanto os do rapaz mantêm-se fixos, como a perscru-
tar desígnios. Depois voltam à posição inicial e se olham nos olhos, e ela afasta com a mão os cabelos de sobre
a fronte do namorado, para vê-lo melhor e sente-se que eles se amam e dão suspiros de cortar o coração. De
repente o menino parte para uma brutalidade qualquer, torce-lhe o pulso até ela dizer-lhe o que ele quer ouvir,
e ela agarra-o pelos cabelos, e termina tudo, quando não há passantes, num longo e meticuloso beijo.
-Que será – pergunto-me em vão – dessas duas crianças que tão cedo começam a praticar os ritos do
amor? Prosseguirão se amando, ou de súbito, na sua jovem incontinência, procurarão o contato de outras bo-
cas, de outras mãos, de outros ombros? Quem sabe se amanhã quando eu chegar à janela, não verei um rapazi-
nho moreno em lugar do louro ou uma menina com a cabeleira solta em lugar dessa com cabelos presos?
-E se prosseguirem se amando – pergunto-me novamente em vão – será que um dia se casarão e serão feli-
zes? Quando, satisfeita a sua jovem sexualidade, se olharem nos olhos, será que correrão um para o outro e se da-
rão um grande abraço de ternura? Ou será que se desviarão o olhar, para pensar cada um consigo mesmo que ele
não era exatamente aquilo que ela pensava e ela era menos bonita ou inteligente do que ele a tinha imaginado?
É um tal milagre encontrar, nesse infinito labirinto de desenganos amorosos, o ser verdadeiramente
amado ... Esqueço o casalzinho no parque para deter-me por um momento na observação triste, mas fria, desse
estranho baile de desencontros, em que freqüentemente aquela que deveria ser daquele acaba por bailar com
outro porque o esperado nunca chega; e este, no entanto, passou por ela sem que ela o soubesse, suas mãos
sem querer se tocaram, eles olharam-se nos olhos por um instante e não se reconheceram.
E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca a tivesse
visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela,
eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me cru-
cifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer lhe causasse dano; e
gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis
ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.
E aí, você gostou do texto? Conseguiu entender o que ele expressa? Foi difícil?
Bem, no decorrer do texto de Vinicius de Moraes, você deve ter percebido a existência de termos
que remetem a outros (ele, ela, eles, este...) ou que relacionam partes do texto (mas, e, pois...). Esses ter-
mos são chamados de elementos coesivos e podem auxiliar na compreensão do texto. Já deu para perce-
ber que a coesão encontra-se na materialidade lingüística, vez que os elementos coesivos são elementos
textuais explícitos, ou seja, se estabelecem na linguagem, marcam-se no texto.
Nos estudos realizados acerca dos mecanismos de coesão textual, podem-se destacar os de Halliday &
Hassan, que dividiram os elementos coesivos em: referência, substituição, elipse, conjunção e coesão lexical.
REFERÊNCIA
O mecanismo de referência remete a um termo do texto (endofórico) ou externo a ele (exifórico).
Referência exofórica – Quando remete a um
elemento exterior ao texto, ou seja, fora dele.
Na frase:
“Adorei a mensagem desse outdoor”.
a referência (desse) é exofórica, vez que remete a algo
que está fora do texto (no caso, o outdoor)
SUBSTITUIÇÃO
A substituição é parecida com a referência, mas Halliday & Hassan a distinguem. Para eles, na subs-
tituição, diferentemente da referência, o elemento remissivo não é o mesmo que o referente. Observe o
seguinte enunciado:
“Jorge comprou um carro vermelho, mas José resolveu comprar um preto.”
Desse jeito, o referente sofreu uma redefinição. O carro pretendido por João tem uma característica
diferente do de José. Aí a cor vermelha é “repudiada”.
ELIPSE
A elipse consiste na supressão de um termo que pode ser facilmente identificado a partir do con-
texto. Assim, substitui-se um léxico, uma oração, um enunciado por zero ( ø ).
- Marta saiu cedo?
- ø Saiu ø.
No exemplo acima, não foi preciso, na resposta, dizer “Marta saiu cedo”. Apesar da supressão de
MARTA e de CEDO, a mensagem pôde ser facilmente compreendida. O próprio contexto da situação
comunicativa foi capaz de propiciar a compreensão da resposta dada. Portanto, as lacunas deixadas não
prejudicaram a mensagem.
CONJUNÇÃO
A conjunção (ou conexão) tem a propriedade de relacionar as partes de um texto (elementos ou
orações). Estas relações têm uma especificidade. Veja o exemplo abaixo:
“Márcio correu bastante, mas não conseguiu pegar o ônibus”.
Pode-se observar que a relação existente na frase apresentada é de adversidade. Se MÁRCIO COR-
REU BASTANTE, a expectativa é que ele conseguisse PEGAR O ÔNIBUS. Como essa expectativa é
Lingüística Textual 33
frustrada pela segunda oração, NÃO CONSEGUIU PEGAR O ÔNIBUS, estabelece-se uma relação
específica de adversidade.
COESÃO LEXICAL
A coesão lexical caracteriza-se a partir de dois mecanismos: a reiteração e a colocação.
“Gosto muito de viajar de avião. O aparelho é mesmo muito seguro e bastante eficiente.”
No trecho acima, APARELHO é hiperônimo de AVIÃO. Nesse caso, temos um exemplo de coe-
são lexical por reiteração.
Em
“Morri de medo quando vi o machado. Aquela coisa me fez passar mal.”
temos também um exemplo de coesão lexical por reiteração. Dessa vez, ocorre pela presença de um
termo genérico (coisa). O mesmo tipo de coesão se vê na frase
“O menininho saiu correndo. O garotinho realmente estava com pressa.”
Só que, dessa vez, a coesão se dá a partir de um sinônimo de menininho (garotinho).
No trecho
“Houve um acidente na estrada. Logo depois chegaram as ambulâncias para transportar os pacien-
tes até um hospital próximo.”
pode-se perceber que ACIDENTE, AMBULÂNCIAS, PACIENTES e HOSPITAL são facilmen-
te relacionados por nós, não é?! Assim, elas pertencem a um mesmo campo significativo.
A coesão lexical pode ser visualizada a partir do seguinte esquema:
A esses estudos de Halliday & Hassan, acerca dos mecanismos coesivos, vários autores fizeram
suas ressalvas, teceram suas críticas. Há pontos importantes em relação às divergências existentes, como
a não aceitação da diferença entre a referência e a substituição. Além disso, muitos autores não vêem a
coesão lexical como um mecanismo independente.
Por conta dessas e de outras questões, Fávero propõe o estabelecimento de três formas de coesão
textual: a referencial, a recorrencial e a seqüencial.
