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Resumo do Seminário - Adaptação e Diversidade dos Insetos Aquáticos

Definições:

Insetos Aquáticos: insetos que vivem pelo menos um estágio do ciclo de vida no ambiente
aquático.

Adaptações: Caracteres que adequam o possuidor a algo. No caso dos insetos aquáticos, as
adaptações surgiram pois o ambiente aquático apresenta um conjunto de condições que
exercem uma pressão seletiva nos organismos vivos, nesse caso, os insetos’.

Biodiversidade: quando atribuída à diversidade de espécies está relacionada ao número de


espécies diferentes, ou seja, à riqueza de espécies.

Adaptações (condições da pressão seletiva):

Locomoção: Como exemplos de adaptação para a locomoção no ambiente aquático, temos os


hemípteros do gênero Rhagovelia que possuem cerdas impermeabilizantes e uma estrutura
em forma de leque no tarso do segundo par de pernas que auxilia esse artrópode a se
impulsionar na tensão superficial da água. Além disso há um coleóptero, Cybister fumatus,
que apresenta o último par de pernas modificadas em pernas natatórias ou nadadoras.

Obtenção de O2: Obter oxigênio no ambiente aquático não é uma tarefa muito simples, porém
adaptações como as brânquias abdominais presentes em ninfas de Ephemeroptera e Odonata
tornaram possível a vida submersa. Ademais, também são encontradas outras estruturas como
os sifões presentes em larvas de dípteros como o Aedes aegypti para que elas possam garantir
sua fonte de oxigênio a partir do ar.

Captura de Alimento: A predação pode se tornar difícil com a facilidade de deslocamento


presente em organismo aquáticos, porém insetos como a Lethocerus (Barata d’água) e alguns
coleópteros aquáticos sofreram modificações no primeiro par de pernas, apresentando pernas
preensoras que facilitam agarrar e matar possíveis presas.
Percepção Sensorial: No ambiente aquático, há uma diversidade de fatores que podem
favorecer mudanças na percepção sensorial dos animais, como o fato de moléculas poderem
se propagar de maneira mais conservada, favorecendo uma quimiorrecepção, e a
característica de alguns rios e lagos em apresentar turbidez tão elevada que olhos não seriam
tão eficazes. Com tal discussão, fica claro que essa condição provavelmente exerce uma
pressão seletiva, porém não há tantos estudos sobre a percepção sensorial em insetos e os
poucos que existem possuem caráter mais descritivo da morfologia, não havendo
comparações para gerar inferências da evolução. Dessa forma, infelizmente ainda não há
exemplos claros de adaptações ligadas à percepção sensorial em insetos aquáticos.

Biodiversidade:

Ordem Odonata:
Grupo relativamente pequeno (~5000 espécies), são hemimetábolos e o período
juvenil varia de algumas semanas a vários anos (no máximo 5). A emergência do adulto
ocorre na terra, portanto é o momento quando a ninfa jovem deixa o ambiente aquático.
A ordem é dividida em 2 subordens: Anisoptera, caracterizada por uma ninfa robusta
e com estruturas que formam uma “pirâmide caudal” e Zygoptera, com ninfas mais delicadas
com estruturas caudais em forma de lamela.
As principais características é o aparelho bucal que é longo e se desloca para capturar
a presa, em vista disso, esses animais são quase que exclusivamente predadores, outra
característica muito relevante para o grupo se dá pelo fato de muitas espécies serem sensíveis
a mudanças ambientais e podem ser usadas como bioindicadores da qualidade de água.

Ordem Trichoptera:
Os tricópteros apresentam um desenvolvimento holometábolo, na qual o adulto é
aéreo e as larvas e pupas são aquáticas. As larvas desses animais ocupam diferentes nichos
tróficos, tendo uma importância relevante para a transferências de energia do ecossistema
aquático. A posição dos olhos está relacionada com a alimentação do animal, sendo que os
indivíduos que apresentam olhos na porção anterior da cabeça apresentam uma dieta
carnívora e os que apresentam olhos mais atrás possuem uma dieta vegetariana.
Essa ordem possui uma característica bem marcante (mas não geral do grupo) é a
capacidade de construir abrigos fixos ou móveis utilizando uma secreção pelas glândulas de
seda e areia, pedras pequenas ou restos vegetais. Muitas dessas construções podem ser usadas
para a identificação de um táxon até o nível de gênero.
A maioria das espécies exige água de boa qualidade para o seu ciclo e, portanto,
também podem ser usadas como bioindicadores da qualidade de água.

