Você está na página 1de 5

PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Disciplina: Língua Brasileira de Sinais: Teoria e Prática


Tutor: Aparecida Hachimine
Aluna: Paula Tamara Siqueira de Melo
RA: 8131872
Turma: DPEES2201ONLA0B
Unidade: Boa Vista - RR

ATIVIDADE

1) Diante de tais apontamentos, destaque os objetivos de cada abordagem educacional


(Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo) e justifique, em cada uma, seus sucessos e
fracassos no decorrer da história.

Oralismo: De acordo com Goldfield (1997) o Oralismo ou filosofia oralista visa a


integração da criança com surdez na comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de
desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o português). Para alguns defensores desta
filosofia, a linguagem restringe-se à língua oral sendo por isso mesmo esta, a única forma
de comunicação dos surdos. Acreditam assim que para a criança surda se comunicar é
necessário que ela saiba oralizar.
Uma das vantagens do oralismo seria, por exemplo, a possibilidade do surdo se
comunicar com pessoas que não sabem linguagem de sinais, ou seja, grande parte da
sociedade, o que garantia sua “inserção social”. Porém, a desvantagem é que nem todas
pessoas surdas são capazes de desenvolver a oralidade. Gestualização, especialmente a
língua de sinais são rejeitadas nessa abordagem em questão. No oralismo, segundo os
estudos realizados, o surdo é “adequado à sociedade”; para que ele seja inserido, incluído
socialmente, ele deveria “se moldar” à sociedade. Para mim, é um pouco complicado essa
forma de abordagem porque o surdo poderia, por exemplo, limitar suas singularidades;
não estariam sendo respeitadas suas limitações, capacidades, demais formas de se
comunicar, sem contar que no oralismo, os surdos eram vistos como inferiores, eram
vistos de forma preconceituosa, etc.
Comunicação Total: Requer a incorporação de modelos auditivos, manuais e orais para
assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas com surdez. Tem como principal
preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos, e entre surdos e ouvintes.
Se preocupa também com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas acredita
que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado só por
causa da aprendizagem da língua oral. Defende assim a utilização de qualquer recurso
espaço - visual como facilitador da comunicação.
Uma diferença marcante entre a Comunicação Total e as outras abordagens
educacionais constitui-se no fato de que a Comunicação Total defende a utilização de
qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a linguagem oral ou códigos
manuais, para propiciar a comunicação com as pessoas com surdez. Uma das grandes
vantagens que compreendi da Comunicação Total é que é uma abordagem que valoriza a
comunicação e a interação e não apenas a língua. Seu objetivo maior não se restringe ao
aprendizado de uma língua.
Então, o objetivo era que a criança pudesse se comunicar com todos: familiares,
professores, surdos, ouvintes, e assim não sofresse consequências do isolamento que a
surdez proporciona. A surdez então não era mais vista como patologia, mas como um
fenômeno com significações sociais. E vale ressaltar que o papel da família é valorizado
nessa abordagem, porque entende que a família é primordial no processo de
compartilhamento de valores, significados, colaborando no desenvolvimento da criança
surda.
Resumindo:
Pontos positivos: Não forçava o mudo a falar; Leva em consideração as características
da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação, a
fim de potencializar as interações sociais, considerando as áreas cognitivas, linguísticas e
afetivas dos alunos. As crianças surdas começam a participar das conversas com seus
professores e familiares de um modo que jamais havia sido visto desde a adoção do
oralismo escrito
Pontos negativos: Após estudos realizados na área da Linguística, tais como as pesquisas
de Stokoe, no início dos anos de 1960, começou-se a comprovar que as línguas de sinais
são línguas legítima, com status linguístico, tão completa e complexa quanto qualquer
outra língua. Ele e outros autores se posicionaram criticamente em relação a essa
modalidade mista, acreditando que o uso simultâneo de duas línguas, resulta numa
mistura que confunde o enunciado, já que a língua oral majoritária se sobrepõe à língua
de sinais. Essa prática do uso da comunicação total recebeu também o nome de
“bimodalismo” encorajando o uso inadequado da Língua de Sinais, já que a mesma tem
gramática diferente das línguas orais. Essa modalidade mista produziu um problema que
é até hoje contestado pelos surdos, ou seja, a mistura de duas línguas, a língua portuguesa
e a língua de sinais resultando numa terceira modalidade que é o “português sinalizado.
Na minha concepção, creio que mesmo com as desvantagens elencadas, ainda
assim é uma abordagem melhor que o Oralismo, e que sendo usufruída de forma
estratégica, é sim vantajosa para a comunidade surda.