COESÃO REFERENCIAL
Esse tipo de coesão se dá no momento em que um elemento faz referência a
outro. Dessa forma, pode-se perceber que o elemento remissivo deve ser interpre-
tado não em seu sentido próprio, e sim no sentido do termo referido.
Vamos ver melhor como se dá esse processo?! Ok! Então, preste atenção.
Você sabia?
CURIOSIDADE!
A palavra REITERAR vem do latim reiterare, que significa REPETIR.
Lingüística Textual 35
desenvolva. A recorrência é um recurso que não raro encontramos em poemas e músicas. Ela também
pode destacar nos textos a propriedade rítmica, a entoação, entre outras.
SEQÜENCIAÇÃO
A coesão seqüencial se parece bastante com a recorrencial, que nós vimos anteriormente. Porém,
há uma diferença entre as duas: a seqüenciação não retoma termos ou estruturas. Ela pode ser temporal
ou pode se dar por conexão.
TEMPORAL – Quanto à coesão temporal, Fávero salienta que “embora todo texto coeso tenha
uma seqüenciação temporal (já que a coesão é linear), uso o termo em sentido restrito: para indicar o
tempo do ‘mundo real’”.
Assim, essa questão de temporalidade e, conseqüentemente, de coesão temporal, pode ser obser-
vada na seguinte frase:
“Ele levantou da cama, escovou os dentes, tomou café e foi trabalhar.”
Observe que houve uma seqüência estabelecida em relação ao “mundo real”. A coesão seqüencial
temporal também pode ser marcada por partículas temporais:
“Só irei viajar amanhã.”
SEQÜENCIAÇÃO POR CONEXÃO – Como o próprio nome já nos adianta, esse tipo de co-
esão se dá a partir da conexão de partes de um texto, de sentenças, de frases, principalmente mediante
conectivos:
“Maria ou Fernanda jogará hoje.”
“Se ela gostasse de mim, eu seria o homem mais feliz do mundo.”
Bem, vocês puderam acompanhar alguns tipos de coesão textual. É preciso lembrar que a coesão
não se esgota diante do que foi abordado nesse módulo. Há mais elementos coesivos, porém, como in-
trodução, esses tipos apresentados já nos são suficientes para ter uma idéia da relação coesiva em textos,
um dos pontos principais da Lingüística Textual. Agora vamos passar para um outro item que também é
importantíssimo para os estudos da referida disciplina: a coerência textual.
A COESÃO TEXTUAL
Em algum momento de sua vida você ou uma pessoa que você conhece já deve ter se deparado com
um texto e, após fazer uma leitura, ter dito: “Não entendi esse texto. Para mim, não está coerente”, ou “O
que o texto apresenta está totalmente incoerente”. Pois é. Muitas vezes não conseguimos compreender a
mensagem de um determinado texto, caracterizando-o como um texto incoerente. Mas você sabe por que
isso acontece? Bem, a resposta para essa pergunta será dada a partir de agora. Mas não se preocupe. Prome-
to tentar ser muito coerente, tá?!
Primeiramente, podemos dizer que a coerência é o que dá textualidade a
uma determinada seqüência lingüística. É mediante a coerência que uma seqü-
ência lingüística pode se tornar um texto.
Lembra de que, quando estudamos as características de um texto, concluímos que ele deve ser visto não
como um produto acabado, finalizado, mas como um processo interativo, dinâmico? Além disso, percebemos
que o sentido textual é produzido na interação entre texto e leitor/ouvinte. Pois aí está! A coerência situa-se
justamente nesse processo, que envolve tanto o texto e o contexto quanto os interlocutores.
Agora, vamos ver alguns fatores que contribuem para a constituição da textualidade, ou seja, para
que a coerência se configure, proporcionando, assim, a compreensão textual.
CONHECIMENTO DE MUNDO
O que aconteceria se você tivesse que ler um artigo de física quântica? É,
acho que, assim como muitos, você não entenderia muita coisa. A não ser que
tenha um conhecimento sobre esse assunto. Pois é justamente o conhecimento
que nós temos sobre as mais variadas questões que é o conhecimento de mundo,
ou conhecimento enciclopédico.
Esse conhecimento se encontra armazenado em nossa mente, mas não de
qualquer forma. Há uma estruturação cognitiva. Desta forma, podemos rever al-
gumas estruturas cognitivas auxiliadoras nesse trabalho de organização mental:
• FRAMES
• ESQUEMAS
• PLANOS
• SCRIPTS
CONHECIMENTO PARTILHADO
Em uma situação comunicativa, para que se compreenda uma determinada mensagem, é importan-
te que os interlocutores tenham um conhecimento parecido. Perceba que é impossível o fato de interlocu-
tores terem o mesmo conhecimento, vez que as duas vidas, mesmo que tenham uma rotina parecida, são
diferentes. Além das experiências, das situações pelas quais passam não poderem ser idênticas, a forma de
absorver ou perceber tais situações seria desenvolvida por visões particulares, individuais. Mas eles devem
ter conhecimentos em comum. Vamos entender melhor essa questão. Fique de olho na seguinte frase:
“Detesto quando ele acende o cigarro. A fumaça me incomoda bastante.”
Para nós, não é difícil perceber que a fumaça citada na frase acima é produzida pelo cigarro. Con-
seguimos compreender o exemplo citado porque temos esse conhecimento compartilhado. Por isso, não
foi preciso explicar que a fumaça sai do cigarro.
INFERÊNCIAS
As inferências se assemelham a deduções possíveis de serem feitas a partir de nosso conhecimento
de mundo. Veja a frase abaixo:
“Pedro adquiriu uma linda mansão em um excelente bairro!”
Lingüística Textual 37
Diante dessa frase, nós podemos fazer as seguintes inferências:
Pedro tem uma casa nova.
A nova casa de Pedro é uma mansão.
Pedro tem dinheiro para comprar uma mansão.
Pedro é rico.
Pedro é um ótimo partido!
É claro que as inferências dependem também do contexto. Se uma mãe tiver o propósito de arru-
mar um marido rico para sua filha, a última inferência estaria bem direcionada. Porém, nesse caso, todas
as inferências seriam válidas.
FATORES DE CONTEXTUALIZAÇÃO
Os fatores de contextualização também são bastante importantes para direcionar uma situação de
comunicação. Esses fatores fazem com que a perspectiva na comunicação seja direcionada, no intuito de
imprimir a coerência, o entendimento. Eles podem ser:
TÍTULO
NOME DO AUTOR
CARIMBO
DATA
ASSINATURA
Entre outros
SITUACIONALIDADE
Imagine uma pessoa indo à praia vestida com um paletó e uma gravata, e outra em um casamento,
vestida apenas com uma sunga.