Ordem Plecoptera:
São encontrados em ambientes próximos a rios, riachos e lagos, correntes rápidas e de
baixa temperatura, a grande maioria restringe sua atividade próxima a corpos d'água pois
possuem um voo muito fraco.
Como sobrevivem apenas em águas limpas e bem oxigenada são extremamente importantes
bioindicadores de pureza da água
As larvas são bem semelhantes aos efemerópteros, distinguindo apenas pela: ausência de
paracerco, ausência de traqueobrânquias laterais no abdome e pela presença de duas garras no
tarso.

Ordem Lepidoptera:
Os lepidópteros são o grupo de insetos mais conhecidos, entretanto, poucos são
adaptados à vida aquática, sendo que o principal é a família Crambidae tipicamente
reconhecido pela presença de traqueobrânquias no tórax e abdômen da larva.
Na subfamília Acentropinae encontramos dois grupos, Nymphula e Argyractini.
Larvas de Nymphula: há presença de traquobrânquias ramificadas e são encontrados em
ambientes lênticos ou áreas marginais de rios relacionados com hidrófitas para alimentar e
usar material para construir casulo.
Larvas de Argyractini: traqueobrânquias filamentosas, encontrados em águas rápidas, muitas
vivem em cima de rochas raspando algas para alimentar. Usam casulo de seda para abrigo.
A pupação muitas vezes é submersa, em casulos fixos nas plantas. O casulo é dividido em
dois, uma parte alagada onde ela se permanece até a pupação e depois passa pro
compartimento seco.

Ordem Ephemeroptera:
Os Ephemeroptera constituem uma ordem de insetos que são conhecidos por
possuírem uma fase adulta que só vive o suficiente para reproduzir e morrer (um dia), o que
explica seu nome. É no estágio de ninfa que esses animais são essencialmente aquáticos,
possuindo uma fase alada intermediária entre a ninfa e o adulto, que voa para a vegetação
próxima para realizar a última muda. As ninfas são campodeiformes e apresentam várias
adaptações relacionadas as peças bucais, reflexo da diversidade de comportamentos
alimentares que as espécies possuem. A respiração ocorre por traqueobrânquias que podem
ser lamelares, plumosas ou filamentosas. São muito semelhantes aos Plecoptera, sendo
facilmente distinguidas pelo número de cercos (três em Ephemeroptera e dois em Plecoptera).

Ordem Diptera:
Constituem uma ordem de insetos de ciclo de vida holometábolo, onde as larvas são
vermiformes e essencialmente aquáticas. Por não possuírem pernas articuladas nesse estágio,
as larvas apresentam adaptações que permitem sua locomoção, entre elas estão as falsas
pernas (Lobos carnosos arredondados ou ovais, divididos ou não), saliências locomotoras
(Inturmescências intersegmentais transversais, ventrais ou também dorsais com espinhos
arranjados em fileiras) e discos adesivos (Presentes em espécies para viver em riachos de
fortes correntezas). Elas ocupam uma grande variedade de ambientes aquáticos, o que resulta
em várias adaptações e formas de respiração, podendo ser branquial, aérea ou mista.

Ordem Megaloptera:
Constituindo um pequeno mas diversificado grupo (aproximadamente 300 espécies
conhecidas), os Megaloptera apresentam um desenvolvimento holometábolo, com larvas
campodeiformes (com três pares de pernas torácicas alongadas), sendo estas inteiramente
aquáticas e predadoras, se alimentando de diversos insetos e pequenos invertebrados.
Sua cabeça é prognata, com peças bucais (dirigidas para baixo) do tipo mastigadoras e
bem desenvolvidas e mandíbulas em forma de foice. Em seu abdômen estão presentes tufos
branquiais bem desenvolvidos e podem apresentar no ápice, um filamento caudal ou
pigópodes (falsas pernas anais).