Bilinguismo: Parte do princípio que o surdo deve adquirir como sua primeira língua, a
língua de sinais com a comunidade surda. Isto facilitaria o desenvolvimento de conceitos
e sua relação com o mundo. Aponta o uso autônomo e não simultâneo da Língua de
Sinais que deve ser oferecida à criança surda o mais precocemente possível. A língua
portuguesa é ensinada como segunda língua, na modalidade escrita e, quando possível, na
modalidade oral. Contrapõe-se às propostas da Comunicação Total uma vez que não
privilegia a estrutura da língua oral sobre a Língua de Sinais. Para os bi linguistas os
surdos formam uma comunidade, com cultura e língua próprias, tendo assim, uma forma
peculiar de pensar e agir que devem ser respeitadas. A preocupação do bilinguismo é
respeitar a autonomia das línguas de sinais organizando-se um plano educacional que
respeite a experiência psicossocial e linguística da criança com surdez. No caso do
bilinguismo, o surdo tem acesso à duas culturas diferentes, tem mais conhecimentos,
além de que podem conseguir bons empregos.
Em relação às desvantagens, creio que seja o fato, por exemplo, de ainda termos
dificuldades de encontrar profissionais ouvintes intérpretes de libras, poucos professores
capacitados, o que interfere no processo de aprendizagem dos surdos. Ainda, por mais
que haja dispositivos legais assegurando a língua de sinais nas escolas, a maioria das
instituições escolares ainda não são acessíveis para os surdos, os currículos,
planejamentos, etc. ainda não abarcam a comunidade surda, ou seja, não são escolas
bilíngues, na minha opinião.
2) A família exerce grande influência na aquisição da linguagem e da fala da criança
surda. Como a maioria das famílias de crianças surdas são ouvintes, explique como a
família e a escola, trabalhando juntas, podem contribuir para o desenvolvimento
linguístico da criança surda. Se a maior parte dos surdos nascem em famílias de ouvintes,
como os surdos podem se desenvolver plenamente?

De acordo com Góes,


A criança nasce imersa em relações sociais que se dão na
linguagem. O modo e as possibilidades dessa imersão são
cruciais na surdez, considerando-se que é restrito ou
impossível, conforme o caso, o acesso a formas de linguagem
que dependam de recursos de audição. Sobretudo nas
situações de surdez congênita ou precoce, em que há
problemas de acesso à linguagem falada, a oportunidade de
incorporação de uma língua de sinais mostra-se necessária
para que sejam configuradas condições mais propícias à
expansão das relações interpessoais, que constituem o
funcionamento das esferas cognitiva e afetiva e fundam a
construção da subjetividade (GÓES, 1999, p. 38).

Com base nas informações acima e nas demais estudadas ao longo dos ciclos, a
linguagem permeia desde cedo a vida da criança. Os principais agentes responsáveis em
fornecer os primeiros contatos com a linguagem são os pais, ou seja, a família da criança.
Em relação aos pais ouvintes de crianças surdas, a Declaração de Salamanca demanda
que os governos incentivem a parceria com os pais, que a educação deve ser dividida
entre pais e profissionais. Expõe que uma atitude positiva da parte dos pais favorece a
integração escolar e social; que pais necessitam de apoio para que possam assumir seus
papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. Ainda, ressalta que o papel
das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação
necessária em linguagem clara e simples.
Como elencado no Ciclo 2, a família afeta diretamente o desenvolvimento integral
da criança surda, em seus aspectos cognitivos, emocionais, sociais, entre outros. Por isso,
é de suma importância que tão logo os pais recebam o diagnóstico de surdez do filho (a),
sejam preparados por uma equipe multiprofissional para saber como lidar, como interagir,
etc. Ainda, é imprescindível que os pais participem de comunidade surda, bem como
busquem aprender o quanto antes a língua de sinais, do mesmo modo que deverão buscar
que seu filho (a) aprenda a língua o mais cedo possível também. Em diversos artigos, um
fato relevante sobre esse assunto gira em torno de que muitas famílias ainda acham que
somente cabe à escola o papel de educar os filhos, e que por isso, muitas das crianças
surdas têm um primeiro contato tardio com a língua de sinais.
Em um dos vídeos do material, algo importante deve ser ressaltado: o uso do
Brincar para o desenvolvimento da criança surda e para interação dessa com seus pais. A
Bncc inclusive traz a relevância do brincar no processo de aprendizagem das crianças.
Mas como foi ressaltado no vídeo, é primordial que os pais estejam munidos das línguas
de sinais, bem como seus filhos; o quanto antes aprenderem, mais seus laços serão
estreitados, e mais a criança se sentirá acolhida, refletindo em seu desenvolvimento.
Em relação à escola, primeiramente deve garantir não somente o acesso à criança
surda, mas sua permanência, ou seja, fornecer condições para que seja assegurado o pleno
desenvolvimento da criança surda. Uma das formas de se efetivar tal objetivo, é através
de um currículo que respeite, que abranja as crianças surdas, bem como a participação
dos pais e comunidade na construção do PPP, entre outros. Mais do que nunca, a
articulação da escola e família é essencial no processo de ensino-aprendizagem da criança
surda, e para isso, não somente deve haver contato constante entre a escola e os pais, mas
efetiva participação, de forma ativa, dos pais, dos alunos, dos colaboradores da escola, da
comunidade. A escola deve ser de fato bilíngue, com profissionais capacitados para
receber esses alunos, etc.
De acordo com o que foi estudado, essa relação de pais e instituição de ensino
deve ser constantemente fortalecida; é um vínculo importante que visa garantir o
desenvolvimento pleno da criança surda, bem como o exercício de sua cidadania, de sua
autonomia.

REFERÊNCIAS

JESUS, S. C.; DOMINGUES, T. C. A. Surdez, cultura e educação. Discursos e


identidade cultural. Edição Especial (Anais do V Congresso de Letras). Caratinga, p. 133-
141, 2005.

GOLDFELD, M. A criança surda. São Paulo: Pexus, 1997


https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/Libras/mec_texto2.pdf
https://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=7&idart=383

Você também pode gostar