Essa cena vai se tornar estranha, não é? Isso
ocorre porque essas pessoas não adequaram a roupa
ao local. No contexto social, há regras básicas de con-
duta que devemos seguir. Assim também acontece com
a língua. Temos que adequá-la ao ambiente, à situação
comunicativa, situação esta que vai determinar as nos-
sas escolhas em relação à forma de dizer, à forma de falar.
Não é prudente, por exemplo, utilizar gírias na linguagem durante uma entrevista de emprego, a
não ser que o trabalho seja direcionado para uma situação comunicativa em que se precise utilizar gírias
ou algo parecido. Porém, no mais, não se faz conveniente o uso da respectiva linguagem em uma entre-
vista de emprego. Assim, fica claro que a situação comunicativa, e também sócio-cultural, é determinante
para a coerência na produção textual.
INFORMATIVIDADE
De certa forma, a informatividade está ligada ao grau de previsibilidade. Diante disso, quanto mais
Lingüística Textual 39
A fábula mostra que, ante a decisão dos que são maus, nem uma justa
defesa tem força.
Agora, acompanhe a fábula de Millôr Fernandes com o mesmo título:
O LOBO E O CORDEIRO
Estava o cordeirinho bebendo água, quando viu refleti-
da no rio a sombra do lobo. Estremeceu, ao mesmo tempo que ouvia a voz caver-
nosa: “Vais pagar com a vida o teu miserável crime.” “Que crime?” – perguntou o
cordeirinho tentando ganhar tempo, pois já sabia que com lobo não adiantava ar-
gumentar. “O crime de sujar a água que eu bebo.” “Mas como posso sujar a água
que bebes se sou lavado diariamente pelas máquinas automáticas da fazenda?”
– indagou o cordeirinho. “Por mais limpo que esteja um cordeiro é sempre sujo
para um lobo” – retrucou dialeticamente o lobo. “E vice-versa” – pensou o cordei-
rinho, mas disse apenas: “Como posso eu sujar a sua água se estou abaixo da cor-
rente?” “Pois se não foi você foi seu pai, foi sua mãe ou qualquer outro ancestral
e vou comê-lo de qualquer maneira, pois como rezam os livros de lobologia, eu só
me alimento de carne de cordeiro” – finalizou o lobo preparando-se para devorar o
cordeirinho. “Ein moment! Ein moment!” – gritou o cordeirinho traçando lá o seu
alemão kantiano. “Dou-lhe toda razão, mas faço-lhe uma proposta: se me deixar
livre atrairei pra cá todo o rebanho.” “Chega de conversa” – disse o lobo – “Vou
comê-lo logo, e está acabado.” “Espera aí” – falou firme o cordeiro – “Isso não é
ético. Eu tenho, pelo menos, direito a três perguntas.” “Está bem” – cedeu o lobo
irritado com a lembrança do código milenar de jungle. – “Qual é o animal mais
estúpido do mundo?” “O homem casado” – respondeu prontamente o cordeiro.
“Muito bem, muito bem!” – disse o lobo, logo refreando, envergonhado, o súbito
entusiasmo. “Outra: a zebra é um animal branco de listras pretas ou um animal
preto de listras brancas?” “Um animal sem cor pintado de preto e branco para não
passar por burro” – respondeu o cordeirinho. “Perfeito!” – disse o lobo engolindo
em seco.” Agora, por último, diga-me uma frase de Bernard Shaw.” “Vai haver
eleição em 66” – respondeu logo o cordeirinho mal podendo conter o riso. “Muito
bem, muito certo, você escapou!” – deu-se o lobo por vencido. E já se ia preparan-
do para devorar o cordeiro quando apareceu o caçador e o esquartejou.
MORAL: QUANDO O LOBO TEM FOME NÃO DEVE SE METER EM FILOSOFIAS.
Agora, observe uma fábula, com o mesmo título, mas com sua produção datada por volta do século
VII a.C.
O lobo e o cordeiro
Um lobo, que já havia comido à saciedade, viu um cordeiro caído no chão. Compreendeu que ele
caíra de medo, aproximou-se para tranqüilizá-lo, e disse que apenas deveria lhe apresentar três proposi-
ções verdadeiras para ir embora são e salvo. E o cordeiro disse, em primeiro lugar, que gostaria de não
tê-lo encontrado; segundo, que esperava que o lobo não fizesse nada contra ele, porque era cego; e, por
fim, em terceiro lugar, “que possam todos os abomináveis lobos morrer da pior morte, pois nos fazem
uma guerra sem quartel sem nada terem sofrido de nossa parte”. E o lobo teve de reconhecer a verdade
do que ele dissera, devolvendo-lhe a liberdade.
Moral: A fábula mostra que, muitas vezes, a verdade tem seus efeitos até sobre os inimigos. ESO-
PO, 2006, p.119 – 120)
Perceba que a intertextualidade está vinculada ao conhecimento prévio. Ora, quem conhece a fábu-
Tanto a coesão quanto a coerência são elementos primordiais para o estudo e a compreensão da
Lingüística Textual. Esse foi um dos motivos de apresentá-los separadamente. Outro motivo é que, dessa
forma, foi possível observarmos como se dão os processos de coesão e coerência de um modo mais es-
pecífico e abrangente, o que não significa dizer que os dois assuntos se esgotem no que foi apresentado;
muito pelo contrário!
Durante a apresentação da coerência, percebemos que há estruturas extralingüísticas que nos auxiliam
no processo de compreensão textual, de interpretabilidade. É interessante pensar que, a todo momento, ao
nos comunicarmos, fazemos a utilização de tais estruturas e, muitas vezes, nem percebemos. A linguagem flui,
na grande parte das vezes, com tamanha naturalidade que não nos damos conta do processo complexo que a
subjaz. Coisa parecida ocorre quando analisamos sintaticamente uma frase: no momento em que é produzida
por nós, nem pensamos “onde está o sujeito” ou “que o verbo é transitivo”, não é?!
No decorrer de nossa análise a respeito do processo de coesão textual, as marcas lingüísticas evi-
denciaram que são valorosas. Quando aplicadas corretamente, auxiliam bastante para que o texto se torne
inteligível, coerente. Como pôde ser visto no texto, mais precisamente nas seqüências lingüísticas, não
raro ocorre o aparecimento de elementos que retomam termos anteriores, remetem a outros termos,
substituem léxicos e/ou seqüências lingüísticas e que até imprimem circunstâncias e relações entre ter-
Lingüística Textual 41
mos, frases, orações... Esses elementos têm a propriedade de dar uma linearidade ao texto, de estabelecer
uma ligação entre suas partes. Assim, podemos dizer que a coesão pode ser visualizada na matéria lingü-
ística do texto, pode ser reconhecida na seqüência lingüística.