Ordem Neuroptera:
Sendo uma ordem consideravelmente pequena (aproximadamente 4.500 espécies
conhecidas), os Neuroptera levam esse nome por conta de sua morfologia, apresentando uma
rede nervos por toda a estrutura de suas asas.
Em fase larval, apresentam peças bucais em forma de foice, com mandíbulas
cumpridas, retas em forma de agulha e maxilas sulcadas, que juntas, formam um tubo
alimentar (palpos maxilares podem estar presentes, como nos osmilideos ou ausentes como
ocorre nos sisirideos).
Seu ciclo de vida é holometábolo e suas larvas campodeiformes, podendo ser
aquáticas ou semi-aquáticas. Em alguns casos, seu desenvolvimento pode ocorrer de forma
parasitária, como os já citados sisirideos fazem com esponjas de água doce, ou então podem
se desenvolver nas margens de rios, como fazem os osmilideos (por não apresentarem
brânquias).

Ordem Hemiptera:
Existem dois grupos com representantes aquáticos presentes na subordem Heteroptera, que
abrange os animais conhecidos como barbeiros, marias-fedidas, percevejos, entre outros. Tais
animais possuem a cabeça do tipo opistógnata, com rostro articulado, asas anteriores com a
porção basal coriácea e a porção apical membranosa (hemiélitro), enquanto as asas
posteriores são completamente membranosas. Nas formas aquáticas, encontra-se táxons
sem asas (ápteros) ou com asas reduzidas (braquípteros).
Tais grupos de heterópteros aquáticos são :
-Gerromorpha : possuem antenas bem desenvolvidas e vivem na superfície da água,
utilizando pubescência hidrófoba presente nos tarsos. Não existem modificações para
respiração na água.
-Nepomorpha : vivem sob a superfície da água e portanto apresentam adaptações para nadar,
como pequenas antenas escondidas sob a cabeça, além de pernas posteriores achatadas,
alongadas ou com franjas de cerdas.
A respiração pode ser tanto a partir de uma provisão de ar renovada na superfície quanto
por meio do próprio oxigênio dissolvido na água por meio de uma película de ar retida na
pilosidade ventral (brânquia física).
Ciclo de vida do tipo hemimetábolo e as ninfas são reconhecidas pela ausência ou
desenvolvimento incompleto das asas.

Ordem Coleoptera:
Consiste na maior ordem de insetos (cerca de 350000 espécies conhecidas até os dias
atuais), são conhecidos popularmente como besouros. Famílias como Noteridae, Dytiscidae,
Gyrinidae e Hydrophilidae são exclusivamente aquáticas, enquanto Psephenidae agrupa
insetos semiaquáticos, isto é, possuem larvas aquáticas e adultos adaptados à vida aérea.
O desenvolvimento é holometábolo, ou seja, completo (ovo, larva, ninfa e adulto) ; nos
adultos o mesotórax é fundido com o metatórax e as asas posteriores são cobertas (quando o
animal está em repouso) pelas anteriores, que são endurecidas e chamadas de élitros. Os
tarsos possuem cinco artículos, as larvas apresentam cabeça bem desenvolvida com aparelho
bucal do tipo mastigador. As pernas dos adultos de muitas espécies nadadoras têm forma de
remo com cerdas.
A alimentação no ambiente aquático abrange representantes tanto fitófagos quanto
predadores, e a respiração, tendo sido mantido o sistema respiratório traqueal, é feita por
meio de uma bolha de ar sob os élitros que é renovada com subidas à superfície, ou através
das antenas.

Referências:
CRESPO, J. G. A review of chemosensation and related behavior in aquatic insects. Journal
of Insect Science, v. 11, n. 62, p. 1–39, 2011.

Mugnai, R.; Nessimian, J. L & Baptista, DF 2010. Manual de identificação de


macroinvertebrados aquáticos do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Livros Técnicos
Editora. 174p.

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