Por conta da relação existente entre a coerência e a coesão, muita gente pensa que as duas estão
intimamente ligadas ao ponto de não poderem se separar. Nesse sentido, os referidos elementos não
poderiam existir um sem a presença do outro. De acordo com esse ponto de vista, vamos ver qual é a
posição de Koch & Travaglia diante da seguinte citação:
“Como a coesão não é necessária, há muitas seqüências lingüísticas com
poucos ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem um texto porque são
coerentes e por isso têm o que se chama de textualidade”.
E continuam:
“Como a coesão não é suficiente, há seqüências lingüísticas coesas, para as
quais o receptor não pode ou dificilmente consegue estabelecer um sentido global
que a faça coerente”.
Assim, a idéia de interdependência total é posta em xeque. Para comprovar, Araújo apresenta dois
textos de Koch & Travaglia, os quais nós vamos analisar aqui.
TEXTO 1 – O SHOW
O show
O cartaz
O desejo
O pai
O dinheiro
O ingresso
O dia
A preparação
A ida
O estádio
A multidão
A expectativa
A música
A vibração
A participação
O fim
A volta
O vazio
Koch & Travaglia
Diante do primeiro texto, é possível dizer que não há um alto grau de coesão. Tem-se a constituição
textual mediante a colocação de várias palavras sem nenhum elemento de ligação. Mas será que tal ausên-
cia faz com que não se consiga compreender do que o texto trata? Ora, se prestarmos atenção, veremos
que há uma coerência. Não é difícil notar que está se tratando de etapas efetuadas por uma pessoa, pro-
vavelmente por um jovem, desde a hora em que teve noção da realização do evento (provavelmente um
show de música) até sua finalização, a volta para casa.
O que é bastante interessante de se perceber nesse texto é que a própria disposição das palavras
evidencia um grau – ainda que pequeno – de coesão, vez que “ligam” os acontecimentos. Se não houvesse
essa “ordem” na colocação das palavras, ficaria mais difícil a compreensão textual.
Apesar de podermos caracterizá-lo, em suma, como um texto não coeso, vimos que há coerência.
O que vemos aqui é o oposto do texto “O show”. Está clara a presença da coesão. No decorrer da
leitura, é notória a retomada de termos, a repetição de palavras. No entanto, se fizermos a pergunta que
não quer calar...
Já sabemos a resposta para isso, não é? Bem, o que percebemos aí é
um amontoado de frases que juntas não produzem um sentido global. Não é
possível dizer do que o texto trata. Assim, apesar da notória coesão, não há
coerência no conjunto das frases.
É importante que fique clara a noção de que a coerência e a coesão
apresentam-se como elementos primordiais para a Lingüística Textual e, ao fi-
gurarem em conjunto, desde que empregadas corretamente, auxiliam no pro-
cesso de compreensão textual. Todavia, uma não é condição de existência da
outra. Vimos, através de explicações e exemplos, que tanto a coerência quanto
a coesão podem existir separadamente.
E aí, conseguiu compreender a relação entre a coerência e a coesão textuais? Se não entendeu, vamos
dar mais uma lida, agora com bastante atenção, certo?! Mas, se a resposta for positiva, maravilha! Já estamos
prontos para avançar em nossos estudos. Já podemos conhecer outros itens bastante interessantes e que vão
nos auxiliar para que tenhamos um melhor contato com os diversos tipos de textos.
Nosso destino agora é sobrevoar a semântica da enunciação. Vamos fazer um vôo panorâmico
e avistar um trabalho bastante interessante de um teórico chamado Oswald Ducrot: a polifonia. Nesse
trabalho, o referido autor irá de encontro à concepção da “unicidade do sujeito”. Após esse primeiro
momento, apresentará sua proposta de dispersão do sujeito. É assim que ele irá tentar apresentar para
nós as “várias vozes” que estão presentificadas em nosso discurso. Estão prontos? Ok! Sendo assim,
sigam-me!
A POLIFONIA TEXTUAL
É possível constatar, pela contribuição de Ducrot (1987) com a sua teoria polifônica da linguagem,
a não-unicidade do sujeito. Ao tratar da questão polifônica da linguagem, Ducrot retoma a teoria de
Bakhtin ([1929], 1976), fundamentada pela idéia de dialogismo, retratando-a ao campo da Semântica da
Enunciação, direcionando-a ao espaço lingüístico. Durante a formulação de sua teoria, que se fez funda-
mental para os estudos da linguagem, como objetivo principal a ser galgado, teve a intenção de compro-
var a não-unicidade do sujeito, evidenciando um cenário enunciativo no qual várias vozes circundam-no a
fim de se fazerem presentes e predominantemente incontestes para a concretização do ato de elocução.
Partindo dessa concepção, o locutor não é o responsável único pela produção discursiva. Neste
contexto, o sujeito está disperso, pois na elocução encontram-se marcas discursivas as quais assinalam a
Lingüística Textual 43
presença de outros discursos (interdiscurso), de outras vozes que se digladiam numa arena dialógica e se
firmam como parte produtora da enunciação.
Para marcar a presença da polifonia nos enunciados, Ducrot mobiliza conceitos de locutor e enun-
ciador. Vamos ver como ele os apresenta em sua teoria polifônica da linguagem:
“Por definição, entendo por locutor um ser que é, no próprio sentido do enun-
ciado, apresentado como seu responsável, ou seja, como alguém a quem se deve
imputar a responsabilidade deste enunciado”.
Diante do exposto, dá para perceber que o locutor é tido como o responsável pelo enunciado; no
entanto, Ducrot assinala que o locutor é diferente do sujeito empírico, da pessoa em si. Ainda em relação
ao locutor, Ducrot o separa em duas instâncias: “locutor enquanto tal” (L) e “locutor enquanto ser do
mundo” (λ).
Quanto ao enunciador, Ducrot salienta o seguinte:
“Chamo ‘enunciadores’ estes seres que são considerados como se expressan-
do através da enunciação, sem que para tanto se lhe atribuam palavras precisas; se
eles ‘falam’ é somente no sentido em que a enunciação é vista como expressando
seu ponto de vista, sua posição; sua atitude, mas não no sentido material do termo,
suas palavras”.
Para tentar deixar essas concepções mais claras, Ducrot se baseia no trabalho de Genette acerca da
teoria da narrativa. Assim, ele compara o locutor com o autor, e o enunciador com a personagem:
LOCUTOR/AUTOR X ENUNCIADOR/PERSONAGEM
A partir daí, pode-se observar que é no intuito de cristalizar mais a distinção apresentada acerca
do locutor e do enunciador que Ducrot propõe uma analogia entre a diferença dos sujeitos e a teoria da
narrativa, de Genette. A esse respeito, o narrador aproxima-se do locutor, e o personagem do enunciador.
Da mesma forma que o narrador mobiliza personagens, o locutor irá mobilizar pontos de vista para o
enunciado, ou seja, enunciador(res). Da mesma forma que Genette opõe o autor ao narrador, Ducrot o
faz com o locutor e o sujeito falante empírico.
Vamos visualizar melhor a polifonia de Ducrot. Para isso, leia o exemplo abaixo e perceba como é
possível efetuar o estabelecimento de locutores e enunciadores no decorrer de seqüências lingüísticas.
Eu ouvi Paulo dizer: Não vai mais haver a festa.
Diante da frase acima, pode-se ver que, ao se estabelecer a análise de sobreposição de vozes, temos,
logo de início, um locutor λ, ou “locutor enquanto ser do mundo”. Também, nesse caso, há uma divisão em
duas instâncias lingüísticas: o “locutor enquanto tal”, ou o “responsável” pela enunciação e o locutor λ. É
possível compreender a presença do locutor λ por este ser a origem do enunciado. A marca lingüística de 1ª
pessoa no exemplo (eu) evidencia sua presença. A respeito disso, Ducrot afirma:
“De um modo geral o ser que o pronome eu designa é sempre λ, mesmo se a
identidade deste λ só fosse acessível através de seu aparecimento como L”.
No decorrer do exemplo, tem-se a configuração do L¹, responsável pelo enunciado “Não vai mais
haver a festa”. A presença do termo “não” na frase mobiliza duas perspectivas, dois enunciadores: enun-
ciador E, que afirma haver a festa hoje. Essa perspectiva, no entanto, é rejeitada por L¹; e a de que “não
vai haver a festa hoje”, perspectiva da qual o L¹ comunga.
Assim, para salientar características do enunciador, Ducrot ainda se vale da concepção de Genette
sobre o “centro da perspectiva”, ou “sujeito de consciência”, a partir do qual são apresentados os aconte-
cimentos. Esse ponto de vista é colocado em paralelo com a figura do enunciador, caracterizando-o, dessa
forma, por apresentar um ponto de vista que pode se distanciar da perspectiva do locutor. Dessa forma,
Genette explicita que o narrador pode ser compreendido como “quem fala” e o centro da perspectiva
como “quem vê”.
Lingüística Textual 45
O E1, ponto de vista que representa a voz sustentadora da idéia de o leão ser o rei dos animais. O
E1 se assimila à perspectiva do senso comum, vez que a sociedade vê convencionalmente no leão um ser
imponente, situado na camada mais alta do “reino dos animais”. Nesse caso, de forma figurativa, o leão
representa a arquitetura social vigente, caracterizando uma sociedade estruturada de acordo com uma
visão patriarcal, a partir da qual o homem ainda tem supremacia em termos de poder e de direitos em
relação à mulher. O leão, portanto, encontra-se num lugar que deve ser mantido, preservado. Além do
E1, manifestam-se dois outros enunciadores distintos mediante o grau de intensidade, marcado discursi-
vamente pelo intensificador “muito”. Assim, tem-se o E2, que aplica um grau maior ao “rei dos animais”,
indicando o ponto de vista de que o leão pode ser mais que o rei dos animais, portanto, “muito rei dos
animais”. No entanto, em oposição ao referente grau ascendente, que é rejeitado no discurso, passa a ser
estabelecido o E3 sob um caráter estrutural de litotes. Portanto, ao apresentar-se como um enunciado
negativo: “não muito rei dos animais”, remete-se ao posicionamento do E3, configurado mediante o sen-
tido de o leão estar pouco rei dos animais. Esse é o ponto de vista que se leva em consideração na fábula.
A partir daí verifica-se a presença de um abalo, de um estremecimento nas bases da arquitetura social. Tal
situação é observada mediante a caracterização do posicionamento do locutor e o vínculo estabelecido
com o centro da perspectiva em questão. O acionamento das posições locutor / enunciador efetua-se na
fábula em análise remetendo à teoria polifônica de Ducrot em consonância com o discurso na AD, a par-
tir do qual se podem identificar os efeitos de sentido considerando a sociedade e as ideologias presentes,
já que várias vozes são firmadas, marcando o discurso mediante essa cadeia de relações.
Simbolicamente, o leão é:
Considerado o “rei” dos animais na terra (ao lado da águia, a “rainha” dos pássaros) (...) Outras
características de forte teor simbólico são, sobretudo, a coragem, a ferocidade e sua suposta sabedoria.
É representado geralmente como símbolo de poder e de justiça nos tronos e palácios soberanos (LEXI-
KON, 1990, p. 120-121).
No entanto, no momento em que aparece “andando chateado não muito rei dos animais”, esse, por sua
vez, surge momentaneamente descaracterizado de seu valor simbólico, visto que não se encontra tão feroz, nem
tão sábio. Na verdade, já que tivera “acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boas”, suben-
tende-se que o leão não se sentiu confortável por ter de ouvir as “poucas e boas”. Ao se evidenciar um “poder”
apresentado pela mulher, percebe-se que o leão não está mais em sua posição hegemônica que lhe é atribuída.
Nesse ponto de vista, ela passa a desmantelar toda uma concepção de poder que a ele é instituído.
Ao se colocar que “esta lhe dissera poucas e boas”, o L mobiliza mais três enunciadores: o primeiro,
E4, aponta para as mulheres oprimidas, pusilânimes, que não dizem nada. Nessa concepção, tem-se um
lugar historicamente ocupado pela mulher, mediante o paradigma da concepção machista. A partir daí, re-
toma-se o ponto de vista daquele que vê a mulher subordinada à autoridade masculina, numa condição pré-
estabelecida ao longo dos tempos. O E5 diz respeito às mulheres que realmente dizem “poucas e boas”, em
seu sentido denotativo, no intuito de agradar, de servir. No entanto, na fábula, o sentido de poucas e boas
é justamente o inverso, ou “muitas e más”, que é explicado com uma citação do autor de forma irônica, já
que o referido sentido inverso é de conhecimento geral, por esta expressão, “poucas e boas”, fazer parte do
contexto da referida sociedade, a qual é estabelecida no texto, mobilizando o E6.
No enunciado, o operador argumentativo “porque” dá início à apresentação da explicação do referido
posicionamento situacional do leão. Assim, tem-se “porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe
dissera poucas e boas”. Diante desse fragmento, percebe-se a proximidade do discurso com o cenário bra-
sileiro do séc. XX. Ao optar pelo léxico “mulher”, em vez de leoa, bem como estabelecer uma propriedade
de detentor da utilização da palavra, marcada na fábula por “lhe dissera poucas e boas”, subentende-se que
se está remetendo não só a uma produção ficcional, mas também a situações presentes no contexto social
da época de produção do corpus. O léxico “mulher” e o verbo “dissera” aparecem no texto como marcas
de isotopia, depreendida em Análise do Discurso, segundo Fiorin (2005, p.112 – 113), como “a recorrência
de um dado traço semântico ao longo do texto”. A isotopia, nesse sentido, possibilita um outro plano de
leitura. Isso faz com que a fábula em questão adquira a propriedade de ser lida não apenas em seu plano
Lingüística Textual 47
leão. Porém, em uma primeira análise, isso não ocorre. Nesse sentido, surpreendentemente o rato diz: “Será
que Vossa Excelência poderia escrever isso para mim? Vou me encontrar agora mesmo com uma lesma que
eu conheço e quero repetir isso pra ela com as mesmas palavras!”
O que se evidencia no trecho anterior, em relação à polifonia, é mais uma divisão na enunciação em duas
instâncias lingüísticas: o L2 – o rato –, mobilizado mediante o discurso direto, como ser do discurso, responsável
pelo ato da enunciação, e o λ, estabelecido como ser no mundo a partir do pronome oblíquo tônico de 1ª pessoa
“mim”, bem como pelo pronome reto “eu”, marcado no enunciado. Mais uma vez configura-se na fábula a pre-
sença do discurso citado, dissociando as situações de enunciação, visto que se tem dessa vez o L2.
Porém, ao considerar o posicionamento do rato, não como um pedido primordial para a sua ne-
cessidade de se auto-afirmar perante um ser hierarquicamente inferior a ele, mas como uma forma de
escárnio voltado ao leão, modifica-se o desenvolvimento polifônico assimilado ao referido trecho. Há o
estabelecimento, nessa ótica, da divisão do sujeito na teoria polifônica de Ducrot em duas instâncias lin-
güísticas: um locutor λ e o locutor L2, a exemplo da primeira análise. Porém, o L2 mobiliza um enuncia-
dor, o E7, com o qual não se assimila. Tal posição de sujeitos se dá, vez que, nessa segunda possibilidade
de leitura, ao levar em consideração a posição de onde fala o autor da fábula e de sua característica irônica,
o trecho ganha um caráter não mais de pedido, e sim de deboche, de ironia. Quanto à posição dos sujeitos
da polifonia, Ducrot (1987, p.198) explica:
Falar de modo irônico é, para o locutor L, apresentar a enunciação como expressando a posição de
um enunciador. Posição de que se sabe por outro lado que o locutor L não assume a responsabilidade, e,
mais que isso, que ele a considera absurda. Mesmo sendo dado como o responsável pela enunciação, L
não é assimilado a E, origem do ponto de vista expresso na enunciação.
A “tirada” do rato é feita, nesse sentido, não como uma colocação sincera, mas surge na forma
irônica. Por isso, o pedido expresso na verdade é de cunho absurdo para ele, já que não pretende obter
resposta alguma do leão. Por “querer” que o leão repita a ofensa “com as mesmas palavras” no intuito de
que possa dizer as mesmas coisas à lesma, a qual, para o rato, se apresenta como ser mais insignificante
que ele próprio, o “mais menos”, gera um efeito de sentido que indica o não afetamento moral do rato
pelas ofensas do leão, ser “superior”, que não consegue fazer com que um outro, insignificante, se sinta
em sua condição de rebaixamento moral. O rato salienta que há um posicionamento inferior ao dele, no
entanto não se sente afetado pelo leão, o que põe em dúvida uma possível onipotência, vez que, em se
tratando do “rei dos animais”, o local soberano em que se encontra deveria lhe instituir a centralização
do poder, o que, diante da posição irônica do rato, não ocorre.
A moral da fábula “Afinal ninguém é tão inferior assim” e a submoral “Nem tão superior, por falar nisso”
são de responsabilidade do locutor L, o qual se assimila à voz dos contadores de histórias e que, para tanto, se apre-
senta a partir da perspectiva da voz genérica. Nesse sentido, na moral e na submoral são resgatados L e o ponto
de vista a que L se assimila: o E0. Além disso, os referidos fragmentos resgatam a idéia de poder desenvolvida
durante a análise, que marca a luta da mulher, a qual ganha maior relevo com o posicionamento do ideal feminista
e o poder das classes dominantes, desenvolvido a partir de um movimento capitalista de produção intensificada
e de exploração do trabalho, o que na década de 50 caracterizou a sociedade moderna. Apesar de se ter um valor
hierárquico presentificado na fábula, o qual, mesmo corroído pelas estruturas ideológicas que tendem a combater
o processo de assujeitamento desenvolvido pela ideologia dominante, não se desmantela, não passa a ocupar um
lugar social inferior ao que se situa, não há centralização do poder. A partir do momento em que uma luta de
classes, uma estrutura ideológica é colocada em embate, cristaliza-se a concepção de que em todos os locais de
conflito existe a presença do poder.
(MADUREIRA, André Luiz Gaspari).
Bem, agora que já vimos alguns pontos básicos da polifonia, vamos tentar aplicá-los e realizar ou-
tras façanhas em nossa atividade. Se você sentir dificuldade em algum momento, não desista. Lembre-se
de que uma forma de aprender é analisando nossos erros e tentando superar nossos limites. Não esqueça
de seu espírito de águia, tá?! Mãos à obra!
1. Retire do texto de Rubem Alves alguns elementos de coesão e apresente suas devidas
classificações.
Lingüística Textual 49
2. Dos mecanismos de coerência estudados, apresente quatro deles e ilustre sua conceituação com
exemplos próprios.
5. Agora, escolha um parágrafo do texto “Brasil do B”, reescrevendo-o e imprimindo-lhe a coesão tex-
tual. Não se esqueça de que não deve faltar em seu parágrafo nenhuma palavra do parágrafo escolhido, ok?!
Lingüística Textual 51
A LÍNGUA ESCRITA E A LÍNGUA
FALADA
Quando falamos em oralidade, o que logo vem à mente? E no caso do letramento? É, não é difícil
associar a oralidade à fala e o letramento a escrita. E isso não vem de hoje. Essas características remontam
de tempos, mas continuam sendo vistas por muitas pessoas a partir de seus significados de lá atrás.
O objetivo desse nosso estudo sobre a oralidade e o letramento é o de esclarecer alguns pontos que
os caracterizam hoje em dia, inserindo-os, para isso, em um contexto social. Mas para isso é necessário que
lembremos como eram pensados anteriormente, o que vamos começar a fazer a partir de já, ok?!
O letramento
Durante muito tempo, chamou-se aquele indivíduo que sabia ler e escrever de LETRADO. Bem,
se tomarmos essa caracterização como parâmetro, chegaremos à conclusão de que os analfabetos, as
pessoas que não sabem ler, são denominadas de ILETRADAS.
Diante disso, ao pensarmos na forma com que as pessoas viam (e muitas ainda vêem) essa questão,
teremos a diferenciação abaixo:
ALFABETIZADO X ANALFABETO
↓ ↓
LETRADO ILETRADO
Assim, pode-se ver que a relação estabelecida na diferenciação acima gira em torno da escrita. Se
uma pessoa não tem o domínio da escrita, ela é taxada de iletrada. Mas, se dissermos o seguinte:
O letramento não equivale à aquisição da escrita
Aí as coisas começam a ficar um pouco complicadas, não é? E agora, como caracterizar o letramen-
to? Vamos mais adiante. Dessa vez, preste atenção na afirmação abaixo:
Os analfabetos também estão inseridos no processo de letramento.
Embolou tudo aí dentro de sua cabeça? Não se aflija! Vamos ajeitar tudo agora. Primeiro, vamos
ver o que Marcuschi nos diz sobre o letramento:
“O letramento (...) envolve as mais diversas práticas da escrita (nas suas va-
riadas formas) na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita,
tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica
o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos
completos, sabe distinguir as mercadorias pelas marcas etc., mas não escreve car-
tas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso do
indivíduo que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances.
Letrado é o indivíduo que participa de forma significativa de eventos de letramen-
to e não apenas aquele que faz um uso formal da escrita”.
E agora, ficou mais claro? É preciso, portanto, pensar o letramento como uma prática social. É o letra-
mento que permite que as pessoas “leiam” o mundo à sua volta. Ora, quem não conhece ou nunca ouviu falar
ORALIDADE X LETRAMENTO
↓ ↓
FALA ESCRITA
Ao pensarmos da forma apresentada acima, estaremos estabelecendo uma dicotomia entre a ora-
lidade e o letramento. Porém, é mais conveniente visualizarmos tanto a oralidade quanto o letramento
como elementos intrinsecamente ligados.
Quando nos perguntamos o que vem a ser a escrita, não raro vem à mente a seguinte resposta:
A escrita é a representação da fala.
No entanto, não podemos aceitar que a fala seja a mera representação da
escrita. Em primeiro lugar, a escrita não consegue representar alguns fenômenos
próprios da oralidade, como os gestos, as entonações, os movimentos corporais
entre, outros. Quanto a uma provável dicotomia, Marcuschi salienta:
“Oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características
próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lin-
güísticos nem uma dicotomia”.
Ao observar a oralidade e o letramento como práticas sociais, o mais
importante é reconhecer sua natureza que envolve o uso da língua, tanto oral
como escrita. Mas será que se podem ser identificadas, hoje em dia, as carac-
terísticas da língua e da fala de forma determinante?
Para responder à questão acima, vamos observar algumas características atribuídas à fala e à língua.
Depois, tentaremos ver como tais características podem ser apresentadas em diversos tipos de texto.
Ao longo do tempo, a escrita passou a ganhar uma significativa importância. Muito se falou que o
desenvolvimento de uma nação dependia da escrita. Uma tese já foi postulada a esse respeito. A grande
virada cognitiva atribuía à presença da escrita o fato de muitas sociedades se erguerem tecnologicamente,
Lingüística Textual 53
bem como o da aquisição de um raciocínio formal.
Porém, essa tese não é mais considerada hoje em dia. Autores como Jack Goody e Walter Ong já
deixaram de lado esse pensamento.
É claro que a escrita já faz parte do nosso dia-a-dia. Até mesmo um analfabeto está exposto
a sua influência.
Assim, podemos constatar a presença da escrita, junto com a orali-
dade, em diversos momentos de nossa vida. Em nosso trabalho, na famí-
lia, na escola, na igreja estamos nos utilizando da escrita e da oralidade,
estamos insertos em um ambiente de práticas sociais, participando dos
processos de letramento e de oralidade.
Se pararmos para pensar, para que serve a escrita e a leitura em
casa? Diante de tal pergunta, é possível citar diversos momentos em que essas se fazem presentes, tais
como:
• Ao se elaborar uma lista de compras;
• Quando deixamos um recado pendurado na geladeira;
• No momento em que necessitamos do auxílio de uma receita para preparar alguma comida;
• Nas horas de descanso, quando pegamos uma revista ou algo parecido para ler e relaxar;
• Sempre que queremos nos informar através da leitura de um jornal ou de uma revista;
• Quando precisamos efetuar um pagamento e, para isso, pegamos uma folha de cheque para
preencher.
Já deu para perceber que, se formos listar, ocuparemos o resto do módulo. Assim, pôde-se perceber
que tanto a escrita como a oralidade são imprescindíveis hoje em dia.
Quantas vezes você já viu alguém ser tratado com preconceito por conta da escrita? Pois é! A
escrita, desde que foi criada, pouco mais de 3.000 anos antes de Cristo, veio ganhando um status im-
pressionante, tornando-se até motivo de preconceito, principalmente em nossa sociedade. Sempre temos
conhecimento de pessoas que sofreram preconceitos por não saberem escrever ou por não utilizarem o
modelo padrão da escrita corretamente. Sem sombra de dúvida, muitos de nós até já fizeram isso.
A importância da escrita tem se tornado algo tão notório que até mesmo organizações que primam
pelo desenvolvimento de nações atestam a importância da alfabetização. É o caso da UNESCO, que atri-
bui à falta de alfabetização a presença da pobreza, da doença, do atraso.
No entanto, os dados acerca do desenvolvimento não atestam a crença da UNESCO. Nem sempre
o desenvolvimento está ligado à alfabetização.
Agora, vamos ver o que Marcuschi nos diz sobre a escrita:
“A escrita seria um modelo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas es-
pecificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica, embora envolva também recursos
de ordem pictórica e outros (situa-se no plano dos letramentos). Pode manifestar-se, do ponto de vista de
sua tecnologia, por unidades alfabéticas (escrita alfabética), ideograma (escrita ideográfica) ou unidades
iconográficas, sendo que no geral não temos uma dessas escritas puras. Trata-se de uma modalidade de
uso da língua complementar à fala.”
Perspectiva dicotômica
Uma das características dessa visão dicotômica é a de considerar a fala como o local do erro, do
caos. Também não leva em consideração questões dialógicas e discursivas.
Veremos um outro quadro, diferente da perspectiva dicotômica, e que também apresenta alguns
problemas. Agora, vamos passar a estudar alguns aspectos da língua falada.
Anteriormente nós vimos que a escrita, em muitas sociedades, tornou-se fundamental no dia-a-
dia do ser humano. Também foi e ainda é fonte de preconceito. Já a fala, em relação à escrita, tem uma
primazia cronológica.
Repare que nós, antes de sermos seres que dominam a escrita, somos seres que utilizam a oralidade.
Assim, a fala ganha um caráter natural. A escrita, nesse ponto de vista, é um fato histórico, diferente da
fala, um bem natural.
A partir daí, não se deve dizer que a fala, por sua primazia cronológica e por ser um bem natural,
seja mais importante que a escrita. Hoje em dia, a fala e a escrita andam de mãos dadas.
Um pouco antes, vimos a concepção de Marcuschi a respeito da escrita. Agora veremos como ele
caracteriza a fala. Perceba as peculiaridades de cada uma e compare os dois conceitos:
“A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicati-
vos na modalidade oral (situa-se no plano da oralidade, portanto), sem a necessi-
dade de uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Ca-
racteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados
e significativos, bem como os aspectos prosódicos, envolvendo, ainda, uma série
de recursos expressivos de outra ordem, tal como a gestualidade, os movimentos
do corpo e a mímica”.
Ao tratarmos da escrita, foi possível visualizar um quadro de Marcuschi acerca da perspectiva di-
cotômica. Agora, vamos observar uma outra perspectiva que se tornou foco de atenção para os estudos
da relação entre fala e escrita.
Perspectiva sociointeracional
Essa perspectiva leva em consideração a interação, a situação dialógica. No entanto, peca ao não
contemplar a descrição e a explicação de fenômenos sintáticos e fonológicos. Observe o quadro elabora-
Lingüística Textual 55
do por Marcuschi a respeito dessa perspectiva:
(DESTACAR O QUADRO ABAIXO)
Fala e escrita apresentam
Dialogicidade
Usos estratégicos
Funções interacionais
Envolvimento
Negociação
Situacionalidade
Coerência
Dinamicidade
Nesse sentido, Marcuschi sugere que a perspectiva interacionista seja integrada aos estudos da Análise da
Conversação etnográfica e da Lingüística Textual, para que os estudos apresentassem melhores resultados.
Diante disso, dá para perceber que nos estudos da fala e da escrita não há consenso, muito menos
nos da oralidade e do letramento. Segundo Marcuschi, “as diferenças entre fala e escrita se dão dentro de
um continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois
pólos opostos”.
Muitas vezes, ao tratar de gêneros textuais, percebemos que, em relação à fala e à escrita, tais gê-
neros se misturam. Além disso, muitos textos escritos podem apresentar mais aspectos orais. Agora,
observe o quadro abaixo elaborado por Marcuschi:
Lingüística Textual 57
• Repetições
• Correções
• Hesitações
• Paráfrase
• Elipse
• Digressões
Quanto à repetição, Marcuschi já chegou a afirmar que é uma característica típica da fala. Além
disso, ele diz que a repetição é fenômeno que representa mais de 20% da fala.
Vamos observar agora uma parte de um texto conversacional retirado do NURC (norma lingüística
urbana culta) de São Paulo. O texto gira em torno de uma conversa entre uma jornalista (L1) e uma escri-
tora (L2) que se conhecem e têm um grau de parentesco: são primas. Elas são viúvas, paulistanas e têm
60 anos. O diálogo foi acompanhado por uma documentadora, que introduz um tema para ser debatido.
Por isso, não se trata de um diálogo espontâneo.
Agora, vamos ao texto:
Doc. Gostaríamos que dessem as suas opiniões a respeito de televisão...
L1 olha I. ...eu...como você sabe...uma pessoa um diretor lá da folha...certa feita me chamou...e me
incumbiu de escrever sobre televisão...o que me parece é que na ocasião...quando ele me incumbiu disso...ele
pensou...que ele iria...ficar em face de uma recusa...e que eu ia...esnoBAR (ri).. agora vamos usar um termo...
que eu uso bastante que todo mundo usa muito...eu ia esnobar a televisão...como todo intelectual realmente
esnoba...mas acontece...que eu já tinha visto durante muito tempo televisão...porque::houve uma época na
minha vida que a literatura::me fazia prestar muita atenção...e eu queria era uma fuga...então a minha fuga...
era me deitar na cama...ligar o::receptor e ficar vendo...ficar vendo...e::aí eu comecei a prestar atenção naquela
tela pequena...vi...não só que já se fazia muita coisa boa e também muita coisa ruim é claro...mas::vi também
todas as possibilidades...que aquele veículo... ensejava e que estavam ali laTENtes para serem aproveitados...
agora voCÊ...foi dos tempos heróicos...da mencionada luta
L2 eu estava na Tupi trabalhando como::...funcionária da Tupi...da rádio...Tupi...quando foi lança-
da a primeira (primeira) televisão...de modo que eu vi nascer propriamente a a...televisão...
L1 vinte e cinco anos né?
L2 é( ) eu...eu vi nascer...eu estava lá...ah... todo momento né? E:::uma coisa eu gostaria de::...lem-
brar a você justamente a respeito da linguagem...é o seguinte que eu noto...que muito paulista fica um
pouco chocado...com o linguajar carioca...com os esses e os erres do carioca...
L1 silabados...
L2 que eram justamente um dos...um dos defeitos muito grandes do rádio...daquele tempo que
era...quando::um::...locutor ia fazer um teste...o::...o chefe dizia a ele...”diga aí os ef/ os esses e os erres”...
esse era o teste...
L1 é...
L2 para saber se ele tinha...ah::...boa dicção para falar em rádio...não é?...então ele caprichava...é
isso que o Chico Anísio está...ah ah ah...caçoando...
L1 é...
L2 no programa dele...
L1 no programa dele
L2 do Chico Anísio...não é? Ele...ca/eh...eh...ele inSISte...DORme em cima dos esses e dos erres né?
Atividade Complementar
Lingüística Textual 59
Letramento
3. Tendo como base o último texto apresentado, o texto conversacional, procure identificar nele
alguns aspectos presentes na conversação e ilustre com exemplos retirados do referido texto.
Lingüística Textual 61
ORALIDADE: prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob variadas for-
mas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora.
Marcuschi, 2005, p. 21.
PARÁFRASE: atividade de reformulação contribuidora para a coesão textual e que se diferencia da
repetição principalmente pela criatividade.
POLIFONIA: termo cunhado inicialmente por Bakhtin para caracterizar a possibilidade de ocor-
rência de mais de uma “voz” em um texto.
REFERÊNCIA: função pela qual um signo se relaciona a um objeto extralingüístico, podendo ser
endofórico ou textual e exofórico ou situacional.
Fávero, 2005, p. 13
REITERAÇÃO: caracteriza-se por se configurar como repetição de uma dada expressão (ou de
expressões) no texto.
TEORIA POLIFÔNICA DA ENUNCIAÇÃO: teoria desenvolvida por O. Ducrot (retomando o
termo “polifonia” de Bakhtin) que visa contestar a teoria da unicidade do sujeito.
ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1984.
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